1 RESUMO Este trabalho pretende contribuir para a compreensão do fenômeno social do trânsito, numa abordagem psicossocial, a partir da interação social que produz o comportamento do motorista, com a finalidade de contribuir para a redução dos acidentes de trânsito. Nos estudos já realizados nesta área, percebe-se um enfoque bastante evidente das características individuais de personalidade ou de habilidades adquiridas, para a explicação do comportamento do motorista. Busca-se, neste trabalho, sem desprezar as contribuições dos estudos desenvolvidos sob esta inspiração, contribuir para a construção de um modelo psicossocial de estudo do trânsito, para melhor conhecer a maneira como os grupos interpretam a realidade e, a partir desta interpretação, denominada representação social, conhecer os determinantes do modo de se comportar dos indivíduos no trânsito. Para buscar este conhecimento, realizou-se uma pesquisa, metodologicamente orientada pela Teoria do Núcleo Central das Representações Sociais, com objetivo de conhecer a representação global do trânsito em jovens universitários motoristas e agentes de fiscalização. Participaram desta pesquisa trezentos e sessenta e nove (369) estudantes universitários de diferentes cursos da Universidade Católica de Goiás e oitenta e oito (88) agentes de fiscalização da Prefeitura de Goiânia. Os resultados indicaram que os grupos pesquisados têm uma representação bastante semelhante e complexa do trânsito, caracterizada por uma representação idealizada da tarefa de dirigir, organizada em torno dos elementos “responsabilidade” e “atenção”, homóloga da auto-percepção como motorista e, de outro lado, uma representação negativa da situação global do trânsito, organizada em torno dos elementos “fiscalização/sinalização” e “tumulto”, homóloga à representação negativa dos outros como motoristas. Embora pareçam semelhantes, as representações diferem quando se analisa o significado atribuído aos elementos que compõem o núcleo supostamente central, significado este determinado pelas práticas sociais específicas de cada grupo. 2 ABSTRACT Taking as its starting point the social interaction which produces drivers’ behavior and based on a psycho-social approach, this study intends to contribute to the understanding of the social phenomenon of traffic in order to contribute to the reduction of traffic accidents. In the studies already undertaken in this area, a quite pronounced focus on individual personality characteristics or of acquired abilities can be observed to explain drivers’ behavior. In this study, without minimizing the contributions of the studies developed from this perspective, an effort is made to contribute to building a psycho-social study of traffic, in order to better understand the way groups interpret reality and, out of this interpretation, known as social representation, to get to know the determinant factors in an individual’s behavior in traffic. With this in mind, research using the methodological orientation of the Theory of the Central Nucleus of the Social Representations was undertaken to get to know the global representation of traffic in young university drivers and traffic wardens. Three hundred and sixty-nine (369) university students from different courses at the Catholic University of Goiás and eighty-eight (88) traffic wardens from the City Hall of Goiânia participated in this piece of research. The results indicate that the groups researched have quite a similar and complex representation of traffic, characterized by an idealized representation of the task of driving, organized around the elements of "responsibility" and "attention", confirming the self-perception of the driver and, on another hand, a negative representation of the global situation of the traffic, organized around the elements of "control/signals" and "chaos", confirming the negative representation of the others as drivers. Even though they seem similar, these representations differ when the meaning attributed to the elements which make up the supposedly central nucleus is analyzed. These meanings are determined by the social and specific practices of each group. 3 ÍNDICE GERAL RESUMO___________________________________________ 1 ABSTRACT _________________________________________ 2 APRESENTAÇÃO ___________________________________ 7 CAPÍTULO I - TRÂNSITO E PSICOLOGIA _____________ 12 1.1 O trânsito como objeto de estudo da psicologia _____ 12 1.2 A Psicologia do Trânsito ________________________ 21 1.2.1 Os modelos psicológicos de estudo do trânsito____ 28 1.2.1.1 Modelos clássicos _______________________ 28 1. 2.1.2 Modelos atuais de influência cognitivista___ 30 1.2.1.3 Em busca de um modelo psicossocial de estudo do trânsito ___________________________________ 39 1.3 O estudo do trânsito como prática social complexa __ 44 1.3.1 A teoria das representações sociais e a teoria do núcleo central ___________________________________ 44 1.3.2 Os modelos de estudo das práticas sociais ________ 52 1.3.3 Modelos de estudo aplicados a situações complexas _____________________________________ 60 CAPÍTULO II - ESTUDO DAS RELAÇÕES ENTRE PRATICAS SOCIAIS E TRÂNSITO ____________________ 67 3.1 Método ______________________________________ 67 Estudo preparatório ______________________________ 68 3.2. Etapa 1 - A representação global do trânsito em jovens universitários motoristas ___________________________ 70 3.2.1 A representação de si e dos outros como “Motoristas” 70 3.2.2 A representação da tarefa (dirigir) _____________ 73 3.2.3 A representação do contexto (trânsito) em jovens universitários motoristas __________________________ 76 3.3. Etapa 2 - A representação global do trânsito em agentes de fiscalização _____________________________ 81 3.3.1 A representação de si e do outro ______________ 81 3.3.2 A representação da tarefa (dirigir) _____________ 83 4 3.3.3 A representação do contexto (trânsito) em agentes de fiscalização. ____________________________________ 86 3.4. Comparando os resultados dos dois grupos pesquisados ________________________________________________ 90 3.4.1. Comparação dos resultados da representação de si e dos outros como motoristas em jovens universitários motoristas e agentes de fiscalização. _________________ 90 3.4.2 Comparação dos resultados da representação da tarefa (dirigir) em jovens universitários motoristas e agentes de fiscalização_____________________________________ 92 3.4.3 Comparação dos resultados da representação do contexto (trânsito) em jovens universitários motoristas e agentes de fiscalização. ___________________________ 94 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS__________________ 104 ANEXO 1 – Modelo de questionário com questão aberta, utilizado no estudo exploratório, aplicado ao grupo de jovens universitários motoristas. ___________________ 116 ANEXO 2 – Modelo de questionário com questão de evocação com palavra indutora “dirigir”, aplicado ao grupo de jovens universitários motoristas. ___________ 117 ANEXO 3– Modelo de questionário com questão de evocação com a palavra indutora “trânsito”e questões de escalas, aplicado ao grupo de jovens universitários motoristas. _____________________________________ 118 ANEXO 4 – Modelo de questionário utilizado no estudo da representação global do trânsito em agentes de fiscalização. _______________________________________________ 125 5 ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1-Perfil Estatístico do Trânsito no Brasil, 1996-1998 _________ 15 Tabela 2 - Principais causas da propensão a sofrer acidentes - Cleveland Railway Company___________________________________________ 22 Tabela 3– Quadro sintético das palavras relevantes encontradas em cada uma das 3 populações________________________________________ 59 Tabela 4- Características Atribuídas ao “bom” e ao “mau” motoristas, por sujeitos jovens motoristas universitários (N=192) ______________ 69 Tabela 5- Resultados das escalas de auto e hetero-percepção de jovens motoristas universitários, em referência aos comportamentos característicos do “Bom Motorista” e do “Mau Motorista” (N=177) __ 71 Tabela 6– Média e desvio padrão da percepção dos outros percepção dos outros e autopercepção como motoristas em jovens universitários motoristas _________________________________________________ 72 Tabela 7- Resultados da Questão de Evocação, Representação Social do “Ato de Dirigir”, elaborada por Jovens Motoristas Universitários ____ 74 Tabela 8– Resultados da questão de evocação – a representação social do “trânsito”, elaborada por jovens motoristas universitários. Ordem Média de Evocação ___________________________________ 77 Tabela 9– Resultados das escalas de auto e hetero-percepção de agentes de fiscalização, em referência aos comportamentos característicos do “Bom Motorista” e do “Mau Motorista” (N=77) __________________ 82 Tabela 10- Médias e desvio padrão de percepção dos outros percepção dos outros e autopercepção como motoristas em agentes de fiscalização _________________________________________________________ 83 Tabela 11– Análise das evocações da representação social da tarefa (dirigir) de agentes de fiscalização _____________________________ 84 Tabela 12- Análise das evocações da representação social do contexto (trânsito) de agentes de fiscalização ____________________________ 87 Tabela 13– Médias e teste estatístico da autopercepção como motorista em jovens universitários motoristas e agentes de fiscalização ___________ 91 Tabela 14– Médias e teste estatístico da percepção dos outros como motoristas em jovens universitários motoristas e agentes de fiscalização 92 Tabela 15– Quadro sintético das palavras relevantes encontradas em cada uma das populações para a palavra indutora “dirigir” ____________ 93 Tabela 16– Quadro sintético das palavras relevantes encontradas em cada uma das populações para a palavra indutora “trânsito” ____________ 95 6 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1- Modelagem do sistema de trânsito (Petzhold, 1985). _______ 19 Figura 2– Modelo behaviorista restrito (Rozestraten, 1988)__________ 29 Figura 3– Modelo Behaviorista Mitigado (Rozestraten, 1988) ________ 30 Figura 4– Modelo Clássico Cognitivista aplicado ao trânsito (Rozestraten, 1988) _____________________________________________________ 31 Figura 5– Esquema de Análise de Situações de Exclusão, Proposto por Abric, 1996 ________________________________________________ 63 Figura 6– Modelo de Análise da Representação Global da Situação Proposto por Codol, 1972 ____________________________________ 65 Figura 7- Gráfico de similitude (árvore máxima)da representação social de “dirigir” em jovens universitários motoristas (n=177)____________ 76 Figura 8- Gráfico de similitude (árvore máxima)da representação social do trânsito em jovens universitários motoristas (n=177)_____________ 78 Figura 9–Esquema interpretativo da representação global do trânsito como situação social complexa, entre sujeitos jovens motoristas universitários ______________________________________________ 80 Figura 10– Gráfico de similitude da representação social de “dirigir”de agentes de fiscalização (N=88) ________________________________ 86 Figura 11- Gráfico de similitude da representação social do trânsito em agentes de fiscalização (n=88) _________________________________ 88 Figura 12– Esquema Interpretativo da representação Global do Trânsito Como Situação Social Complexa, entre Sujeitos Agentes de Fiscalização. _________________________________________________________ 89 7 APRESENTAÇÃO Reporta-se que morreram no Brasil, no ano de 1997, segundo fontes da ABDETRAN/REDETRAN (Associação Brasileira de Detrans), 24.107 pessoas, embora as estatísticas sejam inconsistentes e ignorem muitas mortes que ocorrem após os acidentes, como sua conseqüência. A mesma fonte informa, em outro momento, um número de 22.313 mortes no trânsito. Estiveram envolvidos nestes acidentes 532.601 veículos. Do total os automóveis representam 62%. No mesmo ano, o país contava com uma frota de 28.609.232 veículos. A Lei 9.503, sancionada em 23 de setembro de 1997, com vigência a partir de 22 de janeiro de 1998, sob a denominação de Novo Código de Trânsito Brasileiro Trânsito Brasileiro, veio colocar na ordem do dia a atuação dos psicólogos no processo de habilitação dos motoristas, considerando-se o veto presidencial ao exame psicológico, também chamado exame psicotécnico. Contra o parecer que levou ao veto, de que o exame não reprovava os maus motoristas, argumentou-se que existem inúmeros processos de candidatos em reteste nas clínicas, porém, sem retorno destes, o que evidencia uma retenção, calculada em 5% dos candidatos. Buscamos apoio na literatura científica para dar suporte à assertiva de que as pessoas que pretendem habilitar-se como motoristas devem possuir certas habilidades e características comportamentais, necessárias ao correto desenvolvimento das tarefas exigidas do motorista. Verificamos, na oportunidade, uma certa escassez de literatura científica, no âmbito nacional, no que tange às questões do trânsito, e principalmente, do ponto vista da psicologia. À exceção de Rozestraten (1988), praticamente inexiste, 8 no Brasil, literatura científica no campo da psicologia abordando questões ligadas ao fenômeno. No Brasil, as questões de trânsito têm sido enfocadas basicamente a partir do ponto de vista da engenharia, da fiscalização e do motorista, enquanto indivíduo. Pouco há em relação à educação para o trânsito e às relações sociais das quais emergem os motoristas. Tange-se, levemente, na questão social, ao admitir-se o trânsito como um fato social (Rozestraten, 1988). Dotta (1996, p.9), afirma: “os problemas do trânsito no Brasil gravitam em torno do comportamento (mau comportamento), eis que a todo momento nos deparamos com condutores carentes de respeito humano e de boas maneiras, rebeldes, agressivos, atrevidos, despóticos, sem modos e hábeis em roubar direitos alheios, mas duros em abrir mão dos próprios direitos para evitar uma colisão.” Por atuar diretamente como psicólogo examinador do trânsito, no processo de habilitação de motoristas e por participar de associação de profissionais que atuam na área, surgiu nosso interesse pelos estudos das questões do trânsito. Intrigava-nos o fato de os fatores sociais serem tão pouco considerados nos estudos da psicologia ao abordar a questão do trânsito, preferindo focar os aspectos cognitivos da aprendizagem e os fatores individuais da personalidade. A busca de um modelo psicossocial para o estudo do trânsito, parte do pressuposto que tal fenômeno deve ter seu fulcro na interação social. Na mesma direção de Pereira (1997), este trabalho pretende trazer novas contribuições ao estudo do trânsito como uma situação social complexa, voltando-se em direção à compreensão dos componentes simbólicos envolvidos na determinação do comportamento dos motoristas, a partir da referência fornecida pela Teoria do Núcleo Central das Representações Sociais, tal como é proposta por Abric (1976). 9 Buscamos compreender como os valores, as normas sociais e as regras grupais emergem e influenciam o comportamento humano no trânsito, em detrimento dos fatores de aprendizagem e características individuais de personalidade. Como se pode inferir do Capítulo I, iniciamos buscando conhecer o que é trânsito e as várias abordagens feitas a respeito do fenômeno pelos psicólogos. Encontramos vários modelos de estudo, desde o clássico behaviorista - que despreza totalmente a participação do indivíduo que apenas reage aos estímulos - passando pelos modelos cognitivistas de gestão do risco, até chegar a algumas tentativas de abordar o problemas a partir de uma visão psicossocial, a que nos filiamos . Nesta perspectiva, fomos buscar nosso referencial teórico na Teoria das Representações Sociais, proposta por Moscovici (1978) e complementada pela Teoria do Núcleo Central - Abordagem Estrutural, proposta por Abric (1998), segundo a qual as representações sociais designam uma forma de pensamento socialmente construído, que nos orienta na compreensão do mundo. Compreendidas no contexto em que foram construídas, tais representações nos permitem conhecer os determinantes das interações sociais. Complementarmente, a Abordagem Estrutural nos ensina que as representações são sistemas cognitivos estruturados e hierarquizados, organizadas em dois sistemas: central e periférico, cujo conhecimento nos permite interpretar profundamente, as representações e a forma como foram construídas, o que, em nosso entendimento, possibilitar-nos-ia utilizar seus modelos de estudo para compreender o fenômeno social do trânsito, como uma prática social complexa. Com base em estudos anteriores, nessa mesma perspectiva, propomos tratar a representação que os diferentes grupos de sujeitos têm do trânsito como um sistema cognitivo complexo dotado de, no mínimo, quatro componentes: a representação do 10 papel próprio como motorista; a representação dos outros motoristas; a representação da tarefa (o “dirigir”); e, finalmente a representação global da situação, ou seja, do trânsito, em si. No Capítulo II, utilizando o instrumental fornecido por estas teorias, como os questionários com questões de evocação e de escalas, análise de evocações, categorização de palavras e análise de similitude, iniciamos, no primeiro semestre de 1999, o nosso trabalho de pesquisa, tendo como sujeitos dois grupos: o primeiro, constituído de dois sub-grupos de jovens universitários motoristas, como idade até 25 anos e portadores da Carteira Nacional de Habilitação, pesquisados em duas etapas diferentes; o segundo, constituído por agentes de fiscalização, funcionários públicos municipais, encarregados da fiscalização do trânsito. Após estudo exploratório, em que buscamos descobrir, no grupo de jovens universitários motoristas, a representação das características do “bom motorista” e do “mau motorista”, investigamos a representação global do trânsito utilizando o modelo formulado por Codol (1968), mediante o estudo da representação de si e do outro, da tarefa (dirigir) e do contexto (trânsito), tendo encontrado uma representação positiva de si mesmo como motorista, uma representação negativa dos outros motoristas, uma representação idealizada da tarefa (o que deveria ser dirigir) e uma representação negativa do contexto. No segundo grupo, constituído de agentes de fiscalização, ao utilizar o mesmo modelo, encontramos a mesma representação positiva de si mesmos como motoristas, uma representação negativa dos outros motoristas, uma representação também idealizada da tarefa (dirigir) e uma representação um pouco mais estruturada do 11 contexto (trânsito), em que se colocam como responsáveis por organizar o caos criado pelos motoristas. Tais resultados corroboram a perspectiva da construção de um modelo psicossocial de estudo do trânsito, ao nos indicar que os problemas nesse campo podem ser abordados não mais a partir das características do meio ambiente natural e construídos ou das características individuais dos motoristas, mas a partir da interação social, permitindo vislumbrar outros modelos de gestão da situação global do trânsito que valorizem esses aspectos. 12 CAPÍTULO I - TRÂNSITO E PSICOLOGIA 1.1 O trânsito como objeto de estudo da psicologia Trânsito: do latim transitu; ato ou efeito de caminhar; marcha. Movimento, circulação de pessoas ou de veículos; tráfego. Trânsito nas cidades considerado no conjunto; circulação. (Ferreira, 1986). Assim se define a palavra trânsito, no Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, evidenciando os sentidos em que se utiliza o vocábulo, dando-lhe significado de movimento de pessoas e introduzindo o conceito de movimento de veículos, sejam estes automotores ou com propulsão animal ou humana. Pode-se dizer que o termo está mais intimamente ligado ao movimento de veículos automotores do que a outros tipos de veículos ou mesmo de pessoas, e, na própria legislação de trânsito evidencia-se uma preocupação, basicamente, com o ordenamento do tráfego de veículos, dedicando pouquíssimos parágrafos ao pedestre, ao ciclista ou aos veículos movidos por tração animal. A Convenção de Viena (Witter, 1997) - tratado internacional que visa criar um padrão de referência para as legislações nacionais - não traz uma definição da palavra trânsito, mas trata das regras de circulação de veículos, da definição objetiva dos diversos tipos de veículos além de estabelecer critérios que se pretende sejam uniformes nos países signatários. Segundo relata Rocha (1998), o primeiro automóvel foi produzido nos Estados Unidos, em 1893, ano em que foram produzidas 14 unidades. Seis anos após o início da produção, aquele país já contava com uma frota considerável, em relação ao restante 13 do mundo. É neste quadro que se registra o primeiro acidente de trânsito da história do automóvel. Segundo este mesmo autor, na transição para o século 20, a maioria dos países desenvolvidos já contava com indústrias automobilísticas em franco crescimento, como Peugeot, Fiat Y Packard (1899), Studebaker (1904) e Hispano-Suiza (1914), salientando que, em 1912, os Estados Unidos já contavam com uma frota de 1 milhão de veiculos. Pereira (1997) cita que, no Brasil, a indústria automobilística instalou-se na década de 50, no governo de Juscelino Kubistcheck. Em 1958, foi instalada a primeira indústria, a DKW, subsidiária da indústria alemã Auto Union, fabricando, naquele ano, 5 mil unidades do DKW-Vemag, o primeiro carro fabricado no Brasil. Paralelamente, o mesmo governo desencadeou um processo de construção de estradas ligando a então futura capital a todos os estados brasileiros, delineando uma matriz de transportes claramente voltada para a utilizaçào do transporte rodoviário automotor, em detrimento de outros meios, como o transporte ferroviário. Encontram-se instaladas no Brasil quase duas dezenas de montadoras, que produzem em torno de 1,4 milhão de automóveis por ano, embora já tenham ultrapassado, em 1997, a barreira dos dois milhões de veículos fabricados. (ANFAVEA, 2000). A frota nacional situa-se em torno de 30 milhões de veículos, com predominância de automóveis (DENATRAN, 2000). A introdução da linha de montagem veio democratizar o acesso ao automóvel, que, num primeiro momento, era acessível a uns poucos, em razão do alto custo de produção. Se, no início, levavam-se dias para produzir um único automóvel, hoje, 14 pode-se contar em minutos o tempo para a produção de uma nova unidade. Assim, contrariando Karl Benz que, no início do século, dizia que no máximo um milhão de pessoas poderia dirigir um automóvel, em função das habilidades necessárias para dirigí-lo e dos recursos necessários para adquirí-lo, hoje o mundo produz e consome milhões de automóveis a cada ano, e a relação automóvel/habitante cresce em proporções geométricas, mesmo em países considerados pobres, como o Brasil. Certas capitais de nosso país chegam a apresentar uma relação de 1 automóvel para 1,8 habitantes (DETRAN-GO, em O Popular, 22/4/2001), nível comparável ao de países desenvolvidos, Canadá, Austrália, Japão, Alemanha etc (ANFAVEA, 2000). Por outro lado, se o automóvel veio facilitar o deslocamento das pessoas, possibilitando ao homem a superação de todos os obstáculos que antes lhe impediam o acesso rápido a diferentes lugares, tornou-se, também, seu algoz, causando-lhe todo tipo de desconforto, prejuízos e fobias (Corassa, 2000). Se antes possibilitava acesso rápido, hoje submete o homem a intermináveis horas de espera em filas de milhares de automóveis, polui o ar e o meio ambiente com os resíduos tóxicos dos combustíveis utilizados, com os pneus consumidos e não reciclados; toma-lhe o espaço nas cidades, impedindo seu deslocamento como pedestre, seja nas ruas, no chamado leito carroçável, ou até mesmo nos passeios e nas praças. Segundo afirma o presidente da Associação Internacional de Medicina de Tráfego, em seu livro Traffic Safety and the driver (Evans, 2000), no período de 1928 até 1988 morreram mais de dois e meio milhões de pessoas nas estradas dos Estados Unidos da América, sendo mais de meio milhão somente após 1969. O custo anual com os acidentes de trânsito foi de setenta bilhões de doláres, em 1988. No mundo inteiro, cerca de meio milhão de pessoas são mortas anualmente em acidentes de trânsito. 