JANAINA CASELLA ECOLOGIA DE ESTRADAS Influência da BR-262 no desflorestamento e na perda da fauna silvestre por atropelamentos no Sudoeste do Brasil, MS Tese apresentada ao Programa de PósGraduação em Ecologia e Conservação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutor em Ecologia e Conservação. CAMPO GRANDE 2010 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. JANAINA CASELLA ECOLOGIA DE ESTRADAS Influência da BR-262 no desflorestamento e na perda da fauna silvestre por atropelamentos no Sudoeste do Brasil, MS Tese apresentada ao Programa de PósGraduação em Ecologia e Conservação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutor em Ecologia e Conservação. Orientador: Prof. Dr. Antonio Conceição Paranhos Filho Co-Orientador: Prof. Dr. Nilton Carlos Cáceres CAMPO GRANDE 2010 ii Janaina Casella Ecologia de estradas: Influência da BR-262 no desflorestamento e na perda da fauna silvestre por atropelamentos no Sudoeste do Brasil, MS Tese aprovada junto ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Ecologia. Campo Grande, 18 de junho de 2010. Dr. Antônio Conceição Paranhos Filho Orientador – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Dr. Nilton Carlos Cáceres Co- Orientador – Universidade Federal de Santa Maria Dra. Simone Rodrigues de Freitas Membro Titular – Universidade Federal do ABC Dr. Andreas Kindel Membro Titular – Universidade Federal do Rio Grande do Sul Dra. Tatiana Mora Kuplich Membro Titular – Universidade Federal de Santa Maria Dr. Maurício Graipel Membro Titular – Universidade Federal do Paraná iii AGRADECIMENTOS Aos orientadores Prof. Dr. Antonio C. Paranhos Filho, Prof. Dr. Nilton C. Cáceres e Gustavo Graciolli simplesmente por irem muito além de uma mera orientação desta tese. Pelo incentivo, pela paciência e principalmente pela amizade e apoio. Meus sinceros agradecimentos a galera do Laboratório de Geotecnologias Ambientais pela paciência com minhas imagens e principalmente comigo. Ao corpo docente da Pós-Graduação, sempre com novas ideias e expectativas sobre o trabalho. Em especial Carol, Éricota, Cyntioca, Carlinha, Bere, Nicolay, enfim, aos fiéis amigos por todas as horas que cantaram, dançaram, pularam e até choraram comigo durante esses anos. Agradeço pela companhia e muitas vezes pelas orientações de vida. Aos meus pais pela credibilidade e incentivo em todas as horas, pela confiança e por me tornarem a pessoa que sou. iv SUMÁRIO AGRADECIMENTOS ................................................................................................... iv LISTA DE FIGURAS ................................................................................................... vii LISTA DE TABELAS .................................................................................................... x LISTA DE ANEXOS .................................................................................................... xii INTRODUÇÃO GERAL .............................................................................................. 01 Capítulo 1: “Influência da BR-262 na perda de cobertura do Cerrado, MS, sudoeste do Brasil” ABSTRACT .................................................................................................................. 07 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 08 MATERIAIS E MÉTODOS .......................................................................................... 09 RESULTADOS ............................................................................................................. 12 DISCUSSÃO ................................................................................................................. 15 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 18 Capítulo 2: “Variação sazonal e espacial de atropelamentos de mamíferos no bioma Cerrado, sudoeste do Brasil” ABSTRACT .................................................................................................................. 22 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 23 MATERIAIS E MÉTODOS .......................................................................................... 25 RESULTADOS ............................................................................................................. 30 v DISCUSSÃO ................................................................................................................. 37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 41 Capítulo 3: “Estimativa de cobertura vegetal na análise de atropelamentos de mamíferos silvestres na BR-262, entre Campo Grande e Miranda, Sudoeste do Brasil” ABSTRACT .................................................................................................................. 52 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 53 MATERIAIS E MÉTODOS .......................................................................................... 55 RESULTADOS ............................................................................................................. 59 DISCUSSÃO ................................................................................................................. 67 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 70 Capítulo 4: “Relação dos atropelamentos de animais silvestres com a paisagem do entorno no Bioma Cerrado, Sudoeste do Brasil” ABSTRACT .................................................................................................................. 75 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 76 MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................................... 78 RESULTADOS ............................................................................................................. 81 DISCUSSÃO ................................................................................................................. 85 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 87 CONCLUSÕES FINAIS ............................................................................................... 90 vi LISTA DE FIGURAS CAPÍTULO 2: Figura 1. Figura 1: Região de estudo, mostrando a rodovia BR-262, trecho entre Campo Grande e Miranda, no Estado de Mato Grosso do Sul, no sudoeste do Brasil (modificada de IBGE, 2006) ........................................................................... 26 Figura 2. a) Relação da composição de mamíferos atropelados na rodovia BR-262 com as estações do ano, resumidos através de escalonamento multidimensional híbrido (HMDS); b) espécies que mais contribuíram, com suas respectivas correlações, para disposição dos pontos no plano de ordenação ..................... 34 Figura 3. Número de animais atropelados por quilômetro na rodovia BR-262 de Campo Grande à Miranda, Estado do Mato Grosso do Sul, sudoeste do Brasil, durante os anos de 2002 a 2004 .................................................................................... 35 Figura 4. Estatística L (Kobs-Kexp) com função de agrupamento (linha vermelha) conforme a distância de escala (raio) e limite de confiança de 99% (linhas pretas) para a distribuição de todas as espécies. Todas as espécies (a); Cerdocyon thous (b); Myrmecophaga tridactyla (c); Tamandua tetradactyla (d); Euphractus sexcinctus (e) e Dasypus novemcinctus (f) atropelados na BR262, sudoeste do Brasil entre os anos de 2002 e 2004 .................................... 36 vii CAPÍTULO 3: Figura 1. Imagem classificada com seus blocos sobrepostos a) Blocos de 3x3 quilômetros, b) Blocos de 9x9 quilômetros e c) Blocos de 18 x 18 quilômetros. Rodovia BR-262 representada pelo traço preto (200 km), em verde “vegetação arbórea”, em cinza “pasto”, em preto “área urbana” e em azul “rios” ............ 57 Figura 2. Representação gráfica dos locais de abundância e riqueza de atropelamentos de mamíferos e porcentagem de mata e de pasto para as escalas de A) 3x3 quilômetros, B) 9x9 quilômetros e C) 18 x 18 quilômetros entre Campo Grande e Miranda, Sudoeste do Brasil ......................................................................... 60 Figura 3. Análise de regressão múltipla na avaliação da influência de vegetação arbórea, área urbana e rio sobre a composição de animais atropelados representados pelo maior eixo de explicação da PCoA, para as escalas de 3x3 quilômetros, de 9x9 e de 18x18 quilômetros, trecho entre Campo Grande e Miranda, Mato Grosso do Sul, centro-oeste do Brasil ............................................................. 63 Figura 4. Distribuição dos atropelamentos através da ordenação direta da comunidade de animais atropelados pela porcentagem de vegetação arbórea para as escalas de 3, 9 e 18 quilômetros, na BR 262 trecho que liga Campo Grande a Miranda, Mato Grosso do Sul, sudoeste do Brasil .......................................................... 65 CAPÍTULO 4: Figura 1. Comparação das médias e desvio padrão entre as espécies de mamíferos atropeladas pelas distâncias dos fragmentos aos atropelamentos e seus respectivos tamanhos em hectares na rodovia BR-262, Campo Grande a Miranda, onde: D1 = Distância 1 (fragmento mais próximo ao local de viii atropelamento); D2 = Distância 2 (fragmento com distância intermediária); D3 = Distância 3 (fragmento com distância intermediária) e D4 = Distância 4 (fragmento mais distante do local de atropelamento) ...................................... 84 ix LISTA DE TABELAS CAPÍTULO 1: Tabela 1. Área relativa (%) da cobertura do solo nas distâncias de 0 a 1,5 km, 1,5 a 4,5 km e de 4,5 a 9,0 km da rodovia BR-262 nos anos de 1985 e de 2001 com perda (-) ou ganho de área (+) em cada uma das faixas de distância de 1985 para 2001, trecho entre Campo Grande e Miranda, com aproximadamente 200 quilômetros de extensão .................................................................................. 13 Tabela 2. Resultados observados (Obs) e esperados (Esp) nas distâncias de 0 a 1,5 km, 1,5 a 4,5 km e de 4,5 a 9,0 km da rodovia BR-262, trecho entre Campo Grande e Miranda, nos anos de 1985 e de 2001, com aproximadamente 200 km de extensão ........................................................................................................... 14 CAPÍTULO 2: Tabela 1. Frequência absoluta e relativa (%) das espécies atropeladas na rodovia BR 262, trecho entre Campo Grande e Miranda, no Estado de Mato Grosso do Sul, sudoeste do Brasil, entre os meses de maio de 2002 a agosto de 2004 ........... 31 Tabela 2. Abundância e riqueza de espécies de mamíferos silvestres por trecho da rodovia BR-262 e por estação do ano, no Estado de Mato Grosso do Sul, sudoeste do Brasil ............................................................................................ 32 x CAPÍTULO 3: Tabela 1. Animais atropelados na rodovia BR-262 e tipo de ambiente utilizado, trecho entre Campo Grande e Miranda, Mato Grosso do Sul, sudoeste do Brasil ..... 66 Tabela 2. Teste parcial de Mantel para distância das espécies vs. distância da variável externa nas escalas de 3x, 9x9 e 18x18 quilômetros na BR-262, trecho entre Campo Grande e Miranda, Mato Grosso do Sul, sudoeste do Brasil .............. 67 CAPÍTULO 4: Tabela 1. Relação entre a distância do fragmento ao atropelamento e o seu tamanho dada pela correlação de Spearman, ao longo de quatro níveis de distância, onde F1 – D1: fragmento 1 e distância 1; F2 – D2: fragmento 2 e distância 2; F3 – D3: fragmento 3 e distância 3; F4 – D4: fragmento 4 e distância 4. Sinal “+” indica correlação positiva entre distância e fragmentos grandes e vice-versa para “-” ............................................................................................................ 82 Tabela 2. Contraste da Análise de Variância (ANOVA) do tamanho dos fragmentos entre as espécies atropeladas ao longo da BR-262, entre Campo Grande e Miranda. Logo abaixo da distância está o valor de P geral e os valores entre as espécies dentro da tabela ................................................................................. 83 xi LISTA DE ANEXOS CAPÍTULO 2: Anexo I. Animais atropelados no trecho entre Campo Grande e Miranda (~200km) e sua localização na BR 262, Mato Grosso do Sul, centro-oeste do Brasil, entre os anos de 2002 a 2004 ........................................................................................ 47 CAPÍTULO 3: Anexo I: Número de indivíduos registrados em cada bloco de 3x3 quilômetros e abundância de animais atropelados na BR-262, entre Campo Grande e Miranda entre os anos de 2002 a 2004 ........................................................................... 73 Anexo II: Número de indivíduos registrados em cada bloco de 9x9 quilômetros e abundância de animais atropelados na BR-262, entre Campo Grande e Miranda entre os anos de 2002 a 2004 ........................................................................... 74 Anexo III: Número de indivíduos registrados em cada bloco de 18x18 quilômetros e abundância de animais atropelados na BR-262, entre Campo Grande e Miranda entre os anos de 2002 a 2004 ........................................................................... 74 xii INTRODUÇÃO GERAL As estradas constituem um sistema de transporte essencial à sociedade moderna, porém com impactos negativos à fauna e flora que compõem o ambiente natural por onde essas estradas são construídas. Existe uma necessidade reconhecida em se manter equilíbrio entre os sistemas de transportes e o ambiente através de adoção de políticas onde as metas ambientais tenham maior peso na tomada de decisões (Fogliatti et al., 2004). As primeiras áreas a ganharem estradas no Brasil foram as regiões já exploradas, estendendo-se para regiões pouco exploradas no final dos anos 50. O país entrou em uma fase de desenvolvimento que significou a unificação de todas as regiões importantes do território nacional, por meio de um sistema único de transporte terrestre (Matznetter, 1981). A integração entre transporte, desenvolvimento, qualidade de vida e meio ambiente foi o paradigma da última década do século XX e continua a ser no século XXI. Estudos sobre ecologia de estradas geralmente abordam o problema de atropelamentos da fauna, porém a partir da década de 80 começaram os estudos visando à conservação da natureza (Forman et al., 2003). Na Europa, América do Norte e na Austrália, os estudos e manejos de estradas encontram-se bem avançados, os primeiros estudos envolvendo a mortandade de animais silvestres por atropelamento ocorreram no início do século dezenove (Forman et al., 2003). Nos Estados Unidos, técnicas de mitigação foram empregados para reduzir o atropelamento de animais desde 1992, entre eles destacam-se túneis ou viadutos para animais, sinalização de trânsito, limite de 1 velocidade, refletores, alertas com ultra-sons e programas de conscientização pública (Forman et al., 2003). No Brasil, estudos sobre planejamento, construção de sistemas de proteção e mitigação aos efeitos das rodovias, efeitos sobre fragmentação de hábitat, ruídos entre outros, começam a ganhar espaço em livros e publicações científicas a partir do final da década de 80 (Novelli et al, 1988; Vieira, 1996; Bager et al., 2007; Coelho et al., 2008; Freitas et al., 2010; Cáceres et al., prelo). O ano de 2009 representou um grande avanço da ecologia de estradas no Brasil, desta vez com a apresentação do tema em mesas-redondas de diferentes conferências, tais como IX Congresso de Ecologia, em São Lourenço/MG, e Landscape Ecology in Latin American: Challenges and perspectives, em Campos do Jordão/SP. Porém o principal avanço, criando a independência desta área de estudo, com a elaboração de um encontro voltado apenas para tema, foi o Workshop intitulado “Empreendimentos lineares rodoviários e seus impactos por atropelamento da fauna silvestre brasileira”, com propostas de novos encontros, onde um deles já agendado para o ano de 2010 e incentivos para novos estudos, além da criação de um grupo de trabalho específico. Estradas são abertas para a passagem de veículos em um ambiente enquanto que a ecologia é o estudo das interações entre organismos e o ambiente (Begon et al., 2006). Esta associação descreve a essência da área de pesquisa ecologia de estradas (Forman et al., 2003). Os efeitos das estradas sobre o ambiente vão além do simples traçado onde a via se insere, podendo afetar ambientes que se estendem desde metros a quilômetros de distância da rodovia (Forman et al., 2003). Os efeitos causados por uma rodovia podem ocorrer pela perda de habitats e fragmentação, erosão, desvio de rios, introdução e dispersão de organismos exóticos, aumento de emissão de gases poluentes e de ruídos, 2 atropelamento e morte de animais silvestres, barreira ao deslocamento de animais, entre outros (Seiler, 2001). O Brasil abriga a maior riqueza de mamíferos do mundo, com cerca de 160 espécies de mamíferos continentais não-voadores de médio e grande porte (Reis et al., 2006). Mais de 60 espécies já foram registradas em estudos sobre efeitos da rodovia por atropelamentos de animais silvestres, sendo a maioria animais de médio e grande porte. Ainda assim toda essa megadiversidade existente no Brasil é mal conhecida, o que prejudica o planejamento de ações conservacionistas em escala regional. Os mamíferos, assim como todos os elementos da fauna e da flora, sofrem grande ameaça com o acelerado processo de redução e fragmentação dos hábitats. Além da interferência da estrada sobre a fauna e a flora, ainda nos deparamos com histórias de viajantes que nos contam alguns mitos e fatos; uma das histórias é que ao se deparar com um tamanduá-bandeira na rodovia, este deve ser atropelado. Esses viajantes acreditam que, ao atropelar o tamanduá-bandeira, estarão se precavendo de uma possível traição de sua amada. Histórias como essa são muitas vezes contadas com fervor por seus narradores (observação pessoal). Porém o Código Nacional de Trânsito (CNT) brasileiro, Art. 26, aponta que usuários das vias terrestres devem “abster-se de todo ato que possa constituir perigo ou obstáculo para o trânsito de veículos, de pessoas ou de animais” (Brasil, 1997), prevendo multa que vai desde valores irrisórios à prisão. De modo a englobar alguns aspectos da Ecologia de Estradas, este estudo está estruturado da seguinte maneira: no 1º capítulo são apresentados alguns impactos gerados pela rodovia sobre o uso e ocupação do solo em seu entorno, através de análise temporal e espacial. No 2º capítulo é apresentado a composição, riqueza e a disposição espacial das espécies atropeladas na rodovia e os fatores ambientais (externos) associados, de maneira a estabelecer um panorama geral dos mamíferos atropelados nas 3 rodovias em estudo e no Brasil, com o objetivo de facilitar a compreensão e discussão realizadas nos demais capítulos. No 3º capítulo é feita uma análise da paisagem na área estudada e sua relação com os atropelamentos. E, finalmente, no 4º capítulo são apresentadas as principais espécies atropeladas neste trecho de Campo Grande a Miranda e suas associações com a fragmentação da paisagem, do ponto de vista de cada registro de atropelamento e o uso do solo de seu entorno, sob diferentes escalas. 4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAGER, A.; PIEDRAS, S. R. N.; PEREIRA, T. S. M. & HOBUS, Q. 2007. Fauna selvagem e atropelamento.- diagnóstico do conhecimento científico brasileiro In: Áreas Protegidas - repensando as escalas de atuação. Ed. A. Bager, 49-62. Porto Alegre: Armazém Digital. BEGON, M.; TOWNSEND, C. R. & HARPER, J. L. 2006. Ecology: from individuals to ecosystems. Blakwell Publishing, Oxford. BRASIL. Ministério dos transportes. Lei n 9.503, de 23 de setembro de 1997. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/web/codigos/transito/cnt00013.htm#E15E3>. Acesso em: 10 de novembro de 2009. CACERES, N. C.; ROMAN, C.; LOPES, W. H.; GOULART, C. S.; FREITAS, D. R. DE; SILVA, E. L. & CASELLA, J. No prelo. Conservation analysis of mammal occurrence and roadkill in two adjacent biomes (Atlantic Forest and Cerrado) in south-western Brazil. Revista Brasileira de Zoologia. COELHO, I.P.; KINDEL, A. & COELHO, A.V.P. 2008. Roadkills of vertebrate species on two highways through the Atlantic Forest Biosphere Reserve, southern Brazil. European Journal Wildlife Research 54:689–699. FOGLIATI, M.C.; FILIPPO, S. & GOUDARD, B. 2004. Avaliação de impactos ambientais: aplicação aos sistemas de transporte. Interciência. Rio de Janeiro. 247 p. FORMAN, R.T.T.; SPERLING, D.; BISSONETTE, J.A.; CLEVENGER, A.P.; CUTSHALL, C.D.; DALE, V.H.; FAHRIG, L.; FRANCE, R.; GOLDMAN, C.R.; HEANUE, K.; JONES, J.A.; SWANSON, F.J.; TURRENTINE, T. & WINTER, T.C. 2003. Road Ecology: science and solutions. Island Press, Washington, DC. 5 FREITAS, S.R.; HAWBAKER, T.J. & METZGER, J.P. 2010. Effects of roads, topography, and land use on forest cover dynamics in the Brazilian Atlantc Forest. Forest Ecology and Management 259: 410-417. NOVELLI, R.; TAKASE, E. & CASTRO, V.1988. Study of birds killed by collision with vehicles in a stretch of highway BR-471, between Quinta and Taim, Rio Grande do Sul, Brazil. Revista Brasileira de Zoologia 5(3): 441-454. MATZNETTER, J. 1981. O sistema urbano no norte e nordeste do Brasil e a influência das novas estradas. Revista Brasileira de Geografia vol 1. REIS, N. R.; PERACCHI, A. L.; PEDRO, W. A. & LIMA, I.P. 2006. Mamíferos do Brasil. Londrina, 437 p. SEILER, A. 2001. Ecological effects of roads – A review. Departamento of Conservation Biology, Swedish University of Agricultural Science, Introductory research essay 9: 1-40. VIEIRA, E. M. 1996. Highway mortality of mammals in Central Brazil. Ciência & Cultura 48: 270-272. 6 CAPÍTULO 1 INFLUÊNCIA DA RODOVIA BR-262 NA PERDA DE COBERTURA DO CERRADO, MS, SUDOESTE DO BRASIL RESUMO Neste estudo testamos a hipótese de que o fator temporal e a distância de rodovias está associada ao desflorestamento. A área de estudo compreende até 9 km de distância para cada lado da rodovia BR-262, trecho que se estende de Campo Grande à Miranda, com aproximadamente 200 km de distância. Com base em imagens de satélite dos anos de 1985 e de 2001 pode-se fazer uma estimativa de 32,6% da perda do Cerrado ao longo desta rodovia, representando uma perda anual de 2,04% de Cerrado. Encontramos também como resultado, que as estradas influenciam a distribuição da cobertura vegetal sendo que a proximidade à rodovia propicia ambientes cobertos por pastagens enquanto que o afastamento propicia áreas de floresta. Conclui-se que as estradas, nesta paisagem, são consideradas um acelerador no ritmo de degradação ambiental através da exploração destrutiva. PALAVRAS-CHAVE: Variação temporal, efeito da distância, ecologia de estradas, ecologia de paisagem, fragmentação de habitats, pastagem, uso da terra. ABSTRACT In this study we tested the hypothesis that the road distance is associated with deforestation. The study area comprises 9 km for each side of the road BR-262, between Campo Grande and Miranda, with 200 km approximately. Based on satellite images from years 1985 and 2001 we could estimate a 32.6% loss of Cerrado along the highway, representing an annual loss of 2.04% of Cerrado. We found also as a result that the road influences the vegetation cover distribution, with pasture taking place near road whereas forest cover taking place far from the road. Then roads is been considered here as accelerating the rhythm of habitat disruption by human destructive exploitation. 7 KEY WORKS: Comparison among decades, Effect of distance, road ecology, landscape ecology, habitat fragmentation, pasture, land use. INTRODUÇÃO As rodovias são as vias de transporte terrestre mais antigas, tendo surgido como uma evolução natural das trilhas primitivas que foram ganhando melhoramentos com o passar dos tempos, como revestimentos de tijolos, pedra, madeira, misturas oleosas e também sistemas de drenagem, de forma a permitir uma melhor condição de tráfego de pessoas e do escoamento de materiais (Bustamante, 1999). As estradas reúnem um conjunto de efeitos ecológicos, envolvendo espécies da fauna e da flora, solos, cobertura vegetal, sistema hídrico, e outros que se estendem desde metros de distância da rodovia a quilômetros de seu entorno (Forman, 1995). A abertura de estradas e consequentemente a fragmentação de habitats, representa um processo importante na dinâmica de algumas espécies, podendo essas serem levadas a extinção (Laurance et al., 2001). Em Minas Gerais o asfaltamento da BR-010, denominada estrada ecológica, levou a quase extinção de Coccoloba cereifera (Polygonaceae) (Viana et al., 2005). Os efeitos da rodovia extendem-se para além da faixa de rodagem e do acostamento. Forman (2000) denominou essa região, que pode ter dimensões variáveis dependendo da variável testada, de “zona de efeito da rodovia”. Em uma área suburbana de Massachusetts (U.S.A.), por exemplo, a zona de efeito na introdução de espécies exóticas estendeu-se até 100 m da rodovia, enquanto que os efeitos causados pelo ruído dos veículos que transitam nesta rodovia causou injúrias em aves de ambientes florestais a 650 m e para aves de ambientes abertos esta distância foi de até 3 km da estrada (Forman & Deblinger, 2000). Esses limites também podem variar de acordo com a 8 paisagem, na Caatinga brasileira os efeitos da rodovia na fragmentação e perda de habitats, se prolongam em uma zona que se estende entre 12 e 15 km para o interior da vegetação adjacente (Santos & Tabarelli, 2002). Na Mata Atlântica esse efeito foi testado até distâncias de 800 m, tendo um acréscimo significativo de fragmentos de mata a partir dos 400 m de distância das rodovias (Freitas et al., 2009). Nos locais onde a ocupação humana é mais intensa e, principalmente onde formam povoados ao longo das estradas, existe uma aceleração no ritmo de degradação ambiental através da exploração destrutiva (Soares-Filho et al., 2004; Laurance et al., 2009). Atualmente, apenas 35% do bioma Cerrado ainda permanecem inalterados nos remanescentes brasileiros e o sudoeste do bioma é uma das áreas que mais sofrem com o desmatamento (Mantovani & Pereira, 1998; Carvalho et al., 2009). No Estado de Mato Grosso do Sul, a partir da década de 80, houve um maior ritmo de colonização e com isso vastas áreas de vegetação nativa foram substituídas por terras agrícolas como cultivos comerciais e pastagens (Dias, 1994; Klink & Machado, 2005). O objetivo deste estudo é estimar a evolução no desmatamento do cerrado dentro da zona de efeito da rodovia, em um trecho de 200 km da rodovia BR-262, através de análises temporais e espaciais utilizando geotecnologias de sensoriamento remoto. Nossas hipóteses neste capítulo são de que existe uma evolução contínua no desmatamento desde a década de 80 e que este desmatamento se dá de forma mais intensa nas proximidades da rodovia. MATERIAIS E MÉTODOS O estudo foi realizado na estrada BR-262, trecho que abrange de Campo Grande a Miranda, distante aproximadamente 200 km da capital do Estado. A área de estudo compreendeu duas imagens Landsat 5TM, órbita-ponto 225/074 e 226/74. Para 9 avaliar o efeito temporal e o efeito espacial, duas imagens de cada órbita-ponto foram selecionadas, sendo as imagens de órbita-ponto 225/74 com datas de passagem 29/08/1985 e 02/09/2001 e as imagens de órbita-ponto 226/74 com datas de passagens 21/09/85 e 27/08/2002. As imagens foram reprojetadas para o datum Córrego Alegre, o mesmo utilizado nas cartas topográficas do IBGE/DSG. Foram utilizadas cenas com diferença de um ano na passagem do satélite devido à presença de nuvens nas imagens com anos correspondentes. Assumimos para as análises temporais que ambas as imagens 225/74 (2001) e 226/74 (2002) são correspondentes e com intervalo de 16 anos entre essas e as imagens 225/74 (1985) e 226/74 (1985). Para a identificação das assinaturas espectrais e da quantificação da cobertura vegetal, foi feita uma classificação automática supervisionada das imagens de satélite com 16 classes (Paranhos et al., 2008). Este procedimento fornece a informação da área ocupada por cada uma das classes de cobertura do solo (Paranhos et al., 2008), porém as áreas que correspondem à áreas urbanas foram fotointerpretadas manualmente. A análise através das imagens é uma forma de verificar a quantidade e a distribuição espacial da vegetação presente na área ao longo da rodovia BR-262. Na região são comuns fragmentos de cerradão, veredas, campos e outras formações fitofisionômicas do Cerrado. Após a classificação, as diferentes áreas de pastagens foram reagrupadas em uma única denominada como “pastos”; as classes de Cerrado e Cerradão como “Cerrado”; matas ciliares e de galeria como “matas ciliares”; lagos, riachos e rios como “rios” e as áreas fotointepretadas manualmente como “área urbana”. Para analisar o efeito do entorno da BR-262 sobre a paisagem, foram escolhidos três buffers (polígono projetado a partir de um ponto ou linha, com equidistância prédefinida) traçados a partir do eixo da rodovia, o primeiro englobando 1,5 km de extensão para cada lado da estrada, o segundo compreendendo de 1,5 km a 4,5 km de 10 distância da rodovia e o terceiro, de 4,5 km a 9,0 km. Essas três faixas de análise da paisagem foram estabelecidas de acordo com o esperado para a zona de efeito ecológico da rodovia (Forman, 2000). Para cada um dos três buffers, foi quantificada a proporção de cobertura do solo ocupado por cerrado, mata ciliar e pastos. A superfície ocupada pelos rios e as áreas urbanas foram desconsideradas por representarem uma porcentagem muito baixa na paisagem estudada (< 5%). Os buffers utilizados serviram para comparar o grau de desflorestamento conforme o afastamento da rodovia, obtendo assim o efeito da rodovia sobre o desmatamento e a taxa de desmatamento entre os anos de 1985 e de 2001/2002. O tratamento das imagens de satélite e a classificação da cobertura do solo foram realizados através dos softwares ERDAS Imagine 9.1 (ERDAS, 1999) e PCI Geomática 9.1 (PCI, 2003). Análises estatísticas Para avaliar se a evolução do desmatamento foi significativa na análise temporal (1985 e 2001), foi utilizado o teste G, comparando buffer a buffer de cada ano analisado, dentro de cada uma das três escalas de distância avaliadas e com as três categorias de cobertura juntas (Cerrado, Mata Ciliar e Pasto), obtendo assim um resultado geral de uso da terra ao longo dos anos. Na relação entre o uso e cobertura do solo e a distância da estrada, primeiramente calculou-se a área relativa de cada tipo de uso e cobertura do solo para cada ano, dividindo a área total de cada tipo (pasto, mata ciliar e cerrado, dentro de cada uma das três faixas de distância) pela área total da paisagem estudada. Em seguida, o valor esperado foi calculado multiplicando a área relativa de cada tipo de uso e cobertura do solo, em um determinado ano, pela área total de cada faixa de distância até 11 a rodovia (0 – 1,5 km; 1,5 km – 4,5 e 4,5 a 9,0 km) considerando, assim, a distribuição dos diferentes tipos de uso e cobertura do solo, em cada ano, independente da distância da rodovia. Para avaliar se existe diferença na cobertura do solo (pasto, mata ciliar, cerrado) entre as três faixas ao longo da rodovia, foi utilizado o teste G usando dados absolutos em hectares (resultados observados), considerando como hipótese nula que a distribuição dos diferentes tipos de uso e cobertura do solo, em cada ano, é independente da distância da rodovia. Caso o teste G mostre diferença significativa entre o esperado e o observado, o resultado indicará que um determinado tipo de uso e cobertura do solo se distribui de forma distinta entre as faixas de distância das estradas, ou seja, a estrada influencia a distribuição desse tipo de uso e cobertura do solo. RESULTADOS Na área total analisada (faixa de 0 a 9,0 km da rodovia) entre os anos de 1985 e de 2001, houve uma perda de 32,1% de Cerrado e de 3,4 % de mata ciliar e um aumento de 34,2 % de pasto. Isso representa uma perda anual de 2,23% de área florestada ao longo deste trecho estudado (Tabela 1). O ritmo de desmatamento que ocorreu entre os anos de 1985 e 2001, foi significativo para todas as faixas de distância analisadas. A faixa de distância de 0 a 1,5 km teve perda de 31,76% de áreas florestadas e ganho de pastagens de 28,27% (G = 12421,95; g.l. = 2; P < 0,01), a faixa de distância de 1,5 a 4,5 km teve perda de 38,87 % de área florestada e acréscimo de 36,30 % de pastagem (G = 34859,52; g.l. = 2; P < 0,01) e a faixa de distância de 4,5 a 9,0 km teve perda de 36,59 % de área florestada e um ganho de pastagens de 34,96% (G = 45700,62; g.l. = 2; P < 0,01) (Tabela 1). 