O ATENDIMENTO E O ACOMPANHAMENTO DA SAÚDE DA CRIANÇA DE ZERO A DOIS ANOS REALIZADA PELOS ENFERMEIROS DAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE DO MUNICÍPIO DE TOLEDO-PR. Fábia Gracielle da Rocha1 Cláudia Silveira Viera 1. INTRODUÇÃO A atenção à saúde da criança ao longo da história vem sofrendo mudanças vinculadas às transformações sociais de cada período, assim no século passado as crianças eram consideradas como possíveis seres produtivos e dessa maneira, era importante que as doenças fossem tratadas da melhor forma possível para que pudessem voltar logo ao trabalho (WONG, 1999). A referida autora aponta que não existem estatísticas de mortalidade do período colonial, mas as doenças epidêmicas que mais matavam nos Estados Unidos incluíam varíola, sarampo, caxumba, varicela, difteria, febre amarela, cólera e coqueluche. Além destas pode-se citar a tuberculose, as doenças nutricionais e os acidentes (WONG, 1999). No Brasil colônia, a mortalidade infantil (MI) nesse período não diferia muito do que acontecia fora do país, em que a MI era elevada devido ao sarampo, varíola, verminoses, dermatoses e o tétano neonatal. No final do século XIX as causas da MI eram em 50% decorrentes de agravos ao nascimento, seguida de falta de alimentação; doenças contagiosas como a sífilis, boubas e escrófulas – transmitidas pelas amas de leite e pela falta de tratamento médico (RIBEIRO, 2006). O autor coloca ainda que, em fins do século XIX, com a urbanização do país, há a consolidação das idéias higienistas, determinando nova conduta para a sociedade que influenciariam a família brasileira, no sentido de eliminar as práticas antigas que comprometiam a saúde da criança sendo este o principal objetivo do movimento higienista. A criança e o adolescente, nos primeiros anos da república, eram tratados como uma questão de higiene pública e de ordem social, tendo em vista a construção de 1 Instituição: Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste. E-mail: [email protected] 2 uma nação forte, saudável, ordeira e progressista (FALEIROS, 2005). Nesse período também se iniciou o estudo da pediatria, sob a influência de um médico nascido na Prússia, chamado Abraham Jacobi. Nesta mesma época, passou a ocorrer uma crescente preocupação com o bem estar social das crianças (WONG, 1999). No Brasil, no ano de 1899, Artur Moncorvo, pediatra muito envolvido com as questões da infância, fundou o Instituto de Proteção e Assistência à Infância, que era voltado aos cuidados materno-infantis. Este pediatra atuou ativamente para influenciar a criação de políticas públicas para assistência à infância. Assim tem origem a evolução da proteção materno-infantil no Brasil, a qual pode ser descrita em três períodos: 1920-1945, da Seção de Higiene Infantil e Assistência à Infância (III) à Divisão de Amparo à Maternidade e à Infância (DAMI); 1940-1970, do Departamento Nacional da Criança (DNCr) à Coordenação de Proteção MaternoInfantil (CPMI) e; 1979-1985, da coordenação de Proteção Materno-Infantil à Divisão de Saúde Materno-Infantil (SILVA, 2006). A partir de 1990, houve a consolidação das políticas de saúde no Brasil, ou seja, a Lei orgânica 8080/1990; o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o Programa Básico de Ação Integral à Saúde da Criança e Adolescente. Segundo Silva (2006), foram propostos, nos anos 90, diversos programas, projetos e estratégias na implementação do SUS como também para a melhoria dos indicadores de morbimortalidade infantil. Dentre eles tem-se as medidas do Programa de Assistência Integral à Saúde da Criança (PAISC), que foi principalmente a mudança do cartão de vacina com a introdução da curva de crescimento e a adoção de protocolos específicos para crianças com doenças diarréicas e respiratórias aguda, possibilitando que esses problemas fossem resolvidos na atenção primária. Uma outra política introduzida foi a promoção do aleitamento materno, sendo que o Ministério da Saúde, visando melhorar essa prática propôs o carteiro amigo, bancos de leite, bombeiros da vida e a iniciativa hospital amigo da criança. Destaca-se também a estratégia de Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI) que permitiu a capacitação de médicos e enfermeiros da Equipe Saúde da Família com o objetivo de enfrentarem os problemas de saúde da criança (SILVA, 2006). 