15 No Brasil, a estatística oficial não parece ser confiável, já que a mesma fonte informa diferentes números (DENATRAN, 2001): morrem, anualmente, nos acidentes de trânsito, em torno de 25 mil brasileiros e outros 300 mil ficam feridos. Tabela 1-Perfil Estatístico do Trânsito no Brasil, 1996-1998 Índice/Dado 1996 1997 1998 População 153.725.670 159.636.413 161.790.311 Frota 26.609.232 28.893.441 30.939.466 Acidentes (com vítimas) 255.537 327.640 257.751 Vítimas fatais 23.020 22.313 19.664 Vítimas não fatais 286.732 297.993 311.126 Total de vítimas 309.752 320.306 330.790 Motorização 17.31 18.10 19.12 Mortos por 10.000 veículos 8.65 7.72 6.36 Mortos por 100.000 habitantes 14.97 13.98 12.15 Feridos por 1000 veículos 10.78 10.31 10.06 Feridos por 10.000 habitantes 18.65 18.67 19.23 Acidentes com vítimas por 1000 veículos 9.60 11.34 8.33 ABDETRAN, 2000. Podemos observar na Tabela 1 que o número de acidentes cresce de forma contínua e, embora o número de vítimas fatais tenha sido reduzido após a implantação do novo Código de Trânsito Brasileiro, em 1997, as taxas de mortalidade por número de veículos e por número de habitantes ainda são muito altas, se comparadas com as taxas de outros países: no item “mortos por 10.000 veículos”, os EUA apresentam a taxa de 3, Japão 2 e Alemanha 4, enquanto nosso país apresenta taxa maior que 6. A frota brasileira cresce de forma vertiginosa, acelarando-se esse crescimento na medida em que maior número de pessoas tem renda suficiente para adquirir e manter um veículo. A capital do Estado de Goiás, antes considerada metrópole de menor porte, 16 isolada dos centros industriais do país, ostenta, desde 1994, o título de capital com o maior índice de veículos por habitante, equiparando-se a capitais dos países mais ricos do mundo. Um fator importante deve ser considerado quando se analisa essa informacão: enquanto as grandes cidades do primeiro mundo contam com sistemas públicos de transporte eficazes, que incluem diversas modalidades, como metrôs e trens urbanos, o que faz com que os proprietários de veículos não os utilizem cotidianamente, nossa realidade é bem diversa, tornando o tráfego muito mais intenso e problemático. No Brasil, o número de mortes no trânsito, se medido na proporção de mortos por número de veículos, somente é menor que em Portugal, país que somente agora experimenta um incremento na sua frota, resultado de maciços investimentos da Comunidade Européia. A este quadro, agrega-se o fato de que, durantes muitos anos, e mesmo até hoje, em muitos rincões de nosso país, a concessão da habilitação para dirigir, principalmente nas instâncias de preparação dos motoristas, encontra-se sob o domínio de estruturas arcaicas, partidarizadas e é levada a cabo por pessoal não qualificado. No Brasil, como nos demais países em que o automóvel se estabeleceu fortemente como meio de transporte, houve grandes mudanças na vida social. A mobilidade provida pelo automóvel é o motivo primário para que se utilize o sistema, mas não é o único: a velocidade que este propicia é uma saída para um grande número de outros motivos do motorista (Summala, 1988). A geração direta de empregos nas indústrias automobilísticas, que antes demandavam grande quantidade de operários, bem como nas indústrias fornecedoras de auto-peças e acessórios para as mesmas fábricas e nos setores de comércio e serviços subjacentes, promoveu o inchaço das zonas industriais tradicionais e criou novos núcleos populacionais, sendo fator 17 importante no processo de migrações verificado no nosso país, nas últimas décadas. A presença de máquinas agrícolas e veículos utilitários e de passeio no meio rural também transformou a rotina diária dessas populações, bem como incrementou de forma notável o processo de êxodo rural. Assim, a importância do desenvolvimento de pesquisas a respeito deste fenômeno social é incontestável, notadamente no nosso caso, uma vez que o país carece de informações científicas a respeito das implicações sociais do comportamento do motorista. Estas informações poderão, então, servir como subsídio para o estabelecimento das políticas e práticas públicas nesta área, usualmente baseadas em estudos realizados em outros contextos culturais ou em opiniões particulares de detentores eventuais de alguma fatia de poder, como foi o caso do veto ao exame psicotécnico, em 1997, somente revisto após intenso trabalho de esclarecimento e convencimento da classe política. O trânsito tornou-se, então, um grande problema social, objeto de estudo de diferentes áreas, como a engenharia, a ergonomia, a sociologia, a economia, a medicina, o direito e a psicologia. Para a engenharia, o trânsito tem interesse, na medida em que exige imensos esforços humanos e dispêndio material no sentido de garantir vias para a circulação de um número cada vez maior de veículos. Cria a necessidade de uma estrutura de sinalização para disciplinar a utilização, com segurança, de um mesmo espaço por um grande número de usuários; a engenharia mecânica encarrega-se de fabricar automóveis cada vez mais potentes, velozes e seguros e a ergonomia preocupa-se em tornar este mesmo automóvel o mais adequado possível àquele que o utiliza. Esta ciência é aquela 18 que mais avanços tem conseguido no que se refere ao trânsito, ou seus feitos são mais visíveis. A medicina, em razão das vítimas dos acidentes de trânsito, tem tido muito mais trabalho: mais de trezentas mil pessoas chegam anualmente aos hospitais com os mais variados tipos de trauma, após os acidentes de trânsito. Os médicos também têm contribuído para evitar que pessoas venham a dirigir sem as condições físicas necessárias ou indicando adaptações nos veículos que permitam que pessoas com necessidades especiais possam dirigir. Várias pesquisas têm sido desenvolvidas também para avaliar os efeitos de drogas ou de estados físicos patológicos, eventuais ou permanentes, ou alterações decorrentes do envelhecimento como vetores de acidentes de trânsito (Evans, 2000). Torna-se necessária a participação de juristas para circulação, de comunicação e estabelecer regras de fiscalização do sistema de trânsito. Colaboram, igualmente, ao arbitrar as penalidades para os infratores destas mesmas regras, de forma a coibir a infração e desta forma, diminuir as probabilidades de risco no trânsito. Tendose tornado uma questão de segurança pública a gestão do trânsito, notadamente em nosso país, sempre esteve a cargo dos órgãos de segurança, caso do Departamento Nacional de Trânsito – DENATRAN, vinculado ao Ministério da Justiça, e dos Departamentos Estaduais de Trânsito - DETRAN, vinculados às Secretarias Estaduais de Segurança Pública. Históricamente, a fiscalização do trânsito sempre esteve a cargo da Polícia Militar e somente após a promulgação do Novo Código de Trânsito Brasileiro, com a municipalização da gestão do trânsito, esta função passou a ser assumida, também, por pessoal civil especialmente treinado para esta finalidade. 19 Um modelo clássico de definição do trânsito, baseado na interação entre os componentes desse sistema – o homem, ao veículo e a via, é apresentado por Miranda (1997), citando Petzhold (1985), que procurou estruturá-lo, dentro de uma visão sistêmica, em que estes componentes estão relacionados entre si em um contexto denominado “condições ambientais” (Figura 2). Esta construção tem como base do sistema, além do veículo, a via e as condições ambientais, cujos estímulos são processados como informações para o motorista, que responde interagindo com o veículo. A via, com suas características físicas específicas, como o tipo de terreno ou pavimento, aclives e declives, retas e curvas, e, também, com as suas características de sinalização, seja gráfica, luminosa, horizontal, vertical ou de pórticos, atua como estímulo discriminativo para as ações do motorista sobre o veículo, enquanto as condições ambientais, como as condições de tempo, umidade do ar, ventos etc, também interferem no comportamento dos motoristas. Figura 1- Modelagem do sistema de trânsito (Petzhold, 1985). homem veículo via condições ambientais No modelo proposto por Petzhold (1985), o motorista é descrito como um elemento a mais no sistema e cujos comportamentos são determinados pelas informações que recebe do veículo, da via e das condições ambientais, gozando de pouca, ou nenhuma, autonomia dentro desse sistema, condicionado que está às 20 restrições impostas pelos outros elementos, o que fica evidenciado pela própria disposição gráfica do modelo proposto. As influências ambientais ocupam, no modelo, o centro de referência para os estudos sobre o trânsito. Nesta perspectiva, o campo de ação dos psicólogos torna-se muito restrito, posto que os elementos determinantes do comportamento encontram-se em elementos “objeto” de estudo de outras ciências, como a engenharia, a ergonomia e a meteorologia. Ao contrário, podemos dizer que o homem é o principal elemento deste sistema, pois ele assume diferentes papéis, como o de motorista, de pedestre, morador, dono de estabelecimento, agente de fiscalização, gestor do sistema de trânsito, psicólogo do trânsito e, nestes papéis, seus interesses e motivações levam-no a assumir comportamentos diferentes em face da mesma situação. Preferimos, assim, concordar com Vasconcelos (1985, p.11), quando afirma: “Por tudo isso, o trânsito não é apenas um problema técnico, mas sobretudo uma questão social e política, diretamente ligada às características da nossa sociedade capitalista. Para entender o trânsito, portanto, não basta discutir os problemas do dia-adia, como congestionamentos e acidentes, é preciso analisar como o trânsito se forma, como as pessoas participam dele, quais são os seus interesses e necessidades” . 21 1.2 A Psicologia do Trânsito Barjonet (1997) define a Psicologia do Trânsito como uma área de conhecimento, de pesquisa e de ensino, mas com exceção de pouquíssimos países, ainda não tem um status acadêmico reconhecido pela sociedade e pelas autoridades públicas. Esse autor atribui aos psicólogos do trânsito a responsabilidade muito grande de contribuir para colocar as pessoas como centro da questão do trânsito, em detrimento de outras abordagens, como a ergonômica, cujo centro de atenção está mais ligado ao desenvolvimento de veículos mais seguros e estradas melhores, fruto de uma hegemonia do objetivismo na psicologia, iniciado com o desenvolvimento da psicometria , passando pela reflexologia de Pavlov e pelo behaviorismo de Watson. Para Barjonet (1997), historicamente, a primeira fase da Psicologia do Trânsito foi caracterizada como psicométrica e de seleção de motoristas profissionais. Na França, a partir de quando se iniciaram os testes psicométricos para o transporte público, verificou-se uma queda espetacular no número de acidentes. Na Espanha, já pelos idos de 1921 os condutores de trem eram submetidos a testes de atitudes. No período, a ênfase era dada às habilidades do motorista e buscava-se, sobretudo, investigar a propensão para envolver-se em acidentes (Tiffin, J. et Mccormick, E , 1969). No Brasil, o procedimento ainda se encontra em pleno vigor, como pode ser verificado no trabalho dos psicólogos que realizam o chamado “exame psicotécnico”. Os comportamentos ligados ao trânsito foram abordados pela Psicologia, inicialmente, como questões de caráter geral, ou ligados ao trabalho, abrigados, pois, no ramo da Psicologia Industrial. 22 Tiffin & Mccormick (1969), citam dados da American Safety Foudation, de 1963, em que, referindo-se ao controle de tráfego e elementos rodoviários bem como a suas relações com a segurança das estradas, no âmbito da Cleveland Railway Company, apontam fatores emocionais como principais causadores de acidentes no transporte ferroviário. Apenas quatro itens – atitude errada, impulsividade, nervosismo e medo, e preocupação e depressão – respondem por 32% dos acidentes verificado no grupo estudado. Tabela 2 - Principais causas da propensão a sofrer acidentes - Cleveland Railway Company Porcentagem Posição Errada 14 Incapacidade de reconhecer Riscos Prováveis 12 Impulsividade 12 Irresponsabilidade 10 Incapacidade De Manter Atenção Constante 8 Nervosismo E Medo 8 Visão Defeituosa 6 Doenças Orgânicas 4 Reação Demorada 4 Pressão Sangüínea Alta 4 Senilidade 2 Preocupação E Depressão 2 Cansaço 2 Atenção Mal Dirigida 2 Inexperiência 2 Outras 6 Fonte: (Tiffin, J. et Mccormick, E, 1969, p. 777). Para Barjonet (1997), num segundo estágio, nos países europeus, a Psicologia do Trânsito concentrou-se na psicologia dos usuários, no estudo do comportamento humano no trânsito, bem como do trânsito em seu aspecto geral. Esse período caracteriza-se pelo aumento do número de motoristas, no incremento do número de acidentes e no estabelecimento de políticas públicas de segurança no trânsito, bem como na utilização de campanhas educativas, o largo uso da ergonomia e da psicologia social. Notadamente nos países escandinavos, o interesse pela segurança no trânsito é revelado, 23 desde cedo, com a criação de centros de pesquisa nas universidades e nas fábricas de automóveis, cujos veículos são considerados os mais seguros pelos consumidores. Nesta época surgiram vários centros de pesquisa, tanto ligados a companhias privadas quanto ao estado, na Suécia, Alemanha, Reino Unido, Holanda, França e Espanha. Na Universidade de Helsinki, o Departamento de Psicologia criou a Unidade de Pesquisas do Trânsito, com grande produção científica (Summala, 1974). Dessa tradição derivou a iniciativa da Volvo, montadora sueca instalada no Brasil, que pioneiramente incentivou em nosso país a discussão sobre segurança no trânsito (Volvo, 1994 ). Desde então, os psicólogos têm estudado os fatores psicológicos que influenciam nos acidentes de trânsito, tendo prevalecido, durante muito tempo, a abordagem ergonômica, dedicada ao estudo dos fatores que contribuem para os acidentes: os usuários, seus veículos e o ambiente viário. O comportamento humano foi encontrado como o principal fator independente, contribuindo em 65% dos acidentes pesquisados pelo Laboratório de Pesquisa em Transportes, no Reino Unido, restando apenas 2,5 % para os fatores da estrada ou do veículo, quando considerados como “fator independente causador dos acidentes” (Brown, 1997). Este tipo de abordagem privilegia os aspectos da tarefa de dirigir e considera que a contribuição da Psicologia deve ocorrer, principalmente, na área percepto-motora, ligada à performance do motorista nas situações de julgamento e tomada de decisões. Reconhece-se que os psicólogos pouco têm contribuído na área de educação para o trânsito. Embora tenham sido feitas pesquisas sobre a influência da idade (HakamiesBlomqvist e Henriksson, 1999) e do gênero ( Tomooka, 1994) na performance dos motoristas, sobre a influência dos padrões sócio-econômicos na prática de direção de 24 jovens (Berg, Eliasson, Palmkvist e Gregersen, 1999), seus resultados não foram traduzidos em propostas efetivas de medidas educativas. Tanto isso é verdade que são poucos os programas de treinamento e educação para o trânsito nas escolas. Mesmo o treinamento específico para os futuros motoristas, amadores ou profissionais, não está baseado em programas educativos elaborados com base nos estudos feitos pelos psicólogos a respeito da tarefa de dirigir, mas, sim, é reproduzido de manuais elaborados por instrutores que muitas vezes não tem nenhuma formação acadêmica. Em alguns países, não se exige nenhum treinamento profissional para que o motorista possa se submeter ao teste para obter sua licença, ficando ao acaso da aprendizagem com pais ou amigos a preparação dos futuros motoristas (Brown, 1997). O tempo de experiência como motorista é outro fator que vem sendo investigado no campo da Psicologia do Trânsito. Lajunen e Summala (1997), utilizando a técnica de gravação “on-board”, em que se utilizam câmaras digitais para filmagem das ações do motorista participante da pesquisa, analisaram os efeitos da experiência de dirigir, fatores de personalidade, habilidade do motorista e orientação segura na regulação da velocidade e envolvimento em acidentes. Ao final, concluiu-se que a experiência do motorista , ao lado das características de personalidade, influencia o estilo de dirigir e está relacionada com a percepção que os motoristas têm de suas próprias habilidades. No Brasil, em particular, a psicologia do trânsito sempre esteve vinculada à aplicação de testes, no processo de habilitação de motoristas. Somente a partir da década de 80 passou-se a buscar a ampliação do campo de atuação dos psicólogos no sistema de trânsito, locando o profissional no campo da educação para o trânsito e da pesquisa. Até hoje, porém, a bibliografia nacional sobre o assunto resume-se ao trabalho de Rozestraten (1984, 1988). Dissertações de mestrado (Pereira, 1997; Rocha, 1998) 25 evidenciam o interesse que o tema vem despertando no meio acadêmico, tendo surgido, também, cursos de especialização nas Universidade, como conseqüência da exigência de cursos de capacitação para os profissionais credenciados pelos Departamento Estaduais de Trânsito. Partindo da definição inicial de que trânsito supõe deslocamento de pessoas e veículos, Rozestraten (1988, p. 9), define psicologia do trânsito como: “uma área da psicologia que estuda, através de métodos científicos válidos, os comportamentos humanos no trânsito e os fatores e processo externos e internos, conscientes e inconscientes que os provocam ou alteram. Em síntese: é o estudo dos comportamentos-deslocamentos no trânsito e de suas causas”. Esta definição, embora possa parecer bastante adequada, faz emergir algumas questões: não é acompanhada de uma definição do que sejam “métodos científicos válidos”, embora a obra de que provém proponha, basicamente, o método experimental. Também não especifica quais comportamentos devam ser estudados, embora o estudo do tratamento de informações oriundas do meio ambiente seja o mais enfatizado. A contribuição da psicologia para o trânsito, e de modo específico, para a redução do número e dos riscos de acidentes, assim como para a melhoria da qualidade do trânsito (não restritamente no sentido de eliminação dos acidentes, mas também da garantia do bem-estar e da saúde mental, nas situações de trânsito) é objeto de uma acirrada controvérsia. Podemos identificar neste ponto dois eixos de discussão, que resultam em reduzida contribuição desta área científica para o trânsito: de um lado, um crescente reconhecimento, da parte de pesquisadores do trânsito, da “influência” do meio “social” nas condutas em situação de trânsito. Este reconhecimento, porém, é associado a uma visão do “social” confundido com “meio ambiente natural e/ou 26 construído”. Em contrapartida, os conceitos e proposições da psicologia social dificultam, em muitos casos, uma abordagem mais técnica de problemas sociais concretos, dentre eles podemos considerar o “comportamento no trânsito”, por exemplo, resultando em análises que poderiam ser classificadas de “genéricas”, “abstratas”, ou até mesmo, ideológicas. Ao analisar o primeiro destes dois eixos, em um trabalho recente, Pereira (1997), confirma a idéia de que não basta afirmar que “o trânsito , por definição, é um comportamento social” (Rozestraten, 1988; Michon, 1989), pois o problema central está no modo como esse “social” é tratado. Mesmo reconhecendo o fator humano como principal causador (isoladamente ou associado a outros fatores) de acidentes de trânsito, na prática estas abordagens acabam por reduzir a dimensão intersubjetiva (social) a um mero contexto de comportamento individual; ou seja, embora se diga que o “social” é importante, nas análises propostas, o chamado “social” é tratado como “meio ambiente”, sem considerar que os processos tipicamente sociais, na psicologia social chamados de processos sócio-simbólicos, influenciam não apenas o comportamento dos indivíduos, mas, e principalmente, o modo como estes últimos percebem a realidade social. Pereira (1997) associa este modo à “tradição” do individualismo teórico de determinadas correntes de pensamento presentes na psicologia social, que partem de uma noção estreita do social, ao considerar os fenômenos psicológicos individuais vagamente influenciados pelo “social”. Em nosso país, a atuação do psicólogo na área do trânsito resume-se, na prática, à realização do exame psicotécnico, que consiste na aferição psicométrica das seguintes áreas de concentração de características psicológicas: a) área Percepto – Reacional , Motora e Nível Mental; b) área do Equilíbrio Psíquico; c) habilidades Específicas. 