12 Tabela 1: Área relativa (%) da cobertura do solo nas distâncias de 0 a 1,5 km, 1,5 a 4,5 km e de 4,5 a 9,0 km da rodovia BR-262 nos anos de 1985 e de 2001 com perda (-) ou ganho de área (+) em cada uma das faixas de distância de 1985 para 2001, trecho entre Campo Grande e Miranda, com aproximadamente 200 quilômetros de extensão. 1985 Distâncias (km) Pasto Mata Ciliar Cerrado 0 – 1,5 1,5 – 4,5 Total 4,5 – 9,0 0 – 9,0 2001 0 – 1,5 1,5 – 4,5 Total 4,5 – 9,0 0 – 9,0 47,04 38,39 38,02 39,67 75,31 +28,27 74,69 +36,30 72,95 +34,94 73,94 +34,20 4,76 7,30 7,58 7,00 3,23 - 1,53 3,22 -4,09 3,97 -3,61 3,59 -3,40 47,08 53,12 53,49 52,27 16,86 -30,23 18,33 -34,78 20,51 -32,98 19,16 -32,20 13 A proporção da cobertura do solo diferiu significativamente entre o observado e o esperado para as três faixas de distância testadas no ano de 1985: 1,5 km (G = 758,13; g.l. = 2; P < 0,01), 4,5 km (G = 38,35; g.l. = 2; P < 0,01), 9,0 km (G = 119,62; g.l. = 2; P < 0,01) e também para as faixas de distância do ano de 2001: 1,5 km (G = 97,23; g.l. = 2; P < 0,01), 4,5 km (G = 46,46; g.l. = 2; P < 0,01), 9,0 km (G = 113,54; g.l. = 2; P < 0,01). A área relativa ocupada por pasto foi de 39,68 % no ano de 1985 (132992,4 ha) e de 73,94% no ano de 2001 (247768,5 ha). Em ambos os anos avaliados (1985 e 2001), a cobertura do solo por pasto foi maior que o esperado nas proximidades da estrada (até 1,5 km de distância) e menor que o esperado entre 1,5 a 4,5 km e de 4,5 a 9,0 km de distância da estrada (Tabela 2). Tabela 2: Resultados observados (Obs) e esperados (Esp) nas distâncias de 0 a 1,5 km, 1,5 a 4,5 km e de 4,5 a 9,0 km da rodovia BR-262, trecho entre Campo Grande e Miranda, nos anos de 1985 e de 2001, com aproximadamente 200 km de extensão. 1985 Distâncias 0 – 1,5 1,5 – 4,5 4,5 – 9,0 Obs Esp Obs Esp Obs Esp Pasto 26922,69 22715,95 42993,00 44439,36 63076,68 65837,06 Mata Ciliar 2727,63 4011,41 8180,46 7847,55 12577,05 11626,17 Cerrado 26951,22 29919,45 59480,73 58531,61 88733,88 86714,77 2001 Distâncias 0 – 1,5 1,5 – 4,5 4,5 – 9,0 Obs Esp Obs Esp Obs Esp Pasto 43103,43 42319,46 83637,81 82795,11 121027,20 122653,90 Mata Ciliar 1851,21 2055,65 3602,52 4021,74 6581,52 5957,86 Cerrado 9648,72 10966,39 20530,53 21454,98 34025,85 31783,73 A área relativa ocupada por mata ciliar foi de 7,00 % em 1985 (23485,14 ha) e de 3,59% em 2001 (12035,25 ha). Nos anos de 1985 e de 2001 a área ocupada por mata 14 ciliar foi menor que o esperado nas proximidades da estrada em até 4,5 km de distância e maior que o esperado na faixa de 4,5 a 9,0 km de distância da BR-262. A cobertura do solo por cerrado foi de 52,27 % em 1985 (175165,8 ha) e de 19,16% em 2001 (64205,1 ha). Nos anos de 1985 e de 2001 havia menos áreas de cerrado que o esperado próximo à rodovia e mais área de cerrado do que o esperado quanto mais distante da rodovia. DISCUSSÃO Outros estudos desenvolvidos sobre estimativas de perda do cerrado também apontam que, em 1985 o Cerrado já havia sido convertido em 37% da sua área natural em paisagens antropizadas, sendo a criação de gado a principal economia da região, ocupando a maior parte desta paisagem antropizada (Dias, 1994). Em 2002, 55% do cerrado já havia sido desmatado ou transformado pela ação humana (Machado et al., 2004). Contudo nosso estudo mostrou que em 2001, o cerrado já havia perdido muito mais de sua área nativa na região estudada. O fato do estudo ter sido realizado em uma faixa restrita de aproximadamente 200 quilômetros de extensão e ao longo de uma rodovia explica a diferença encontrada entre os estudos e enfatiza ainda mais a ocupação da terra facilitada pelas vias de rodagem. A maior ocupação do cerrado do Mato Grosso do Sul ocorreu em parte em decorrência do desmembramento do Estado do Mato Grosso em 1977, havendo então a necessidade de melhorias nos acessos a nova capital e demais cidades; até então a capital era Cuiabá, bem mais ao norte e fora do atual Estado do Mato Grosso do Sul. Até 1985, a exploração por esta região do cerrado ainda era menos intensa, porém a partir da década de 90, com a melhoria das condições das estradas, a população do Estado dobrou de número (IBGE, 15 2009), devido à migração populacional proveniente de outros estados, intensificando a exploração e a dinamização da pecuária (Mato Grosso do Sul, 2009). A inversão na quantidade de pasto e de áreas de cerrado entre os anos de 1985 e de 2001 mostrou a constante evolução do desmatamento entre esses 16 anos analisados, podendo chegar a importantes conclusões ou expectativas sobre o futuro do Cerrado. Segundo Machado e colaboradores (2004), usando uma taxa de desmatamento mais conservadora, com perda de 1,1% de cerrado ao ano, em 2030 o Cerrado deverá desaparecer. Porém nossos dados confirmaram que quanto mais próximo a rodovia mais drástica é a evolução do desmatamento e o prazo pode ser ainda menor caso o modelo de desenvolvimento previsto em 1977 seja mantido. Este modelo foi baseado na diferenciação ecológica entre os Estados, sendo o de Mato Grosso do Sul, considerada uma região de campos, indicada para a agricultura e a pecuária e o Estado de Mato Grosso, coberto por florestas, ainda menos habitado e explorado (Mato Grosso do Sul, 2009). A relação entre proximidade da estrada e o nível de desmatamento é condicionada pelo fato de haver maior facilidade de acesso às propriedades que, com a pavimentação, aumenta o interesse pela agropecuária e agricultura devido à facilidade de escoamento dos produtos e dos agentes de desflorestamento (Nagendra et al., 2003 Soares-Filho et al., 2004). Em diversas regiões do Brasil, estudos também apontam para a tendência de desmatamento ao longo das rodovias, onde a maior proximidade das mesmas torna os ambientes mais explorados e pobres em matas, enquanto que áreas mais distantes das rodovias propiciam áreas com uma paisagem mais rica em matas (Nepstad et al., 2001; Fearnside, 2007; Freitas et al., 2009). 16 As estradas de forma geral têm um papel importante no processo de aceleração do desmatamento que se estende desde a sua fase de implantação até a fase de operação, com impactos irreversíveis como a facilitação de povoamentos, acesso à vegetação do entorno, perda da biodiversidade (fauna e flora), introdução de espécies exóticas, entre outros fatores (Fogliati et al., 2004; Freita et al., 2010). A fase de implantação de uma rodovia gera os maiores impactos do empreendimento rodoviário, porém os impactos decorrentes da operação tendem a permanecer por um período maior tornando-se mais significativos com o tempo (Fogliati et al., 2004). Conclui-se que a rodovia, nesta paisagem, é considerada um acelerador no ritmo de degradação ambiental. O desmatamento e exploração das áreas foram significativamente influenciados pela proximidade a rodovia, sendo que quanto mais distante da mesma, maiores são as áreas conservadas. A rodovia tem um papel importante também no que diz respeito a exploração temporal, sendo as áreas próximas a rodovia as primeiras a serem exploradas e com o passar do tempo áreas do interior ganham acesso e vão sendo devastadas através da exploração desordenada. 17 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BUSTAMANTE, J.C. 1999. Terminais Portuários e seu Entorno Costeiro. In: 1º Seminário Internacional sobre influência das atividades portuárias nas áreas costeiras, Fortaleza. 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Plant Talk 41:15. 21 CAPÍTULO 2 VARIAÇÃO SAZONAL E ESPACIAL DE ATROPELAMENTOS DE MAMÍFEROS NO BIOMA CERRADO, SUDOESTE DO BRASIL RESUMO Os Objetivos deste estudo foram examinar a composição e abundância das espécies atropeladas na rodovia BR-262, a distribuição espacial dos atropelamentos, avaliar a relação do número de veículos que transitam em cada trecho da estrada e avaliar a distribuição dos atropelamentos segundo as estações do ano (primavera, verão, outono e inverno) e de sazonalidade (seca e chuvosa). Os animais atropelados foram registrados durante 2,3 anos na rodovia BR-262, entre Campo Grande e Miranda, sudoeste do Brasil. Ao todo foram registrados 231 mamíferos distribuídos em 20 espécies, composto por carnívoros e edentados. As diferenças sazonais observadas foram significativas, sendo o verão a estação com mais registros. Nas análises de distribuição espacial de atropelamentos, ao nível geral, houve tendência a formações de agrupamentos para todas as escalas avaliadas. O tráfego de veículos que circula entre os municípios e o número de animais atropelados foi maior de Campo Grande a Aquidauana do que o observado entre Aquidauna e Miranda, não havendo diferença significativa no número de veículos que transitaram nos postos de contagem durante as estações seca e chuvosa. PALAVRAS-CHAVE: Modelo espacial, animais silvestres, mortalidade. ABSTRACT The aims of this studies were to examine the abundance and the composition of species roadkill the highway BR-262, the arrangement of the overruns, estimate the relation of the numbers of traffic which pass on each passage of the road and estimate the arrangement of the roadkill according to the seasons of the year (spring, summer, fall and winter) and the seasonality (dry and rainy seasons). The overrun animals were registered during two years and three months on the highway BR-262, between Campo 22 Grande and Miranda, Southwest of Brazil. At all were registered 231 mammals distributedin twenty species, compound by carnivorous and edentate. The weather differences were significant, being the summer the season with more records. In the roadkills area arrangement analysis, at current level, there was a trend for groups constitution for all rate degrees. The traffic that moves along between the council district and the number of ran over animals was high from Campo Grande to Aquidauana than from Aquidauana and Miranda, not existing a meaningful difference in the number of traffic which moved along at the counting station during the dry and rainy seasons. KEYWORDS: Spatial pattern, wildlife, mortality INTRODUÇÃO As estradas apresentam diversos efeitos sobre o ambiente, impactando ecossistemas terrestres e aquáticos através da mortalidade de organismos, da mudança do comportamento de animais, de alterações físicas e químicas no ambiente, da dispersão de espécies exóticas, do uso e alteração de habitats adjacentes atuando como barreiras ou filtros, promovendo a fragmentação de habitas e o isolamento de populações (Forman & Alexander, 1998; Trombulak & Frissell, 2000; Laurence et al., 2009). Normalmente esses efeitos vão muito além das consequências locais, comprometendo uma grande área em torno das estradas. A mortalidade de fauna por atropelamento é um dos principais impactos de uma estrada sobre o ambiente (Laurence, et al., 2009; Trombulak & Frissel, 2000). Esta pressão pode resultar na redução de populações e conseqüentemente problemas genéticos e riscos de extinção local (Fahrig et al., 1995; Huijser & Bergers, 2000; Forman et al., 2003). A rodovia BR-262 atravessa o gradiente paisagístico-ambiental formado entre o cerrado lato senso e o Pantanal sul-mato-grossense, onde se insere o Rio Miranda (Ab’Sáber, 1988; IBGE, 1992), apresentando diferentes níveis de urbanização e extensas áreas de pastagem intercaladas à vegetação nativa. A diversidade da fauna 23 local é alta, sendo frequente a ocorrência de atropelamentos de vertebrados silvestres que utilizam a estrada como parte de seu habitat e a cruzam em seus deslocamentos diários (Vieira, 1996). O fato da estrada BR-262 abranger a zona de transição Cerrado-Pantanal (Veloso et al., 1991), a coloca como importante fator para o entendimento biogeográfico da fauna que existe atualmente nesses biomas. Entre os fatores que ameaçam as espécies da fauna, o atropelamento pode ser uma importante causa de mortalidade para várias espécies de animais silvestres em todo o mundo (Beccaceci, 1992; Angehr et al., 2002; Forman et al., 2003; Pokorny, 2006; Ramp et al., 2006; Ascensão & Mira, 2007; Ament et al., 2008), sendo os mamíferos o táxon mais abordado (Vieira, 1996; Clevenger et al., 2003; Pereira et al., 2006; Tumeleiro et al.,2006; Cherem et al., 2007). Nos países da Europa, a morte de animais por atropelamento tem sido identificada como uma das principais ameaças à vida selvagem (Forman et al., 2003; Jaeger e Fahrig, 2004; Sorensen, 1995; Ament et al., 2008). Segundo Bager e colaboradores (2007) em um levantamento sobre a fauna atropelada no Brasil, apenas sete artigos foram publicados em periódicos científicos, destes três em revistas internacionais. Apesar de novos artigos terem sido publicados, após levantamento de Bager e colaboradores (2007) (p.ex. Coelho et al., 2008, Zaleski et al., 2009; Cáceres, no prelo; Cáceres et al., no prelo), ainda são escassos os estudos sobre ecologia de rodovias, principalmente quando relaciona conservação à mortalidade de fauna por atropelamento. O impacto negativo por atropelamento sobre algumas espécies é muito grande, principalmente quando se consideram espécies que existem em baixas densidades, como as ameaçadas de extinção, como é o caso de Blastocerus dichotomus (cervo-do- 24 pantanal), Chrysocyon brachyurus (lobo guará), Leopardus pardalis (jaguatirica), Panthera onca (onça-pintada), Lontra longicaudis (lontra) e Mymercophaga tridactyla (tamanduá-bandeira) (Jaeger & Fahrig, 2004). Neste estudo são apresentados os resultados de um monitoramento de 2,3 anos de duração referente aos atropelamentos de animais na rodovia BR-262, entre Campo Grande e Miranda, no sudoeste do Brasil, avaliando o efeito do trânsito de veículos sobre os mamíferos silvestres, analisando os padrões sazonais e espaciais de atropelamentos. Os objetivos deste estudo são: (i) avaliar a abundância e composição de espécies da mastofauna atropelada; (ii) avaliar a distribuição espacial dos atropelamentos; (iii) avaliar a relação entre o fluxo de veículos e a abundância de animais atropelados e (iv) avaliar a distribuição temporal dos atropelamentos. Nossas hipóteses são que a distribuição dos atropelamentos será não-aleatória, organizados em escalas de agrupamentos dependentes da espécie; que o volume de tráfego de veículos influenciará diretamente sobre a fauna, como na riqueza e abundância de espécies; e que a sazonalidade climática influenciará nos atropelamentos. Com o conhecimento proporcionado por este monitoramento