A IMPORTÂNCIA DA FISCALIZAÇÃO NA REDUÇÃO DOS ACIDENTES DE TRÂNSITO: UM BREVE PANORAMA DA ACIDENTALIDADE NO BRASIL ANTES E DEPOIS DA „LEI SECA‟ Magaly Natalia Pazzian Vasconcellos Romão Fatec- Jahu Doutoranda do Departamento de Transportes Escola de Engenharia de São Carlos/USP [email protected] Edmar Ferreira da Silva Departamento de Logística e Transportes Faculdade de Tecnologia de Jahu [email protected] Antonio Clóvis “Coca”Pinto Ferraz Departamento de Transportes Escola de Engenharia de São Carlos/USP [email protected] Área Temática- Transportes: Segurança Viária RESUMO A segurança viária vem sendo alvo de inúmeros estudos em todo o mundo. A acidentalidade cresce exponencialmente ao aumento da motorização da população, assim sendo, medidas de prevenção estão sendo adotadas em diversos países bem como no Brasil. Muito se tem falado sobre os três Es – Engenharia, Educação e Esforço Legal – e medidas de segurança estão sendo desenvolvidas e implantadas de acordo com a competência de cada órgão público. O novo Código de Trânsito Brasileiro de 1997 complementado pela Lei 11.705/08 representa para o país grandes avanços rumo à segurança a que a população tem direito conforme a própria Constituição Federal. O presente trabalho se propõe a estudar a evolução da acidentalidade a fim de comprovar a eficácia do Esforço Legal que vem sendo instituído no país. Para tal, pesquisas em bases de dados de órgãos competentes como IBGE, DENATRAN, DATASUS, SSP/SP e DPVAT são desenvolvidas e a partir dos dados coletados, índices de vítimas de acidentes são gerados. Analisando-se esses dados é possível notar queda quanto ao número de mortes no país e no estado de São Paulo, bem como no número de crimes no trânsito em geral para o estado, apenas os casos de indenizações pagas pelo DPVAT para invalidez permanente tem crescido no país. Dessa forma pode se concluir que o aumento da severidade nas Leis tem gerado resultados positivos para o país. É preciso ter cuidado para que os índices não voltem a crescer, no entanto, as pesquisas indicam que estamos no caminho certo. PALAVRAS-CHAVES: Acidentalidade viária. Esforço Legal. Indicadores de acidentes. ABSTRACT The traffic safety has been the subject of numerous studies worldwide. The accidentality grows exponentially increased motorization of the population, therefore, preventive measures are being adopted in several countries and in Brazil. Much has been said about the three Es – Engineering, Education and Legal Efforts – and security measures are being developed and implemented according to the competence of each public agency. The new Brazilian Traffic Code of 1997 supplemented by Law 11.705/08 represents great progress for the country towards the security that population have entitled under the Federal Constitution itself. This work aims to study the evolution of accidents in order to prove the effectiveness of the legal effort that has been instituted in the country. To this end, research databases of entities IBGE, DENATRAN, DATASUS, SSP/SP and DPVAT are developed and from the data collected, rates of fatalities are genereted. Analyzing these data, it is possible to see the number of deaths in the country and the state of São Paulo, as well as the number of crimes in general traffic for the state, only the cases of compensation paid by DPVAT to permanent disability has been rising. Thus one can conclude that increasing severity in the laws have generated positive results for the country. One must be careful that the index will not grow again, however, research indicates that we are on track. KEYWORDS: Accidentality road. Legal effort. Indicators of accidents. 