27 As áreas Percepto-Reacional e Motora, e de Equilíbrio Psíquico conhecidas como básicas na avaliação de todo condutor, são avaliadas por meio de técnicas psicológicas. Investiga-se na área percepto-motora: a) atenção, percepção, tomada de decisão, motricidade e reação, cognição e nível mental. A área de equilíbrio psíquico é aferida por meio de entrevistas e testes projetivos, buscando-se conhecer os níveis de ansiedade e excitabilidade, ausência de quadro reconhecidamente patológico, controle da agressividade, equilíbrio emocional e problemas correlatos como alcoolismo, epilepsia, drogadição, que possam contribuir negativamente para a segurança do trânsito. O Manual do Psicólogo (CRP, 1998, p.27), no capítulo "Os psicólogos e os vários campos de atuação”, traz o psicólogo do trânsito como aquele que: “Atua desenvolvendo pesquisa científica no campos dos processos psicológicos, psicossociais e psicofísicos relacionados ao problema do trânsito, realiza avaliação psicológica em candidatos a habilitação para dirigir veículos automotores, assessora no processo de elaboração e implantação de estratégias que visam a educação do trânsito, participa de equipes multiprofissionais voltadas à prevenção de acidentes de trânsito , estuda as implicações psicológicas do alcoolismo e as relações de causa e efeito na ocorrência de acidentes de trânsito, aplica e avalia novas técnicas de mensuração da capacidade psicológica dos motoristas.” Recentemente, em dezembro de 2000, o Conselho Federal de Psicologia, incluiu a Psicologia do Trânsito entre as especialidades profissionais no âmbito da Psicologia, concedendo àqueles profissionais que atuam há mais de cinco anos na área, o direito de solicitar o registro de especialista. 28 1.2.1 Os modelos psicológicos de estudo do trânsito As teorias científicas têm como objetivo explicar os fatos, os fenômenos relacionados e fornecer subsídios capazes de apoiar uma previsão de eventos relacionados com estes mesmos fatos. Tais teorias devem ter consistência, serem verificáveis, ou, em termos formais, serem falsificáveis, podendo ser aplicadas independentemente do tempo e do espaço. As três últimas décadas foram bastante férteis nesse campo, com muitos experimentos e investigações sendo realizados em busca de respostas para muitas questões e algumas soluções para partes do problema. Muitos modelos foram desenvolvidos, como Näätänen e Summala (1976), Michon (1985), Wilde (1988) e Rozestraten (1988), sendo que as teorias que colocam o risco como a chave para a explicação do comportamento do motorista tiveram excepcional crescimento. 1.2.1.1 Modelos clássicos Rozestraten (1988) apresenta-nos uma síntese de dois modelos behavioristas de análise da situação do trânsito: um modelo restrito e outro mitigado. O denominado bevariorista restrito (Figura 2), considera o comportamento no trânsito, como qualquer outro comportamento, governado totalmente pelos estímulos externos: do meio ambiente geral, do ambiente contextual do trânsito, do veículo ou pelos estímulos provenientes do próprio organismo; estado geral do organismo, fadiga, informações cinestésicas etc. Neste modelo, a aprendizagem aparece como um importante fator, posto que, se o motorista reage de determinado modo a um dado 29 estímulo e tem sucesso, então sua resposta é reforçada e torna-se mais freqüente. O ambiente geral e social é definido como estímulos que não têm uma relação direta com o comportamento de dirigir, valorizando os estímulos mais estreitamente relacionados com a situação específica, como aqueles derivados da sinalização viária e dos outros veículos além dos estímulos advindos do próprio veículo dirigido pelo motorista. Esses estímulos são captados pelos sentidos e transformados em impulsos nervosos que, levados a determinadas áreas cerebrais, desencadeiam o comportamento. Figura 2– Modelo behaviorista restrito (Rozestraten, 1988) No modelo denominado por Rozestraten de “mitigado” (Figura 3), assume-se, também, o comportamento de dirigir, como uma seqüência de estímulos e respostas, como no primeiro. Porém, neste modelo admite-se a existência de um “organismo” dotado de alguma influência nas respostas, isto é, no comportamento, por força de 30 “variáveis intervenientes” tais como: limiares sensoriais, impulso, motivação, incentivo, inibição, experiência, aprendizagem, memória, hábito, reforços anteriores, limiares reacionais , estruturas comportamentais e traços de personalidade. Apesar de extensa, a lista de variáveis intervenientes pode ser reduzida a dois itens: aprendizagem e traços de personalidade, o que deixa pouca margem para uma abordagem psicossocial do trânsito como uma prática social complexa. Nesse caso, ou a aprendizagem anterior, um processo individual de experiências positivas ou negativas de respostas aos estímulos, determina o comportamento, ou fatores ou traços de personalidade, também atributos individuais, o explicam. Depreende-se, pois, neste modelo, o contexto social é praticamente ignorado Figura 3– Modelo Behaviorista Mitigado (Rozestraten, 1988) 1. 2.1.2 Modelos atuais de influência cognitivista No modelo cognitivista (Figura 5), apresentado por Rozestraten (1988), a tomada de informação e seu processamento, a tomada de decisão, a ação e feedback são as etapas identificadas como a seqüência que configura o comportamento. Neste processo, há maior complexidade , não se resumindo a simples modelo E-R ou E-O-R e 31 admite-se que atitudes e normas, conceitos e emoção, também podem influenciar o comportamento, ao lado dos fatores puramente sensoriais ou mnemônicos. Estes modelos baseiam-se no processo de tratamento de informações que se inicia com a detecção, avaliação, discriminação e identificação de estímulos que depende da aprendizagem. O passo seguinte , o tratamento da informação, implica a atribuição de significado aos estímulos e também a compreensão da situação. Ambos, significação e compreensão, decorrem da aprendizagem anterior. Figura 4– Modelo Clássico Cognitivista aplicado ao trânsito (Rozestraten, 1988) Nesta etapa ocorre também a avaliação, processo de comparação de experiências anteriores de cálculo de distância e velocidade, bem como, da força de frenagem ou da capacidade de manobrar o veículo, determinada pelos recursos disponíveis no veículo, como freios especiais, direção hidráulica etc. Com base nestas comparações, pode-se fazer previsões a respeito dos próximos eventos. Uma terceira 32 etapa é a tomada de decisão, ou julgamento, ocasião em que, rapidamente, são pesadas todas as informações processadas até o momento e toma-se determinada decisão, que poderá ser afetada, também, por outros fatores, tais como: o descontentamento, o desprezo pelas leis, o sentimento de impunidade, a agressividade, problemas existenciais etc. Somente neste ponto é que podemos perceber a reação do motorista, seu comportamento observável, tais como como acelerar, freiar bruscamente, colar na traseira do outro veículo, desrespeitar o semáforo, parar sobre a faixa de pedestre ou dirigir adequadamente, comportamentos que serão reforçados ou punidos, conforme a situação. A teoria da compensação do risco, proposta por Wilde (1995), originalmente denoninada Risk Homeostasis Theory””, sustenta que fatores motivacionais de utilidade subjetiva determinam os níveis de aceitação de risco: 1- Os ganhos esperados do comportamento de risco, como chegar mais cedo correndo mais ou fazer uma manobra inesperada para ter uma sensação nova. 2 - As perdas esperadas do comportamento de risco, como despesas advindas do desenvolvimento de uma velocidade incompatível com o piso da rodovia (buracos). 3 - Os ganhos esperados em razão do comportamento seguro, como a tarja dourada na Carteira de habilitação quando não se cometeu infrações. 4 - As perdas esperadas do comportamento seguro, como o desconforto causado pelo uso do cinto ou ser chamado de “lerdo” pelos outros motoristas. De acordo com esta teoria, quanto maiores os valores de 1 e 4, maior é o nível de risco aceito, enquanto esse nível diminui na medida em que aumentam os valores de 2 e 33 3. Fatores de natureza cultural, econômica, social e psicológica motivam as escolhas dos motoristas e esse processo é subjetivo, não consciente. Fatores econômicos interferem na escolha da velocidade e podem ser exemplificados pelo caso dos transportadores de cargas, perecíveis ou não: como a receita é baseada na relação tonelada por quilômetro rodado, espera-se ganhar mais rodando mais quilômetros em menor tempo, em detrimento da segurança. Se o transportador calculasse os gastos que terá com a manutenção do veículo, gastos com peças de reposição e dias parados, poderia aumentar o nível da categoria 2 e 3 e diminuir a velocidade. Porém esse cálculo, na maioria das vezes, não é realizado, e o comportamento é determinado por uma motivaçào imediatista de lucro. Alguns participantes do sistema de trânsito, por seu turno, não têm como efetuar essas escolhas, como, por exemplo, o usuário de transportes públicos ou mesmo os passageiros de veículos particulares. Se o nível de risco subjetivo de acidente for igual a zero, não haverá mobilidade, não haverá nenhum ganho e nenhuma perda e, por esse motivo, há sempre um nível de aceitação de risco quando o motorista decide pegar o seu carro e ir a algum lugar. As pessoas não apresentam, contudo, o mesmo nível de risco assumido. Há determinados grupos, como, por exemplo, jovens motoristas e motoristas idosos, mulheres e homens, que apresentam maior uniformidade de nível de risco: jovens assumem maior nível de risco que os motoristas mais idosos e mulheres assumem menor nível de risco que os homens (James & Nahl, 2000). Em função desse tipo de teoria, campanhas vêm sendo desenvolvidas no sentido de incentivar financeiramente os motoristas, procurando aumentar o nível das 34 categorias, como é o caso das empresas de seguro que oferecem bônus aos motoristas que não utilizam seus serviços durante a vigência do primeiro contrato e oferecem descontos às mulheres, por serem elas, reconhecidamente, mais cautelosas que os homens. Esses descontos também variam de acordo com a idade dos motoristas. Segundo percebemos, apesar de reconhecer os fatores sociais como intervenientes na determinação do nível de risco, são destacadas as características individuais de personalidade como determinante do comportamento do motorista e enfatizado mais o aspecto da mobilidade que o veículo propicia em detrimento de outros aspectos motivacionais ligados ao uso do sistema de tráfego. Outra abordagem, a teoria do risco zero, em relação ao conceito de risco, foi apresentada por Näätänen & Summala (1974, 1976). É assim chamada porque, segundo estes autores, o motorista adapta-se aos riscos na mesma medida da sua experiência. Assim, o noviço, sendo inseguro, assume menos riscos, mas, na medida em que se torna experiente, passa a sentir-se mais seguro e passa a assumir mais risco. O motorista experiente, quando é colocado diante de uma situação não usual, volta a atuar como noviço, como, por exemplo, numa situação de perda momentânea do controle do veículo, por irregularidades no piso da rodovia, tende a diminuir a velocidade no momento imediatamente subseqüente, assim permanecendo por algum tempo, até voltar a sentir-se novamente seguro. A atribuição deste limiar tão alto de risco está nos erros de avaliação, aspectos motivacionais e também ao fato de, quando se envolve numa situação percebida como de risco, geralmente consegue eliminar o risco, sem maiores problemas. Neste sentido, Sumalla ( 1988) relata que um motorista finlandês está sujeito a envolver-se num acidente fatal, em média, uma vez a cada 40 milhões de quilômetros, ou seja, uma vez a cada 1600 anos. Isto justificaria o fato de que o motorista, não tem, na verdade, motivos para preocupar-se muito com sua segurança no tráfego. 35 Esses autores concluem que a percepção de risco é igual a zero, isto é, o motorista não percebe o curso do comportamento de risco, cabendo, por consequüência, aos gestores do sistema de tráfego controlar as condições, principalmente de velocidade, para diminuir as situações de risco. Desta forma, de um lado, aumentam-se as medidas de controle do comportamento do motorista, com o incremento dos sistemas de vigilância para o controle da velocidade (radares fixos e móveis), do respeito aos semáforos (fotossensores), marcações salientes no piso da via para evitar a mudança de faixas de trânsito ou duplicação das principais estradas e, de outro, busca-se facilitar, cada vez mais, a atividade do motorista, construindo-se veículos com aporte cada vez maior de tecnologia, providos de recursos como direção hidráulica, câmbio automático, sistemas de freios anti-travamento de rodas, controle eletrônico de estabilidade, airbags, sistemas de navegação por satélite etc. Fuller (1997), desenvolveu outro modelo, que ele mesmo considera como um desdobramento da teoria do risco zero, justamente por encontrar um ponto dissonante naquela teoria: como considerar a percepção do risco como determinante do comportamento de dirigir, se a percepção do risco é igual a zero? Na maior parte do tempo o motorista realiza manobras para evitar acidentes, então ele raramente terá oportunidade de perceber uma situação real de acidente, a não ser quando se envolve em um. Então para este autor, o que determina o comportamento do motorista é a “evitação da ameaça”, sendo que estas reações antecipadas de ameaça são reforçadas quando os acontecimentos seguintes deixam claro que a manobra realizada realmente foi necessária para evitar um acidente, como, por exemplo, quando o motorista, ao perceber um pedestre adentrando a faixa, freia e consegue parar o veículo a centímetros de distância deste, fica evidente que caso não realizasse esta manobra, poderia atropelá-lo. Assim, este modelo não relaciona as ações do motorista 36 diretamente com o acidente, mas com um ambiente potencialmente perigoso, ao qual ele reage em diversos momentos, concluindo que são necessárias medidas de segurança, tanto no campo da ergonomia dos automóveis quanto no campo da formação do motorista, para informá-los e treiná-los para conhecer e identificar perigos potenciais no meio ambiente. Michon (1979, 1985) formulou um modelo de risco chamado hierárquico, derivado da concepção de que a direção é uma atividade hierarquicamente estruturada. Desta maneira, propõe descrever a percepção, julgamento e tomada de decisão em cada nível da tarefa: a) o primeiro nível é o estratégico, de preparação do trajeto; b) o nível tático envolve ações como uma ultrapassagem, por exemplo, e está relacionado com certo limiar de risco assumido; c) o nível operacional envolve manobras para ajustar o veículo ao tráfego, em função da velocidade ou manobras para enfrentar um ameaça repentina. Este modelo acentua a representação mental envolvida no planejamento da atividade. Os modelos anteriores têm em comum o fato de enfatizarem, principalmente, o aspecto “motivacional”, no sentido de que o motorista regula seu comportamento em função do nível de risco ou do nível do seu objetivo, assumindo que algum tipo de referência interna controla o comportamento de dirigir de cada indivíduo. Saad (1988) considera insuficientes estes modelos para explicar o comportamento dos motoristas no trânsito, chamando a atenção para os processos de recepção e processamento de informações e a representação mental que está intimamente ligada a esses processos. Em pesquisas conduzidas no Instituto de Pesquisas de Segurança do Trânsito (INRETS), na França, Saad (1997) apresenta-nos um modelo, baseado na análise de 37 aspectos cognitivos da atividade do motorista, desenvolvidos para incrementar o conhecimento da atividade do motorista e identificar e avaliar medidas que venham a facilitar a adaptação do condutor às condições viárias, principalmente, na elaboração de infra-estrutura viária ou de novos sistemas de suporte aos motoristas. Saad (1997), em estudo de profundidade a respeito da atividade do motorista, em situações reais de direção, utiliza duas técnicas: a observação com gravação instantânea do comportamento do motorista em duas situações, num cruzamento de estradas na zona rural e dirigindo numa via urbana; relatos verbais e entrevista posterior à observação. A autora sustenta que este modelo de análise da atividade do motorista pode levar a um conhecimento mais detalhado das reações do motorista diante de situações que ele não pode alterar, contribuindo para o desenvolvimento de sistema de apoio ao condutor, como, por exemplo, um protótipo de Controle de Navegação Autônomo e Inteligente. No contexto das “abordagens” cognitivistas, um aspecto importante a salientar é justamente o da necessidade da psicologia no trânsito, dado que a própria tarefa de “dirigir” é uma tarefa complexa e relativamente pouco estruturada (Saad, 1975, 1996b, 1997; Neboit, 1982). Segundo Saad (1996b, 1997) esta tarefa é complexa devido: a) à adaptação que exige, frente à diversidade das situações de tráfego - em especial, nas rodovias – sobretudo na adapatação associada aos limites e características temporais e dinâmicas, relativos às necessidades de deslocamento do motorista, em interação com as necessidades dos outros usuários do sistema viário; 38 b) à diversidade de “sub-tarefas” ou de tarefas, no sentido ergonômico e cognitivo, e à dificuldade da organização e controle destas tarefas, ao longo do deslocamento; c) da parte do condutor, às incertezas e “riscos” que revestem a gestão das intersecções múltiplas com seu veículo, de um lado, e com a estrutura viária e os outros condutores, de outro lado. Estes traços indicam, de modo claro, a consistência de complexidade de que a tarefa de “dirigir” é dotada. Pode-se, também, destacar os elementos que configuram esta tarefa como pouco estruturada (Saad, 1996b, 1997): primeiramente. O fato da “tarefa formal” somente ser definida de modo parcial, no tocante às condições a serem levadas em conta e aos procedimentos a serem efetuados; secundariamente, é preciso salientar que as informações necessárias à gestão (organização e controle) são, na sua maioria, do tipo informal; finalmente, considerando as atuais condições de formação, mesmo em países desenvolvidos, como França e Inglaterra (Groeger & Grande, 1991), o essencial desta formação se faz in loco, de modo que a aquisição dos conhecimentos e estratégias ocorre de maneira “pouco controlada”, por meio da ação e da experiência, em diferentes situações. Neste sentido, pode-se falar de uma tarefa prescrita (o que deve ser feito pelo motorista em dada situação), de uma tarefa redefinida (o que o motorista pensa que deve ser feito) e uma tarefa atualizada (o que o motorista efetivamente faz). O programa de pesquisa, nesta perspectiva, analisa os conhecimentos do motorista, a representação de diferentes situações viárias e as estratégias de controle adotadas. 39 1.2.1.3 Em busca de um modelo psicossocial de estudo do trânsito Todos os modelos de análise apresentados até aqui têm, apesar das contribuições importantes para o conhecimento do assunto, algumas limitações em comum: a abordagem individualista de um fenômeno social, a análise do trânsito com base apenas na tarefa de dirigir, o enfoque nas relações do motorista com o veículo e com a via. Embora alguns autores façam referência ao “ambiente”, ao meio, às condições sócio-econômicas do motorista, sua idade, seu sexo, trata-se mais de uma referência puramente demográfica, distante de uma análise do fenômeno baseada numa perspectiva psicossocial. Falta a estes estudos ampliar a análise do fenômeno. Citando Pereira (1997, p. 67): “O condutor tem suas ação no trânsito construída pelo meio social do qual faz parte. Meio este que não é apenas o espaço físico da circulação, mas também o dos costumes, regras, valores que faz parte (sic). Sua ação é praticada num contexto formal e informal de regras/leis e valores”. Grande parte dos estudos realizados no mundo inteiro são unânimes na conclusão de que o comportamento humano é responsável pela quase totalidade dos acidentes. No Brasil, 53/% dos condutores de automóveis terminam por se envolver em acidentes com vítimas. Entretanto, estes estudos tendem a enfocar esses comportamentos com base em explicações cujo paradigma encontra-se mais no campo da psicologia da personalidade e da fisiologia que no campo da psicologia social. A perspectiva sociológica de análise do fenômeno reconhece o trânsito como meio coletivo de consumo e espaço de disputa entre atores sociais com interesses e necessidades conflitantes e com diferentes possibilidades de acesso e segurança a esse 40 meio, como estar nele dirigindo diferentes modelos de veículos, como passageiros dos sistemas públicos de transporte ou como pedestres. Tende a explicar o comportamento do indivíduo no trânsito como resultado de uma relação deste mesmo indivíduo com o automóvel (Morin, 1997, citado por Pereira, 1997). Partem daí as interpretações populares a respeito do automóvel como arma ou como jóia. Por seu turno, Barjonet (1984) propôs uma análise psicossocial do risco, afirmando que a variação do risco dos motoristas oscila segundo sua situação social. As classes sociais mais abastadas, que podem adquirir veículos mais possantes e seguros, expôem-se mais ao risco. Um dos primeiros autores a abordar o trânsito a partir de uma visão psicossocial foi Michon (1974), que propôs a existência de quatro aspectos de níveis de confrontação do motorista com o trânsito, todos interdependentes: a) o homem, ser psico-biológico, com suas necessidades básicas; b) o homem, ser social, com suas atividades sociais, de comunicação e inserido no sistema de transportes; c) o homem consumidor, que necessita deslocar-se no sistema viário; d) o homem participante do trânsito, em interação com o veículo e com a sinalização do trânsito. O mesmo autor, esboça um modelo de análise em três níveis: estratégico (planos gerais de navegação e direção); tático (padrões controlados de ação) e nível de controle (automatização da ação) e reconhece, no primeiro nível, a influência de opiniões e atitudes na tarefa de dirigir Este autor introduz o social na análise do trânsito, porém, ainda de forma muito incipiente, não faz referência às interações sociais presentes no trânsito, ficando tão somente no campo motivacional. 41 Recentemente, Pereira (1997) abordou as representações sociais das ações dos condutores sobre a prática no volante do automóvel, pretendendo demonstrar que a ação dos condutores no trânsito articula-se com as representações sociais e que normas sociais do tipo “jeitinho brasileiro” e certeza de impunidade são fatores que afetam de modo agudo as ações desses condutores. Além disso, a propaganda do automóvel enfatiza a cultura da difusão e consumo do automóvel, em detrimento de informações científicas voltadas para o desenvolvimento de uma cultura de segurança no trânsito. A autora resume assim o seu interesse pelo estudo do trânsito como uma situação social: “Comecei a querer compreender o condutor no conjunto de suas relações sociais, para, daí, conhecer suas ações no trânsito naquilo que lhe é ‘específico’ e no que é decorrente do ‘meio social’” ( Pereira, 1997, p.12). A autora acredita, como relata, que “a ação do condutor é construída historicamente, ele não é um ser que se produz a si mesmo” e que, ao comportar-se no trânsito, o indivíduo não se relaciona apenas com o mundo natural e construído, com os estímulos provenientes do meio ambiente e do veículo, mas relaciona-se, também, com “uma ordem cultural e social específica”. Neste sentido, buscou respostas para algumas questões relacionadas ao condutor em foco, como: “O que pensam? Quais os valores, as crenças que os condutores têm sobre suas ações no volante? (Em especial quando avançam no sinal vermelho, dirigem alcoolizados, fazem manobras indevidas etc)”. Destacamos, da autora: “Reconstituindo os estudos junto as ações dos condutores, chama atenção que, ao longo dos últimos 50 anos, vem se consolidando o reconhecimento da realidade social na construção das a’~oes dos condutores no trânsito (Pereira, 1997, p.60 ). 