XVI Congresso Catarinense de Medicina
1806-4280/05/34 - S 2/25
Arquivos Catarinenses de Medicina
Arquivos Catarinenses de Medicina - V. 34 - Supl. nº. 2 de 2005 - S 25
RESUMO
Comparação da dor pós-operatória após Colecistectomia aberta e
Colecistectomia laparoscópica
Zanela HM, Guzela R, Moritz Neto AI, Moritz JE, Moura Junior JR, Galindo Filho G, Bernhardt JA
Introdução: a doença litiásica biliar representa uma
desordem que afeta mais de 30 milhões de americanos
(NAKEEB et al; 2002). A litíase biliar consome aproximadamente U$ 6,5 bilhões por ano nos EUA (SHAFFER,
2005). O tratamento considerado gold standart para a
doença litiásica biliar é a colecistectomia, que, por sua
vez, pode ser realizada da forma tradicional, a cirurgia
aberta (CA) e, mais recentemente, por via laparoscopia
(CL) (KAPLAN, 1993). O número de colecistectomias, devido à doença litiásica biliar, é de 750 mil anualmente nos EUA (NAKEEB et al; 2002). A dor pós-operatória intensa ou moderada manifesta-se em 40% - 60%
dos pacientes (READY; EDWARDS, 1992). Há uma
substancial variação de indivíduo para indivíduo na incidência e intensidade de dor após colecistectomia. Os
picos de intensidade de dor foram relatados nas primeiras 4 a 8 horas de pós-operatório, porém, a dor foi reportada como insuportável na primeira manhã do pósoperatório em 33% dos pacientes (SARAC et al., 1996).
Estudos estabeleceram que há redução da dor pós-operatória associada à CL, isto provavelmente relacionado
com a redução do trauma cirúrgico. Porém, verificou-se
que no grupo de pacientes submetidos à laparoscopia, a
dor pós-operatória foi menor no primeiro dia, durante o
segundo e terceiro dias não se verificou diferença entre
as duas técnicas (CA e CL) (KUM et al., 1994). A mensuração da dor é complexa por tratar-se de um parâmetro altamente subjetivo. Para tentar resolver este problema foram desenvolvidas várias ferramentas na tentativa de avaliar o nível de dor referida pelo paciente. A
mensuração da intensidade da dor é difícil e freqüentemente compreendida subjetivamente. Isso é uma pequena
surpresa para clínicos e pesquisadores, porque é bem
reconhecido que a intensidade da dor, assim como ou1. Universidade do Vale de Itajaí - Hospital e Maternidade Marieta Konder
Bornhausen - Itajaí - SC.
tras sensações e percepções, é uma experiência individual que demonstra considerável variabilidade, tanto entre
pacientes, como no mesmo paciente através do tempo.
Contudo a mensuração da dor e a distinção dos fatores
que podem afetar esta medida são importantes para o
diagnóstico e para determinar uma forma efetiva de intervenção terapêutica (ONG; SEYMOUR, 2004). Muitos trabalhos estudam níveis de dor através de escalas
como a EVA e a escala verbal. Essas escalas mostram
um alto nível de correlação, entretanto, a EVA é considerada como mais sensitiva para pequenas variações
nos níveis de dor. No entanto, um aumento no número
de categorias de respostas não faria o teste mais sensitivo ou válido, pois o tornaria mais complicado e pouco
entendido pelos pacientes (WILLS; HUNT, 2000). Segundo Katz e Melzack (1999) a escala visual analógica
(EVA) é provavelmente a ferramenta mais usada para
mensurar a dor em pesquisas e na área clínica.
Objetivo: visando o bem estar do paciente na recuperação pós-operatória, procuramos esclarecer em que
medida o método operatório interfere na intensidade da
dor pós-operatória na colecistectomia. O objetivo da
pesquisa foi comparar a intensidade da dor pós-operatória, em pacientes submetidos à CA e à CL, bem como,
comparar a intensidade da dor nos pacientes submetidos a mesma técnica operatória em diferentes períodos
pós-operatório.