2 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho visa demonstrar o problema da acidentalidade no trânsito brasileiro; um grave problema para a nação devido às mortes prematuras e ao número de anos vividos com incapacidades e seqüelas de todo tipo. Serão observados alguns fatores de risco com ênfase aos específicos associados ao esforço legal, especialmente no que concerne a Lei 11.705 de 2008, conhecida como „Lei Seca‟, buscando através de análise de índices de acidentalidade observar a diminuição ou não de acidentes de trânsito após a sua implantação Sabendo que a segurança no trânsito está ligada ao desenvolvimento econômico e social e diversos fatores de risco. Esses fatores associados à ocorrência de acidentes como exposição ao trânsito, educação, legislação e fiscalização combinados com velocidade inapropriada, ingestão de álcool, drogas e medicamentos são extremamente importantes na acidentalidade. Conforme Ferraz; Raia Jr.; Bezerra (2008) os dados sobre os custos da acidentalidade no Brasil corrigidos para o ano de 2008 indicavam algo em torno de 31,42 bilhões de reais por ano. O número de vítimas tem aumentado exponencialmente com relação ao aumento da taxa de motorização da população. O número de vítimas entre mortos, feridos graves, feridos e vítimas leves com abalos apenas psicológicos são exorbitantes. A implementação da „Lei Seca‟ trouxe uma luz de esperança a um dos principais fatores relacionados à acidentalidade, a ingestão de bebidas alcoólicas. A referida lei trata do assunto com maior severidade visando à diminuição da exposição ao risco de acidentes. 2.LEGISLAÇÃO DE TRANSITO NO BRASIL 2.1„Lei Seca‟ De acordo com a ABRAMET (apud Departamento de Polícia Rodoviária Federal – DPRF, 2011), em 30% dos acidentes de trânsito houve por parte dos condutores a utilização de bebidas alcoólicas. Conforme o Ministério da Saúde (apud DPRF, 2011) o uso do álcool está presente em metade das mortes. Nesse contexto alarmante, tornou-se necessária uma ação mais enérgica, A Lei 11.705/08 conhecida como „Lei Seca‟ surgiu com a missão de alertar a sociedade a cerca dos perigos da combinação do álcool com direção. A „Lei Seca” de acordo com Cesvi Brasil (2011) em seu artigo 6º considera como bebida alcoólica qualquer bebida potável que contenha em sua composição, grau superior ou igual a meio grau Gay-Lussac. Segundo o DPRF (2011) a „Lei Seca‟, altera os artigos 165, 276 e 277 e ainda o 306 do Código de Trânsito Brasileiro. No Artigo 165 do Código de Trânsito Brasileiro, dirigir sob influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência passa a ser infração gravíssima, tendo como penalidade multa de R$957,70 e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses. Como medida administrativa deverá ser procedida a retenção do veículo, apresentação de condutor habilitado e recolhimento do documento de habilitação. O Artigo 276 estabelece que as punições do Artigo 165 devam ser aplicadas para qualquer concentração de álcool por litro de sangue, cabendo aos Órgãos do Poder Executivo Federal disciplinar as margens de tolerância. A partir da referida Lei o Artigo 277, passa a estabelecer que todo condutor envolvido em acidentes de trânsito ou alvo de fiscalização sob suspeita de dirigir sob efeito de álcool será submetido a testes de alcoolemia. Medida similar se aplica em caso de suspeita de uso de entorpecentes, tóxicos ou de efeitos análogos, a infração pode ser caracterizada pelo agente de trânsito ao obter outras provas admitidas em direito, caso o condutor se recuse a realizar os testes as penalidades do Artigo 165serão aplicadas. O Artigo 291, segundo a Cesvi Brasil (2011) determina que os crimes cometidos na direção de veículos automotores serão submetidos às normas do Código Penal de 3 homicídio culposo e lesão corporal culposa. E o Artigo 296 diz ainda que se o réu for reincidente na prática de crimes previstos nesse código, o juiz deverá suspender a permissão ou a habilitação para dirigir sem prejuízo das demais sansões penais. Ainda de acordo com o DPRF (2011), o Artigo 306 passa a determinar que a condução de veículo automotor em via pública com concentração de álcool superior a seis decigramas por litro de sangue ou outra substância psicoativa que cause dependência, será punida com detenção de seis meses a três anos e suspensão do direito de dirigir. 