Mastozoología Neotropical
ISSN: 0327-9383
[email protected]
Sociedad Argentina para el Estudio de los
Mamíferos
Argentina
Cáceres, Nilton C.; Casella, Janaina; dos Santos Goulart, Charla
VARIAÇÃO ESPACIAL E SAZONAL DE ATROPELAMENTOS DE MAMÍFEROS NO BIOMA
CERRADO, RODOVIA BR 262, SUDOESTE DO BRASIL
Mastozoología Neotropical, vol. 19, núm. 1, enero-junio, 2012, pp. 21-33
Sociedad Argentina para el Estudio de los Mamíferos
Tucumán, Argentina
Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=45723408003
Como citar este artigo
Número completo
Mais artigos
Home da revista no Redalyc
Sistema de Informação Científica
Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal
Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto
Mastozoología Neotropical, 19(1):21-33, Mendoza, 2012
©SAREM, 2012
ISSN 0327-9383
Versión on-line ISSN 1666-0536
http://www.sarem.org.ar
VARIAÇÃO ESPACIAL E SAZONAL
DE ATROPELAMENTOS DE MAMÍFEROS
NO BIOMA CERRADO, RODOVIA BR 262,
SUDOESTE DO BRASIL
Nilton C. Cáceres1, Janaina Casella2 e Charla dos Santos Goulart3
Laboratório de Ecologia e Biogeografia. Departamento de Biologia, CCNE, Universidade Federal
de Santa Maria. Santa Maria, RS, 97.110-970, Brasil. 2 Programa de Pós-Graduação em Ecologia
e Conservação, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, CCBS, Cx.P. 549, Campo Grande,
MS, 79.070-900, Brasil [correspondência: <[email protected]>]. 3 Departamento de Biociências.
Campus II. Rua Oscar Trindade de Barros, s/n. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,
Aquidauana, MS, 79.200-000, Brasil.
1
RESUMO: Foram examinadas a composição e abundância das espécies de mamíferos
atropeladas em dois trechos da rodovia BR 262, a relação dos atropelamentos com a
distância de centros urbanos, a escala espacial dos atropelamentos, a distribuição dos
atropelamentos segundo a sazonalidade e a relação dos atropelamentos com o número de veículos. Os animais atropelados foram registrados durante 2 anos e 4 meses
entre Campo Grande e Miranda, estado do Mato Grosso do Sul, sudoeste do Brasil.
Ao todo foram registrados 231 espécimes de mamíferos distribuídos em 20 espécies,
sendo Carnivora, Cingulata e Pilosa as principais ordens. Os atropelamentos foram
mais intensos conforme o distanciamento dos grandes centros urbanos. Na análise de
distribuição espacial e sazonal dos atropelamentos, Cerdocyon thous e Tamandua tetradactyla apresentaram picos definidos de atropelamentos em certos trechos da estrada,
marcados sazonalmente. Não houve diferença na riqueza de espécies entre os trechos
estudados nem entre as estações climáticas. Porém, o número total de atropelamentos
se mostrou mais acentuado no trecho da rodovia que estava mais próximo ao Pantanal,
com destaque para as ordens Carnivora e Pilosa. Em geral, houve mais atropelamentos
durante o período chuvoso, com destaque para a ordem Cingulata. Recomendações
de manejo são feitas com o objetivo de diminuir o efeito prejudicial da estrada, tais
como uso de placas sinalizadoras de locais e épocas críticas de atropelamentos, uso
de cercas de contenção de fauna em trechos críticos e facilitação para a movimentação
da fauna através da rodovia, de modo seguro.
ABSTRACT: Spatial and seasonal variation of mammal road kill in the BR-262
highway, Cerrado biome, southwestern Brazil. The composition and abundance of
mammal road kills were examined on two stretches of the BR-262 Federal Road, besides
relationship between city distance and road kill, road-kill spatial distribution, seasonality
effects, and relationship with vehicles daily volume. The killed animals were registered
over 2 years and 4 months, between Campo Grande and Miranda, in southwestern
Brazil. A total of 231 mammal specimens was found, which were distributed in 20 species, being Carnivora, Cingulata and Pilosa the main orders. The road-kill frequency
was more intense far from big urban centers. Analyzing the spatial distribution of road
kills, Cerdocyon thous and Tamandua tetradactyla showed defined peaks of road kill,
in specific sites of the road, being also seasonally marked. There were no differences
in the species richness between road stretches or between seasons. However, the
number of road kills was higher in the stretch near the Pantanal biome, with emphasis
Recibido 1° febrero 2011. Aceptado 16 noviembre 2011. Editor asociado: D Astua
22
Mastozoología Neotropical, 19(1):21-33, Mendoza, 2012
http://www.sarem.org.ar
NC Cáceres et al.
to Carnivora and Pilosa. Overall, there were more road kills during the rainy season, with
Cingulata as the main order. Management recommendations are done in order to diminish the road impact, such as the use of road sign in critical locations for road kills, use of
fences for faunal contention in critical stretches, and facilitation of faunal movements for
crossing safely the road.
Palavras-chave. Carnivora. Cingulata. Ecologia de estradas. Escalas de atropelamento.
Myrmecophaga tridactyla.
Key words. Carnivora. Cingulata. Myrmecophaga tridactyla. Road ecology. Road-kill scale.
INTRODUÇÃO
Entre os fatores antrópicos que ameaçam as
espécies da fauna silvestre, o atropelamento
pode ser uma importante causa de mortalidade
em todo o mundo, como tem sido reportado
na Europa (Sorensen, 1995; Forman et al.,
2003; Baker et al., 2004; Jaeger e Fahrig,
2004). No Brasil, apesar de novos artigos terem
sido publicados nos últimos anos enfocando
mamíferos (e.g. Bager, 2006; Cherem et al.,
2007; Melo e Santos-Filho, 2007; Coelho et
al., 2008; Zaleski et al., 2009; Cáceres et al.,
2010b), ainda são escassos os estudos sobre
ecologia de rodovias, principalmente quando
relacionam a mortalidade por atropelamento
com a conservação ambiental.
