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COOPERAÇÃO / INTERNACIONALIZAÇÃO
Por Sara Subtil, Gameiro e Associados Sociedade de Advogados, R. L.
União entre a advocacia e o mundo empresarial
Este artigo dedica-se a todos aqueles que crêem veemente que o trabalho de um advogado é algo estanque e que se resume somente a pleitos, peças
processuais e longas horas de leitura dos mais diversos diplomas.
A
inda que tal aconteça, e que
essa realidade não cause
qualquer estranheza a um
qualquer causídico, parece irrefutável que o trabalho de um jurista é
transversal e, caso a imaginação e a iniciativa a isso dêem lugar, pode abraçar
as mais diversas áreas.
Grande parte do trabalho de um causídico
assenta assim no aconselhamento, na criatividade, na perspicácia, enfim… na capacidade de encontrar uma e a melhor solução,
quando após uma primeira leitura não se
consegue conceber uma qualquer alternativa. Para que tal suceda, é deveras importante, ter um conhecimento, ainda que
generalizado, das mais diversas matérias,
pois, só dessa forma, se irão vislumbrar
caminhos que teimavam em não se revelar.
Neste sentido, e salvo melhor doutrina, a
área mais frutífera que pode existir para
enriquecer toda a experiência de um jurista, é sem qualquer margem para dúvida, a
área empresarial.
Inacreditavelmente desafiante, o sector
empresarial é o maior impulsionador da
carreira de um advogado, proporcionando-lhe, não só inúmeras oportunidades de
negócio, bem como todo um conhecimento a nível de consultoria ou planeamento
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Pontos de Vista
fiscal. Em tempos conturbados, como
aqueles que se vivem actualmente, é imperativo que os profissionais do Direito,
procurem desviar o seu centro gravitacional do mundo jurídico, e absorver as
oportunidades que podem brotar de uma
incursão nesta área.
Desde sempre, e actualmente com maior
ênfase, os advogados surgem como indispensáveis aliados no que à projecção
de grandes empresas respeita, o que irá
contribuir, última ratio, para um aumento
e incremento da riqueza e, consequente
desenvolvimento do território nacional.
Nesta senda, é indiscutível que Portugal
anseia por projectos inovadores que visem incutir na sociedade um forte espírito
empreendedor e uma maior propensão
negocial, conquanto a conjuntura atribulada dos dias de hoje, não deve ser vista
enquanto um entrave, mas uma oportunidade de promover iniciativas que visem o
impulso económico e a capacidade de liderança. No território Brasileiro, e somente a
título de exemplo, o Direito Empresarial é
uma área que conta com inúmeras publicações, a acrescer que os próprios empresários têm ainda uma conduta pró-activa
no sentido de tentar projectar o seu território além-fronteiras, tornando-o mais
competitivo a nível internacional. Nesta
senda, e tendo como objectivo fulcral o
desenvolvimento económico a par de uma
politica social, um empresário e figura de
renome em terras de Vera Cruz, procurou
reunir os mais importantes líderes empresariais, no sentido de e através da promoção de um lema de cooperação, incrementar o desenvolvimento do Brasil ao mesmo
tempo que procura estreitar as relações
comerciais com outros países.
Todavia não só o desenvolvimento económico é levado em linha de conta, uma vez
que um país desenvolvido e competitivo
assenta sobre uma sociedade justa e igualitária, o que é igualmente impulsionado
por este grupo de líderes empresariais,
mediante iniciativas que visem a promoção de uma política de educação, de saúde,
por forma a erradicar por completo as disparidades sociais, essas sim, constituindo
um forte travão à progressão de um Estado. Com efeito, este é apenas um exemplo
do contributo que o mundo empresarial
pode dar para o desenvolvimento de um
território.
Actualmente, o nosso país enfrenta as dificuldades que por todos nós são sobejamente conhecidas e que conduziram não
só a um descrédito perante o mercado
mundial resultado das classificações que
nos foram atribuídas pelas agências de
Rating , afugentando todos aqueles que
até agora ponderaram investir os seus capitais em terras lusas, bem como fizeram
diminuir a drasticamente a nossa já parca
confiança, enquanto nação capaz de superar as adversidades.
Portugal é e será sempre um país de mentes brilhantes, mas que se encontram entorpecidas pelo desânimo e frustração,
pelo que anseiam por uma força inspiradora e que quebre a dormência e letargia,
que, como um vírus, vai contaminado tudo
e todos, conquanto, cumpre dar o mote
para que possamos fazer mais e melhor.