3 Ainda, visando melhorar o atendimento ao recém-nascido de risco e sob a perspectiva da humanização foi criado o método mãe-canguru, podendo ter um maior vinculo entre o recém-nascido e a família e o incentivo ao aleitamento materno (SILVA, 2006). A atenção à saúde da criança na atenção primária pode ocorrer nas Unidades Básicas de Saúdes (UBS) e nos pronto atendimentos. Para que a UBS cumpra os objetivos da promoção a saúde e a redução da morbimortalidade infantil, deve identificar as ações prioritárias e as estratégias devem se basear no acesso universal, que é o direito de toda criança receber assistência de saúde; no acolhimento, que está relacionado a escuta qualificada, o estabelecimento de uma relação cidadã e humanizada da criança e; assistência integral, tendo uma abordagem global da criança (BRASIL, 2004). Por meio do cumprimento das ações baseadas nesses três princípios é possível reduzir a mortalidade infantil que é um grande vilão na saúde pública. A mortalidade infantil (mortes de crianças menores de um ano) é classificada por períodos que compreendem: mortalidade infantil neonatal (de 0 a 28 dias de vida) que ainda é subdivida em: precoce (de 0 a 6 dias de vida) e tardia (de 7 a 27 dias de vida) e; pós-neonatal (acima de 28 dias de vida até menores de um ano) (DUARTE, 2007). Ainda, este autor relata que valores altos de mortalidade infantil estão associados a níveis precários de saúde, condições de vida e desenvolvimento socioeconômico. Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2010), as causas das mortes de recémnascidos ocorrem por falta de atenção adequada a gestante, no momento do parto e também ao bebê, assim como, a mortalidade está associada à educação, renda familiar, acesso aos serviços de saúde, água tratada e esgoto e o grau de informação. Contudo, observamos que está ocorrendo um declínio na mortalidade infantil no Brasil, pois, em 1990 tínhamos 47,1 óbitos para cada mil nascidos vivos e em 2007 passou para 19,3 mortes, ou seja, uma redução de 59,7 % (BRASIL, 2010). Essa queda da mortalidade infantil esta relacionada a redução da mortalidade pós-neonatal, ou seja, de 27 dias a 1 ano de idade. No entanto, há uma estagnação da mortalidade neonatal, que se refere às crianças de 0 a 27 dias de vida. Este último é o principal componente da mortalidade infantil a partir da década de 90. Ainda, verifica-se que estas mortes, na maioria, são consideradas evitáveis desde que houvesse um acesso em tempo oportuno a serviços de saúde resolutivos e qualificados (BRASIL, 2004). 4 O declínio da mortalidade infantil no Brasil é resultado do aumento da cobertura vacinal da população, uso da terapia de reidratação oral, aumento da cobertura do pré-natal, ampliação dos serviços de saúde, redução contínua da fecundidade, melhoria das condições ambientas, aumento do grau de escolaridade das mães e das taxas de aleitamento materno (BRASIL, 2010). Segundo dados da vigilância epidemiológica do município de Toledo, local onde se realizará este estudo, de janeiro a junho de 2010, a mortalidade infantil no município foi de 8.3/1000 nascidos vivos. Nesse mesmo período, 10.84% dos nascimentos ocorreram antes de 36 semanas e, 8.25 % das crianças que nasceram pesaram menos de 2.400 gramas. A taxa de nascimentos para mães adolescentes de menores de 14 anos a 19 anos é de 15,7%, bem como o grau de instrução para a maioria dos partos ocorridos no período foi de 48% para ensino fundamental e médio completo. Relativo ao número de consultas pré-natais, 80% realizou de sete a mais consultas. O índice de cesarianas é de 52% (TOLEDO, 2010). Por meio dessas informações, observamos a importância que deve