Recentemente tem-se demonstrado que as
colisões envolvendo carnívoros são influenciados por fatores temporais (Philcox et al., 1999;
Guter et al., 2005; Orlowski e Nowak, 2006)
e por fatores espaciais (Clarke et al., 1998;
Clevenger et al., 2003; Malo et al., 2004; Ramp
et al., 2005). Variações sazonais são também
relatadas para outras espécies para as quais,
nas estações reprodutivas ou de recrutamento,
as frequências de atropelamento são maiores
(Grilo et al., 2009). Na estação seca, quando
os recursos são escassos, pode haver um aumento na mobilidade dos animais, aumentando
a frequência de atropelamento nas rodovias
(Melo e Santos-Filho, 2007). Colisões com
veículos mostram significantes aglomerações
espaciais e parecem depender da densidade
populacional, biologia e habitat das espécies,
estruturas da paisagem, e características do
tráfego de veículos na rodovia (Clevenger et
al., 2003; Baker et al., 2004; Malo et al., 2004;
Orlowsky e Nowak, 2006; Cáceres, 2011).
A rodovia BR 262 atravessa o gradiente
ambiental formado entre o cerradão e o pantanal sul-mato-grossense (Ab’Sáber, 1988;
IBGE, 1992), apresentando diferentes níveis
de urbanização e extensas áreas de pastagem
intercaladas à vegetação nativa. O fato da
rodovia BR 262 abranger a zona de transição
Cerrado-Pantanal (Veloso et al., 1991) a coloca
como um importante fator para o entendimento
dos impactos causados sobre a fauna atropelada, proveniente de duas diferentes regiões
biogeográficas.
A diversidade da fauna regional é potencialmente elevada, sendo frequente a ocorrência
de atropelamentos de mamíferos silvestres que
utilizam as áreas de entorno da estrada como
parte de seus habitats (Cáceres, 2011; Cáceres
et al., 2010b).
Neste estudo são apresentados os resultados
de um monitoramento de dois anos e quatro
meses de duração referente aos atropelamentos
de mamíferos na rodovia BR-262 em dois
trechos (entre Campo Grande e Aquidauana e
de Aquidauana a Miranda, no sudoeste do Brasil), avaliando o efeito do trânsito de veículos
sobre os mamíferos silvestres e analisando os
padrões sazonais e espaciais de atropelamentos
nestes dois trechos.
Os objetivos deste estudo são: (i) avaliar a
relação da distância das cidades com os atropelamentos; (ii) avaliar a distribuição espacial
dos atropelamentos em termos de escalas de
agrupamento de mortalidade ao longo da
rodovia; (iii) avaliar as diferenças nos fluxos
de veículos entre trechos de rodovia e entre
ATROPELAMENTOS DE MAMÍFEROS
estações climáticas; (iv) avaliar as diferenças de
abundância e riqueza de mamíferos atropelados
em dois trechos da rodovia, (v) avaliar as diferenças de abundância e riqueza de mamíferos
atropelados entre estações climáticas (chuvosa
e seca); e (vi) fazer recomendações de manejo
da rodovia com o intuito de diminuir o efeito
da estrada sobre a fauna silvestre.
Nossas hipóteses são: haverá influência da
distância das cidades de maior porte sobre as
frequências de atropelamentos; a distribuição
espacial dos atropelamentos não será aleatória
e sim agrupada para cada espécie; haverá diferença nos atropelamentos entre os dois trechos
da rodovia já que um deles se situa entre
dois grandes centros urbanos; a sazonalidade
climática influenciará nos atropelamentos, com
o período chuvoso sendo aquele com maior
índice; o volume de tráfego de veículos diferirá
entre os postos de contagem e influenciará na
frequência de atropelamento da fauna.
MATERIAIS E MÉTODOS
Área de estudo: A rodovia BR 262 é de pista única
e mão dupla, predominantemente retilínea, mas com
alguns trechos sinuosos de serra. A área estudada
consiste em um trecho de 200 km, entre as cidades
de Campo Grande e Miranda, no estado de Mato
23
Grosso do Sul, no sudoeste do Brasil. Padronizamos chamar a junção de duas cidades adjacentes,
Aquidauana e Anastácio, separadas apenas pelo Rio
Aquidauana, como “Aquidauana” (Fig. 1).
Para este estudo, a rodovia foi dividida em dois
trechos. O primeiro trecho (#1) se estende de Campo
Grande a Aquidauana, com 130 km de extensão.
Este primeiro trecho tem acostamento e zona de
amortecimento mantidos sempre com poucas árvores
e vegetação baixa. No segundo trecho (#2), entre
Aquidauana e Miranda, com 70 km, a estrada é
muitas vezes sem acostamento ou com baixa manutenção na zona de amortecimento. O trecho #2
se situa nas adjacências do bioma Pantanal (Fig. 1).
A vegetação da região é típica de savana do
bioma Cerrado, principalmente arbórea (cerradão),
apresentando florestas de galeria ao longo de rios
que cortam a rodovia, sendo os principais o Rio
Cachoeirão (km 430) e Rio Dois Irmãos (km 460)
no trecho 1; o trecho 1 segue em muitos quilômetros quase paralelamente o Rio Aquidauana (entre
km 460 e 490), que recebe as águas dos dois rios
citados acima (Fig. 1). A Serra de Maracaju, em seu
trecho oeste, é cortada pela rodovia principalmente
entre os km 440 e 470. O trecho 2 tem o bioma
Pantanal muito próximo, em seu lado norte (Fig. 2).
Coleta de dados: Os dados foram computados
através de registros sistemáticos, sempre que possível com periodicidade quinzenal no ano de 2002
e a partir de fevereiro de 2003 a agosto de 2004,
com periodicidade semanal. Foram realizadas 50
viagens no trecho 1 e
30 no trecho 2, além
de 45 viagens durante
a estação chuvosa e 35
durante a seca.
As viagens foram realizadas de motocicleta
e as saídas eram feitas
logo no início da manhã,
para que fosse observado
o maior número possível
de carcaças, antes que
Fig. 1. Área de estudo,
mostrando a rodovia BR
262, trecho entre Campo
Grande e Miranda, no estado
de Mato Grosso do Sul, no
sudoeste do Brasil. Bioma
Pantanal em cinza e Cerrado
em branco.
