INSTITUTO OSWALDO CRUZ Mestrado em Biologia Parasitária ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS E PERFIL FENOTÍPICO DAS CÉLULAS MONONUCLEARES DO SANGUE PERIFÉRICO DE PACIENTES COM MALÁRIA POR P. vivax E P. falciparum NA FASE AGUDA E DE CONVALESCENÇA DA INFECÇÃO CAROLINA ROSADAS DE OLIVEIRA Rio de Janeiro 2010 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. INSTITUTO OSWALDO CRUZ Pós-Graduação em Biologia Parasitária CAROLINA ROSADAS DE OLIVEIRA Alterações Hematológicas e perfil fenotípico das células mononucleares do sangue periférico de pacientes com malária por P. vivax e P. falciparum na fase aguda e de convalescença da infecção Dissertação apresentada ao Instituto Oswaldo Cruz como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Biologia Parasitária Orientador (es): Prof. Dra. Dalma Maria Banic Prof. Dra. Joseli de Oliveira Ferreira RIO DE JANEIRO 2010 ii INSTITUTO OSWALDO CRUZ Pós-Graduação em Biologia Parasitária AUTOR: CAROLINA ROSADAS DE OLIVEIRA ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS E PERFIL FENOTÍPICO DAS CÉLULAS MONONUCLEARES DO SANGUE PERIFÉRICO DE PACIENTES COM MALÁRIA POR P. vivax E P. falciparum NA FASE AGUDA E DE CONVALESCENÇA DA INFECÇÃO ORIENTADOR (ES): Prof. Dra. Dalma Maria Banic Prof. Dra. Joseli de Oliveira Ferreira Aprovada em: 31/03/2010 EXAMINADORES: Prof. Dr. Prof. Dr. Prof. Dr. Prof. Dr. Prof. Dra. Sergio Coutinho Furtado de Mendonça Luís Cristóvão de Moraes Sobrino Pôrto Paulo Renato Zuquim Antas Maurício Afonso Verícimo Lilian Rose Pratt-Riccio Rio de Janeiro, 31 de março de 2010 iii iv INSTITUTO OSWALDO CRUZ ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS E PERFIL FENOTÍPICO DAS CÉLULAS MONONUCLEARES DO SANGUE PERIFÉRICO DE PACIENTES COM MALÁRIA POR P. vivax E P. falciparum NA FASE AGUDA E DE CONVALESCENÇA DA INFECÇÃO RESUMO DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Carolina Rosadas de Oliveira A malária continua sendo uma das doenças parasitárias mais importantes do mundo, sendo responsável por 300-500 milhões de casos por ano. A resistência dos plasmódios aos medicamentos antimaláricos e dos vetores aos inseticidas agrava ainda mais a situação. Neste contexto, o desenvolvimento de novos métodos terapêuticos e profiláticos é de suma importância. Apesar dos esforços, uma vacina eficaz ainda não foi desenvolvida. Atualmente sabe-se que a resposta imune antiplasmódio pode ser responsável pela proteção e patogênese da doença. Porém, os mecanismos envolvidos na imunidade protetora e/ou patológica ainda não estão esclarecidos. Assim sendo, o presente trabalho objetiva avaliar as alterações hematológicas e o perfil imunofenotípico de células mononucleares de sangue periférico de indivíduos naturalmente infectados por P. vivax (n=47) ou por P. falciparum (n=24) provenientes de área endêmica brasileira (PV-RO), na fase aguda e de convalescença. Para isso, sangue dos voluntários foi coletado para realização do exame parasitológico, do hemograma completo e para obtenção de células mononucleadas para a avaliação do perfil imunofenotípico através de citometria de fluxo. As populações alvo incluíram células CD4 +, CD8+, linfócitos T, Tγδ, células CD3- e subpopulações produtoras de diferentes citocinas (IFN-γ, TNF-α, IL-2, IL-4, IL-10); células NK, NKT e subpopulações (CD4+ e CD8+); células B e subpopulações (incluindo populações produtoras de TGF-β). Na fase aguda, pacientes com malária vivax e falciparum apresentaram plaquetopenia, leucopenia e aumento no número de bastões e também apresentaram um aumento no percentual de células CD4+CD8- e redução no percentual de células B CD5-CD11b-. Pacientes com P. vivax apresentaram aumento no percentual de: células CD4+, CD8+, TCRγδ+ e CD3- produtoras de TNF-α; células CD8 ativadas, células T e células CD3- produtoras de IL-10; células B expressando TGF-β. Nos indivíduos infectados por P. falciparum foi observado um aumento de células T TNF-α+ e redução de células T citotóxicas. Na fase de convalescença, os dois grupos apresentaram redução de células Tγδ e CD3- produtoras de TNF-α; células CD3-IL-2+; células CD3-IL-10+. Apenas os indivíduos infectados com P. vivax apresentaram redução de CD4+CD8-; células B CD5+CD11b-; células CD8+ produtoras de TNF-α e de TNF-α e IFN-γ de forma simultânea; além do aumento de células B CD5-CD11b-. Tanto o pacientes com P. falciparum quanto com o P. vivax apresentaram significante diminuição no número de linfócitos e apenas algumas subpopulações celulares circulantes se encontravam alteradas. Entretanto, alterações significativas no perfil de expressão de citocinas foram observadas principalmente nos pacientes com P. vivax. Dentro desse contexto, na fase aguda da malária por P. vivax houve aumento tanto no percentual de células com marcação para citocinas do tipo 1 quanto para citocinas do tipo 2. Como todos os pacientes incluídos no trabalho apresentaram malária não complicada, pode-se supor que o mais importante no controle da gravidade da doença é justamente o balanço entre resposta pró e anti-inflamatória. v INSTITUTO OSWALDO CRUZ ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS E PERFIL FENOTÍPICO DAS CÉLULAS MONONUCLEARES DO SANGUE PERIFÉRICO DE PACIENTES COM MALÁRIA POR P. vivax E P. falciparum NA FASE AGUDA E DE CONVALESCENÇA DA INFECÇÃO ABSTRACT DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Carolina Rosadas de Oliveira Malaria remains one of the most important parasitic diseases in the world, being responsible for 300-500 millions cases annually. The resistance of Plasmodium to antimalarial drugs and the resistance of vectors to insecticides worsens the situation. In this context, the development of new therapeutics and prophylactics methods is extremely important. Despite efforts, an effective vaccine has not been developed. Presently it is known that the antiplasmodial immune response may be responsible for the protection and pathogenesis of the disease. However, the mechanisms involved in protective and / or pathological immunity remain unclear. Therefore, this study aims to evaluate the hematological and immunophenotypic profile of peripheral blood mononuclear cells of naturally infected individuals with P. vivax (n = 47) or P. falciparum (n = 24) from an endemic area of Brazil (PV-RO), on the acute phase and convalescence. To achieve the objective, volunteers' blood was collected for parasitological examination, hemogram and to obtain mononuclear cells to evaluate the immunophenotypic profile using flow cytometry. The target populations included CD4+, CD8+, T lymphocytes, Tγδ, CD3- cells, and subpopulations producing different cytokines (IFN-γ, TNF-α, IL-2, IL-4, IL-10); NK, NKT cells and subpopulations (CD4+ e CD8+); B cells and subpopulations (including populations that produces TGF-β). In the acute phase, patients with falciparum and vivax malaria had thrombocytopenia, leukopenia and an increased number of band cells and also presented an increased percentage of CD4+CD8besides a reduction in the percentage of CD5-CD11b- B cells. Patients with P. vivax showed an increase in the percentage of TNF-α producing CD4+, CD8+, TCRγδ+ and CD3- cells; activated CD8 T cells and CD3-cells that produces IL-10; TGF-β expressing B cells. In P. falciparum infected individuals it was observed an increase in T cell TNF-α+ and a reduction of cytotoxic T cells. In the convalescence, both groups presented a reduction in TCRγδ+TNF-α+, CD3TNF-α +, CD3-IL-2+ and CD3-IL-10+ cells. Only those individuals infected with P. vivax showed a decrease of CD4+ CD8-; CD5+CD11b- B cells; CD8+ cells that express TNF-α and TNF-α and IFN-γ simultaneously; besides there is an increase of CD5-CD11b- B-cell. Either patients with P. falciparum as in P. vivax infected individuals a significant decrease in the number of lymphocytes was observed, however only a few circulating lymphocyte subsets were altered. Indeed, significant changes in the cytokines expression profile were observed in the P. vivax patients. Within this context, in the acute phase of P. vivax malaria there was an increase in both the percentage of type 1 and type 2 cytokines producing cells. As all patients included in the study had uncomplicated malaria, it can be assumed that the most important in controlling the severity of the disease is precisely the balance between the pro and antiinflammatory response. vi DEDICATÓRIAS vii A Deus por tudo; Aos meus pais, Almir e Maria Christina, pelo amor e apoio incondicionais. viii Ao meu noivo, Bruno, pela compreensão e amor ix A minha irmã, Camila, a todos familiares e amigos, por estarem presentes em todas as horas. x Agradecimentos As minhas queridas orientadoras, Dra. Dalma Maria Banic e Dra. Joseli de Oliveira Ferreira, por todas as críticas construtivas, dedicação e paciência. Por terem me recebido de forma tão amável, pela confiança no meu trabalho e pela oportunidade que me deram de desenvolver este estudo. Aos amigos e companheiros de trabalho, Luciene de Aquino da Silva e Josué da Costa Lima Júnior, que dedicaram tanto tempo me ensinando e me ajudando em incontáveis tarefas. A Dra. Paula Mello de Luca, do Laboratório de Imunoparasitologia do IOC-FIOCRUZ pelas valiosas contribuições e pelo apoio constante. Ao Alessandro Marins dos Santos, técnico da plataforma de citometria de fluxo do Instituto Oswaldo Cruz, FIOCRUZ, exemplo de dedicação e boa vontade, que muito contribuiu para o meu trabalho. A Dra. Arlete Baldez, a Dra. Fátima Santos e ao Dr. Fábio Storer pela dedicação e apoio no trabalho de campo. Ao Dr. Paulo Zuquim, do Laboratório de Imunologia Clínica do IOC-FIOCRUZ, por estar sempre a disposição para dividir seu conhecimento, pelas excelentes sugestões e por ter aceitado participar da banca avaliadora. Ao Dr. Sergio Coutinho Furtado de Mendonça, do Laboratório de Imunoparasitologia do IOC-FIOCRUZ, por ter aceitado ser o revisor da dissertação e participar da banca avaliadora. Aos Doutores Luís Cristóvão Porto (UERJ) e Maurício Afonso Veríssimo (UFF), e a Dra. Liliam Rose Pratt Riccio (IOC), por terem aceitado participar da banca avaliadora. Ao Dr. Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro, do Laboratório de Pesquisas em Malária do IOC-FIOCRUZ, que tanto contribuiu para o desenvolvimento do meu conhecimento acerca do tema e por ter me recebido no laboratório A Dra. Maria de Fátima Ferreira da Cruz, do Laboratório de Pesquisas em Malária do IOC-FIOCRUZ pela gentileza com que me recebeu no laboratório. Aos amigos do Laboratório de Pesquisas em Malária, Cesare Bianco Júnior, Daiana de Souza Perce, Larissa Gomes, Paulo Totino, Vanessa Tosta, Larissa Longi, Dauto Freitas da Silva, Cláudia Castro e Bianca Gama sempre dispostos a ajudar. Aos novos amigos do Laboratório de Imunoparasitologia, Rodrigo Nunes, Rafaela Veiga, Juan Camilo Sanchez Arcila e aos amigos da Pós Graduação em Biologia Parasitária, Giselle Fagundes, Fernanda Heloíse e Priscila Andrade, pelo apoio e incentivo constantes. A todos os funcionários e alunos do Laboratório de Imunoparasitologia do Instituto Oswaldo Cruz, onde sempre fui tão bem recebida. Ao Alexandre Fialho, do Laboratório de Virologia Comparada, que, sempre que preciso, gentilmente me ajudava. xi Ao Dr. Pedro Cabelo do Laboratório de Genética Humana do IOC-FIOCRUZ, pelas contribuições acerca das análises estatísticas. A Fundação Oswaldo Cruz e ao CNPQ por terem financiado meus estudos e o projeto de pesquisa, possibilitando o desenvolvimento do trabalho. Ao meu querido sobrinho, João Pedro, companheiro de estudo e de madrugadas. A todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para o desenvolvimento deste projeto. Principalmente, a todos os voluntários do estudo, que gentilmente aceitaram participar do projeto. Sem eles nada seria possível. xii SUMÁRIO LISTA DE TABELAS................................................................................................. xvi LISTA DE FIGURAS.................................................................................................. xvii LISTA DE ABREVIATURAS.................................................................................... xx 1. INTRODUÇÃO........................................................................................................ 1 1.1 Malária no Brasil.................................................................................. ............ 2 1.2 Ciclo Biológico do Plasmodium spp. ............................................................... 7 1.3 Aspectos gerais da resposta imune frente ao Plasmodium spp. na fase eritrocítica................................................................................................................ 9 1.3.1 CÉLULAS DENDRÍTICAS.................................................................... 10 1.3.2 CÉLULAS NK ....................................................................................... 11 1.3.3 CÉLULAS NKT..................................................................................... 1.3.4 CÉLULAS T γ/δ .................................................................................... 12 13 1.3.5 CÉLULAS B1......................................................................................... 14 1.3.6 OUTRAS CÉLULAS IMPORTANTES NA IMUNOREGULAÇÃO... 15 1.4 Citocinas na malária........................................................................................ 15 1.5 Alterações Hematológicas na malária ............................................................ 18 2. OBJETIVOS............................................................................................................ 20 2.1 Objetivo Geral.................................................................................................. 20 2.2 Objetivos Específicos....................................................................................... 20 3. JUSTIFICATIVA.................................................................................................... 21 4. METODOLOGIA.................................................................................................... 22 4.1 Área de estudo.................................................................................................. 22 4.2 Voluntários...................................................................................................... 27 4.2.1 PACIENTES............................................................................................ 27 4.2.2 GRUPOS EM ESTUDO........................................................................... 28 4.2.2.1 Grupos de pacientes........................................................................ 28 xiii 4.2.2.2 Grupo Controle................................................................................. 28 4.3 Coleta de sangue.............................................................................................. 28 4.4 Exame parasitológico para diagnóstico de malária e avaliação da parasitemia.............................................................................................................. 28 4.5 Exame hematológico........................................................................................ 29 4.6 Obtenção de células mononucleares do sangue periférico (PBMC) e plasma...................................................................................................................... 29 4.7 Verificação da viabilidade celular e número de PBMC................................. 30 4.8 Congelamento e descongelamento das células mononucleadas do sangue periférico.................................................................................... .............................. 30 4.9 Análise do fenótipo celular e do padrão de citocinas citoplasmáticas em leucócitos do sangue periférico por citometria de fluxo........................................ 31 4.9.1 ANÁLISE DOS DADOS OBTIDOS NA CITOMETRIA DE FLUXO...... 35 4.9.1.1 Células CD4+ e CD8+....................................................................... 35 4.9.1.2 Avaliação da ativação celular........................................................... 36 4.9.1.3 Linfócitos T e Tγδ............................................................................ 37 4.9.1.4 Células NK e NKT........................................................................... 38 4.9.1.5 Linfócitos B e subopulações............................................................. 40 4.10 Armazenamento dos dados.............................................................................. 41 4.11 Análise estatística........................................................................................... 41 5. RESULTADOS........................................................................................................ 43 5.1 Perfil da População de Estudo.......................................................................... 43 5.2 Hemograma....................................................................................................... 46 5.2.1 AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS DOS PACIENTES COM MALÁRIA NA FASE AGUDA (D0) .................................. 46 5.2.1.1 Correlações.......................................................................................... 48 5.2.2 COMPARAÇÃO DOS PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS DOS PACIENTES COM MALÁRIA NA FASE AGUDA (D0) E DE CONVALESCENÇA (D15) ................................................................................ 49 5.3 Perfil celular....................................................................................................... 53 xiv 5.3.1 AVALIAÇÃO DO PERFIL CELULAR DOS PACIENTES COM MALÁRIA NA FASE AGUDA (D0) .................................................................. 53 5.3.1.1 Células CD4+, CD8+ e subpopulações produtoras de citocinas........ 53 5.3.1.2 Células T (CD3+), Células CD3- e Células Tγδ (TCRγδ+) e subpopulações produtoras de citocinas ........................................................ 55 5.3.1.3 Células NK, NKT e subpopulações (CD4+ e CD8+)........................ 59 5.3.1.4 Células B (CD19+) e subpopulações................................................ 59 5.3.2 COMPARAÇÃO DO PERFIL CELULAR EM PACIENTES COM MALÁRIA NA FASE AGUDA (D0) E DE CONVALESCÊNCIA (D15) ......... 61 5.3.2.1 Células CD4+ CD8+ e subpopulações produtoras de citocinas......... 61 5.3.2.2 Células T (CD3+), Células CD3- e Células Tγδ (TCRγδ+)............... 64 5.3.2.3 Células NK, NKT e subpopulações (CD4+, CD8+).................. ....... 67 5.3.2.4 Células B (CD19+) e subpopulações................................................ 67 6. DISCUSSÃO............................................................................................................ 71 7. CONCLUSÃO.......................................................................................................... 77 8. PERSPECTIVAS..................................................................................................... 78 9. REFERÊNCIAS....................................................................................................... 79 10. ANEXOS................................................................................................................ xv 94 LISTA DE TABELAS Tabela 4.1. Quadro demonstrativo dos anticorpos monoclonais utilizados para análise de populações, subpopulações e do perfil de citocinas intracitoplasmáticas de leucócitos do sangue periférico .................................................................................................................................... 32 Tabela 4.2. Quadro demonstrativo dos anticorpos monoclonais utilizados em cada marcação na citometria de fluxo e os respectivos volumes utilizados ............ 34 Tabela 5.1. Resumo do perfil epidemiológico dos pacientes estudados .................. 44 Tabela 5.2. Perfil epidemiológico dos pacientes de acordo com a espécie plasmodial infectante ............................................................................................... 