CONTRADITÓRIO AO RELATÓRIO DA AVALIAÇÃO EXTERNA REALIZADO PELA INSPECÇÃO-GERAL DA EDUCAÇÃO (IGE) Após cuidada e ponderada análise ao relatório produzido pela IGE na sequência da Avaliação Externa ao nosso Agrupamento, entre os dias quatro e seis de Novembro de 2009, cumpre-nos exercer o direito ao contraditório, manifestando as seguintes considerações: ANÁLISE POR DOMÍNIO: 1. RESULTADOS No que concerne a este ponto, de uma forma geral, concordamos com o que foi mencionado no relatório da IGE nos quatro factores que o constituem. 2. PRESTAÇÃO DO SERVIÇO EDUCATIVO Queremos registar a nossa concordância em relação à globalidade da avaliação neste domínio. Contudo, não conseguimos deixar de questionar o porquê de ser considerado como ponto fraco "a falta de supervisão e acompanhamento generalizados da prática lectiva em sala de aula". Estranhamos o ponto, dado que a prática de supervisão directa acontece em estágio integrado ou em avaliação de desempenho à luz do actual regime de avaliação de docentes. 3. ORGANIZAÇÃO E GESTÃO ESCOLAR Ainda que satisfeitos e gratos pelo reconhecimento do esforço desenvolvido pelo Agrupamento para fazer face a alguns constrangimentos, não podemos deixar de apresentar a nossa surpresa pela classificação obtida neste parâmetro. Analisando atentamente o relatório elaborado pela IGE, questionamo-nos acerca dos limites entre as classificações “Bom” e “Muito Bom”. Pelo que pode ser observado, a IGE reconhece no Agrupamento uma “visão centrada na melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem, na diversificação curricular, bem como na luta contra o insucesso e o abandono escolares”, para além de que “há preocupações quanto ao desenvolvimento transversal da Língua Portuguesa… e com o treino das capacidades matemáticas…”. Confirma ainda a IGE que se cultiva “…o acolhimento e a integração dos docentes e não docentes que ingressam pela primeira vez no Agrupamento, através de reuniões gerais, dandolhes a conhecer a organização e as normas de funcionamento”. Salientam no relatório que “os espaços exteriores e interiores das unidades educativas visitadas estão limpos, bem cuidados e embelezados com trabalhos realizados pelos alunos...”. Destaca-se, por outro lado, a menção no relatório ao investimento do Agrupamento “no combate ao insucesso e abandono escolares, apostando na diversificação da sua oferta educativa/formativa, através de uma turma de percurso curricular alternativo, dos cursos de educação e formação, de projectos, dos apoios educativos e do acompanhamento psico-pedagógico. Revela uma grande preocupação em manter a disciplina, salientando-se, nesta vertente, o papel das equipas pedagógicas, constituídas de acordo com um perfil previamente definido para as turmas dos cursos de educação e formação, e do trabalho articulado entre os directores de turma, os professores tutores, os alunos co-tutores, o Gabinete de Apoio ao Aluno, o Serviço de Psicologia e Orientação e as famílias”. Da mesma forma que o Agrupamento reconhece a sobrelotação da escola e a insegurança nos transportes públicos, a IGE também o faz, referindo que “A sobrelotação desta escola, e consequente falta de espaços físicos… condiciona o processo de ensino-aprendizagem e a resposta a uma oferta educativa mais diversificada e adequada às expectativas dos alunos e das famílias.”, “…por inexistência de transportes escolares, utilizam os transportes públicos em condições de insegurança e sobrelotação que… constituem motivo de grande apreensão”. Não obstante, reconhece-se que “o Agrupamento, atento ao problema, fez diligências junto da Autarquia no sentido de resolver este constrangimento”. Por todas as considerações elaboradas pela IGE consideramos, por um lado, que o limite entre as classificações é muito ténue, por outro, que a classificação mais adequada neste parâmetro seria a de Muito Bom. Relembramos que a obtenção de Muito Bom pode ser obtida quando “predominam os pontos fortes…” e “apesar de alguns aspectos menos conseguidos, a organização mobiliza-se para o aperfeiçoamento contínuo e a sua acção tem proporcionado um impacto muito forte na melhoria dos resultados dos alunos”. 4. LIDERANÇA Neste ponto, consideramos importante expressar a nossa perplexidade em relação à opinião manifestada, e passamos a citar, “O Agrupamento não apresenta metas claras e quantificáveis, não medindo com rigor e exactidão os seus resultados.”. Como houve oportunidade de se verificar no Projecto Educativo do Agrupamento, é feita menção a essas mesmas metas no Anexo n.