Homilia de Dom Dominique Rey Bispo de Toulon/França Atibaia, 18 de outubro de 2015 Primeira Leitura: Is 53,10-11 Salmo: Sl 32 Segunda Leitura: Hb 4,14-16 Evangelho: Mc 10,35-45 “Aquele que quiser ser o primeiro deverá ser o servo de todos” (Mc 10, 44). Maria colocou em prática essa reflexão de Jesus. Maria é a serva do Senhor, e se nós quisermos servir como Jesus nos ensinou, temos que olhar para a Virgem Maria para ver como servir, como se tronar um servo ou uma serva de Deus. Maria é a Serva de Deus primeiramente acolhendo Jesus. No dia da Anunciação, ela abre seus braços, abre o seu coração para acolher Jesus nela. Ser servo é, antes de tudo, acolher Jesus em sua casa, é abrir-se a Deus para que Deus venha morar em nós, para que transforme os nossos corações. Daqui a pouco Jesus virá em nós, ele vem aos nossos ouvidos através da Palavra e ao nosso corpo pela Eucaristia. Ser servo é deixar Jesus agir em nós. Eu proponho lembrar esse momento da Anunciação, aonde Maria disse ‘sim’ – Eu sou a serva do Senhor, faz de mim o que tu quiseres, reina em mim. Nós vamos todos agora abrir os nossos braços, fazer uma cruz com nossos braços, mas não simplesmente os nossos braços, como também o nosso coração, a nossa vida: “Sim Senhor, vem em nós. Eu não sou digno de que entreis em minha morada, a minha vida não é tão bela, tem muita sujeira, tem coisas muito sujas, muitos pecados, mas eu tenho carinho por ti Senhor. Vem em mim, eu sou teu servo, eu abro largamente, bem abertas as portas do meu coração”. Quando Jesus entra em nossa vida, ele entra em todos os cômodos da casa, até àqueles pontos que estão mais sujos e escondidos – lembre-se do nosso quarto, onde a cama não foi arrumada hoje de manhã. Em toda nossa vida, Jesus quer entrar em cada cômodo da nossa casa. Maria foi serva, em primeiro, na Anunciação, e ela vai ser serva também em outro momento muito importante da vida de Jesus. No casamento em Caná da Galiléia, ela percebe que um dos convidados não tem mais vinho, e o vinho é símbolo do amor. As jarras estão vazias em Caná. Como vocês podem perceber, aqueles que conhecem as Sagradas Escrituras, quantas jarras estavam vazias? Seis. O ‘seis’ representa qual número? Lembrem-se das primeiras páginas da Bíblia. Seis é o número da criação do homem, que foi criado no sexto dia. Então significa que se as seis jarras estão vazias, isso quer nos indicar que o homem está sem o amor, falta amor. Maria vê essa situação e o que ela faz? Imediatamente vai ver Jesus, ela não vai simplesmente ver Jesus, mas vai fazer esse gesto: “Jesus, estamos precisando de você, Jesus comece agora seu ministério, vem encher de amor a humanidade”. Ela chama Jesus e pede para ele fazer alguma coisa, e esse então é o primeiro milagre de Jesus. Servir é deixar Jesus entrar em nós mesmos, para que possamos viver nele a Anunciação, mas servir é também apresentar a Jesus as necessidades da humanidade. Nós somos homens e mulheres cristãos, nosso olhar deveria ser um sinal de atenção àqueles que estão perto de nós, àqueles também que estão longe de nós, para apresentar a cada missa as necessidades da humanidade, isto é ser servo. O servo não precisa ver para acreditar e é por isso que ele pode apresentar a Deus as necessidades do mundo. Há algumas semanas eu fui até a Síria e vi lá um grande caos, em particular muitos cristãos que eram perseguidos, igrejas que eram destruídas, ícones que eram queimados e vi famílias sendo martirizadas. Eu fui até a casa de uma família, onde os agressores islâmicos radicais disseram a um menino: “Como é que você se chama?”, e o menino respondeu: “Eu me chamo João”. O agressor lhe disse: “Você é cristão?”, o menino disse: “Sim, eu sou cristão!”; o outro lhe respondeu: “E por que você não quer se tornar muçulmano?”, “Não, eu sou cristão”. Disseramlhe então: “Mas você tem que se tornar muçulmano”. Ele então levou o menino até o jardim da casa e, diante de seus pais e irmãos, atirou nele. Sim, a televisão mostra muitos horrores, mostra tragédias, cristãos perseguidos, pessoas que se suicidam, homens e mulheres que são vítimas da injustiça, então nós, cristãos, como em Caná da Galileia, a cada missa, a cada momento em que rezamos ao Senhor, temos que apresentar ao Senhor, como fez a Virgem Maria, temos que dizer a Jesus: “Vem, nós precisamos do teu amor, precisamos da tua salvação”. Maria é serva na Anunciação, é serva em Caná e é serva também na Cruz. Ela está ali presente quando Jesus morre, o seu coração é transpassado nesse momento em que o coração de Jesus também é transpassado. Maria comunga do sofrimento de seu Filho. Na Cruz Maria se oferece a Deus, ela oferece seu Filho, ela entrega a Deus a humanidade inteira. Agora vamos fazer outro gesto, com as mãos para o alto, um gesto de entrega: “Senhor, eu me entrego a ti, te ofereço a minha vida. Senhor, eu te ofereço a humanidade, para que teu reino de paz, justiça e amor venha. Cada um de nós tem dificuldades físicas, espirituais, familiares, afetivas. Senhor, nós te oferecemos esses sofrimentos, nós te oferecemos essas derrotas, nós te oferecemos essas incompreensões. Senhor, nós nos entregamos a ti”. Tem outro momento no qual Maria vai ser serva além da Anunciação, de Caná e do Gólgota: no Cenáculo. É nesse momento que Maria eleva, por meio de sua oração, junto com ela todos os apóstolos. Pedro tinha negado Jesus, Judas traiu Jesus e todos os outros abandonaram Cristo, mas Jesus se manifestou a eles, ressuscitado, e ele disse: “Vou enviar a vocês o meu espírito”. Então eles estavam reunidos no Cenáculo em torno de Maria e a oração de Maria ajudou os apóstolos a também rezarem, a fé de Maria encorajou os apóstolos. Sim, ser servo é encontrar-se no Cenáculo com Maria. O servo precisa do outros. O servo não vai apenas servir os outros, mas vai amá-los, vai conduzir os outros. Tem tantas pessoas que estão sozinhas e abandonadas, a Igreja é uma família, então nós vamos nos dar as mãos: “Senhor, faz de nós servos de nossos irmãos e irmãs. Sim Senhor, ensina-nos a servir cada pessoa, aqueles que nós conhecemos mas também aqueles que não conhecemos. Sim Senhor, envie o teu Espírito Santo, para fazer de cada um de nós apóstolos na Igreja, servos dos nossos irmãos e irmãs. Que no corpo de Cristo, que é a Igreja que o Senhor santificou, manifeste a sua presença”. Tradução: André Favoretti