45 Tabela 5.3. Parâmetros de normalidade e valores hematológicos do Grupo-C e dos grupos Pv e Pf e na fase aguda da infecção (D0)......................................................................................................................... .... 47 Tabela 5.4. Variação dos valores hematológicos do Grupo-Pv, Grupo-Pf em dois tempos, antes (D0) e pós-tratamento (D15) ............................................................. xvi 50 LISTA DE FIGURAS Figura 1.1. Distribuição global e endemicidade da malária no mundo, 2009 ........ 2 Figura 1.2. Variação do número de casos de malária no Brasil (1960-2008) .......... 4 Figura 1.3. Casos de malária na Amazônia Legal (2008-2009) ............................... 6 Figura 1.4. Ciclo de biológico do Plasmodium spp. ................................................. 8 Figura 4.1. Mapa geográfico de Rondônia .............................................................. 22 Figura 4.2. Evolução do Índice Parasitário Anual (IPA) de Rondônia entre os períodos de 2003-2009 .............................................................................................. 23 Figura 4.3. Evolução do número de casos de malária diagnosticados no Brasil e em Rondônia de 1974 a 2007 ................................................................................... 24 Figura 4.4. Evolução do número de casos de malária em Rondônia e em Porto Velho, por espécie plasmodial durante o período de 2003 a 2009 ........................... 25 Figura 4.5. Caracterização da distribuição heterogênea da malária em Porto Velho ......................................................................................................................... 26 Figura 4.6. Policlínica e voluntários do estudo......................................................... 27 Figura 4.7. Esquema representativo da análise utilizada para identificação de células CD4+ e CD8+, e subpopulações produtoras de citocinas, através de citometria de fluxo............................................................................................... ...... 35 Figura 4.8. Esquema representativo da análise utilizada para avaliação da expressão do marcador de ativação celular CD25, em diferentes populações celulares ..................................................................................................................... 36 Figura 4.9. Esquema representativo da análise utilizada para avaliação das populações CD3+, CD3- e TCRγδ+, e subpopulações produtoras de citocinas, através de citometria de fluxo............................................................................... .... 37 Figura 4.10. Esquema representativo da análise utilizada para avaliação de células NKp46+ e subpopulações (CD4+, CD8+, IFN-γ+) .......................................... 38 Figura 4.11. Esquema representativo da análise utilizada para avaliação de células NKT+ e subpopulações (CD4+, CD8+) .......................................................... 39 Figura 4.12. Esquema representativo da análise utilizada para avaliação de células B (CD19+) e subpopulações .......................................................................... 40 Figura 4.13. Esquema explicativo da análise realizada............................................ 42 Figura 5.1. Comparação entre as médias de valores hematológicos de indivíduos do Grupo-Pv (n=47), Grupo-Pf (n=24) e do Grupo-C (n=17).................................. 48 xvii Figura 5.2. Correlação entre parasitemia e número de plaquetas na fase aguda da infecção (D0) dos pacientes do Grupo-Pv ........................................................... 49 Figura 5.3. Variações da hematimetria, do hematócrito e da plaquetometria em pacientes do Grupo-Pv (n=40) e do Grupo-Pf (n=15), antes (D0) e pós tratamento (D15) ...................................................................................................... 51 Figura 5.4. Variações nos valores de leucócitos, eosinófilos, bastões e linfócitos em pacientes do Grupo-Pv (n=40) e do Grupo Pf (n=15), antes (D0) pós (D15) tratamento ................................................................................................................. 52 Figura 5.5. Percentual de diferentes tipos celulares (CD4+CD8-, CD8+CD4- e subpopulações) detectados em indivíduos do Grupo-Pv (n=40), do Grupo-Pf (n=20) e indivíduos controles (Grupo-C; n=17), no momento do diagnóstico (D0)............................................................................................................................. 54 Figura 5.6. Gráfico representativo da porcentagem de dupla marcação de PBMC com anticorpos monoclonais específicos para CD4 e TNF-α; CD8 e TNFα.................................................................................................................................. 55 Figura 5.7. Gráfico representativo da marcação de PBMC com anticorpos monoclonais específicos para CD3 e TNF-α. Células obtidas a partir do gate morfológico de linfócitos ........................................................................................... 56 Figura 5.8. Percentual de diferentes tipos celulares (CD3-, CD3+ e subpopulações) detectados em pacientes do Grupo-Pv ( n=40), do Grupo-Pf (n=19) e em indivíduos do Grupo-C (n=17), no momento do diagnóstico (D0) .... 57 Figura 5.9. Percentual de células TCRγδ+ TNF-α+ detectados em indivíduos do Grupo-Pv (n=46), do Grupo-Pf (n=21) e em indivíduos do Grupo-C (n=19), no momento do diagnóstico (D0) ................................................................................... 58 Figura 5.10. Gráfico representativo da porcentagem de dupla marcação de PBMC com anticorpos monoclonais específicos para TCRγδ e TNF-α .................. 58 Figura 5.11. Percentual de diferentes subpopulações de células CD19 + em indivíduos do Grupo-Pv (n=40), do Grupo-Pf (n=20) e em indivíduos do GrupoC (n=18), no momento do diagnóstico (D0) ............................................................. 60 Figura 5.12. Histograma representativo da porcentagem de marcação de PBMC com anticorpo monoclonal específico para TGF-β .................................................. 60 Figura 5.13. Gráfico representativo da porcentagem de dupla marcação de PBMC com anticorpos monoclonais específicos para CD4 e CD25 ....................... 61 Figura 5.14. Variação no percentual de células CD4+CD25+ em indivíduos do Grupo-Pv (n=32) e Grupo-Pf (n=12) antes (D0) e após o tratamento (D15) .......... 62 Figura 5.15. Gráfico representativo da porcentagem de dupla marcação de PBMC com anticorpos monoclonais específicos para CD8 e TNF-α ...................... 62 xviii Figura 5.16. Variação no percentual de diferentes tipos celulares (CD4 +CD8- e subpopulações de CD4+ e CD8+) em indivíduos do Grupo-Pv (n=32) e do GrupoPf (n=12) antes (D0) e após o tratamento (D15) ...................................................... 63 Figura 5.17. Variação no percentual células CD3+ e CD3- em indivíduos do Grupo-Pv (n=33) e Grupo-Pf (n=12) antes (D0) e após o tratamento (D15) .......... 64 Figura 5.18. Variação no percentual de diferentes tipos celulares (subpopulações de CD3 – produtoras de diferentes citocinas) em indivíduos do Grupo-Pv (n=33) e do Grupo-Pf (n=12) antes (D0) e após o tratamento (D15) .................................. 65 Figura 5.19. Gráfico representativo da porcentagem de dupla marcação de PBMC com anticorpos monoclonais específicos para TCRγδ e TNF-α .................. 66 Figura 5.20. Variação no percentual de células TCRγδ+TNF-α+ em indivíduos do Grupo-Pv ( n=38) e do Grupo-Pf (n=12) antes (D0) e após o tratamento (D15) .... 66 Figura 5.21. Variação no percentual de células NKp46+CD8+ em indivíduos do Grupo-Pv (n=36) e do Grupo-Pf (n=12) antes (D0) e após o tratamento (D15) ..... 67 Figura 5.22. Variação no percentual de células CD19+CD5-CD11b- e CD19+CD5+CD11b- em indivíduos do Grupo-Pv (n=36) e do Grupo-Pf (n=12) antes (D0) e após o tratamento (D15) ...................................................................... 68 Figura 5.23. Quadro resumo das alterações hematológicas..................................... 69 Figura 5.24. Quadro resumo das alterações no perfil celular .................................. 70 xix LISTA DE ABREVIATURAS ADCI - Inibição celular dependente de anticorpos APC- Aloficocianina BSA – Albumina Sérica Bovina CD11b – Grupamento de diferenciação 11b (“Cluster of differentiation 11b”), molécula expressa em subtipos de células B. CD25 – Grupamento de diferenciação 25 (“Cluster of differentiation 25”), molécula expressa em células ativadas CD3 - Grupamento de diferenciação 3 (“Cluster of differentiation 3”), molécula expressa em células T CD4 – Grupamento de diferenciação 4 (“Cluster of differentiation 4”), molécula expressa na superfície de células T auxiliares e em subpopulações de células NKT e NK. CD5 – Grupamento de diferenciação 5 (“Cluster of differentiation 5”), molécula expressa em Células T, subtipo de células B CD8 – Grupamento de diferenciação 8 (“Cluster of differentiation 8”), molécula expressa na superfície de linfócitos T citotóxicos, e subpopulções de células NKT e NK. Cols. - Colaboradores DC – Células dendríticas DDT - Dicloro-Difenil-Tricloroetano; Inseticida sintético DMSO - Dimetilsulfóxido D0 – Dia do diagnóstico, antes do tratamento D15 – Quinze dias após o diagnóstico, pós-tratamento, quando os pacientes encontravam-se curados. EDTA - Ácido etilenodiamino tetra-acético FITC - Isotiocianato de fluoresceína FSC – Tamanho (“Forward Scatter”) GM-CSF – Fator estimulador de colônias de granulócitos e macrófagos. GPI – Glicosilfosfatidil inositol IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IFN-γ – Interferon gama IgG – Imunoglobulina G IL – Interleucina IPA – Indíce Parasitário Anual KCl – Cloreto de Potássio KH2PO4 - Fosfato de potássio monobásico LT- α – Linfotoxina alfa MHC – Complexo principal de histocompatibilidade (“Major Histocompability Complex”) n – Número de amostras Na2HPO4.7H2O - Fosfato de sódio heptaidratado NaCl – Cloreto de Sódio NK – “Natural Killer” NKp30 – Molécula expressa na superfície de células NK NKp44 – Molécula expressa na superfície de células NK NKp46 – Molécula expressa na superfície de células NK NKT – “Natural killer like T-cell” OMS – Organização Mundial de Saúde PBMC - Células mononucleadas de sangue periférico PBS – Solução Salina Tamponada com fosfato (“Phosphate- Buffered Saline”) xx PE – Ficoeritrina PE-Cy5 - Ficoeritrina-cianina 5 PE-Cy7 - Ficoeritrina-cianina 7 PE-TR – Ficoeritrina – Texas Red pH – Potencial hidrogeniônico PHA - Fito-hemaglutinina PIACM - Plano de Intensificação das Ações de Controle da Malária PNCM - Plano Nacional de Controle a Malária RO – Rondônia SFB – Soro Fetal Bovino SIVEP - Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica SSC – Granularidade (“Side Scatter”) SVS – Secretaria de Vigilância em Saúde TCR – Receptor de célula T (“T cell receptor”) TGF-β – Fator de Crescimento Tumoral Beta (também conhecido como Fator de Crescimento Transformante Beta) Th- Células T auxiliares TNF-α – Fator de necrose tumoral alfa WHO – Organização Mundial de Saúde X g – Aceleração da gravidade xxi 1. INTRODUÇÃO A malária faz parte da história da humanidade e acomete o homem desde a pré-história. É uma doença infecciosa de elevada prevalência, morbidade e letalidade, sendo causada por hematozoários do gênero Plasmodium. As espécies de plasmódios causadoras desta patologia incluem Plasmodium falciparum, P. vivax, P. malariae e P. ovale, sendo que a última apresenta distribuição limitada ao continente africano. Uma quinta espécie, P. knowlesi, parasita de macacos, foi descrita recentemente causando infecção em humanos (1). Dentre essas espécies, P. falciparum e P.vivax são as mais prevalentes no mundo, sendo P. falciparum a espécie associada com a forma mais grave da doença enquanto a infecção por P. vivax geralmente é considerada benigna (2). Os vetores de Plasmodium spp. são mosquitos do gênero Anopheles, destacando-se Anopheles gambiae e Anopheles darlingi como principais vetores (3, 4). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais da metade da população mundial está exposta à malária. Em 2008, foram estimados 243 milhões de casos de malária no mundo e cerca de 863.000 mortes (Figura 1.1) (5). Nas Américas a malária ocorre em 21 países (Figura 1.1), sendo o P. vivax responsável por quase 80% dos casos. Em 2008, foram notificados 572 mil casos de malária nas Américas, sendo o Brasil responsável por mais de 50% dos casos (5). 1 Figura 1.1. Distribuição global e endemicidade da malária no mundo, 2009. (Fonte: WHO 2009 (5)) 1.1 Malária no Brasil A malária foi identificada pela primeira vez, nos escritos médicos brasileiros no século XVI. Nos meados da década de 1870, ocorreu a primeira grande epidemia de malária na Amazônia, decorrente da migração de indivíduos não imunes para áreas endêmicas de malária, atraídos pela extração de borracha (6). Nesse mesmo período, no sudeste do país, a transmissão crescia acentuadamente na Baixada Fluminense e no Vale do Paraíba, em decorrência da abolição da escravatura que fizeram cessar os trabalhos de combate à malária até então realizados pelos escravos (7). No início do século XX, a malária encontrava-se disseminada em todo o território nacional, exceto em alguns estados do sul (6). Na primeira metade do século XX, outras duas grandes epidemias de malária ocorreram: a primeira durante a construção da Ferrovia Madeira-Mamoré que resultou em uma nova onda de migração de indivíduos não imunes para áreas de elevada endemicidade da doença, calcula-se que tenha havido mais de 10 mil mortes entre trabalhadores (6). A segunda no Nordeste brasileiro, na década de 1930, quando navios franceses que faziam a rota postal França-Natal via Dakar trouxeram o Anopheles gambiae que invadiu o Nordeste brasileiro. Esse vetor apresenta elevada capacidade vetorial o que gerou um aumento estrondoso na transmissão da doença. Em várias localidades, o número de casos atingia cerca 2 de 80-90% da população. O vetor introduzido foi erradicado após grandes esforços e investimentos realizados pelo Governo Federal e pela Fundação Rockfeller (8, 9). Após o advento do DDT houve uma drástica redução da malária em diversos países do mundo, inclusive no Brasil, onde a doença ficou restrita, quase que exclusivamente, à Região Amazônica. Entretanto, a partir da década de 60, a malária ressurgiu em várias localidades do planeta. Este aumento está relacionado a diversos fatores como, por exemplo, o aparecimento de resistência tanto dos anofelinos aos inseticidas quanto dos agentes etiológicos aos antimaláricos e a dificuldade na manutenção de medidas de controle à doença em determinadas áreas devido a condições precárias de habitação (ausência total ou parcial de paredes para aplicação de inseticida), ao acesso difícil a muitas localidades e a precariedade dos serviços permanentes de saúde (10). A partir da década de 70, observou-se um crescente número de casos de malária no Brasil (Figura 1.2). Este aumento deveu-se principalmente ao processo de colonização e às atividades de mineração, ambos incentivados pelo governo brasileiro que pretendia promover o desenvolvimento da Região Amazônica. Como resultado, houve mais uma vez, um processo migratório de indivíduos para esta região, com o esperado aumento do número de casos de malária no país, já que este processo de migração não foi acompanhado pelo desenvolvimento da estrutura de saúde (11). No ano 2000 teve início o Plano de Intensificação das Ações de Controle da Malária (PIACM), criado pelo Ministério da Saúde do Brasil, que resultou em uma série de ações como contratação e capacitação de recursos humanos além da aquisição de novos equipamentos. Este projeto teve duração de dois anos e resultou em uma redução significativa do número de casos da malária na região, conforme pode ser observado na Figura 1.2 (11). Em 2003 o PIACM foi substituído pelo Plano Nacional de Controle a Malária (PNCM) que buscava a manutenção dos ganhos obtidos no plano anterior além de uma melhora do mesmo. Apesar dos esforços, o número de casos de malária voltou a aumentar em 2003. Este aumento tem sido relacionado com a ocupação desordenada de periferias de cidades como Manaus (Amazonas), Porto Velho (Rondônia) e Cruzeiro do Sul (Acre), além de atividades como extração de madeira, criação de gado, agricultura e estabelecimento de assentamentos não oficiais (12). 3 Figura 1.2. Variação do número de casos de malária no Brasil (1960-2008) 700 Número de Casos (mil) 600 500 400 300 200 100 1960 1983 Casos 1999 P. falciparum 2002 2006 2008 P. vivax Fonte: Adaptado SVS, 2007 (11) Após 3 anos de aumento consecutivo, a partir de 2006, o número de casos de malária no Brasil começou a decair, como resultado de ações integradas de controle, realizadas no âmbito federal, estadual e municipal. Esses decréscimos estão relacionados a diversos fatores dentre os quais se destacam a implementação de diagnóstico e tratamento rápidos e precisos, que também são responsáveis pela diminuição acentuada no número de infecções decorrentes por P. falciparum (13). Atualmente, o Brasil é considerado área de transmissão instável de malária (população exposta contínua ou intermitentemente a taxas de inoculação flutuante) e contribui com o maior número de casos no continente americano. Na Amazônia Legal, que inclui os estados do Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, ocorrem mais de 99% dos casos de malária do país, sendo a distribuição não homogênea (Figura 1.3) (13). Em 2009 foram registrados 306.982 casos de malária no Brasil, sendo 256.383 por P. vivax, 47.475 P. falciparum, 95 por P. malariae e 3 por P. ovale, além de 3.026 infecções mistas (P. vivax e P. falciparum) (14). Como observado, quase a totalidade dos casos no país é resultante de infecções por P. vivax e/ou por P. falciparum. Infecções por 4 P. malariae são encontradas em um percentual reduzido (Figura 1.3), além de algumas raras infecções não autóctones por P. ovale (14). Os principais vetores no país são Anopheles darlingi, A. aquasalis, A. albitarsis e A. marajoara (15). 