24
Mastozoología Neotropical, 19(1):21-33, Mendoza, 2012
http://www.sarem.org.ar
NC Cáceres et al.
Fig. 2. Perfil da região de estudo, mostrando a rodovia BR 262 (linha tracejada), trecho entre Campo Grande e Miranda,
no estado de Mato Grosso do Sul, no sudoeste do Brasil. Altitude se refere à área cinza e a latitude à linha tracejada.
O principal trecho da Serra de Maracaju, cortado pela rodovia, é ressaltado na figura.
essas fossem destruídas pelo tráfego de veículos ou
removidas por animais necrófagos. Um indivíduo
de cada, das seguintes espécies, teve seu crânio
preparado como testemunho e estão depositados na
Coleção de Mamíferos da UFSM: Cerdocyon thous,
Chrysocyon brachyurus, Eira barbara, Leopardus
pardalis e Puma yagouaroundi. A velocidade média percorrida foi de 60 km/h e, para cada animal
atropelado, dados detalhados do local, espécie, data,
quilômetro da rodovia e coordenadas geográficas
foram anotados. Espécimes de difícil identificação
em campo, devido às condições da carcaça, foram
levados ao laboratório para exame detalhado e
correta identificação. As coordenadas geográficas de
cada registro de atropelamento foram obtidas com
um GPS de navegação (Global Position System),
sempre com erro PDOP menor que 10 m.
Após identificação e anotação, a carcaça era
removida para a área de refúgio contígua para
evitar que fosse contabilizada novamente na viagem
seguinte. Foram consideradas todas as espécies de
mamíferos silvestres atropelados visualizados na
faixa de domínio da rodovia compreendendo a
faixa de rolagem e o acostamento. A classificação
e nomes específicos utilizados seguiram Wilson e
Reeder (2005).
Os dados provenientes do tráfego de veículos
na BR 262 para os dois trechos da rodovia foram
obtidos a partir do volume diário médio (VDM),
disponibilizados pelos postos de contagem do
DNIT (Departamento Nacional de Infra-Estrutura
de Transportes) e pelo CETRAN (Centro de Excelência em Engenharia de Transportes), que são
órgãos governamentais brasileiros.
Tratamento dos dados: Para testar a hipótese de
influência de grandes centros sobre a frequência de
atropelamentos, utilizamos a análise de regressão
linear múltipla entre abundância de atropelamentos
para cada espécie em trechos de 20 km da rodovia
e as distâncias dos dois principais centros urbanos
na região, Campo Grande e Aquidauana. Essas
duas variáveis preditoras foram transformadas
(raiz quadrada) antes das análises para torná-las
homocedásticas para com a variável dependente.
Para verificar em quais escalas a distribuição espacial dos atropelamentos foi mais intensa, utilizou-se
uma modificação da estatística K de Ripley que
avalia a não-aleatoridade da distribuição espacial
de eventos de atropelamentos ao longo de diversas
escalas de agrupamento. O método utiliza também
uma função para sua interpretação (Ripley, 1982;
Levine, 2000) proposta por Clevenger et al. (2003),
modificada por Coelho e colaboradores (2008). Os
atropelamentos foram avaliados através do conjunto
total de dados e depois por estação (chuvosa e seca).
As espécies com maior ocorrência foram avaliadas
individualmente quanto a esses parâmetros, através
do software SIRIEMA 1.0 (Coelho, 2006). O raio
inicial foi de 100 m e o intervalo de raio foi de 500
m. Os valores de significância acima dos limites de
confiança (99%) obtidos a partir dessas simulações
indicam escalas com agrupamentos significativos e
os valores abaixo desses limiares indicam escalas
com dispersão significativa (Coelho, 2006).
Para avaliar se a riqueza de espécies atropeladas
diferiu significativamente entre os dois trechos
analisados e entre as duas estações climáticas,
utilizou-se o teste G. Optou-se por não corrigir a
ATROPELAMENTOS DE MAMÍFEROS
riqueza quanto ao comprimento do trecho ou esforço amostral devido ao fato de se tratar de uma
medida de composição de espécies, que é menos
sensível à variação do esforço amostral; porém, para
a abundância de atropelamentos, essa correção foi
realizada (ver adiante).
O teste G foi utilizado para avaliar se houve
diferença significativa nas abundâncias totais de
atropelamentos entre trechos e estações do ano.
O mesmo teste foi utilizado para as principais ordens de mamíferos, tanto para trecho quanto para
sazonalidade.
Os dados de VDM foram mantidos separados por
posto de contagem e por estação do ano. O posto
de contagem localizado em Terenos, denominado
262BMS1338, leva em consideração os veículos que
transitaram entre Campo Grande e Aquidauana (#1).
O posto localizado em Aquidauana, denominado
262BMS2362, leva em consideração os veículos
que transitaram entre Aquidauana e Miranda (#2).
As diferenças entre os valores de VDM entre os
trechos e períodos do ano foram averiguadas se
significativas através do teste t.
Todos os dados foram padronizados previamente
para todas as análises estatísticas, de acordo com a
extensão do trecho de rodovia (Baker et al., 2004) e
com o número de viagens em cada trecho da rodovia
ou estação climática. O trecho 2 foi padronizado
multiplicando-se o valor absoluto pelos quocientes da divisão do comprimento do trecho 1 pelo
comprimento do trecho 2 e da divisão do esforço
amostral no trecho 1 pelo esforço no trecho 2; a
estação seca foi padronizada pela multiplicação do
valor absoluto pelo quociente da divisão do esforço
amostral na estação chuvosa pelo esforço na estação
seca. Os testes estatísticos foram realizados através
do programa BioEstat 5.0 (Ayres et al., 2007).
RESULTADOS
Um total de 231 animais atropelados foram
registrados, distribuídos em 20 espécies distribuídas em 6 ordens e 10 famílias de mamíferos.
As ordens mais registradas foram Carnivora
(N = 91), Cingulata (N = 73) e Pilosa (N = 55),
com destaque para C. thous, Euphractus sexcinctus e Myrmecophaga tridactyla (Tabela 1).