ser dada à saúde da criança na atenção primária, uma vez que é nesse nível da assistência que deve ser realizado o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança, em especial até dois anos de idade. O Ministério da Saúde coloca que todo recém-nascido deve ser acolhido na UBS na primeira semana de vida para que sejam checados todos os cuidados tanto para a mãe quanto para a criança, pois é nesse período que acontece os maiores problemas com o desmame precoce e a mortalidade infantil é um agravante (BRASIL, 2004). Além do acolhimento que deve ser realizado pela atenção primária em saúde (APS), o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança, a puericultura, também é ação fundamental da APS. A puericultura é voltada para a prevenção e promoção da saúde da criança, além de promover ações educativas, valorizando as questões socioeconômicas e culturais das crianças e suas famílias (DEL CIAMPO apud SILVA; ROCHA; SILVA, 2009). Dentre as ações básicas que o enfermeiro deve priorizar em seus atendimentos na APS está o seguimento de toda criança recém-nascida que faça parte de seu território, esteja ela compreendida entre as crianças de risco biológico, social ou não. No entanto, em nossa vivencia profissional observamos que há certa resistência por parte dos enfermeiros em realizar esse acompanhamento. A indagação é o porquê isso ocorre, será 5 que se deve a formação profissional, ao seu processo de trabalho ou a necessidade do perfil dos territórios atendidos pelos enfermeiros que prioriza outros segmentos da população, ou ainda, as políticas de saúde do município não contemplam o atendimento à criança de zero a dois anos de idade como foco de suas políticas? Pautados nesses apontamentos é preciso conhecermos melhor como o enfermeiro da APS do município de Toledo direciona as suas ações para a saúde da criança, em específico até os dois anos de vida. 2. OBJETIVO(S): Compreender como ocorre o acompanhamento da saúde da criança de zero a dois anos nas Unidades Básicas de Saúde do Município de Toledo, na ótica dos enfermeiros. Objetivos específicos: Relatar como está sendo realizado o acompanhamento do recém-nascido pelos enfermeiros que trabalham nas Unidades Básicas de Saúde do Município de Toledo; Identificar como está sendo realizada a inserção do recém-nascido egresso das Unidades de Terapia Intensiva Neonatal nas Unidades Básicas de Saúde do Município de Toledo; Conhecer as dificuldades enfrentadas pelos enfermeiros na atenção a saúde da criança de zero a dois anos nas UBS de Toledo. 3. METODOLOGIA: Trata-se de um estudo exploratório de abordagem qualitativa que para Gil (1994) esses estudos têm como objetivo adquirir maior familiaridade com o problema, tornando-o mais explicito ou também para construir hipóteses. Segundo Triviños (1987), o estudo exploratório faz com que aumente a experiência em torno de determinado problema. A pesquisa foi realizada com os enfermeiros das Unidades Básica de Saúde, localizadas na cidade, no Município de Toledo. O município tem 18 Unidades Básicas de Saúde, sendo 9 localizadas na cidade, 8 no interior e 1 unidade móvel. Das unidades localizadas na cidade, 3 atendem 12 horas diárias (com total de seis enfermeiros), 2 abarcam cinco 6 equipes da estratégia saúde da família (com total de cinco enfermeiros) e em 4 o atendimento é de 6 horas diárias (período da manhã, com total de quatro enfermeiros). Assim, o numero de enfermeiros que atuam em unidades básicas de saúde e estratégia saúde da família são em numero de 15. Ainda, a cidade tem um pronto-atendimento, um ambulatório de feridas, três hospitais particulares, sendo apenas um deles credenciado ao SUS. Os sujeitos da pesquisa foram os enfermeiros que trabalham nas Unidades Básicas de Saúde e Estratégia Saúde da Família, localizadas na cidade, no Município de Toledo. Participaram do estudo os enfermeiros que trabalham há pelo menos seis meses na atenção primária e que aceitem participar da pesquisa. A coleta de dados foi realizada