UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Escola de Comunicação e Artes – ECA Gestão de Processos Comunicacionais Pós-graduação – lato sensu Palavras-chave- Prefeitura, dialógica, processo Monografia final do projeto de gestão em processos comunicacionais para a Prefeitura de Santo André Uma proposta de ação comunicativa para Santo André: Um diálogo com a cidade Autor: Eduardo Luiz Correia Santo André/1999 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Projeto Curso de Gestão de Processos Comunicacionais ECA – USP Resumo Os grandes centros urbanos assistem hoje a um intenso bombardeio informativo, colocando seus moradores como alvos permanentes das mais variadas mensagens, que vêm de todos os lados, a todo momento. É a empresa anunciando seus produtos na televisão, no rádio, nos outdoors. É o programa jornalístico ou de entretenimento brigando pela atenção do seu público. Ou o garoto que joga o panfleto sobre a venda do prédio pela janela do carro ao pararmos no semáforo. Neste frenético universo comunicacional entra o Poder Público, que também precisa “dar o seu recado”. Não basta apenas, ao contrário de antigamente, criar uma eficiente rede de comunicação interna voltada para orientação de trânsito ou para anunciar eventos promovidos pela administração municipal. A realidade hoje é mais complexa e as Prefeituras, pelo menos as comprometidas com a busca da diminuição das diferenças sociais e com a promoção da cidadania e maior participação popular, têm a obrigação de entrar nesta disputa da comunicação mais eficiente. Tão importante quanto a promoção de um evento ou de um programa social por parte de uma administração pública, seja ele qual for, está a adoção de uma estratégia de comunicação eficiente. Não apenas para informar ao conjunto da população, mas tendo o papel fundamental de buscar sua viabilidade enquanto tal e garantir seu êxito e funcionamento satisfatoriamente pelo período pretendido. A comunicação não pode ser mais considerada pelo Poder Público o fechamento de um processo, a última etapa depois de sua realização e apenas uma ponta-delança para fazer-se conhecido por parte do público. A comunicação precisa estar incluída no processo desde a sua gestação, com o papel que realmente lhe cabe, de definição de meios e mensagens adequadas ao público receptor. E ainda preservando o estabelecimento de um processo de interação constante, dialógico. Este é o objetivo deste projeto aqui apresentado, tendo como objeto a Prefeitura de Santo André e, por extensão, o próprio município. 1. Apresentação/Introdução O projeto que será apresentado a seguir procura apontar os melhores caminhos para a concretização de uma ação comunicativa executada pela Prefeitura Municipal de Santo André, sob coordenação do seu Núcleo de Comunicação. O trabalho em questão pretende analisar os principais problemas enfrentados pela administração municipal de Santo André para fazer-se ouvir pela população, bem como determinar uma rede dialógica com a maior parcela possível de seus cerca de 625 mil habitantes (IBGE/1996). Santo André, apesar de ser uma das principais cidades do Estado de São Paulo e situar-se no coração da região do Grande ABC – terceiro maior mercado consumidor do País -, não possui meios de comunicação próprios, privados ou públicos, com condições de atingir satisfatoriamente sua população no abastecimento de informações locais. Os poucos meios de comunicação eletrônica (rádio e televisão), sediados em Santo André ou mesmo no Grande ABC, têm índices de audiência muito baixos, praticamente insignificantes. Em função da proximidade de localização com São Paulo, os sinais das grandes emissoras de televisão de canal aberto e as maiores rádios acabam por cobrir não apenas a Capital do Estado, mas toda a sua região metropolitana. A imprensa escrita, por sua vez, também não consegue dar conta do problema por ser um meio com alcance restrito às camadas sociais mais favorecidas da população. E, apesar de sua pujança econômica, o Grande ABC tem um único jornal com circulação diária com alguma expressão, o Diário do Grande ABC, com características bastante peculiares que serão abordadas mais detalhadamente adiante. Além do exposto acima, Santo André atravessa uma fase de transição econômica na qual funde-se um quadro de evasão industrial ao lado do crescimento de novos investimentos surgidos no setor de serviços. Desde a década de 80, Santo André assiste a um processo de saída de suas indústrias – mas que formam ainda hoje a base da principal atividade econômica do município. A administração municipal tem por meta preservar o que restou de seu parque industrial, o que não é pouca coisa, mas também atrair novos investimentos de qualidade que possibilitem criação de novos empregos e geração de renda. Assim, a imagem positiva de Santo André para além de seus muros torna-se peça estratégica fundamental nessa briga com outras localidades na atração de empresas para o município. Não se trata, portanto, de um desafio simples. Conciliar ações de comunicação que possam dar conta das necessidades da população e sedimentar uma imagem positiva para o conjunto do Estado, e mesmo do País, não é tarefa das mais fáceis. Soma-se a isso as particularidades enfrentadas por uma administração municipal no que se refere à execução de suas tarefas, que obrigatoriamente precisa acatar procedimentos administrativos mais complicados e lentos do que os da iniciativa privada. Com o setor de comunicação não é diferente, sendo que muitas vezes os recursos destinados para a área costumam ser alvo de críticas por alguns membros do Poder Legislativo e demais setores da sociedade civil organizada. Além disso, a verba destinada para a Comunicação, R$ 2,5 milhões neste exercício, conforme a dotação prevista na peça orçamentária deste ano, pelas experiências dos últimos dois anos mostrou-se insuficiente para dar conta satisfatoriamente das demandas do conjunto da administração municipal, sendo determinante que haja critérios claros na hierarquia de ações de comunicação das prioridades do governo, que foram apresentadas à população ainda na época das eleições municipais. É, portanto, em função do aqui exposto que uma ação comunicativa eficiente, lastreada por uma política de comunicação responsável e sedimentada no conjunto da equipe de governo, torna-se fundamental para a consolidação do programa de governo da atual gestão, eleito pela ampla maioria dos eleitores do municípios (61,65% dos votos), ainda no primeiro turno das eleições de outubro de 1996. Uma política de comunicação que esteja em conformidade com os princípios da ética e da responsabilidade, voltada para comunidade como um todo, mas principalmente para aqueles mais necessitados da prestação de serviços públicos com qualidade. E que possa ir mais além e permitir ao governo de Santo André destacar-se no cenário nacional pelas suas realizações no campo social, tendo sempre a preocupação com a qualidade de vida de seus cidadãos. Também pelo seu esforço em garantir uma crescente participação popular nas decisões do Executivo municipal e novos investimentos na cidade. propiciar um campo fértil para a vinda de Bibliografia ADORNO, Theodor W. “A indústria cultural” In: COHN, Gabriel. Comunicação e indústria cultural. São Paulo: Nacional, s.d. p. 287-295. ARICÓ, José. “Por que Gramsci na América Latina?” In: Gramsci e o Brasil (revista eletrônica) www.artnet.com.br/gramsci BACCEGA, Maria Aparecida. O campo da comunicação In: T. G. CORRÊA, Comunicação para o mercado. São Paulo: Edicon, 1995. BACCEGA, Maria Aparecida. Conhecimento, Informação e Tecnologia. Revista Comunicação e Educação (11): 7 a 14, São Paulo: Moderna (Seção Apresentação). _________. Comunicação e mediações. Revista Comunicação e Educação (4): 7 a 12, set./dez. de 1995, São Paulo: Moderna (Seção Apresentação). _________. Meios de comunicação: dos homens para os homens. 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