5 Figura 1.3. Casos de malária na Amazônia Legal (2008-2009) Fonte: Ministério da Saúde, 2009 (16) 6 1.2 Ciclo biológico do Plasmodium spp. O ciclo dos plasmódios é complexo, apresentando duas fases no hospedeiro vertebrado: fase pré-eritrocítica e eritrocítica. Durante o repasto sanguíneo a fêmea do anofelino infectada inocula esporozoítas na pele do hospedeiro vertebrado. Destes esporozoítas a maioria migra até capilares sanguíneos onde atingem a circulação para chegarem rapidamente ao fígado. Recentemente foi demonstrado que alguns dos esporozoítas podem migrar para vasos linfáticos se localizando, então, nos linfonodos drenantes e que a maioria deles permanece na derme durante algumas horas (1-3 horas) (17, 18). Os esporozoítas que chegam ao fígado logo se aderem as células endoteliais dos sinusóides hepáticos e iniciam o processo de movimentação denominado de gliding, no qual eles fazem um deslizamento. Em seguida eles atravessam a barreira sinusal, provavelmente via células de Kupfer. Uma vez no parênquima hepático estes parasitas migram através de diversos hepatócitos de forma ativa. Em um determinado momento o esporozoíta promove uma adesão mais firme em um hepatócito e inicia simultaneamente a formação de um vacúolo parasitóforo. Os fatores que tornam um hepatócito adequado para o desenvolvimento do esporozoíta ainda não estão esclarecidos (19). Dentro do vacúolo parasitóforo os esporozoítas iniciam um processo de maturação e de divisão celular (reprodução assexuada- esquizogonia extra-eritrocítica). Como resultado desta fase há o desenvolvimento de esquizontes hepáticos, repletos de merozoítas no seu interior. Durante esta etapa do ciclo a infecção é assintomática. Em um determinado momento há liberação dos merozoítas para a circulação sanguínea, ou por ruptura do hepatócito/esquizonte ou através de merossomas, dando início ao estágio eritrocítico (19, 20). Os merozoítas invadem o eritrócito de forma ativa e há a formação de um novo vacúolo parasitóforo. O parasita se diferencia em anel (trofozoíta jovem), que posteriormente se diferencia em trofozoíta maduro. Esses iniciam novamente um processo de reprodução assexuada gerando a formação de esquizontes sanguíneos, também repletos de merozoítas. No final desse estágio os merozoítas recém formados são liberados e invadem outros eritrócitos, repetindo o ciclo eritrocítico. Alguns merozoítas porém, se diferenciam em gametócitos masculinos e femininos (forma sexuada do parasita). Estes, quando ingeridos pelos anofelinos, dão continuidade ao ciclo no interior do hospedeiro invertebrado (19, 20). No interior do anofelino os gametócitos se diferenciam em gametas, há a fecundação (reprodução sexuada) com formação do zigoto. O zigoto se diferencia em uma forma móvel 7 (oocineto) que penetra a membrana peritrófica do intestino médio do anofelino. Nessa fase, inicia-se o processo de multiplicação celular que resulta na formação de diversos esporozoítas que vão para a glândula salivar do mosquito. Esses quando inoculados no hospedeiro vertebrado darão prosseguimento ao ciclo, conforme mostrado na figura 1.4. Figura 1.4. Ciclo de biológico do Plasmodium spp. Adaptado de (21). Algumas espécies plasmodiais apresentam importantes particularidades no ciclo. Por exemplo, enquanto P. vivax parasita apenas reticulócitos e causa uma parasitemia menor, P. falciparum é capaz de infectar eritrócitos em qualquer estágio de maturação e é responsável, na maioria dos casos, por intensa parasitemia. A elevada parasitemia aliada ao seqüestro de hemácias parasitadas por P. falciparum na microcirculação são responsáveis pela maior mortalidade observada na infecção por esta espécie. P. vivax, no entanto, é capaz de manter-se na forma de hipnozoíta hepático, fato responsável por episódios de recaídas. Além disso, apesar da infecção por P. vivax muitas vezes ser considerada benigna, relatos de casos de malária por esta espécie com complicações graves e fatais vêm sendo reportado desde 1998 inclusive no Brasil. A sintomatologia da malária por P. vivax em geral é até mais intensa do 8 que a maioria das infecções por P. falciparum, embora a noção popular seja o contrário. Esta noção equivocada associada à preocupação com os altos níveis de mortalidade relacionados ao P. falciparum, torna, muitas vezes, a infecção por P. vivax negligenciada (22). 1.3 Aspectos gerais da resposta imune frente ao Plasmodium spp. na fase eritrocítica A fase eritrocítica dos plasmódios é responsável pelas manifestações patológicas da doença, uma vez que os sintomas clínicos são decorrentes do desenvolvimento parasitário durante essa fase. Diversos trabalhos têm demonstrado que a imunidade direcionada ao estágio eritrocítico pode contribuir para a redução/eliminação dos parasitos e para o desenvolvimento das manifestações clínicas da doença (23). A aquisição de uma imunidade protetora direcionada à infecção malárica natural pode ser adquirida, após sucessivas infecções, por populações de área endêmica. Essa imunidade, denominada de premunição, torna os sintomas clínicos da doença geralmente ausentes (imunidade clínica ou anti-doença) e os níveis de parasitos sanguíneos extremamente baixos (imunidade anti-parasito) atingindo níveis subpatentes (24-26). O processo de aquisição de imunidade na malária é, ainda hoje, pouco compreendido, sendo que inúmeros fatores o influenciam, como: a complexidade do ciclo biológico dos plasmódios, sua extensa diversidade antigênica, o perfil de transmissão da área endêmica, a imaturidade do sistema imunológico relacionado à idade, a mecanismos inatos de resistência que diferem intra e inter-etnicamente (27-29). É interessante ressaltar que estudos realizados em seres humanos demonstraram que uma imunidade protetora, similar a adquirida naturalmente, pode ser induzida após sucessivos inóculos com eritrócitos infectados por P. falciparum (30) Em regiões de alta transmissão na África, onde o P. falciparum é a espécie predominante, os recém-nascidos são relativamente resistentes à infecção durante os primeiros meses de vida. Essa resistência é atribuída principalmente pela transferência passiva de anticorpos protetores da classe IgG da mãe para o feto durante a gestação (31, 32). O papel protetor dos anticorpos em seres humanos, foi claramente demonstrado a partir de experimentos de transferência passiva de anticorpos de soro de adultos imune para crianças com malária, realizados nas décadas de 60 (33, 34) e 90 (35). Os anticorpos passivamente transferidos diminuíam a parasitemia e protegiam as crianças da forma grave da doença (36). Experimentos em modelos simianos demonstraram que a proteção conferida pela transferência passiva de soro imune era mediada por anticorpos citofílicos IgG1 e IgG3 (37, 38). Com base 9 em experimentos in vitro, os anticorpos citofílicos anti-P. falciparum agiriam bloqueando: a invasão dos eritrócitos pelos merozoítas, a citoaderência de eritrócitos infectados, e em colaboração com monócitos e macrófagos o desenvolvimento intra-eritrocítico (inibição celular dependente de anticorpos – ADCI) (39-41). Corroborando esses dados, BouhaunTayoun e cols. (1990; 1995) (42, 43), propuseram que os anticorpos citofílicos teriam um papel central na mediação do fenômeno de premunição na malária, tais subclasses são predominantes em indivíduos protegidos (44, 45). Entretanto, apesar do importante papel dos anticorpos na imunidade anti-parasitária adquirida contra as formas eritrocíticas, a resposta imune mediada por células também contribui nesse processo. Estudos realizados em seres humanos, demonstraram que após repetidos inóculos com doses ultra-baixas de eritrócitos infectados com P. falciparum, voluntários sadios e sem história prévia de malária foram capazes de desenvolver uma imunidade protetora contra doença, mediante o desafio com doses infectantes do parasito, com ausência de parasitemia e sintomas clínicos. A resposta imune desses indivíduos foi caracterizada, pela resposta proliferativa de células T CD4 + e T CD8+ e da secreção de interferon (IFN)-γ, porém não de interleucina (IL)-4 e IL-10, consistindo em uma resposta imunológica do tipo Th1. Além disso, foi observada uma alta concentração da atividade da enzima óxido nítrico sintase em células mononucleares do sangue periférico (30). Trabalhos têm sugerido que as interações iniciais entre os parasitos da fase eritrocítica e as células do sistema imunológico inato são importantes no controle da multiplicação do parasito e posteriormente na eliminação e resolução da infecção (23). O principal papel da imunidade inata parece ser a produção de citocinas moduladoras da resposta imune, como a IL-12 e IFNγ, que são críticas para o desenvolvimento de resposta imune tipo Th1 envolvendo células T CD4+, células B e células efetoras que medeiam a reposta imune adaptativa tanto celular e quanto humoral (23). Dentre os componentes envolvidos na imunidade inata se encontram as células dendríticas, monócitos/macrófagos, células natural killer (NK), células NKT, células T γ/δ e células B1. 1.3.1 CÉLULAS DENDRÍTICAS As células dendritícas (DC) desempenham um importante papel na ativação das respostas imunes inata, adquirida e na indução e na manutenção da tolerância imunológica (46) devido à sua elevada capacidade em capturar, processar e apresentar antígenos. Cabe ressaltar que as DC são as únicas células apresentadoras de antígenos capazes de ativar células T não10 primadas (47) e que apresentam um importante papel na amplificação da resposta imune inata, particularmente estimulando a ativação de células NK (48). Em humanos, as DC constituem 0,1-0,5% das células mononucleares sanguíneas (49). Na malária humana, foi observado que as populações de células dendríticas estão reduzidas no sangue dos indivíduos infectados por P. falciparum (23). Há evidências que essas células em contato com as hemácias infectadas por P. falciparum diminuem a expressão de MHC, de moléculas de adesão e co-estimulatórias e não secretam IL-12, a principal citocina pró-inflamatória envolvida na polarização da reposta imune tipo Th1 (50). Esses trabalhos sugerem que a indução da imunodepressão via DC, pelo P. falciparum, além de ser um mecanismo de escape do parasito talvez seja um fator de virulência específico desse plasmódio. Para o P. vivax na fase pré-eritrocítica, foi demonstrado que as DC estimuladas por esporozoítas ativam linfócitos citotóxicos, levando a uma eliminação específica de hepatócitos infectados (51). 1.3.2 CÉLULAS NK As células natural killer (NK) são grandes linfócitos granulares derivados da medula óssea, presentes tanto em órgãos linfóides quanto em tecidos não linfóides periféricos. As células NK, compõem de 10 a 15% das células mononucleares sanguíneas (52-54). Essas células são ativadas em resposta às citocinas derivadas principalmente de macrófagos e células dendríticas como, IL-12, IL-18, IFN-α e IFN-β. Quando ativadas, as células NK secretam grandes quantidades de IFN-γ, uma citocina pró-inflamatória essencial para o controle da infecção malárica via indução de mecanismos que incluem a ativação de macrófagos, a diferenciação de linfócitos T CD4+ e a produção de anticorpos por linfócitos B (52, 55). As células NK secretam outras citocinas pro-inflamatórias, particularmente a linfotoxina-α (LTα), TNF-α, IL-3, GM-CSF e quimiocinas (52, 56). Na malária humana por P. falciparum, foi demonstrado, in vitro, que as células NK são as primeiras a serem ativadas quando células mononucleadas são expostas a hemácias infectadas por P. falciparum e que as concentrações séricas de IFN-γ e de granzimas A e B se elevam logo após a detecção de parasitos na circulação e no início dos sintomas (55, 57, 58). Estes dados sugerem que a rápida produção de IFN-γ pode por um lado ocasionar um aumento na habilidade de controlar a infecção e por outro predispor o hospedeiro a produção exagerada de citocinas inflamatórias o que aumentaria o risco de desenvolvimento de malária severa. 11 As células NK apresentam em sua superfície vários receptores dentre eles: NKp30, NKp44, NKp46, Ly49D, CD94-NK62A e KIR (do inglês, Killer Immunoglobulin-like receptor), que são importantes moduladores, pois liberam sinais de ativação ou inibição dependentes dos ligantes e do polimorfismo dos receptores, principalmente do KIR. Recentemente, foi observado que as células NK podem expressar em sua superfície moléculas CD4 e CD8 (59, 60). A expressão de moléculas CD4 pela célula NK parece não interferir em sua atividade citotóxica. Entretanto, há evidências que as células NK CD4 + secretem maior quantidade de TNF-α e IFN-γ que as células NK CD4- (59). Cabe ressaltar que, até o presente momento nenhum trabalho foi publicado sobre as subpopulações de células NK (CD4 +, CD8+) na malária. 1.3.3 CÉLULAS NKT As células T natural killer (NKT), são um subgrupo de linfócitos que expressam marcadores de células NK (CD161 e CD94) bem como receptores de células T (TCR) α/β (Vα24 Vβ11, em humanos) com um repertório limitado, que os distingue das células NK que não expressam TCR. Em contraste com as células T, os TCR das células NKT não interagem com peptídeos apresentados pelas moléculas do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) e sim com glicolipídeos apresentados pelas moléculas CD1d, uma via não clássica de apresentação de antígenos. Na malária existem algumas evidências de que o GPI (glicosilfosfatidil-inositol) do plasmódio seja um ligante de CD1d (61). Ao reconhecerem os antígenos, as células NKT são rapidamente ativadas secretando grande quantidade citocinas, particularmente de IL4 e/ou de IFN-, que modulam tanto a resposta imune inata quanto adaptativa (62). As células NKT ativadas apresentam também habilidades citotóxicas, secretam perforina e expressam ligantes FAS e receptores NKG2D (63-65). Dois tipos de células NKT foram descritas, as que secretam preferencialmente citocinas do perfil Th1 e as que secretam preferencialmente citocinas do perfil Th2. Dentro das células tipo Th1 há duas subpopulações definidas: as duplo-negativas CD4-CD8- e as CD8+. As células NKT tipo Th2 expressam em sua superfície moléculas CD4+ (63). As células NKT, compõem de 0,1 - 0,5% dos leucócitos sanguíneos (66). Os principais estudos associando a infecção malárica e o papel de células NKT tem sido realizados em modelo murino (61, 64, 67-70). Esses trabalhos demonstram claramente que logo após a infecção, as células NKT são ativadas podendo liberar tanto uma maior quantidade de IFN- que levaria ao predomínio de resposta tipo Th1 quanto uma maior quantidade de IL-4 que acarretaria no predomínio de resposta tipo Th2 e que o predomínio de 12 resposta é dependente da linhagem de camundongo e da espécie/sub-espécie de plasmódio infectante. Entretanto, está bem caracterizado que predomínio da resposta tipo Th1 no início da infecção malárica está associado a um bom prognóstico da evolução da infecção murina (71). Na malária humana, estudos sobre a atividade de NKT são extremamente escassos. Nesses estudos foi demonstrado que: i) durante a infecção por P. vivax e P. falciparum há um aumento das células NKT (70) e; ii) as células NKT são a segunda população ativada quando células mononucleares são expostas a eritrócitos infectados por P. falciparum e que provavelmente o GPI do parasito estimula as células NKT a produzirem IL-4 e IFN- γ (55, 68). 1.3.4 CÉLULAS T γ/δ Os linfócitos Tγδ são distintas dos linfócitos T tradicionais (Tαβ) por apresentarem em sua superfície TCR formado por cadeias γ e δ, sendo que a maioria das células γ/δ sanguíneas (75%) expressam o TCR Vγ9Vδ2 (G9D2). Esta subpopulação celular expressa ainda moléculas de CD3 formando o complexo TCR e podem expressar moléculas CD4 e CD8. O reconhecimento de antígenos (fosforilados e não peptídicos) ocorre diretamente, sem a apresentação via MHC (72, 73). Diferente dos linfócitos Tαβ as células Tγδ apresentam uma diversidade limitada (74). Em indivíduos saudáveis as células Tγδ são encontradas tanto em tecidos como no sangue, representando 1-10% dos linfócitos do sangue periférico (74, 75). As Tγδ são fontes importantes de citocinas pró inflamatórias (TNF-α, IFN-γ) e apresentam atividade citotóxica via perforina/granzima, FasL e TNF-α (Sigal, 2005). Foi observado que as células TCRγδ+CD4+CD8- secretam elevados níveis de citocinas e apresentam reduzida atividade citotóxica, enquanto as células TCRγδ +CD4-CD8+ e as TCRγδ+CD4-CD8- secretam citocinas em baixas concentrações, porém são células com potente atividade citotóxica (74). Durante a fase aguda de infecção pelos plasmódios, tanto em humanos quanto em modelos murinos não imunes, as células Tγδ encontram-se em número bastante elevado na circulação o que sugere sua importante participação no controle do crescimento do parasito (20, 76-78). Apesar da relevância desse fenômeno ainda não ter sido esclarecida, foi demonstrado que células Tγδ ativadas, com hemácias infectadas por P. falciparum, produzem uma grande quantidade de IFN-γ, TNF-α e granulisina que apresentam ação antiparasitária (23). 13 Poucos estudos abordam o papel de células Tγδ na patofisiologia da malária. Entretanto, em modelo murino, foi observado que na malária cerebral, há um acúmulo destas células nos vasos cerebrais. Adicionado a este fato, camundongos sensíveis a malaria cerebral quando depletados de células Tγδ, passam a ser resistentes sugerindo que estas células estejam diretamente envolvidas no agravamento da malária (79, 80). Na malária humana, há evidências de que o aumento do percentual de células Tγδ no sangue periférico esteja diretamente correlacionado com a intensidade de sintomas (78). 1.3.5 CÉLULAS B1 As células B-1 CD5+ (células B1-a), são uma subpopulação de linfócitos B descritas na década de 80, possuem grande capacidade de apresentação de antígeno e secretam preferencialmente auto-anticorpos naturais de baixa afinidade e não patológicos da classe IgM que reagem com uma grande variedade de antígenos próprios ou não (81-84). Os autoanticorpos naturais podem participar no processo de imunoregulação ligando-se a outras imunoglobulinas, a citocinas, a complexos antígeno-anticorpo, a linfócitos, e a timócitos (81). Além da função protetora, os anticorpos naturais podem atuar na eliminação de células apoptóticas (84). Recentemente foi observado que algumas células possuem características semelhantes às células B1 e não apresentam o marcador CD5. Essas foram denominadas de células B1-b (85). Em humanos, as células B1 constituem 1-7% das células mononucleares sanguíneas (86) e o fenótipo dessas células ainda não foi bem definido (87). Sabe-se que produzem IL-10, citocina antiinflamatória envolvida na resposta de células T reguladoras e na estimulação de células B (diferenciação, proliferação e produção de anticorpo), podendo restabelecer o equilíbrio Th1/Th2 e inibir a cascata da resposta inflamatória (84). Na malária murina, há evidências que ativação de células B-1, no início da infecção, seja importante na sobrevida dos camundongos provavelmente através da regulação das subpopulações das células Th1 e Th2 (88). Na malária humana sabe-se que há uma ativação policlonal de linfócitos B com produção de auto-anticorpos (89, 90), porém, até o momento, nenhum estudo foi realizado sobre as células B-1 e seu papel na modulação da infecção e da resposta imune protetora na malária. 14 1.3.6 OUTRAS CÉLULAS IMPORTANTES NA IMUNOREGULAÇÃO Subpopulações de células T e de células B especializadas na supressão da resposta imune celular vêm sendo alvo de recentes e intensas investigações. Essas células dotadas de propriedade antiinflamatórias e que agem tanto através de mecanismos antígenos-específicos como não-específicos, podem regular a resposta imune inata e adaptativa (91-93). Vários trabalhos têm demonstrado a importância das células T reguladoras (Tregs) na modulação de respostas imune de diversas infecções inclusive na malaria humana (94) tanto pelo contato direto mediando a morte celular via granzimas quanto pela produção de citocinas imunorregulatórias (IL-10 e TGF-1). Em humanos, as Tregs constituem 1-2% das células T CD4+ circulantes (95). Tanto a produção de TGF-1 quanto à presença de células Tregs, em indivíduos experimentalmente infectados, estavam associadas positivamente com as altas taxas de crescimento do P. falciparum in vivo (96). É possível que, na malária humana, a estimulação de células Tregs por P. falciparum, no início da parasitemia, possa ser um fator de virulência específico desse parasita. As células B reguladoras (Bregs) produzem anticorpos das classes IgG e IgA e citocinas imunorregulatórias, IL-10 e TGF-. Estudos de várias doenças auto-imunes e infecciosas em modelo murino, demonstraram que as células Bregs são especificamente ativadas em processos infecciosos e suprimem a progressão exacerbada da resposta imune, pela secreção de IL-10 e TGF-1 e pela neutralização de fatores solúveis através da produção de IgG e IgA e pela depressão da ativação de células dendríticas e macrófagos através pela interação das IgG com o receptor FcRIIB (97). Nenhum estudo foi realizado sobre as células Bregs e seu papel na modulação da infecção e da resposta imune protetora na malária murina ou humana. 1.4 Citocinas na malária Estudos no modelo murino e em humanos indicam que as citocinas junto com as células T, células NK, macrófagos, dentre outras contribuem tanto para o controle da infecção malárica quanto para a persistência e aumento da parasitemia (26, 55, 98-101). O equilíbrio entre as citocinas Th1 e Th2 parece ser crucial no controle dos sintomas clínicos da doença livrando o hospedeiro do desenvolvimento dos quadros graves ou moderados da infecção. Entretanto, o papel de cada citocina em humanos durante a infecção ainda não está claro. 