em duas etapas: a primeira foi através de uma questionário com os dados de identificação e a segunda foi mediante entrevistas semidirigidas, neste tipo de entrevista o pesquisador se utiliza de uma questão norteadora que dá inicio a entrevista, sendo orientada por roteiro específico, assim o entrevistado expressa livremente suas idéias em sua fala. De acordo com a necessidade, o entrevistador estimula o entrevistado a seguir expressando seu pensamento mediante o roteiro que está vinculado aos objetivos propostos no estudo (TURATO, 2003). As entrevistas foram realizadas conforme agendamento prévio com os enfermeiros, as mesmas foram gravadas e contemplaram as questões norteadoras. Essas entrevistas se realizaram no local de trabalho de cada enfermeiro, após a apresentação do termo de consentimento livre e esclarecido e explicação da pesquisa. Após cada entrevista, elas foram transcritas e sistematizadas conforme congruência e convergência das informações. A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste e só após aprovação pelo comitê que foi iniciadas as entrevistas. A pesquisa respeitou todas as recomendações da Resolução 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde que dispõe sobre a pesquisa envolvendo seres humanos. 4. RESULTADOS: Até o momento foram realizadas cinco entrevistas com os enfermeiros, faltando entrar em contato com três enfermeiros para o convite a participarem da pesquisa. Um enfermeiro de recusou a participar, quatro enfermeiros não entraram devido ao critério 7 de exclusão, ou seja, trabalham a menos de seis meses na atenção primária em saúde. Um enfermeiro é o pesquisador e outro participou da entrevista piloto. Pode-se observar que no que refere ao atendimento a saúde da criança de zero a dois anos de idade na APS, os enfermeiros relataram que essa atividade é realizada pelo profissional médico, como mostra nas seguintes falas: Margarida: [...]Na verdade eu, assim, não tenho um serviço de puericultura meu aqui, eu e o enfermeiro 1, nós não estamos fazendo. Mas como a gente tem uma demanda boa de pediatra no momento, então a gente ta deixando mais para o pediatra mesmo. Macieira: [...]aqui no posto, quem faz a puericultura é o médico, o pediatra na sextafeira. [...]elas acompanham mensalmente. Tulipa: De 0 a 2 anos, por enquanto está sendo atendidas pelos médicos. Eles fazem a parte da puericultura. Como aqui é saúde da família, cada médico da equipe tem seu dia pra atender a puericultura. Cravo: Aqui no posto de saúde [...] a gente não está fazendo a puericultura, os enfermeiros não estão realizando a puericultura. [...] Quem faz essa puericultura, acredito que quem deveria estar fazendo é os médicos porque isso é uma sugestão da própria Sociedade Brasileira de Pediatria que rege que deveria ser o pediatra que deveria estar fazendo a puericultura. [...] Então quando não é realizada pelos enfermeiros, então ou isso deixa de acontecer ou é feito de maneira muito superficial, por exemplo. Aqui eu acho que acontece as duas coisas, né? Alguns médicos não fazem e outros quando fazem, fazem mais pendendo para o lado do atendimento curativo, e não com o objetivo de você estar cuidando essa criança e avaliando ela como um todo, pra prevenir algum tipo de problema. [...] Então assim, quem ta fazendo esse papel de cuidado mensal mesmo é o pediatra. Assim, conforme a fala dos enfermeiros pesquisados a puericultura ocorre na maioria das unidades pelo profissional médico, porém alguns enfermeiros realizam a puericultura ou alguma forma de atendimento a criança de 0 a 2 anos de idade e outros pensam em desenvolver essa atividade. Rosa: Ah, a gente faz todo o exame físico, examina, vê os reflexos da criança. Vê com a mãe sobre o aleitamento materno. Orienta, né? Orienta a alimentação adequada a partir do sexto mês, né? Verifica todas essa questões de alimentação, principalmente. Os cuidados, higiene. [...]as crianças recém-nascidas vem né? Se está tudo bem elas 8 vem todo mês, né? Depois a gente vai