Serra do Lenheiro em São João del-Rei como atrativo
ecoturístico: um estudo de caso
Roberto Rômulo Braga Tavares
Bacharel em Turismo – IPTAN
Fone: (32) 3371- 4076; 8803-7549
E-mail: [email protected]
Data da recepção: 11/03/2011
Data da aprovação: 03/05/2011
Resumo: O presente artigo tem como objetivo apresentar um estudo
sobre a Serra do Lenheiro como atrativo eco-turístico, destacando os
pontos positivos e negativos dessa atividade tanto para o ambiente físico
quanto para as populações envolvidas. Para tanto, foram utilizados como
recursos metodológicos: revisão de literatura, visitas in loco e aplicação
de questionários semi-estruturados para turistas e comunidade local. Tal
pesquisa é fundamental para destacar as principais formas de agressão
ao meio ambiente local, referentes às práticas ecoturísticas na Serra do
Lenheiro, bem como sugerir algumas ações para a preservação das
demais áreas turísticas em seu entorno.
Palavras-chave: Serra do Lenheiro – Ecoturismo – Preservação – Meio
ambiente.
Introdução
Baptista (1997), Barieri (1997) e Drew (1989) têm escrito sobre a
relação entre o desenvolvimento sócio-econômico através do Turismo, do
Ecoturismo e a utilização e proteção do Meio Ambiente. Estabelecem
claramente a complexidade da conexão entre esses processos ou
sistemas, o que revela a interdependência profunda que se manifesta em,
pelo menos, dois âmbitos: a possibilidade de fazer com que o
desenvolvimento seja sustentado, o que requer que se possa contar com
uma base ambiental sólida, a qual possibilite prever as futuras condições
de vida; e a relação que existe entre o manejo racional dos recursos e do
meio ambiente e o desenvolvimento a longo prazo, ou seja, o destino de
uma região está essencialmente condicionado por sua ação sobre os
meios naturais nos quais repousa.
Nesse sentido, tanto a preservação ambiental, em face da
crescente demanda, como novas possibilidades de oferta de trabalho
adquirem
relevância
extraordinária,
cuja
influência
sobre
o
desenvolvimento se torna cada vez mais significativa.
Dados esses elementos básicos, de acordo com Baptista (1997) é
necessário perguntar quais são as alternativas possíveis para se enfrentar
as questões ambientais, superando as dificuldades de todo tipo e, ao
mesmo tempo, criando condições para se incrementar os setores
econômicos diretamente envolvidos com esse fato. Por isso, entendemos
que o estudo da Serra do Lenheiro em São João del-Rei como atrativo
ecoturístico, é pertinente e provocante, pois possibilita uma pesquisa de
campo, a fim de identificar e destacar as atividades existentes nessa
região relacionadas ao Ecoturismo e as conseqüências da atividade
turística para a comunidade local.
1. A importância do turismo como atividade econômica e cultural
O Turismo é visto como uma grande e próspera indústria, que
quando bem planejada, além de gerar lucros, possui condições para
auxiliar na solução de problemas sociais, como a miséria, o desemprego,
a violência e a degradação da Natureza.
Conforme Andrade (2000, p.12-13):
O homem é o autor do ato de viajar, que encerra em si,
necessariamente, o elemento físico primeiro que
diferencia as quantificações e as distinções entre o
espaço em que se situa e todos os demais espaços
diversos daquele em que em ato ocupa e do qual precisa
sair para que possa dar existência ao fenômeno viagem.
Finalmente, sempre que se movimenta, o homem o faz
no espaço e, para deslocar-se, mesmo que em medida
física de aparências insignificantes, consome ou utiliza
determinada quantidade de tempo, que é o elemento
determinante de qualquer ato que o ser vivo pratique ou
sofra, tanto consciente como inconscientemente. [...] Ser
turista é fácil; difícil é a atividade preparatória dos que
pretendem capacitar-se para exercer as tarefas que
garantem um turismo de melhor nível para turistas de
todos os níveis.