15 Portanto, é extremamente importante a avaliação da expressão de diferentes citocinas por estas células durante a infecção malárica. Vários trabalhos mostram que o IFN-γ é o indutor chave dos mecanismos imunes efetores essenciais para o controle inicial da infecção tanto das formas pre-eritrocíticas quanto eritrocíticas (101, 102), mas há evidências de que níveis altos de IFN-γ podem contribuir para o desenvolvimento da patologia (55). Recentemente, Andrade e cols. (2010) (103) mostraram uma correlação positiva entre concentrações plasmáticas de IFN-γ e severidade da doença. Kossoda e Grau (1993) (104) destacam que esta citocina pode apresentar papel na patogênese da malária cerebral, já que a neutralização da mesma preveniu o aparecimento de alterações neurológicas no modelo murino. Em crianças e grávidas a produção de IFN-γ em resposta a eritrócitos infectados por P. falciparum estava correlacionada com proteção clínica (105-107). Foi observado também que células obtidas de crianças com malária não grave produzem mais IFN-γ quando estimuladas com antígenos dos esporozoítas ou dos merozoítas quando comparado com células de crianças com malária grave (108). A produção de IFN-γ foi também correlacionada com a resistência à reinfecção por P. falciparum e a proteção contra a manifestação clínica da malária (100, 108). O desenvolvimento de hiperparasitemia em crianças com malária por P. falciparum parece estar relacionado a baixas concentrações de células T CD4+ secretoras de IFN-γ (109). Por outro lado, Ong’echa e cols. (2003) (110) destacaram que a presença de IFN-γ no sobrenadante de cultura celular de crianças naturalmente expostas ao parasita correspondia a altas concentrações de hemoglobina e a significativa redução na prevalência de anemia grave. Já Farouk e cols. (2005) (111) mostraram que indivíduos de comunidades africanas menos susceptíveis à malária apresentam níveis altos de IFN-γ quando comparadas a indivíduos de outras comunidades mais susceptíveis à infecção, porém com a mesma intensidade de transmissão. Outros estudos também relataram associação entre altos níveis de TNF-α e morte do parasita (112-114). Além disso, o percentual de células T específicas para o P. falciparum expressando TNF-α já foi associado a menor taxa de reinfecção (115). As hipóteses dos mecanismos de ação do TNF-α que resultariam em proteção ao plasmódio seriam: aumento da expressão de receptores Fc com aumento da atividade fagocítica de macrófagos, estimulação de neutrófilos e regulação da produção de IL-12 por macrófagos (115). Quanto ao papel do TNF- α na patogênese da malária ainda não se sabe, se ele é resultante de um efeito deletério direto do próprio, ou se é conseqüência da habilidade desta citocina estimular a produção de outros mediadores como IFN-γ, IL-1, IL-6, óxido nítrico e espécies reativas do oxigênio. 16 Fatores como a população celular produtora de TNF-α, a presença de outras citocinas no meio e genótipo do hospedeiro parecem influenciar o papel biológico desta citocina na malária (115). A interleucina 2 (IL-2), que também é característica da resposta do tipo 1, é um produto predominantemente de células CD4+. O efeito desta citocina nas células alvo inclui mitogênese de células tipo 1 e estimulação de citotoxicidade em células T citotóxicas e NK. O papel desta citocina na malária ainda não está bem elucidado. Foi observado que células mononucleadas de crianças com malária não complicada apresentam capacidade de produção de IL-2 preservada, apesar de estar diminuída durante o desaparecimento dos parasitas circulantes. Esta citocina parece ter papel ativador de células Tγδ na malária e o tratamento de camundongos infectados com P. yoelii com IL-2 resultou no acúmulo destas células no cérebro tornando-os susceptíveis a malária cerebral (116). A interleucina 4 (IL-4) parece desempenhar um papel regulador na infecção malárica, através da inibição da resposta Th1. Esta citocina pode ainda atuar através da indução de anticorpos específicos que podem ser protetores (117). Além disso, estudos demonstraram que a IL-4 também pode estar envolvida na aquisição de memória na resposta imune à malária na fase pré-eritrocítica (118-120). Estudos indicam que a produção de IL-4 atua prevenindo o desenvolvimento de malária cerebral. Através da avaliação de expressão gênica foi demonstrado que há uma supressão na expressão de IL-4 em camundongos sensíveis a malária cerebral. Outro dado que colabora para esta observação é que há uma menor produção desta citocina quando células de camundongos sensíveis a malária cerebral são expostas a eritrócitos infectados (104). Na malaria humana, um estudo desenvolvido por Cabantous e cols. (2009) (121) detectou níveis elevados de IL-4 circulante em crianças com malária severa, quando comparados com aquelas com malária não severa e níveis elevados de IL-4 estavam associados à anemia severa. A interleucina 10 (IL-10) foi identificada primariamente como uma citocina imunorreguladora, com capacidade de inibir a produção de diversas citocinas. Atualmente já se sabe que ela é pleiotrópica com efeito biológico em vários tipos celulares. Ela atua na sobrevivência, proliferação e diferenciação de células B (91, 122). Na malária, a resposta de IL-10 a antígenos hepáticos está associada à proteção a reinfecção (115). A produção de IL-10 por células T (específicas ou não para P. falciparum) de indivíduos com histórico de malária grave não difere da produção de células de indivíduos com malária não grave (116), por outro lado, baixas concentrações de IL-10 têm sido associadas à anemia grave (26, 123). Na África, observou-se em pacientes com malária um aumento de células CD4+ produtoras de IL-10, após 17 o tratamento, e crianças que apresentavam hiperparasitemia, a expressão de IL10 estava reduzida (124). Andrade e cols. (2010) (103) verificaram que a razão IFN-γ/IL-10 foi maior em pacientes conforme ocorria aumento da severidade da doença e que há uma redução da razão IFN-γ/IL-10 e de TNF-α após o tratamento. O TGF-β é uma citocina antiinflamatória que desempenha papel importante no controle da resposta imune excessiva frente ao plasmódio (125). Existem indícios de que ela tenha capacidade de estimular a expressão de FoxP3, promovendo o desenvolvimento de células T reguladoras (125, 126). Na malária um dos papéis principais desta citocina é reduzir a produção da óxido sintase induzível (iNOS) (127). Em indivíduos experimentalmente infectados com esporozoítas de P. falciparum foi observado que a produção de TGF- estava associada positivamente com as altas taxas de crescimento do P. falciparum in vivo. Esses resultados corroboram os dados observados na malária murina, que a regulação das células efetoras Th1 por IL-10 e TGF- é essencial para controlar a imunopatologia, porém que a indução ou a administração de TGF - no início da fase sangüínea diminui a produção de citocinas pró inflamatórias, levando a um aumento exacerbado da parasitemia e da gravidade da doença (127, 128). Indivíduos com malária aguda apresentaram níveis de TGF-β maior que indivíduos assintomáticos (126). Face ao exposto, verifica-se que as citocinas são essenciais tanto na resposta imune inata quanto adaptativa frente ao Plasmodium, podendo atuar tanto na indução como na regulação das respostas efetoras (115). O equilíbrio entre a produção de citocinas pró e antiinflamatórias parece ser crucial na determinação da gravidade dos sintomas clínicos, no grau de parasitemia e ainda na eliminação da doença (115, 129). 1.5 Alterações Hematológicas na Malária As alterações hematológicas mais frequentemente associadas à infecção malárica são anemia, leucopenia, trombocitopenia, eosinopenia e neutropenia (130-132). Essas alterações podem ser transitórias e variar de acordo com a espécie plasmodial infectante, o grau de endemicidade da área, a idade, fatores sócio-demográficos, as hemoglobinopatias, o estado nutricional, as parasitoses intestinais e, a imunidade antimalárica (133). A anemia é descrita como um dos principais agravos na malária ocorrendo principalmente em primoinfectados, gestantes e crianças (134). Essa manifestação clínica é descrita em todas as espécies de malária, porém os quadros mais graves são 18 predominantemente observados nas infecções por P. falciparum. Entretanto, as infecções por P.vivax também podem ser responsáveis por quadros graves de anemia, porém em menores proporções, uma vez que esta espécie de plasmódio infecta preferencialmente reticulócitos (135). O plasmódio é um parasito intracelular obrigatório que infecta e destrói eritrócitos. Entretanto, as observações de que o grau de anemia não está necessariamente relacionado com o nível de parasitemia e que a anemia pode surgir depois da completa eliminação do parasito, sugeriram que a patogenia da anemia na malária seja mutifatorial e que mecanismos imunológicos estejam envolvidos (136). Dentro desse contexto, diversos estudos vêm demonstrando uma interação complexa e dinâmica entre o plasmódio, a resposta imune e o sistema hematopoiético do hospedeiro (137). Os principais mecanismos imunes envolvidos na anemia da malária têm sido associados: à sensibilização dos eritrócitos por imunocomplexos, anticorpos contra antígenos plasmodiais e auto-anticorpos que induziria a hemólise (25, 138); ao aumento da produção de citocinas pró-inflamatórias (TNF-α, IFN-γ entre outras) que estimulariam a eritrofagocitose e a depressão da eritropoese e da mielopoese (139, 140), cabe ressaltar que a hemozoína é um dos componentes parasitários que estimula produção de citocinas pró-inflamatórias (141). Em contraste com a associação das citocinas próinflamatórias (reposta imune tipo Th1) com a patogenia da anemia, uma resposta predominantemente Th2 está relacionada com a proteção de indivíduos contra o desenvolvimento da anemia grave na malária. Diversos trabalhos têm demonstrando que níveis plasmáticos mais elevados de IL-10 em relação aos níveis de TNF-α estavam relacionados com a proteção de pacientes infectados com P. falciparum contra o desenvolvimento quadros graves da doença, sobretudo a anemia (142, 143). Esses dados ressaltam a importância da manutenção do equilíbrio entre as respostas imunes tipo Th1 e Th2 no controle da evolução da doença. Diversos estudos relataram as alterações hematológicas em pacientes com malária, porém a grande maioria focou pacientes com P. falciparum, provenientes de áreas hiperendêmicas. Grande parte deles foi desenvolvida nas populações de maior risco de desenvolvimento de malária grave (crianças e grávidas). Na América do Sul, porém, onde a maioria das áreas endêmicas de malária apresenta transmissão instável, a forma grave da doença pode ocorrer mesmo em adultos. Face ao exposto, fica clara a importância de se avaliar as alterações hematológicas de indivíduos infectados por plasmódios provenientes da Amazônia brasileira. 19 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo Geral Com o intuito de contribuir para um maior entendimento da resposta imune durante a infecção por Plasmodium spp. e oferecer suporte para estudos futuros no campo da pesquisa sobre a imunidade à malária, este trabalho teve como objetivo geral: “Avaliar alterações hematológicas e o perfil fenotípico de células do sangue periférico de indivíduos naturalmente infectados com P. vivax ou P. falciparum na fase aguda e de convalescença e comparar a resposta imune desencadeada por estas duas espécies plasmodiais”. 2.2. Objetivos Específicos 2.2.1. Estudar de forma descritivo-analítica o perfil imunofenotípico dos leucócitos do sangue periférico de indivíduos infectados com P. vivax ou P. falciparum na fase aguda e de convalescença, através da avaliação da distribuição porcentual de: a) Células CD4 e CD8, células T, CD3-, Células T e subpopulações produtoras de diferentes citocinas; b) Células T reguladoras; c) Subpopulações de linfócitos CD4 e CD8 expressando moléculas de ativação celular (CD25); d) Células NK, NKT e subpopulações CD4 e CD8 e células NK produtoras de IFN-; e) Células B e subpopulações produtoras de TGF-β; 2.2.2 Avaliar perfil hematológico dos pacientes com malária na fase aguda e de convalescença. 20 3. JUSTIFICATIVA Sabe-se que a resposta imune na malária pode interferir tanto na manifestação clínica da doença, quanto na indução de uma resposta protetora duradoura. Os mecanismos exatos envolvidos na patogênese e na produção de uma resposta imune eficaz ainda não foram bem esclarecidos. Assim sendo, um melhor entendimento da resposta imune na infecção por P. falciparum e P. vivax é essencial para desenvolvimento de possíveis adjuvantes, vacinas e de novos métodos terapêuticos. 21 4. METODOLOGIA 4.1 Área de estudo A área escolhida para realizar o estudo foi o município de Porto Velho, capital do Estado de Rondônia. O estado de Rondônia encontra-se localizado na região norte do Brasil, tendo como divisas o Estado de Amazonas (norte e noroeste), Mato Grosso (leste e sudeste), Acre (noroeste) e Bolívia (sudeste e oeste) (Figura 4.1). O Estado de Rondônia apresenta 52 municípios e uma área total de 237.576,167 Km2 com cerca de 1,5 milhões de habitantes (144). Figura 4.1. Mapa geográfico de Rondônia. Fonte: Adaptado de Katsuragawa 2008(145) e http://www.brasilrepublica.com/rondonia.htm (146) O Município de Porto Velho apresenta uma área total de 34.082Km2. No ano de 2009, a população estimada desta localidade foi 382.829 habitantes. No ano em que foi realizada a coleta das amostras (2007) a população de Porto Velho era de aproximadamente 369.345 habitantes. Esta cidade encontra-se na região da Amazônia Legal e é formada por planícies com serras de baixa altitude. Esta área é coberta por floresta tropical e apresenta temperatura média acima de 28º C e umidade relativa do ar elevadas além de chuvas abundantes (144). 22 Durante o ano de 2007, Rondônia foi o segundo Estado com maior número de casos positivos para malária no Brasil (81.955 casos), quando Porto Velho contribuía com a grande maioria de casos (32.934 casos). Nas figuras 4.2 e 4.3 pode-se observar a evolução do IPA e do número de casos em Rondônia. Dentre os casos notificados em Porto Velho, durante o ano de 2007, 25.987 foram infecções por P. vivax, 6.541 foram infecções por P. falciparum, 404 foram infecções mistas. Além de um caso de infecção por P. malariae e um por P. ovale. Em 2007, o índice parasitário anual (IPA) de Porto Velho foi de 84,9 (14). Figura 4.2. Evolução do Índice Parasitário Anual (IPA) de Rondônia entre os IPA/ 1.000 habitantes períodos de 2003-2009. (SIVEP, 2009)(14) 23 Figura 4.3. Evolução do número de casos de malária diagnosticados no Brasil e em Rondônia de 1974 a 2007 Fonte: Katsuragawa, 2008 (145). Atualmente, o Estado de Rondônia e sua capital continuam apresentando elevada incidência de malária, sendo que em 2009 foram diagnosticados 40.806 casos em Rondônia e Porto Velho foi responsável por 20.283 desses casos (Figura 4.4). Em Porto Velho a prevalência das espécies plasmodiais foi de 1.974 indivíduos infectados por P. falciparum, 18.216 por P. vivax e 93 infecções mistas. O IPA de Porto Velho em 2009 foi de 48,3 (14). 24 Figura 4.4. Evolução do número de casos de malária em Rondônia e em Porto Velho, por espécie plasmodial durante o período de 2003 a 2009. Pf- Plasmodium falciparum; Pv- P. vivax; RO- Rondônia; PV: Porto Velho A colonização do município de Porto Velho, iniciada a partir do século XIX até a década de 1960 ocorreu por via fluvial. A população foi atraída primeiramente devido a extração da borracha, depois pelos garimpos. Assim sendo, esta população migrante foi se estabelecendo as margens dos rios, constituindo a população de ribeirinhos, composta por indivíduos com elevada miscigenação com a população indígena local. Após a abertura da rodovia BR364 e instalação de assentamentos rurais, o município passou a atrair e receber emigrantes de todo o país por via rodoviária (145). Apesar de ser o principal centro econômico do estado de Rondônia, Porto Velho ainda apresenta áreas de profundo atraso social, onde há menos de 30 Km do centro da cidade já podemos observar famílias sem energia elétrica e saneamento básico, vivendo da agricultura e pesca de subsistência as margens do rio Madeira e seus afluentes ou até mesmo em assentamentos de terra promovidos pelo governo. A distribuição da malária em Porto Velho é bastante heterogênea, sendo a região urbanizada praticamente livre de casos de malária enquanto os bairros periféricos que apresentam saneamento e drenagem de águas de superfície deficitários e a população ribeirinha responsáveis pelos maiores índices de malária no município (áreas rurais e suburbanas) (145, 147) (Figura 4.5). 25 Figura 4.5. Caracterização da distribuição heterogênea da malária em Porto Velho: AMapa de Porto Velho, com a distribuição das regiões operacionais para controle da malária, da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Velho (Semusa); B- Evolução do número de casos de malária em Porto Velho por região operacional durante os anos de 2006 e 2007 (Semusa). A B Fonte: Katsuragawa e cols., 2008(145) 26 4.2 Voluntários 4.2.1 PACIENTES Foram avaliados indivíduos (n=73) atendidos no Posto de diagnóstico de malária na Policlínica Ana Adelaide do município de Porto Velho no período de julho a outubro de 2007 (Figura 4.6). Os indivíduos com diagnóstico positivo, foram informados sobre as formas de transmissão da malária, medidas profiláticas e sobre o projeto de pesquisa. Os indivíduos que aceitaram participar de nosso estudo leram e assinaram o termo de consentimento que formaliza a participação desses indivíduos como voluntários (Anexo 1). Após a assinatura, todos os voluntários participaram de uma cuidadosa entrevista que tinha como objetivo o preenchimento de um questionário (Anexo 2) de investigação de dados pessoais e epidemiológicos utilizados para a associação com os dados experimentais. As informações obtidas incluíram: idade, sexo, número de infecções maláricas anteriores, tempo decorrido entre o aparecimento dos sintomas e procura do diagnóstico, tempo de residência em área endêmica, tempo de residência em Rondônia e sintomas apresentados. O protocolo de pesquisa foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz- CEP/FIOCRUZ sob o no 354/06 (Data: 27/10/2006). Eram elegíveis para o estudo indivíduos com exame positivo para malária (gota espessa) e com idade superior a 12 anos, exceto populações indígenas, presidiários, doentes mentais, gestantes e parturientes. Figura 4.6. Policlínica e voluntários do estudo. A- Policlínica Ana Adelaide, Porto Velho, Rondônia; B - Posto de diagnóstico de malária C - Indivíduo com suspeita de malária sendo atendido no posto de diagnóstico de malária. A B C 27 4.2.2 GRUPOS EM ESTUDO 4.2.2.1 Grupos de pacientes Para a análise dos dados os pacientes com malária foram classificados de acordo com a espécie plasmodial infectante. Esta classificação deu origem ao Grupo P. vivax (Grupo-Pv; n=47) e P. falciparum (Grupo-Pf; n=24). 4.2.2.2 Grupo controle Nesse estudo foram avaliados indivíduos residentes no centro de Porto Velho (n=20) no período de julho a outubro de 2007. Eram elegíveis para o estudo indivíduos com exame negativo para malária (gota espessa), com idade superior a 12 anos, sem história pregressa de malária ou que relataram no máximo 4 infecções sendo que a última tenha ocorrido há 1 ano ou mais, exceto populações indígenas, presidiários, doentes mentais, gestantes e parturientes. Esses indivíduos constituíram o grupo controle de área endêmica (Grupo-C) pelo fato de residirem em bairros no centro de Porto Velho, áreas consideradas livre de transmissão. 4.3 Coleta de sangue As amostras de sangue (30 mL) foram coletadas por venipunctura em tubos Vaccutainer (BectonDickson, San Jose, CA) contendo heparina sódica em 2 momentos diferentes da infecção : 1) no dia do diagnóstico e antes do início do tratamento (Dia 0 = D0); cerca de 15 dias após o D0 (D15= 14,3 ± 2,4) quando os indivíduos já haviam terminado o tratamento. As amostras de sangue foram processadas em Porto Velho e utilizadas para exame parasitológico, hemograma, obtenção de células mononucleadas (PBMC) e plasma. 