Distância de centros urbanos
Um gradiente de intensidade de atropelamentos
foi observado ao longo da rodovia amostrada,
sendo maior quanto mais se afasta do maior
25
centro urbano (Campo Grande; 766.461 habitantes; IBGE, 2010), havendo nova diminuição
quando se aproxima de outro centro urbano
de menor tamanho (Aquidauana e Anastácio,
juntas com 68.876 habitantes), mas parece
não haver tanto efeito perto de um centro
urbano menor ainda (Miranda; com 25.481
habitantes (Fig. 3a). A regressão múltipla
entre abundância de fauna e distâncias dos
principais centros urbanos foi significativa
para C. thous (F = 9,2; R2 = 0,40; P = 0,01), M.
tridactyla (F = 7,3; R2 = 0,33; P = 0,02) Tamandua tetradactyla (F = 5,3; R2 = 0,22; P = 0,04), E.
sexcinctus (F = 9,9; R2 = 0,42; P = 0,01), exceto
para Dasypus novemcinctus (P = 0,63). De fato,
houve uma relação explanatória muito forte
das distâncias dos grandes centros urbanos
explicando a abundância geral de mamíferos
atropelados (F = 19,1; R2 = 0,62; P = 0,002).
Escalas espaciais de atropelamentos
Nas análises de distribuição espacial envolvendo todos os atropelamentos, houve formações
de agrupamentos para todas as escalas avaliadas, não havendo nítida distinção entre os
períodos chuvoso e seco; porém, houve agrupamentos nítidos para determinadas espécies.
O padrão espacial de C. thous foi inverso em
relação aos picos de agrupamentos de atropelamentos durante a estação seca frente à estação
chuvosa. Cerdocyon thous apresentou um pico
de agregação (na escala de 10 km) de atropelamentos durante a estação seca (Fig. 4b), ao
passo que um pico similar foi observado para
T. tetradactyla (13 km), porém durante a estação chuvosa (Fig. 4d). Dasypus novemcinctus
apresentou um pico de agrupamento em maior
escala, em torno de 50 km, durante a estação
chuvosa. Para M. tridactyla e E. sexcinctus,
em geral não houve picos significativos de
agrupamento, apenas em escalas muito grandes
(135 km; Fig. 4c).
Os padrões específicos de atropelamentos das
cinco espécies foram mais nítidos para e C.
thous e T. tetradactyla, ocorrendo principalmente entre os km 420 e 460 da BR 262, havendo
também um pico para a primeira espécie entre
os km 500 e 520 (Figs. 3b, 3d). Myrmecophaga
26
NC Cáceres et al.
Mastozoología Neotropical, 19(1):21-33, Mendoza, 2012
http://www.sarem.org.ar
Tabela 1
Frequência de atropelamento segundo diferentes espécies de mamíferos durante as estações chuvosa e seca
na rodovia BR 262, trecho 1, de Campo Grande a Aquidauana, e trecho 2, de Aquidauana a Miranda, no
estado de Mato Grosso do Sul, sudoeste do Brasil, entre os meses de maio de 2002 a agosto de 2004.
Espécies
Trecho 1
Trecho 2
Chuvosa
Seca
Total
Didelphis albiventris
6
1
5
2
7
Didelphis aurita
1
-
-
1
1
DIDELPHIMORPHIA
CINGULATA
Cabassous unicinctus
1
-
-
1
1
Dasypus novemcinctus
16
4
17
3
20
Euphractus sexcinctus
34
18
42
10
52
Myrmecophaga tridactyla
24
12
22
14
36
Tamandua tetradactyla
13
6
12
7
19
Cerdocyon thous
42
29
40
31
71
Chrysocyon brachyurus
2
1
1
2
3
Eira barbara
2
-
1
1
2
Galictis vittata
1
-
-
1
1
Leopardus pardalis
1
-
1
-
1
Nasua nasua
2
-
1
1
2
Procyon cancrivorus
6
1
2
5
7
Puma concolor
1
1
1
1
2
Puma yagouaroundi
2
-
2
-
2
1
-
-
1
1
Cavia aperea
1
-
1
-
1
Cuniculus paca
1
-
-
1
1
Hydrochaerus hydrochaeris
-
1
1
-
1
PILOSA
CARNIVORA
PERISSODACTYLA
Tapirus terrestris
RODENTIA
tridactyla apresentou pico de atropelamentos
similar a um dos picos de C. thous, entre os
km 420 e 440; as duas espécies de tamanduás
apresentaram um segundo pico entre os km 540
e 560, próximo à cidade de Miranda (Figs. 3c,
3d). O padrão para D. novemcinctus foi também
nítido entre os km 460 e 480, que é um trecho
logo após os principais trechos observados para
C. thous e T. tetradacyla (Figs. 3b, 3c, 3d, 3e,
3f), estando relacionado à proximidade com o
Rio Aquidauana. De forma geral, os principais
trechos com atropelamentos das espécies foram
aqueles entre os km 420 e 440 com 30 casos,
entre os km 460 e 480 com 29 casos (trecho
1) e aquele entre os km 500 e 520 com 27
casos (trecho 2) (Fig. 3a).
ATROPELAMENTOS DE MAMÍFEROS
27
Fig. 3. a) Número total de
mamíferos atropelados por
trechos de 20 quilômetros (eixo
horizontal) na rodovia BR-262
no oeste de Mato Grosso do
Sul, sudoeste do Brasil, durante
os anos de 2002 a 2004. b)
Número de indivíduos atropelados de Cerdocyon thous; c)
de Myrmecophaga tridactyla;
d) de Tamandua tetradactyla;
e) de Euphractus sexcinctus e
f) de Dasypus novemcinctus.
Localizações dos perímetros
urbanos no eixo horizontal: início da cidade de Campo Grande
está situado nos quilômetros
360-379; cidade de Aquidauana
está localizada nos quilômetros
480 e 499 e cidade de Miranda
após o quilômetro 559.