A partir dessa afirmação, podemos inferir, portanto, que o
compromisso do Turismo e de seus profissionais deve ser o de organizar
e conduzir atividades no sentido de uma responsabilidade socioambiental
que busca minimizar impactos ambientais e socioculturais negativos e
potencializar os impactos positivos, de forma a contribuir para que os
recursos que hoje utilizamos se mantenham suficientes e disponíveis para
o uso das gerações futuras.
1.1. Desenvolvimento e sustentabilidade
Ferreira (1992) ressalta que o custo social da industrialização,
absorvido nas décadas passadas, convive hoje com a outra face da
moeda: o pagamento do custo ambiental de uma sociedade
consumista. O desenvolvimento clássico das atividades empresariais e
industriais tem submetido o planeta nas últimas décadas a um
desgaste preocupante, considerando, entre outros motivos: que o
planeta deverá ter no próximo século o dobro de sua população atual;
que estamos fazendo uso de nossos recursos naturais, não dando
tempo de se renovarem; que ecossistemas estão perdendo sua
biodiversidade de forma praticamente irreversível; que o uso excessivo
e/ou inadequado dos recursos naturais tem levado à poluição da água,
do ar e dos solos.
Porém, segundo Hogan (1992), as tendências e ações de
conservação nos têm trazido a perspectiva de mudança na direção de
uma maior consciência ambiental no sentido do desenvolvimento em
bases sustentáveis, pois já se entende que somente mudando nosso
modo de ser, com a utilização harmônica dos recursos naturais pelas
comunidades atuais é que os manteremos suficientes e impediremos
impactos ambientais e culturais, permitindo atender tanto as nossas
necessidades como as de gerações futuras.
Apesar de o desenvolvimento sustentável constituir assunto
largamente discutido, ele ainda se mostra de difícil consecução. Após a
Eco-92 1 esse conceito se tornou um discurso fácil, um objetivo
desejado por todos e, por isso, politicamente adotado e reproduzido
sem que se avalie seu significado e viabilidade. Se a realidade tem
provado ser o desenvolvimento sustentável um conceito de difícil
entendimento e de difícil consecução, a complexidade aumenta quando
esse conceito é introduzido na problemática urbana.
Segundo Corrêa (1989), as origens da ideia de desenvolvimento
sustentável, claramente ligado a uma agenda dita "verde", ou mesmo a
desejos de idealização do meio rural, propondo-se a solução dos
problemas de uma metrópole por meio da simples possibilidade de
redução demográfica urbana, explica, em parte, a dificuldade de se
assimilar esse conceito nas cidades.
Outro fato que parece explicar o surgimento tardio nas áreas
urbanas de questões ambientais é que muitos estudos produzidos
sobre o tema ambiental, no começo dos anos 70, consideravam as
cidades com desdém, provocando uma tendência de "retorno à
natureza". Outro aspecto, ainda segundo Corrêa (1989), que adiciona
complexidade a essa discussão é que as cidades, como um todo, não
são a fonte principal de poluição nem mesmo o maior agente de
consumo, mas partes delas o são (certas indústrias em particular, as
classes com maior poder de consumo e determinado estilo de vida e
mesmo classes de rendas mais baixas quando forçadas a ocupar áreas
ambientalmente frágeis da cidade, por exemplo).
1
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada na cidade do Rio de
Janeiro – Brasil.
Uma vez que as condições socioeconômicas tornam possível
reduzir a convivência com problemas ambientais, como por exemplo, o
lixo que é incinerado ou depositado em áreas distantes da
aglomeração urbana, e diretrizes urbanísticas exigem a adoção de um
zoneamento funcional, forçando as indústrias a localizarem-se em
áreas especiais, vê-se surgir um problema ambiental regional, e não
meramente local ou urbano.
Esses dois fatores fizeram do problema ambiental nas cidades
um problema menos aparente e as cidades sob essa condição
pareceram ter eliminado seus impactos negativos sobre o ambiente
natural. Uma realidade facilmente observada em cidades de países
desenvolvidos, mas não presente na maioria das cidades brasileiras.
De fato, a observação da insustentabilidade de cidades em
países desenvolvidos, conforme Ferreira (1992), só é visível se
levarmos em consideração os impactos ambientais de suas demandas
por recursos em regiões distantes. Na realidade, muitas cidades nos
países desenvolvidos conseguiram enormes progressos no sentido do
desenvolvimento sustentável (como reflexo imediato do progresso
socioeconômico de seus países); porém, esses resultados positivos
serão encontrados tão somente no interior de suas próprias fronteiras
urbanas.