3 EVOLUÇÃO DA ACIDENTALIDADE E POSSÍVEIS RESULTADOS DA „LEI SECA‟ 3.1 DADOS ESTATÍSTICOS Visando entender a evolução da acidentalidade no Brasil e no Estado de São Paulo e as possíveis conseqüências da implantação da Lei 11.705/08, conhecida como „Lei Seca‟, foram coletadas informações a partir de bancos de dados de órgãos competentes. Foram levantados dados sobre população, frota, indenizações, mortes e registro de ocorrências policiais, em nível de Brasil, ou Estado de São Paulo ou ambos conforme disponibilidade nas bases de dados, a partir do ano de 2006 também conforme a disponibilidade. 3.1.1 Dados populacionais – IBGE Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2011) em 2007 estimativas feitas com base em contagem parcial da população apontavam uma população nacional de 183.987.291 habitantes, enquanto o Estado de São Paulo contava 39.262.199 pessoas em seu território. No ano de 2010 foi realizado um Censo Nacional onde milhares de pesquisadores visitaram o país casa a casa, buscando colher informações que garantissem uma contagem, o mais fiel possível a fim de encontrar, entre outras características, o número exato da população brasileira. Os resultados preliminares dessa pesquisa estavam em 190.755.799 pessoas vivendo no país, sendo 39.827.570 habitantes do estado de São Paulo, como mostra o quadro abaixo. Estimativa Populacional População 2007 2010 São Paulo 39.827.570 41.262.199 Brasil 183.987.291 190.755.799 Quadro 1: Estimativa Populacional Fonte: Adaptado do IBGE, 2011 De acordo com estes dados é possível identificar um crescimento populacional tanto para o Estado de São Paulo como para o país da ordem de aproximadamente 3,6%. 3.1.2 Taxa média de motorização – DENATRAN A partir de informações coletadas junto ao Departamento Nacional de Trânsito DENATRAN foi possível chegar a uma média da frota anual de veículos no país, e a partir da média anual traçou-se então a taxa percentual de crescimento dessa frota, donde foi gerado o gráfico da Figura 1. Foram trabalhados dados relativos aos anos desde 2006 até o primeiro semestre de 2011, conforme mostra o Quadro 2. Taxa Média Anual de Motorização no Brasil FROTA 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Janeiro 42.304.171 45.653.808 50.013.236 54.834.841 59.705.311 65.205.757 Fevereiro 42.526.058 45.914.225 50.361.471 55.147.855 60.055.556 65.636.754 Março 42.810.617 46.256.874 50.754.344 55.567.617 60.583.473 66.116.077 Abril 43.039.168 46.572.168 51.200.130 55.937.035 61.014.812 66.563.500 4 Maio 43.323.157 46.937.138 51.618.120 56.326.617 61.421.771 67.066.391 Junho 43.578.352 47.274.299 52.058.730 56.769.656 61.833.992 67.545.237 Julho 43.854.594 47.642.360 52.557.238 57.208.454 62.296.761 0 Agosto 44.154.027 48.041.872 52.986.205 57.611.365 62.780.364 0 Setembro 44.427.183 48.397.689 53.449.732 58.068.942 63.259.830 0 Outubro 44.029.257 48.822.278 53.849.169 58.506.136 63.724.538 0 Novembro 45.029.257 49.228.783 54.159.867 58.899.850 64.223.721 0 Dezembro 45.372.640 49.664.025 54.506.661 59.361.642 64.817.974 0 Média 45.204.040 47.533.793 52.292.909 57.020.001 62.143.175 66.355.619 Taxa de Cresc. 5,15% 10,01% 9,03% 8,98% 6,77% Quadro 2: Taxa Média Anual de Motorização no Brasil Fonte: adaptado do DENATRAN, 2011 O mesmo procedimento foi realizado considerando apenas os dados relativos ao Estado de São Paulo, o resultado pode ser observado no Quadro abaixo. Mês/Ano Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Média Taxa de Cresc. Taxa Média Anual de Motorização no Estado de São Paulo 2006 2007 2008 2009 2010 14.241.306 15.266.023 16.573.348 17.941.419 19.229.850 14.309.472 15.346.431 16.680.764 18.027.323 19.327.366 14.399.961 15.453.454 16.804.442 18.142.072 19.467.013 14.476.912 15.549.677 16.941.280 18.246.183 19.588.288 14.564.463 15.664.449 17.065.997 18.353.876 19.693.923 14.646.580 