Fig. 4. Estatística L
(Kobs-Kexp) com função de agrupamento
(linha mais escura)
conforme a distância
de escala (raio) e limite de confiança de
99% (linhas em cinza)
para a distribuição de
espécies atropeladas
de mamíferos na BR
262, sudoeste do Brasil, entre os anos de
2002 e 2004. Legendas: todas as espécies
(a); Cerdocyon thous
(b); Myrmecophaga
tridactyla (c); Tamandua tetradactyla (d);
Euphractus sexcinctus
(e) e Dasypus novemcinctus (f).
28
Mastozoología Neotropical, 19(1):21-33, Mendoza, 2012
http://www.sarem.org.ar
Diferenças entre trechos e estações
climáticas
Não houve diferença significativa entre as
riquezas de espécies observadas entre os dois
trechos da rodovia (G = 2.9; P = 0.09) ou entre as
estações climáticas (G = 0.0; P = 0.86). Porém,
o número total de atropelamentos se mostrou
mais acentuado no trecho 2 (G = 14.5; P < 0.001)
ou no período chuvoso (G = 7.6; P = 0,006),
quando corrigidos pelo comprimento do trecho
de rodovia e/ou esforço amostral (Tabela 2).
Entre os dois trechos analisados, houve
diferença significativa para as ordens Pilosa (G = 3.9; P = 0.05) e Carnivora (G = 9.2;
P = 0.003), mas não para Cingulata (G = 2.7;
P = 0.10), havendo maiores valores de abundância para o trecho 2 (Tabela 2). Porém,
Cingulata foi o grupo mais atropelado na
estação chuvosa quando comparada à estação
seca (G = 21.8; P < 0.0001), sendo que não
houve diferença para as outras ordens de mamíferos (Pilosa: G = 0.6; P = 0.44; Carnivora:
G = 0.2; P = 0.69).
Os meses com maior número de animais
atropelados foram aqueles do período entre
novembro de 2003 e março de 2004, com
elevadas frequências de atropelamento, principalmente de C. thous e E. sexcinctus, além
de outras espécies de tatus e tamanduás (Fig.
5). Fora desse período, em julho de 2003 e
em maio de 2004, os atropelamentos de C.
thous (Fig. 5b) e M. tridactyla (Fig. 5c) foram
notórios também, respectivamente.
Volume diário médio de veículos (VDM)
O VDM de veículos nos anos de 1994 a 1998
no posto de contagem de Terenos (trecho 1)
foi de 2722 ± 226 veículos, significativamente
maior (t = 9.4; P < 0,001) do que no posto de
contagem de Aquidauana (trecho 2), no qual o
VDM foi de 1641 ± 25 veículos entre os anos
de 1997 a 2001. Não houve diferença no VDM
entre as estações chuvosa e seca.
DISCUSSÃO
A fauna de mamíferos atropelada na BR 262,
no trecho entre Campo Grande e Miranda,
é composta principalmente por carnívoros,
tamanduás e tatus, que são espécies de ampla
NC Cáceres et al.
distribuição. Mesmo as espécies mais características de savana ou ambientes de vegetação
aberta, como M. tridactyla, são geralmente
espécies de ampla distribuição (Fonseca et al.,
1996; Medri et al., 2006; Miranda e Medri,
2010). Embora existam pequenas diferenças
na composição de espécies entre localidades,
outros estudos desenvolvidos no bioma Cerrado
também apontam C. thous, M. tridactyla, T.
tetradactyla, E. sexcinctus e D. novemcinctus
como espécies de maior mortalidade nas rodovias do bioma (Vieira, 1996; Prado et al.,
2006; Melo e Santos-Filho, 2007), indicando
que essas espécies são comuns ao longo dessas
rodovias (Cáceres, 2011).
Espécies ameaçadas de extinção (MMA,
2010), como M. tridactyla, C. brachyurus,
Tapirus terrestris e L. pardalis, são frequentemente ou eventualmente encontradas
atropeladas em regiões de Cerrado (Prado et
al., 2006; Melo e Santos-Filho, 2007), como
observamos aqui.
Distância de centros urbanos
Estudos têm mostrado relações estreitas e
diretas entre o maior tráfego de veículos e o
número de atropelamentos de animais silvestres (Baker et al., 2004; Orlowsky e Nowak,
2006; Coelho et al., 2008). Porém, um fator
importante revelado neste estudo é a distância
de grandes centros urbanos e o efeito da estrada. Quanto mais distante das cidades, maior é
impacto direto da rodovia sobre fauna. A partir
disso, há dois fatos que devemos ressaltar: 1)
que a fauna se encontra depauperada perto dos
grandes centros urbanos (e.g. Santos e Tabarelli, 2002) e 2) que a fauna ainda se encontra
melhor conservada longe dos centros urbanos,
pois é justamente onde o efeito da estrada é
maior atualmente.
Escalas espaciais de atropelamentos
As agregações significativas observadas
indicam que existem concentrações de animais
atropelados em determinados trechos da rodovia
(como para T. tetradactyla e D. novemcinctus
na estação chuvosa e para C. thous na estação
seca), porém as agregações que se formaram
sob escalas muito grandes (maior que 50
km) não conferem precisão à análise já que
ATROPELAMENTOS DE MAMÍFEROS
29
Tabela 2
Número de atropelamentos totais e para cada ordem, riqueza de espécies de mamíferos silvestres e volume
diário médio (VDM) de veículos por trecho da rodovia BR 262 e por estação do ano no estado de Mato
Grosso do Sul, sudoeste do Brasil. Número entre parênteses é um valor estimado de atropelamentos para
o trecho 2 ou para a estação seca, por um fator de correção que leva em conta as diferenças de extensão
entre trechos e/ou esforço amostral em dias de viagem.