4.4 Exame parasitológico para diagnóstico de malária e avaliação da parasitemia O diagnóstico de malária foi realizado pelo exame de gota espessa e distensão sanguínea, ambos corados pelo Giemsa (Sigma Chemical CO., St Louis, EUA). O diagnóstico inicialmente dado por um dos microscopistas do Posto de Diagnóstico de malária era repetido 28 e confirmado por um pesquisador de nossa equipe. A parasitemia foi avaliada contando o número de parasitas por 200 leucócitos. Se nove ou menos parasitas fossem encontrados, 300 leucócitos adicionais eram contados. A parasitemia final dos voluntários foi ajustada de acordo com o número de leucócitos/L de sangue, de cada indivíduo. Todos os voluntários com malária, logo após a coleta de sangue, foram submetidos ao tratamento preconizado pelo Ministério da Saúde do Brasil (cloroquina associada a primaquina para infecções por P. vivax e artemeter com lufemantrina (COARTEN®) para os indivíduos com P. falciparum) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009) 4.5 Exame hematológico No intuito de analisar alterações hematológicas em pacientes com malária e detectar possíveis diferenças entre os distúrbios causados por diferentes espécies de plasmódios e/ou em indivíduos com históricos distintos de infecção prévia, as amostras de sangue dos participantes do estudo foram encaminhadas para o Dr. Fabio Storer do Laboratório São Lucas (PV-RO) para realização de hemograma completo, contagem de plaquetas e reticulócitos. Os hemogramas foram realizados em aparelho automatizado PENTRA da ABX Diagnostics® (EUA) com avaliação da série branca, vermelha e plaquetária. Adicionalmente, foi realizado um esfregaço de cada amostra para contagem diferencial dos leucócitos em caso de flag pelo aparelho (sinalização da necessidade de confirmação manual quando na amostra havia leucócitos atípicos ou imaturos). Para contagem de reticulócitos foi utilizada a técnica de azul de cresil brilhante. Os resultados dos exames foram avaliados pela Dra Arlete Baldez, médica da Fundação Nacional de Saúde em Porto Velho. Quando necessário os pacientes receberam medicamentos. 4.6 Obtenção de células mononucleares do sangue periférico (PBMC) e plasma. As amostras de sangue (20 mL) foram centrifugados a 350 X g por 10 min para separação do plasma dos componentes celulares do sangue. Os plasmas obtidos foram estocados a -20 C em alíquotas de 500 L. Após a retirada do plasma, a suspensão celular foi reconstituída ao volume inicial com 0,9% de NaCl e colocada cuidadosamente em tubos contendo solução de Ficoll-Hypaque – densidade 1,077mg/mL (Histopaque – Sigma Company), na proporção de 5 mL de Histopaque para 10 mL de sangue. Após a distribuição 29 os tubos foram centrifugados por 30 min a 400 X g e a temperatura de 20 C. As células mononucleares foram separadas, lavadas três vezes por centrifugação a 350 X g durante 10 min 20 C com salina estéril. Ao final das lavagens as células foram ressuspensas em 2mL de meio de cultura Roswell Park Memorial Institute -1640 (RPMI-1640, Gibco) contendo 2g/L de bicarbonato de sódio, 10mM de Hepes, 15mM de glutamina, 200U/mL de penicilina, 200ug/mL de estreptomicina – RPMI incompleto (sem soro bovino fetal) para realização de teste de viabilidade celular e verificação do número de PBMC recuperado. 4.7 Verificação da viabilidade celular e número de PBMC Com a finalidade de se verificar a viabilidade celular e quantificar o número de PBMC recuperado, 5µL da suspensão de PBMC em RPMI Medium 1640 foram colocados em tubo eppendorf estéril com 45µL de azul de tripan a 0.4% (CellGro, Mediatech, Inc. Manassas, VA). Essa nova solução foi homogeneizada e rapidamente colocada em câmara de Neubauer para contagem do número de células em lente de 400x. As células eram consideradas não viáveis quando estavam incluídas com o azul de Tripan. Foram contadas as células viáveis presentes nos quatro quadrantes da câmara de Neubauer. Para a determinação do número total de células (PBMC) de cada amostra, o número obtido através da fórmula abaixo foi multiplicado pelo volume da suspensão celular (2mL). Número de PBMC em todos os 4 quadrantes x 10 x 104 = Número de PBMC/mL 4 4.8 Congelamento e descongelamento das células mononucleadas do sangue periférico Devido as dificuldades de execução dos testes nas condições de campo, as células foram criopreservadas e transportadas para Fiocruz e mantidas em nitrogênio liquido até o momento da realização dos ensaios de citometria de fluxo. Para tanto, após a contagem, as células obtidas por separação com gradiente de Ficoll Hypaque foram centrifugadas a 350 X g durante 10 min e ressuspensas em de solução de congelamento a uma concentração de 1 x 10 7 células/mL. Tal solução era constituída de 90% de Soro Fetal Bovino (Hyclone, EUA) inativado e 10% de dimetilsulfóxido (DMSO-SIGMA, EUA). As células foram então transferidas para criotubos estéreis que foram então armazenados no criocontainer contendo 30 álcool isopropílico (isopropanol) - Cryo 1C (NALGENE n 5100-0001), que permite a redução de temperatura de 1C/min. As alíquotas foram mantidas no criocontainer a -70C por 12-24 horas e armazenadas posteriormente em nitrogênio líquido. No momento do descongelamento os tubos de criopreservação foram retirados do nitrogênio líquido e levados rapidamente ao banho-maria a 37 ºC. Antes do descongelamento completo a solução era transferida para tubos cônicos/estéreis de 15mL. Em seguida, a solução de descongelamento composta por 90% RPMI Medium 1640 (GIBCO, EUA), 10% soro bovino fetal (Hyclone, EUA) inativado e Benzonase® Nuclease (Novagen, EUA) na concentração de 100UI/mL foi acrescentada aos tubos em volumes crescentes (0,5, 1,0, 2,0 e 4,0 mL) em intervalos de 1 minuto entre cada adição. Após a adição da solução de descongelamento os tubos foram centrifugados a 350 X g durante 10 min a 20 C, seguido de uma lavagem com 10mL RPMI Medium 1640 incompleto. As células foram então ressuspensas em 2mL de RPMI Medium 1640 incompleto (GIBCO, EUA) para realização de verificação de viabilidade celular e determinação do número de PBMC recuperados, conforme descrito no item anterior. Após a leitura na câmara de Neubauer, as PBMC foram ressuspensas em meio RPMI Medium 1640 completo, constituído por: 90% de RPMI Medium 1640, 9% de soro bovino fetal inativado e 1% penicilina/streptomicina de forma que atingissem uma concentração final de 2 x 106 células viáveis/mL. A recuperação das células após o descongelamento foi em torno de 85%. Ensaios de imunofenotipagem celular dos leucócitos foram realizados durante a padronização dos protocolos de congelamento e descongelamento. Para tal, PBMC frescas e congeladas, dos mesmos indivíduos, foram testadas com o objetivo de verificar se o processo de congelamento/descongelamento influenciaria na imunofenotipagem. Para isso, todos os marcadores utilizados no estudo foram avaliados. Os resultados demonstraram não haver diferença de marcação entre as amostras frescas e congeladas. 4.9 Análise do fenótipo celular e do padrão de citocinas citoplasmáticas em leucócitos do sangue periférico por citometria de fluxo Os ensaios de imunofenotipagem e de marcação intracelular de citocinas em leucócitos do sangue periférico foram realizados segundo os protocolos propostos pelos fabricantes dos anticorpos monoclonais marcados com fluorocromos (Tabela 4.1), com algumas modificações conforme descrito a seguir. 31 Tabela 4.1. Quadro demonstrativo dos anticorpos monoclonais utilizados para análise de populações, subpopulações e do perfil de citocinas intracitoplasmáticas de leucócitos do sangue periférico. Monoclonal CD3 APC Alexa-Fluor 750 CD4 APC Alexa-Fluor 750 Fabricante e-Bioscience e-Bioscience Número do Lote E027272 E028212 População alvo Linfócitos T* Células T restritas pelo MHC tipo II*, subtipo de células NK‡ e de células NKT• e-Bioscience E026328 Células T, subtipo CD5 PE-Cy7 de células B* Invitrogen 366116 A Células T restritas CD8 PE-TR pelo MHC tipo I* subtipo de células NK‡ ‡e de células NKT BD Pharmigen 88874 Subtipo de células CD11b/Mac-1 PE-Cy5 B** Invitrogen 0400A Células B* CD19 PE-TR BD Pharmigen 82769 Células T e B CD25 PE-Cy5 ativadas, células T reguladoras ; macrófagos ativados* BD Pharmigen 04621. Células NK† NKp46 PE BD Pharmigen 71875 Células NKT†† NKT FITC Invitrogen 363807A Células Tγδ TCR γδ TC BD Pharmigen 94783 Células B naives# IgD FITC BD Pharmigen 7547 / 92397 Células T IFN-γ PE-Cy7 (principalmente Th1), NK*, NKT#, B¥, DC e-Bioscience E015516 Células T, NK, TNF-α FITC mastócitos, macrófagos*, NKT# BD Pharmigen 67324 Células T, TGF-β Biotinilado macrófago, Treg*, B¥, DC e-Bioscience E024752 Células T IL-2 APC (principalmente CD4)*, NKT#, NK*, Treg e-Bioscience E026828 Células T IL-4 APC (principalmente CD4, mastócitos, NKT#, B¥ e-Bioscience E019408 Células T, Treg, IL-10 PE macrófagos, alguns tipos celulares não linfóides (queratinócitos), Breg¥, B¥ e DC † * Fonte: Abbas, 2008 ; Fonte:Mandelboin, 2001(148); ‡Bernstein 2006(59); •Jing, 2007 (149); **Kawai, 2005(150). ‡‡Surgita, 2010 (151) # Mercer, 2005 (152); ¥ Bouaziz,2008 (91); †† Tahir, 2001 (153) 32 Às placas estéreis de 96 poços (Becton Dickinson, EUA) foram adicionados 100μL de suspensões de PBMC na concentração de 2 x 105células por poço. Em seguida, a cada poço foram adicionados 100 μl de meio RPMI 1640 completo e 10μg/mL de Brefeldina A (SIGMA, St. Louis, Estados Unidos). Após homogeneização as placas foram mantidas a 37ºC , em ambiente rico em CO2 (5%) durante, aproximadamente, 15 horas. Após este período as placas foram lavadas em 200µL/poço de PBS 0,15M estéril (0.15 mM NaCl, 2.5 mM KCl, 8 mM Na2HPO4.7H2O, 1.5 mM KH2PO4; pH 7.2) com rotação de 350 X g por 5 min e depois incubadas em 100µL de solução de PBS/ 0,1% BSA (Sigma, EUA) contendo 5% de leite desnatado (Molico, Nestlé, Brasil), durante 5 min a 20ºC, para bloqueio do receptor Fc. Em seguida, 100μL das soluções contendo combinações específicas de anticorpos monoclonais marcados com fluorocromos distintos (Tabela 4.2) para análise simultânea de marcadores de superfície celular necessários para a caracterização de populações celulares de interesse, foram adicionados às placas de 96 poços, em concentrações/volumes previamente estabelecidas (Tabela 4.2). Após incubar durante 25 min a 4ºC duas lavagens, com 200 μL tampão PBS/ 0,1% BSA/poço, foram realizadas por centrifugação a 350 X g durante 5 min a 20º C e o sobrenadante desprezado. As amostras foram então fixadas com 100μL de solução fixadora (4% de paraformaldeído em PBS, pH 7) durante 10 min a 20ºC. Em seguida, as amostras foram lavadas 1 vez com 200 μL tampão PBS/ 0,1% BSA/poço (350 X g, 5 min, 20ºC). Mais duas lavagens com 200 μL/poço de tampão PBS/ 0,1% BSA/ 0,1% de Saponina (SIGMA, St. Louis, Estados Unidos) (350 X g, 5 min, 20ºC) foram realizadas. Após as lavagens, as placas foram incubadas durante 1 hora a 4ºC, em 100μL de tampão PBS/ 0,1% BSA contendo 5% de leite desnatado e 0,1% de Saponina-A para permeabilização celular. Subseqüentemente a permeabilização, as misturas de anticorpos para marcação intracelular de citocinas (IL-2, IL-4, IL-10, IFN-γ, TNF-α e TGF-β) foram adicionadas aos seus respectivos poços, em concentrações previamente estabelecidas (Tabela 4.2). Após um período de incubação de 30 min a 4ºC, 200μL de PBS/0,1%BSA/0,1% Saponina-A foi adicionado nos poços, exceto nos poços da marcação 4 nos quais foram adicionados streptavidina conjugada com peroxidase. As placas foram incubadas durante 20 min a 4ºC. Duas lavagens por centrifugação a 350 X g, por 5 min a 20ºC foram realizadas. Uma em PBS/ 0,1% BSA/ 0,1% Saponina seguida de outra com PBS/ 0,1% BSA sem Saponina. Posteriormente as células foram ressuspensas em 200μL de PBS/ 0,1% BSA e transferidas para os tubos próprios para leitura. Adicionalmente, 300μL de PBS/ 0,1% BSA foram adicionados em cada amostra totalizando 0,5mL por tubo. 33 As amostras foram analisadas em um aparelho Cyan (Dako, EUA) da Plataforma de Citometria de Fluxo do Instituto Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) com o auxílio do técnico da plataforma Alessandro Marins dos Santos em um período de até 24 horas após o término da marcação. O programa Summit (Dako, EUA) foi utilizado para obtenção e análise dos dados. Cerca de 10.000-20.000 células foram adquiridas dentro do gate morfológico de linfócitos. Como controle positivo, células de alguns pacientes foram estimuladas com PHA. Tabela 4.2. Quadro demonstrativo dos anticorpos monoclonais utilizados em cada marcação na citometria de fluxo e os respectivos volumes utilizados. Marcação extracelular Marcação Intracelular Marcação 1 Anti-CD25 PE-Cy5 (2µL), anti-CD4 APC Alexa Anti-IFN-γ PE-Cy7 (2µL), anti- TNF-α FITC (1µL)*, População alvo: 750 (2µL), anti-CD8 PE-TR (1µL) anti-IL-2 APC (2µL)*, anti-IL-10 PE (2µL)* Marcação 2 Anti-CD3 APC-Alexa 750 (2µL), anti-TCRγδ Anti-IFN-γ PE-Cy7 (2µL), anti- TNF-α FITC (1µL)*, População alvo: TC (1µL) anti-IL-2 APC (2µL)*. Marcação 3 Anti-NKT FITC (4µL), anti-CD4 APC Alexa Anti-IFN-γ PE-Cy7 (2µL), anti-IL-4 APC (2µL)* População alvo: 750 (2µL), anti-NKp46 PE (2µL), anti-CD8 PE- Células Tregs e T ativadas Linfócitos Tγδ Células NK e TR (1µL) NKT Marcação 4 Anti-CD5 PE-Cy7 (2µL), anti-CD19 PE-TR Anti-TGF-β biotinilado (1µL) streptavidina-PE População alvo: (2µL), anti-CD11b PE-Cy5 (2µL), anti-IgD FITC (200µL)† Linfócitos B e (2µL) subpopulações * Volume utilizado após diluição de 1:10. †Volume utilizado após diluição de 1:5.000 34 4.9.1 ANÁLISE DOS DADOS OBTIDOS NA CITOMETRIA DE FLUXO Para análise dos dados obtidos pelo citômetro, primeiro foi realizado um gate morfológico nos linfócitos de acordo com as características de tamanho (FS) e granularidade (SS) desta população. Deste gate foram realizados outros histogramas e “dot plots”, de acordo com os esquemas a seguir. 4.9.1.1 Células CD4+ e CD8+ Para a identificação de células CD4+ e CD8+ e para identificação do porcentual das mesmas produzindo diferentes citocinas, o esquema de análise abaixo foi realizado: Figura 4.7. Esquema representativo da análise utilizada para identificação de células CD8 PE-TR CD8 PE-TR CD4+ e CD8+, e subpopulações produtoras de citocinas, através de citometria de fluxo. CD4 APC Alexa-Fluor Granularidade (SS) * Citocinas: IL-2, IL-4, IL-10, IFN-γ, TNF-α 35 4.9.1.2 Avaliação da ativação celular Para avaliação da ativação celular (expressão de CD25) das populações CD4+ e CD8+ foi realizado um esquema de análise conforme a figura 4.8. A população CD25+IL-10+ também foi avaliada. Outro objetivo desta marcação era a avaliação de células T reguladoras. Para a identificação destas células com os marcadores utilizados seria necessária a avaliação da população com expressão de altas concentrações do receptor CD25 (células CD25 HIGH). Como não foi possível a identificação desta população nos indivíduos do estudo, esta análise não foi realizada. A ausência de população CD25HIGH pode ser resultante da metodologia, já que nenhum estímulo foi realizado. Figura 4.8. Esquema representativo da análise utilizada para avaliação da expressão do CD25 PE-Cy5 CD25 PE-Cy5 IL-10 PE CD25 PE-Cy5 marcador de ativação celular CD25, em diferentes populações celulares. CD8 PE-TR CD4 APC Alexa-Fluor 36 4.9.1.3 Linfócitos T e Tγδ: Para avaliação de linfócitos (CD3+) e de linfócitos Tγδ (TCRγδ+) foi realizada a fenotipagem de acordo com as etapas ilustradas pela figura 4.9. A marcação ainda permitiu a identificação das subpopulações de CD3+, CD3- e TCRγδ+ produtoras de diferentes citocinas. Dentre as células CD3com características morfológicas de linfócitos encontram-se as células NK e as células B. Como não foi possível a avaliação de diferentes citocinas por estas populações celulares devido a limitação de canais do citômetro, optamos por avaliá-las indiretamente através da população que não expressa a molécula de CD3 e que apresenta marcação intra-celular para citocinas. (Figura 13) Figura 4.9. Esquema representativo da análise utilizada para avaliação das populações CD3+, CD3- e TCRγδ+, e subpopulações produtoras de citocinas, através de citometria de fluxo. CD3 APC Alexa-Fluor 750 TCR TC * Citocinas: IL-2, IL-4, IL-10, IFN-γ, TNF-α 37 4.9.1.4 Células NK e NKT Com o intuito de se avaliar células NK+, NKT+ e suas subpopulações (CD4+ e CD8+), um esquema analítico foi realizado a partir de linfócitos (baseada em caracteres morfológicos) (Figuras 4.10 e 4.11). Nesta marcação ainda pode ser avaliada a presença do fenótipo IFN-γ+ em células NKp46+. Para esta finalidade as seguintes análises foram realizadas: Figura 4.10. Esquema representativo da análise utilizada para avaliação de células IFN- PE-Cy7 CD8 PE-TR CD4 APC Alexa-Fluor 750 NKp46 PE NKp46+ e subpopulações (CD4+, CD8+, IFN-γ+) NKp46 PE NKp46 PE NKp46 PE 38 Figura 4.11. Esquema representativo da análise utilizada para avaliação de células NKT + Granularidade (SS) CD8 PE-TR NKT FITC CD4 APC Alexa-Fluor 750 e subpopulações (CD4+, CD8+) NKT FITC NKT FITC 39 4.9.1.5 Linfócitos B e subopulações Para a avaliação dos linfócitos B foi utilizado o anticorpo monoclonal específico antiCD19. As subpopulações de linfócitos foram caracterizadas de acordo com a expressão de CD11b, CD5 e IgD (Figura 4.12). O marcador CD5 foi utilizado para caracterização da subpopulação de célula B CD19+CD5+, que sabidamente são produtoras de autoanticorpos, e equivalem as células B1. O marcador CD11b foi escolhido baseado no modelo murino em que ele é utilizado para diferenciação de subpopulações de células B. O marcador IgD foi utilizado para diferenciação de células B “naives” (IgD+) e células B de memória (IgD-). A produção de TGF-β por linfócitos, células B e seus subtipos também foi analisada. Para identificação destas populações celulares foi realizada a análise conforme indicado na figura 16. Figura 4.12. Esquema representativo da análise utilizada para avaliação de células B CD5 Pe-Cy7 IgD FITC CD5 PE-Cy7 TGF-β biotinilado ( Streptavidina PE) (CD19+) e subpopulações CD11b Pe-Cy5 Tamanho (FS) 40 A fim de se obter uma maior precisão dos resultados em todas as marcações foram descontadas a autofluorescência das células. Isto foi realizado através da subtração da fluorescência apresentada pelas amostras marcadas daquela obtida em amostras não marcadas do mesmo indivíduo. 4.10 Armazenamento dos dados Todas as informações do questionário de investigação de dados pessoais, clínicos e epidemiológicos e todos os resultados dos exames realizados foram armazenados no Banco de dados Epi-info (CDC, Atlanta). Este banco de dados também foi utilizado para as análises estatísticas. 4.11 Análise Estatística Para análises estatísticas foram utilizados os programas Epi-info (CDC, Atlanta) e Graphpad Prism versão 5.00 para Windows (San Diego, Califórnia, EUA). O teste de normalidade D’Agostino-Pearson foi utilizado para verificar se as amostras apresentavam distribuição gaussiana. Para os dados que obedeciam distribuição normal foram utilizadas os testes t pareado e não pareado e para as análises dos dados não paramétricos foram utilizados os testes de Wilcoxon ou Mann-Whitney. O teste exato de Fisher foi utilizado para verificar se existia relação não randômica entre duas variáveis, dispostas em tabelas de contingência 2 x 2. Já o coeficiente de correlação de Spearman foi utilizado para avaliar correlações entre os dados obtidos. Foram considerados estatisticamente significativos dados que apresentavam P < 0,05. Para a análise dos resultados, na fase aguda da infecção, o Grupo-Pv e o Grupo-Pf foram comparados com o Grupo-C. Na fase de convalescença foram comparados apenas os valores de D0 e D15 de cada grupo. Para isso, foram considerados apenas os indivíduos que participaram dos dois momentos do estudo. Na figura 4.13 observa-se um esquema explicativo desta análise. Só serão apresentados no estudo os resultados estatisticamente significantes. 