Tema da aula: ITÁLIA / IUGOSLÁVIA
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A questão da não-naturalidade das nações
A importância da linguagem, no séc. XIX
A unicidade linguística - Língua: álibi para
as nações: crença de que o povo fala uma
só língua
Diagrama de Hobsbawn: não é a nação que
faz o Estado, mas o contrário. O Estado
constrói a nação
Primeiro Estudo de Caso: Itália e
Iugoslávia.
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ITÁLIA E IUGOSLÁVIA
Historicamente:
ambos os países
ocuparam um cenário heterogêneo, devido à
diversidade de línguas e
à diversidade de povos
em seus territórios.
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A QUESTÃO DA
NATURALIDADE X ARTIFICIALIDADE
Itália – tida como nação “natural”, pelo dado
linguístico. E por quê? Porque passa a ter
uma língua institucionalizada. As demais
línguas da Itália eram heterogêneas, não
próximas, não contíguas, não mutuamente
inteligíveis (calabrês, piemontês, lombardo...)
Iugoslávia – tida como nação “artificial”,
porque as línguas existentes eram mais
próximas, contíguas entre si, inteligíveis.
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A QUESTÃO DA
NATURALIDADE X ARTIFICIALIDADE
Posteriormente:
Ambas as nações passam a constituir um
caso emblemático,
pois apesar de percorrerem
caminhos semelhantes
chegaram a
resultados completamente diferentes.
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Itália
Roma ainda não seria Itália, mas um estado pontifical. Tanto é que
nossos ancestrais viam-se com documentos pontificais em mãos.
“Já fizeram a Itália, agora temos que fazer italianos!” – frase
emblemática, trazendo a questão da legitimação e da legitimidade.
Legitimação – políticas de homogeneização cultural – a central – as
políticas linguísticas: ferramenta de institucionalização das nações.
Ninguém se sentia italiano, mas piemontês, lombardo, calabrês...
“Unificação tardia” – rotulação carimbada, argumento de
convencimento.
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Percurso histórico da Itália
A unificação italiana se dá, acredita-se, de 1860-1871.
1871 – Reunião do Primeiro Parlamento Italiano, em Turim.
Esse processo carecia de certa legitimidade que seria alcançada
por meio do reconhecimento da Itália como nação.
Motivação para que o estado italiano adotasse as Políticas
Linguísticas: a necessidade de criar uma identidade nacional.
Políticas Linguísticas que a nação italiana adota e todos os
habitantes têm que assumir.
1.

Institucionalização de uma língua comum: o Italiano que vai ser
uma língua construída (Lazzio-Toscano), uma junção das línguas
das elites de Florença (Lazzio) e Toscana (o Toscano), com
critérios como os do NURC brasileiro (os dos falantes melhores).
Na verdade, havia outras propostas de línguas a serem adotadas,
mas o italiano acabou sendo escolhido “por acaso” – a partir da
aplicação de critérios essencialmente políticos.
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Itália
1.
Hobsbawn revela que apenas 3% dos
habitantes falavam tal língua (a da elite:
20% das cidades de toda a região).
2.
O italiano transforma-se em língua
natural.
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Modalidades de “língua”
1. Oficial – é a língua instituída pelo
Estado (séc.XIX)
2. Nacional – (supostamente) a língua
que deve seria falada por todas as
pessoas e, ao mesmo tempo, ser a
língua oficial do Estado.
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Passos seguintes:
1. A gramatização da língua – quando se dá a
institucionalização linguística.
2. Criação da Academia de Línguas ou Letras, cuja missão
é fazer gramáticas e dicionários.
3. Noção de “gramatização linguística”.
4. Efeito importante dessa institucionalização: uma língua
vai ser a língua nacional, comum, única. As demais: com
estatuto de dialetos: calabrês, lombardo, piemontês,
siciliano...
Na verdade, o processo de Institucionalização equivale
à supressão das demais línguas dos povos de uma
região (e suas culturas).
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5. Política de Generalização: fazer com que todas as
pessoas falem essa língua em todas as esferas:
5.1. Oficial – Estado (3 poderes: Legislativo,
Executivo e Judiciário)
5.2. Serviço Público – Língua de Estado é a que
prevalece para concursos, ainda que o funcionário
fale outro dialeto, o siciliano, por exemplo.
5.3. Exército – defensor da nação.
5.4. Educação – italiano adotado pelas escolas
públicas. Observar como Políticas Linguísticas e
Educação viraram uma só coisa...
Se se quisesse participar da sociedade civil, seria
preciso passar pela Educação – um filtro compulsório.
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Exigências da Educação
Investimentos em 3 níveis:
1. Logístico – criação de Secretarias da
Educação, de Escolas, Publicação de
Materiais Escolares.
2. Recursos Humanos – formação de
professores, dicionaristas, gramáticos,
pessoal de editoras...
3. Financeiro – que é permanente.
Os investimentos precisam ser imensos e
permanentes/perenes.
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RELAÇÃO DA NAÇÃO COM O ESTADO
Nação
Estado
O Estado é que constitui a
Nação. E deve/precisa
continuar sempre seu
investimento para que a
Nação se mantenha...
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A QUESTÃO DA ADESÃO
Último passo na institucionalização de uma língua
nacional, comum – a questão da adesão do povo,
que é decisiva.
Pergunta que se coloca: Como fazer a população
aderir àquela língua?
“Em casa” – termo que aponta o lugar decisivo
onde se tem L1 e não L2.
Meta final: a língua falada em casa.
Ponto político importante aí na adesão: do
séc.XIX até os anos sessenta – era grande coisa
fazer parte da nação.
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Sobre a adesão à L2
Hoje, deixar L1 para L2 é deixar minha
identidade, uma renúncia à identidade.
Segundo a ideologia da época, séc.XIX: não se
considerava uma renúncia, e essa renúncia era
vista como algo que valia a pena.
Isso explica o sucesso desse período.
Adesão espontânea, entusiástica: as pessoas
querendo ser “italianas”... Falar o italiano...
Quase sempre essa adesão é feita pela burguesia,
pelas classes mais privilegiadas, mais
endinheiradas, de mais poder.
Algo recorrente na China, a “Itália de hoje”.
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Argumento maior para adoção da
língua italiana