Campo GrandeAquidauana (130 km)
AquidauanaMiranda (70 km)
Campo Grande-Miranda (total)
(200 km)
Trecho 1
Trecho 2
Chuvosa
Seca
Total
Esforço amostral (dias)
50
30
45
35
80
Atropelamentos
158
73
149
82
231
Cingulata
51
(233)
22
(105)
59
(70)
Pilosa
37
18
34
(57)
Carnivora
60
31
VDM
21
(27)
49
(99)
Riqueza
14
(18)
42
(54)
19
9
15
16
2722
1641
2239
2257
praticamente alcançam a extensão da rodovia
monitorada (Coelho et al., 2008). Os distintos
agrupamentos espaciais observados e mesmo
a ausência desses para as demais espécies
analisadas sugerem diferenças nos seus
comportamentos, como o uso diferencial de
habitat do entorno da rodovia. Aqui salientamos
a provável influência das matas ciliares úmidas
dos rios Cachoeirão e a proximidade do Rio
Aquidauana nas frequências de atropelamentos
observadas, principalmente para C. thous e D.
novemcinctus. Essa coincidência indica que
essas espécies podem depender sazonalmente
desses habitats, já que ambas as espécies
revelaram padrões espaço-temporais nítidos
de atropelamentos.
Cerdocyon thous é uma espécie abundante
nas imediações das estradas da região estudada (Cáceres, 2011). A maior concentração de
atropelamentos em certos trechos da estrada
durante a estação seca para essa espécie ocorreu
provavelmente devido ao início do período reprodutivo (Berta, 1982), o que faz com que os
20
animais se movimentem mais. Padrão similar
pode ser atribuído a T. tetradactyla, que apresentou picos concentrados de atropelamentos,
embora durante a estação úmida. Acreditamos
que a concentração de atropelamentos de D.
novemcinctus na escala de agrupamento de
50 km esteja relacionada ao fato da espécie
ter afinidade com ambientes mais florestados
e próximos a matas ciliares (Goulart et al.,
2009). Para essa espécie, esses trechos estão
relacionados à Serra de Maracaju que corta
a BR 262 (entre km 440 e 480) e também
à proximidade com as matas ciliares do Rio
Aquidauana (entre km 470 e 490).
Euphractus sexcinctus e M. tridactyla, ao
contrário, são espécies de área aberta no bioma Cerrado (Redford e Wetzel, 1985), o que
explica suas elevadas taxas de mortalidade na
rodovia e a ausência de agregação espacial nos
atropelamentos. Esse fato mostra que essas
espécies devem estar distribuídas mais homogeneamente na paisagem que circunda a rodovia
estudada, que é dominada por pastagens onde
30
Mastozoología Neotropical, 19(1):21-33, Mendoza, 2012
http://www.sarem.org.ar
NC Cáceres et al.
Fig. 5. Distribuição mensal de espécies atropeladas de mamíferos (não corrigida) na BR-262, entre os trechos de Campo
Grande a Miranda, MS, sudoeste do Brasil, entre os anos de 2003 e 2004. Legendas: todas as espécies (a); Cerdocyon
thous (b); Myrmecophaga tridactyla (c); Tamandua tetradactyla (d); Euphractus sexcinctus (e) e Dasypus novemcinctus (f).
essas espécies devem circular livremente entre fragmentos florestais, que utilizam como
abrigo diurno (Mourão e Medri, 2007, para
M. tridactyla).
Diferenças entre trechos e VDM
Embora o número de veículos que transitaram
em média no trecho 1 tenha sido maior que no
trecho 2, a riqueza de espécies não diferiu entre
os dois trechos, o que pode estar relacionado
à presença da Serra de Maracaju no trecho
1 e à proximidade do Pantanal no trecho 2,
sendo que ambos os fatores levariam a um
incremento de espécies ou de indivíduos nas
cercanias da rodovia. Em ambos os casos, tanto
a Serra de Maracaju (Cáceres et al. 2010a)
quanto o Pantanal (Swartz, 2000; Tomas et
al., 2001; Harris et al., 2005) funcionam como
reservatórios de espécies, sendo atenuados
pelos efeitos prejudiciais da rodovia através
dos atropelamentos e os efeitos indiretos da
estrada (Laurance et al., 2009). Isso explica
também porque Carnivora e Pilosa foram
mais atropelados no trecho 2 da BR 262, o
qual está localizado muito próximo às vastas
áreas conservadas do Pantanal, ao passo que
a região da Serra de Maracaju tem sofrido
relativamente mais com o desflorestamento
ATROPELAMENTOS DE MAMÍFEROS
(NCC, observação pessoal). O menor trânsito
de veículos e os maiores números estimados
de atropelamentos no trecho 2 apontam para
uma maior importância dessa região em termos
de conservação.
Diferenças entre estações climáticas e VDM
Visto que a média de veículos que trafegam
diariamente na BR 262 foi a mesma nas duas
estações do ano, as variações sazonais de mamíferos atropelados devem estar relacionadas a
outros fatores, como a sazonalidade climática.
Diferenças sazonais podem estar relacionadas
às épocas de maiores deslocamentos dos animais devido aos diferentes ciclos biológicos
das espécies, como épocas de maior atividade
reprodutiva e de picos populacionais decorrentes (Flowerdew, 1987; Grilo et al., 2009). A
disponibilidade sazonal de fontes de alimentos,
como frutos, e as condições climáticas diferenciais de temperatura e umidade no Cerrado
devem influenciar nos movimentos das espécies
de mamíferos (Reys et al., 2005; Mourão e
Medri, 2007; Vieira et al. 2010). Isto está de
acordo com nossos resultados em termos de
incidências de atropelamentos em determinadas
estações do ano, como ocorreu para Cingulata
na estação chuvosa.
CONCLUSÃO
Concluímos que os atropelamentos na BR 262
(entre km 360 e 560) são mais intensos sobre
mamíferos com maior distribuição geográfica,
podendo ser espécies de área aberta como
tamanduás e tatus. Os atropelamentos são
mais severos em locais onde a rodovia cruza
por zonas próximas a áreas bem conservadas
do Pantanal e da Serra de Maracaju ou em
regiões com matas ciliares bem desenvolvidas.
A distribuição espacial dos atropelamentos é
espécie-dependente, sendo menos intensos nas
adjacências de grandes centros urbanos. Os períodos de chuva e de seca também contribuem
para os agrupamentos de atropelamentos para
algumas espécies, sendo o período chuvoso
aquele com mais registros de mamíferos atropelados. O volume diário médio de veículos
que trafegam nos trechos avaliados parece
interferir nas frequências de atropelamentos.