42 Esta concepção contrasta, frontalmente, com os modelos behavioristas, que colocam no indivíduo, com sua aprendizagem anterior determinando suas reações ao ambiente natural e construído, o referencial para a explicação do trânsito, reduzindo-o a um fenômeno natural. No estudo sub oculis foram utilizados vários instrumentos de coleta de dados, como questionários e análise de conteúdos de jornais , com o escopo de levantar a representação social das ações dos condutores e o conteúdo difundido sobre o assunto, concluindo que as ações dos condutores: “simbolizam uma síntese da estrutura social (relações sociais) existentes no cotidiano da sociedade Brasileira. Os condutores “Loucos”, “Barbeiros”, “Donos da Rua”. Escravos do Relógio”, “Despreparados Psicologicamente”, “Animais” e “Assassinos” são somente uma peça da engrenagem do sistema social, em que cada um faz o que quer e tenta escapar como pode. Ou seja, a ação dos condutores é o reflexo do que ocorreu na sociedade brasileira, en função do desenvolvimento nos últimos quarenta anos”.(Pereira, 1997, p. 111) Segundo a autora, o estudo comprova que os “os condutores apresentam um pensamento parcial e fragmentado da totalidade da realidade do trânsito” e que tendem a dar muita ênfase às ações individuais, em detrimento dos fatores ambientais e culturais existentes em suas próprias ações. O ambiente social, suas normas sociais informais, e, particularmente, o chamado “jeitinho brasileiro” aliados a valores relacionados a um certo culto ao automóvel , influem decisivamente nas ações dos condutores, o que é confirmado em outro contexto, também identificado por Marsh e Collet (2000), A autora, ao constatar que “as representações sociais variam conforme a experiência dos condutores no trânsito”, uma vez que o grupo próximo do poder público (profissionais do trânsito), responsável pelas ações dos condutores, apresentou maior percepção do cumprimento das leis, enquanto os demais grupos não percebem a 43 importância do cumprimento das leis nas ações. Identifica, ainda, uma representação do motorista “bom e responsável” como sendo aquele que dirige com atenção e defensivamente e respeita o próximo. Esta representação é encontrada, principalmente, entre os motoristas em processo de habilitação. Na mesma direção, o presente trabalho pretende trazer novas contribuições ao estudo do trânsito como uma prática social complexa, aprofundando o estudo de Pereira (1997), voltando-se em direção à compreensão dos componentes simbólicos envolvidos na determinação do comportamento dos motoristas, a partir da referência fornecida pela Teoria do Núcleo Central das Representações Sociais, tal como a propõe Abric (1976). De fato, pretendemos incluir este fenômeno social - pelo que já foi apresentado nos tópicos anteriores - no rol de fenômenos capazes de ocupar um lugar dentre as temáticas gerais que já vêm sendo abordadas a partir deste referencial e relacionados por Sá (1998): a relação entre a ciência/erudição e o pensamento popular/representação social, o binômio saúde/doença, o desenvolvimento humano , a educação, o trabalho, o estudo das comunidades e exclusão social. As implicações sociais do fenômeno parecem-nos suficientes para atender a um dos requisitos enunciados por Moscovici (1984), quando se refere ao objeto de estudo da Teoria das Representações Sociais: “As representações em que estou interessado não são as de sociedades primitivas, nem as reminiscências, no subsolo de nossa cultura, de épocas remotas. São aquelas da nossa sociedade presente, do nosso solo político, científico e humano (...) Moscovici, 1984, citado por Sá (1998, p. 49). A relevância social ou acadêmica do objeto é outro requisito para que seja caracterizado como passível de investigação, como citado por Sá (1998) que, segundo nosso ponto de vista, está amplamente demonstrado no presente estudo. 44 1.3 O estudo do trânsito como prática social complexa 1.3.1 A teoria das representações sociais e a teoria do núcleo central Moscovici, em sua obra La psychanalyse, son image et son public, de 1961, lança as bases da Teoria das Representações sociais, a partir de um estudo do impacto da Psicanálise no senso comum do parisiense da década de 50, em que pesquisou a representação social, ou senso comum, do universo reificado da teoria e da prática psicanalítica. Dizia, em poucas palavras: “a representação social é uma modalidade de conhecimento particular que tem por função a elaboração de comportamentos e a comunicação entre indivíduos” A partir desta primeira definição de representação social a teoria permaneceu por mais de uma década em “incubação”, tempo suficiente para que um pequeno, porém, persistente grupo, desenvolvesse uma série de trabalhos de pesquisa dentro de novos paradigmas, distantes do centro dominante da Psicologia Social individualizante, situado nos Estados Unidos da América. A Teoria das Representações Sociais é uma das correntes que não se conforma à Psicologia Social tradicional – aquela psicologia social hegemônica, que se colocava num polo psicologizante, buscando apenas no indivíduo e em suas características a explicação dos fenômenos sociais - mas que procura uma psicologia social preconizando que é na interação social que se encontram os elementos suficientes para a compreensão desses fenômenos ou mesmo de comportamentos que, mesmo individuais, têm sua gênese e eclosão no meio social. 45 Por esse motivo, a Teoria das Representações Sociais é invocada como uma “ Psicologia Social mais social” (Tajfel, 1981), aliada à concepção da Psicologia Social como uma disciplina mista, uma intersecção entre a Psicologia e as Ciências Sociais, que aparece em vários momentos, como, por exemplo, em Farr (1998, p.31): “A Teoria das Representações Sociais é uma forma sociológica de Psicologia Social, originada na Europa com a publicação, feita por Moscovici (1961de seu estudo La Psychanalyse: Son image et son public. Ela difere marcadamente das formas psicológicas de Psicologia Social que são atualmente predominantes nos Estados Unidos da América” . A ancestralidade desta teoria repousa, justamente, na Sociologia, tanto quanto na Psicologia. O estudo de Durkheim, ao afirmar que as representações coletivas, não poderiam ser reduzidas a representações individuais e seriam campo de domínio da Sociologia, abriu caminho para que, muito mais tarde , Moscovici viesse a propor esta abordagem dentro da Psicologia Social, afastando-a da Psicologia para aproximá-la da Sociologia. No âmbito da Psicologia é imprescindível citar a contribuição de Mead, que enfatizou a importância da linguagem para a compreensão da natureza humana por ser uma característica que distingue o homem dos animais e por ser um fenômeno essencialmente social. Segundo Farr (1998), além de Mead, também Wundt, Le Bon e Freud têm contribuições a serem notadas na pré-história da Teoria das Representações Sociais. Podemos, assim, chegar a um conceito da Teoria das Representações Sociais como uma perspectiva psicossociológica do conhecimento que articula dinamicamente a realidade objetiva e subjetiva, os fenômenos individuais e coletivos, psicológicos e 46 sociais. É a teoria que concebe a existência do conhecimento adquirido através do senso comum, da prática. Senso comum que tanto é produzido pelos membros do grupo, ancorados no consenso e na tradição, quanto resulta de imagens mentais e de universos reificados, transformados para o cotidiano racional e legitimado pela ciência. A representação social é tanto uma teoria quanto um processo. Jodelet (1986), assim se refere à representação, como um processo de elaboração cognitiva, de conteúdo simbólico, capaz de relacionar esses processos com a conduta Aquilo que um grupo elabora como uma tarefa a ser executada define objetivos e comportamentos particulares para cada um dos membros desse grupo. Esta é uma forma primária de representação social, que incide de forma imediata no comportamento social e na organização dos grupos, chegando mesmo a alterar seu funcionamento cognitivo. Entretanto, as representações sociais aparecem de forma mais complexa e variada: imagens condensadas de um conjunto de significados; sistemas de referência que nos permitem interpretar o novo; categorias classificatórias de circunstâncias, fatos ou indivíduos. Desta forma, novos conceitos de representações sociais vão sendo agregados à teoria: uma maneira de interpretar e pensar nossa realidade social, uma forma de conhecimento, bem como a atividade mental empregada por indivíduos e grupos para se situarem numa dada situação ou fato, em relação a um objeto ou comunicação em que estejam engajados. A representação social, ou conhecimento do senso comum, pensamento ingênuo ou natural, constitui-se a partir da experiência , das informações, conhecimentos e 47 modelos de pensamento recebidos por meio da tradição, da educação e da comunicação social. Por outro lado, as representações sociais, além de serem “conhecimento socialmente elaborado e compartilhado” também são “conhecimento prático”, na medida em que dão sentido a acontecimentos e atos, tornando-os habituais, forja uma realidade consensual, participam da construção social da mesma realidade. Para Moscovici (1961), este conhecimento situa-se no plano central da psicologia do conhecimento, assim como a ciência, o mito, a religião e a ideologia. O ato de representar, elemento básico da Teoria das Representações Sociais, consiste em substituir um objeto, pessoa, acontecimento ou idéia, por uma imagem que facilite ao indivíduo ou grupo a comunicação com o objeto representado. Representar é duplicar o objeto na mente, a partir de referenciais socialmente compartilhados. O objeto representado tem duas dimensões indissociáveis: a dimensão da figura, pela qual se delineia a imagem e a dimensão do sentido, pela qual se delineia o significado. Em resumo, para Jodelet (1986), a representação tem as seguintes características fundamentais: um objeto; uma imagem e propriedade de intercâmbio de sentido e idéia, de percepção e objeto; um caráter simbólico e significante; um caráter construtivo; um caráter autônomo e criativo. Podemos dizer que representar é uma ação mental, cognitiva e imagética, que não consiste simplesmente em replicar o objeto (Abric, 1998), mas reconstituí-lo atribuindo-se-lhe um significado, dependente da dinâmica representacional do grupo de pertença daquele que representa. Assim sendo, o ato de representar não decorre da 48 vontade do indivíduo, mas é parte da teia de representações do grupo e os significados atribuídos ao objeto, novo ou velho, são variáveis dependentes desta mesma teia. O ato de representar é imagético quando o indivíduo, frente a um objeto que se apresenta sob a forma lingüística, utiliza-se de um processo de representação que busca ligar esse objeto abstrato a algo que lhe seja concreto, sólido, que tenha forma. Por outro ângulo, é cognitivo, quando o objeto é classificado, denominado, com base num esquema de pensamento e linguagem pré-existentes, numa “incorporação de novos elementos de saber em uma rede de categorias mais familiares”(Doise, 1990). A representação social tem uma função básica: a integração do novo. A objetivação é o processo por meio do qual se dá essa integração, por meio da articulação dos conhecimentos relativos ao objeto com uma característica do conhecimento social, tornando concreto aquilo que era abstrato. A objetivação é uma operação formadora de imagens e é estruturante, ou a materialização do significado. Nesse processo, o indivíduo tenta dar forma a um sentido, buscando tornar o conteúdo linguístico do objeto estranho em algo familiar, pertencente ao universo de conhecimento já estabelecido, enraizado, materializado. Este processo pode ser chamado, também, de iconização. A ancoragem é o outro processo pelo qual se dá a representação social ou o enraizamento da representação e de seu objeto. A ancoragem está ligada não só ao significado mas também, utilidade que são conferidos ao objeto e à integração cognitiva do objeto ao sistema de pensamento preexistente. O processo de ancoragem é cognitivo, verbal, consistindo em atribuir significados que já fazem parte do patrimônio linguístico do grupo a uma figura nova, um novo objeto que ainda não se tornou real, que ainda não foi classificado dentro do quadro referencial do grupo, do ponto de vista 49 dos significados. Embora se apresente sob forma/figura, precisa transformar-se em símbolo. Abric (1984), respondendo às inúmeras críticas à Teoria das Representações Sociais, encetou uma série de experimentos sobre as relações entre as representações sociais e comportamentos. A partir destas pesquisas sobre a estrutura interna e a dinâmica das representações, desenhou a Teoria do Núcleo Central das Representações sociais. Para Abric (1989), uma representação é formada por um conjunto de informações, crenças opiniões e atitudes sobre determinado objeto social. Este conjunto constitue-se numa estrutura que está organizada em torno de um núcleo central. Esse núcleo central, também chamado núcleo estruturante, é o elemento fundamental da representação e é um sistema sociocognitivo. O núcleo central , determinado pela natureza do objeto, das relações que o grupo mantém com este mesmo objeto e pelo sistema anterior de normas e valores deste mesmo grupo, assume duas funções: a) uma função geradora, que cria ou transforma o significado dos outros elementos constitutivos da representação; b) uma função organizadora, que determina a natureza das ligações entre os elementos da representação. Por outro lado, dadas as suas características de núcleo estruturante, assume uma propriedade estabilizadora e unificadora da representação, para que esta permaneça inalterada em situações de mudança, uma vez que somente uma modificação do núcleo central irá modificar uma representação. Isto nos autoriza afirmar, com certeza, que duas representações serão diferentes na medida em que os elementos dos seus núcleos centrais forem diferentes, não somente em seu conteúdo, mas também em sua estrutura, 50 conforme demonstra Campos (1998) em estudo sobre as representações sociais de “meninos de rua “. Assim, não serão apenas aspectos quantitativos que apontarão determinados elementos de uma representação como constituintes do seu núcleo central, mas, também, o fato de esses elementos contribuírem para dar significado à representação e sua conectividade com os demais elementos constituintes da representação. A partir das pesquisas de Abric, surgiram outros estudos, como os de Flament (1994), a quem o próprio Abric atribui o mérito de complementar sua teoria ao demonstrar o importante papel do elementos periféricos no funcionamento da representação. Os elementos do sistema periférico, ou sistema periférico, a exemplo do núcleo central, também assumem importantes funções no sistema representacional: a) uma função concretizadora, responsável pela interface entre núcleo central e a situação concreta , permitindo maior compreensão e transmissão do significado da representação; uma função reguladora, que permite à representação uma adaptação às evoluções do contexto, mediante a incorporação de novas práticas ou alterações no meio ambiente em que, em que elementos estranhos à representação são integrados, sem alterar o núcleo central; uma função de defesa, em que os elementos do sistema periférico funcionam como “pára-choque (Flament, 1994) do núcleo central, permitindo que alguns elementos periféricos sejam alterados ou substituídos, embora mantendo a estrutura central da representação ou retardando sua modificação. Nesse sentido, ainda no entender de Abric (1998), Flament (1994) consideraria, na verdade, os elementos periféricos como “esquemas” desenvolvidos pelo núcleo central, com algumas características específicas: a) como prescritores de comportamento, funcionando como orientação instantânea de ações em uma data 51 situação, sem que haja acionamento direto dos processos sócio-simbólicos do núcleo central; b) a de permitir modulação personalizada das representações, em que condutas individuais possam apresentar diferenças contextuais específicas, sem, entretanto, conflitar com os elementos constitutivos do núcleo central; c) a de proteger a estrutura central da representação, segundo um processo definido, como uma racionalização permissiva de uma contradição temporária, em que “esquemas estranhos” possam ser tolerados como uma excepcionalidade, sem, entretanto, afetar a “normalidade” determinada pelo núcleo central da representação. Esboça-se, desta forma, uma abordagem complementar à Teoria das Representações Sociais, hoje chamada Teoria do Núcleo Central das Representações Sociais, constituindo-se num importante referencial para os pesquisadores sociais no Brasil, não somente no campo da Psicologia Social, como também em outros campos do conhecimento. Esta teoria representa uma possibilidade de acesso mais concreto à grande teoria que busca complementar, o que é explicitamente colocado por seus elaboradores e está intimamente ligada a uma dimensão experimental que lhe confere um caráter peculiar diante da grande teoria, na tentativa de encontrar a objetividade que os críticos negam à teoria de Moscovici (Sá, 1996). Um importante elemento descrito por Abric é o da reatividade, que seria determinante dos comportamentos na medida em que estrutura a situação tal como ela é representada. A idéia de centralidade pode ser encontrada no núcleo figurativo, na teoria original. 52 O núcleo central pode assumir duas dimensões: - funcional, quando em uma determinada situação de tarefa, os elementos mais importantes para esta finalidade serão salientados; - normativa, quando são salientados elementos estereotípicos ou uma norma, com dimensões sócio-afetivas, sociais ou ideológicas. Ainda, segundo Abric (1994), é preciso dar conta de algumas contradições características das representações sociais, ao mesmo tempo estáveis e imóveis, flexíveis e móveis; consensuais, porém com diferenças interindividuais. Aceita-se, portanto, que numa representação social coexistam um sistema central, ou núcleo central, marcado pela memória do grupo, uma base comum, de certa forma independente do contexto social e material mais imediato, e um sistema periférico, que representa elementos mais imediatamente ligados à realidade , que torna concreta a representação, dando-lhe a flexibilidade e a mobilidade necessárias à integração do objeto, bem como permite uma certa individuação da representação, que, entretanto, nunca será contraditória ao núcleo central. 1.3.2 Os modelos de estudo das práticas sociais De acordo com Campos (1998) uma questão que tem fustigado insistentemente os pesquisadores das práticas sociais e das representações sociais é: as práticas determinam as representações ou ocorre o inverso? Aceitando que as representações são processos de construção, ou reapropriação da realidade, há de se aceitá-las, também, como ações sobre a realidade e, como conseqüência, como base das práticas sociais. Esta posição será reforçada, na medida em que retomarmos duas entre as quatro funções de uma representação, como definidas por Abric (1994 a): a função de 53 orientação e a função justificadora. Ambas estão, de forma bastante explícita, vinculadas ao universo comportamental, ou seja, das práticas, posto que a primeira permite “a antecipação dos atos e das condutas (de si mesmo e dos outros) e a “interpretação” da situação dentro de um sentido preestabelecido, graças a uma sistema de categorização coerente e estável”, enquanto a segunda afirma: “(...) Iniciadoras das condutas, elas permitem sua “justificativa” em relação às normas sociais e sua “integração”. Ao se defrontar com novas condições externas, o indivíduo tende a buscar explicações racionais a propósito destas condições, construindo “pequenas teorias”(Moscovici, 1972, 1984 citado em Campos, 1998), na tentativa de apropriar dessa realidade por meio de sua compreensão. Desta forma, o indivíduo, ao se defrontar com uma nova situação, procura “enquadrá-la” em referencial preestabelecido. Nessa perspectiva não haveria, propriamente, situação completamente nova. (Abric , 1976) Campos (1998) afirma que, havendo substancial mudança nas condições externas a uma determinada representação compartilhada socialmente, poderá haver práticas divergentes em relação a essa mudança, determinando a existências de, pelo menos, três tipos de processos de transformação da representação, definidos que são pela forma como o sistema periférico desta mesma representação “digere” essas mudanças: a) transformação progressiva, em que as práticas novas não são diretamente opostas ao núcleo central e em que ocorre uma “transformação sem ruptura”; b) a transformação resistente, em que ocorre um processo de formulação e funcionamento de mecanismos de defesa capazes de manter, por um certo tempo. a estabilidade do núcleo central; c) a transformação brutal, quando a modificação externa ataca diretamente o significado central da representação, impossibilitando a defesa pelos sistemas periféricos, ocasião em que as situações são percebidas como irreversíveis e as novas 54 práticas passam a determinar nova representação. (Guimelli, 1988, 1994, 1996; Mamontoff, 1996). É necessário, porém, encontrar explicações sobre a relação de determinação entre práticas e representações em situações em que os sujeitos não são confrontados de forma tão massiva em relação a novas contingências. Nessa linha, essa relação não ocorre de forma tão cristalina, como veremos na análise dos estudos realizados a respeito. Casos em que as práticas determinam as representações Guimelli (1988, 1989), em estudo neste campo, conforme cita Campos (1998), pesquisando a representação da caça, afirma que são identificadas mudanças externas, tidas como irreversíveis que provocam o surgimento de novas práticas, porém não diretamente opostas ao significado central da representação preexistente do mesmo objeto, o que configura uma situação de transformação “sem ruptura” desta representação. Ainda segundo Campos (1998), outros trabalhos, como os de Guimelli e Jacobi (1990) e Guimelli (1994), a propósito da representação das enfermeiras, na França, após alterações no exercício da profissão, definem a situação do seguinte modo: a) as transformações não massivas e não brutais das circunstâncias deixaram uma via aberta para o aparecimento de novas práticas, sob o título de “papel próprio”; b) este papel foi reconhecido por uma nova lei; c) há uma certa dificuldade na aceitação destas novas práticas, ainda não totalmente absorvidas pelos sistemas de saúde, dada a diversidade de diplomas existentes e os diferentes tipos de empregos que se pode obter. Este quadro leva a uma transformação “sem ruptura”, uma vez que as novas práticas não são impostas e tampouco opostas ao significado central da representação anterior. 