15.769.793 17.195.434 18.474.287 19.799.468 14.733.614 15.878.943 17.337.595 18.590.705 19.916.036 14.828.196 16.000.632 17.460.949 18.694.965 20.041.172 14.913.654 16.108.778 17.590.270 18.818.142 20.167.126 15.008.011 16.235.863 17.701.525 18.939.993 20.289.719 15.098.096 16.355.217 17.777.859 19.037.636 20.409.919 15.187.281 16.464.703 17.852.829 19.139.118 20.537.980 14.700.629 15.841.164 17.248.524 18.533.810 19.872.322 7,76% 8,88% 7,45% 7,22% Quadro 3: Taxa Média Anual de Motorização no Estado de São Paulo Fonte: adaptado do DENATRAN, 2011 2011 20.635.312 20.745.446 20.868.354 20.982.134 21.112.888 21.236.042 0 0 0 0 0 0 20.930.029 5,32% 3.1.3 Indenizações - DPVAT A partir de estatísticas divulgadas pela Seguradora Líder dos Consórcios do Seguro DPVAT (2011) é possível tabelar as informações quanto ao número de indenizações pagas ano a ano por morte, invalidez e despesas com assistência médica no Brasil, conforme o exposto no Quadro. Ocorrências de Indenizações – DPVAT Ano de Morte Invalidez Despesas com Total ocorrência Permanente assistência médica 2006 193.118 63.776 45.635 83.707 2007 66.838 80.333 104.959 252.130 2008 57.116 89.474 125.413 272.003 2009 53.052 118.021 85.399 256.472 2010 50.780 151.558 50.013 252.351 1º Sem.2011 26.894 107.403 30.814 165.111 Quadro 4: Ocorrências de indenizações – DPVAT Fonte: Adaptado da Seguradora Líder, 2011 5 A figura a seguir apresenta um gráfico relativo à taxa percentual de crescimento da ocorrência de indenizações pagas pelo DPVAT. Figura 1: Taxa de crescimento da ocorrência de indenizações Fonte: o autor, adaptado DPVAT 3.1.4 Óbitos por acidentes de transporte – DATASUS Através de pesquisa realizada junto ao Ministério da Saúde (2011), por meio da ferramenta DATASUS para óbitos por causas externas, é possível visualizar dados sobre as ocorrências de mortes ligadas ao trânsito ano a ano, segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID) em sua última revisão (CID-10). Obtêm-se Óbitos por ocorrência por local de ocorrência segundo o Grande grupo CID10: Óbitos por local de ocorrência – Brasil Ano Hospital Outro estabelec. Domicilio de saúde 2006 16.314 442 368 2007 16.594 469 345 2008 17.082 494 353 2009 16.163 479 325 Quadro 5: Óbitos por local de ocorrência – Brasil Fonte: Adaptado do Ministério da Saúde, 2011 Via Pública 17.617 18.546 19.005 19.290 Outros 2.213 2.257 2.076 2.022 Ignorado Total 295 208 2001 190 37.249 38.419 39.211 38.469 Para a pesquisa considerando apenas o Estado de São Paulo obteve-se o Quadro a seguir. Ano Hospital Óbitos por local de ocorrência - São Paulo Outro estabelec. Domicilio Via Outros de saúde Pública Ignorado Total 2006 3.783 256 82 2.818 294 72 7.305 2007 3.963 268 31 3.040 460 40 7.082 2008 4.040 260 41 3.076 285 46 7.748 2009 3.622 244 56 2.946 265 31 7.164 Quadro 6: Óbitos por local de ocorrência – São PauloFonte: Adaptado do Ministério da Saúde, 2011 Considerando-se apenas o total de óbitos tanto para o Brasil como para o Estado de São Paulo, foi possível estabelecer uma taxa de crescimento das ocorrências, conforme mostra o gráfico da Figura: 6 Figura 2: Óbitos por acidentes de transportes Fonte: o autor, adaptado MS 3.1.5 Homicídios e Lesões Corporais no Trânsito – SSP/SP Segundo dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, que incluem homicídios culposos por acidentes de trânsito e lesões corporais culposas por acidentes de trânsito, por trimestres, foi possível tabelar as informações de forma a desenvolver o Quadro abaixo. Estatísticas da Secretaria de Segurança Pública – SP Homicídio Culposo Lesão Corporal Culposa Total de Ocorrência por Acidente de por Acidente de Trânsito no Trânsito Trânsito 1º Trim. 2006 33.914 1.068 32.846 2º Trim. 2006 35.867 1.140 34.727 3º Trim. 2006 1.139 34.058 35.197 4º Trim. 2006 1.143 36.886 38.029 Total anual 4.490 138.517 143.007 1º Trim. 2007 1.048 34.188 35.236 2º Trim. 2007 1.240 37.025 38.265 3º Trim. 2007 1.291 37.935 39.226 4º Trim. 