41 Figura 4.13. Esquema explicativo da análise realizada. Fase Aguda (D0) Grupo-Pv Grupo-Pf Teste estatístico não pareado Grupo-C Fase de Convalescença (D15) Grupo-Pv Grupo-Pf D15 D0 D0 Teste estatístico pareado D15 Teste estatístico pareado 42 5. RESULTADOS 5.1 Perfil da população de estudo A tabela 5.1 resume o perfil da população de estudo. Participaram do presente estudo 73 pacientes, sendo 48 (65,7%) com malária vivax, 24 (32,9%) malária falciparum e 1 (1,4%) com malária mista. A maioria dos pacientes (76%) era do sexo masculino com idade entre 14 e 54 anos (31 11). Segundo os relatos dos pacientes, a maioria era nativa da Região Amazônica e apenas 12% eram migrantes provenientes de regiões não endêmicas de malária. Eles residiam em área endêmica de malária em média há 28 anos e em Rondônia em média há 24 anos. Quanto à história pregressa de malária, os pacientes relataram uma média de 5 ( 4.3) episódios de malária no passado e cerca de 34% (n=25) haviam narrado episódios (1 1,6) de malária nos últimos 6 meses. Apenas 9 indivíduos relataram nunca ter tido malária e estavam tendo a primeira infecção no momento do nosso estudo. No momento da coleta (D0), todos os pacientes apresentavam sintomatologia. Os sintomas mais freqüentes foram febre e cefaléia (83,6%), sendo a tríade malárica clássica (febre, cefaléia e calafrio) narrada por 75% dos pacientes. Um paciente apresentou no D0 infecção por P. vivax, no D15 por P. falciparum, e no D30 o exame microscópico de gota espessa foi negativo. Portanto, esse paciente foi excluído de todas as avaliações. O paciente que apresentava infecção mista também foi excluído das análises de hemograma e fenótipo celular. 43 Tabela 5.1. Resumo do perfil epidemiológico dos pacientes estudados (n=73). Sexo Feminino 24% (n=17) Masculino 76% (n=55) Idade média (DP) (min-max) 31 (11) (14-54) Espécie plasmodial P. vivax 65,7% (n=48) P. falciparum 32,9% (n=24) P. vivax / P. falciparum 1,4% (n=1) Início da sintomatologia média (DP) 3 dias (2,1) 4,7 infecções (4,3) História pregressa de malária média (DP) Tempo de residência em área endêmica de malária média 28,2 (10) anos (DP) Tempo de residência em Rondônia média (DP) 23,8 (11) anos Parasitemia em D0 (Parasitas/µL de sangue) média geométrica (95% CI) 2.133 (1.572-2.893) Sintomas 83,6% (n=61) Febre Cefaléia 83,6% (n=61) Calafrio 71,2% (n=52) Mialgia 71,2% (n=52) Náusea 53,4% (n=39) DP: Desvio Padrão; 95% CI: 95% de intervalo de confiança; D0: Dia do diagnóstico Ao avaliar os pacientes por espécie plasmodial infectante (Tabela 5.2) observa-se que a média geométrica da parasitemia dos pacientes infectados com P. vivax (2.381/ µL; 95%CI: 1.621-3.499) era aparentemente maior do que nos pacientes infectados por P. falciparum (1.574 /µL; 95%CI 916,9 - 2.703). Entretanto, essa diferença não foi estatisticamente 44 significante (P > 0.05). O único indivíduo com infecção mista apresentou parasitemia de 12.860/ µL. Não houve diferença entre a idade e sexo dos indivíduos. Em relação a espécie plasmodial infectante, a média de idade em ambas as infecções foi 31 anos e a maioria dos pacientes era do sexo masculino, tanto na infecção por P. vivax / Grupo-Pv (75%), quanto na infecção por P. falciparum / Grupo-Pf (79%). Entre os grupos Pv e Pf não houve diferença no tempo de residência em área endêmica e em Rondônia e nem no número de episódios de malária pregressa. Em ambos os grupos os pacientes procuraram atendimento 3 dias (média) após o aparecimento dos sintomas. Tabela 5.2. Perfil epidemiológico dos pacientes de acordo com a espécie plasmodial infectante. Parasitemia média geométrica (95% CI) Tempo de residência em área endêmica média (DP), anos Tempo de residência em Rondônia média (DP), anos Idade média (DP), anos História pregressa de malária Pv Pf (n=47) (n=24) 2.381 1.574 (1.621-3.499) (916.9-2.703) 28 (10) 28 (10) 0,8339 23 (12) 24 (9) 0,8843 30 (11,6) 31 (10,2) 0,6570 4,5 (4,5) 4,9 (4,3) 0,5306 3 (1,8) 3 (2,5) 0,9149 Valor de P 0,1997 média (DP) Início da sintomatologia média (DP), dias 95% CI: 95% de intervalo de confiança O Grupo-C (controle de área endêmica) consistiu de 20 indivíduos, sendo 12 do sexo feminino e 8 do sexo masculino, com idades variando entre 12 e 56 anos (31 11). Oitenta por cento (n=12) dos indivíduos do Grupo-C eram nativos da Região Amazônica e 20% (n=4) eram provenientes de áreas não endêmicas brasileiras. Os indivíduos do Grupo-C residiam em 45 área endêmica de malária, em média, há 26 anos ( 14) e em Rondônia há 22 anos ( 15). Sessenta por cento deles declararam nunca ter sido infectado. Os 40% (n=8) restantes afirmaram ter tido malária pelo menos uma vez no passado, com uma média de 1 1,6 infecções. O tempo decorrido desde a última infecção variou de 1 a 25 anos, uma média de 13 anos passados desde a última infecção. Ao comparar os dados epidemiológicos do Grupo-C com os dados dos grupos Pv e Pf, não houve diferença significante em relação a média de tempo de residência em área endêmica, nem quanto ao tempo de residência em Rondônia e idade. Quanto ao número de infecções anteriores, o Grupo-C apresentou média (2,75 + 6,7) menor que o Grupo-Pv (P = 0,0067) e que o Grupo-Pf (P = 0,0043). 5.2 Hemograma 5.2.1 AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS DOS PACIENTES COM MALÁRIA NA FASE AGUDA (D0) Ao avaliar os parâmetros hematológicos dos pacientes percebe-se que, no momento do diagnóstico (D0), ambos os grupos apresentaram média do número de plaquetas menor que a média dos indivíduos controles de área endêmica (Grupo-C), além de uma redução na média do número de leucócitos, linfócitos e um aumento no número de bastões. Observa-se também, que apenas os pacientes com malária por P. vivax apresentaram um aumento no número de reticulócitos e redução de eosinófilos (Tabela 5.3 e Figura 5.1). Apesar da média de hemoglobina dos pacientes com malária estar dentro dos parâmetros de normalidade, 34% (n=25) dos indivíduos infectados encontravam-se anêmicos no momento do diagnóstico. Foram considerados anêmicos homens que apresentavam hemoglobina abaixo de 13g/dL e mulheres abaixo de 12g/dL. A espécie plasmodial não influenciou a freqüência de indivíduos anêmicos (P = 0,0743). Apesar de não terem sido observadas grandes diferenças nos níveis de hemoglobina entre os controles e os pacientes infectados por P. vivax ou P. falciparum, na malária por P. 46 vivax os pacientes apresentavam níveis de hemoglobina menor (P = 0,039) que os pacientes infectados por P. falciparum. Tabela 5.3. Parâmetros de normalidade e valores hematológicos do Grupo-C e dos grupos Pv e Pf e na fase aguda da infecção (D0) Parâmetro de Grupo-C Grupo-Pv Grupo-Pf (n=17) (n=47) (n=24) 4,6 (4,3-4,8) 4,6 (4,5-4,8) 4,9 (4,6-5,1) 40 (38,3-41,8) 40,9 (39,6-42,2) 41,9 (39,9-44) 12,8 (12,2-13,3) 12,7 (12,3-13,1) 13,3 (12,7-14,0) 0,33 (0,2-0,4) 0,49 (0,4-0,6) 0,38 (0,3-0,5) 273.525 142.147 134.571 (244.684 - (128.046- (112.772- 305.766) 157.802) 160.583) 6.646 (5.966- 4.965 (4.475- 4.690 (3.968- 7.403) 5.509) 5.543) 181 (109,6- 41,87 (21,79- 62,02 (24,5- 298,4) 79,61) 154,7) 3.691 (3.211- 2.994 (2.577- 2.662 (2.047- 4.242) 3.480) 3.461) 0,72 (0-2,82) 21,61 (8,9-50,8) Normalidade Eritrograma Hemácias M:4,4 - 5,9 (x106/µL) F:4,0 - 5,2 Hematócrito (%) M:40 – 54 F: 36 - 48 Hemoglobina M: 13 – 18 (g/dL) F:12 - 16 Reticulócito (%) 0,5-1,5% 150.000 - 450.000 Plaquetas (/µL) (adultos) Leucograma Leucócitos (/µL) Eosinófilos (/µl) Segmentados 4.000 - 11.000 40 - 550 1.600 -7.150 (/µl) Bastões (/µl) 40 - 770 73,78 (27,71193,8 Basófilos (/µl) 0-1% Monócitos (/µl) 80 - 1.100 Linfócitos (/µl) 880 - 4.950 0 (0-1,13) 0,37 (0-0,98) 0 (0-0) 336,8 (247,6- 317,2 (263,7- 310,8 (239,5- 458,1) 381,5) 403,4) 2.218 (2.011- 1.066 (935,9- 911,1 (704,1- 2.445) 1.215) 1.179) Média geométrica (95% Intervalo de Confiança) M: Indivíduos do sexo masculino; F: Indivíduos do sexo feminino 47 Figura 5.1. Comparação entre as médias de valores hematológicos de indivíduos do Grupo-Pv (n=47), Grupo-Pf (n=24) e do Grupo-C (n=17) P = 0,033 400000 2 1 300000 200000 100000 0 0 Pv C Pv Pf P = 0,0015 C Pf P = 0,0013 10000 4000 8000 3000 Linfócitos (/l) Leucócitos (/l) P < 0,0001 P < 0,0001 500000 Plaquetas (/L) Reticulócitos (%) 3 6000 4000 2000 P < 0,0001 P < 0,0001 2000 1000 0 0 Pv C Pv Pf C Pf P = 0,007 2000 P = 0,0012 P < 0,0001 1500 1000 Bastão (/l) Eosinófilos (/l) 1500 500 1000 500 0 0 Pv C Pv Pf C Pf Média geométrica; 95% Intervalo de Confiança 5.2.1.1 Correlações Ao avaliar o eritrograma dos pacientes dos Grupos Pv e Pf, no D0, observa-se uma correlação negativa entre parasitemia e o número de plaquetas somente no Grupo-Pv (Figura 5.2). 48 Figura 5.2. Correlação entre parasitemia e número de plaquetas na fase aguda da infecção (D0) dos pacientes do Grupo-Pv Plaquetas (/L) 300000 200000 r = - 0,3232 100000 0 0 5000 10000 15000 20000 Parasitem ia (n=47; P = 0,0267) 5.2.2 COMPARAÇÃO DOS PARÂMETROS HEMATOLÓGICOS DOS PACIENTES COM MALÁRIA NA FASE AGUDA (D0) E DE CONVALESCENÇA (D15) Ao analisar os pacientes em dois tempos, D0 e D15, observa-se que nesse intervalo a média dos valores do número de hemácias e do hematócrito caem significativamente no Grupo-Pv. Entretanto, no Grupo-Pf apenas a redução no hematócrito foi significativa no D15. Tanto os indivíduos do Grupo-Pv quanto do Grupo-Pf apresentaram um aumento no número de plaquetas em D15 (Tabela 5.4 e Figura 5.3). Em relação ao leucograma, nesse mesmo intervalo, observa-se aumento no número de linfócitos e eosinófilos e diminuição no número de bastões, em ambos os grupos. Entretanto, só no Grupo-Pv o aumento no número de leucócitos no D15 é significativo (Tabela 5.4 e Figura 5.4). Ao comparar os Grupos Pv e Pf na dase de convalescença, observa-se que os pacientes do Grupo-Pv apresentam os valores do número de hemácia e do hematócrito menores que dos pacientes do Gupo-Pf (P = 0,0008; P = 0,0469, respectivamente). 49 Tabela 5.4. Variação dos valores hematológicos do Grupo-Pv, Grupo-Pf em dois tempos, antes (D0) e pós (D15) tratamento. Grupo-Pv Grupo-Pf (n=40) (n=15) D0 D15 D0 D15 4,6 (4,5-4,8) 4,3 (4,2-4,5) 5,1 (4,8-5,4) 4,9 (4,6-5,2) Hematócrito (%) 40,6 (39,1-42,2) 38,7 (37,4-40) 43 (41,3-44,8) 41,2 (38,8-43,7) Hemoglobina (g/dL) 12,6 (12,1-13,1) 12,6 (12,2-13) 13,7 (13,1-14,2) 13 (12,1-14) Reticulócito (%) 0,47 (0,36-0,61) 0,42 (0,34-0,52) 0,30 (0,21-0,44) 0,31 (0,21-0,46) 136.621 283.165 152.979 271.921 (122.107-152.860) (260.563-307.727) (120.548-194.136) (219.718-336.528) Leucócitos (/µL) 4.928 (4.385-5.538) 5.716 (5.287-6.180) 5.083 (4.312-5.992) 6.074 (4.876-7.567) Eosinófilos (/µl) 36 (17,7-72,1) 267,3 (203,1-351,8) 63,8 (16,4-239,9) 311,4 (185,6-522,2) 2.961 (2.502-3.503) 2.915 (2.692-3.156) 2.990 (2.235-3.999) 3.009 (2.212-4.093) Bastões (/µl) 20 (7,4-51,8) 0,9 (0,2-2,2) 88,6 (26,8-287,9) 0,4 (0 - 2) Basófilos (/µl) 0,37 (0-0,98) 0,1 (0-0,33) 0 (0-0) 0 (0-0) Monócitos (/µl) 327,3 (269,6-397,4) 348,7 (301,6-403,2) 296,7 (217,1-405,5) 316,5 (252,1-397,4) Linfócitos (/µl) 1.057 (912,9-1.223) 2.046 (1.865-2.244) 920,4 (628,9-1.347) 2.114 (1.761-2.536) Eritrograma Hemácias (x106/µL) Plaquetas (/µL) Leucograma Segmentados (/µl) Média geométrica (95% Intervalo de Confiança) D0- Dia do diagnóstico; D15- Quinze dias após D0, pós-tratamento 50 Figura 5.3. Variações da hematimetria, do hematócrito e da plaquetometria em pacientes do Grupo-Pv (n=40) e do Grupo-Pf (n=15), antes (D0) e pós (D15) tratamento. 7 P = 0,0001 7 6 Hemácias (x106/L) Hemácias (x106/L) 6 5 4 5 4 3 3 D0 D0 D15 D15 P. falciparum P. vivax 55 55 P = 0,002 50 P = 0,0455 45 Hematócrito (%) Hematócrito (%) 50 40 35 45 40 35 30 30 25 D0 D15 25 D0 P. vivax D15 P. falciparum P < 0,0001 600000 P = 0,0006 400000 Plaquetas (/L) Plaquetas (/L) 600000 200000 400000 200000 0 D0 D15 0 D0 P. vivax D15 P. falciparum Linha indicativa dos parâmetros de normalidade (mínimo e máximo) 51 Figura 5.4. Variações nos valores de leucócitos, eosinófilos, bastões e linfócitos em pacientes do Grupo-Pv (n=40) e do Grupo-Pf (n=15), antes (D0) pós (D15) tratamento. P = 0,0446 15000 Leucócitos (/l) Leucócitos (/l) 15000 10000 5000 10000 5000 0 0 D0 D15 D0 P. vivax 2000 P = 0,0103 P < 0,0001 Eosinófilos (/l) 2000 Eosinófilos (/l) D15 P. falciparum 1500 1000 1500 1000 500 500 0 D0 0 D0 D15 D15 P. falciparum P. vivax 2000 2000 P < 0,0001 1500 Bastão (/l) 1500 Bastão (/l) P = 0,0031 1000 1000 500 500 0 0 D0 D0 D15 P. vivax D15 P. falciparum P < 0,0001 5000 P < 0,0001 5000 Linfócitos (/l) 4000 Linfócitos (/l) 4000 3000 3000 2000 2000 1000 1000 0 D0 D15 0 D0 D15 P. falciparum P. vivax Linha indicativa dos parâmetros de normalidade (mínimo e máximo) 52 5.3 Perfil celular Para avaliação do perfil das células mononucleares do sangue periférico foi realizada fenotipagem por citometria de fluxo, conforme descrito na metodologia. 5.3.1 AVALIAÇÃO DO PERFIL CELULAR DOS PACIENTES COM MALÁRIA NA FASE AGUDA (D0) 5.3.1.1 Células CD4+, CD8+ e subpopulações produtoras de citocinas Na fase aguda da infecção, em ambas as espécies plasmodiais estudadas há redução no porcentual de células CD4+CD8-. Há ainda um aumento no porcentual de células CD4+ e CD8+ produtoras de TNF-α e CD8+ CD25+IL-10+ (células CD8 ativadas produtoras de IL-10), tanto no Grupo-Pv quanto no Grupo-Pf, porém esta alteração só é significativa no primeiro (Figuras 5.5 e 5.6). Comparando os grupos Pv e Pf observa-se uma redução no porcentual de células que expressam uma maior quantidade do receptor CD8 (característica de linfócito T citotóxico CD8HIGH) em indivíduos infectados com P. falciparum (Figura 5.5). 53 Figura 5.5. Porcentual de diferentes tipos celulares (CD4 +CD8-, CD8+CD4- e subpopulações) detectados em indivíduos do Grupo-Pv (n=40), do Grupo-Pf ( n=20) e do Grupo-C (n=17), no momento do diagnóstico (D0). 100 P = 0,0407 P = 0,0193 8 CD8+ TNF-+ (%) CD4+ CD8(%) 80 60 40 20 P = 0,0132 6 4 2 0 0 Pv C Pv Pf C Pf CD4+ TNF- + (%) CD8+CD25+IL-10+ (%) 4 2.5 P = 0,0399 2.0 1.5 1.0 0.5 3 P = 0,0192 2 1 0 Pv 0.0 Pv C C Pf Pf P = 0,0021 40 CD8 HIGH (%) 30 20 10 0 Pv C Pf Média geométrica (95% Intervalo de Confiança). Nos gráficos CD8+TNF-α+, CD8+TNF-α+ e CD25+IL-10+ e CD8+ uma unidade foi acrescida aos valores de cada indivíduo. 54 Figura 5.6. Gráfico representativo da porcentagem de dupla marcação de PBMC com anticorpos monoclonais específicos para CD4 e TNF-α (A e B); CD8 e TNF-α (C e D). Células obtidas a partir do gate morfológico de linfócitos. A;C- Células de indivíduo controle; B;D- Células de paciente no momento do diagnóstico (D0). TNF-α FITC B TNF-α FITC A CD4 APC Alexa-Fluor 750 CD4 APC Alexa-Fluor 750 D TNF-α FITC TNF-α FITC C CD8 PE-TR CD8 PE-TR 5.3.1.2 Células T (CD3+), células CD3-, células Tγδ (TCRγδ+) e subpopulações produtoras de citocinas: No momento do diagnóstico, apenas o grupo de indivíduos com P. vivax apresentou um aumento de células CD3- produtoras de TNF-α, IL-10 e IL-2, assim como um aumento de células T (CD3+) produtoras de IL-10. Por outro lado, o aumento no porcentual destas células secretando TNF-α (CD3+TNF-α+) só é estatisticamente distinto do controle no Grupo-Pf. É importante ressaltar que dentre as células CD3-, obtidas a partir do gate morfológico de linfócitos encontram-se as células NK e linfócitos B (Figuras 5.7 e 5.8). 55 Não foi observada alteração no porcentual de células CD3+. Figura 5.7. Gráfico representativo da marcação de PBMC com anticorpos monoclonais específicos para CD3 e TNF-α. Células obtidas a partir do gate morfológico de linfócitos. A- Células de indivíduo controle; B- Células de paciente no momento do diagnóstico (D0). B TNF-α FITC TNF-α FITC A CD3 APC Alexa-Fluor CD3 APC Alexa-Fluor 56 Figura 5.8. Porcentual de diferentes tipos celulares (CD3 -, CD3+ e subpopulações) detectados em pacientes do Grupo-Pv ( n=40), do Grupo-Pf ( n=19) e em indivíduos do Grupo-C (n=17), no momento do diagnóstico (D0). CD3- TNF + (%) 15 P = 0,0483 10 5 0 Pv Pf P = 0,0483 8 6 4 2 6 4 2 0 0 Pv C Pf Pv P = 0,0454 3 CD3+ IL-10+ (%) 3 CD3+ TNF + (%) P = 0,0466 10 CD3- IL-2+ (%) CD3- IL-10+ (%) 8 C 2 1 0 C Pf P = 0,0339 2 1 0 Pv C Pv Pf C Pf Média geométrica (95% Intervalo de Confiança). Em todos os gráficos uma unidade foi acrescida aos valores de cada indivíduo. Nesta mesma fase da infecção, apesar de não haver alteração no porcentual de células TCRγδ+ há um aumento no porcentual de células TCRγδ+TNF-α+ no Grupo-Pv (Figuras 5.9 e 5.10). 57 Figura 5.9. Percentual de células TCRγδ+ TNF-α+ detectados em indivíduos do GrupoPv (n=46), do Grupo-Pf (n=21) e em indivíduos do Grupo-C (n=19), no momento do diagnóstico (D0). P = 0,0324 2.0 1.5 (%) TCR + TNF- + 2.5 1.0 0.5 0.0 Pv C Pf Média geométrica (95% Intervalo de Confiança). Uma unidade foi acrescida aos valores de cada indivíduo. Figura 5.10. Gráfico representativo da porcentagem de dupla marcação de PBMC com anticorpos monoclonais específicos para TCRγδ e TNF-α. Células obtidas a partir do gate morfológico de linfócitos. A- Células de indivíduo controle; B- Células de paciente no momento do diagnóstico (D0). B TNF-α FITC TNF-α FITC A TCR TC TCR TC 58 5.3.1.3 Células NK, NKT e subpopulações (CD4+ e CD8+) Na fase aguda da infecção, nenhuma alteração nas células NK, NKT e subpopulações pode ser observada. 5.3.1.4 Células B (CD19+) e subpopulações No D0, tanto os indivíduos com P. vivax, quanto os indivíduos com P. falciparum apresentaram redução no percentual de células CD19+CD5-CD11b- quando comparados com os indivíduos clinicamente sadios com diagnóstico negativo para malária (Figura 5.11). Entretanto, apenas no Grupo-Pv havia um aumento no porcentual de células CD19+ TGF-β+ e CD19+CD5-CD11b-IgD+TGF-β+ (Figuras 5.11 e 5.12). 59 Figura 5.11. Porcentual de diferentes subpopulações de células CD19 + em indivíduos do Grupo-Pv (n=40), do Grupo-Pf (n=20) e em indivíduos do Grupo-C (n=18), no momento do diagnóstico (D0). P = 0,0441 P = 0,032 CD19+CD11b-CD5(%) 100 80 60 40 20 0 CD19+TGF- + (%) 30 C P = 0,0283 20 10 Média geométrica (95% Intervalo de Confiança). 0 Pv C Pf CD19+CD11b-CD5-IgD+ TGF- + (%) Pv Pf 50 P = 0,0099 40 30 20 10 0 Pv C Pf Figura 5.12. Histograma representativo da porcentagem de marcação de PBMC com anticorpo monoclonal específico para TGF-β. Células obtidas a partir do gate morfológico de linfócitos e do gate em células CD19+. A- Células de indivíduo controle; B- Células de paciente no momento do diagnóstico (D0). B A TGF-β biotinilado (Streptavidina PE) TGF-β biotinilado (Streptavidina PE) 60 5.3.2 COMPARAÇÃO DO PERFIL CELULAR EM PACIENTES COM MALÁRIA NA FASE AGUDA (D0) E DE CONVALESCENÇA (D15) 5.3.2.1 Células CD4+ CD8+ e subpopulações produtoras de citocinas No D15 em relação ao D0, tanto no Grupo-Pv como no Grupo-Pf, foi observado uma redução de células CD4+CD25+ (Figuras 5.13 e 5.14). Houve ainda uma redução significativa de células CD4+CD8- (representadas principalmente por células T auxiliares) e CD8+TNF-α+ apenas no Grupo-Pv (Figuras 5.15 e 5.16). Figura 5.13. Gráfico representativo da porcentagem de dupla marcação de PBMC com anticorpos monoclonais específicos para CD4 e CD25. Células obtidas a partir do gate morfológico de linfócitos. D0- Células de indivíduo infectado no momento do diagnóstico; D15- Células do mesmo indivíduo 15 dias após o diagnóstico (após CD25 PE-Cy5 CD25 PE-Cy5 tratamento). CD4 APC Alexa-Fluor 750 CD4 APC Alexa-Fluor 750 61 Figura 5.14. Variação no porcentual de células CD4+CD25+ em indivíduos do Grupo-Pv (n=32) e Grupo-Pf (n=12) antes (D0) e após o tratamento (D15). 5 4 4 CD4+ CD25+ (%) CD4+ CD25+ (%) P < 0,0001 5 3 2 1 P = 0,008 3 2 1 0 0 D0 D0 D15 D15 P. falciparum P. vivax Figura 5.15. Gráfico representativo da porcentagem de dupla marcação de PBMC com anticorpos monoclonais específicos para CD8 e TNF-α. Células obtidas a partir do gate morfológico de linfócitos. D0- Células de indivíduo infectado no momento do diagnóstico; D15- Células do mesmo indivíduo 15 dias após o diagnóstico (após TNF-α FITC TNF-α FITC tratamento). CD8 PE-TR CD8 PE-TR Há ainda neste período, no Grupo-Pv, uma redução no porcentual de células CD25+IL10+CD4+ e de células T citotóxicas (CD8+) produtoras de TNF-α e IFN-γ simultaneamente (células CD8+ TNF-α+ IFN-γ +) (Figura 33). 