55 Casos em que as representações determinam as práticas e comportamentos Campos (1998) afirma que assim como estudos comprovam a determinação ou mudança de uma representação pelas práticas sociais, outros demonstram o contrário, sendo que as primeiras pesquisas são de caráter experimental. Abric (1976) logrou colocar em confronto um bom número de sujeitos, diante de adversários fictícios, em situação laboratorial, em que os sujeitos eram levados a acreditar que se tratavam de adversários reais, quando, na verdade, jogavam contra programas de computador. Neste experimento, graças ao controle de variáveis como a representação do adversário , de si mesmo e da tarefa, Abric concluiu que, a representação da situação determina o comportamento cooperativo. Estes resultados convergem ao ponto daqueles obtidos por Codol (1968), sobre o comportamento de grupos: “[...] nossos resultados podem parecer de uma banalidade bem inconveniente; com certeza, eles o são: a determinação recíproca das representações e comportamentos já era afirmada na literatura há muito tempo. Entretanto, se nos interessamos por isto, é porque, no momento em que iniciamos este trabalho, esta afirmação não tinha passado, ao menos no conhecimento, por nenhuma prova experimental.” (Codol, 1972, p. 193) Truchot (1994), citado por Campos (1998), ao estudar uma situação de exclusão social, identificou a representação social da ajuda social a adultos pobres e encontrou que os trabalhadores sociais representam a ruína destas pessoas utilizando expressões não apenas fundadas nas circunstâncias externas, mas também em disposições pessoais do indivíduo. Recorrendo à teoria das atribuições, em razão da posição ocupada e em razão da natureza da situação, concluiu, afinal, que os trabalhadores sociais aplicam um tipo de processo seletivo implícito, vinculado à representação da ajuda e aos processos de atribuição: 56 “Compreende-se, novamente, que uma tal perspectiva, tende a excluir da relação de ajuda aqueles que são mais desfavorecidos, aqueles cujo problema é interno e global, aqueles que são “não-reintegráveis.” (Truchot, 1994, p. 393) Encontra-se, neste, caso, um exemplo de como as representações disponíveis, segundo a natureza da situação, determinam, de algum modo, as práticas de seleção da clientela. Casos em que práticas e representações se autodeterminam reciprocamente Outros trabalhos descrevem representações claramente ligadas às práticas existentes, porém, sem que seja possível o estabelecimento direto de relações de causalidade, face a complexidade das situações. Tais estudos demonstram a necessidade de se conhecerem os sistemas representacionais para que possam ser compreendidas determinadas situações sociais, entre as quais a exclusão social (a exclusão do “mau aluno” Gilly, 1980; “menino de rua”, Campos, 1988) ou o trabalho infantil ( Alves- Mazzotti, 1998). Segundo afirma Campos (1998), os estudos de Gilly (1980) tratam das representações recíprocas professor-aluno, sinalizando que as representações elaboradas no contexto em causa estão sujeitas a forte influência institucional, calcadas em interações modeladas no processo de escolarização. Neste caso, porém, quando uma criança é representada como “mau aluno”, não será, numa relação de causalidade direta, excluída, mas o comportamento do professor será decorrente de vários fatores, como: a autopercepção do seu próprio papel, as condições institucionais e a representação que o aluno tem de si mesmo. Se o professor considera que não deve modificar suas exigências educacionais e adequar sua estratégia à criança porque está não “está no nível” ou “não é motivada”, sua representação servirá para justificar seu 57 desinteresse; em oposição, se o professor tem outra percepção do seu próprio papel e pensa que, especialmente em relação a esta criança, deve ajustar sua estratégia educativa, nesse caso, sua representação será um fator de maior eficiência em sua ação. Desta forma, podemos afirmar que a natureza da situação e a representação do próprio papel, pelo professor, determinam seus comportamentos e atitudes frente ao “mau aluno”. Ainda segundo Campos (1998), Abric (1994a) afirmando que a natureza da situação determina as ligações recíprocas e, particularmente, algumas características da situação: a autonomia do sujeito ou do grupo que elabora a representação na situação, ou a posição e as relações mantidas por este indivíduo ou grupo ou no sistema de poder suas possibilidades na relação de confronto e, por outro lado, a carga afetiva e a referência à memória coletiva. A partir desta formulação, Abric (1994a), esboça uma explicação para a relação entre práticas sociais e representações, apresentando-nos duas possibilidades: " H1: As representações determinam as práticas sociais nas situações em que a carga afetiva é forte, e quando a referência – explícita ou não – à memória coletiva é necessária para manter ou justificar a identidade, a existência ou as práticas do grupo. H2: As representações desempenham igualmente um papel determinante sobre as práticas nas situações em que o ator dispõe de autonomia – mesmo relativa – para estabelecer o controle da situação ou das conseqüências das relações de poder. " (Abric, 1994a, pág. 231) Em estudo recente, Campos (1998), procura apontar para o fato de três grupos se sujeitos, apresentando uma representação social muito próxima quanto ao seu conteúdo (ver Tabela 3), apresentarem, quanto à sua estrutura, certa diferenciação. Estudando a representação de “meninos de rua”, o autor pesquisou três diferentes grupos: no caso dos sujeitos “educadores”, o núcleo central é composto pelos elementos “abandonado”, 58 “exclusão”, “família” e “miséria”; entre os sujeitos “monitores”, podemos destacar os elementos “ abandonado” e “miséria” em primeiro plano e outros como “droga”, “família” e “delinqüente”; entre os sujeitos “estudantes universitários”, os elementos “miséria” e “exclusão” aparecem em primeiro plano, secundados por “violência” e “abandonado”. A análise estrutural das três representações mostra que “família” é o único elemento específico da representação entre o grupo de educadores, enquanto que no grupo de monitores há uma representação em estabilização, muito ligado às representações de “menor carente” e “menor infrator”; no grupo de estudantes, a representação está centrada na idéia de exclusão social. Para Campos (1998) estas diferenças podem ser compreendidas, uma vez comparadas as práticas sociais dos três diferentes grupos, o que evidencia que a representação social , enquanto produto, é resultado de um encontro entre uma modalidade processual de pensamento social e uma prática social concreta. 59 Tabela 3– Quadro sintético das palavras relevantes encontradas em cada uma das 3 populações Educadores Monitores Estudantes Abandonado Abandonado Abandonado Miséria Miséria Miséria Droga Droga Droga Família Família --- Exclusão --- Exclusão Violência --- Violência --- --Carência afetiva Delinqüente --- Delinqüente --- Os estudos supracitados servem, no presente estudo, como ilustrações de dois aspectos teóricos importantes, dentro do quadro da Teoria das Representações Sociais: em primeiro lugar, que as relações entre práticas sociais e representações são complexas e variam segundo a natureza da situação; em segundo lugar, que o estado atual de desenvolvimento da própria teoria aponta este campo como promissor, dado que pouco se conhece sobre as regularidades sociais que determinam esta relação. Dentro do quadro da Teoria do Núcleo Central é mais exato afirmar que se deve “tomar as representações como uma condição das práticas e as práticas como um agente de transformação das representações “ (Rouquette, 1998, p. 43). Considerando o trânsito como uma situação social complexa, parece-nos legítimo tratar as representações associadas a esta situação como condição das práticas e, portanto, como elementos necessários a compreensão do “agir no trânsito”. 60 1.3.3 Modelos de estudo aplicados a situações complexas No estado atual da teoria das representações sociais, é plenamente aceito que uma representação seja um sistema cognitivo que age ao mesmo tempo tanto sobre os indivíduos que o elaboram como sobre a situação social em que ela se insere. Este sistema age sobre os indivíduos através de relações de significado. Uma representação dá significado a uma dada situação social, bem como aos comportamentos e condutas observados. O estudo das representações permite, então, aos pesquisadores compreender qual o significado atribuído por um determinado grupo social tanto à situação propriamente dita, quanto aos comportamentos. Podemos dizer, como conseqüência, que a representação é um conjunto de significados sociais, organizados em uma estrutura que resiste à mudança. Esta estrutura tem uma parte, um subconjunto de elementos, composta de « regularidades », de « constantes » que resistem às transformações pequenas, imediatas ou conjunturais do contexto ; e, uma segunda parte, um segundo subconjunto de elementos, que se adapta facilmente às alterações cotidianas do meio, às alterações « não-permanentes » do contexto social imediato. Cada grupo constrói, assim, um significado partilhado acerca de uma dada situação e este significado é relativamente « adaptável » ao contexto imediato, mas, ao mesmo tempo, suficientemente « estável » para não permitir que o significado atribuído à situação sofra alterações importantes, frente à menor variação contextual. O que existe de constante nas condutas, nas atitudes, nas opiniões, nas práticas e nas comunicações são geradas e gerenciadas pela estrutura da representação aí imbricada. Com base em um conjunto de estudos experimentais sobre a interação grupal, Codol (1968, 1969a, 1969a) alerta para o risco de serem estudadas separadamente as representações no interior de grupos restritos, porque em toda situação de grupo os 61 elementos da situação (tarefa, grupo, o indivíduo e os outros) constituem um sistema indissociável; no interior das situações de grupo, existem sistemas de representações que se correlacionam, de modo tal que a representação que os indivíduos fazem da tarefa a ser executada pode influenciar a representação que eles mantém sobre si deles próprios e dos outros membros de outro grupo. Nesse contexto, Codol (1969a) aventa a hipótese de que, no quadro dos fenômenos representacionais, nas situações de grupo, a representação global da tarefa constituiria o determinante principal da configuração final do sistema de representações: “Nós gostaríamos de demonstrar aqui que, a percepção que os sujeitos têm deles mesmos e dos outros depende não somente depende da estrutura da tarefa, mas da representação global que estes sujeitos elaboram acerca da tarefa. (...) uma das hipóteses essenciais é que duas representações diferentes de uma mesma estrutura de tarefa, induzem definitivamente os sujeitos a perceberem diferentemente sua própria posição no interior do grupo.” (Codol, 1969a, p.218) Os resultados obtidos neste conjunto de pesquisas, levam Codol (1969a) a afirmar que a representação global da tarefa, como elemento do sistema representacional da situação, está ligada à representação de si mesmo e à representação dos outros. Pela primeira vez, no quadro dos trabalhos dedicados ao estudo das representações sociais, a terminologia Sistema Representacional da Situação é utilizada, com vistas à identificação e compreensão de um conjunto de representações sociais, antes tratadas como elementos isolados. Na mesma direção, Abric (1994) expande a afirmação de Codol (1969a), operando modificação na idéia de “representação global da tarefa” para a noção de “Representação global da Situação”, ou, simplesmente, a representação da situação, que abarca o sentido de “representação do contexto”. Assim delineada, a nova expressão torna-se o centro de uma formulação mais instigante como pista de pesquisas: no 62 contexto de uma situação que implique um conjunto de representações e práticas dadas, a representação global da situação vai determinar a natureza das relações entre práticas sociais e representações. Em seguida, alguns autores (Abric,1996; Abric e Campos, 1996; Mammontoff, 1996; Campos, 1998) vão adotar a posição segundo a qual a abordagem estrutural é um precioso instrumento no estudo das situações de exclusão social, porque permite tratar a perspectiva de um determinado ator como um sistema cognitivo, de interação entre práticas e representações. Tal sistema é determinado pela representação da situação. Sob o nosso ponto de vista, a teoria das representações sociais é um importante instrumento de estudo das situações, como por exemplo, as de exclusão social, a medida em que ela abre a possibilidade de identificar e analisar os fatores simbólicos que nela se encontram imbricados. Os fatores simbólicos são, na mesma intensidade que os fatores objetivos, determinantes da situação. « As representações sociais têm aí um papel determinante. Se considerarmos (esquema abaixo) que o excluído é um indivíduo que se refere a um grupo, ao qual pertence, em uma dada situação social (contexto sócio-econômico), ele está em interação com múltiplos atores: os membros de seu próprio grupo, os agentes sociais (educadores, por exemplo) que se ocupam dele, as instituições e seus sistemas de regras e normas etc... E cada um dos elementos desse sistema é o sujeito e o objeto, o produtor e o receptor de uma representação social. » (Abric, 1996, p.13) 63 Figura 5– Esquema de Análise de Situações de Exclusão, Proposto por Abric, 1996 Sistema Social (regras, normas, instituições) Sujeito X Grupo de Pertença Agentes Sociais Outros Grupos No esquema proposto por Abric (1996) – Figura 5, para estudo da situação social de exclusão, que imaginamos ser adequado também para o nosso propósito, ao estudarmos o trânsito como uma situação social complexa, podemos observar que o comportamento individual ocorre dentro de um sistema social, constituído de regras, normas e instituições, de que o indivíduo participa, em várias dimensões: como indivíduo, relaciona-se com este sistema nas suas interações particulares com outros indivíduos, que são, por sua vez, agentes sociais com seus papéis específicos, participante do mesmo sistema social, havendo, nessa interação, influências de um sobre o outro, conforme a situação e o status de cada agente social; em outra dimensão, o indivíduo relaciona-se com o seu próprio grupo, no seio do qual desempenha um papel social específico; por outro lado, este mesmo indivíduo participa de vários grupos e exercita neles papéis diferentes; ainda, numa terceira dimensão, este indivíduo relaciona-se com outros grupos, carregando, nessa interação, as normas e regras inerentes ao seu próprio grupo e tendo que reagir às regras e normas do outro grupo, num processo contínuo de influência social. 64 Com base nos estudos precedentes, propomos tratar a representação que os diferentes grupos de sujeitos têm do trânsito como um sistema cognitivo complexo dotado de, no mínimo, quatro componentes: a representação do papel próprio como motorista; a representação dos outros motoristas; a representação da tarefa (o “dirigir”); e, finalmente a representação global da situação, ou seja, do trânsito, em si. Evidentemente, o estudo de toda e qualquer prática social, como, por exemplo, os estudos das práticas sociais profissionais (o papel do professor, em Gilly, 1980; o papel das enfermeiras em Guimelli, 1994; os educadores sociais de rua, em Campos, 98a, entre outros exemplos) , resultam, mesmo que implicitamente, no estudo dos componentes acima diferenciados. Dito de outro modo, ao se representar, por exemplo, o “ensinar”, não se pode dissociar as representações de “professor”, de “aluno” e da “escola”. Entretanto a perspectiva da aplicação do modelo aqui proposto, fundado, sobretudo, em Codol (1969a,1969a) é a de uma aproximação de como as representações sociais podem influenciar os comportamentos no trânsito e tem a vantagem metodológica de explicitar os componentes, permitindo análise mais acurada, em relação a trabalhos de pesquisa, centrados numa representação “global” única da prática ou da “tarefa”. Nesta perspectiva, propomos aplicar este esquema (Figura 6) ao estudo do trânsito como uma situação complexa, através do estudo das representações de si e do outro como motorista, da tarefa (dirigir) e do contexto (trânsito), em dois grupos distintos, ambos implicados em práticas sociais ligadas ao fenômeno: jovens universitários motoristas e agentes de fiscalização 65 Figura 6– Modelo de análise da representação global da situação como proposto por Codol, (1969a) Representação da Situação RS de Sí Mesmo ( RS do papel do agente) RS do Outro ( RS do papel dos outros agentes) RS da Tarefa RS do Contexto Estudando a apropriação da representação de “cooperação” entre crianças bem novas (de 1 a 4 anos de idade), Garnier (1999) opta pela definição de cooperação como uma forma de organização coletiva da atividades, que necessita de coordenação das ações dos diferentes participantes. As interações que promove esta coordenação de ações colocam em funcionamento os papéis sociais distribuídos entre os participantes e as regras de organização, implícitas e explícitas, destas interações. “Desta definição, extrai-se que os elementos constitutivos da cooperação são o grupo, a atividade desenvolvida por este grupo, o objeto que intervém na atividade do grupo, o papel que cada um deve assumir para realizar as diversas atividades necessárias ao empreendimento comum, a regra que organiza as tarefas, assim como as interações e as interrelações entre os participantes e, enfim, a coordenação das ações.. (Garnier, 1999, p. 95). Para este autor, os elementos constitutivos da cooperação, segundo a definição adotada, correspondem, em certa medida, às sub-dimensões descritas por Codol (1969), a saber: o “eu”, a “tarefa” e os “outros”, com relação às representações sociais do trabalho de grupo. 66 No trabalho de pesquisa apresentado, Garnier (1999) opta por uma distinção das “práticas” por meio de um recorte institucional, distinguindo dois tipos de creches1 , um favorecendo mais intensamente as atividades coletivas e outro tipo, com menor destaque às atividades de conjunto. Os resultados indicam um impacto desta diferença de “culturas” entre as creches, no descobrimento da representação social da cooperação. Podemos considerar que neste estudo, a representação social do contexto, que Codol (1969) considera um dos quatro elementos essenciais da representação global da situação, é tratado de modo heteróclito: é o pesquisador que delimita os diferentes contextos, as “creches”, através de estudo complementar de observação. 1 Em francês, “garderies”. 67 CAPÍTULO II - ESTUDO DAS RELAÇÕES ENTRE PRATICAS SOCIAIS E TRÂNSITO 3.1 Método Para tratar o trânsito como uma situação social complexa, utilizando o modelo teórico proposto por Codol (1974), escolhemos a abordagem estrutural das representações sociais, buscando, como propõe Abric (1994), em sua teoria do núcleo central das representações sociais, identificar o conteúdo da representação, estudar as relações entre os elementos, sua importância e sua hierarquia e, finalmente, identificar o núcleo central da representação. Para tanto, foram realizadas duas etapas de pesquisa, antecedidas de um estudo preparatório, com três grupos de sujeitos: um grupo, constituído de 192 (cento e noventa e dois) sujeitos, estudantes universitários de diferentes cursos da Universidade Católica de Goiás, de ambos os sexos, detentores da Carteira Nacional de Habilitação e com idade até 25 anos, distribuídos em grupos equivalentes, nas diferentes fases da pesquisa; outro grupo com as mesmas características, constituído de 177 (cento e setenta e sete) sujeitos; e um terceiro grupo, de agentes de fiscalização, constituído de 88 (oitenta e oito) sujeitos, servidores públicos municipais, detentores da Carteira Nacional de Habilitação, de ambos os sexos, sem classificação por idade. . Na operacionalização das representações a serem estudadas, optou-se por considerar, segundo o modelo teórico: a representação de si mesmo, como a 68 “representação do eu, como motorista”; a representação dos outros como “outros motoristas”; a representação da tarefa como “dirigir”; e do contexto como “trânsito”. As três etapas da pesquisa tiveram como objetivo: num estudo preparatório, conhecer a representação das características do “bom motorista” e do “mau motorista; na Etapa 1, o estudo da representação do trânsito como prática social complexa, em sujeitos estudantes universitários; na Etapa 2, o estudo da representação social do trânsito como prática social complexa em agentes de fiscalização. Estudo preparatório 1. Procedimento Inicialmente, o objetivo foi identificar quais as práticas efetivadas mais freqüentemente pelos motoristas. Considerando que “dirigir” é uma tarefa complexa e pouco estruturada e afim de evitar um delineamento das práticas idealizadas (positivamente), optou-se pelo enquadramento específico, diferenciando as práticas adequadas e não-adequadas, operacionalizadas sob os títulos de “práticas do bom motorista” e “práticas do mau motorista”. Foi elaborada uma questão aberta, exploratória, aplicada em duas condições diferentes, uma versão centrada no “bom motorista” e outra versão referente ao “mau motorista”. A questão apresentada foi a seguinte: “Imagine que você pegou carona pela primeira com uma pessoa. Você está sentado no banco do passageiro e observa o modo como esta pessoa dirige. Quais os comportamentos ou condutas lhe indicam ser esta pessoa mau/bom motorista?”. Dê, no mínimo, quatro respostas .” 69 2. Sujeitos A primeira versão foi aplicada a 94 sujeitos, estudantes universitários, segundo as características já definidas neste trabalho, enquanto a outra versão foi aplicada a 98 sujeitos com as mesmas características. 