A supremacia e poderio da comunicação na atualidade
AUTOR: MRUZ, Natasha
CURSO: Comunicação Social – Jornalismo/Unifra, Santa Maria, RS
OBRA: GOMES, Mayra Rodrigues. Poder no jornalismo: discorrer, disciplinar,
controlar. São Paulo:Edusp, 2003.
No livro, Poder no jornalismo: discorrer, disciplinar, controlar, a autora Mayra
Rodrigues Gomes analisa, questiona e enfatiza a importância que o jornalismo exerce sobre a
sociedade, através dos meios de comunicação. Fundamenta seus argumentos com idéias de
Focault e Deleuze, analisando exemplos do jornalismo, tanto impresso, quanto televisivo.
Dividido em três grandes capítulos, a autora, para embasar e fortalecer seus argumentos,
utiliza Teorias da Comunicação como a Ordem Simbólica – Semiótica e Semiologia. Mayra
Rodrigues Gomes é professora e doutora do Departamento de Jornalismo e Editoração da
Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, onde ministra as Disciplinas
Ciências da Linguagem: Práticas Midiáticas e Ética no Jornalismo. É também autora de
Jornalismo e Ciências da Linguagem e Repetições e Diferenças nas Reflexões sobre
Comunicação.
No primeiro capítulo, a autora Mayra Rodrigues Gomes trata da “Ordem Simbólica”,
ou seja, origem do ser humano desde a iniciação de sua linguagem através dos signos. Dentro
deste contexto, enfatiza, também, a importância da Semiologia e a nomeação das coisas.
Todos esses termos deram-se através da abordagem do ser fabricante, falante e social. No
primeiro, o elemento que opera coloca o mundo passível de exploração e é instrumentalizado
(atividade motora). O segundo trata da nomeação das coisas, remetendo à importância do
signo. Já no terceiro, destaca a organização da vida em grupo, marcando a distância entre
cultura e natureza, as hierarquizações que manifestam como poder. As três implicam oposição
e distanciamento, que se interagem.
“Nestes termos, a ordem simbólica é o lugar onde de um só golpe se constitui o
humano: ser social, falante, fabricante, uma vez que lhe dá acesso ao mundo por meio das
significações que institui” (Gomes, p.23). Dentro do estudo da Semiologia, há a corrente do
Estruturalismo, também apontado pela autora no segundo capítulo. Esta questão trata das
estruturas mentais e culturais, com seus efeitos causais nos fenômenos sociais. Além disso, há
a diferença entre significante e significado. O relacionamento entre esses termos é puramente
arbitrário, com estruturas de regras e convenções internamente coerentes. Finalizando este
trecho inicial do livro, enfoca a importância da educação e dos valores da sociedade. Gomes
(2003, p. 36) cita um trecho de Focault: “(...) O indivíduo, com suas características, sua
identidade, fixado a si mesmo, é produto de uma relação de poder que se exerce sobre os
corpos, multiplicidade, movimentos, desejos, forças”.
Na segunda parte do livro, a autora discorre sobre as disciplinas e o controle que a
mídia exerce sobre nós. Essas relações de poder são exemplificadas através de uma
semelhança bastante interessante: a importância do mercúrio cromo e do methiolate.
Antigamente, a população via diversas propagandas e reportagens sobre os “benefícios”
desses produtos; porém, os consumidores não eram informados de que o mercúrio é
prejudicial à saúde. Há também as crendices dos diferentes povos; por isso, não importa em
que se acredita, mas que, para cada crendice, há uma verdade. O poder, nesta parte do livro, é
tratado como construtor não só de verdades, mas de todo o corpo social, perpassando
dominantes e dominados. Gomes (2003) embasa essa idéia num trecho de Focault: “(...) O
poder deve ser analisado como algo que circula, ou melhor, como algo que só funciona em
cadeia. Nunca está localizado aqui ou ali, nunca está nas mãos de alguns, nunca é apropriado
como uma riqueza ou um bem (...)” (p. 46).
Há também um ponto de parentesco entre palavra de ordem e dispositivo disciplinar,
isto é, significações dadas a partir de uma organização discursiva de base, que diz respeito à
educação, porque todos esses processos se resumem ao procedimento de ensinar a ver e
comportar-se no mundo. Toda disciplina encerra um projeto de controle como exercício das
disciplinas. Portanto, toda relação de poder se dá por esse controle, sendo que, nas sociedades,
ele se dá por coerção, pela imposição de condutas na alternativa de pesadas sentenças.