de espécies atropeladas na BR-262, espera-se estabelecer medidas de manejo para as espécies que foram mais frequentes nos registros permitindo o planejamento adequado para implantação dessas medidas visando à preservação da biodiversidade da fauna regional. Tais medidas incluiriam apontar áreas de intenso trânsito de animais silvestres, através da análise de locais de maior ocorrência de atropelamentos da mastofauna. MATERIAIS E MÉTODOS Local de estudo 25 A rodovia BR-262 é de pista única e mão dupla, predominantemente retilínea, mas com alguns trechos sinuosos de serra. A área consiste em um trecho de 200 km, entre as cidades de Campo Grande e Miranda, no Estado de Mato Grosso do Sul, no sudoeste do Brasil (Figura 1). Figura 1: Região de estudo, mostrando a rodovia BR-262, trecho entre Campo Grande e Miranda, no Estado de Mato Grosso do Sul, no sudoeste do Brasil (modificada de IBGE, 2006). Para este estudo, a rodovia foi dividida em dois trechos. O primeiro trecho estudado (# 1) se estende de Campo Grande a Aquidauana, com 130 km de extensão. Tem acostamento e zona de amortecimento mantidos sempre com poucas árvores e vegetação baixa. No segundo trecho (# 2) entre Aquidauana e Miranda, a estrada é muitas vezes sem acostamento ou com baixa manutenção na zona de amortecimento. A vegetação da região é típica de savana (bioma Cerrado), porém em local de transição entre os biomas Cerrado e Pantanal. O Pantanal apresenta regime de inundações marcadamente sazonal, com alternância de estações de seca (abril a setembro) e chuvosa (outubro a março) (Junk & Cunha, 2005). O trecho # 2 estudado se 26 situa nas adjacências do Pantanal. Coleta de dados Os dados sobre a incidência de mamíferos atropelados ao longo da BR 262, entre Campo Grande a Miranda, foram computados através de registros sistemáticos, sempre que possível com periodicidade semanal, entre os meses de maio de 2002 a agosto de 2004, visando detectar os padrões de mortalidade (ANEXO I). Ao todo foram feitas 50 viagens de Campo Grande a Aquidauana e 30 viagens de Aquidauana a Miranda. As viagens foram realizadas de moto e as saídas eram feitas logo no início da manhã para que fosse observado o maior número possível de carcaças, antes que estas fossem destruídas pelo tráfego de veículos ou removidas por animais necrófagos, como carcarás (Caracara plancus). A velocidade média percorrida era de 60 km/h e sempre que era visualizada uma carcaça de animal atropelado, era feita uma parada para anotar dados detalhados do local, espécie, data, quilômetro da rodovia e coordenadas geográficas. As coordenadas de cada registro de atropelamento foram obtidas com um GPS de navegação (Global Position System), sempre com erro PDOP menor que 10 m. Após identificação e anotação, a carcaça era removida para a área de refúgio contígua para evitar que fosse contabilizada novamente na viagem seguinte. Foram consideradas todas as espécies de mamíferos silvestres atropelados visualizados na faixa de domínio da rodovia compreendendo a faixa de rolagem e o acostamento. Os dados provenientes do tráfego de veículos na BR-262 para os dois trajetos da rodovia foram obtidos a partir do Volume Médio Diário (VMD), disponibilizados pelos postos de contagem do DNIT (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes) e pelo CETRAN (Centro de Excelência em Engenharia de Transportes). 27 Tratamento dos dados Com a finalidade de avaliar a distribuição temporal dos atropelamentos, a dimensionalidade da composição de espécies atropeladas foi reduzida por meio da análise de escalonamento multidimensional híbrido (HMDS, Faith et al. 1987). Esse método ordena as unidades amostrais que neste caso foram as estações do ano, baseadas na composição de espécies de animais atropelados. Essa ordenação foi feita a partir da matriz de dissimilaridade calculada com o índice de Bray-Curtis, após relativização das unidades amostrais (número de registros de cada espécie por estação – Ferreira 1997). Com o intuito de determinar se a ordenação (HMDS) capturou as distâncias originais, foi feita uma regressão linear entre as distâncias finais, obtidas por essa ordenação, e as distâncias reais, o que gerou um coeficiente de determinação (r2). O valor obtido foi comparado com os r2 gerados pela ordenação em uma e duas dimensões, juntamente com o stress necessário para reduzir a dimensionalidade. Assim, foi determinado o número de dimensões a ser utilizado. Devido ao baixo número de repetições, optamos por não utilizar testes inferenciais para determinar a diferença na composição de espécies atropeladas entre estações dos anos, e somente adotamos uma análise descritiva. Para melhor compreensão dos resultados, fizemos um gráfico mostrando a correlação de cada espécie com a os eixos obtidos pela ordenação e assim foi possível determinar o quanto cada espécie contribuiu para a distribuição das amostras no plano de ordenação. Somente utilizamos no gráfico as espécies que contribuíram com mais de 50 % para a ordenação dos dados. Para observar o padrão de atropelamentos de animais silvestres, a rodovia foi separada de quilômetro em quilômetro e quantificado o número de indivíduos atropelados em cada trecho. Apenas na estação de primavera de 2004 não foram realizadas coletas de dados. 28 Para verificar em quais escalas o agrupamento foi mais intenso, utilizou-se uma modificação da estatística K de Ripley (que avalia a não-aleatoridade da distribuição espacial de eventos ao longo de diversas escalas) e uma função para sua interpretação (Ripley, 1982; Levine, 2000) proposta por Clevenger et al. (2003), modificada por Coelho e colaboradores (2008). Esta análise foi realizada para os diferentes grupos taxonômicos, e também para as estações de seca e de chuva, através do software SIRIEMA 1.0 (Coelho, 2006). Para este teste, o raio inicial foi de 100 m e o intervalo de raio foi de 500 m. O programa SIRIEMA 1.0 (Coelho, 2006) gera um círculo de determinado raio centralizado em um evento de atropelamento e a seguir contabiliza o número de eventos dentro dessa área e multiplica por um fator de correção que leva em conta o comprimento da rodovia dentro deste limite. Esta rotina é feita atropelamento por atropelamento até o término do número de eventos. Após todos os eventos serem avaliados, é feito um somatório geral que corresponde a uma intensidade de agregação para a escala avaliada (o comprimento do raio do círculo). Na seqüência, aumenta-se o tamanho do raio da circunferência (incremento de 500 m entre os raios) e todos os eventos são novamente testados até que o tamanho do raio chegue ao comprimento total da rodovia. Assim, diversas escalas são avaliadas. Para permitir a comparação entre rodovias e táxons diferentes, esse somatório é normalizado, multiplicando-se pelo comprimento da rodovia e dividindo-se pelo quadrado do número de eventos. Os valores de significância acima dos limites de confiança (99%) obtidos a partir dessas simulações indicam escalas com agrupamentos significativos e os valores abaixo desses limiares indicam escalas com dispersão significativa (Coelho, 2006). Os atropelamentos foram avaliados primeiramente através do conjunto total de dados e depois por estação fria/seca e estação quente/úmida. Esta divisão fornece uma 29 visão geral das estações de reprodução dos animais (quente/úmida) onde o turismo é mais intenso, esperando-se uma relação direta entre estes fatores e os atropelamentos. As espécies com maior ocorrência foram avaliadas individualmente quanto a estes parâmetros. Para avaliar se o número de atropelamentos da fauna silvestre está relacionado com o número de veículos que transitaram na BR-262, no trecho de estudo, foram coletados dados disponíveis no site do DNIT (http://www.dnit.gov.br/menu/rodovias/contagem/index_html/view?searchterm=volume %20médio%20diário) a respeito do Volume Médio Anual (VDM). Os dados foram mantidos separados por posto de contagem. O posto de contagem localizado em Terenos – MS, denominado 262BMS1338, leva em consideração os veículos que transitaram entre Campo Grande e Aquidauna. O posto localizado em Aquidauana, denominado 262BMS2362, leva em consideração os veículos que transitaram entre Aquidauana e Miranda. Para avaliar as diferenças entre sazonalidade (seca vs. cheia) e entre as estações do ano (primavera, verão, outono e inverno), utilizou-se a ANOVA via aleatorização. Quando as estações do ano foram significativas sobre o atropelamento, foi aplicado o teste a posteriori de Tukey para separar as estações de maior número de veículos que transitaram na BR-262. Os testes foram gerados a partir do programa PAST versão 1.89 (Hammer et al., 2001). As probabilidades (p) foram obtidas a partir de 1000 interações. RESULTADOS Neste estudo foi registrado um total de 231 animais atropelados distribuídos em 20 espécies (Tab. 1). 30 Tabela 1: Frequência absoluta e relativa (%) das espécies atropeladas na rodovia BR 262, trecho entre Campo Grande e Miranda, no Estado de Mato Grosso do Sul, sudoeste do Brasil, entre os meses de maio de 2002 a agosto de 2004. ORDEM/Família No. de ESPECIE NOME COMUM casos % DIDELPHIMORPHIA Didelphidae Didelphis albiventris Gambá 7 3,03 Didelphis aurita Gambá 1 0,43 Euphractus sexcinctus Tatu-peba 52 22,51 Dasypus novemcinctus Tatu-galinha 20 8,66 Cabassous unicinctus Tatu-de-rabo-mole 1 0,43 Myrmecophaga tridactyla* NT Tamanduá-bandeira 36 15,58 Tamandua tetradactyla Tamanduá-mirim 19 8,22 Cerdocyon thous Lobinho 71 30,74 Chrysocyon brachyurus* NT Lobo-guará 3 1,30 Puma concolor* NT Onça-parda 2 0,87 Puma yagouaroundi* Gato-mourisco 2 0,87 Leopardus pardalis* Jaguatirica 1 0,43 Eira Barbara Irara 2 0,87 Galictis vittata Furão 1 0,43 Procyon cancrivorus Mão-pelada 7 3,03 Nasua nasua Quati 2 0,87 Tapirus terrestris VU Anta 1 0,43 Agoutidae Cuniculus paca Paca 1 0,43 Caviidae Cavia aperea Preá 1 0,43 CINGULATA Dasypodidae PILOSA Myrmecophagidae CARNIVORA Canidae Felidae Mustelidae Procyonidae PERISSODACTYLA Tapiridae RODENTIA 31 Hydrochaeridae Hydrochoerus hydrochaeris Capivara 1 0,43 Espécies ameaçadas de extinção são apontadas conforme MMA(2008) (*) e IUCN (2009): (VU) Vulnerável, (NT) quase ameaçada. As ordens mais registradas foram Carnivora (91 registros), Cingulata (73 registros) e Pilosa (55 registros). Os animais mais atropelados foram o lobinho (Cerdocyon thous) com 71 registros, o tatu-peba (Euphractus sexcinctus) com 52, o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) com 36, o tatu-galinha (Dasypus novemcinctus) com 20 e o tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla) com 19 registros. Das 20 espécies registradas, cinco (25%) estão no livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção (MMA, 2008), todas com categoria de ameaça “vulnerável” e quatro (20%) fazem parte da lista de espécies ameaçadas em âmbito internacional (IUCN, 2009). Entre as estações do ano, a mortalidade foi mais abundante no verão, para ambos os trechos analisados (Tabela 2). Tabela 2: Abundância e riqueza de espécies de mamíferos silvestres por trecho da rodovia BR-262 e por estação do ano, no Estado de Mato Grosso do Sul, sudoeste do Brasil. Campo Grande-Aquidauana ( Trecho # 1) Chuva Primavera Verão Chuva Seca Total Outono Total Seca Total Inverno Abundância total 36 64 100 45 13 58 158 Riqueza de espécies 12 9 14 15 6 15 19 Aquidauana-Miranda (trecho # 2) Chuva Primavera Verão Chuva Seca Total Outono Total Seca Total Inverno Abundância 4 45 49 14 10 24 73 Riqueza de espécies 3 6 7 3 5 6 9 Campo Grande – Miranda (total) Total 32 Chuva Primavera Verão Chuva Seca Total Outono Seca Total Inverno Abundância 40 109 149 59 23 82 231 Riqueza de espécies 13 9 15 15 8 16 20 Os atropelamentos mostraram-se mais acentuados no período chuvoso com 64,5% dos registros (n = 45 viagens) contra 35,5% do período de seca (n = 35 viagens). As diferenças sazonais observadas no número total de atropelamentos de mamíferos foram significativas (F = 4,05; g.l. = 3; p = 0,01) sendo o verão a estação com mais registros (n = 109; teste de Tukey, p < 0,05). A ordenação das estações do ano, representada em duas dimensões (stress =0.13), incluiu 87% de variância recuperada das distâncias originais. Quando se comparou a distribuição das amostras em relação ao primeiro eixo, o inverno de 2004 foi o mais diferenciado (Figura 2a), devido à presença T. tetradactyla, P. concolor e P. cancrivorus (Figura 2b). Correlacionados com o eixo 2, o outono e inverno de 2003 foram mais similares entre si principalmente pela presença de espécies raras ou menos frequentemente amostradas (e.g. E. barbara, C. unicinctus, C. paca, T. terrestris, e C. brachyurus). Também é possível notar a maior similaridade entre as estações chuvosas dos dois anos de amostragem, onde as espécies de tatu – D. novemcinctus, E. sexcinctus – apresentaram forte influência (Figura 2a e b). 33 a) b) C. unicinctus (0.67) C. paca (0.67) T. terrestris (0.67) D. aurita (0.67) C. brachyurus (0.89) D. albiventris (0.58) E. barbara (0.74) N. nasua (0.74) 1.0 Autumn 2003 Winter 2003 0.5 2 0.0 D. novemcinctus (0.57) Spring 2003 Summer 2004 Axis Summer 2003 Winter 2004 T. tetradactyla (0.81) P. concolor (0.87) -0.5 E. sexcinctus (0.90) Autumn 2004 P. cancrivorus (0.80) M. tridactyla (0.81) G. vittata (0.65) -1.0 -1 0 1 Axis 1 2 -1 0 1 2 Axis 1 Figura 2: a) Relação da composição de mamíferos atropelados na rodovia BR-262 com as estações do ano, resumidos através de escalonamento multidimensional híbrido (HMDS); b) espécies que mais contribuíram, com suas respectivas correlações, para disposição dos pontos no plano de ordenação. Em uma primeira análise espacial, um gradiente na intensidade de atropelamentos pode ser observado ao longo da rodovia amostrada, sendo maior quanto mais se afasta do maior centro urbano (Campo Grande), havendo diminuição quando se aproxima de outro centro urbano de tamanho ainda considerável (km 500; figura 3). 34 Número de animais atropelados 5 4 3 2 1 0 380 400 420 440 460 480 500 520 540 560 Quilômetro Figura 3: Número de animais atropelados por quilômetro na rodovia BR-262 de Campo Grande à Miranda, Estado do Mato Grosso do Sul, sudoeste do Brasil, durante os anos de 2002 a 2004. Nas análises de distribuição espacial de atropelamentos, em geral, houve tendência a formações de agrupamentos para todas as escalas avaliadas, não havendo nítida distinção entre os períodos seco e chuvoso. A generalização de escalas de agrupamentos de atropelamentos se deu devido a que as duas espécies mais abundantes (C. thous e E. sexcinctus) apresentaram também grande variação de escalas de agregação. O padrão espacial para C. thous foi inverso em relação aos picos de agrupamentos de atropelamentos na estação seca frente à estação úmida. No entanto, C. thous ainda apresentou um pico (10 km) de agregação de atropelamentos durante a estação seca (Figura 4 b) em adição ao pico de grande escala (125 km). Um padrão de agregação muito mais nítido foi observado para T. tetradactyla (13 km) porém durante a estação chuvosa (Figura 4 d). Dasypus novemcinctus apresentou pico de agrupamento em escala um pouco maior (50 km) durante a estação chuvosa. Para M. tridactyla em geral não houve pico significativo de agrupamento, no máximo em escalas muito grandes (135 km; Figura 4 c). 