º 1 deste documento, sendo identificados os objectivos no que concerne aos Resultados Escolares; ao Abandono Escolar; ao Apoio às Aprendizagens dos Alunos; à Participação nas Estruturas de Orientação Educativa e nos Órgãos de Gestão e à Relação com a Comunidade. Dando relevância ao exposto no Relatório da IGE e salientando a real existência de metas claras e quantificáveis para o Agrupamento, não nos parece ajustada a classificação atribuída neste parâmetro. Aliás, o balanço dos pontos fortes e menos fortes é claramente favorável a uma reapreciação da avaliação e consequente rectificação, com a classificação de Muito Bom. 5. CAPACIDADE DE AUTO-REGULAÇÃO E MELHORIA DO AGRUPAMENTO Este é o domínio em que a classificação nos parece mais desajustada. Ainda que o processo de auto-avaliação não tivesse sido desenvolvido da melhor forma e apresentasse algumas lacunas, a verdade é que a Equipa de Avaliação Interna e o Agrupamento, na sua globalidade, souberam identificar claramente os seus pontos fortes, os pontos fracos, as oportunidades de melhoria e os constrangimentos. Se assim não fosse, não teríamos registado as mudanças atitudinais, de comportamento e, inclusive, de estrutura que ocorreram nos últimos anos. Na verdade, ao longo dos anos o Agrupamento tem realizado a monitorização e a avaliação dos resultados, bem como das actividades insertas nos planos de actividades anuais e aproveitado as sugestões provenientes das diversas visitas da IGE para elaborar, aplicar e avaliar planos de melhoria. A autoavaliação do Agrupamento foi sempre entendida e realizada de forma a envolver toda a comunidade educativa, pelo que, no âmbito das diversas estruturas de supervisão pedagógica, coadjuvadas pelas diferentes Comissões de Trabalho onde, para além dos docentes, estão integrados pais e alunos, se contribui para o exercício da auto-avaliação. Neste contexto, destaca-se: Análise dos resultados escolares, ou seja, da avaliação diagnóstica, com a implementação de estratégias de diferenciação pedagógica; Análise das avaliações internas de final de período e final de ano lectivo, realizada por ciclo, anos de escolaridade, turmas e disciplinas; Comparação da avaliação interna e avaliação externa, a Língua Portuguesa e Matemática, realizando-se a detecção dos factores que contribuíram para o insucesso e o reforço na implementação de estratégias de melhoria; Análise da evolução do abandono escolar, respectivas causas e medidas a adoptar; Reflexão das práticas educativas e do seu contexto: o Modelos de ensino, metodologias, técnicas de ensino e estratégias/actividades/experiências; o Adequação dos recursos humanos e materiais utilizados (disponíveis na escola, elaborados pelos docentes e/ou obtidos por pesquisa…) aos conteúdos disciplinares; o A utilização das instalações: laboratórios, salas de aula, mobiliário… com influência no desenvolvimento das práticas educativas; o As práticas educativas integradas no desenvolvimento de projectos e clubes; o As práticas educativas de articulação curricular (vertical e horizontal); o Outros aspectos que se constituíram como limitações e/ou se considerem pertinentes para a melhoria das práticas educativas. Também se procedeu e procede à avaliação individual de cada uma das actividades do Plano de Actividades Anual, bem como do respectivo grau de execução, na globalidade, procedendo-se ainda à elaboração de relatórios globais de avaliação trimestral e final do Plano. Nesta perspectiva, os dados recolhidos pela equipa de Avaliação Interna, consubstanciados num perfil rigoroso do Agrupamento, respectiva população escolar, recursos humanos, serviços e recursos financeiros, foram amplamente analisados pelas diversas estruturas de orientação educativa, abarcando toda a comunidade escolar, no sentido do seu efectivo envolvimento, com o objectivo da auto-regulação e melhoria do Agrupamento. A sustentabilidade do progresso mereceu a seguinte apreciação da equipa responsável pela avaliação externa: “As actividades do Plano Anual e os resultados académicos são monitorizados e analisados pelo Conselho Pedagógico e demais estruturas. Esta avaliação tem permitido estabelecer e implementar estratégias que têm originado melhorias em algumas vertentes da organização escolar. Neste âmbito, o Agrupamento identificou áreas problemáticas e desenvolveu planos de acção que se encontram corporizados no Projecto Educativo. A capacidade de mudança encontra-se internamente sustentada na motivação generalizada das lideranças e agentes da Comunidade Escolar que se mostram envolvidos no actual processo de desenvolvimento e melhoria do Agrupamento.” Assim, considerando a própria apreciação da equipa da Avaliação Externa, bem como o que antes fica dito, relativamente à auto-avaliação, consideramos que seria oportuna a revisão da menção atribuída neste domínio, por nos parecer muito injusta uma classificação inferior a Bom. CONSIDERAÇÕES FINAIS Relativamente aos pontos fracos, cumpre-nos manifestar as seguintes considerações: Os resultados inferiores aos nacionais nas provas de aferição do 6.º ano e nos exames nacionais do 9.