Para finalizar o livro, Gomes (2003) aborda a mídia como controladora dos meios,
exemplificando apontamentos feitos no capítulo anterior. Remete-se à importância das palavras
como dispositivo disciplinar. Neste caso, expressões como surto, epidemia, onda, crise,
merecem destaque, pois mostram essas expressões como efeito perante a sociedade. Quando
qualquer uma dessas expressões é lida, automaticamente é revertido a algo ruim, pois causam
impacto. Por exemplo, se um jornal colocar “Aparecimento repentino de dengue no Rio de
Janeiro”, não causaria o mesmo ímpeto que “Surto de dengue no Rio de Janeiro”. A autora
também tratou a questão da globalização, afirmando “(...) estamos sendo sistematicamente
educados para aceitação de um fato como situação de fato (...)” (p.72). A globalização é vista
como instrumento de controle, de dominação “intencionada”. Para firmar a proposta do livro
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Poder no Jornalismo, foram apontados exemplos de mídias e jornalismo impresso, em que se
tem um comparativo entre alguns veículos.
Primeiramente, a autora analisou programas de televisão, como Ratinho (SBT), Note e
Anote (Record), Fantástico (Globo), entre outros. Nestes exemplos, foram mostradas como as
disciplinas são tratadas pelas diferentes emissoras. O período analisado foi praticamente
similar (2 ou 3 dias de diferença), mesmo assim, nota-se a nítida diferença de como os veículos
tratam os acontecimentos. Um dos exemplos que mais chama a atenção é o Programa do
Ratinho, cuja maior preocupação é o índice de audiência. Seu público é o de classe baixa e os
problemas levados ao palco são tratados de maneira constrangedora pelo apresentador e sua
platéia. Mesmo assim, Ratinho conseguiu durante muito tempo ter a audiência maior do que
sua concorrente direta, a Rede Globo. Outro exemplo interessante é o Fantástico, em que as
disciplinas são encaradas como “doutrinárias”, pois este programa mostra algumas reportagens
de acusação e investigação sobre fatos e pessoas. Os outros programas avaliados tratam de
questões voltadas basicamente ao público feminino.
Em relação ao jornalismo impresso, foram analisados três diferentes jornais de maior
tiragem no Brasil, Folha de São Paulo (SP), O Estado de São Paulo (SP) e O Globo (RJ). O
estudo foi feito no mesmo dia, percebendo-se os diferentes enfoques que são dados às matérias
de grande repercussão. Isto se deve à linha editorial de cada empresa e à política que cada uma
adota. Mesmo matérias consideradas de grande importância são tratadas de formas diferentes
pelos veículos. Por esses exemplos, pode-se constatar que, dependendo do jornal lido, têm-se
diferentes focos de abordagem e, deste modo, há diferentes opiniões sobre os fatos. Por isso, os
jornais retratam fragmentos da realidade, não mentem, mas podem formar diferentes opiniões
sobre o que escrevem. E é aí que se baseia o grande “poder” que os meios de comunicação
exercem sobre a sociedade.
O poder do jornalismo e da mídia, tema central do livro Poder do Jornalismo, é tratado
como um agente que parte de um todo, que não age sozinho. Acredita-se que os jornais e a
mídia exercem um poder sobre a sociedade consumidora; porém, não quer dizer que eles
“mintam”. Eles retratam partes da realidade a partir de seus conceitos e suas convicções.
Constatou-se que, mesmo bem elaborada, a linguagem do livro é um pouco difícil e considerase que, em alguns pontos, os trechos dos autores que fundamentaram a obra, como Focault e
Deleuse, tinham uma linguagem mais clara em relação aos estudos propostos pela autora. Os
estudos em Semiologia e Semiótica ajudaram-me bastante na compreensão de minha leitura.
Enfim, é um livro interessante para os profissionais da área de Comunicação, pois explica e
exemplifica as “relações” de poder que a mídia estabelece em suas práticas sociais.
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CENTRO UNIVERSITRIO FRANCISCANO