35 Figura 4: Estatística L (Kobs-Kexp) com função de agrupamento (linha vermelha) conforme a distância de escala (raio) e limite de confiança de 99% (linhas pretas) para a distribuição de todas as espécies. Todas as espécies (a); Cerdocyon thous (b); Myrmecophaga tridactyla (c); Tamandua tetradactyla (d); Euphractus sexcinctus (e) e Dasypus novemcinctus (f) atropelados na BR-262, sudoeste do Brasil entre os anos de 2002 e 2004. O Volume Médio Anual (VMD) de veículos nos anos de 1994 a 1998 no posto de contagem localizado em Terenos, MS, foi de 2722 veículos (±226). No posto de 36 contagem localizado em Aquidauana foi de 1641 (±125) veículos entre os anos de 1997 a 2001. Assim, o tráfego que circula entre os municípios de Campo Grande a Aquidauana foi maior do que o observado entre Aquidauana a Miranda (F = 87,7, g.l. = 1; p < 0,01). Entre as estações de seca e chuvosa, não houve diferença significativa no número de veículos que transitaram na BR 262 para o posto de contagem de Terenos (F = 0,04; g.l. = 1; p = 0,85), nem para o posto de contagem de Aquidauana (F = 0,96; g.l. = 1; p = 0,33). DISCUSSÃO A fauna de mamíferos atropelada na BR-262, trecho entre Campo Grande e Miranda, é composta principalmente por carnívoros, tamanduás e tatus, que são espécies de ampla distribuição, mesmo as espécies mais características de savana ou ambientes de vegetação aberta, como M. tridactyla (Fonseca et al. 1996). De certo modo, a proximidade com o Pantanal é em parte responsável pelos elevados índices de mortalidade na rodovia, já que neste bioma as principais espécies afetadas pelos atropelamentos são muito abundantes (Swart 2000). Embora existam pequenas diferenças na composição de espécies entre localidades, outros estudos desenvolvidos na região de Cerrado também apontam C. thous, M. tridactyla, T. tetradactyla, E. sexcinctus e D. novemcinctus entre as espécies de maior mortalidade nas rodovias do bioma (Melo & Santos Filho, 2007; Prado et al., 2006; Vieira, 1996). Ambientes perturbados pelo homem (estradas e áreas rurais) afetam principalmente os mamíferos de maior área de vida, devido à fragmentação de habitat (Vieira, 1996; Sunquist & Sunquist, 2001). Esses animais têm que atravessar grandes trechos de áreas descobertas, através das pastagens e cultivos, expondo-se aos mais diversos tipos de problemas, como as rodovias. Devido à alta necessidade de 37 movimentação (dispersão, migração), essas espécies de maior porte acabam tendo que atravessar de um lado para o outro das estradas em busca de alimento ou parceiro reprodutivo, contribuindo para que sejam os principais alvos de atropelamentos (Vieira, 1996; Sunquist & Sunquist, 2001). Espécies de mamíferos raros ou ameaçados de extinção constam nas listas de levantamentos de animais atropelados em todo território brasileiro (Zaleski et al., 2009; Cherem et al., 2007; Melo & Santos-Filho, 2007; Pereira et al., 2006). Espécies ameaçadas de extinção como M. tridactyla, C. brachyurus, T. terrestris e até mesmo L. pardalis, que é uma espécie de menor porte, são encontrados facilmente atropelados em regiões de Cerrado (Melo & Santos-Filho, 2007; Prado et al., 2006), como nós observamos aqui. Assim, espécies classificadas sob categoria de ameaça na região estudada, como M. tridactyla, merecem ênfase quando avaliadas as freqüências de atropelamentos. O número de veículos que transitaram no trecho de Campo Grande a Aquidauna foi maior que o observado entre Aquidauana e Miranda, o que está de acordo com o maior número de animais atropelados neste mesmo trecho. Outros estudos similares têm mostrado uma relação estreita e direta entre o maior tráfego de veículos e o número de atropelamentos de animais silvestres (Coelho et al., 2008; Orlowsky & Nowak, 2006; Rosa & Mauhs, 2004). Por outro lado, o número de veículos que trafegaram na rodovia BR-262 não apresentou picos marcados ao longo das estações do ano. Assim, as variações sazonais de mamíferos atropelados em rodovias devem estar relacionadas a outros fatores ao invés do volume de veículos que trafegam nas estradas. Esses fatores podem estar relacionados às épocas de maiores deslocamentos dos animais, sejam estas devido ao ciclo biológico das espécies, como épocas de maior atividade e de picos populacionais 38 decorrentes de períodos de reprodução com posterior dispersão de sub-adultos ou recrutamento dos filhotes (Novelli et al., 1988). A disponibilidade de fontes alternativas de alimentos, sob clima sazonal como é o Cerrado onde ocorrem períodos marcados de abundância e escassez de frutos, deve influenciar muito nos movimentos dos animais. No Cerrado, a maior disponibilidade de recursos ocorre na estação úmida (Galetti & Pedroni, 1994; Develey & Peres, 2000; Reys et al., 2005). Cerdocyon thous é uma espécie mais generalista e de grande mobilidade (Berta, 1982), o que corrobora nossos dados já que foi a espécie mais observada atropelada neste estudo. A inversão de concentração dos picos de atropelamentos entre as estações de seca e chuvosa provavelmente ocorre devido à escassez de alimentos na estação seca (Reys et al., 2005), o que faz com que os animais procurem fontes alimentares alternativas. A maior concentração de atropelamentos de Dasypus novemcinctus pode ser explicada pela sua associação com áreas mais florestadas e preservadas (Goulart et al., 2009). Padrão similar pode ser atribuído a T. tetradactyla, que apresentou pico muito concentrado de atropelamentos, embora o motivo específico deva ser outro. Diferentemente, E. sexcinctus é mais generalista como C. thous em termos de uso do habitat (Redford & Wetzel, 1985), o que explica sua elevada taxa de mortalidade na rodovia e a ausência de agregação espacial nos atropelamentos. Myrmecophaga tridactyla foi uma das cinco principais espécies encontradas atropeladas no presente estudo, embora não tenha mostrado qualquer padrão de agregação de atropelamentos. Esse fato mostra que a espécie deve estar distribuída mais homogeneamente na paisagem que circunda o trecho de 200 km da rodovia estudada. As agregações significativas neste estudo indicam que existem concentrações de animais atropelados em determinados trechos da rodovia (e.g. para T. tetradactyla e D. novemcinctus na estação chuvosa e para C. thous na estação seca), porém as agregações 39 que se formaram sob escalas muito grandes não conferem precisão a análise, em termos de localização, quando se pensa em trabalhar com medidas mitigatórias (Coelho et al., 2008). Os distintos agrupamentos espaciais observados e mesmo a ausência desses para as espécies analisadas sugerem diferenças nos seus comportamentos, como o uso diferencial de habitat. São muitos os fatores que contribuem para as variações observadas na composição e abundância de espécies atropeladas, na sazonalidade e padrões de distribuição espacial dos atropelamentos. Estes se estendem desde a variação no número de veículos, velocidade em determinados trechos da rodovia, visibilidade do motorista, variação na paisagem (matas de galeria e fragmentos próximos da rodovia) até as abundâncias locais e características biológicas e comportamentais dos animais atropelados (Coelho et al, 2008; Forman & Alexander, 1998; Clevenger et al., 2003; Cáceres, no prelo). 40 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMENT, R.; CLEVENGER A.P.; Yu O. & HARDY A. 2008. An Assessment of Road Impacts on Wildlife Populations in U.S. National Parks. Environmental Management 42: 480–496 ANGEHR, G.R.; SIEGEL J.; AUCCA C.; CHRISTIAN D.G. & PEQUEÑO ,T. 2002. An assessment and monitoring program for birds in the lower urubamba region, Peru. Environmental Monitoring and Assessment 76: 69–87. AB’SÁBER, A.N. 1988. O pantanal mato-grossense e a teoria dos refúgios. Revista Brasileira de Geografia 50: 9-57. ASCENSÃO, F. & MIRA, A. 2007. 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ORDEM/Família ESPÉCIE DIDELPHIMORPHIA Didelphidae Didelphis aurita Didelphis albiventris CINGULATA Dasypodidae Cabassous unicinctus Euphractus sexcinctus LOCAL/km WX WY 373 435 449 457,5 465 483 487 557 727732 674243 661049 652908 647043 629651 625630 566487 7733307 7731967 7727628 7727231 7729691 7732531 7732831 776167 393,2 378,8 387 395 395,5 397,15 397,6 401 415,7 417,8 421,7 421,75 434,5 436,2 439,8 441,3 441,5 441,6 447 453 454 455,5 457 460 460,8 461,9 462 463 465 467 469 478 478 479 483 507 512 513 712281 724637 711105 710332 709820 708197 707898 704758 689721 687648 684755 684755 674719 673308 669533 668404 668263 668087 663306 657274 656189 654531 653411 650730 650686 649830 649654 649019 647043 645368 643604 634643 634643 633655 629634 607144 602814 601905 7740336 7737267 7740010 7740469 7740522 7740786 7740821 7740557 7736985 7735953 7736341 7736341 7732143 7731649 7730414 7730079 7730079 7730009 7728333 7726358 7726058 7726640 7727063 7727328 7727927 7728457 7728492 7728774 7729674 7730626 7731561 7732108 7732108 7732214 7732549 7736182 7739031 7739631 47 Dasypus novemcinctus PILOSA Myrmecophagidae Myrmecophaga tridactyla 513 515 517 519 521 534 534 539 543 543,8 545 546,9 548 558 559 403,7 413,4 409,5 416 425,3 428 433 453,5 461,8 462,5 463 467,9 467,9 471,5 477,1 479,9 509 512 534 537 601905 600283 598845 597240 595688 585563 585563 581215 577864 577043 575888 574045 573154 565843 564220 702306 692217 695921 689200 681977 680451 676042 656833 649971 649248 648860 644662 644662 641134 635560 632756 605460 602814 585563 583049 7739631 7740707 7741712 7742885 7744429 7751149 7751149 7753045 7754589 7754968 7755612 7756502 7756961 7762253 7763135 7739992 7737893 7738669 7736720 7737558 7735450 7732549 7726216 7728386 7728651 7728827 7730997 7730997 7731314 7732055 7732267 7737285 7739031 7751149 7752340 369 386 405 405 412,1 415,7 419,1 422 427,1 427,1 428 431,9 434,5 437,1 437,4 446 731057 718675 700436 700436 693301 689721 686237 684420 681051 681051 680451 677118 674736 672373 672020 663800 7733625 7739763 7739622 7739622 7738105 7736985 7735565 7736535 7736350 7736350 7735450 7732972 7732161 7731402 7731279 7728527 48 Tamandua tetradactyla CARNIVORA Canidae Chrysocyon brachyurus Cerdocyon thous 449 455 457,5 460,3 475 483,8 484 489 506,1 509 509 519 522 534 541,6 545 545 555 557 557 407 418 422,8 432,3 450,5 450,9 451,7 453 457 458 459,6 463 467,2 503,1 531 540 542 544,85 558 661049 655140 652908 650756 637677 628822 628611 622649 607903 605460 605460 597240 594709 585563 579142 575888 575888 567748 566487 566487 698408 687331 683362 676694 659585 659249 658473 657256 653411 652476 651532 648843 645156 610319 588376 580263 578578 576091 565843 7727628 7726481 7727231 7727610 7731879 7732655 7732708 7732778 7735662 7737285 7737285 7742885 7744631 7751149 7753936 7755612 7755612 7760568 7761067 7761067 7739181 7735777 7737294 7732831 7727098 7727028 7726799 7726393 7727063 7727275 7726887 7728827 7730732 7734057 7749597 7753389 7754201 7755506 7762253 399 413 405 378 389 391 398 401 409 413,7 415,6 416 706275 692605 700436 724937 715712 714001 707351 704317 696485 691917 689924 689200 7740910 7737946 7739640 7736147 7739693 7740574 7740927 7740469 7738775 7737788 7737082 7736720 49 419 419 421 422,3 422,3 427 427,7 428 429 429,9 430 430,6 434 437 445 445 449,3 452,8 455,9 465 467 469 469 471,2 476,8 481 481 481,7 483,8 484,8 486 486 489 506,1 511 511,2 511,5 512 512 513 514 515 516 516 516 519 520 521 521,1 522 524 524 686413 686413 685540 684112 684112 681175 680654 680451 679737 679102 678811 678264 675125 672549 664665 664665 660802 657785 654134 647043 645350 643604 643604 641469 635878 631627 631627 630957 628805 627799 626635 626635 622649 607903 603793 603555 603255 602814 602814 601905 601094 600283 599533 599533 599533 597240 596332 595688 595511 594709 593307 593307 7735583 7735583 7735856 7736764 7736764 7736579 7735733 7735450 7734401 7733669 7733519 7733343 7732267 7731438 7728845 7728845 7727486 7726516 7726763 7729727 7730626 7731579 7731579 7731561 7732037 7732372 7732372 7732390 7732619 7732796 7732919 7732919 7732743 7735662 7738378 7738555 7738749 7739031 7739031 7739631 7740169 7740707 7741174 7741174 7741174 7742885 7743573 7744429 7744473 7744631 7746007 7746007 50 Felidae 527 529 536 540 542,2 548 557 557 558 558,9 415,2 457,3 482,1 452,9 507 400,5 473,9 488,95 428 460 375 395,1 398,2 449,15 461 465,2 518,5 591516 590176 583879 580263 578375 573154 566487 566487 565843 564582 690435 653138 630516 657521 607144 704723 638735 623619 680451 650730 726171 710226 707139 660943 650501 646867 597937 7748353 7749579 7751925 7753389 7754315 7756961 7761067 7761067 7762253 7763126 7737347 7727151 7732425 7726428 7736182 7740504 7731773 7732954 7735450 7727328 7733872 7740469 7740927 7727592 7728174 7729850 7742382 Tapirus terrestris 451,8 658315 7726710 Cuniculus paca Cavia aperea Hydrochoerus hydrochaeris 465 488 549,6 647061 624642 571276 7729709 7732866 7757958 Leopardus pardalis Puma yagouaroundi Puma concolor Mustelidae Eira Barbara Procyonidae Galictis vittata Nasua nasua Procyon cancrivorous PERISSODACTYLA Tapiridae RODENTIA Agoutidae Caviidae Hydrochaeridae 51 CAPÍTULO 3 ESTIMATIVA DE COBERTURA VEGETAL NA ANÁLISE DE ATROPELAMENTOS DE MAMÍFEROS SILVESTRES NA BR 262, ENTRE CAMPO GRANDE E MIRANDA, SUDOESTE DO BRASIL RESUMO O objetivo deste estudo foi relacionar os atropelamentos com elementos da paisagem, tais como regiões de mata e de pasto, através de análise de imagem Landsat 5 TM. Para análise da rodovia que liga Campo Grande a Miranda, a BR-262 foi dividida em segmentos e foi analisada sob a visão de três escalas distintas, dentro de cada um dos blocos formados quantificamos o número de animais atropelados e a porcentagem de vegetação presente. Nossos resultados indicaram que os locais com maior abundância de espécies atropeladas, na maioria dos casos, foram os de maior proporção de mata como cobertura do solo, sendo a explicabilidade dos modelos gerados maior para a escala menor, pois contempla a região mais próxima da rodovia. Desta forma o percentual de florestas contribuiu significativamente para explicar a distribuição de espécies e sua riqueza, sendo os animais dependentes de áreas conservadas os principais alvos de atropelamentos. PALAVRAS-CHAVE: Ecologia de paisagem, áreas conservadas, fragmentação ABSTRACT The aims of this study was to relate the roadkills with landscape elements, like the forest and pasture areas, through the Landsat 5 TM image analysis. For the analysis of the highway which connects Campo Grande to Miranda, the highway BR-262 was divided in sections and it was analyzed under three different scales, inside of each block created we quantify the number of roadkills animals and the percentage of vegetation that was present. Our results appointed that the areas with more abundance of ran over species, in the majority of the cases, were the highest rate of forest as the landcover, being the 52 explanation for the highest models created to the smaller scale, because this area is located near the highway. Besides the percentual of forests contributed significantly to explain the distribution of species and their resources, being the dependent animals of preserved area the main target of overruns. KEYWORDS: Landscape ecology, preserved área, fragmentation INTRODUÇÃO O Cerrado é um dos “hotspots” mundiais de biodiversidade (Myers et al., 2000; Silva & Bates, 2002). Pelo menos 137 espécies de animais que ocorrem no Cerrado estão ameaçadas de extinção em função da grande expansão da agricultura e intensa exploração local de produtos nativos (Fundação Biodiversitas, 2003; Hilton-Taylor, 2004). A degradação do solo e dos ecossistemas nativos e a dispersão de espécies exóticas são as maiores e mais amplas ameaças à biodiversidade (Barbosa & Fernandes, 2008). Os impactos antrópicos ocorridos no Cerrado tiveram como conseqüência grandes danos ambientais indo desde a fragmentação de habitats, extinção da biodiversidade, invasão de espécies exóticas, erosão dos solos, poluição de aqüíferos, degradação de ecossistemas, alterações nos