Participante e Métodos: foram avaliados pacientes submetidos ao procedimento de colecistectomia, no
Hospital e Maternidade Marieta Konder Bornhausen (H.
M. M. K. B.) de Itajaí – SC, no período de março de
2004 a março de 2005. Participaram da pesquisa 66 pacientes, dos quais 33 foram submetidos à colecistectomia aberta (CA) e 33 submetidos à colecistectomia laparoscópica (CL).
A amostra selecionada para os fins da pesquisa respeitou os seguintes critérios de exclusão:
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1) pacientes submetidos, além da colecistectomia, à
exploração das vias biliares;
2) pacientes submetidos a outro procedimento cirúrgico concomitantemente;
3) pacientes que fizeram uso, no pós-operatório, de
analgésicos além daqueles padronizados pelos pesquisadores.
A analgesia padrão a qual foram submetidos os pacientes constava de:
1) dipirona 500mg 6/6 horas intravenoso, e/ou
2) cetoprofeno 100mg 12/12 horas intravenoso.
Os pacientes receberam, por parte dos autores, o
termo de consentimento informado, o qual foi devidamente assinado pelos mesmos. Os pacientes selecionados foram entrevistados em dois momentos pelos autores da pesquisa. O primeiro momento – pós-operatório
imediato – que consistia na visita 02 – 04 horas após o
ato operatório, e um segundo momento que consistia na
visita 14 – 16 horas após o ato operatório.
Durante a primeira visita, o paciente foi informado
sobre a natureza e o intuito do trabalho, bem como, a
maneira como o mesmo seria realizado. Nessa visita
foram retiradas do prontuário do paciente informações
tais como nome completo, idade, sexo, profissão, tipo de
procedimento adotado, data da cirurgia, tempo do ato
operatório, tipo de anestesia utilizada, tempo decorrido
desde o fim da cirurgia e analgesia prescrita, respondendo parte do formulário desenvolvido pelos pesquisadores. Nesse momento foi mensurado o escore de dor
através da escala visual analógica (EVA).
Na segunda visita, avaliou-se novamente a intensidade da dor, através da aplicação da EVA.
Com o intuito de comparar a dor dos pacientes de
ambos os grupos, dentro do mesmo período, foram utilizados os métodos não-paramétricos de Wilcoxon e
Kruskal-Wallis com aproximação de chi-square.
A análise dos dados da tabela 3 nos permite observar que
houve diferença numérica nas médias de mensuração da
dor. No primeiro momento (02 – 04 horas) o escore alcançado pelo grupo submetido à CA foi 3,64, enquanto que, no
grupo submetido à CL foi de 3,19. Porém, esta diferença não
foi estatisticamente significativa (p=0.9131, segundo teste de
Kruskal-Wallis; p=0.9182, segundo Wilcoxon), com grande
concordância entre os testes aplicados.
Da mesma forma, a dor no segundo período (14 – 16
horas) também não demonstrou diferença estatisticamente
significativa (p=0.7925, segundo teste de Kruskal-Wallis;
p=0.7974, segundo Wilcoxon), apesar da diferença numéri-
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ca encontrada nas médias, demonstradas na tabela 4.
Resultados: a comparação da dor pós-operatória
foi realizada da seguinte forma:
1) analisando os escores de dor dentro do mesmo grupo nos dois períodos distintos;
2) analisando os escores de dor entre os grupos, dentro do mesmo período.
No grupo submetido à CA observamos que 15 pacientes (45,45%) apresentaram escore de dor maior no
primeiro período pós-operatório, 16 pacientes (48,48%)
apresentaram escore de dor maior no segundo período
pós-operatório e 02 pacientes (6,06%) não apresentaram variação no escore (tabela 01).
Tabela 1: Avaliação da dor pós-operatória, no primeiro (02 - 04 horas) e segundo (14 – 16 horas) períodos, nos pacientes submetidos à
colecistectomia aberta, de março de 2004 a
março de 2005, no Hospital e Maternidade
Marieta Konder Bornhausen.