3. Resultados Os resultados foram analisados com base na freqüência, sendo levantados os principais comportamentos definindo o “bom motorista” e o “mau motorista”, conforme consta na Tabela 4. Tabela 4- Características Atribuídas ao “bom” e ao “mau” motoristas, por sujeitos jovens motoristas universitários (N=192) Bom Motorista Atenção Calmo Velocidade Adequada Usa o Cinto de Segurança Tem Confiança Respeita as Leis de Trânsito Dirige com Responsabilidade Velocidade Adequada Usa a Seta Respeita o Semáforo Tem Agilidade Olha no Retrovisor Somente Ultrapassa com Segurança Respeita a Distância Mínima entre os Veículos Freia Calmamente “Mau” Motorista Desatenção Afoito Alta Velocidade Não usa o Cinto de Segurança É Inseguro Não Respeita as Leis de Trânsito Imprudência Baixa Velocidade Não usa a Seta Não Respeita o Semáforo Não Tem Agilidade Não olha no Retrovisor Ultrapassa sem Segurança “Cola” na Traseira do veículo da Frente Freia Bruscamente Conforme era de se esperar, encontrou-se uma estrutura bipolar, em que os comportamentos do “bom-motorista” e do “mau-motorista” se opõem, sendo que os principais comportamentos foram: atenção/desatenção; calmo/afoito; velocidade adequada/alta velocidade; usa o cinto/ não usa o cinto; confiança/ insegurança; responsabilidade/imprudência; respeita as leis/desrespeita as leis; velocidade adequada/ baixa velocidade. 70 3.2. Etapa 1 - A representação global do trânsito em jovens universitários motoristas 3.2.1 A representação de si e dos outros como “Motoristas” Com base nos resultados do estudo preparatório (Tabela 4) foi elaborado um segundo instrumento, constituído de duas questões, cada uma delas composta de 14 escalas2, variando de sete pontos, sendo um pólo caracterizado por um comportamento percebido como “típico” do bom motorista, e no outro o comportamento que se lhe opõe, ou seja, característico do “mau motorista”. Na primeira questão, do tipo “diferencial semântico”, perguntou-se aos sujeitos, “Na sua opinião, você”, seguida das escalas; enquanto a segunda questão, foi formulada nos seguintes termos “Na sua opinião, a maioria dos motoristas”, solicitando-se aos sujeitos que se posicionassem nas escalas, de acordo a seguinte instrução: “Nesta questão, são apresentados alguns itens, em uma escala variando de 1 a 7. Caso você concorde plenamente com uma das afirmações, marque com um “X” acima do número que aparece logo abaixo da afirmação, ou 1 ou 7. Caso concorde muito com uma das afirmações, marque o número que melhor expresse sua opinião, ou seja, 2 ou 3 para a afirmação do lado esquerdo, ou 5 ou 6 para a afirmação do lado direito. Se não tiver opinião formada, ou discordar de ambas as afirmações, assinale o número 4.” Abaixo apresentamos dois exemplos: A) Na sua opinião você (a maioria dos motoristas) Dirige com Dirige com Bastante Muita Atenção Não sei dizer Desatenção ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 2 A ordem de apresentação das escalas, no instrumento, foi variada aleatoriamente 71 B) Na sua opinião você (a maioria dos motoristas) Dirige com Dirige de modo Bastante afoito, com muito Calma Não sei dizer nervosismo ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 Este segundo instrumento foi aplicado ao grupo de 177 sujeitos participantes desta etapa, jovens universitários motoristas. Tabela 5- Resultados das escalas de auto e hetero-percepção de jovens motoristas universitários, em referência aos comportamentos característicos do “Bom Motorista” e do “Mau Motorista” (N=177) Pares comparados Média na “autopercepção” ( RS de Sí) Atenção/desatenção Usa a seta/não usa a seta Ultrapassagem Segura/insegura Respeita as leis /não respeita Respeita distância mínima/cola na traseira Responsabilidade/imprudência Freia bruscamente/freia calmamente Calma/nervosismo Usa o retrovisor/não usa o retrovisor Respeita semáforo/não respeita Velocidade adequada/velocidade alta Bastante agilidade/Pouca agilidade Confiança/insegurança Usa o cinto/não usa o cinto 1.98 1.98 1.96 2.07 2.60 2.07 2.15 2.59 1.65 2.07 2.91 2.05 1.87 1.56 Média na percepção da Maioria (RS do “outro”) 5.24 5.24 5.10 5.18 5.58 5.01 4.99 5.26 4.13 4.42 5.00 4..13 3.53 2.69 Diferença entre As Médias 3.26 3.26 3.14 3.11 2.98 2.94 2.84 2.67 2.48 2.35 2.09 2.08 1.66 1.13 Os dados resultantes indicam uma tendência global dos sujeitos de se atribuírem características de “bom motorista”, enquanto aos “outros motoristas” são atribuídas, de modo geral, características do “mau motorista”. Podemos destacar esta tendência mais acentuada nos itens a atenção, uso da sete, ultrapassagem segura, respeito às leis, respeito e à distância mínima e responsabilidade, em que aparecem as maiores diferenças entre as médias atribuídas a si e aos outros motoristas. Os resultados apresentam ainda alguns elementos : freia calmamente, usa o retrovisor, respeita semáforo, velocidade adequada, agilidade, confiança e uso do cinto, em resposta aos 72 quais os sujeitos tendem a se aproximar mais da representação que têm dos outros motoristas, aceitando, com relativa proximidade, características de maus motoristas. . Os resultados são mostrados na Tabela 5. O teste estatístico (Tabela 6) demonstra diferenças significativas entre a percepção dos outros e autopercepção como motoristas, no grupo pesquisado, vindo reforçar o mesmo efeito já demonstrado por Codol (1976), o chamado efeito PIP (primus inter pares) segundo o qual, de uma forma geral, todos nós apresentamos uma tendência a nos julgar melhores que a média dos outros indivíduos. Para Codol, trata-se da manifestação de uma tendência humana muito fundamental, motivada por sermos ao mesmo tempo iguais e diferentes das outras pessoas. Tabela 6– Média e desvio padrão da percepção dos outros e autopercepção como motoristas em jovens universitários motoristas PARES/ VARIÁVEIS Perc. dos Outros Autopercepção Perc. dos Outros Autopercepção Perc. dos Outros Autopercepção Perc. dos Outros Autopercepção Perc. dos Outros Autopercepção Perc. dos Outros Autopercepção Perc. dos Outros Autopercepção Perc. dos Outros Autopercepção Perc. dos Outros Autopercepção Perc. dos Outros Autopercepção Perc. dos Outros Autopercepção Perc. dos Outros Autopercepção Perc. dos Outros Autopercepção Perc. dos Outros Autopercepção Desatenção Atenção Nervosismo Calma Velocidade alta Velocidade adequada Não usa cinto Usa cinto Não respeita leis de trânsito Respeita leis de trânsito Imprudência Responsabilidade Pouca agilidade Bastante agilidade Insegurança Confiança Não olha o retrovisor Olha no retrovisor Ultrapassa sem condições Ultrapassa com condições Raramente usa a seta Sempre usa a seta Avança o sinal Respeita o semáforo Cola na traseira Respeita distância mínima Freia bruscamente Freia calmamente MÉDIA 5,24 1,98 5,26 2,59 5,00 2,91 2,69 1,56 5,18 2,07 5,01 2,07 4,13 2,05 3,53 1,87 4,13 1,65 5,10 1,96 5,24 1,98 4,42 2,07 5,58 2,60 4,99 2,15 N 167 167 167 167 167 167 167 167 167 167 167 167 166 166 165 165 165 165 165 165 165 165 165 165 163 163 163 163 DESVIO PADRÃO 1,89 1,32 1,57 1,64 1,75 2,03 1,75 1,41 1,72 1,43 1,76 1,63 1,75 1,32 1,67 1,36 1,94 1,22 1,66 1,58 1,80 1,65 1,94 1,54 1,78 2,00 1,78 1,67 T GL p< 19,576 166 ,000 16,187 166 ,000 11,049 166 ,000 7,871 166 ,000 19,957 166 ,000 16,641 166 ,000 12,236 165 ,000 10,849 164 ,000 14,406 164 ,000 19,275 164 ,000 17,695 164 ,000 13,630 164 ,000 16,460 162 ,000 16,198 162 ,000 73 3.2.2 A representação da tarefa (dirigir) Para realizar o estudo da representação social do “dirigir” foi construído um instrumento, em que se utilizou uma questão do tipo “questão de evocações”, clássica, na abordagem estrutural das representações sociais, desenvolvida por Vergés (1992 e Morin e Vergés (1992). Este método consiste na indução de um processo de associação livre, tendo como estímulo uma palavra que designa o objeto da representação. Um grupo de 192 sujeitos, estudantes universitários, participou desta fase, respondendo à questão formulada nos seguintes termos: “Quando você escuta a expressão DIRIGIR, quais as palavras ou expressões lhe vêm espontaneamente à cabeça?” Para o tratamento dos dados, dois critérios são levados em consideração: a freqüência e o “rank” (ordem) médio de evocação. Os resultados são apresentados na Tabela 3, denominada classicamente de “tabela de 4 casas”, em que se encontram distribuídas as produções dos sujeitos: na casa superior esquerda encontram-se os elementos hipoteticamente centrais3 que apresentam freqüência elevada e são evocados, em média, nas primeiras posições; nas casas superior direita e inferior esquerda, encontram-se os elementos pertencentes ao que se chama de “primeira periferia” ou periferia próxima, caracterizados ou por uma elevada freqüência associada a uma média de posição de evocação nas ultimas posições, ou por baixa freqüência associada a uma média de evocação nas primeiras posições; finalmente, a última casa inferior direita, é constituída dos elementos tipicamente periféricos, mais associados às modulações individuais da representação. 3 nesta casa podem também se situar dois tipos de elementos que não são centrais: os protótipos e aqueles elementos que se aproximam quantitativamente do núcleo sem, no entanto, possuir a característica fundamental da centralidade que é qualitativa e se refere ao fato dos elementos centrais serem “não negociáveis”. 74 Tabela 7- Resultados da Questão de Evocação, Representação Social do “Ato de Dirigir”, elaborada por Jovens Motoristas Universitários Ordem Média de Evocação 3.25 85 responsabilidade (2.25) 81 atenção (2.28) 50 cuidado (2.06) 30 respeito (3.23) F R E Q Ü Ê 22 prudência (2.82) N 20 guiar (1.30) C 18 segurança (2.72) I 14 trânsito (1.79) A 13 prazer (2.85) 16 paciência (3.75) 12 calma (3.25) 10 pedestre (3.50) 11 controle (3.09) 10 acidente (3.40) 10 perigo (3.00) 10 conduzir (1.30) 09 agilidade (3.89) 09 liberdade (2.44) 09 imprudência (3.33) Assim, os resultados obtidos nesta questão parecem indicar que a representação da tarefa de “dirigir” é bastante positiva e está organizada em torno de dois elementos principais, responsabilidade e atenção (representados pelas palavras: responsabilidade, prudência e respeito, de um lado, e atenção, cuidado e segurança, de outro lado); além destes, podemos destacar, na primeira periferia, os elementos como trânsito, prazer, calma, perigo, controle. Podemos ainda inferir que se trata de uma representação supostamente adequada, no sentido das regras e expectativas, explícitas e implícitas, emanadas do Código Nacional de Trânsito e dos princípios de engenharia do trânsito. Entretanto, podemos também supor que a palavra indutora “dirigir” acaba por induzir 75 uma representação social idealizada, ou seja, muito provavelmente foi ativada a representação do “dirigir ideal”. No tratamento de dados específicos da chamada “análise de evocações”, operase, em seguida uma categorização com o objetivo de agrupar as palavras e expressões que “denotam ou se referem ao mesmo núcleo de sentido”, a um mesmo “significado”. Operada a categorização, os dados são submetidos a uma análise estatística, do tipo “análise de similitude”, cuja matriz de similitude pode ser expressa através de gráficos. Os resultados referentes à representação social do “dirigir”, estão apresentados na Figura 7, representação gráfica, também chamada “árvore máxima”4. Nos gráficos de similitude observa-se o grau de conexão dos elementos (a quantidade de ligações em torno de um elemento), assim como a intensidade destas ligações (que são expressas graficamente por traços mais intensos que os demais). É de se esperar que os elementos centrais sejam “ligados” a um maior número de elementos da representação, posto que geram o significado do conjunto da representação e dos outros elementos, bem como estas ligações sejam “mais intensas” que as ligações em torno de elementos periféricos. Assim, a análise do gráfico da árvore máxima da representação do “dirigir” (Figura 7), parece reforçar as constatações anteriores, indicando um lugar central na estrutura da representação para os elementos responsabilidade e atenção. A organização dos elementos, representada no gráfico (Figura 7) nos permite reforçar a suposição de que a palavra indutora (dirigir) remete a uma representação idealizada das práticas no trânsito. 76 Figura 7- Gráfico de similitude (árvore máxima)da representação social de “dirigir” em jovens universitários motoristas (n=177) 3.2.3 A representação do contexto (trânsito) em jovens universitários motoristas Para estudar a representação social do contexto (trânsito) foi utilizado um instrumento de pesquisa contendo o mesmo tipo de “questão de evocação”, tendo como indutora a expressão “trânsito”, como se vê a seguir: “Quando você escuta a expressão “TRÂNSITO”, quais são as palavras ou expressões que vêm imediatamente à sua cabeça?” Participaram desta etapa da pesquisa, 177 sujeitos, estudantes universitários. Os resultados estão apresentados na Tabela 8, já denominada “tabela de quatro casas, em que podemos destacar como elementos provavelmente centrais congestionamento, atenção, stress e carro; enquanto isso, aparecem no quadrante da 4 Uma árvore máxima é uma reunião sintética de relações de conexão entre diferentes elementos, cuja caractrística é a de expressar graficamente, não as relações “mais fortes”, mas o mais elevado grau de conexão entre dois elementos, considerando os elementos que estão mais próximos um do outro. 77 primeira periferia os elementos acidente, multas, barulho, perigo, responsabilidade e tumulto. Tabela 8– Resultados da questão de evocação – a representação social do “trânsito”, elaborada por jovens motoristas universitários. Ordem Média de Evocação 3.6 83 Congestionamento (3.21) 52 Atenção (3.57) 45 Stress (3.36) 43 F 37 Carro (3.57) Multas (4.81) 38 Acidentes (4.18) R E Q Ü Ê 28 Responsabilidade (3.39) N 27 Pedestre (5.04) C I 25 Imprudência (4.72) A 24 Cuidado (4.02) 22 Tumulto (2.77) 22 Respeito (4.50) 22 Barulho (3.32) 22 Perigo (3.50) 21 Velocidade (4.95) É importante destacar que, contrariamente à representação do “dirigir”, em que predominam elementos positivamente considerados na organização do trânsito, na representação do contexto (trânsito), embora apareça o elemento atenção, os outros elementos principais, se considerarmos apenas aqueles supostamente centrais, são “negativos” (congestionamento, stress e carro). Ao considerar os elementos da primeira periferia, teremos ainda mais elementos negativos, como tumulto, barulho e perigo. Embora os elementos centrais da “tarefa”, ou seja, do dirigir (atenção e responsabilidade), ainda apareçam com relativo destaque, o predomínio é de elementos que expressam uma representação negativa do contexto (trânsito). O mesmo procedimento de categorização aplicado anteriormente, no estudo da representação da tarefa, foi aplicado aos dados, as palavras foram agrupadas em 78 categorias, o que possibilitou, também, encontrarmos a configuração gráfica da representação, a árvore máxima, através da chamada análise de similitude (Figura 8). Figura 8- Gráfico de similitude (árvore máxima) da representação social do trânsito em jovens universitários motoristas (n=177) Na análise do gráfico de similitude podemos notar que a representação do contexto (trânsito) está organizada em dois núcleos de elementos, em torno de dois elementos principais, fiscalização e tumulto. Em torno do primeiro elemento, fiscalização, encontra-se, em primeiro plano, multas, pedestre, veículos, circulação e congestionamento, expressando idéias como: a fiscalização existe para garantir a circulação dos veículos e evitar o congestionamento; fiscalização está intimamente ligada a multas. Com ligação mais tênue, aparece o elemento respeito, que por sua vez liga-se a atenção/responsabilidade, formando uma linha de ligação com o outro núcleo, organizado em torno de tumulto e podendo expressar uma parte da representação que se funda na representação da tarefa (dirigir), surgindo como elementos estabilizados da 79 representação do contexto (trânsito), que, do contrário, seria totalmente negativa. O elemento tumulto traz em volta de si, com muita força, a violência e outros (motoristas), denotando que o grupo pesquisado relaciona o tumulto do contexto com a violência e com o comportamento dos outros motoristas; aparecem, ainda, os elementos cansaço e desrespeito, ligados a stress/pressa. Todos esses elementos influenciam no tumulto da situação. O elemento perigo, que aparece ligado a atenção/responsabilidade, agilidade (ou falta de) e acidente, faz supor que o grupo representa a falta de agilidade ou a falta de atenção/responsabilidade, juntamente com o tumulto, elementos que podem provocar acidentes. Globalmente, observa-se que há, da parte dos sujeitos, uma autopercepção positiva como motorista e uma representação negativa dos outros motoristas e do sistema de tráfego como um todo. O conjunto dados mostra que, enquanto têm uma representação de si bastante positiva como motoristas, semelhante à representação que têm do dirigir, ao representarem o contexto do trânsito, têm uma representação social negativa, constituída em torno de dois problemas: o primeiro, ligado à organização do trânsito (má sinalização, vias inadequadas, fiscalização deficiente etc) e o segundo, ligado às características dos outros motoristas (velocidade inadequada, não obedecem a distância mínima, são afoitos, ultrapassam sem segurança, são irresponsáveis, freiam bruscamente, não respeitam as leis, são desatentos etc). Estes resultados parecem indicar que os sujeitos desenvolvem um sistema cognitivo, construído coletivamente na representação negativa do trânsito, que têm por função justificar o fato de se permitirem não seguir estritamente as regras de transito (não serem o tempo todo “bons motoristas”) por que os outros motoristas (que são sempre maus motoristas), somados à desorganização do sistema de tráfego, os obriga a dirigir mal. 80 Retomando o modelo de análise proposto, poderíamos sugerir um esquema interpretativo (Figura 9), com base nos dados obtidos, que nos permite refletir sobre o comportamento dos indivíduos no trânsito, sobre a interação social e iniciar uma abordagem do problema integrando normas, valores, representações e práticas sociais: Figura 9–Esquema interpretativo da representação global do trânsito como situação social complexa, entre sujeitos jovens motoristas universitários RS dos OUTROS negativa RS do Trânsito Contexto de Falta de Fiscalização e Desorganização RS do DIRIGIR Positiva Atenção e responsabilidade RS do DIRIGIR “Invertida” negativa RSdo doEU EU RS positiva positiva “Atenção” Cuidado Tumulto Perigo Segundo este esquema interpretativo (Figura 9) , os sujeitos, jovens motoristas universitários, representam a situação do trânsito como globalmente caótica (confusa) e perigosa. Ao mesmo tempo, parecem representar o ato de dirigir como centrado na atenção e na responsabilidade. Os sujeitos parecem, assim, resolver esta aparente contradição, por meio de uma separação radical entre as práticas dos outros motoristas e as suas próprias, enquanto motoristas. Pode-se supor que o principal fator de perigo no trânsito é representado pelo modo como os outros (a maioria) dos motoristas dirige. As 81 práticas atribuídas aos outros motoristas correspem quem a uma “representação invertida” do dirigir ideal. 3.3. Etapa 2 - A representação global do trânsito em agentes de fiscalização 3.3.1 A representação de si e do outro Também para este grupo foi utilizado o mesmo instrumento de pesquisa, já descrito na Etapa 1 e constituído de duas questões, cada uma composta de 14 escalas5, com variação de sete pontos. Um pólo caracterizado por um comportamento percebido como “típico” do bom motorista e outro que se lhe opõe, ou seja, é característico do “mau motorista”. Os sujeitos desta etapa da pesquisa foram 77 agentes de fiscalização de trânsito do Município de Goiânia, cujas características já foram descritas anteriormente neste trabalho. Os resultados apurados (Tabela 9) mostram que os sujeitos atribuem a si próprios características de “bom motorista”, enquanto que aos “outros motoristas”, atribuem, de forma geral, características do “mau motorista”. Podemos observar esta tendência de forma mais evidente nos itens: respeita distância mínima, respeita semáforo, usa a seta, velocidade adequada, responsabilidade, freia calamamente e usa o retrovisor em que aparecem as maiores diferenças entre as médias atribuídas a si e aos outros motoristas. Nos resultados podemos observar outro grupo de itens: atenção, ultrapassagem segura, uso do cinto, calma, respeito às leis, agilidade e confiança, nos 5 A ordem de apresentação das escalas, no instrumento, foi variada aleatoriamente 82 quais, os sujeitos se aproximam mais da representação que têm dos outros motoristas, atribuindo-se, eventualmente, características de maus motoristas. Tabela 9– Resultados das escalas de auto e hetero-percepção de agentes de fiscalização, em referência aos comportamentos característicos do “Bom Motorista” e do “Mau Motorista” (N=77)6 Pares comparados Respeita distância mínima/cola na traseira Respeita semáforo/não respeita Usa a seta/não usa a seta Velocidade adequada/velocidade alta Responsabilidade/imprudência Freia bruscamente/freia calmamente Usa o retrovisor/não usa o retrovisor Atenção/desatenção Ultrapassagem Segura/insegura Usa o cinto/não usa o cinto Calma/nervosismo Respeita as leis /não respeita Bastante agilidade/Pouca agilidade Confiança/insegurança Média na “autopercepção” ( RS de Sí) Média na percepção da Maioria (RS do “outro”) Diferença entre As Médias 2.28 5.47 3.19 1.42 4.56 3.14 2.19 5.27 3.08 2.26 5.04 2.78 1.76 4.48 2.72 1.98 4.51 2.53 1.83 4.22 2.39 2.03 4.26 2.23 2.15 5.09 1.94 1.55 3.42 1.87 2.61 4.41 1.80 1.69 4.47 1.78 2.22 3.79 1.57 2.14 3.13 0.99 Estes resultados mostram que a percepção da maioria como motorista, quando negativa, está centrada nos aspectos mais intimamente ligados à própria atividade desse grupo, ou seja, a fiscalização do comportamento dos motoristas. Foi realizado, ainda, o teste t de Student (Tabela 10), verificando-se que as diferenças entre a percepção do outro e a autopercepção como motoristas são significativas no grupo pesquisado, reforçando, como no grupo de jovens universitários motoristas, o conceito de maior valorização de si mesmo quando em comparação com os outros. 6 Do grupo de 88 sujeitos, nem todos não responderam às questões de posicionamento ou as responderam parcialmente, o que explica os números diferentes de sujeitos nas Tabelas 5 e 6. 