regimes de queimadas, desequilíbrios no ciclo do carbono e possivelmente modificações climáticas regionais (Klink & Machado, 2005). A fragmentação de habitat vem sendo um dos grandes desafios para a biologia da conservação, já que aumenta o risco de extinção de populações da biota nativa (Namba et al., 2002). A construção de estradas é um mecanismo de fragmentação de alto impacto, removendo a cobertura vegetal original, gerando efeito de borda e alterando a função e a estrutura da paisagem (Bergallo & Vera y Conde, 2001; Laurence et al., 2009). Seus efeitos ecológicos não se restringem apenas à estrada em si, mas estendem-se pela 53 paisagem afora, gerando impactos físicos (erosão e alteração na hidrologia local), químicos (dispersão de poluentes) e biológicos (destruição de ambientes naturais, efeito de barreira populacional e atropelamentos) (Forman & Alexander, 1998). Em geral, esse problema é agravado em rodovias com grande fluxo de automóveis e que cruzam áreas potencialmente ricas em componentes faunísticos (Vieira, 1996). As estradas são encaradas também como corredores ecológicos para muitas espécies que a utilizam em seus deslocamentos diários (Forman & Godron, 1989). Estradas vicinais não pavimentadas apresentam importância como área de deslocamento e dispersão das espécies locais, passando a adquirir importância na movimentação da fauna (Bennet, 1991). O atropelamento de animais é a fonte primária de morte em estradas. Estimativas indicam altos valores para as taxas de perdas de animais por atropelamento: sete milhões/ano de pássaros na Bulgária; 5 milhões/ano de sapos e répteis na Austrália e um milhão de vertebrados/dia nos Estados Unidos (Van der Zande et al., 1980; Bennet, 1991; Lalo, 1987). Em relação aos mamíferos, estimativas apontam que sejam atropelados 159.000 indivíduos por ano na Holanda (Forman & Alexander, 1998) e 2.700 no Cerrado brasileiro, neste caso não incluindo dados sobre pequenos mamíferos (Vieira, 1996). O objetivo deste estudo foi relacionar os atropelamentos com elementos da paisagem que estejam colaborando para o maior índice de atropelamentos, através de técnicas de sensoriamento remoto. Os tipos de cobertura vegetal foram definidos e suas extensões estimadas através da classificação. Nossas hipóteses são de que a distribuição dos atropelamentos se dará de forma relacionada a paisagem ao longo da rodovia e que quanto mais próxima da rodovia os fragmentos de mata, maior a influência sobre os atropelamentos da fauna. 54 MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo A BR-262 é uma rodovia transversal que interliga os Estados do Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul. No Mato Grosso do Sul, no sentido leste-oeste, vai desde a cidade de Três Lagoas (divisa com São Paulo), atravessa Campo Grande, culminando em Corumbá, no extremo oeste, fronteira com a Bolívia. Da capital do Estado (Campo Grande) ao final do trecho estudado (Miranda), a estrada passa por Terenos, Dois Irmãos do Buriti, Aquidauna, Anastácio e Miranda (~200 km). A vegetação da área é considerada de Cerrado, porém está situada em local de transição entre Cerrado e Pantanal, apresentando regime de inundações marcadamente sazonal, com alternância de estações de seca (abril a setembro) e chuvosa (outubro a março) (Junk & Cunha, 2005). Na região são comuns fragmentos de cerradão, veredas, campos e outras formações fitofisionômicas do Cerrado e do Pantanal. Coleta dos animais atropelados Os pontos onde houve registro de animais atropelados foram identificados com auxílio de um receptor GPS (Global Positioning System – Sistema de Posicionamento Global) e plotados em mapa, para que fosse possível identificar os locais de maior incidência de atropelamento. Estes dados foram utilizados para fazer um diagrama de probabilidade de atropelamentos na BR-262, usando a proporção de atropelamentos por quilômetro de rodovia. Os esquemas foram feitos tendo como origem Campo Grande e orientação o sentido leste-oeste BR-262. 55 Processamento das imagens de satélite As imagens Landsat 5 TM, órbita ponto 225/074 (INPE, 2001) e 226/074 (INPE, 2002), com as seguintes datas de passagens: 02/09/2001 e 27/08/2002, foram adquiridas gratuitamente pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE. As imagens foram reprojetadas para o Datum Córrego Alegre, o mesmo utilizado nas cartas topográficas do IBGE/DSG. Para a identificação das assinaturas espectrais e de quantificação da cobertura vegetal, foi feita uma classificação automática supervisionada das imagens de satélite com 16 classes espectrais (Paranhos et al., 2008). Este procedimento fornece a informação da área ocupada por cada uma das classes de cobertura do solo (Paranhos et al., 2008). Porém as áreas que corresponderam as cidades foram fotointerpretadas manualmente. Após a classificação, as assinaturas correspondentes aos campos (campo sujo, vereda 1 e 2, queimadas e de reflectância) foram reclassificados como sendo “pasto”, matas de Cerrado, de galeria e ciliares à “vegetação arbórea”, lagos e rios foram reclassificados a “rios”. Essa reclassificação é necessária para quantificar as assinaturas conforme nossos objetivos. O tratamento das imagens de satélite e a classificação foram realizados através dos softwares ERDAS Imagine 9.1 (ERDAS, 1999) e PCI Geomática 9.1 (PCI, 2003). Análises Estatísticas Para analisar a relação entre a cobertura vegetal e o número de atropelamentos, foram estabelecidos blocos regulares ao longo da estrada em três diferentes resoluções espaciais, utilizadas para avaliar o efeito do entorno da rodovia sobre os atropelamentos. Os 200 quilômetros monitorados foram divididos em trechos de 3x3 quilômetros, de 9x9 e de 18x18 quilômetros (Figura 1), sendo o centro de cada bloco posicionado 56 exatamente em cima da BR-262 e com o mínimo de sobreposição possível com os blocos adjacentes. Para cada bloco formado foi calculada a proporção de vegetação arbórea, pasto, área urbana e de rio e quantificados a riqueza e a abundância de mamíferos nas escalas testadas. a) Blocos de 3 x 3 quilômetros b ) Blocos de 9 x 9 quilômetros c) Blocos de 18 x 18 quilômetros Figura 1: Imagem classificada com seus blocos sobrepostos a) Blocos de 3x3 quilômetros, b) Blocos de 9x9 quilômetros e c) Blocos de 18 x 18 quilômetros. Rodovia BR-262 representada pelo traço preto (200 km), em verde “vegetação arbórea”, em cinza “pasto”, em preto “área urbana” e em azul “rios”. 57 Para analisar em quais resoluções os blocos tiveram significância sobre os atropelamentos, foi estimado a riqueza e a abundância para cada uma das escalas. Para esses cálculos foi utilizado o software PAST (Hammer et al., 2009). Esses dados foram utilizados para elaborar um diagrama de probabilidade de atropelamentos em cada bloco formado. A dimensionalidade da comunidade de animais atropelados foi reduzida por ordenações realizadas através de análise de coordenadas principais (PCoA) para as três escalas diferentes. Utilizamos o índice de associação de Bray-Curtis a partir da matriz de abundância relativa das espécies atropeladas (porcentagem de cada espécie em cada ponto de coleta). A relativização dos dados permite efetuar comparações entre unidades amostrais independentemente do número total de observações (Ferreira, 1997). A ordenação com os dados quantitativos foi utilizada para capturar a estrutura apresentada pelas espécies mais abundantes, pois estas terão as maiores contribuições para as diferenças entre sítios de coleta. Após isso, foi verificada a porcentagem de variância explicada por cada eixo na análise através de uma análise de regressão entre as distâncias originais observadas com as distâncias finais obtidas pelo eixo da ordenação. Foi utilizado o maior eixo de explicação da PCoA para representar a composição da comunidade de animais atropelados e este foi relacionado com as variáveis explicativas tomadas (% de vegetação arbórea, pasto, área urbana e rio). O principal eixo resultante da ordenação que descreve a composição da comunidade foi usado como variável dependente no teste inferencial do efeito das variáveis ambientais. Os testes inferenciais foram conduzidos usando regressão múltipla. Uma das premissas desse teste é a de que não exista colinearidade entre as variáveis preditoras. Para detectar colinearidade foi feito correlação de Pearson entre as variáveis, com adoção da correlação de Bonferroni. A variável “pasto” foi excluída do teste de hipóteses por ser correlacionada 58 negativamente com a variável “vegetação arbórea”. Todos os procedimentos relacionados às ordenações e testes inferenciais foram realizados independentemente para as três escalas geográficas adotadas no estudo. Ordenações diretas das espécies de mamíferos atropeladas em relação aos gradientes externos mensurados (vegetação, pastos, rios e área urbana) foram realizadas para as três escalas amostradas. Para isso, multiplicamos a abundância de cada espécie na amostra pelo seu respectivo valor do gradiente, e este valor foi dividido pela abundância total da espécie. A média obtida entre os valores de cada espécie correspondeu à média ponderada das abundâncias em relação ao gradiente externo. Dispondo as médias das espécies em ordem crescente em relação ao gradiente externo, foi obtida a sequência de espécies apresentada nos gráficos de ordenação direta para cada gradiente nas três diferentes escalas. O teste de Mantel foi utilizado para detectar auto-correlação espacial entre a comunidade de mamíferos atropelados, representado pela distância de Bray-Curtis, e distância geográfica (distância euclidiana). Também foi feito o teste de Mantel parcial, incluindo os gradientes externos (distância euclidiana) na comparação da autocorrelação espacial. Para ambos os testes foram utilizados 1000 aleatorizações. Todas as análises e gráficos foram feitos com o software “R” 2.9.1 (R Development Core Team, 2009). RESULTADOS Quando avaliada a distribuição de espécies nos blocos de 3x3 km, verificou-se que o número máximo foi de 11 atropelamentos distribuídos em seis espécies de mamíferos (Anexo 1). Nos blocos de 9x9 km, o número máximo de atropelamentos foi de 26 indivíduos distribuídos em 10 espécies (Anexo 2). Nos blocos de 18x18 km, a abundância máxima foi de 43 provenientes de 11 espécies (Anexo 3). 59 O diagrama de probabilidades de atropelamentos em cada bloco formado indicou que os locais com maior abundância de espécies atropeladas, na maioria dos casos, também foram os de maior riqueza e esses pontos ou trechos normalmente coincidiram com os locais de maior proporção de mata ou menor ocorrência de pasto (figura 2a, b e c). a) Blocos de 3 x 3 quilômetros Abundância e Riqueza de espécies atropeladas e porcentagem de Mata b) Blocos de 9 x 9 quilômetros Abundância e Riqueza de espécies atropeladas e porcentagem de Mata 60 c) Blocos de 18 x 18 quilômetros Abundância e Riqueza das espécies atropeladas e porcentagem de Mata Figura 2: Representação gráfica dos locais de abundância e riqueza de atropelamentos de mamíferos e porcentagem de mata e de pasto para as escalas de A) 3x3 quilômetros, B) 9x9 quilômetros e C) 18 x 18 quilômetros entre Campo Grande e Miranda, Sudoeste do Brasil. 61 Na representação da comunidade de dados de animais atropelados, apenas na escala de 3x3 e de 9x9 quilômetros houve uma correlação entre porcentagem de vegetação e o número de atropelamentos, enquanto que para pasto a relação foi inversa (3km - R² = 0,85, P < 0,01; 9km - R² = 0,24, P < 0,02; 18km - R² = 0,59, P < 0,01). Este resultado era esperado uma vez que os dados de porcentagem vegetal e de pasto são inversamente proporcionais (figura 3). Para os dados gerados com porcentagem de pasto e de rio não houve significância para nenhuma das escalas testadas. Esse resultado pode ter sido influenciado pela baixa representabilidade destas coberturas. Apesar de rios ocorrerem com freqüência em todo o trecho estudado, eles estão cobertos por matas ciliares não sendo possível a quantificação exata neste estudo. 62 30 40 0.3 0.2 0.1 0.0 -0.1 -0.3 0 10 20 30 50 10 15 20 25 30 R²=0.66 p<0.01 10 15 20 25 2 4 6 8 0.1 0.0 -0.1 0.0 -0.1 5 0 R²= -0.04 p=0.86 R²=0.05 p=0.81 0 5 10 -0.20 -0.15 -0.10 -0.05 0.00 0.05 0.10 0.15 18 40 0.1 0.2 0.0 -0.1 R²=0.68 p<0.01 0 -0.2 -0.2 50 0.2 20 R²=0.04 p=0.13 15 0.0 R²=0.00 p=0.81 0 1 2 3 4 5 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 -0.20 -0.15 -0.10 -0.05 0.00 0.05 0.10 0.15 10 0.2 0 0.1 9 R²=0.01 p=0.37 -0.3 -0.3 R²=0.82 p<0.01 -0.20 -0.15 -0.10 -0.05 0.00 0.05 0.10 0.15 Composição de espécies – Eixo PCoA -0.2 -0.1 -0.1 0.0 0.0 0.1 0.1 0.2 0.2 0.3 0.3 3 0.0 3.0 3.5 R²=0.23 p=0.16 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 Vegetação Arbórea Área urbana Rio Figura 3: Análise de regressão na avaliação da influência de vegetação arbórea, área urbana e rio sobre a composição de animais atropelados representados pelo maior eixo de explicação da PCoA, para as escalas de 3x3 quilômetros, de 9x9 e de 18x18 quilômetros, trecho entre Campo Grande e Miranda, Mato Grosso do Sul, centro-oeste do Brasil. O principal eixo da análise de coordenadas principais (PCoA) explicou 59,6% da variância da composição de animais atropelados com 61% da variância original recuperada para as parcelas de 3km. Para as parcelas de 9km, o primeiro eixo da análise explicou 50,8% da variância com 66% da variância original recuperada; já as parcelas de 18km tiveram 58,1% da variância explicada pelo primeiro eixo da ordenação e 81% da variância recuperada. 63 A composição de animais atropelados foi significativamente relacionada à vegetação arbórea para todas as escalas testadas (3km - R² = 0,82, P < 0,001; 9km – R² = 0,68, P < 0,001; 18km – R² = 0,66, P = 0,031), os resíduos gerados reafirmam que a significância entre os fatores testados são muito fortes (3km – P < 0,001; 9km – P = 0,002; 18km – P = 0,050). Todas as demais comparações da composição de mamíferos atropelados com os gradientes externos não foram significativas (Figura 3). Através do gráfico de ordenação direta das espécies atropeladas em relação à vegetação arbórea, observou-se uma substituição de espécies. Isso mostra que algumas espécies somente foram registradas em áreas com alta porcentagem de vegetação e outras no extremo oposto; também podemos observar que algumas espécies foram frequentemente atropeladas independente da porcentagem de vegetação, como foi o caso de C. thous, T. tetradactyla, D. novencinctus, M. tridactyla e E. sexcinctus (figura 4). 64 3x3 9x9 18x18 Figura 4: Distribuição dos atropelamentos através da ordenação direta da comunidade de animais atropelados pela porcentagem de vegetação arbórea para as escalas de 3, 9 e 18 quilômetros, na BR 262 trecho que liga Campo Grande a Miranda, Mato Grosso do Sul, sudoeste do Brasil. 65 Neste estudo as principais espécies com maior registros nos atropelamentos são na maioria dependentes de regiões com presença de matas conservadas sendo Cerdocyon thous (n=71); Myrmecophaga tridactyla (n=36); Tamandua tetradactyla (n=19); Euphractus sexcinctus (n=52) e Dasypus novemcinctus (n=20) (tabela 1). Tabela 1: Animais atropelados na rodovia BR-262 e tipo de ambiente utilizado, trecho entre Campo Grande e Miranda, Mato Grosso do Sul, sudoeste do Brasil. Espécie Tipos de ambientes C. thous Bordas de matas e áreas degradadas M. tridactyla Campos abertos, áreas inundáveis, florestas T. tetradctyla Ambientes savânicos e florestais E. sexcinctus Campos abertos, áreas inundáveis, ambientes savânicos e florestais D. novemcinctus Campos abertos, áreas inundáveis, ambientes savânicos e florestais Fonte: Reis et al., 2006. Não houve auto-correlação espacial entre as distâncias geográficas dos pontos amostrados e a composição de espécies atropeladas (teste de Mantel 3x3: P = 0,19; r = 0,03; 9x9: P = 0,16; r = 0,12 e 18x18: P = 0,41; r = 0,02). Entre os testes parciais de Mantel (distância das espécies vs. distância geográfica vs. distância das variáveis externas) só houve correlação para os blocos menores (3x3: P = 0,009; r = 0,13; 9x9: P = 0,06 r = 0,25; 18x18: P = 0,423; r = 0,024) (tabela 2). Isso indica que os blocos aqui criados, para as três escalas adotadas, podem ser considerados amostras independentes e, portanto, utilizados nos testes inferenciais. 