º ano, no ano lectivo de 2008/2009 Este facto deve ser analisado no contexto local, sendo comprovadamente dirimido numa análise global em que se constata que a escola, na média dos últimos três anos, obteve, comparativamente com os outros Agrupamentos do concelho, resultados que a colocam em primeiro lugar a Língua Portuguesa e em segundo lugar a Matemática, sendo apenas superada nesta disciplina pela Escola sede do Agrupamento do centro da cidade. A falta de supervisão e acompanhamento generalizados da prática lectiva em sala de aula O Agrupamento realiza a supervisão e acompanhamento da prática lectiva em sala de aula, através das planificações didácticas e respectivo grau de cumprimento e através da reflexão sobre as práticas educativas e o seu contexto. De acordo com a legislação, por solicitação do docente, também podem ser observadas aulas, no âmbito da avaliação de desempenho. No entanto, não existe crédito horário docente para serem observadas aulas de forma sistemática, pelo que somos da opinião de que não pode nem deve ser exigido aos Agrupamentos que as mesmas se realizem. Ausência nos documentos estruturantes de metas claras que possibilitem a avaliação da eficácia das medidas implementadas. Os documentos estruturantes possuem metas/objectivos definidos. Destaca-se que o Plano de Actividades Anual possui objectivos e metas claramente definidos, cuja operacionalização se constata pelas competências comportamentais que, por uma questão de facilidade e coerência na implementação, se encontram agrupados por calendarização (recepção aos docentes, recepção aos alunos, Feira de S. Martinho, Natal…) e/ou tipo de actividade (exposição, publicações, conferências/palestras, segurança…). O Projecto Educativo do Agrupamento contém os objectivos gerais, agrupados em grandes opções educacionais, a saber: a universalidade do direito à educação; a diversificação do ensino; a finalidade educacional de promover a educação em três dimensões: o Dimensão pessoal – desenvolvimento global e harmonioso da personalidade; o Dimensão das aquisições intelectuais – aquisição de um saber estruturado em domínios diversificados; o Dimensão para a cidadania – formação de cidadãos livres, conscientes e participativos. Também são definidas claramente as respectivas prioridades. A débil articulação e sequencialidade entre os diferentes ciclos de educação e ensino do Agrupamento. A articulação curricular é realizada entre os diferentes níveis de ensino, em reuniões programadas para esse efeito, debatendo-se os seguintes aspectos da articulação: Revisão do perfil do aluno à saída do um ciclo/entrada no outro ciclo (competências e conteúdos); Articulação do currículo entre ciclos nas disciplinas de Língua Portuguesa, Inglês, História, Matemática, Ciências, EV, ET, Área de Projecto e outras disciplinas de forma a garantir um currículo nuclear e estruturante entre ciclos; Análise das dificuldades de aprendizagem dos alunos e implementação de estratégias para a sua superação conjunta; Implementação ou reforço da aprendizagem dos deveres do aluno, no que diz respeito às regras mínimas de comportamento na salas de aula e de relacionamento (respeito) com os Professores e Assistentes Operacionais, bem como na responsabilização do aluno pelas tarefas de aprendizagem que lhe estão cometidas; Promoção conjunta do sucesso educativo (evitar as grandes lacunas na aprendizagem dos alunos) e redução do abandono escolar (evitar atrasos impossíveis de colmatar ou a impossibilidade de acompanhar os outros alunos); Cooperação na prevenção de comportamentos inadequados e na prevenção da violência em meio escolar. No que se refere a pontos fortes, congratulamo-nos com o facto de, pela equipa de Avaliação Externa, ter sido reconhecida a sua existência nos mais diversos domínios: Resultados Escolares Abandono escolar Implementação de projectos e trabalho cooperativo Oferta formativa/educativa diversificada Trabalho consistente a nível dos apoios educativos Motivação e disponibilidade do pessoal docente e não docente Diversidade de parcerias com entidades locais e nacionais / melhoria da prestação do serviço educativo. Contudo, somos de opinião de que a “escola” apresenta outros pontos fortes que também se constituem como contributos fundamentais para a sustentabilidade do progresso, que passaram despercebidos e que aqui queremos evidenciar, como por exemplo: A criação e dinamização da Associação de Estudantes como factor mobilizador para o exercício da autonomia dos alunos A existência de um Serviço de Psicologia e Orientação que promove e sustenta um ensino inclusivo eficaz A promoção de acções de formação internas para pessoal docente, não docente, discente e encarregados de educação, de acordo com as prioridades definidas no Projecto Educativo e no Plano de Actividades Anual. NOTA FINAL – Em caso de necessidade, poderemos fornecer documentos que sejam considerados pertinentes. Agrupamento de Escolas de Lagares, Felgueiras, 21 de Janeiro de 2010 O DIRECTOR (António José Bragança)