31
Sugerimos que medidas mitigadoras sejam
executadas nos trechos monitorados mais
relevantes da BR 262, em particular nas proximidades do Rio Cachoeirão entre os km 420
e 440, nas proximidades da Serra de Maracaju
entre os km 440 e 480 e nas proximidades do
Pantanal entre os km 500 e 560. Assim sendo,
várias espécies seriam salvaguardadas e não
somente as principais alvejadas neste estudo.
RECOMENDAÇÕES
I. Uso de placas sinalizadoras nos trechos
críticos, indicando risco de animais na pista;
recomenda-se mostrar a silhueta das espécies
mais prováveis de atropelamento e a época do
ano com maior incidência, através de símbolos
de fácil entendimento;
II. Uso de redutores de velocidade de veículos
nesses trechos segundo as normas de trânsito
nacionais, caso não exista um sistema que
facilite a passagem de fauna, de modo seguro,
através da rodovia;
III. Uso de cercas de contenção (cercas-guia)
nos trechos em que grandes fragmentos de cerradão ou de mata ciliar encostam-se à rodovia,
evitando com que os mesmos atravessem-na
em locais impróprios;
IV. Experimentar a construção de túneis amplos
que passem sob a rodovia, para que sejam
usados como passadouros de fauna, aliados
à instalação de cercas-guia, nos trechos com
maiores freqüências de atropelamentos. Pontes
já existentes deveriam ser adequadas a esses
propósitos, já que matas de galeria são corredores naturais de fauna.
V. Monitorar o efeito de cada uma dessas
medidas e suas combinações, antes, durante
e após suas execuções. Monitorar também
espécies ameaçadas de extinção, como M.
tridactyla, em função da utilização do entorno
de rodovias.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à Universidade Federal do Mato Grosso
do Sul, campus de Aquidauana, pelo auxílio logístico
e, em especial, a Andreas Kindel e Igor P. Coelho da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul em Porto
Alegre por cederem o software SIRIEMA e pela ajuda
32
Mastozoología Neotropical, 19(1):21-33, Mendoza, 2012
http://www.sarem.org.ar
com o programa. O artigo foi melhorado em algumas
ideias apontadas por revisores, para quem agradecemos.
NCC é bolsista-pesquisador do CNPq/Brasil.
LITERATURA CITADA
AB’SÁBER AN. 1988. O pantanal mato-grossense e a
teoria dos refúgios. Revista Brasileira de Geografia
50:9-57.
AYRES M, M AYRES JR, DL AYRES e AS SANTOS.
2007. BioEstat 5.0: Aplicações estatísticas na áreas
das Ciências Biológicas e Médicas. Sociedade Civil
Mamirauá, Belém – PA, MCT – CNPq.
BAGER A. 2006. Avaliação dos impactos das rodovias
federais à fauna selvagem no extremo sul do Rio
Grande do Sul - Brasil. Projeto Estrada Viva,
Universidade Católica de Pelotas, Pelotas. Relatório
Técnico.
BAKER PJ, S HARRIS, CPJ ROBERTSON, G SAUNDERS e PCL WHITE. 2004. Is it possible to monitor
mammal population changes from counts of road
traffic casualties? An analysis using Bristol’s red
foxes Vulpes vulpes as an example. Mammal Review
34(1):115-130.
BERTA A. 1982. Cerdocyon thous. Mammalian Species
189:1-4.
CÁCERES NC. 2011. Biological characteristics of mammals influence road kill in an Atlantic Forest-Savannah
interface in south-western Brazil. Italian Journal of
Zoology 78(3):379-389.
CÁCERES NC, RP NAPOLI, J CASELLA e W HANNIBAL. 2010a. Mammals in a fragmented savannah
landscape in south-western Brazil. Journal of Natural
History 44(7-8):491-512.
CÁCERES NC, W HANNIBAL, DR FREITAS, EL
SILVA, C ROMAN e J CASELLA. 2010b. Mammal
occurrence and roadkill in two adjacent ecoregions
(Atlantic Forest and Cerrado) in southwestern Brazil.
Zoologia 27:709-717.
CHEREM JJ, M KAMMERS, IR GHIZONI-JR e A
MARTINS. 2007. Mamíferos de médio e grande porte
atropelados em rodovias do estado de Santa Catarina,
sul do Brasil. Biotemas 20(2):81-96.
CLARKE GP, PCL WHITE e S HARRIS. 1998. Effects
of roads on badger Meles meles populations in southwest England. Biological Conservation 86:117–124.
CLEVENGER AP, B CHRUSZCZ e KE GUNSON.
2003. Spatial patterns and factors influencing small
vertebrate fauna road-kill aggregations. Biological
Conservation 109:15-26.
COELHO IP. 2006. SIRIEMA (mimio). Programa de
computador em fase de teste e distribuído pelo autor.
COELHO IP, A KINDEL e AVP COELHO. 2008. Roadkills
of vertebrate species on two highways through the
Atlantic Forest Biosphere Reserve, southern Brazil.
European Journal Wildlife Research 54:689-699.
FLOWERDEW JR. 1987. Mammals their reproductive
biology and population ecology. Edward Arnold,
Baltimore.
NC Cáceres et al.
FONSECA GAB, G HERRMANN, YRL LEITE, RA
MITTERMEIER, AB RYLANDS e JL PATTON. 1996.
Lista anotada dos mamíferos do Brasil. Occasional
Papers in Conservation Biology 4:1-38.
FORMAN RTT, D SPERLING, JA BISSONETTE, AP
CLEVENGER, CD CUTSHALL, VH DALE, L
FAHRIG, R FRANCE, CR GOLDMAN, K HEANUE,
JA JONES, FJ SWANSON, T TURRENTINE e TC
WINTER. 2003. Road ecology: science and solutions.
Island Press, Washington, DC.
GOULART FV, NC CÁCERES, MEM TORTATO, IR
GHIZONI-JR e LG OLIVEIRA-SANTOS. 2009. Habitat selection by large mammals in a southern Brazilian
Atlantic Forest. Mammalian Biology 74:182-190.
GUTER A, A DOLEV, D SALTZ e N KRONFELDSCHOR. 2005. Temporal and spatial influences on
road mortality in otters: conservation implications.
Israel Journal of Zoology 51:199-207.
