Pontas Soltas – Lisboa
As bandas desenhadas que compõem este livro foram realizadas entre 2004 e 2013. Têm a
cidade de Lisboa em comum e foram criadas para diferentes projetos.
A primeira, Hi No Tori (que significa “Fénix”, em japonês), foi realizada em 2004 para a revista
Blazt, no âmbito de um projeto editorial que surgiu no seio do Núcleo de Banda Desenhada
da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Contudo, o projeto não chegou a ir
avante e a história acabou por não ser publicada, nem terminada. Hi No Tori só foi publicada em
2006, no número 24 do Bdjornal, com a ilustração de Lisboa a ter direito a honras de capa. Essa
ilustração, aliás, já foi várias vezes reproduzida e essa é a razão pela qual a história, apesar de
antiga, aparece neste livro.
A primeira versão de The God Tracking Station foi realizada em 2005, para o fanzine Jazzbanda,
publicado por Geraldes Lino. O título da história (que, traduzido, significa qualquer coisa como
“a estação à procura de Deus”) vem de uma obra do final dos anos 50 do escultor americano
Edward Kienholz. Um título estranho e interessante, que acabou por definir o ambiente noir da
história, com elementos de filmes antigos de espiões e agentes secretos em cenários tipicamente
lisboetas. A outra grande influência de The God Tracking Station é a banda desenhada japonesa,
sobretudo de autores como Katsuhiro Otomo ou Shirow Masamune. A versão que incluo neste
livro tem duas páginas inéditas, que antecedem as originalmente publicadas.
Webtrip, de 2012, resulta do convite da organização do Festival de BD de Lyon para um projeto que
envolveu artistas de toda a Europa. Dividida em 10 capítulos, ela é a história de dois personagens,
Romane e Jules, que se conhecem na véspera de Jules partir numa velha carrinha em viagem pela
Europa. A cada autor convidado foi dado um capítulo de 10 páginas, passado na sua cidade. O
princípio e o fim de cada capítulo estavam previamente acordados, para manter a coerência da
história global, mas, de resto, cada um era livre para fazer o que entendesse.
A mim coube-me o sétimo capítulo, passado em Lisboa. Aí, durante uma viagem de lazer,
Romane interroga-se sobre várias “questões existenciais”: a sua vida, o seu futuro, o romance
recém-descoberto, etc...
Como o nome indica, o projeto foi originalmente publicado online, em saison1.webtrip-comics.com,
sendo depois, em 2013, editado em livro; e em 2014 foi dada continuação ao projeto, numa segunda
edição, com outras cidades e outros autores.
A versão incluída neste volume tem mais três páginas do que a versão original. São momentos
que não cabiam no limite das 10 páginas pedidas, mas que eu sempre imaginei na história.
4
O Caso Doca 21 surge de um desafio lançado pela Samsung, que consistia em realizar uma
BD utilizando unicamente o Galaxy Note 3. À semelhança de outras campanhas levadas a cabo
em parceria com ilustradores e artistas (que também foram convidados a explorar ao máximo
as potencialidades de outros equipamentos da Samsung), a originalidade desta campanha
deve-se, a meu ver, à preferência da marca pela linguagem da banda desenhada como meio
para explorar as capacidades do Galaxy Note 3 enquanto ferramenta artística. Outra nota de
originalidade, não menos importante, foi a decisão de ter Lisboa como cenário da história
dessa mesma banda desenhada. Assim, o argumento, escrito pelo Francisco Chatimsky e pela
Mafalda Quintela, da agência Fullsix, não só revela uma história de aventuras bem-disposta em
que um dos personagens principais é um pombo (haverá algo mais típico?), como se passa
em locais tão tipicamente lisboetas como Alfama, Cais do Sodré, o Museu de Arte Antiga ou a
Tapada da Ajuda.
A banda desenhada foi realizada em finais de 2013 e publicada durante o mês de dezembro
desse ano na página do facebook da Samsung; mais tarde, já em 2014, saiu publicada em papel
com a revista Visão, e a campanha publicitária foi premiada com duas medalhas de prata no
XVI Festival do Clube de Criativos de Portugal, e uma medalha de prata e outra de bronze nos
Prémios Criatividade Meios & Publicidade.
Tirando pequenas correções e a colocação do texto, as páginas de Doca 21 estão aqui
reproduzidas exatamente como foram desenhadas no Galaxy Note 3.
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não se deixem
enganar pelo colorido
das fachadas e dos
telhados a torrar
ao sol...
eu tentei vezes
sem conta deixar esta
cidade... mas ela tem uma
maneira de nos puxar
de volta e de nos
engolir.
o mais engraçado é
que daqui ela até
parece...
...simpática
não é neve...
humm!?
neve?
10
...são lascas
de luz.
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Pontas Soltas – Lisboa