Grande adoção da língua por parte das pessoas
urbanas que viam na adoção da língua italiana o
alcance de certo status.
Afinal, a Itália com uma única língua aproximavase de grandes Estados, como a Inglaterra e a
França.
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


Na Itália, para as burguesias que estavam à
frente, “fazer a Itália”: uma legislação única para
Calábria + Sicília +...
As outras classes (camponesas, por exemplo, de
maior concentração populacional: 80%) passam
ao largo do processo de institucionalização da
língua italiana (única). Sequer se dão conta se
isso ocorre, ou não. Embora a língua tenha sido
imposta, por falta de conhecimento dos usuários,
a língua nativa dos camponeses continuava a ser
a utilizada no campo.
Adesão se dá num segundo momento: na época
do êxodo rural, os camponeses vão se
italianizando aos poucos, obrigatoriamente, para
não serem discriminados e também para serem
ouvidos em sua voz, compreendidos...
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Como se deu o desenvolvimento das
Políticas Linguísticas na Itália
Cenário da Itália: processo bem
sucedido, embora sem o tato necessário.
Túlio de Mauro (o linguista que fez a
releitura saussuriana) mostra bem a
realidade desse processo, qual seja, foi
de 50% apenas a adesão dos italianos
inicialmente.
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Iugoslávia – “Estado dos eslavos do Sul”
Álibi (nacional) p/criação da nação: “Estado dos eslavos do Sul”.
3 Línguas faladas pelos eslavos do Sul:
1. Sérvio-Croata
2. Esloveno
Sérvios, Croatas e Eslovenos formavam um Reino desde 1918: O Reino dos
Sérvios, Croatas e Eslovenos – que passou a chamar-se Reino da Iugoslávia, em
1919, e existiu com esse nome até a invasão (1941), pelas potências do Eixo.
3. Macedônio-búlgaro.
Ponto importante: estas línguas iugoslavas são mais contíguas que as italianas.
Só o ponto de vista linguístico, então, são muito próximas essas línguas: isso
vocacionaria a Iugoslávia a ser um Estado. O Argumento, então, seria: do ponto
de vista linguístico, a Iugoslávia poderia ser destinada, porque vocacionada, à
unificação.
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Pergunta que não se cala...

Por que o processo deu errado na Iugoslávia?

Por que deu certo na Itália?
“Vocação natural”, seria o argumento?
A Iugoslávia fora criada depois da Primeira Guerra
Mundial (1918/19), fruto da fragmentação do império
austro-húngaro e otomano.
Na Iugoslávia, o processo de unificação linguística
começou mais tarde (1919) e foi até 1939, quando ela é
invadida pelos nazistas.
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Crença da vocação “natural” = uma falácia... E por quê?
A Iugoslávia era já tida como uma nação “artificial”,
porque as línguas existentes eram muito próximas,
contíguas entre si, inteligíveis..., ptto, vocacionada...
O argumento do ponto de vista linguístico, então, seria
que a Iugoslávia poderia ser destinada, porque
vocacionada, à unificação linguística, a tornar-se um
Estado, depois uma Nação. Mas isso fracassou...
A Itália, ao contrário, não seria vocacionada à unicidade
linguística, nem a ser um Estado. Mas teve sucesso...
O argumento adequado: a Itália seguiu as Políticas
Linguísticas. A Itália embora tivesse menos vocação
para a unificação linguística, fez os
investimentos
necessários.. A Iugoslávia, não. E por quê?
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Iugoslávia
Período de 20 anos (1919-39) – em que as
políticas linguísticas foram levadas a cabo.
Invadida novamente em 41, a guerrilha que
separa em 2 grandes grupos: Josip Broz
Tito (comunista) e Slobodan Milosevic
(nacionalista) - 2 grupos contra os nazistas.
Iugoslávia – saiu como Estado comunista, da
Segunda Grande Guerra.
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Iugoslávia, depois de 1945




Identidade a ser fomentada pelo Estado.
Argumento de Legitimação: não vai ser a
identidade nacional, mas a identidade social (na
China de hoje, o percurso inverso).
O nacionalismo torna-se secundário; as políticas
ganham mais importância.
Mas ocorre que o investimento maior deixa de ser
feito.

Tito quer um estado socialista; ptt, focado na
questão nacional.
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Síntese: Caso Itália x Iugoslávia
O que tornou este caso particularmente interessante é o fato de
que se tenha argumentado explicitamente pela “naturalidade” de
um e pela “artificialidade” do outro.
O processo constitutivo da Itália e o processo destitutivo da
Iugoslávia não foram conduzidos como acidentais. Ao contrário,
foram conduzidos com propósitos claros e explícitos. E ambos
foram considerados como operações bem sucedidas.
O que se demonstramos é que nem a Itália é “natural”,
nem a Iugoslávia é “artificial” - ou pelo menos que
nenhum é mais natural ou artificial do que o outro... o
que nos deu ensejo a ilustrar a aplicação do “critério da
nacionalidade”.
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