Nesses
países,
as
maiores
preocupações
dos
grupos
ambientalistas deixam de ter como tema prioritário os problemas
ambientais urbanos não-aparentes, dirigindo seus esforços para uma
visão mais global sob o título de "agenda verde". Nesse caso, suas
agendas (com uma grande influência em ações de ajuda internacional,
empréstimos multilaterais e declarações universais) são enormemente
caracterizadas por questões como camada de ozônio, grandes
ecossistemas naturais, mudanças no clima global, dentre outros. Tudo
isso, segundo Leis (1991), contribui para a falta de um posicionamento
consistente em termos de problemas ambientais urbanos assim como
para a falta de discussão em relação àquilo que se convencionou
chamar de "agenda urbana".
1.2 Turismo e preservação – conflitos de possibilidades
Conforme os estudos de Baptista (1997), durante os anos de 1970,
começou-se a criticar o impacto negativo do turismo de massas sobre o
meio ambiente, apontando-se como razão para tanto a devastação de
áreas naturais, como parques e zonas costeiras, o comprometimento da
qualidade de vida nos centros históricos das cidades, causado por
congestionamento, todo tipo de poluição e danos, o aumento da violência
e o crescimento desordenado da periferia.
Na década de 1980, falou-se muito na necessidade de desenvolver
formas alternativas de turismo, através de uma abordagem holística da
atividade, de forma a beneficiar visitantes e visitados. O continente
americano investiu muito em suas cidades turísticas, na diversificação de
seus atrativos, na interpretação e apresentação de seu patrimônio. O
planejamento, novamente segundo Baptista (1997), fez-se, no entanto,
sem uma efetiva parceria criativa entre órgãos de preservação e turismo,
sem o efetivo envolvimento da população e de suas práticas culturais, que
foram, em muitos casos, excluídas e pasteurizadas para o rápido
consumo turístico.
O resultado, conforme Baptista (1997), pode ser visto ainda hoje
quando se passeia por algumas cidades brasileiras, por exemplo. Tem-se
a impressão de já se ter visto aquela paisagem, tal a mesmice encontrada
no ambiente, esvaziado de conteúdo sociocultural, com meros cenários
de filme ou shopping centers ao ar livre, com decoração e mobiliário
semelhante e lojas sempre iguais, celebrando o não-lugar no cenário
global. O prazer da visita é comprometido, aqui e lá, por razões distintas,
sendo o denominador comum a concentração de gente e barulho.
É só na última década do século XX, especialmente após a Eco 92,
que a questão da sustentabilidade ganhou conceitos e formas concretas,
levando a novas concepções de como desenvolver o turismo, e todas as
atividades correlatas, de forma sustentável. Hoje, concorda-se que o
turismo
sustentável
deve
voltar-se
para
a
harmonização
das
necessidades de seus quatro componentes: a comunidade receptora, os
visitantes, o meio ambiente e a própria atividade.
Se bem planejado dentro dos princípios da sustentabilidade, o
turismo pode ter um impacto positivo e ser um catalisador para a
restauração, preservação e revitalização de paisagens naturais e
culturais, reforçando a cultura local e contribuindo para a geração de
empregos e renda nas comunidades.
1.3 Atividades turísticas – planejamento participativo e parcerias
para ação
Segundo Baptista (1997), além de levar em consideração a
preservação da natureza, da cultura e dos processos produtivos locais, o
planejamento sustentável deve adotar uma abordagem que trabalhe a
mentalidade da população nativa e os hábitos das organizações turísticas
locais. Ou seja, levar em conta os medos, desejos e necessidades da
população local se tornou essencial no planejamento turístico hoje.
O planejamento do turismo com a comunidade é visto como
necessário ao desenvolvimento sustentável por duas razões principais: se
o desenvolvimento do turismo não for compatível com desejos e objetivos
da
comunidade,
ou
for
dominado
por
interesses
econômicos
exclusivamente externos, conflitos e tensões podem resultar no declínio
do turismo; a comunidade de uma localidade tem o direito de ser
envolvida no desenvolvimento de uma indústria que sempre traz custos e
benefícios para o ambiente em questão.