83 Tabela 10- Médias e desvio padrão de percepção dos outros percepção dos outros e autopercepção como motoristas em agentes de fiscalização PARES/ VARIÁVEIS Perc. dos Outros Autopercepção Perc. dos Outros Autopercepção Perc. dos Outros Autopercepção Perc. dos Outros Autopercepção Perc. dos Outros Autopercepção Perc. dos Outros Autopercepção Perc. dos Outros Autopercepção Perc. dos Outros Autopercepção Perc. dos Outros Autopercepção Perc. dos Outros Autopercepção Perc. dos Outros Autopercepção Perc. dos Outros Autopercepção Perc. dos Outros Autopercepção Perc. dos Outros Autopercepção 3.3.2 Desatenção Atenção Nervosismo Calma Velocidade alta Velocidade adequada Não usa cinto Usa cinto Não respeita leis de trânsito Respeita leis de trânsito Imprudência Responsabilidade Pouca agilidade Bastante agilidade Insegurança Confiança Não olha o retrovisor Olha no retrovisor Ultrapassa sem condições Ultrapassa com condições Raramente usa a seta Sempre usa a seta Avança o sinal Respeita o semáforo Cola na traseira Respeita distância mínima Freia bruscamente Freia calmamente MÉDIA 4,26 2,03 4,41 2,61 5,04 2,26 3,42 1,55 4,47 1,69 4,48 1,76 3,79 2,22 3,13 2,14 4,22 1,83 5,09 2,15 5,27 2,19 4,56 1,42 5,47 2,28 4,51 1,98 N 69 69 69 69 69 69 69 69 70 70 67 67 67 67 64 64 65 65 66 66 64 64 64 64 64 64 55 55 DESVIO PADRÃO 1,91 1,20 1,67 1,56 1,72 1,51 1,97 1,35 1,89 ,96 1,71 1,12 1,85 1,43 1,58 1,49 2,06 1,32 1,65 1,55 1,92 1,65 1,93 ,71 1,83 1,47 1,99 1,39 T GL p< 9,334 68 ,000 7,647 68 ,000 10,341 68 ,000 6,437 68 ,000 11,182 69 ,000 11,669 66 ,000 5,804 66 ,000 3,840 63 ,000 8,606 64 ,000 10,570 65 ,000 10,379 63 ,000 12,010 63 ,000 11,652 63 ,000 7,982 54 ,000 A representação da tarefa (dirigir) Para realizar o estudo da representação social do “dirigir” foi construído um instrumento em que se utilizou o mesmo tipo de “questão de evocações”, já descrita na Etapa 1. A questão foi formulada nos seguintes termos: “Quando você escuta a expressão DIRIGIR, quais as palavras ou expressões lhe vêm espontaneamente à cabeça?” Um grupo de 88 sujeitos, agentes de fiscalização, participou desta fase. Para o tratamento dos dados, foram considerados, como na Etapa 1, dois critérios: a frequência e a ordem média de evocação. Os resultados são apresentados na Tabela 3, denominada classicamente de “tabela de 4 casas”. 84 Assim, os resultados obtidos nesta questão parecem indicar que na representação da tarefa, do “dirigir” do grupo pesquisado, aparecem como supostamente os elementos “atenção”, “responsabilidade” e “respeito” , além de “veículo” e “trânsito” ; na denominada “primeira periferia”, aparecem, ainda “cuidado”, “conduzir” e “carro”, evidenciando elementos próprios da prática social do grupo pesquisado, como é o caso estes elementos: veículo/carro e trânsito, agregados a elementos próprios da representação que podemos chamar de “idealizada”, bastante identificada com os elementos presentes na legislação do trânsito e amplamente difundida no meio do grupo pesquisado. Tabela 11– Análise das evocações da representação social da tarefa (dirigir) de agentes de fiscalização Ordem Média de Evocação 3.3 41 atenção (2.12) 37 responsabilidade (2.59) 19 respeito (3.21) 19 veículo (2.52) F 18 trânsito (2.66) R E Q Ü 16 cuidado (2.31) 14 conduzir (1.78) Ê 13 pedestre (3.38) N 12 C I A 11 acidente (3.58) 12 sinalização (3.66) 12 habilidade (3.83) carro (2.00) 9 leis (3.57) 7 prudência (3.57) 7 educação (3.28) 7 perigo (3.28) calma (3.55) 7 7 motorista (3.14) 7 tranqüilidade (3.71) 7 imprudência (5.14) Como já visto antes, no tratamento de dados específico da chamada “análise de evocações”, opera-se, em seguida, uma categorização com o objetivo de agrupar as 85 palavras e expressões que “denotam ou referem-se (sic) ao mesmo núcleo de sentido”, a um mesmo “significado”. Operada a categorização, os dados são submetidos a uma análise estatística, do tipo “análise de similitude”, cuja matriz de similitude pode ser expressa através de gráficos. Os resultados referentes à representação social da tarefa (dirigir), desta forma apurados, estão apresentados no gráfico da “árvore máxima” (Figura 10). Observando-se o grau de conexão dos elementos , podemos perceber que “responsabilidade”, “sinalização” e “deslocamento” são aqueles que agregam em torno de si o maior número de elementos, fato que os torna supostamente centrais na representação pesquisada. Em torno da categoria “responsabilidade” gravitam aqueles elementos da representação ligados às características ou comportamentos atribuídos aos motorista. Pode-se afirmar que as categorias “sinalização” e “deslocamento” formam, em conjunto, um núcleo em que aparecem os elementos característicos do contexto: “veículos”, “vias”, “administrar”, “acidente”, “pedestre” e “dirigir”. Este segundo conjunto, articulado em torno de “sinalização” e “deslocamento”, pode ser interpretado como um núcleo organizativo, cujos componentes básicos (vias, veículos, pedestre, motoristas) são associados a elementos que poderíamos classificar de “sistêmicos”: o deslocamento (a própria finalidade do trânsito), a administração e a sinalização (“ação” que regula o deslocamento e permite a administração). É importante salientar que no trabalho de categorização a noção de “fiscalização” foi minoritária e associada a "sinalização". 86 Figura 10– Gráfico de similitude da representação social de “dirigir”de agentes de fiscalização (N=88) 3.3.3 A representação do contexto (trânsito) em agentes de fiscalização. Nesta fase foi aplicada a um grupo de 88 sujeitos, agentes de fiscalização, a seguinte questão de evocação: “Quando você escuta a expressão“TRÂNSITO”, quais são as palavras ou expressões que vêm imediatamente à sua cabeça?” As palavras evocadas foram tratadas estatisticamente, sendo os resultados mostrados na Tabela 8, em que podemos destacar, como elementos provavelmente centrais , veículo , atenção, pedestre, congestionamento e responsabilidade. 87 Tabela 12- Análise das evocações da representação social do contexto (trânsito) de agentes de fiscalização Ordem Média de Evocação 3.6 28 veículo (3.28) F R 27 congestionamento (3.35) 26 atenção (3.23) 24 pedestre (3.54) E Q 25 sinalização (4.08) Ü 21 imprudência (4.50) Ê 16 acidentes (4.38) N C 15 responsabilidade (2.73) I A 15 ir-e-vir (2.60) 13 vias (2.84) 12 fiscalização (4.25) 10 stres (3.70) 9 agente (5.33) 8 confusão (2.00) 8 velocidade (3.75) 8 tumulto (3.25) 8 multas (3.37) 7 barulho (3.14) 7 placas (3.71) 7 desrespeito (4.14) 6 movimento (1.66) 6 conduzir (3.63) 6 cuidado (2.33) 6 smt (4.66) Podemos observar que os elementos presentes nesta primeira análise das palavras evocadas mostram que, na representação do contexto (trânsito), aparecem os elementos: veículo, congestionamento, atenção, pedestre e responsabilidade, como supostamente centrais e na primeira periferia: sinalização, imprudência, acidentes, vias, ir-e-vir (circulação), confusão (tumulto) e multas. Estes resultados pressupõem um representação fortemente estruturada em torno de uma dimensão organizativa. Do mesmo modo que na representação da tarefa (dirigir), os componentes básicos (veículo, via, pedestre) aparecem no quadrante das hipóteses de centralidade e primeira periferia. Fato similar pode ser observado pelas palavras que se referem a processos ou preocupações organizativas: sinalização, circulação (ir-e-vir). 88 Em distinção clara da representação da tarefa (dirigir), aparecem em destaque os elementos negativos, atribuídos ao trânsito: congestionamento, imprudência, acidentes, confusão e tumulto. O mesmo procedimento de categorização aplicado anteriormente, quando do estudo da representação da tarefa, foi aplicado aos dados, encontrando-se a composição de categorias, cujos dados, ao serem processados, possibilitaram, a análise de similitude, representada pelo gráfico da árvore máxima ( Figura 4). Figura 11- Gráfico de similitude da representação social do trânsito em agentes de fiscalização (n=88) A representação gráfica da matriz de similitude parece indicar uma visão global do trânsito como dotado de um núcleo de significado em torno da idéia de “confusão” e um segundo núcleo, a que poderíamos chamar de “controlador” ou “administrador”, correspondente ao esforço (fiscalização – sinalização) em garantir o seu funcionamento, o bom deslocamento, ou seja, a “não-confusão”. Podemos, também, supor que a categoria “motoristas” está associada a “confusão”, também pela associação dos 89 elementos “nervosismo”, “imprudência”, “desrespeito”, que são práticas (negativas) dos motoristas. Esta configuração consubstancia uma representação bastante complexa e elaborada, em que se percebe que o encadeamento de elementos ligados aos motoristas (nervosismo, imprudência e desrespeito) provocam confusão; um eixo formado por fiscalização e sinalização, de sustentação ao contexto, ao qual são associados os elementos identificados como principais (supostamente centrais) da representação da tarefa (responsabilidade, atenção e respeito/prudência). Podemos, então, propor o seguinte esquema interpretativo (Figura 12). Figura 12– Esquema Interpretativo da representação Global do Trânsito Como Situação Social Complexa, entre Sujeitos Agentes de Fiscalização. RS do Trânsito FISCALIZAÇÃO RS do dirigir Sinalização Sinalização Responsabilidade Deslocamento RS do outro (NEGATIVA) RS de si CONFUSÃO/ TUMULTO (positiva) Neste esquema o contexto (RS do trânsito) seria composto de dois elementos: um, em termos de fiscalização/sinalização, para o qual converge parte da RS da tarefa 90 (dirigir), representada pelo elemento sinalização, elemento este que embora aparecendo como periférico na Tabela 11 (Tabela de 4 casas), adquire importância no gráfico de similitude (Figura 10), aparecendo como elemento importante, supostamente central, na representação da tarefa, neste grupo. O outro elemento presente na representação do contexto trânsito, evidencia uma dimensão de confusão (tumulto), associada aos motoristas, em geral, e, portanto, igualmente associada à representação dos outros. Os resultados parecem indicar que o agentes de fiscalização não se excluem do conjunto dos motoristas, estando parte incluídos no núcleo positivo do contexto, posto que são agentes de fiscalização, e parte no núcleo negativo, posto que também são motoristas. 3.4. Comparando os resultados dos dois grupos pesquisados Neste segmento analisaremos a representação social do trânsito como situação social complexa pela comparação da representação de si mesmo e dos outros como motoristas, da representação da tarefa (dirigir), e da representação social do contexto (trânsito) nos dois grupos pesquisados. 3.4.1. Comparação dos resultados da representação de si e dos outros como motoristas em jovens universitários motoristas e agentes de fiscalização. Ao verificarmos os resultados dos dois grupos, no item representação de si mesmo e dos outros como motoristas, podemos fazer a seguinte pergunta: os dois grupos diferem quando avaliam a si mesmo como motoristas e quando avaliam os outros como motorista. Nesse caso, nossa hipótese experimental seria que os grupos não 91 diferem nessa avaliação, e a hipótese nula, a afirmação contrária, de que os grupos diferem entre si. Para verificar essas hipóteses, recorremos à estatística, utilizando o teste t de Student (Tabela 11), cujos resultados indicam que, globalmente, os dois grupos comparados não diferem de forma significativa na autopercepção como motoristas. Na maioria dos pares de comportamentos avaliados, apresentando diferença significativa apenas em três pares: velocidade adequada/velocidade alta, respeita leis de trânsito/não respeita e respeita o semáforo/avança o sinal. Tabela 13– Médias e teste estatístico da autopercepção como motorista em jovens universitários motoristas e agentes de fiscalização Variáveis comparadas 1. Atenção/Desatenção 2. Calma/Nervosismo 3. Velocidade adequada/Velocidade alta 4. Usa cinto/Não usa o cinto 5. Respeita leis de trânsito/Não respeita 6. Responsabilidade/Imprudência 7. Bastante Agilidade/Pouca Agilidade 8.Confiança/Insegurança 9. Usa o retrovisor/Não usa o retrovisor 10. Ultrapassa com segurança/sem condições 11. Sempre usa a seta/Raramente usa 12. Respeita o semáforo/Avança o sinal 13. Respeita distância mínima/Cola na traseira do carro da frente 14. Freia calmamente/Freia bruscamente Universitários Agentes Teste Estatístico t Gl p< -,287 234 n.s. 2,0 2,6 2,9 1,6 2,1 2,1 2,1 1,9 1,7 2,0 2,0 2,6 2,3 1,0 1,7 1,8 2,2 2,2 1,8 2,2 2,0 2,1 2,6 2,2 1,5 2,1 -,860 229 n.s. 2,838 229 0,01 1,131 227 n.s. 2,2 2,0 ,697 218 n.s. -,069 234 n.s. 2,399 234 0,05 ,031 234 n.s. 2,043 235 0,05 1,428 232 n.s. -,895 231 n.s. -1,409 228 n.s. -,900 229 n.s. -,822 229 n.s. O mesmo teste foi aplicado aos resultados das questões apresentadas aos dois grupos pesquisados, na condição “na sua opinião, a maioria dos motoristas”, sendo que nesta comparação (Tabela 12) podemos observar, novamente, que os dois grupos, desta vez, diferem divergência quando avaliam os outros como motoristas, apresentando em relação ao seguintes pares de comportamentos comparados: atenção/desatenção, calma/nervosismo, usa cinto/não usa cinto, respeita leis de 92 trânsito/ não respeita, responsabilidade/imprudência e freia calmamente/freia bruscamente. Neste caso, o grupo de agentes de fiscalização tende a ser menos exigente na avaliação dos outros como motorista, o que parece evidenciar uma avaliação mais precisa ou objetiva do comportamento dos outros como motoristas, enquanto que o grupo de jovens universitários mostra-se mais severo com os outros do que consigo mesmo. Tabela 14– Médias e teste estatístico da percepção dos outros como motoristas em jovens universitários motoristas e agentes de fiscalização Variáveis comparadas 1. Atenção/Desatenção 2. Calma/Nervosismo 3. Velocidade adequada/Velocidade alta 4. Usa cinto/Não usa o cinto 5. Respeita leis de trânsito/Não respeita 6. Responsabilidade/Imprudência 7. Bastante Agilidade/Pouca Agilidade 8.Confiança/Insegurança 9. Usa o retrovisor/Não usa o retrovisor 10. Ultrapassa com segurança/sem condições 11. Sempre usa a seta/Raramente usa 12. Respeita o semáforo/Avança o sinal 13. Respeita distância mínima/Cola na traseira do carro da frente 14. Freia calmamente/Freia bruscamente Universitários Agentes Teste Estatístico T Gl p< 5.3 53 5.0 4.2 4.4 4.9 4,186 250 0,001 3,809 250 0,001 0,253 250 n.s. 2.7 5.2 5.0 4.1 3.6 4.1 5.1 3.3 4.4 4.4 3.7 3.2 4.1 5.0 -2,467 250 0,05 3,068 250 0,05 2,566 250 0,05 1,678 250 n.s. 1,688 247 n.s. -0,113 249 n.s. 0,334 250 n.s. 5.2 4.4 5.5 5.2 4.4 5.4 -0,037 248 n.s. 0,067 248 n.s. 0,214 248 n.s. 4.9 4.4 1,975 248 0,05 3.4.2 Comparação dos resultados da representação da tarefa (dirigir) em jovens universitários motoristas e agentes de fiscalização Utilizando os dados da Tabela 3, buscamos comparar, do ponto de vista do conteúdo, a representação da tarefa (dirigir) nos dois grupos pesquisados. Da análise rsultou que, embora mostrem muita semelhança, a representação social dos dois grupos deixa à mostra nos dados analisados, uma diferenciação dos elementos supostamente formadores do núcleo central da representação da tarefa, em ambos: enquanto na “tabela 93 de quatro casas”, no quadrante dos elementos supostamente centrais, o grupo de jovens universitários motoristas apresenta os elementos “atenção”, “responsabilidade”, “cuidado” e ”respeito’, o grupo de agentes de fiscalização acrescenta a estes os elementos “veículo” e “trânsito”. Isto parece indicar, como ressalta Abric (1998), que a relação do grupo com o objeto representado é determinante da representação, posto que este grupo tem uma relação diferente com a tarefa, uma vez que a representa mais como agente fiscalizador da tarefa do outro que na condição de motorista. Tabela 15– Quadro sintético das palavras relevantes encontradas em cada uma das populações para a palavra indutora “dirigir” Jovens Universitários Motoristas (n=177) Hipóteses de centralidade Primeira periferia Responsabilidade Atenção Cuidado Respeito ______ ______ Trânsito ______ Prudência Conduzir Segurança Prazer _____ _____ Calma Controle Perigo Agentes de Fiscalização(n=88) Responsabilidade Atenção _____ Respeito Veículo Trânsito Sinalização Prudência _____ _____ _____ Pedestre Acidente Calma _____ _____ Tais dados vêm confirmar a proposição de Abric (1998), de que não basta a alta freqüência de evocação de um elemento para que este assuma caráter central na representação, mas que o aspecto qualitativo de suas ligações com outros elementos da representação também é um fator determinante da sua centralidade. 94 Nossos resultados parecem indicar que os dois grupos de sujeitos apresentam uma representação idealizada da tarefa, baseada em componentes positivos, naquilo que o dirigir deveria ser. 3.4.3 Comparação dos resultados da representação do contexto (trânsito) em jovens universitários motoristas e agentes de fiscalização. O mesmo ocorre quando comparamos a representação do contexto/trânsito (Tabela 16), em que, na tabela de quatro casas, do grupo de jovens universitários motoristas, aparecem, como supostamente centrais, os elementos “congestionamento”, “atenção”, “stress” e “carro”. No caso do grupo de agentes e fiscalização, aparecem outros elementos, como “pedestre” e “responsabilidade”, em substituição a “stress”, denotando, mais uma vez, que aspectos relacionados às práticas do grupo, como a fiscalização do fluxo de veículos e a proteção ao pedestre, estão determinando a representação do contexto. Finalmente, ao analisarmos os gráficos de similitude da representação do contexto (trânsito) entre jovens universitários motoristas, vimos que as categorias “fiscalização” e “tumulto” aparecem como supostamente centrais, enquanto que no mesmo tipo de gráfico, entre agentes de fiscalização, as categorias “confusão" (tumulto) e “fiscalização” aparecem ao lado de “sinalização”, “motoristas” e “imprudência”. 95 Tabela 16– Quadro sintético das palavras relevantes encontradas em cada uma das populações para a palavra indutora “trânsito” Hipóteses de centralidade Jovens Universitários Motoristas (n=177) Carro Congestionamento Atenção ________ ________ Stress Primeira periferia Multas Acidentes Responsabilidade Tumulto Barulho Perigo _______ _______ _______ _______ _______ Agentes de Fiscalização(n=88) Veículo Congestionamento Atenção Pedestre Responsabilidade ____________ Multas Acidentes ______ Tumulto Barulho _______ Ir-e-vir Vias Confusão Movimento Cuidado Tais resultados parecem indicar que se trata de uma representação extremamente próxima. Porém, infere-se ainda que, enquanto entre jovens universitários motoristas, a “fiscalização” está associada a elementos negativos (multas, congestionamento, imprudência, velocidade e, intensamente, a confusão), entre os agentes de fiscalização, pode-se supor que este elemento tem uma conotação positiva, posto que está associado a atenção, respeito, prudência e responsabilidade. Neste grupo, este elemento adquire também uma conotação organizativa e sua conexão com confusão realiza-se através do componente motoristas. É importante notar que, o elemento “fiscalização”, embora apareça em ambas as representações gráficas da representação social do contexto, está impregnado de conotações diversas, pois sua ligação ocorre com elementos diferentes, nos dois grupos 96 pesquisados: no caso dos jovens universitários motoristas, adquire conotação associada a “multas” (no sentido de que está sujeito a elas), “congestionamento” (no sentido de que a falta de fiscalização o provoca), “respeito” (no sentido de que a presença da fiscalização favorece o respeito às leis de trânsito), no caso do grupo de agentes de fiscalização este elemento liga-se mais aos elementos relacionados às práticas sociais deste grupo: “motoristas" (fiscalização de), “congestionamento” (seu trabalho o diminui), “sinalização” (atua para garantir o respeito à sinalização) e “pedestres” (atua para protege-lo). 97 DISCUSSÃO GERAL O trabalho de dissertação de Mestrado de Pereira (1997) propõe uma mesma perspectiva que a apresentada em nosso trabalho: a da importância de se re-conceituar a noção de “social”, dentro da psicologia do trânsito e de se buscar modelos de estudo e análise que integrem uma sólida perspectiva psicossocial. Para realizar seus objetivos Pereira (1997) propõe (dentre vários instrumentos) a questão aberta: “0 que você acha dos condutores no trânsito?”. Das respostas produzidas pelos vários sujeitos, esta pesquisadora construiu nove categorias de motoristas: “loucos”, “barbeiros”, “despreparados psicologicamente”, “animais”, “donos-da-rua”, “escravos-do-relógio”, “criminosos”, “alguns são ótimos e a maioria dos condutores" (sic) e “péssimos” Tomamos aqui a liberdade de reproduzir um trecho de suas principais conclusões: “Verificou-se, no presente trabalho, que as representações sociais apareceram com elevado índice de variáveis associados ao universo individual dos condutores e aos fatores constitutivos de ordem social e cultural. O estudo mostra que os condutores apresentam um pensamento parcial e fragmentado da totalidade da realidade do trânsito. Supervalorizam as ações individuais dos condutores e percebem com baixa freqüência os fatores situacionais ambientais (vias/rodovias/veículos) e culturais (legislação, administração, policiamento) em suas ações. Ou seja, se por um lado, a visão dos condutores como responsáveis por suas ações está bem refletida no pensamento da amostra, por outro chama atenção a ausência ou a baixa freqüência das representações relacionadas ao campo legal, organizacional/administrativo, de fiscalização e policiamento em suas ações.” (Pereira, 1997, p. 103). 98 Podemos afirmar que, tendo à disposição o conjunto de nossos resultados, o autor em questão estudou a “representação” social do motorista, em um enfoque que se aproxima mais do estereótipo do motorista ou da “imagem social” dos motoristas. A análise feita desta representação, para o autor, tem implicações sobre o modo como é representando o próprio trânsito em sua totalidade. Nossos resultados parecem corroborar uma das perspectivas globais desses estudos: os sujeitos julgam que a “maioria” dos motoristas não dirige adequadamente. Contudo, ao introduzir um instrumento de posicionamento, nossos resultados parecem indicar que, para os sujeitos pesquisados, o “mau motorista” é sempre o outro. Além disto, a abordagem estrutural permite-nos investigar componenetes que se encontram de alguma forma “ocultos” ou implícitos. É importante relembrar que, todo estudo de uma prática social - tal qual a prática do dirigir - mesmo que focada sob o prisma da “representação do motorista”, traz, ainda que implicitamente, vários aspectos ou componentes desta prática, ou seja, aspectos relativos ao ator social, aos outros atores , à tarefa etc. A noção mesma de posicionamento, promove a emergência, ou o evidenciamento do campo comum, a valorização dos aspectos consensuais mais amplos. Assim, podemos reintroduzir duas grandes “regularidades” sociais, enfocadas, uma pela Teoria da Identidade Social (Tajfel, 1981; 1982), a chamada « atribuição de qualidades negativas ao out-group » e, outra, pela Teoria das Representações Sociais, através do efeito primus inter pares, (supervalorização de si mesmo quando comparado com os outros) identificado por Codol (1968). Mais do que isto, nossa perspectiva parece integrativa de uma noção mais dinâmica de “interação social”. Assim, uma representação positiva da tarefa de dirigir, sofre um certo « deslocamento » de valor ou se ancora no contexto sócio-histórico, com outro valor, quando associada a uma outra representação social, a do contexto, de valor 99 marcadamente negativo. Ao vislumbrarmos que estas duas representações de « vetores » opostos referem-se (ancoram-se) em um mesmo contexto consensualmente partilhado, elas exigem uma leitura dos aspectos « implícitos » do dirigir e do contexto, que poderíamos apresentar do seguinte modo : 1. Considerando uma representação partilhada do dirigir, em termos de responsabilidade e atenção, resta sempre ao sujeito (sobretudo ao sujeito coletivo) uma tomada de posição ; e o « eu » (o eu como ator social) dirige com muita ou pouca responsabilidade/atenção, além, evidentemente, de se fazer necessário conhecer os raciocínios (racionalizações ?) pelos quais o sujeito justifica sua posição. 