Variação da dor
Número de pacientes
%
Dor maior no primeiro período
Dor maior no segundo período
Sem variação da dor
15
16
2
45,45
48,48
6,06
Total
33
100,00
No grupo submetido à CL observamos que 20 pacientes (60,60%) apresentaram escore de dor maior no
primeiro período pós-operatório, 10 pacientes (30,30%)
apresentaram escore de dor maior no segundo período
pós-operatório e 03 pacientes (9,10%) não apresentaram variação no escore (tabela 02).
Tabela 2: Avaliação da dor pós-operatória, no primeiro (02 - 04 horas) e segundo (14 – 16 horas) períodos, nos pacientes submetidos à
colecistectomia laparoscópica, de março de
2004 a março de 2005, no Hospital e Maternidade Marieta Konder Bornhausen.
Variação da dor
Número de pacientes
%
Dor maior no primeiro período
Dor maior no segundo período
Sem variação da dor
20
10
3
60,60
30,30
9,10
Total
33
100,00
No primeiro período pós-operatório (02 – 04 horas) o
grupo submetido à CA obteve média de intensidade da
dor de 3,64, enquanto que, o grupo submetido à CL obteve média de 3,19 (tabela 03).
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Tabela 3: Médias de intensidade da dor, no primeiro
período (02 – 04 horas), nos pacientes submetidos à colecistectomia aberta e à colecistectomia laparoscópica, entre março de
2004 a março de 2005, no Hospital e Maternidade Marieta Konder Bornhausen.
Tipo de Cirurgia
Descritores:
1. Colecistectomia aberta;
2. Colecistectomia laparoscópica;
3. Dor pós-operatória.
Média do grupo
Colecistectomia Aberta
3,64
Colecistectomia Laparoscópica
3,19
No segundo período pós-operatório (14 – 16 horas) o
grupo submetido à CA obteve média 2,82, enquanto que,
o grupo submetido à CL obteve média de 2,76 (tabela 04).
Tabela 4: Médias de intensidade da dor, no segundo
período (14 – 16 horas), nos pacientes submetidos à colecistectomia aberta e à colecistectomia laparoscópica, entre março de
2004 a março de 2005, no Hospital e Maternidade Marieta Konder Bornhausen.
Tipo de Cirurgia
Não houve diferença na intensidade da dor quando comparados os pacientes submetidos à mesma técnica operatória, nos diferentes períodos avaliados.
Média do grupo
Colecistectomia Aberta
2,82
Colecistectomia Laparoscópica
2,76
Conclusão: Não houve diferença na intensidade da
dor pós-operatória quando comparados os pacientes submetidos à colecistectomia aberta (CA) e à colecistectomia laparoscópica (CL).
Referências Bibliográficas
1. Katz J, Melzack R. Measurement of pain. Surg Clin
North Am 1999; 79(2):231-52.
2. Kaplan MMJ. Pathogenesis and treatment of gallstones. NEJM 1993; 328(26):412-21.
3. Kum CKm, Womg CW, Goh PM. Comparative study of pain level and analgesic requirement after laparoscopic and open cholecystectomy. 1994.
4. Nakeeb A. et al. Gallstones: genetics versus environment. Ann Surg 2002; 235(6):842-9.
5. Ong KS, Seymour RA. Pain measurement in humans. Surgeon 2004; 2:15-27.
6. Ready LB, Edwards WT. Management of-acute pain
a practical guide IASP publications. Seatle, 1992.
7. Sarac AM. et al. The effect and timing of local anesthesia in laparoscopic cholecystectomy. Surgery
Laparoscopic Endoscopic 1996; 6:362-6.
8. Shaffer E A. Epidemiology and risk factors for gallstone disease: has the paradigm changed in the 21st century? Curr Gastroenterology Rep 2005; 7(2):132-140.
9. Wills VL, Hunt DR. Pain after laparoscopic cholecystectomy. British Journal of Surgery 2000; 87:273-84.
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