GRILO C, JA BISSONETTE e M SANTOS-REIS. 2009.
Spatial-temporal patterns in Mediterranean carnivore road casualties: consequences for mitigation.
Biological Conservation 142:301-313.
HARRIS MB, WM TOMAS, G MOURÃO, CJ SILVA,
E GUIMARÃES, F SONODA e E FACHIM. 2005.
Desafios para proteger o Pantanal brasileiro: ameaças
e iniciativas em conservação. Megadiversidade
1(1):156-164.
IBGE. 1992. Manual técnico da vegetação brasileira. Série
Manuais Técnicos em Geociências, Número 1. Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística, Rio de Janeiro.
IBGE. 2010. Censo. http://www.censo2010.ibge.gov.br/
dados_divulgados/index.php?uf=50
JAEGER JAG e L FAHRIG. 2004. Effects of road fencing on population persistence. Conservation Biology
18(6):1652-1657.
LAURANCE WF, M GOOSEM e SGW LAURANCE.
2009. Impacts of roads and linear clearings on
tropical forests. Trends in Ecology and Evolution
24(12):659-669.
LEVINE N. 2000. CrimeStat: a spatial statistics program
for the analysis of crime incident locations. Ned Levine
e Associates, Annandale, Virginia.
MALO JE, F SUAREZ e A DI´EZ. 2004. Can we mitigate
animal-vehicle accidents using predictive models?
Journal of Applied Ecology 41:701-710.
MEDRI IM, GM MOURÃO e FHG RODRIGUES. 2006.
Ordem Xenarthra. Pp. 71-99, em: Mamíferos do Brasil
(NR Reis, AL Peracchi, WA Pedro e IP Lima, eds.).
NR Reis, Londrina.
MELO ES e M SANTOS-FILHO. 2007. Efeitos da BR070 na Província Serrana de Cáceres, Mato Grosso,
sobre a comunidade de vertebrados silvestres. Revista
Brasileira de Zoociências 9(2):185-192.
MIRANDA F e IM MEDRI. 2010. Myrmecophaga
tridactyla. Em: IUCN 2011. IUCN Red List of
Threatened Species. Version 2011.1. http://www.
iucnredlist.org.
MMA. 2010. Lista nacional das espécies da fauna
brasileira ameaçadas de extinção. Brasília, Ministério
ATROPELAMENTOS DE MAMÍFEROS
do Meio Ambiente. Disponível em: http://www.
mma.gov.br.
MOURÃO GM e IM MEDRI. 2007. Activity of a
specialized insectivorous mammal (Myrmecophaga
tridactyla) in the Pantanal of Brazil. Journal of
Zoology 271(2):187-192.
ORLOWSKY G e L NOWAK. 2006. Factors influencing mammal roadkills in the agricultural landscape
of south-western Poland. Polish Journal of Ecology
54:283-294.
PHILCOX CK, AL GROGAN e DW MACDONALD.
1999. Patterns of otter Lutra lutra road mortality
in Britain. Journal of Applied Ecology 36:748-762.
PRADO TR, AA FERREIRA e ZFS GUIMARÃES. 2006.
Efeito da implantação de rodovias no cerrado brasileiro
sobre a fauna de vertebrados. Acta Scientiarum, Biological Sciences 28(3):237-241.
RAMP D, VK WILSON e DB CROFT. 2006. Assessing
the impacts of roads in peri-urban reserves: Roadbased fatalities and road usage by wildlife in the
Royal National Park, New South Wales, Australia.
Biological Conservation 129:348-359.
REDFORD KH e RM WETZEL. 1985. Euphractus
sexcinctus. Mammalian Species 252:1-4.
REYS P, M GALETTI, LPC MORELLATO e J SABINO.
2005. Fenologia reprodutiva e disponibilidade de frutos
de espécies arbóreas em mata ciliar no Rio Formoso,
Mato Grosso do Sul. Biota Neotropica 5(2):1-10.
RIPLEY BD. 1982. Spatial statistics. Wiley, New York.
ROSA AO e J MAUHS. 2004. Atropelamentos de animais
silvestres na rodovia RS-40. Cadernos de Pesquisa,
Série Biológica 16(1):35-42.
33
SANTOS AM e M TABARELLI. 2002. Distance from
roads and cities as a predictor of habitat loss and
fragmentation in the Caatinga vegetation of Brazil.
Revista Brasileira de Biologia 62:897-905.
SORENSEN JA. 1995. Road-kills of badgers (Meles meles)
in Denmark. Annales Zoologici Fennici 32:31-36.
SWARTZ FA. 2000. The Pantanal in the 21st century for the Planet´s largest wetland, an uncertain future.
Pp 1-24, em: The Pantanal of Brazil, Paraguay and
Bolivia (FA Swartz). Hudson MacArthur Publishers,
Gouldsboro, EUA.
TOMAS WM, SM SALIS, GM MOURÃO e MP SILVA.
2001. Marsh deer (Blastocerus dichotomus) distribution as a function of floods in the Pantanal wetland,
Brazil. Studies on Neotropical Fauna and Environment
36(1):9-13.
VELOSO HP, ALR RANGEL-FILHO e JCA LIMA. 1991.
Classificação da vegetação brasileira adaptada a um
sistema universal. IBGE, Rio de Janeiro.
VIEIRA EM. 1996. Highway mortality of mammals in
Central Brazil. Ciência & Cultura 48:270-272.
VIEIRA EM, LC BAUMGARTEN, G PAISE e RG
BECKER. 2010. Seasonal patterns and influence of
temperature on the daily activity of the diurnal Neotropical rodent Necromys lasiurus. Canadian Journal
of Zoology 88:259-265.
WILSON DE e DM REEDER. 2005. Mammal species of
the world – a taxonomic and geographic reference. 3°
edição. The John Hopkins University Press, Baltimore.
ZALESKI T, V ROCHA, SA FILIPAKI e ELA MONTEIROFILHO. 2009. Atropelamentos de mamíferos silvestres
na região do município de Telêmaco Borba, Paraná,
Brasil. Natureza & Conservação 7(1):81-94.
Download

Full screen - Red de Revistas Científicas de América Latina y el