2. Do mesmo modo que para o ator « eu », como o sujeito avalia a posição dos outros atores, e quais justificativas são empregadas para justificar esta posição, no caso de ser diferente daquela do primeiro ator. 3. Considerando, uma outra representação, não dissociada da primeira, e também partilhada, do conjunto do trânsito, como « objeto » dotado de um caráter organizativo com um « esforço » de fiscalização/sinalização, mas cujo resultado final é caótico e tumultuado, também aqui resta a questão de saber : se o trânsito é isto, qual a parte que cabe a cada ator social, o « eu » e os outros ? Apesar do caráter inicial e exploratório dos resultados obtidos, podemos nos permitir uma primeira aproximação que evidencia o caráter histórico e dinâmico da interação social no trânsito. Sem desejar abusar do recurso aos esquemas visuais, parece-nos bastante pertinente a apresentação de um último esquema de síntese 100 analítica. Este modo de análise é inspirado pelo modelo de análise desenvolvido por Angela de Oliveira Almeida e colaboradores (Ribeiro, 2000 ; Guterrres, 2001), com base na abordagem genética das representações sociais, também conhecida como abordagem da « tomada de posições » (Doise, 1989 ; Doise, Clemence et LorenziCioldi, 1992). Figura 13 - Esquema interpretativo de estudo da representação global do trânsito como situação social complexa, em jovens estudantes motoristas e agentes de fiscalização de trânsito. Este esquema parece-nos útil posto que nos permite evidenciar dois grandes eixos de regulação social do comportamento no trãnsito e da atividade representativa dentro dele. Estes « eixos » são chamados de « dimensões » (Ribeiro, 2000 ; Guterres, 2001) a partir de análise de classificação hierárquica, que possibilita um posicionamento exato (dotado de coordenadas estatisticamente geradas) no plano. O posicionamento aqui apresentado é aproximativo, posto que sua finalidade é ilustrativa. As 101 « dimensões », reguladoras da atividade representativa são : uma dimensão de ordem e caos, definindo pólos opostos no plano, posicionando-se de um lado (no caso o superior esquerdo), os sujeitos aproximarão de uma visão do trânsito como fenômeno (talvez fosse mais lícito dizer evento) ordenado; posicionando-se de outro lado ( inferior direito) o trânsito os sujeitos se aproximam de uma representação global do trânsito como caótico. A segunda dimensão refere-se à parte de responsabilidade ou de responsabilização atribuída a cada um dos atores estudados (o eu e os outros) Dentro deste contexto, ao falar da prática de dirigir, os sujeitos parecem representá-la de modo idealizado, provavelmente indicando uma noção aprendida de modo adequado, que podemos considerar positiva para o bom funcionamento do trânsito: se os sujeitos representam “corretamente” a tarefa (dirigir), deverão, também, praticá-la corretamente. Entretanto, neste ponto, somos remetidos àquilo que Saad (1996a) chama de “tarefa atualizada”, que é o comportamento mesmo do indivíduo, intermediado pelas representações, e que não corresponde, exatamente, à “tarefa redefinida” ou representada. Nossos resultados, embora sintéticos, parecem apontar para uma representação do “eu-motorista” como melhor do que os ”outros motoristas”, embora, em alguns itens, perceba-se uma tendência de que o “eu-motorista” aceita que, da mesma maneira que os “outros-motoristas”, comporta-se inadequadamente. Retomando a referência ao estudo de Pereira (1997), podemos destacar que a mais intrigante das diferenças entre os resultados obtidos por este autor e os nossos é a afirmação, por parte de Pereira (1997), da baixa percepção, por parte dos motoristas, dos fatores ambientais e culturais. Nossos resultados apontam para uma representação do trânsito organizada em torno de, no mínimo, dois componentes centrais: o “tumulto” (o caos, a confusão, o congestionamento, o acidente) e “fiscalização” (sinalização, vias, 102 veículos, pedestres, obediência/desobediência às leis etc), que se referem ambos ao ambiente, não naturalizado, mas o ambiente humanizado e histórico Não se pode supor que um estudo anula o outro, mas, ao contrário, parece-nos legítimo supor que o modelo de Codol (1969a), ao decompor a situação em quatro componentes representacionais, permite colocar em evidência aspectos cuja explicação e compreensão tinham, até então, outra perspectiva. Resta, ainda, uma questão teórica importante: a definição (teste) dos elementos centrais. Cabe-nos ressaltar que nosso objetivo não era o de “conhecer o núcleo central”, mas de contribuir na construção de um modelo psicossocial de análise do trânsito. O conjunto de resultados obtidos leva-nos a propor a hipótese: a representação global do trânsito é estruturada em torno de, no mínimo, dois elementos centrais, para ambos os grupos de sujeitos: o “tumulto” e a “fiscalização/sinalização”. Em conjunto, os mesmo resultados levam-nos a supor que nos encontramos diante de uma situação , em que os elementos consensuais (teoricamente centrais) são os mesmos. Entretanto, os diferentes grupos se posicionam , ancorados em suas práticas cotidianas. Isto é tanto mais evidente, se relembramos o modo como os agentes de trânsito representam o dirigir , com forte carga nos componentes organizativos, gerenciais, do dirigir e do trânsito. O conjunto dos resultados parece indicar que a parte consensual é convalidada. Entretanto, resta-nos compreender as “práticas específicas”de cada grupo, para integrar no modelo de estudo (melhor seria dizer, na aplicação do modelo a esta situação social complexa, em particular) as explicações sobre os diferentes posicionamentos, que podem ser percebidos pela comparação dos dois esquemas interpretativos (Figuras 9 e 12). Certamente, a operacionalização das práticas, em termos de “bom-mau motoristas”, 103 induz uma perspectiva de consenso, posto que fundada na objetivação de uma “subrepresentação”, ou de um componente isolado da situação, a “objetivação” da representação social do motorista. Os agentes de fiscalização desenvolvem dois pápeis em relação à uma única tarefa, o dirigir : são motoristas quando dirigem ; são fiscais quando trabalham, supervisionando o modo como os outros dirigem. Podemos supor, então, que os sujeitos « agentes de fiscalização » possam ativar diferentes componentes de uma mesma representação, conforme são colocados nas diferentes situações, ora como motorista ora como fiscal ; o mesmo não ocorre com os jovens motoristas universitários. Podemos afirmar que nossos resultados, assim como o modelo proposto abre interessantes perspectivas de abordagem para a compreensão de porque, no trânsito, a « maioria » dos sujeitos não se sente implicado na responsabilidade quanto ao caráter caótico do mesmo e para o aprofundamento da noção político-social de cultura para o trânsito, enraizando esta « cultura » da qual os motoristas são acusados por autoridades e pelos « outros » motoristas, no estudo das práticas efetivas. Nossos resultados abrem importante vias de estudo para além do consenso e do conteúdo das representações estudadas. A noção de Representação Global da Situação, de Codol (1969a) parecenos um instrumento peculiar na compreensão do que há de « social » na interação social no trânsito. “Permanecer neste ponto, não seria exatamente estudar as representações, posto que estas somente recebem suas especificidades da sua ancoragem nas relações simbólicas entre atores sociais.” (Doise, Clémence et Lorenzi-Cioldi, 1992, p. 99) 104 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRIC, J.- C., (1976) Jeux, conflits et représentations sociales (Thèse doctract d’état). Aix-en-Provence: Université de Provence. ABRIC, J.- C., (1984) L’artisan et l’artisanat: anlyse du contenu et de la structure d’une représetnation sociale. Bulletin de Psy.chologie. Paris, v. 37, n. 366. ABRIC, J.- C., (1989) L’etude espérimentale des représentations sociales. In JODELET, D. (ed.) Les représentations sociales. Paris. Presses Universitaires de France (PUF). ABRIC, J.- C., (1994) Pratiques sociales et représentations. Paris: PUF. 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Menos de 1 ano De 1 a 2 anos De 2 a 3 anos de 3 anos Tem carro próprio? SIM NÃO Se respem queu não, responda à próxima questão: Utiliza constantemente o veículo de outra pessoa? SIM NÃO De quem?______________________ Normalmente, dirige quantas vezes da semana? 1 dia 2 dias 3 dias mais de 3 dias Mais Imagine que você pegou carona pela primeira com uma pessoa. Você está sentado no banco do passageiro e observa o modo como esta pessoa dirige. Quais os comportamentos ou condutas lhe indicam ser esta pessoa mau7 motorista? (mínimo de 4 resposta) 1)_______________________________________________ 2)_______________________________________________ 3)_______________________________________________ 4)_______________________________________________ 5)_______________________________________________ 6)_______________________________________________ 7)_______________________________________________ 8)_______________________________________________ 7 Foi aplicada uma variação com a palavra “bom”. 117 ANEXO 2 – Modelo de questionário com questão de evocação com palavra indutora “dirigir”, aplicado ao grupo de jovens universitários motoristas. Idade: 18-19 anos 20-21 anos 22-23 anos 24-25 anos 26 anos ou mais Dirige há quanto tempo? Menos de 1 ano De 1 a 2 anos De 2 a 3 anos de 3 anos Tem carro próprio? SIM NÃO Se respem queu não, responda à próxima questão: Utiliza constantemente o veículo de outra pessoa? SIM NÃO De quem?______________________ Normalmente, dirige quantas vezes da semana? 1 dia 2 dias 3 dias mais de 3 dias Mais B) Quando você escuta a expressão “DIRIGIR”, que as palavras ou expressões lhe vêm espontaneamente à cabeça? (mínimo de 4 respostas) 1)_______________________________________________ 2)_______________________________________________ 3)_______________________________________________ 4)_______________________________________________ 5)_______________________________________________ 6)_______________________________________________ 7)_______________________________________________ 8)_______________________________________________ 118 ANEXO 3– Modelo de questionário com questão de evocação com a palavra indutora “trânsito”e questões de escalas, aplicado ao grupo de jovens universitários motoristas. Idade: 18-19 anos 20-21 anos 22-23 anos 24-25 anos 26 anos ou mais Dirige há quanto tempo? Menos de 1 ano De 1 a 2 anos De 2 a 3 anos de 3 anos Tem carro próprio? SIM NÃO Se respondeu não, responda à próxima questão: Utiliza constantemente o veículo de outra pessoa? SIM NÃO De quem?______________________ Normalmente, dirige quantas vezes da semana? 1 dia 2 dias 3 dias mais de 3 dias Mais 1) Quando você escuta a expressão “TRÂNSITO”, quais são as palavras ou expressões que vêm imediatamente à sua cabeça? 1)___________________________________ 2)___________________________________ 3)___________________________________ 4)___________________________________ 5)___________________________________ 6)___________________________________ 7)___________________________________ 8)___________________________________ 2) Dentre as palavras que você citou na primeira questão, selecione as duas que acredita serem as principais. 1)___________________________________ 2)___________________________________ 119 3) Nesta questão, são apresentados alguns itens, em escala variando de 1 a 7. Caso você concorde plenamente com uma das afirmações, marque com um “X”acima do número que aparece logo abaixo da afirmação, ou 1 ou 7. Caso concorde muito com uma das afirmações, marque o número que melhor expresse sua opinião, ou seja, 2 ou 3 para a afirmação do lado esquerdo, ou 5 ou 6 para a afirmação do lado direito. Se não tiver opinião formada, ou discordar de ambas as afirmações, assinale o número 4. Na sua opinião, a maioria dos motoristas: A) Dirige com Dirige com bastante muita atenção não sei dizer desatenção ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 B) Dirige com Dirige de modo bastante afoito, com muito calma não sei dizer nervosismo ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 C) Dirige com Dirige em velocidade Velocidade alta adequada não sei dizer Demais ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 D) Usa constantemente o cinto de segurança não sei dizer Não usa o Cinto de Segurança ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 E) Respeita Não respeita as leis de As leis de trânsito Trânsito não sei dizer ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 120 F) Dirige com Dirige bastante com responsabilidade não sei dizer imprudência ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 G) Dirige com Dirige com bastante muito pouca Agilidade não sei dizer Agilidade ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 H) Dirige com Dirige bastante completamente Confiança não sei dizer insegura ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 I) Usa Normalmente regularmente não olha pelo o Retrovisor não sei dizer retrovisor ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 J) Somente Ultrapassa sem as condições ultrapassa com necessárias não sei dizer segurança ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 K) Sempre usa a Raramente usa seta quando vai a mudar de direção seta não sei dizer ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 L) costuma Sempre avançar o respeita o sinal não sei dizer semáforo ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 121 M) Normalmente Frequentmente Respeita a distância cola na traseira do carro da frente mínima não sei dizer ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 N) Normalmente diminui a Freia bruscamente, velocidade, para com uma certa frequência freiar calmamente não sei dizer ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 122 Na sua opinião, você: A) Dirige com Dirige com bastante muita atenção não sei dizer desatenção ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 B) Dirige com Dirige de modo bastante afoito, com muito calma não sei dizer nervosismo ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 C) Dirige com Dirige em velocidade velocidade alta adequada não sei dizer demais ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 D) Usa constantemente Não usa o o cinto de cinto de segurança não sei dizer segurança ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 E) Respeita as leis de trânsito não sei dizer Não respeita as leis de trânsito ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 F) Dirige com Dirige bastante com responsabilidade não sei dizer imprudência ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 123 G) Dirige com Dirige com bastante muito pouca Agilidade não sei dizer Agilidade ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 H) Dirige com Dirige bastante completamente Confiança não sei dizer insegura ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 I) Usa Normalmente regularmente não olha pelo o Retrovisor não sei dizer retrovisor ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 J) Somente Ultrapassa sem as condições ultrapassa com necessárias segurança não sei dizer ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 124 K) Sempre usa a Raramente usa seta quando vai a mudar de direção seta não sei dizer ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 L) Sempre costuma respeita o avançar o semáforo não sei dizer sinal ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 M) Normalmente Frequentmente Respeita a distância cola na traseira do carro da frente mínima não sei dizer ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 N) Normalmente diminui a Freia bruscamente, velocidade, para com uma certa frequência freiar calmamente não sei dizer ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 125 ANEXO 4 – Modelo de questionário utilizado no estudo da representação global do trânsito em agentes de fiscalização. Idade: 18 anos ( ) 19 anos ( ) 20 anos ( ) 21 anos ( ) 22 anos ou mais ( ) Escolaridade: 2º. Grau completo ( ) Universitário ( ) Curso Superior completo ( ) Há quanto tempo sabe dirigir: até 1 ano ( ) de 1 a 2 anos ( ) Mais de 2 anos ( ) Tem CNH? Sim ( ) Não ( ) 1)Quando você escuta a expressão “DIRIGIR”, quais são as palavras ou expressões que lhe vêm espontaneamente à cabeça? (Mínimo 4 respostas) 1)___________________________________ 2)___________________________________ 3)___________________________________ 4)___________________________________ 5)___________________________________ 6)___________________________________ 7)___________________________________ 8)___________________________________ 2)Quando você escuta a expressão “TRÂNSITO”, quais são as palavras ou expressões que lhe vêm espontaneamente à cabeça? 1)___________________________________ 2)___________________________________ 3)___________________________________ 4)___________________________________ 5)___________________________________ 6)___________________________________ 7)___________________________________ 8)___________________________________ 126 3)Nesta questão, são apresentados alguns itens, em uma escala variando de 1 a 7. Caso você concorde plenamente com uma das afirmações, marque com um “X”acima do número que aparece logo abaixo da afirmação, ou 1 ou 7. Caso concorde muito com uma das afirmações, marque o número que melhor expresse sua opinião, ou seja, 2 ou 3 para a afirmação do lado esquerdo, ou 5 ou 6 para a afirmação do lado direito. Se não tiver opinião formada, ou discordar de ambas as afirmações, assinale o número 4. Na sua opinião, a maioria dos motoristas A) Dirige com Dirige com bastante muita atenção não sei dizer desatenção ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 B) Dirige com Dirige de modo bastante afoito, com muito calma não sei dizer nervosismo ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 C) Dirige com Dirige em velocidade Velocidade alta adequada não sei dizer Demais ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 D) Usa constantemente o cinto de segurança não sei dizer Não usa o Cinto de Segurança ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 E) Respeita Não respeita as leis de As leis de trânsito Trânsito não sei dizer ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 127 F) Dirige com Dirige bastante com responsabilidade não sei dizer imprudência ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 G) Dirige com Dirige com bastante muito pouca Agilidade não sei dizer Agilidade ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 H) Dirige com Dirige bastante completamente Confiança não sei dizer insegura ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 I) Usa Normalmente regularmente não olha pelo o Retrovisor não sei dizer retrovisor ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 J) Somente Ultrapassa sem as condições ultrapassa com necessárias não sei dizer segurança ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 K) Sempre usa a Raramente usa seta quando vai a mudar de direção seta não sei dizer ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 128 L) Sempre costuma respeita o avançar o semáforo não sei dizer sinal ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 M) Normalmente Frequentmente Respeita a distância cola na traseira do carro da frente mínima não sei dizer ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 N) Normalmente diminui a Freia bruscamente, velocidade, para com uma certa frequência freiar calmamente não sei dizer ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 129 4)Na sua opinião, você: A) Dirige com Dirige com bastante muita atenção não sei dizer desatenção ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 B) Dirige com Dirige de modo bastante afoito, com muito calma não sei dizer nervosismo ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 C) Dirige com Dirige em velocidade velocidade alta adequada não sei dizer demais ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 D) Usa constantemente Não usa o o cinto de cinto de segurança não sei dizer segurança ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 E) Respeita as leis de trânsito não sei dizer Não respeita as leis de trânsito ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 F) Dirige com Dirige bastante com responsabilidade não sei dizer imprudência ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 130 G) Dirige com Dirige com bastante muito pouca Agilidade não sei dizer Agilidade ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 H) Dirige com Dirige bastante completamente Confiança não sei dizer insegura ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 I) Usa Normalmente regularmente não olha pelo o Retrovisor não sei dizer retrovisor ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 J) Somente Ultrapassa sem as condições ultrapassa com necessárias segurança não sei dizer ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 K) Sempre usa a Raramente usa seta quando vai a mudar de direção seta não sei dizer ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 L) costuma Sempre avançar o respeita o sinal não sei dizer semáforo ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 131 M) Normalmente Frequentmente Respeita a distância cola na traseira do carro da frente mínima não sei dizer ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7 N) Normalmente diminui a Freia bruscamente, velocidade, para com uma certa frequência freiar calmamente não sei dizer ⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥______⊥ 1 2 3 4 5 6 7