2007 1.265 38.905 40.170 Total anual 4.844 148.053 152.897 1º Trim. 2008 1.080 35.432 36.512 2º Trim. 2008 1.221 40.447 41.668 3º Trim. 2008 1.161 34.991 36.152 4º Trim. 2008 1.208 30.249 31.457 Total anual 4.670 141.119 145.789 1º Trim. 2009 1.001 30.837 31.838 2º Trim. 2009 1.213 32.960 34.173 3º Trim. 2009 1.173 31.402 32.575 4º Trim. 2009 1.149 35.068 36.217 Total anual 4.536 130.267 134.803 1º Trim. 2010 1.019 31.914 32.933 2º Trim. 2010 1.230 35.714 36.944 3º Trim. 2010 1.216 35.125 36.341 4º Trim. 2010 1.173 35.554 36.727 Total anual 4.638 138.307 142.945 1º Trim. 2011 1.066 32.714 33.780 2º Trim. 2011 1.293 37.941 39.234 Total semestre 2.359 70.655 73.014 Quadro 7: Estatísticas da Secretaria de Segurança Pública – SP Fonte: Adaptado da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, 2011 Período Observando apenas as informações anuais, foi possível analisar as taxas de crescimento das ocorrências, e a partir destas taxas foi gerar gráfico da Figura 6: 7 Figura 3: Evolução das ocorrências Fonte: o autor, adaptado SSP/SP 3.2 ÍNDICES DA ACIDENTALIDADE Visando entender o quadro geral da evolução da acidentalidade viária, no Brasil e no Estado de São Paulo, e ainda buscando uma relação desta evolução com a implantação da „Lei Seca‟, diversos indicadores foram desenvolvidos, cruzando informações quanto à população e as taxas médias de motorização com os registros de mortalidade, indenizações e ocorrências criminais, é possível visualizar essa evolução. 3.2.1 Índices de frota por habitantes Dividindo-se a estimativa populacional do IBGE para o ano de 2007 e os dados preliminares do censo 2010, tanto nacionais como estaduais, pelas respectivas taxas médias anuais de motorização, obtemos o seguinte Quadro: São Paulo Brasil 2007 40 veíc./100 hab. 25 veíc./100 hab. 2010 48 veíc./100 hab. 33 veíc./100 hab. Taxa cresc. Quadro 8: Índice de frota por habitantes Fonte: o autor, adaptado IBGE 20% 33% Isto significa dizer que o índice de motorização no Brasil e no Estado de São Paulo subiu consideravelmente nos últimos anos. Se em 2007 o país possuía uma taxa de 25 veículos para cada 100 habitantes, em 2010 esse número subiu para 33, ou seja, subiu algo em torno de 32% em três anos. Em São Paulo, estado que possui uma das maiores taxas de motorização, a mesma teve um aumento de 20% na frota com relação à população, no período estudado, passando de 40 veículos para cada 100 habitantes, para 48. Isso significa que no estado há quase 1 veículo para 2 pessoas. A frota estadual corresponde a aproximadamente um terço da frota nacional. 3.2.2 Índices relativos às indenizações – DPVAT Comparando os dados disponibilizados pela Segura Líder, relativos ao DPVAT, sobre indenizações por morte, invalidez permanente e despesas médicas com as informações sobre a população no Brasil nos anos de 2007 e 2010 disponibilizadas pelo IBGE obtemos um índice de ocorrência de indenização por habitantes. Para facilitar a visualização desses números multiplicou-se o resultado por 100.000, assim temos ocorrências por 100.000 habitantes, efetuou-se ainda o cálculo da taxa de crescimento dos eventos, conforme mostra o Quadro 15. 8 Morte Invalidez Desp. Médicas Total 2007 141/100.000 h. 169/100.000 h. 221/100.000 h. 530/100.000 h. 2010 82/100.000 h. 244/100.000 h. 80/100.000 h. 406/100.000 h. 44,38% -63,80% -23,40% Taxa cresc. -41,85% Quadro 9: Indenizações por habitantes Fonte: o autor, adaptado DPVAT A partir desses dados demonstra-se uma queda na ocorrência de indenizações pagas por acidentes de trânsito, pelo DPVAT, no período entre 2007 e 2010. Esse período engloba a implantação da Lei 11.705/08 que objetivava exatamente a redução de acidentes através da proibição da direção às pessoas sob efeito de substância alcoólica. Os dados são apresentados ainda no gráfico da Figura 7, possibilitando uma melhor visualização da situação. Figura 4: Evolução das indenizações por habitantes Fonte: o autor, adaptado DPVAT As