Assim sendo, importa não medir esforços,
e pregar o espírito inovador e empreendedor, conseguindo assim reunir apoios
de figuras de elevada credibilidade na sociedade portuguesa, de molde a, juntos,
conseguirmos projectar o nome de Portugal além fronteiras, enquanto um país de
vanguarda.
Não olvidando, no entanto que, e à semelhança do que sucedeu com o Brasil, um
país desenvolvido e competitivo só poderá
erguer-se sobre uma sociedade igualitária e equilibrada, dever-se-á apostar fortemente na promoção de iniciativas que
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Sublinhe-se
contudo, que tais objectivos só serão passíveis
de serem concretizados,
caso exista uma consciência verdadeiramente
enraizada de que com
trabalho, dedicação e
perspicácia se consegue
almejar qualquer meta
desde que exista uma
força anímica nesse sentido, não podendo esta
esmorecer em momento
algum
visem aniquilar as disparidades sociais e
incutir nas mentalidades jovens um forte
animus empresarial.
Acresce que, e para além dos objectivos
mencionados anteriormente, é imperativo, a esta altura promover por um estreitamento das relações comerciais dos
países lusófonos e não só, todos actuando
como uma força motriz para um desenvolvimento económico-social, sustentado
e sustentável. Sublinhe-se contudo, que
tais objectivos só serão passíveis de serem
concretizados, caso exista uma consciência verdadeiramente enraizada de que
com trabalho, dedicação e perspicácia se
consegue almejar qualquer meta desde
que exista uma força anímica nesse sentido, não podendo esta esmorecer em momento algum. São resoluções como estas
que nos fazem perceber que o trabalho
de um advogado não se dissipa quando
saia fora das lides jurídicas, podendo a
desenvoltura mental tão característica da
profissão, servir como fertilizante de uma
força pro-activa latente em cada um de nós
e que aguarda o seu despertar.
Face às vicissitudes que se nos deparam
diariamente, e com as quais somos obrigados a conviver, importa dotar a nação
de pessoas activas e capazes de puxar pelo
País, encarando os sucessos obtidos, não
de uma forma egoísta e auto-centrada,
sem considerar que os exemplos positivos
podem servir como motor de arranque
daqueles cuja vontade de vencer teima em
não aparecer.
Não raras vezes, encontramo-nos já estabelecidos profissionalmente não necessitando de muito para singrar na área
na qual escolhemos investir. Contudo,
a ambição de chegar ainda mais alto,
desviando-nos do percurso que seria
expectável percorrer, à medida em que
se investe noutro sector, irá conduzir a
que se obtenham dividendos individuais,
mas que a médio e longo-prazo, poderão
servir como estímulos em larga escala.
Muitos advogados encontram-se confortavelmente estabelecidos em escritórios
de elevado gabarito, patrocinando causas
que fazem correr muita tinta nos jornais
e alimentam a curiosidade mediática, todavia logram em não alargar o seu escopo
de actuação, não aproveitando desde logo
toda uma rede de contactos que têm ao
seu dispor e quedando em dar o seu contributo à Nação.
O papel de um advogado, não se resume
à construção de estratégias para uma
qualquer defesa ou acusação, pautando-
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-se também pela busca na reposição da
justiça e pelo auxílio na construção de uma
sociedade de elevados valores e aguerrida,
designadamente através do aconselhamento jurídico de prevenção, porquanto
existindo uma necessidade periclitante de
verdadeiros conselheiros e não milagreiros encapotados. É este, em última ratio o
que as políticas de cooperação e desenvolvimento visam enfatizar.
Cumpre assim recuperar a força destemida de outros tempos e que fizeram de Portugal uma das maiores potências mundiais
de outrora.
Certo é que muitos dos ilustres colegas
entendem que ambas as áreas devem
distinguir-se com clareza e, que compete
somente àqueles que escolheram o exercício do Direito enquanto profissão, fazer isso mesmo, exercê-lo. Não obstante,
agora mais do que nunca é fundamental
reinventarmo-nos a cada dia, e procurarmos incessantemente novos desafios, que,
estou certa, não ter sido em vão o emprego
dos adjectivos plasmados no terceiro parágrafo.
Em conclusão, o advogado, aquele que
chama a si a defesa de uma causa, deve
encarregar-se igualmente de chamar a si a
defesa de toda uma nação.
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