espaçando. Mas a de risco a gente aí pede pra vir mais freqüente, dependendo de cada caso. Tem casos assim que eu peço pra vir até no inicio da semana e no final da semana, segunda ou sexta, que de um espaço bem pequenininho, se não semanal, dependendo do caso. [...]Aqui a gente acompanha.... não vou dizer que seja uma coisa regular, né? Mas aqui a gente acompanha mais até o sexto, sétimo mês. A partir disso a gente daí orienta a mãe a ir trazendo ao posto conforme.... não que a gente está acompanhando assim certinho todo mês. Margarida: [...]E também tem um trabalho da Unipar, que está fazendo um trabalho com puericultura de zero a dois anos. Então eu também eu faço esse acompanha....(se corrigiu), faço a seleção dessas crianças e encaminho para eles na universidade [...]. Macieira: Com as crianças, é só se as meninas da enfermagem me chamarem para olhar alguma criança que não esteja bem, só. Faço a consulta de enfermagem, geralmente a avaliação de creche quando ela é necessária [...].Mas quando tiver algum problema, por exemplo, de inicio, bem recém-nascido, bilirrubina, por exemplo, que eu percebo que ela esteja ictérica, ai eu faço o pedido, faço exame físico, faço o pedido da bilirrubina e encaminho pra fazer no mini hospital e torna aqui para a unidade. [...]tiro a roupa, geralmente, e avalio, visual, apalpo, e quando.... a gente faz avaliação de cordão umbilical também. Eu tiro a roupa, avalio, olho, apalpo, vejo, oriento a higiene, explico para a mãe como faz a higiene do cordão umbilical. Tulipa: [...] A gente pensa em agendar as crianças, fazer uma consulta do médico e uma do enfermeiro, intercalar. A gente tem a idéia de fazer a puericultura a cada... como são três equipes, dos enfermeiros fazer a puericultura no mesmo dia do médico. Porque se caso a gente ver, tiver alguma duvida agente tem suporte, né? Pra gente estar chamando ele [...]. Cravo: Quando você tem que iniciar o atendimento de uma criança, a gente avalia tudo. Nós procuramos a despeito do problema, que ela chega pra você. Você tem que fazer um levantamento de todas as informações necessárias dessa criança, não só do aspecto físico, mas de toda a situação social, familiares [...]Volto a dizer que isso já é uma situação em que nós deveríamos estar fazendo sem que houvesse a presença de um problema instalado [...]Então eu penso que quando chega pra você, você tem que avaliar essa criança como um todo, você não pode ver somente o problema relacionado, mesmo porque se você não observar que esse problema pode estar 9 relacionado com outros fatores, então você precisa resolver.... intervir nesses fatores, se não, não vai resolver definitivamente esse problema. No que se refere a captação da criança de 0 a 2 anos para a realização do atendimento e acompanhamento proporcionado por esse local de serviço, observa-se que ocorre da seguinte maneira: Rosa: [...]as gestantes que tem seus filhos,quando elas vem a unidade pra fazer a consulta puerperal, ou fazer a vacina, a gente já conversa no pré-natal pra elas trazerem seus bebês assim que nascem pra gente fazer o acompanhamento [...] a demanda que vem no posto. Margarida: [...]E tem os agentes também que trazem as crianças para a unidade [...]. Macieira: [...]primeiro atendimento é no dia da BCG que nós temos na segunda-feira e nesse dia a gente faz o agendamento da puericultura [...]a primeira visita quem faz são os agentes de saúde que a gente trabalha aqui no posto só com algumas situações de risco [...]vai para a família e vê se já fez a BCG e se não tiver feito elas orientam, fazem a orientação. Se for criança nossa, que a gente acompanha no pré-natal ela já orienta pra fazer o cartão do SUS e fazem o cadastro do SISVAN. Tulipa: [...]são agendado as consultas de acordo com o cronograma, quem agenda a primeira consulta, quem agenda é a recepcionistas e as subseqüentes, as próximas, é o médico... já sai da consulta com próxima consulta agendada [...]