66 Tabela 2: Teste parcial de Mantel para distância das espécies vs. distância da variável externa nas escalas de 3x, 9x9 e 18x18 quilômetros na BR-262, trecho entre Campo Grande e Miranda, Mato Grosso do Sul, sudoeste do Brasil. Teste Parcial de Mantel sob três escalas 3x3 Variável externa: 9x9 18x18 p r p r p r Vegetação Arbórea 0,29 0,04 0,96 -0,25 0,79 -0,18 Área Urbana 0,17 0,08 0,13 0,21 0,04 0,54 Rio 0,75 -0,08 0,13 0,18 0,17 0,19 DISCUSSÃO Os resultados apresentados nesse capítulo mostraram uma substituição de espécies atropeladas ao longo da BR-262, em função da porcentagem de vegetação arbóreo-arbustiva, trecho de 200 km, entre Campo Grande e Miranda. Muito desses animais que ocorrem apenas em uma das extremidades da área de estudo na BR-262, nas proximidades de Campo Grande ou de Miranda, ou seja, em regiões com áreas pobres em vegetação, podem estar conseguindo conviver bem nos ambientes mais antropizados por serem regiões próximas a centros urbanos e ter disponibilidade de recursos como lixo e carcaças (Bergallo & Vera y Conde, 2001). Os atropelamentos ocorrem em função da rodovia cortar o habitat de determinado táxon, interferindo na faixa de deslocamento natural da espécie, resultando na colisão dos indivíduos (Rosa & Mauhs, 2004). Este estudo demonstrou que o número de animais atropelados está tanto correlacionado com fragmentos ao longo da rodovia propriamente dita quanto com o ambiente mais distante da mesma, sendo a explicabilidade dos modelos gerados maior para a escala menor e por sua vez mais próxima da rodovia. A presença de matas tão próximas da estrada serve de atração para os animais se deslocarem, aumentando o risco de atropelamentos dos animais mais dependentes de matas (Goulart et al., 2009). 67 Assim, o percentual de florestas, principalmente quando localizadas próximos da rodovia, contribui significativamente para explicar a distribuição de espécies atropeladas e sua riqueza, como é mostrado aqui. Essa diferenciação na comunidade corrobora a idéia de que locais melhor conservados propiciam habitats para um maior número de espécies (Machado et al., 2004), mesmo em regiões primariamente antropizadas como regiões próximas a estradas de rodagem (Santos & Tabarelli, 2002). Outros estudos também mostram que existe uma associação entre freqüência de atropelamentos e ambientes preservados (Prado et al. 2006; Lloyd et al., 2006). Neste estudo, este fator deve estar atrelado também ao maior número de atropelamentos de animais que normalmente são de hábitat florestal, ou que usam essa paisagem em algum momento de seu desenvolvimento, seja para reprodução, abrigo ou para alimentação em estações de escassez (Goulart et al., 2009). Apesar do ambiente tratado contempla habitats abertos e campestres, as espécies alvo dos atropelamentos registrados são na maioria dependentes de habitats florestados (Cerrado sentido restrito e Cerradão) (Reis et al., 2006), assim estas espécies dependentes de habitats de Cerrado estariam evitando áreas com excessivo número de pastos, pois estas áreas não teriam fragmentos de mata para as espécies usarem. Na distribuição das espécies atropeladas na rodovia BR-262 existe uma inversão na ocorrência de espécies devido ao hábitat de cada espécie. H. hidrochaeris foi atropelada em áreas com maior presença de pasto do que vegetação arbórea, por ser uma espécie dependente de áreas abertas com formação de lagoas e pastagens, ao contrário de N. nasua, T. terrestris, P. yagouaroundi, P. concolor, C. unicinctus e C. brachyurus que tiveram ocorrência em habitats determinados por áreas mais preservadas (Reis et al., 2006). 68 Nossos resultados são compatíveis com a hipótese de que onde há mais florestas preservadas resulta em nichos ecológicos diferentes e pode explicar a distribuição de espécies e sua coexistência (Machado et al., 2004). Paisagens mais fragmentadas com presença de pasto, favoreceram espécies mais generalistas, como o lobinho (C. thous), o gambá-de-orelha-branca (D. albiventris), o tamanduá-mirim (M. tridactyla) e o tatupeba (E. sexcinctus), por exemplo, por serem espécies menos sensíveis aos efeitos da fragmentação de habitats (Reis et al., 2006) e suas consequências, mostrando a grande plasticidade e capacidade de adaptação dessas espécies, podendo ocupar diversas classes de ambientes, desde os mais antropizados aos mais conservados. De forma geral, nossos dados indicam que existem concentrações de animais próximos a locais mais conservados ao longo da rodovia, porém as agregações que se formaram sob escalas muito grandes não conferem precisão a análise. Desta forma é possível entender que animais dependentes de áreas conservadas são os principais alvos de atropelamentos. 69 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARBOSA, N.P.U & FERNANDES, G.W. 2008. A destruição do Jardim. Scientific American Brasil p.82-84. 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Ciência & Cultura 48: 270-272. 72 Anexo I: Número de indivíduos registrados em cada bloco de 3x3 quilômetros e abundância de animais atropelados na BR-262, entre Campo Grande e Miranda entre os anos de 2002 a 2004. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Riqueza 1 2 2 0 1 2 1 3 3 4 3 1 Abundância 1 2 2 0 1 2 1 4 4 4 4 1 Veg Arbórea 15,93 4,68 15,62 15,59 27,96 6,94 19,64 26,01 31,41 31,45 27,04 17,31 Pasto 81,45 91,84 77,23 52,87 61,73 85,20 60,84 60,01 60,52 63,79 67,59 79,81 Área Urbana 0 0 0,37 25,59 0 0 0 0 0 0 0 0 Rio 0,55 1,22 0,65 1,53 6,55 3,68 9,56 6,42 1,09 1,14 0,35 0,13 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 Riqueza 3 4 5 4 4 4 2 6 2 1 0 3 Abundância 3 4 6 6 8 7 5 7 2 4 0 4 Veg Arbórea 26,47 18,02 13,27 35,09 32,33 51,44 13,21 9,26 11,77 9,33 46,57 20,37 Pasto 70,56 74,41 82,42 57,52 62,82 36,44 80,73 88,39 75,40 87,33 44,32 75,49 Área Urbana 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Rio 0,22 0,62 0,54 1,21 0,91 1,45 2,32 0,01 0,11 0,27 0,34 1,00 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 Riqueza 5 6 4 6 6 5 3 1 3 2 4 2 Abundância 6 8 5 9 11 7 5 1 3 4 6 6 Veg Arbórea 30,44 39,59 38,29 34,94 18,98 18,92 16,64 13,23 15,33 17,91 33,53 20,97 Pasto 65,55 56,70 51,74 61,31 76,12 74,11 75,62 80,49 81,81 79,32 61,54 67,67 Área Urbana 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3,37 Rio 0,82 0,89 1,06 0,74 1,23 3,53 2,82 1,11 0,36 0,24 1,53 3,87 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 Riqueza 3 3 0 0 0 1 3 2 2 4 5 2 Abundância 3 3 0 0 0 1 5 5 10 6 9 2 Veg Arbórea 7,87 34,08 4,40 21,42 24,05 11,73 25,19 20,21 19,32 19,32 24,14 16,68 Pasto 39,78 62,47 93,12 76,29 72,37 85,03 72,09 77,77 78,63 78,63 73,89 81,37 Área Urbana 49,09 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Rio 0,14 0,28 0,36 0,27 0,31 0,31 0,26 0,07 0,10 0,10 0 0 49 50 51 52 53 54 55 56 57 Riqueza 2 3 2 4 4 2 0 1 5 Abundância 2 4 2 4 8 3 0 1 10 Veg Arbórea 12,71 12,56 8,99 8,79 5,63 1,66 0,52 0,12 0,33 Pasto 85,34 85,47 89,06 89,26 92,37 96,35 97,53 97,89 76,51 Área Urbana 0 0 0 0 0 0 0 0 21,17 Rio 0 0,02 0 0 0,05 0,04 0 0,04 0,04 73 Anexo II: Número de indivíduos registrados em cada bloco de 9x9 quilômetros e abundância de animais atropelados na BR-262, entre Campo Grande e Miranda entre os anos de 2002 a 2004. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Riqueza 3 3 4 7 5 6 7 3 9 10 Abundância 3 4 6 12 7 19 20 9 17 26 Veg Arbórea 17,57 23,50 21,66 26,64 21,99 22,04 22,25 27,27 32,78 31,31 Pasto 76,90 66,24 70,11 69,21 74,57 73,59 73,41 68,78 64,60 62,03 Área Urbana 3,17 3,20 0 0 0 0 0 0 0 0 Rio 0,57 2,87 2,85 0,46 0,38 0,62 0,53 0,39 0,55 1,23 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Riqueza 6 6 5 1 5 4 5 5 6 2 Abundância 12 15 8 1 16 20 8 13 13 2 Veg Arbórea 20,75 22,70 19,78 20,47 20,34 28,20 14,11 8,84 1,18 17,96 Pasto 72,94 71,40 58,47 77,60 78,91 71,12 83,23 89,40 98,08 59,31 Área Urbana 0 2,10 18,47 0 0 0 0 0 0 3,40 Rio 2,67 1,46 1,84 0,18 0,06 0,02 0,06 0,02 0,03 3,59 Anexo III: Número de indivíduos registrados em cada bloco de 18x18 quilômetros e abundância de animais atropelados na BR-262, entre Campo Grande e Miranda entre os anos de 2002 a 2004. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Riqueza 5 8 7 8 11 7 6 5 5 6 Abundância 7 18 26 32 43 25 37 23 23 12 Veg Arbórea 20,46 24,93 25,78 26,93 28,65 21,41 22,25 27,32 11,35 8,90 Pasto 75,77 71,45 72,06 70,87 68,44 73,21 71,38 72,65 88,62 89,50 Área Urbana 1,74 0 0 0 0 2,60 5,43 0 0 0,98 Rio 0,03 0,03 0,02 0,02 0,03 0,41 0,09 0,03 0,02 0,62 74 CAPÍTULO 4 RELAÇÃO DOS ATROPELAMENTOS DE ANIMAIS SILVESTRES COM A PAISAGEM DO ENTORNO NO BIOMA CERRADO, SUDOESTE DO BRASIL RESUMO Com a atual fragmentação de habitats, a capacidade das espécies em explorar estes ambientes isolados determina a sua distribuição no meio. A necessidade de atravessar por um mosaico de fragmentos, frequentemente cortado por rodovias, as espécies de animais silvestres expõem-se aos atropelamentos. O objetivo deste estudo foi relacionar o tamanho e a distância dos fragmentos florestais aos atropelamentos. Nossos resultados mostram que as espécies mais importantes quanto ao número de registros de atropelamento foram Cerdocyon thous (n=71); Myrmecophaga tridactyla (n=36); Tamandua tetradctyla (n=19); Euphractus sexcinctus (n=52) e Dasypus novemcinctus (n=20). Os resultados indicam que existe relação entre tamanho do fragmento e sua respectiva distância do evento do atropelamento, para C. thous esta relação foi inversa para as distâncias mais próximas da rodovia e positiva para as outras distâncias. Para D. novemcinctus a relação de atropelamentos ocorreu com os fragmentos mais próximos enquanto que para M. tridactyla a correlação foi entre os fragmentos com maior distância. Para E. sexcinctus e T. tetradactya não houve correlação. Também não houve diferença entre os tamanhos de fragmentos para as espécies e nem para distância das mesmas. A vegetação adjacente à rodovia também não explicou os atropelamentos dos animais. PALAVRAS-CHAVE: tamanho de fragmentos, distância de fragmentos, mosaico, vegetação ABSTRACT With the habitat fragmentation, species capability in explore these isolated environments can determine their distribution. The need of crossing the fragmented 75 mosaic, frequently cut by a road, wild species are exposed to running over. The objective of this study was to relate the size and distance of the forest fragments to the running over. Our results show that the most important species in number of runnig over registers were Cerdocyon thous (n=71); Myrmecophaga tridactyla (n=36); Tamandua tetradctyla (n=19); Euphractus sexcinctus (n=52) and Dasypus novemcinctus (n=20). The results indicates that there is a relation between the size of the fragment and the respective runnung over event, for C. thous this relation was inverse for the Road closiest distances and positive to other distances. To D. novemcinctus the relation of running overs occurs with closest running overs while to M. tridactyla the correlation was between fragments with larger distances. For E. sexcinctus and T. tetradactya there were no correlation. Also there were no differences between the size of the fragment for the species and their distance. The road neighbor vegetation did not explain the animal running over. KEYWORDS: Size of the fragments, distance of the fragments, mosaic, vegetation INTRODUÇÃO As áreas de vegetação nativa do Cerrado encontram-se, em sua maioria, desconectadas e perturbadas pela ação humana. O acesso e a exploração dos recursos, de forma desordenada, tem se constituído em risco para as populações silvestres devido a super exploração (Klink & Machado, 2005; Carvalho et al., 2009). O isolamento de fragmentos de florestas e a perda de conectividade estão aumentando rapidamente e com isso as Unidades de Conservação (UC’s) não poderão sozinhas manter as funções vitais ecológicas e sua biodiversidade (Brito, 2006). 76 A conectividade é preponderante na paisagem para a vida silvestre e deve ser mantida mediante sistema de áreas protegidas e conectadas por fluxo gênico entre populações para a manutenção da diversidade genética (Brito, 2006). O desmatamento tem sido associado ao processo de desenvolvimento, à ocupação e uso dos espaços e recursos da paisagem pelos seres humanos (Fernandez, 2000). O resultado de toda essa destruição é a formação de um ambiente fragmentado, composto por manchas de matas circundadas por uma vegetação diferente da original, áreas urbanas ou pastagens, com a formação de uma borda abrupta (Saunders et al., 1991). No Mato Grosso do Sul, a fragmentação desordenada gerou um mosaico de fragmentos de vegetação de diferentes tamanhos e graus de conservação (Silvano et al., 2005). Estas áreas de florestas fragmentadas por barreiras antrópicas (estradas, culturas agrícolas, pastos, construções, etc.) ou naturais (lagos, outras formações vegetais, etc.) podem diminuir significativamente o fluxo de animais, pólen e/ou sementes; essa dinâmica norteia o destino das espécies, podendo levar ao risco de extinção de algumas espécies. A grande diversidade de espécies de animais do Cerrado está associada à diversidade de ambientes que o Cerrado disponibiliza, variando tanto que uma área campestre, capões de mata, florestas e áreas brejosas podem existir em uma mesma região (Machado et al., 2004). As espécies de animais apresentam associações com os ecossistemas, podendo sua mobilidade determinar a conectividade funcional da paisagem (D’Eon et al., 2002). A conectividade é determinada pela capacidade dos organismos de se locomoverem entre os fragmentos naturais (D’Eon et al., 2002; Forero-Medina & Vieira, 2008). Essa capacidade em explorar de um fragmento ao outro, no gradiente de uso de habitats por 77 uma espécie, determina a distribuição dela nos remanescentes de habitat original e nos habitats alterados (Forero-Medina & Vieira, 2007). Os mamíferos estão principalmente associados ou restritos aos fragmentos florestais ou matas de galeria (Redford & Fonseca, 1986). Animais de maior porte devem explorar mais os habitats, indo de um fragmento a outro, atravessando rodovias e se expondo aos atropelamentos. Esse problema geralmente é agravado em rodovias com grande fluxo de automóveis e que cruzam áreas potencialmente ricas em fauna (Vieira, 1996). O objetivo deste estudo foi verificar as influências do tamanho e da distância de fragmentos florestais e de matas ciliares na probabilidade de atropelamentos de mamíferos silvestres, pressupondo que esses parâmetros teriam forte influência devido à utilização pelos mesmos. As hipóteses testadas foram: i) os atropelamentos se dão de forma organizada dependente da espécie e da sua dependência por vegetação ao longo da rodovia; ii) existe relação entre o tamanho do fragmento de matas de cerrado e a distância destes ao local do atropelamento e iii) existe relação entre a distância de matas ciliares até o local do atropelamento. MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo O estudo foi realizado na estrada BR-262, trecho que abrange de Campo Grande à Miranda, com aproximadamente 200 km de extensão, compreendido na imagem Landsat órbita-ponto 225/074 e 226/074. As imagens Landsat 5 TM, órbita ponto 225/074 (INPE, 2001) e 226/074 (INPE, 2002). As imagens utilizadas com datas de passagens: 02/09/2001 e 27/08/2002, 78 respectivamente, foram adquiridas gratuitamente, a partir do site do INPE. As imagens foram reprojetadas para o datum Córrego Alegre, o mesmo utilizado nas cartas topográficas do IBGE/DSG. Para a identificação das assinaturas espectrais e de quantificação da cobertura vegetal, foi feito uma classificação automática supervisionada das imagens de satélite com 16 classes espectrais (Paranhos et al., 2008). Este procedimento fornece a informação da área ocupada por cada uma das classes de cobertura do solo (Paranhos et al., 2008). Devido a confusão espectral que representam, as áreas que correspondem áreas urbanas foram fotointerpretadas manualmente. A análise através das imagens é uma forma de verificar a quantidade e a distribuição geográfica da vegetação presente no entorno do local do atropelamento de animais silvestres na BR-262. Na região são comuns fragmentos de cerradão, veredas, campos e outras formações fitofisionômicas do Cerrado. O tratamento das imagens de satélite e a classificação foram realizados através dos softwares ERDAS Imagine 9.1 (ERDAS, 1999) e PCI Geomática 9.1 (PCI, 2003). Coleta dos animais atropelados Os pontos onde os animais foram coletados foram identificados com auxílio de receptor GPS de navegação (acurácia de 10 m) e plotados em uma carta base, para que fosse possível mapear os locais de incidência de atropelamento na BR-262. Os registros dos animais atropelados ocorreram entre maio de 2002 e agosto de 2004. Foi tomada a distância dos quatro fragmentos mais próximos de cada atropelamento e o tamanho dos mesmos (com tamanho mínimo de 5 hectares), além da distância do local do atropelamento à mata ciliar mais próxima. 