62 Figura 5.16. Variação no percentual de diferentes tipos celulares (CD4 +CD8- e subpopulações de CD4+ e CD8+) em indivíduos do Grupo-Pv (n=32) e do Grupo-Pf (n=12) antes (D0) e após o tratamento (D15). P = 0,0231 100 100 80 CD4+ CD8(%) CD4+ CD8(%) 80 60 40 20 60 40 20 0 0 D0 D15 D0 P. vivax 0.25 CD4+ CD25+IL-10+ (%) CD4+CD25+IL-10+ (%) P. falciparum P = 0,0458 0.25 0.20 0.15 0.10 0.05 0.00 0.20 0.15 0.10 0.05 0.00 D0 D15 D0 P. vivax 6 CD8+ TNF + (%) CD8+ TNF + (%) D15 P. falciparum P = 0,0005 6 4 2 0 4 2 0 D0 D15 D0 P. vivax D15 P. falciparum P = 0,0178 0.5 CD8+ TNF + IFN- + (%) 0.5 CD8+ TNF + IFN- + (%) D15 0.4 0.3 0.2 0.1 0.0 0.4 0.3 0.2 0.1 0.0 D0 D15 D0 P. vivax D15 P. falciparum 63 5.3.2.2 Células T (CD3+), Células CD3- e Células Tγδ (TCRγδ+) Na fase de convalescença, o grupo de indivíduos infectados com P. vivax apresenta uma redução de células CD3+ e um aumento de células CD3-, respectivamente (Figura 5.17). Figura 5.17. Variação no porcentual células CD3+ e CD3- em indivíduos do Grupo-Pv (n=33) e Grupo-Pf (n=12) antes (D0) e após o tratamento (D15). 100 90 90 80 80 CD3+ (%) CD3+ (%) P = 0,0118 100 70 70 60 60 50 50 D0 D0 D15 P. falciparum P. vivax P = 0,0066 50 40 40 30 30 CD3(%) CD3(%) 50 D15 20 10 20 10 0 0 D0 D15 D0 P. vivax D15 P. falciparum Conforme pode ser observado na figura 5.18 o porcentual de células CD3- produtoras de IL-2, IL10 e TNF-α diminuem de D0 para D15 nos grupos Pv e Pf. Já o porcentual de células CD3- produtora de IFN-γ só diminui significativamente neste período no Grupo-Pv. 64 Figura 5.18. Variação no porcentual de diferentes tipos celulares (subpopulações de CD3– produtoras de diferentes citocinas) em indivíduos do Grupo-Pv (n=33) e do Grupo-Pf (n=12) antes (D0) e após o tratamento (D15). P = 0,0011 12 12 10 CD3- TNF + (%) CD3- TNF + (%) 10 8 6 4 P = 0,0091 8 6 4 2 2 0 0 D0 D15 D0 P. vivax 8 P = 0,0314 6 CD3- IL-10+ (%) CD3- IL-10+ (%) 8 4 2 0 P = 0,0382 6 4 2 0 D0 D15 D0 P. vivax 15 D15 P. falciparum 15 P = 0,0314 CD3- IFN- + (%) CD3- IFN- + (%) D15 P. falciparum 10 5 10 5 0 0 D0 D15 D0 P. vivax D15 P. falciparum P = 0,0053 8 8 6 6 CD3- IL-2+ (%) CD3- IL-2+ (%) P = 0,0423 4 2 0 4 2 0 D0 D15 D0 P. vivax D15 P. falciparum 65 Também foi observada uma redução no porcentual de células TCRγδ+TNF-α+ circulantes na fase de convalescença em indivíduos infectados com P. vivax e com P. falciparum (Figuras 5.19 e 5.20). Figura 5.19. Gráfico representativo da porcentagem de dupla marcação de PBMC com anticorpos monoclonais específicos para TCRγδ e TNF-α. Células obtidas a partir do gate morfológico de linfócitos. D0- Células de indivíduo infectado no momento do diagnóstico; D15- Células do mesmo indivíduo 15 dias após o diagnóstico (após tratamento). TNF-α FITC FITC D15 TNF-α FITC FITC D0 TCRγδ TC TCRγδ TC Figura 5.20. Variação no porcentual de células TCRγδ+TNF-α+ em indivíduos do GrupoPv ( n=38) e do Grupo-Pf (n=12) antes (D0) e após o tratamento (D15). P = 0,0262 3 TCR + TNF- + TCR + TNF- + P = 0,0217 4 4 2 1 3 2 1 0 0 D0 D0 D15 D15 P. falciparum P. vivax 66 5.3.2.3 Células NK, NKT e subpopulações (CD4+, CD8+) Ao avaliar os indivíduos infectados por diferentes espécies plasmodiais, percebe-se uma redução no porcentual de células que coexpressam NKp46 e CD8, do D0 para o D15, apenas no Grupo-Pf (Figura 5.21). Figura 5.21. Variação no porcentual de células NKp46+CD8+ em indivíduos do Grupo- 12 10 10 6 4 2 P = 0,0342 8 (%) NKp46+CD8+ 12 8 (%) NKp46+CD8+ Pv (n=36) e do Grupo-Pf (n=12) antes (D0) e após o tratamento (D15). 6 4 2 0 0 D0 D0 D15 D15 P. falciparum P. vivax 5.3.2.4 Células B (CD19+) e subpopulações Conforme pode ser observado na figura 5.22, há uma redução nas células B CD5+ que não expressam CD11b e um aumento nas células B duplo negativas para CD5 e CD11b do D0 para o D15. Esta alteração só é significativa nos indivíduos infectados com P. vivax (Figura 39). 67 Figura 5.22. Variação no porcentual de células CD19+CD5-CD11b- e CD19+CD5+CD11bem indivíduos do Grupo-Pv (n=36) e do Grupo-Pf (n=12) antes (D0) e após o tratamento (D15). P = 0,0374 80 CD19+CD5+CD11b(%) CD19+CD5+CD11b(%) 80 60 40 20 0 60 40 20 0 D0 D15 D0 P. vivax D15 P. falciparum P = 0,0464 100 CD19+CD5-CD11b(%) CD19+CD5-CD11b(%) 100 80 60 40 20 0 80 60 40 20 0 D0 D15 D0 P. vivax D15 P. falciparum 68 Figura 5.23. Quadro resumo das alterações hematológicas Fase de Fase Aguda Convalescença Grupo-C versus Grupo-Pv Grupo-Pf Grupo-Pv Grupo-Pf D0 x D15 D0 x D15 Hemácias Hematócrito Hemoglobin a Reticulócitos Plaquetas Leucócitos Linfócitos Eosinófilos Bastão Aumento da população Aumento da população celular no D15 em relação ao D0 Redução da população celular no D15 em relação ao D0 Sem alteração estatisticamente significante celular em relação ao GrupoC Redução da população celular em relação ao Grupo-C Sem alteração estatisticamente significante 69 Figura 5.24. Quadro resumo das alterações no perfil celular Fase de Fase Aguda Convalescença Grupo-C versus Grupo-Pv Grupo-Pv Grupo-Pf Grupo-Pf D0 x D15 D0 x D15 CD3+ CD3+TNF-α+ CD3+IL-10+ CD4+CD8CD4+TNF-α+ CD4+CD25+ CD4+CD25+IL-10+ CD8HIGH CD8+TNF-α+ CD8+TNF-α+IFN-+ CD8+CD25+IL-10+ TCRγδ+TNF-α+ CD3CD3-TNF-α+ CD3-IL-10+ CD3-IFN-+ CD3-IL-2+ NKp46+CD8+ CD19+ CD5- CD11bCD19+ CD5+ CD11bCD19+TGF-β+ CD19+CD5-CD11b-IgD+TGFβ+ Aumento da população celular no D15 em relação ao D0 Redução da população celular no D15 em relação ao D0 Sem alteração estatisticamente significante Aumento da população celular no D15 em relação ao D0 Redução da população celular no D15 em relação ao D0 Sem alteração estatisticamente significante 70 6. DISCUSSÃO Na infecção malárica estudos que avaliam os mecanismos imunológicos envolvidos na infecção mostram que o sistema imune do hospedeiro desenvolve uma potente resposta contra o parasita, causando alterações em quase todos os componentes do sistema imune (26, 154). As alterações hematológicas são as complicações mais comuns na malária e tem um papel importante na gravidade e na fatalidade da doença. Entretanto, estas alterações não são consistentes em todas as áreas endêmicas de malária e, tanto a patogenia quanto a proteção a doença, dependem de vários fatores como o nível de endemicidade, fatores genéticos do hospedeiro e do parasita (133, 154-158). Diversos estudos relataram as alterações hematológicas em pacientes com malária, porém a grande maioria focou pacientes com P. falciparum, provenientes de áreas hiperendêmicas. Grande parte deles foi desenvolvida nas populações de maior risco de desenvolvimento de malária grave (crianças e grávidas). Na América do Sul, porém, onde a maioria das áreas endêmicas de malária apresenta transmissão instável, a população mais afetada são os adultos (159). No nosso estudo as alterações hematológicas periféricas de pacientes com malária foram extremamente variáveis. Na fase aguda da infecção, tanto por P. falciparum como por P.vivax, os valores médios de hemácias, hematócrito e hemoglobina se encontravam dentro dos padrões de normalidade. Já na fase de convalescença, houve uma redução no número de hemácias e valores de hematócrito apenas no P. vivax. Apesar da redução no número de hemácias, hematócrito e hemoglobina serem bastante conhecidas na malária, principalmente nas infecções por P. falciparum (132, 138, 160), os nossos resultados coincidem com trabalhos que relatam que na fase aguda da malária não complicada a anemia não é um achado frequente (157). No entanto, os valores médios de leucócitos, linfócitos e plaquetas se encontravam abaixo dos valores do controle, provavelmente devido à redistribuição dos leucócitos para sítios inflamatórios. A redução observada no número de leucócitos e linfócitos também foi observada em vários trabalhos (132, 133, 137, 155, 157, 161-163). Nos poucos estudos que comparam o número de leucócitos na infecção por P. falciparum e P. vivax em pacientes com malária não complicada, um trabalho relata que a redução no número de 71 leucócitos é maior na infecção por P. falciparum e outro no P. vivax (164, 165). No nosso trabalho a redução foi observada nas duas espécies plasmodiais. Entretanto, na fase de convalescença, os valores de leucócitos já estavam próximos aos valores normais no P. vivax. Mesmo assim, a redução no número de leucócitos não é um parâmetro associado à gravidade da infecção, normalmente atribuída ao P. falciparum. Da mesma maneira, a redução no número de plaquetas na fase aguda da doença é uma alteração já bem documentada (132, 133, 137, 157, 160, 162, 166, 167). A relevância clínica da plaquetopenia ainda precisa ser melhor compreendida, visto que as complicações hemorrágicas são extremamente raras em pacientes com malária (168) e, como já foi demonstrado que as plaquetas estão associadas à destruição do parasita (167), é provável que as plaquetas estejam mais envolvidas na proteção à doença grave, visto que nós observamos uma correlação negativa entre parasitemia e contagem de plaquetas nos indivíduos infectados, independente da espécie plasmodial. Vale ressaltar que na fase de convalescença (D15), quando os pacientes se encontravam curados, o número de plaquetas dos pacientes era similar aos dos indivíduos controles, o que sugere que este curto período de tempo é suficiente para que haja retorno à homeostasia plaquetária. Embora alguns autores descrevam que haja uma trombocitopenia mais intensa na malária falciparum do que na vivax (168, 169), outros também descrevem exatamente o contrário (156, 165). Várias hipóteses já foram postuladas como causas da plaquetopenia associada à malária. Dentre elas destacam-se coagulação intravascular disseminada, mecanismos imunes, dismegapoese e hiperesplenismo. Neste estudo a única diferença encontrada entre P. falciparum e P. vivax foi um aumento de reticulócitos e diminuição de eosinófilos na fase aguda apenas no P. vivax. Entretanto, na fase de convalescença, o número de eosinófilos aumenta. Tangpukdee e cols. (2008) (164) relataram uma diminuição de eosinófilos na fase aguda da infecção por P. falciparum. Tem sido sugerido que o aumento de eosinófilos após o tratamento é um bom prognóstico na recuperação da infecção (170). O aumento na média geométrica do porcentual de reticulócitos na infecção por P. vivax foi relatado em pacientes na Colômbia, área semelhante a nossa em termos de endemicidade (171). Esse aumento poderia ser uma resposta induzida pelo parasito, já que a células alvo dessa espécie são os reticulócitos. Entretanto, um aumento de reticulócitos foi também relatado na infecção por P. falciparum (169), sugerindo que outros fatores podem estar envolvidos. Um dado interessante do nosso trabalho foi a observação do aumento transitório de bastões nos indivíduos infectados, sugerindo que em ambas as infecções há uma maior 72 demanda de neutrófilos do que a capacidade do organismo de produzir e maturar os mesmos. Embora esta alteração seja extremamente frequente em outras doenças (172), existem muito poucos estudos avaliando alterações deste tipo celular em pacientes com malária, e nenhum, no nosso conhecimento, que tenha realizado o acompanhamento dos voluntários. Embora essas alterações hematológicas associadas à malária não sejam um assunto novo, a escassez de dados como este em populações de área endêmica brasileira são extremamente importantes e mostra que a malária deve ser considerada no diagnóstico diferencial de doenças agudas febris que apresentem plaquetopenia, leucopenia e aumento no número de bastões em indivíduos expostos à infecção. Além disso, na infecção por P. vivax as alterações hematológicas podem ser semelhantes ou até mais acentuadas do que no P. falciparum em pacientes com malária não complicada em área endêmica brasileira. Existem evidências suficientes indicando que na malária várias subpopulações celulares circulantes estão alteradas e que essas alterações podem estar associadas com a imunopatologia ou proteção da infecção. Entretanto, a extensão dessas alterações varia em diferentes áreas geográficas e a maioria dos estudos se concentra na infecção por P. falciparum em áreas hiperendêmicas. A alteração na contagem dos números totais de linfócitos, células NK, células Tγδ e células B e a proporção de células T tem sido relatada em estudos em várias regiões do mundo (20, 26, 76-78, 155, 161, 162, 174-176). Mesmo assim, existem trabalhos que não encontraram nenhuma diferença significativa no porcentual dessas subpopulações celulares tanto na infecção por P. falciparum quanto na por P. vivax (155, 177, 178). Em nosso estudo, embora tenhamos demonstrado que tanto os pacientes com P. falciparum quanto com P. vivax apresentaram significante diminuição no número de linfócitos, apenas algumas subpopulações se encontravam alteradas. Na fase aguda, os pacientes com infecção por P. vivax apresentaram um aumento de células CD4+CD8-, e uma diminuição das células B (CD5-CD11b-) quando comparados com indivíduos não infectados. Já na fase de convalescença, as células CD3- e células B (CD5CD11b-) aumentaram e as células CD4+CD8- diminuíram assim como as células T CD3+ e células B CD5+CD11b- quando comparadas com a fase aguda. Nos pacientes com P. falciparum também observamos, na fase aguda, um aumento de células CD4+CD8- e uma diminuição das células CD8High e células B CD5-CD11b- . Na fase de 73 convalescença observamos apenas uma diminuição das células NK CD8+, não havendo diferença nas demais populações celulares quando comparadas com D0. O aumento das células CD4+CD8- nos pacientes com P. falciparum e P. vivax na fase aguda além do aumento do porcentual destas células expressando o marcador de ativação CD25 sugerem que estas células estejam desempenhando alguma função na infecção malárica. A redução no porcentual de células B com fenótipo CD19+CD5-CD11b- também foi observada tanto nos pacientes com P. falciparum quanto no P. vivax. Vale ressaltar que este é o primeiro estudo, na malária humana, que avalia alterações nestas subpopulações de célula B e existem evidências de que algumas subpopulações atuam na imunidade inata e desempenham papel importante na defesa do organismo. Não observamos nenhuma alteração nas células CD3+, células Tγδ e NK nos pacientes infectados por P. falciparum e P. vivax e estes dados diferem da maioria dos trabalhos na literatura. A ausência de pacientes com formas graves da doença e a diferença no grau de imunidade da população estudada e fatores genéticos do parasita ou do hospedeiro, talvez possam explicar essa discordância de dados. O equilíbrio entre as citocinas Th1 e Th2 parece ser crucial no controle dos sintomas clínicos da malária e da parasitemia, livrando o hospedeiro do desenvolvimento dos quadros graves. Portanto, avaliamos também o perfil da expressão de diferentes citocinas nas subpopulações de leucócitos circulantes acima descritos. Os nossos dados mostram que apesar de poucas populações celulares estarem aumentadas, alterações significativas no perfil de expressão de citocinas foram observadas. Na fase aguda os pacientes infectados pelo P. vivax apresentaram alterações significativas no perfil de expressão de citocinas do tipo Th1 caracterizado pelo aumento das subpopulações de células CD4+TNF-α+, CD8+TNF-α+, TCRγδ+TNF-α, + CD3-TNF-α+, e CD3IL-2+ e do tipo Th2 pelo aumento das subpopulações CD8+CD25+IL-10+, CD3-IL-10+ e CD3+IL-10+. Também foi observado um aumento do porcentual de células B CD19 +TGFβ+ e CD19+CD5-CD11b-IgD+TGFβ+. Na fase de convalescença tanto as citocinas Th1 quanto as Th2 diminuíram inclusive houve uma redução no porcentual das subpopulações CD4+CD25+IL-10+, CD8+TNF-α+IFN-γ+, CD3-IFN-γ + quando comparados com a fase aguda da infecção. Na fase aguda os pacientes infectados pelo P. falciparum apresentaram apenas um aumento de células CD3+TNF-α+ e na fase convalescença apresentaram uma diminuição das células CD3-TNF α+, CD3-IL10+, CD3-IL2+ e TCRγδ+TNF-α+. 74 Os nossos dados mostram que apesar de poucas populações celulares estarem aumentadas, alterações significativas no perfil de expressão de citocinas foram observadas. Na fase aguda os indivíduos infectados apresentam um aumento de diversas células positivas para TNF-α, quando comparados com o Grupo-C. No Grupo-Pv, esta alteração se mantem em praticamente todos os tipos celulares, exceto para as células CD3 +, onde a alteração não foi estatisticamente significante. O aumento de TNF-α circulante na malária é um fato bem conhecido. Sabe-se que esta citocina gera proteção contra o plasmódio, porém, quando produzidas em altas concentrações pode agravar a severidade da doença (26, 103, 104, 115, 123, 179, 180). Na malária falciparum a única população celular produtora de TNF-α que sofreu aumento na fase aguda foi a CD3+. O presente estudo permitiu verificar que na malária aguda por P. vivax diversos tipos celulares se tornam fontes produtoras de TNF-α de forma simultânea. No estudo, a ausência de alteração nas populações produtoras de IFN-γ, uma citocina extremamente importante na resposta frente ao plasmódio (105, 121), pode ser decorrente da metodologia utilizada. O uso de células ex vivo, sem estímulo, pode explicar este fato. Como o objetivo era justamente avaliar o padrão de resposta em indivíduos naturalmente infectados, optou-se pela não realização de estímulo. Uma das perspectivas do trabalho é a avaliação da resposta celular destes pacientes frente ao estímulo com peptídeos/proteínas potencialmente vacinais derivados de P. vivax e/ou P. falciparum. Alguns trabalhos mostram que pacientes com hiperparasitemia apresentavam redução na expressão de IL-10 (124), e que baixas concentrações desta citocina estão relacionadas à anemia severa em indivíduos com malária (26, 123). No nosso estudo aumento de células CD8+, CD3+ e CD3- produtoras de IL-10 no Grupo-Pv na fase aguda, associado ao fato de nenhum paciente ter apresentado malária grave sugere um papel protetor desta citocina na malária, pelo menos frente ao agravamento dos sintomas. Apesar de existirem relativamente poucos estudos acerca da IL-2 na malária, sabe-se que a infecção experimental de humanos com P. falciparum gera a produção desta citocina (124). No presente estudo, o grupo de indivíduos infectados por P. falciparum não apresentou porcentual de células produtoras de IL-2 significativamente distintos do grupo de indivíduos controles. Por outro lado, no Grupo-Pv foi verificado um aumento de células CD3-IL-2+. Apesar de Ramharter e cols. (2004) (116) destacaram que a IL-2 é um produto predominantemente de células CD4+, os pacientes deste estudo não apresentaram alteração no porcentual de células duplo positivas para CD4 e IL-2. Os dados indicam que na fase aguda da 75 infecção malárica outra população celular está atuando como fonte desta citocina, possivelmente células NK. Uma outra observação importante do nosso trabalho foi a evidência, pela primeira vez na malária humana, das células B reguladoras circulantes (produtoras de TGF-β) na infecção por P. vivax na fase aguda da infecção. Essas células, no modelo murino são especificamente ativadas em processos infecciosos e suprimem a progressão exacerbada da resposta imune pela secreção de TGF-β e IL-10 e pela neutralização de fatores solúveis através da produção de IgG e IgA. Assim sendo, estas células podem ter um papel regulador importante na infecção malárica e precisam ser melhor estudadas. É importante destacar que a ausência de resultados significativos no que se refere a populações produtoras de citocinas no Grupo-Pf, diferente do que é relatado na literatura, pode ser resultado do menor número de amostras deste grupo. Por outro lado, não podemos descartar a hipótese de que na malária não complicada, em pacientes de área instável e com maior prevalência de P. vivax, estas alterações não ocorram ou sejam mais significativas em pacientes graves. Um dado interessante desse trabalho foi que na fase aguda na malária por P. vivax houve aumento tanto no porcentual de células com marcação para citocinas do tipo 1 (TNF-α, por exemplo) como para citocinas do tipo 2 (IL-10). Como todos os pacientes incluídos no trabalho apresentaram malária não complicada, pode-se supor que o mais importante no controle da gravidade da doença é justamente o balanço entre resposta pró e anti-inflamatória. Mais uma vez, estes dados vêm demonstrar a complexidade de resposta frente ao plasmódio. Mais ainda, fica claro que a resposta imune difere de acordo com a espécie plasmodial infectante. É importante ressaltar que este estudo foi desenvolvido em área onde o P. vivax é a espécie mais prevalente, e que devido a resposta frente ao plasmódio ser influenciada por uma grande variedade de fatores, nem todos os conhecimentos obtidos no presente estudo podem ser extrapolados para outras áreas do mundo. 