É através do agente comunitário, eles passam pra gente as crianças, e tem a ficha rosa, né? De nascimento, né? Ai a gente faz a busca, a primeira busca da criança e da puerpera na visita domiciliar. Ai a primeira consulta é feita na casa da criança, então. Que é o recémnascido. Ai as próximas subseqüentes são agendadas. Cravo: [...]Eu acho que esse trabalho da gente estar identificando essas crianças para o acompanhamento ele começa lá mesmo onde elas vivem, na casa delas, e esse papel compete ao agente comunitário de saúde [...]Eu acho que a primeira informação pra chegar na unidade é através desse profissional agente comunitário que vai trazer para gente, o enfermeiro, que lá em algum lugar tem uma criança que ta com baixo peso ou que tem estado com febre a tantos dias, ou que esta com diarréia, teve tantos episódios de diarréia. Ou que na casa a mãe esta tendo dificuldades para amamentar, porque o seio rachou [...]Nós vamos na medida do possível, a gente busca estar acompanhando essas crianças ao longo das visitas e lá a gente avalia se precisa fazer uma intervenção 10 mais significativa [...]elas próprias buscam aqui a unidade [...].Mas eu acho que essas crianças, que não estão doentes elas tem que ser trazidas, convidadas e serem trazidas para a unidade para receber o atendimento. Quando questionados se tinham conhecimento ou se já haviam ouvido falar sobre idade corrigida, todos os pesquisados responderam negativamente. Visto que a criança egressa da UTIN possui algumas particularidades e é considerada uma criança de risco, foi perguntado se existe um atendimento diferenciado para essas crianças: Rosa: [...]tem o acompanhamento do peso, não que a gente faça alguma coisa de diferente. Não, isso não. Margarida: [...]Então nós tínhamos a Dr. 1, [...] então ela fazia um acompanhamento muito bom com essas crianças que viam, saiam da UTI neonatal. Então na verdade ela era uma referencia aqui na unidade dessas crianças que saiam da neonatal de toda a cidade, acabava tendo o ponto de referencia aqui. Mas como ela ta de licença agora, então a gente acaba não fazendo esse acompanhamento. [...]Então quando a Dr. 1 está, ela já faz um acompanhamento, as vezes semanal, quinzenal ou mensal. Então ela própria já pede. Olha, agenda, reagenda para daqui tantos dias. Então ela própria já pede esse acompanhamento. Macieira: [...]Eu tenho poucas criança que de UTI neonatal aqui, são algumas. Ai quando eu tenho essas crianças, o agente de saúde acompanha com mais freqüência, né. E no posto, ela vem fora do período da puericultura, só se tiver algum problema, como o aleitamento materno. A agente de saúde faz a visita e se precisar ela encaminha pra mim e a mãe vem até no posto. [...]só mesmo.... a gente avalia a questão do peso, da alimentação, mas nada assim mais.... é que é raro eu ter aqui uma criança que tem algum risco maior, muito difícil. Tulipa: Até agora, na nossa área, na minha área, não teve nenhuma criança egressa da UTI neo, daí por enquanto não tivemos nenhum atendimento nesse sentido. [...]Eu estaria vendo qual seria o problema da criança, né? E eu estaria atendendo, o enfermeiro em conjunto. Cravo: Eu ainda aqui, não recebi nenhuma criança com essas características. Mas na verdade isso é literário. Essa criança tem que ter atendimento especial [...]Essa criança tem que ter no mínimo uma exclusividade no atendimento quando chega aqui 11 na unidade [...]Então, essa criança a gente tem que ter uma atenção maior no quadro de vacinas, pra não deixar a mãe atrasar as vacinas. Essa criança a gente tem que lutar pra que ela seja trazida aqui mensalmente pra gente acompanhar até o seu segundo ano. Então, esse tipo de cliente a gente tem que esta mais.... o próprio agente comunitário tem que visitar mais vezes do que aquela visita mensal rotineira [...]estar atento para o ganho de peso, se está comendo direitinho, se essa criança teve alguma queixa, se teve febre se não teve, esse tipo de coisa. Observa-se que alguns enfermeiros referem o desejo de realizar o acompanhamento da criança de 0 a 2 anos de idade, ou