79 Análises estatísticas Para testar se existe relação entre o tamanho do fragmento de matas de cerrado e a distância destes ao local de atropelamento, utilizamos a Correlação de Spearman, para cada espécie separadamente. Este teste é uma prova não-paramétrica com a finalidade de determinar o grau de associação entre as variáveis mensuradas e não é sensível a assimetrias na distribuição, não exigindo, portanto que os dados provenham de distribuições normais. O objetivo do teste foi de verificar se existe um gradiente de variação do tamanho de fragmento de acordo com a distância do evento de atropelamento, ou se ocorreu devido ao acaso. Posteriormente os dados foram analisados a partir da Análise de Variância (ANOVA) via aleatorização para verificar se as espécies (fator) foram atropeladas próximas a grandes fragmentos, ou seja, se a variável dependente “tamanho de fragmento” foi importante para as espécies de mamíferos logo antes de serem alvos de atropelamento. Espera-se que espécies mais dependentes de áreas florestadas estejam mais próximas a esses fragmentos de mata quando da ocorrência do evento de atropelamento. A Análise de Variância (ANOVA) foi aplicada também para testar se uma ou outra espécie diferiu entre as distâncias mínimas do evento de atropelamento ao fragmento mais próximo, primeiro com um teste geral entre as espécies, aplicado com as quatro distâncias (distâncias 1, 2, 3 e 4) e em seguida pelo ordenamento das distâncias mínimas individualmente para cada distância entre as espécies. O teste G foi utilizado para testar se a vegetação que está adjacente à rodovia contribui com o número de atropelamentos, quantificando o número de vezes em que o atropelamento ocorreu quando havia vegetação logo ao lado da rodovia (mínimo de 5 ha) para cada espécie, e tendo como esperado a média da soma do número total de 80 atropelamentos para cada espécie, pressupondo-se chances iguais de ocorrência de atropelamentos nas situações com fragmento de mata e sem este. Isto foi feito separadamente para cada uma das espécies. As análises estatísticas foram feitas com o software “Multiv” 2.4 (Pillar, 2006) para as análises de Anova/Manova via aleatorização, que não necessitam atender premissas de normalidade e homocedastidade dos dados, e Bioestat 5.0 para o teste G com correção de Yates (tabelas 2x2) (Ayres et al., 2007). RESULTADOS As espécies mais importantes quanto ao número de registros de atropelamento foram Cerdocyon thous (n=71); Myrmecophaga tridactyla (n=36); Tamandua tetradctyla (n=19); Euphractus sexcinctus (n=52) e Dasypus novemcinctus (n=20). Outras espécies atropeladas durante este estudo não foram utilizadas por apresentarem um baixo número amostral (ver ANEXO I do Capítulo 2). Os resultados indicam que, para a espécie de C. thous, existe relação inversa entre tamanho do fragmento e sua respectiva distância do evento de atropelamento, para o nível de distância mais próxima da rodovia. Por outro lado, para as outras distâncias, a relação foi positiva havendo um gradual aumento do tamanho dos fragmentos conforme o distanciamento da rodovia. Para D. novemcinctus houve relação importante ao nível 1 de distanciamento, indicando que fragmentos maiores estavam mais próximos à rodovia e foram importantes para a probabilidade de atropelamento dessa espécie. Para os demais níveis de distanciamento, não houve correlações. Para E. sexcinctus e para T. tetradactyla, não houve correlação entre a distância e os tamanhos dos fragmentos de modo geral. Para M. tridactyla não houve correlação para os níveis menores de 81 distanciamento, mas houve relação direta entre tamanho de fragmento e distância para o nível 4 de distanciamento da rodovia (Tabela 1). Tabela 1: Relação entre a distância do fragmento ao atropelamento e o seu tamanho dada pela correlação de Spearman, ao longo de quatro níveis de distância, onde F1 – D1: fragmento 1 e distância 1; F2 – D2: fragmento 2 e distância 2; F3 – D3: fragmento 3 e distância 3; F4 – D4: fragmento 4 e distância 4. Sinal “+” indica correlação positiva entre distância e fragmentos grandes e vice-versa para “-”. C. thous D. novemcinctus E. sexcinctus D1 – F1 D2 – F2 D3 – F3 D4 – F4 rs -0,29 0,27 0,23 0,26 P 0,01 0,02 0,06 0,03 Direção + - rs -0,50 0,34 0,33 0,41 P 0,03 0,14 0,16 0,07 Direção + rs -0,16 -0,20 0,09 0,11 P 0,26 0,16 0,52 0,42 rs -0,07 -0,03 0,10 0,35 P 0,68 0,87 0,56 0,03 - Direção M. tridactyla Direção T. tetradactyla - rs -0,14 0,24 0,21 0,17 P 0,56 0,32 0,40 0,49 Direção Na análise de variância aplicada sobre os tamanhos de fragmentos ao longo dos quatro níveis de distanciamento, não houve diferença entre as espécies, ou seja, os tamanhos de fragmentos não se diferiram entre as espécies de mamíferos logo antes de serem alvos de atropelamento (P = 0,49). Quando analisado cada tamanho de fragmento pela distância mínima entre as espécies também não houve diferença no tamanho dos fragmentos (tabela 2). 82 Tabela 2: Contraste da Análise de Variância (ANOVA) do tamanho dos fragmentos entre as espécies atropeladas ao longo da BR-262, entre Campo Grande e Miranda. Logo abaixo da distância está o valor de P geral e os valores entre as espécies dentro da tabela. C. thous D. novemcinctus E. sexcinctus Distância 1 D. novemcinctus 0,34 P = 0,66 E. sexcinctus 0,52 0,12 M. tridactyla 0,82 0,49 0,73 T. tetradactyla 0,99 0,34 0,99 Distância 2 D. novemcinctus 0,64 P = 0,50 E. sexcinctus 0,29 0,53 M. tridactyla 0,60 0,70 0,22 T. tetradactyla 0,46 0,35 0,71 Distância 3 D. novemcinctus 0,50 P = 0,46 E. sexcinctus 0,41 0,75 M. tridactyla 0,27 0,61 0,64 T. tetradactyla 0,36 0,45 0,60 Distância 4 D. novemcinctus 0,67 P = 0,47 E. sexcinctus 0,21 0,79 M. tridactyla 0,94 0,61 0,19 T. tetradactyla 0,25 0,50 0,78 M. tridactyla 0,98 0,14 0,71 0,24 As distâncias mínimas entre os fragmentos e o local do atropelamento dos animais não diferiram entre as espécies tanto quando avaliado de forma geral para as quatro distâncias (distância 1: P = 0,65; distância 2: P = 0,23; distância 3: P = 0,32 e distância 4: P = 0,23) quanto avaliado separadamente por distância entre as espécies P > 0,05 (Figura 1). 83 Myrmecophaga tridactyla Tamanho dos fragmentos 54600 28000 27300 700 0 Média Desvio Padrão Dazypus novemcinctus Tamanho dos fragmentos Cerdocyon thous 1000 1000 800 800 600 600 400 400 200 200 0 0 Tamanho de fragmentos Tamandua tetradactyla Euphractus sexcinctus 35000 40000 34300 30000 17500 20000 700 10000 0 0 D1 D2 D3 Distância de fragmentos D4 D1 D2 D3 D4 Distância dos fragmentos Figura 1: Comparação das médias e desvio padrão entre as espécies de mamíferos atropeladas pelas distâncias dos fragmentos aos atropelamentos e seus respectivos tamanhos em hectares na rodovia BR262, Campo Grande a Miranda, onde: D1 = Distância 1 (fragmento mais próximo ao local de 84 atropelamento); D2 = Distância 2 (fragmento com distância intermediária); D3 = Distância 3 (fragmento com distância intermediária) e D4 = Distância 4 (fragmento mais distante do local de atropelamento). Os fragmentos de vegetação adjacente à rodovia não influenciou no número de atropelamentos dos animais: C. thous (G = 0,01; P = 0,90); D. novemcinctus (G = 0,05; P = 0,82); E. sexcinctus (G = 0,17; P = 0,68); M. tridactyla (G = 0,25; P = 0,62) e T. tetradactyla (G = 0,21; P = 0,65). DISCUSSÃO De modo geral, paisagens mais heterogêneas e diversificadas, em termos de maior fragmentação, favorecem espécies mais generalistas, como C. thous, que foi a espécie mais atropelada. Embora tenha havido relação importante entre curtas distancias do evento de atropelamento e haver fragmentos maiores em tamanhos por perto, para C. thous e D. novemcinctus (observado pelas correlaçoes feitas ente distância e tamanho), esses fragmentos necessariamente não estavam colados a pista e sim perto dela, refletindo também em um uso homogêneo da paisagem, pois observamos no Capítulo 1 que os fragmentos são maiores quanto mais distante da rodovia. Entre as duas espécies de tatu analisadas, a forma como a distribuição do tamanho dos fragmentos e a distância dos mesmos ao local do atropelamento implica em uma estratégia diferente em relação a potencialidade de atropelamento entre D. novemcinctus e E. sexcinctus, onde o primeiro é dependente de fragmentos grandes próximos a rodovia, e para o outro não houve relação entre distância e tamanho dos fragmentos, sendo alvo seja na paisagem mais fragmentada ou não. Aspectos da história de vida como tamanho corporal e capacidade de deslocamento, podem influenciar a distribuição dos organismos em paisagens fragmentadas (Taylor et al., 1993, Zollner & Lima, 1999a). Por outro lado, a capacidade 85 de movimentação entre remanescentes de habitat original, como característica comportamental, estará determinada pelas restrições fisiológicas e morfológicas de cada espécie, assim como pelas capacidades sensoriais (Forero-Medina & Vieira, 2007). A tolerância a áreas degradadas é também devido a escala perceptual de cada animal por áreas florestadas (Zollner & Lima, 1999a). Indivíduos de várias espécies podem perceber fragmentos de habitat a diferentes distâncias, e orientar-se em direção a eles, quando se movimentam em uma matriz de pasto (Forero-Medina, 2007) eg. Clethrionomys gapperi, pode perceber habitat de floresta até aproximadamente 10m (Gillis & Nams, 1998), Peromyscus leucopus, tem uma escala perceptual de 90m (Zollner & Lima, 1999b), Taias striatus com aproximadamente 120m, Sciurus carolinensis com 300m, e Sciurus niger com 400m (Zollner, 2000). Por serem animais de maior porte, aqui analisados, a percepção para áreas florestadas também deve ser maior, sendo proporcional ao tamanho corporal (Mech & Zollner, 2002; Forero-Medina & Vieira, 2008), isso pode explicar, em parte, o fato de haver diferenças entre a distância ao hábitat avaliado para cada espécie pelo tamanho dos fragmentos. 86 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AYRES, M.; AYRES Jr., M.; AYRES D. L. & SANTOS, A. S. 2007. BioEstat 5.0: Aplicações estatísticas na áreas das Ciências Biológicas e Médicas. Sociedade Civil Mamirauá, Belém – PA, MCT – CNPq, 2007. BRITO, F.A. 2006. Corredores ecológicos: uma estratégia integradora na gestão de ecossistemas. Ed UFSC. 273 pp. CARVALHO, F.M.V.; DE MARCO Jr., P. & FERREIRA, L.G. 2009. The Cerrado intro-pieces: Habitat fragmentation as a function of landscape use in the savannas of central Brazil. Biological Conservation 142:1392-1403. D´EON, R.G.; GLENN, S.M.; PARFITT, I. & FORTIN, M.J. 2002. 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Neste estudo, cinco (25%) estão no livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção (MMA, 2008), todas com categoria de ameaça “vulnerável” e quatro (20%) fazem parte da lista de espécies ameaçadas em âmbito internacional (IUCN, 2006). - Existiu efeito estacional sobre os atropelamentos, sendo o verão a estação com mais registros de atropelamentos de animais silvestres. - Picos de atropelamento variaram de acordo com a espécie e com a estações de chuva e seca, não sendo observado um pico nas análises gerais de atropelamentos. - O número de veículos que transitaram no trecho de Campo Grande a Aquidauna foi maior que o observado entre Aquidauana e Miranda, o que está de acordo com o maior número de animais atropelados neste mesmo trecho. 90 - São muitos os fatores que contribuem para as variações observadas na composição e abundância de espécies atropeladas, na sazonalidade e padrões de distribuição espacial dos atropelamentos. Estes se estendem desde a variação no número de veículos, velocidade em determinados trechos da rodovia, visibilidade do motorista, variação na paisagem (matas de galeria e fragmentos próximos da rodovia) até as abundâncias locais e características biológicas dos animais atropelados. - Os resultados indicaram que os locais com maior abundância de espécies atropeladas, na maioria dos casos, foram os de maior proporção de mata como cobertura do solo. Desta forma o percentual de florestas contribuiu significativamente para explicar a distribuição de espécies e sua riqueza, sendo os animais dependentes de áreas conservadas os principais alvos de atropelamentos. 91 Livros Grátis ( http://www.livrosgratis.com.br ) Milhares de Livros para Download: Baixar livros de Administração Baixar livros de Agronomia Baixar livros de Arquitetura Baixar livros de Artes Baixar livros de Astronomia Baixar livros de Biologia Geral Baixar livros de Ciência da Computação Baixar livros de Ciência da Informação Baixar livros de Ciência Política Baixar livros de Ciências da Saúde Baixar livros de Comunicação Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE Baixar livros de Defesa civil Baixar livros de Direito Baixar livros de Direitos humanos Baixar livros de Economia Baixar livros de Economia Doméstica Baixar livros de Educação Baixar livros de Educação - Trânsito Baixar livros de Educação Física Baixar livros de Engenharia Aeroespacial Baixar livros de Farmácia Baixar livros de Filosofia Baixar livros de Física Baixar livros de Geociências Baixar livros de Geografia Baixar livros de História Baixar livros de Línguas Baixar livros de Literatura Baixar livros de Literatura de Cordel Baixar livros de Literatura Infantil Baixar livros de Matemática Baixar livros de Medicina Baixar livros de Medicina Veterinária Baixar livros de Meio Ambiente Baixar livros de Meteorologia Baixar Monografias e TCC Baixar livros Multidisciplinar Baixar livros de Música Baixar livros de Psicologia Baixar livros de Química Baixar livros de Saúde Coletiva Baixar livros de Serviço Social Baixar livros de Sociologia Baixar livros de Teologia Baixar livros de Trabalho Baixar livros de Turismo