76 7. CONCLUSÕES 1) A malária deve ser considerada no diagnóstico diferencial de doenças agudas febris que apresentem plaquetopenia, leucopenia e aumento no número de bastões em indivíduos expostos a infecção. 2) Em pacientes com malária não complicada por P. vivax em área endêmica brasileira, as alterações hematológicas podem ser semelhantes ou até mais acentuadas do que no P. falciparum 3) Tanto os pacientes com P. falciparum quanto com P. vivax apresentaram significante diminuição no número de linfócitos. Entretanto, apenas algumas subpopulações celulares circulantes se encontravam alteradas. 4) Na fase aguda na malária por P. vivax houve aumento tanto no porcentual de células com marcação para citocinas do tipo 1 quanto para citocinas do tipo 2. Como todos os pacientes incluídos no trabalho apresentaram malária não complicada, pode-se supor que o equilíbrio entre resposta pró e anti-inflamatória seja importante no controle da gravidade da doença. 5) Na malária aguda por P. vivax diversos tipos celulares se tornam fontes produtoras de TNF-α de forma simultânea enquanto que na malária por P. falciparum a única população celular produtora de TNF-α que sofreu aumento na fase aguda foi a CD3+. 6) As células B reguladoras circulantes (produtoras de TGF-β) se encontravam aumentadas na infecção P. vivax na fase aguda da infecção. Este é o primeiro relato e sugere que estas células podem ter um papel regulador na infecção malárica e precisa ser melhor estudada. 77 8. PERSPECTIVAS Esse trabalho serviu de base para um estudo com um maior número de pacientes incluindo um grupo de pacientes com malária grave. Portanto, as nossas perspectivas para a continuidade desse estudo são: 1) Avaliar o papel das células B reguladoras na malária; 2) Avaliar as alterações hematológicas e perfil fenotípico celular incluindo células polifuncionais em pacientes com malária não complicada e malária grave; 3) Avaliar resposta celular dos pacientes frente a estímulo com peptídeos/proteínas potencialmente vacinais e o perfil fenotípico das células estimuladas; 4) Avaliar a produção de citocinas por células NK; 78 REFERÊNCIAS 1. White NJ. Plasmodium knowlesi: the fifth human malaria parasite. Clin Infect Dis. 2008 Jan 15;46(2):172-3. 2. Coura JR, Suarez-Mutis M, Ladeia-Andrade S. A new challenge for malaria control in Brazil: asymptomatic Plasmodium infection--a review. Mem Inst Oswaldo Cruz. 2006 May;101(3):229-37. 3. Mirabello L, Conn JE. 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J Infect Dis. 2006 Jul 15;194(2):198-207. 93 Anexo 1 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Instituições: Instituto Oswaldo Cruz – Fiocruz, Rio de Janeiro; Laboratório Central de Saúde – LACEN, Porto Velho; Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ, Rio de Janeiro. Coordenadores da Pesquisa: Dalma Maria Banic e Joseli de Oliveira Ferreira Endereço: Instituto Oswaldo Cruz – Fiocruz; Pavilhão Leônidas Deane, 5º andar, Av. Brasil 4365 - CEP 21045-900, Rio de Janeiro, RJ - Brasil Telefones: 021-3865-8115; 069-3216-5300. Nome do Projeto de Pesquisa: Resposta imune inata na malária por P. vivax e P. falciparum: seu perfil e sua influência nas infecções e nas respostas imunes adquiridas a antígenos candidatos a compor uma vacina. Nome do Voluntário:____________________________________________________ A malária é uma doença transmitida pela picada do mosquito mas pode ser adquirida por meio do contato direto com sangue de uma pessoa infectada (como por exemplo, em transfusões, transplante de órgãos e ainda no compartilhamento de seringas no caso de usuários de drogas injetáveis). Os principais sintomas de malária na sua fase inicial são a febre alta, associada ou não a calafrios, tremores e dor de cabeça, pode ter também, dentre outros sintomas, dores pelo corpo, vômitos, diarréia, dor abdominal, falta de apetite, tonteira e sensação de cansaço. Não existe vacina para prevenir malária portanto a forma mais eficaz de se proteger é evitar o contato com o mosquito. Entre as principais medidas de proteção estão o uso de cortinados sobre a cama ou rede; telas em portas e janelas, inseticidas no ambiente onde se dorme e uso de repelente no corpo. É importante evitar freqüentar locais próximos a criadouros naturais, como beiras de rios ou áreas alagadas, no final de tarde, início da noite e nas primeiras horas da madrugada. 94 A malária é uma doença que tem cura, mas pode evoluir em alguns indivíduos para suas formas graves em poucos dias se não for diagnosticada e tratada rapidamente. Pelo presente documento, você está sendo convidado a participar de uma investigação a ser realizada na Fundação Oswaldo Cruz, com o objetivo de avaliar como o organismo do individuo reage à malária em diferentes períodos da doença e quais os componentes do sangue (plasma, células e produtos secretados por elas) estão envolvidos na melhora da doença. Esse documento procura esclarecê-lo sobre o problema de Saúde em estudo e sobre a pesquisa que será realizada, prestando informações, detalhando os procedimentos e exames, benefícios, inconvenientes e riscos potenciais. Caso você necessite de alguma informação ou esclarecimento durante o período em que estiver participando do estudo, procure Dra Fatima Santos no Laboratório Central de Saúde – LACEN, Secretaria de Estado da Saúde, Rua Anita Garibaldi 4130, Bairro Costa Silva, Porto Velho, Rondônia, telefone: 321 65300. A sua participação nesse estudo é voluntária. Você pode recusar-se a participar de uma ou de outras etapas da pesquisa ou, mesmo, se retirar dela a qualquer momento, sem que este fato lhe venha causar qualquer constrangimento ou penalidade. O seu atendimento no posto de Saúde não será prejudicado caso você decida não participar ou caso decida sair do estudo. A sua participação com relação ao projeto consiste em autorizar a realização de exames para avaliar a evolução da sua doença e que esse material seja utilizado neste estudo. Também será necessária a autorização para que parte das amostras coletadas seja estocada a fim de servir para outros estudos que tenham como objetivo a melhor compreensão da doença, o desenvolvimento e avaliação de novos métodos de diagnóstico; avaliação da resposta a antígenos candidatos a uma vacina etc. desde que tal estudo seja previamente analisado e autorizado por um Comitê de Ética em Pesquisa. Os exames e procedimentos aplicados serão gratuitos. Participando deste estudo você terá algumas responsabilidades: seguir as instruções do médico e comparecer ao Posto de Saúde nas datas marcadas. Os resultados do estudo poderão ser publicados sem revelar a sua identidade. Entretanto, se necessário, os registros médicos estarão disponíveis para a equipe envolvida no estudo, para o Comitê de Ética em Pesquisa, para as autoridades Sanitárias e para você. Você pode e deve fazer todas as perguntas que julgar necessárias antes de concordar em participar do estudo, assim como a qualquer momento. 95 Procedimentos, exames e testes que serão utilizados: Inicialmente haverá coleta de informações sobre a doença através de uma entrevista detalhada e preenchimento de um questionário por um membro da equipe, exame médico e coleta de sangue para realização de vários exames (distensão e gota espessa para diagnóstico, hemograma completo, testes imunológicos, tipagem de células e produtos secretados por elas, entre outros). Para isto será necessária a coleta 30mL de sangue por via endovenosa em três ocasiões: no dia do diagnóstico antes do tratamento (D0), 15 dias (D15) e 30 (D30) dias após o diagnóstico. A retirada do sangue poderá ser feita por um médico, farmacêutico ou biólogo da equipe de investigadores. Todos os indivíduos serão tratados para malária logo após a coleta de sangue e acompanhados para verificação de cura após tratamento. Inconvenientes e riscos principais conhecidos até os dias atuais: A coleta de sangue poderá causar alguma dor no momento da punção venosa e, eventualmente, poderá haver formação de uma área arroxeada no local, que voltará ao normal dentro de alguns dias. Todos os cuidados apropriados serão tomados, como o uso de seringa, agulha e gaze descartável assim como álcool para assepsia local, entre outros. Formas de ressarcimento Quando necessário, nos dias de seu atendimento, poderá ser fornecido um lanche. Benefícios esperados Os resultados desse estudo poderão não beneficiá-lo diretamente, mas no futuro, poderão beneficiar outras pessoas. 96 Declaro que li e entendi todas as informações referentes a este estudo e que todas as minhas perguntas foram adequadamente respondidas pela equipe, a qual estará à disposição para responder minhas perguntas sempre que eu tiver dúvidas. Recebi uma cópia deste termo de consentimento e pelo presente consinto, voluntariamente, em participar deste estudo permitindo que os procedimentos descritos acima sejam realizados em minha pessoa. __________________________________________________Data: _________ Nome do voluntário __________________________________________________Data:__________ Nome do Pesquisador __________________________________________________Data:__________ Testemunha 11 _________________________________________________ Data:__________ Testemunha 22 1 2 Apenas no caso de voluntários impossibilitados de manifestar o seu consentimento por escrito. Apenas no caso de menores de 18 anos, deverá ser assinado pelo pai, mãe ou responsável legal. 97 Anexo 2 - Questionário REGISTRO N PROJETO: Data: Resposta imune inata na malária por P. vivax e P. falciparum: seu perfil e sua influência nas infecções e nas respostas imunes adquiridas a antígenos candidatos a compor uma vacina. DADOS PESSOAIS SEXO: F NOME: IDADE: NATURALIDADE: M PROCEDÊNCIA: ENDEREÇO ATUAL: NÚMERO DE RESIDENTES NO ENDEREÇO ATUAL: PROFISSÃO: TEMPO DE RESIDÊNCIA (ANOS): Área endêmica (anos) : Rondônia (anos): Endereço atual: HISTÓRIA PREGRESSA DE MALÁRIA NÚMERO DE INFECÇÕES ANTERIORES DE MALÁRIA: Espécies: P. falciparum P. vivax P. malariae Nenhuma Não lembra P. malariae Nenhuma Não lembra P. malariae Nenhuma Não lembra NÚMERO DE INFECÇÕES ESSE ANO (2007): Espécies: P. falciparum P. vivax DATA DA ÚLTIMA INFECÇÃO: Espécies: P. falciparum P. vivax LOCAL PROVAVEL DE INFECÇÃO: 98 FEZ O TRATAMENTO COMPLETO?: Sim Não JA FOI HOSPITALIZADO COM MALÁRIA: Sim MALÁRIA GRAVE NA FAMÍLIA: Sim Não Data: Não Data: OBS: TEM ALGUEM NA FAMÍLIA COM MALÁRIA OU TEVE MALÁRIA RECENTEMENTE? Sim Não Data: EXPOSIÇÃO A INFECÇÃO MALÁRICA LOCALIZAÇÃO DA CASA Cidade Periferia Floresta Coleção d’água Nenhuma TIPO DE CASA (PROTEÇÃO EM RELAÇÃO AO CONTATO COM MOSQUITO) Boa Parcial Nenhuma ATIVIDADES AO AMANHECER: ATIVIDADES AO ANOITECER: SABE COMO A MALÁRIA É TRANSMITIDA? Sim Não Foi informado Foi informado, mas não acredita COMO?: USO DE MEDIDAS PROFILÁTICAS Mosquiteiro Inseticida antimaláricos Outras Data da última borrifação de inseticida (FNS): 99 Nenhuma INFECÇÃO ATUAL SINTOMAS Febre Cefaléia Calafrios Náusea Mialgia Nenhum DATA DO INICIO DOS SINTOMAS: DIAGNÓSTICO: P. falciparum P. vivax P. malariae PARASITEMIA: LOCAL PROVÁVEL DE INFECÇÃO: RECEBEU TRANSFUSÃO DE SANGUE?: Sim Não É DOADOR DE SANGUE?: Sim Não Data: Data da última doação: COLETA DE MATERIAL BIOLÓGICO GOTA ESPESSA ESFREGAÇO PLASMA CÉLULAS HLA PARASITAS OBS: 100 Nenhuma Anexo 3 – Resumos apresentados em Congresso XXI Congresso Brasileiro de Parasitologia e II Encontro de Parasitologia do MERCOSUL Título: ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS EM INDIVÍDUOS NATURALMENTE INFECTADOS POR Plasmodium spp. EM ÁREA ENDÊMICA DE MALÁRIA (PV- RO). Código: 1271 Autores: Carolina R. de Oliveira, Josué da C. L. Junior, Fabio Storer, Fátima Santos, Luciene de A. Silva, Arlete da G. Baldez, Joseli de O. Ferreira, Dalma M. Banic Título: PREVALÊNCIA DE PARASITOS INTESTINAIS EM INDIVÍDUOS COM MALÁRIA RESIDENTES EM PORTO VELHO (RO). Código: 1276 Autores: Carolina R. de Oliveira , Josué da C. L. Junior, Fabio Storer, Fátima Santos, Luciene de A. Silva, Arlete da G. Baldez, Dalma M. Banic, Joseli de O. Ferreira 101 ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS EM INDIVÍDUOS NATURALMENTE INFECTADOS POR Plasmodium spp EM ÁREA ENDÊMICA DE MALÁRIA (PVRO). Carolina R. de Oliveira1, Josué da C. L. Junior1, Fabio Storer2, Fátima Santos2, Luciene de A. Silva1, Arlete da G. Baldez3, Joseli de O. Ferreira1, Dalma M. Banic1. 1. IOC/FIOCRUZ, 2. LACEN, 3. FNS email: [email protected] A malária é uma doença causada por hematozoários do gênero Plasmodium e está entre as doenças parasitárias mais prevalentes nos países tropicais. A malária causa diversas alterações hematológicas e o presente trabalho destina-se a investigar essas alterações em pacientes naturalmente infectados (PV –RO) por P. vivax (n=48) ou P. falciparum (n=24) na fase aguda (Dia do diagnóstico antes do inicio do tratamento = D0) e na convalescência (Dia 15 após o início do tratamento = D15). Indivíduos de mesma localidade (n=21) com diagnóstico negativo para malária formaram o grupo controle (C). A parasitemia foi avaliada por microscopia. O hemograma completo e contagem de plaquetas foram realizados através do aparelho pentra-ABX. Nos pacientes com malária, foi observado uma redução no número de hemácias e nos valores do hematócrito comparando D0 com D15 (4,84,5 x106/mm3; 41,69,7%; respectivamente, P<0,05). No D0 os pacientes apresentaram trombocitopenia quando comparados com D15 (plaquetas/mm 3: D0=146.283, D15=289.025, C=275.278-C; D0 X C e D0 X D15, P<0,05). No D0 tambem foi observada leucopenia (5.164 leucócitos (leu)/mm3, P<0,05) embora os valores de leu dos pacientes no D15 estarem abaixo dos valores do grupo C (D15= 6.011 leu/mm3 X C= 6.717 leu/mm3, P<0,05). Quando comparamos os valores de eosinófilos (eos) dos pacientes em relação ao grupo C (281,1 eos/mm3) observamos uma redução no D0 (172,5 eos/mm3, P<0,05) e um aumento no D15 (394,6 eos/mm3, P<0,05; D0 X D15, P<0,05). A neutropenia não foi observada. Entretanto, em relação ao grupo C (3.844 neutrófilos (neu)/mm3) e aos pacientes no D0 (3.498 neu/mm3) os valores de neu dos pacientes no D15 apresentavam-se reduzidos (3.125 neu/mm3, P<0.05). Nos pacientes há aumento transitório de bastões (bast) 3 em D0 (235,4 bast/mm ) com retorno a valores próximos ao grupo C (16,56 102 bast/mm3, P<0,05) no D15 (15,59 bast/mm3, P<0,05). Não foi observada linfopenia. Entretanto, em relação ao grupo C (2.201 linfócitos (linf)/mm3) e aos pacientes no D15 (2.139 linf/mm3).os valores de linf dos pacientes no D0 apresentavam-se reduzidos (1.115 linf/mm3, P<0.05). Conclui-se que a malária acarreta alterações no quadro hematológico dos indivíduos de PV-RO, tanto na fase aguda quanto na de convalescência. Ressalta-se a importância do estudo destes parâmetros para um melhor entendimento da patogênese da doença, desenvolvimento de novos métodos de diagnóstico, profilaxia e tratamento. Apoio: DECIT/CNPq. 103 PREVALÊNCIA DE PARASITOS INTESTINAIS EM INDIVÍDUOS COM MALÁRIA RESIDENTES EM PORTO VELHO (RO). Carolina R. de Oliveira1, Josué da C. L. Junior1, Fabio Storer2, Fátima Santos2, Luciene de A. Silva1, Arlete da G. Baldez3, Dalma M. Banic1, Joseli de O. Ferreira1. 1. IOC/FIOCRUZ, 2. LACEN, 3. FNS email: [email protected] A co-infecção humana por múltiplas espécies de parasitos na natureza são comumente observados e recentemente estudos epidemiológicos indicam que essa interação representa um desafio na ecologia de parasitos e na saúde humana. Estes agentes que coexistem acarretam modificações no status imunológico do indivíduo, podendo um patógeno gerar tanto uma resposta protetora quanto antagonista frente ao outro organismo. Sendo assim, é de suma importância verificar a prevalência de co-infecções e demonstrar se ocorre ou não alterações de resposta imune nas co-infecções e no quadro clínico da doença. O objetivo do estudo foi verificar a concomitância de parasitoses intestinais em pacientes com malária aguda em área endêmica de malaria de Porto velho (RO). Os pacientes foram avaliados clinicamente e sangue periférico foi coletado para realização de diagnóstico microscópico da malária. Exame coproparasitológico (método de Lutz) foi realizado nas amostras. Participaram do estudo 47 indivíduos, sendo 34 com infecção por P. vivax, 12 com P. falciparum e um com infecção mista. Protozoários intestinais foram diagnosticados em 93,6% dos pacientes maláricos e infecções por helmintos em um percentual reduzido (6,4%), Quanto as infecções com protozoários intestinais percebe-se que há uma maior incidência de co-infecção por Giardia lamblia (72,7%), seguida por Endolimax nana (54,5%). Das espécies diagnosticadas as que apresentaram menor prevalência foram Entamoeba histolitica (2,3%) e Entamoeba coli (27,3%). Dentre os indivíduos com exame positivo para protozoários, 29,5% apresentava apenas G. lamblia, 18,2% apresentava apenas E. nana, e 2,3% apresentava apenas E. coli. Infecção mista por G. lamblia e E. nana foi observada em 25% destes indivíduos. Outras infecções mistas encontradas foram G. lamblia e E. coli (13,6%), E. coli e E. nana (4,5%). Um voluntário apresentou E. histolitica, E. coli e E. nana e dois G. lamblia, E. coli e E. nana simultaneamente. Analisando a co-infecção com helmintos, um paciente apresentou Hymenolepis 104 nana, um H. diminuta e outro ancilostomídeos. Face ao exposto torna-se claro a importância da consideração de co-infecções em estudos de avaliação de resposta imunológica em pacientes maláricos, visto que grande percentual da população apresenta outros patógenos que poderão influenciar a resposta imune ao Plasmodium. Estudos para avaliar a resposta imune ao Plasmodium nestes pacientes co-infectados com parasitas intestinais DECIT/CNPq. 105 estão em andamento. Livros Grátis ( http://www.livrosgratis.com.br ) Milhares de Livros para Download: Baixar livros de Administração Baixar livros de Agronomia Baixar livros de Arquitetura Baixar livros de Artes Baixar livros de Astronomia Baixar livros de Biologia Geral Baixar livros de Ciência da Computação Baixar livros de Ciência da Informação Baixar livros de Ciência Política Baixar livros de Ciências da Saúde Baixar livros de Comunicação Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE Baixar livros de Defesa civil Baixar livros de Direito Baixar livros de Direitos humanos Baixar livros de Economia Baixar livros de Economia Doméstica Baixar livros de Educação Baixar livros de Educação - Trânsito Baixar livros de Educação Física Baixar livros de Engenharia Aeroespacial Baixar livros de Farmácia Baixar livros de Filosofia Baixar livros de Física Baixar livros de Geociências Baixar livros de Geografia Baixar livros de História Baixar livros de Línguas Baixar livros de Literatura Baixar livros de Literatura de Cordel Baixar livros de Literatura Infantil Baixar livros de Matemática Baixar livros de Medicina Baixar livros de Medicina Veterinária Baixar livros de Meio Ambiente Baixar livros de Meteorologia Baixar Monografias e TCC Baixar livros Multidisciplinar Baixar livros de Música Baixar livros de Psicologia Baixar livros de Química Baixar livros de Saúde Coletiva Baixar livros de Serviço Social Baixar livros de Sociologia Baixar livros de Teologia Baixar livros de Trabalho Baixar livros de Turismo