seja, a puericultura, porém várias dificuldades prejudica o inicio dessa atividade. Rosa: [...]Primeiro a gente tem aqui uma estrutura física muito pequena, é... eu acho assim que a questão recursos humanos, que não é só aqui, é em todos os lugares a falta de recursos humanos, e um local apropriado pra você fazer esse atendimento a criança. Uma sala exclusiva, né? Quando é inverno, quando você vai tirar a roupa do bebezinho pra pesar, ter uma aquecedor quentinho [...]Então eu digo assim, que a estrutura física, o ambiente adequado, recursos humanos, eu acho que pra isso a gente está deficitário [...].primeiro eu não tenho nem agente comunitário aqui na minha área, já é uma dificuldade [...]Falta de tempo. E falta de recursos humanos. E falta de espaço físico adequado para o atendimento. E a falta de agente comunitário de saúde. Margarida: [...]não consigo dar conta da demanda toda, né? Tem as gestantes que eu acompanho, que faço as reuniões com as gestantes, faço a reunião do planejamento familiar, coleta de preventivo, visita no PAD. Então a gente não consegue abraçar tudo. Então se for pra mim não fazer bem feito... eu vejo assim, eu acho assim puericultura tem que ter um período, um tempo de no mínimo meia hora para cada criança, e é o que não acontece, a gente não tem esse tempo. [...]o espaço físico, no momento... tem dias que não tem consultório pra estar examinando uma crianças, acompanhando, né? [...]não tenho uma sala especifica pra fazer... as vezes quando chega a criança, tem que pedir pra retornar mais tarde quando tem um consultório vago pra fazer o exame. Macieira: Porque eu não tenho tempo, porque as atividades da unidade aqui funcionam só seis horas, e pra gente tocar todos os programas não dá tempo. [...] até tentei uma vez fazer o agendamento da puericultura pra mim, só que daí as mães tem que ficar 12 esperando porque a gente atende outras coisas, né. Daí elas tem que ficar esperando, e elas não querem esperar, e daí não tem como tocar todos os programas. Eu tenho a visita domiciliar, os curativos especializados eu também faço aqui, então tem varias coisas que não tem como. [...]De repente o dia que tiver a unidade aberta o dia intero a gente possa dividir um pouco os programas, né? Daí a gente consegue fazer mais do que a gente esta fazendo, com certeza [...]. Tulipa: [...]O enfermeiro não está fazendo, porque a agente não tinha balança, chegou por esses dias. Ta com problema de computador, sistema e por enquanto, nós enfermeiros não estamos fazendo, só o médico. O consultório, que a parte da reforma.... a infra-estrutura, a parte de computador, sistema, chegou balança por esses dias, a gente não tem nem a régua, o médico que comprou uma régua que a gente ta usando, pra gente estar agendando pelo menos algumas crianças né? A gente divide a mesma sala. O mais seria de infra-estrutura mesmo. Cravo: [...]é o numero de pessoas para atende-la. Porque assim, se você assumi um compromisso de começar a atender todas as crianças, né? De 0 a 2 anos, fazer uma consulta por mês para cada uma delas, uma consulta profilática, isso vai demandar o tempo do enfermeiro, vai precisar também que os outros profissionais se envolvam. Eu acho que a dificuldade maior é a questão de organização. De querer fazer [...]Então eu acho que a nossa maior dificuldade é a organização. É parar e organizar o serviço para que ele funcione, quem que vai fazer [...]. Ligado a essas dificuldades, todos os enfermeiros relataram que não há um incentivo da gestão pública em desenvolver ações preventivas a saúde da criança na APS. Portanto, foram questionados qual a percepção deles no que se refere ao motivo pelo qual isso acontece. Rosa: A prefeitura na verdade só cobra né? Ela só cobra as ações [...]ela não dá as condições pra você fazer um trabalho adequado. A gente faz pela iniciativa da gente. Pela vontade da gente. Pelas coisas que a gente percebe. Margarida: [...] eu acho que precisaria de treinamento pra toda a equipe de enfermeiros, uma coisa que a gente não tem. E na verdade não está focando o nosso serviço em puericultura. Então fica muito assim por conta do enfermeiro em estar fazendo esse trabalho ou não. Mas incentivo mesmo, eu acredito... ao meu ver a gente não tem nenhum. 