Ouvi bem? Seria possível? O mundo sem os químicos e a química! José Annes Marinho - Engenheiro Agrônomo, Gerente de Educação da Associação Nacional de Defesa Vegetal, MBA em Marketing – FGV. setembro 2012 "Bom dia, gaúchos e gaúchas de todas as querências!", essa frase me lembra quando eu era criança: assistia todos os domingos o famoso "Galpão Criolo", dizeres estes do saudoso Nico Fagundes. Saudades desse tempo. A velocidade das informações é algo extraordinário. Há 20 ou 30 anos tudo era diferente. Mas a química não mudou, ela evoluiu, ficou mais fina e não conseguimos viver mais sem ela. Vocês devem estar perguntando aonde quero chegar com essa conversa. Pois bem, tenho visto várias discussões referentes aos produtos orgânicos. Dizem que são muito melhores que os convencionais, pois não têm agrotóxicos, ou seja, nada de químico ou química. Bom, isso me remete a pensar um pouquinho mais e pergunto a vocês: toda essa discussão vale a pena? Não estamos perdendo tempo de melhorar e descobrir novas tecnologias para o agro? Não existe química em nossa vida: seja ela orgânica ou inorgânica? Nós, técnicos, não estamos confundindo as pessoas que vivem nas cidades com os objetivos econômicos? Concluo que estamos segmentando o agro sem organização. Vejam as montadoras: sabemos hoje exatamente o carro que queremos - 1.0, 1,4, 1.6, com ou sem air bag etc. Quem trabalha no comércio sabe do que estou falando. Isso vale também para agricultura: produzimos vários produtos para diferentes consumidores. Porém, não deveríamos canibalizá-los. Em geral, com essa falta de organização - de que no orgânico não há produtos químicos e os convencionais têm produtos químicos e são perigosos, esse assunto todo está simplesmente colocando dúvidas em nosso cliente. Infelizmente esquecemos que o mundo não vive sem química e químicos. Vocês já pensaram se extinguíssemos os químicos do mundo, como seriam as nossas vidas? Não está na hora de gerarmos soluções para ajudar as cidades e os produtores de orgânicos e convencionais, ao invés de gerarmos problemas? Caso mudássemos nosso modelo agrícola, o quanto deveríamos produzir de esterco para adubar e produzir nos patamares atuais? Seria sustentável? Ao mesmo tempo em que incentivamos isso, colocamos a culpa no boi pelo efeito estufa, não é estranho? Quem não gosta de churrasco aos domingos?! Vamos colocar os pingos nos "is"! Nossa vida tem química, nosso corpo é formado em grande parte por água, nossa digestão necessita de química, a produção de energia das plantas é um processo químico, então, por que fazermos essa distinção: como dizer que tudo que não tem química é melhor, se vivemos por causa da química. É assim para alimentos produzidos nos diferentes modelos agrícolas, alguns usam insumos inorgânicos que tem resposta mais rápida e as plantas assimilam, em geral, com maior velocidade, e outros usam insumos orgânicos, ambos com suas propriedades químicas envolvidas no processo. O que precisamos entender é que somos um país diferente, temos um clima instável, necessitamos da tecnologia e da química - tanto que há uma lei para produtos orgânicos que classifica, por exemplo, o cobre, como produto fitossanitário. O que é produto fitossanitário? Não seria um químico? Pensemos nisso. Nossa comunicação "econômica" precisa melhorar como dizem os árbitros "a regra deve ser clara para todos". Lembrem-se: necessitamos alimentar gente, produzir alimentos e energia de qualidade para todos. A cada sete pessoas como nós, uma delas passa fome e a fome dói. Não percamos tempo de nossas vidas acreditando que o melhor é com ou sem, façamos algo pelo bem das pessoas, é isso que fica em nossa lembrança e para o futuro.