informações sobre indenizações por acidentes de trânsito podem ainda ser comparadas com a frota nacional de veículos, disponibilizadas pelo DENATRAN. Os números apontam o registro de indenizações para cada 10.000 veículos registrados no país, para os anos de 2006 até 2011. Para 2011 considera-se que o número de ocorrências registrados no primeiro semestre se repetirá no segundo. O Quadro 16 mostra o número de indenizações de cada tipo por 10.000 veículos. Morte Invalidez Desp. Médicas Total 2006 14/10.000 v. 10/10.000 v. 18/10.000 v. 43/10.000 v. 2007 14/10.000 v. 17/10.000 v. 22/10.000 v. 53/10.000 v. 2008 11/10.000v. 17/10.000 v. 24/10.000 v. 52/10.000 v. 2009 9/10.000 v. 21/10.000 v. 15/10.000 v. 45/10.000 v. 2010 8/10.000 v. 24/10.000 v. 8/10.000 v. 41/10.000 v. 2011 8/10.000 v. Quadro 10: Indenizações por veículos Fonte: o autor, adaptado DPVAT 32/10.000 v. 10/10.000 v. 50/10.000 v. Foi possível analisar um período maior, em razão da disponibilização dos dados pelas entidades competentes. O período de implantação da conhecida „Lei Seca‟ está dentro do analisado. Através da Figura 8 é possível observar que a partir do ano de implantação da referida Lei no ano de 2008 houve queda nas ocorrências de mortes e de despesas médicas, curiosamente o número de indenizações por invalidez permanente aumentou consideravelmente, fazendo com que o total de indenizações apresente queda, mas, com perspectiva de novo aumento se o número de registros do ano de 2011 se mantiver conforme foi no primeiro semestre. 9 Figura 5: Evolução das indenizações por veículos Fonte: o autor, adaptado DPVAT 3.2.3 Índices relativos aos registros de óbitos – DATASUS Através das informações encontradas por meio da ferramenta DATASUS do Ministério da Saúde, é possível traçar uma evolução do número de mortes em acidentes de transporte com relação à frota nacional e do Estado de São Paulo. Os dados disponíveis permitem analisar os índices de mortes para cada 10.000 veículos, para os anos de 2006, 2007, 2008 e 2009 conforme mostra o Quadro 17: 2006 2007 2008 2009 São Paulo 5 4 4 4 Brasil 8 8 7 7 Quadro 11: Mortes por veículos Fonte: o autor, adaptado DATASUS Segundo estas informações o número de mortos no trânsito em São Paulo já vinha apresentando queda entre os anos de 2006 e 2007 e se manteve estável após a implantação da nova Lei. Em nível nacional a queda se deu no período entre 2007 e 2008 e também se estabilizou após a implantação da Lei. 3.2.4 Índices de homicídios e lesões corporais – SSP/SP A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo divulga informações trimestrais sobre o registro de ocorrências criminais no estado. Dentre os registros as informações sobre homicídio culposo e lesão corporal culposa em acidentes de trânsito foram coletadas e utilizadas para o cálculo do índice de registro de ocorrência para cada 10.000 veículos no estado de São Paulo no período de 2006 a 2011. Para se ter uma perspectiva para o ano de 2011 novamente se considera que o mesmo número de ocorrência do primeiro semestre se repetirá no segundo. O Quadro abaixo mostra o número de ocorrências por veículos. Homicídios Lesões corporais Total 2006 3 96 99 2007 3 93 96 10 2008 3 82 84 2009 2 70 73 2010 2 70 72 67 70 2011 2 Quadro 12: Ocorrências criminais por veículos Fonte: o autor, adaptado SSP/SP Segundo estes indicativos novamente se podem observar queda acentuada nas ocorrências, sendo uma leve queda no registro de homicídios culposos por acidentes de trânsito e uma queda considerável no número de casos de lesões corporais por acidentes de trânsito. A figura 10 permite uma visualização dessa queda a partir do ano de 2008, ano da implantação da „Lei Seca‟. Figura 6: Evolução das ocorrências criminais por veículos Fonte: o autor, adaptado SSP/SP 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A acidentalidade viária vem sendo causa de preocupação das autoridades competentes já há algum tempo, no Brasil bem como em