13 Macieira: [...]desde quando eu trabalhei em todos os postos, eu nunca.... Nunca ninguém passou um programa pra nós de acompanhamento da criança, nunca, de 0 a 2 anos. Tulipa: [...]Eles acabam dando mais importância assim, aos pacientes que chegam reclamando agora. Pacientes, enfim, não de só crianças, mas adultos. Pra estar resolvendo os problemas dentro da unidade. Pra prevenção, não vejo muito incentivo não. É mais para a parte curativa mesmo, de resolver o problema na hora. Cravo: [...]Porque eles desconhecem o verdadeiro sentido da palavra, qual é o beneficio dessa ação [...]desconhecendo o quanto se pode economizar, em termos de consultas e o quanto de problemas que você pode deixar de ter com essa ação, então eles não tem.... não lutam muito por isso. Não promovem muito isso. Isso tanto é verdade que a maioria, 90% das unidades do município o enfermeiro não faz puericultura. E quando faz é por iniciativa própria. 5. CONCLUSÕES Mesmo se tratando de uma pesquisa em andamento, algumas levantamentos já são possíveis de serem feitos. O atendimento e acompanhamento da saúde da criança está sendo realizado prioritariamente pelo profissional médico, sendo que o enfermeiro atende, muitas vezes a demanda, não conseguindo realizar um trabalho de prevenção e promoção da saúde desses indivíduos. A qualidade desse atendimento e acompanhamento não foi questionada, porém, segundo a fala de um dos entrevistados, ela tende a ser mais no sentido curativo do que preventivo. A captação da criança para o serviço que é desenvolvido pelas unidades básicas de saúde é realizado pelo agente comunitário de saúde e também através da demanda que procura o serviço. Além disso, alguns enfermeiros fazem a visita domiciliar, juntamente com outros profissionais, realizando o convite até a APS. Não há uma diferenciação importante no atendimento da criança sem risco e da criança egressa de uma UTI neonatal, a não ser em uma das unidades que existe uma profissional médico especialista em crianças de risco e a preferência nos agendamentos e atendimentos. Muitos dos enfermeiros relataram que não realizam a puericultura devido varias dificuldades que encontram no seu local de trabalho, dentre elas, a falta de tempo, 14 acumulo de serviço, a infra-estrutura inadequada, a falta de recursos humanos e um deles referiu também a falta de iniciativa, já que para se fazer essa ação, depende muito da vontade do enfermeiro já que a gestão pública não incentiva esses profissionais para que possam realizar a puericultura nas UBSs. A explicação para essa falta de incentivo, segundo eles, refere-se a não atenção dada as práticas preventivas e sim ao atendimento da demanda, ou seja, as práticas curativas. Dessa forma, observa-se que o atendimento a saúde da criança, e principalmente as crianças de risco, como as egressas da UTI neonatal, está sendo deficitário nas UBS do município de Toledo. Existe a vontade dos enfermeiros em realizar tal atividade porem é necessário que exista um investimento na capacitação desses e também o incentivo para que a puericultura seja implantada. 6. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Agenda de compromissos para a saúde integral da criança e redução da mortalidade infantil. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004. 80 p. BRASIL. Ministério da Saúde. Mortalidade Infantil. Disponível em < www_Saude_gov_br - Mortalidade Infantil 2.mht> Acessado em 28 de agosto de 2010. DUARTE, C. M. R. Reflexos das políticas de saúde sobre as tendências da mortalidade infantil no Brasil: revisão da literatura sobre a última década. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro - RJ, v. 23, n. 7, p. 1511-1528, jul, 2007. FALEIROS, V. P. 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