diversos países mais ou menos desenvolvidos. Os fatores que levam a acidentes viários vêm sendo estudados apontando índices e taxas preocupantes. O poder público no Brasil dentre outras medidas de segurança tem demonstrado empenho no âmbito do esforço legal através do endurecimento das leis pertinentes. O Código de Trânsito Brasileiro é um importante instrumento limitador da exposição de certos riscos no trânsito, a Lei 11.705 de 2008 vem corroborar esse empenho à medida que estabelece maior severidade quanto à tolerância do uso de substâncias alcoólicas, importante fator causador de acidentes. Dados coletados junto a órgãos públicos responsáveis por registros relativos a acidentalidade como mortes, crimes no trânsito e indenizações obrigatórias aliados a informações sobre população e taxa de motorização dessa população nacional e estadual para São Paulo, trazem indicativos no que concerne a evolução da acidentalidade viária antes, durante e após a implantação da já mencionada „Lei Seca‟. O número de óbitos por acidentes de transporte coletados através do DATASUS, para o Estado de São Paulo bem como para o Brasil, também indicaram queda nos registros de ocorrências no período disponível pra análise que compreende a implantação da nova Lei. Confirmando estes indicativos as estatísticas divulgadas pela Secretaria de Segurança Pública do estado de São Paulo apontam queda nos registros de homicídios culposos por acidentes de trânsito e também queda no número de lesão corporal culposa por acidente de trânsito no período observado. 11 Com exceção do índice de invalidez permanente divulgado pela Seguradora Líder do DPVAT, todos os demais índices apresentaram queda, alguns já tinham essa tendência antes mesmo da implantação da „Lei Seca‟, essa queda tende a se manter a partir de 2008. Para o ano de 2011 foi considerado que o segundo semestre será igual ao primeiro apenas para permitir um parecer futuro, se essa perspectiva se manter, esse ano poderá apresentar nova alta nas taxas de acidentalidade, indicando a necessidade de novas ações do poder público. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS CENTRO DE EXPERIMENTAÇÃO E SEGURANÇA VIÁRIA – CESVI BRASIL. Fator Legislação. DEPARTAMENTO DE POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL . Ministério da Justiça. Lei Seca. Disponível em: <http://www.dprf.gov.br/PortalInternet/leiSeca.faces>. Acesso em: 26 Julho 2011 DEPARTAMENTO NACIONAL DE TRÂNSITO. Frota de veículos. Disponível em: <http://www.denatran.gov.br/frota.htm>. Disponível em: 24 julho 2011. FERRAZ, A. C. C. P.; FORTES, F. Q.; SIMÕES, F. A.: Engenharia de Tráfego Urbano. Fundamentos práticos. São Carlos: Edição Preliminar, 1999. FERRAZ, A. C. C. P.; RAIA Jr, A. A.; BEZERRA, B. S. Segurança no Trânsito. São Carlos: NEST, 2008. GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA. Estatísticas. Disponível em:< http://www.ssp.sp.gov.br/estatistica/trimestrais.aspx>. Acesso em 24 julho 2011. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. População. Disponível em;< http://www.ibge.gov.br/home/mapa_site/mapa_site.php#populacao>. Acesso em: 12 junho 2011. LEI 9.503 DE 23 DE SETEMBRO DE 1997. Código de Trânsito Brasileiro. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9503.htm>. Acesso em: 26 julho 2011. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Óbitos por causas externas – Brasil. Disponível em:< http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sim/cnv/ext10uf.def>. acesso em: 14 julho 2011. RAIA JR., Archimedes Azevedo. Fundamentos de segurança no trânsito, março de 2004. Notas de aula. SEGURADORA LÍDER DOS CONSÓRCIOS DO SEGURO DPVAT. Desempenho do seguro DPVAT. Disponível em:< http://www.seguradoralider.com.br/desempenho_do_Seguro_DPVAT.asp>. Acesso em 24 julho 2011. VASCONCELLOS, E. A. de. A Cidade, o Transporte e o Trânsito. São Paulo: Prolivros, 2005. “O conteúdo expresso no trabalho é de inteira responsabilidade do(s) autor(es).”