Assim,
o
envolvimento
da
comunidade
é
vital
para
o
desenvolvimento sustentável do turismo, desde que faça parte de uma
estratégia mais ampla e integrada, o que requer sólidas parceiras entre
organizações públicas e privadas.
2. Histórico do ecoturismo
Segundo projeções da OMT2, o Ecoturismo já é praticado por cerca
de 5% do contingente total de viajantes, e apresenta perspectivas de um
crescimento acima da média do mercado turístico convencional (cerca de
20% / ano), transformando-se num dos mercados mais promissores,
2
Sigla que significa Organização Mundial do Turismo.
principalmente em países com significativas reservas naturais, como os
da América Latina.
Por isso, o Ecoturismo, segundo dados da EMBRATUR 3 (1994),
tem recebido um tratamento diferenciado das autoridades governamentais
brasileiras do turismo. A definição de uma agenda oficial brasileira para o
ecoturismo, inspirada em nossos anseios e em nossa experiência, foi
formulada por um Grupo de Trabalho organizado pelo Ministério da
Indústria, do Comércio e do Turismo e Ministério do Meio Ambiente e da
Amazônia Legal, em Goiás Velho / GO, em 1994, onde foram traçadas,
também, as diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo, que tem
como principal objetivo preservar ao máximo as regiões, além de
possibilitar melhorias de vida para as populações desses entornos. Hoje,
o país procura implementar essa política através de programas em nível
regional e local.
O Ecoturismo, segundo a EMBRATUR (1994), é um segmento da
atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e
cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma
consciência
ambientalista
através
da
interpretação
do
ambiente,
promovendo o bem estar das populações envolvidas. O chamado
Ecoturismo é uma atividade que, em primeiro lugar, promove o reencontro
do homem com a natureza de forma a compreender os ecossistemas que
mantêm a vida. As atividades são desenvolvidas através da observação
do ambiente natural, mediante a transmissão de informações e conceitos
ou por meio da simples contemplação da paisagem.
Atividades de Ecoturismo procuram promover programas sérios e
infraestrutura segura e profissional, oferecendo e praticando a educação
ambiental de forma multidisciplinar com guias especializados. O
desenvolvimento de roteiros e programas diferenciados de acordo com os
vários tipos de ambientes, associados à transmissão de informações e
conceitos, leva com relativa facilidade, ao aprendizado. Mas o grande
legado deixado no turista é a compreensão e a consciência da
3
Sigla que significa Instituto Brasileiro de Turismo.
importância de se preservar o ambiente natural, a história e a cultura dos
lugares de visitação.
2.1 Impactos ambientais positivos e negativos causados pelo
ecoturismo e ações para minimizá-los
Impacto ambiental, de acordo com Hogan (1992), é a alteração no
meio ou em algum de seus componentes por determinada ação ou
atividade. Estas alterações precisam ser quantificadas, pois apresentam
variações relativas, podendo ser positivas ou negativas, grandes ou
pequenas. O objetivo de se estudar os impactos ambientais é,
principalmente, o de avaliar as consequências de algumas ações, com o
intuito de prever a qualidade do ambiente que sofrerá a execução de
certos projetos ou ações, logo após a implementação dos mesmos.
Antes de se colocar em prática um projeto, seja ele público ou
privado, é preciso saber mais a respeito do local onde tal projeto será
implementado, conhecer melhor o que cada área possui de ambiente
natural (atmosfera, hidrosfera, litosfera e biosfera) e ambiente social
(infraestrutura material constituída pelo homem e sistemas sociais
criados).
O estudo para a avaliação de impacto permite, conforme Hogan
(1992), que certa questão seja compreendida: proteção e preservação do
ambiente e o crescimento e desenvolvimento econômico. Muitas vezes
podemos encontrar grandes áreas impactadas devido ao rápido
desenvolvimento econômico, sem o controle e a manutenção dos
recursos naturais. A consequência pode ser poluição, uso incontrolado de
recursos como água e energia.
Qualquer atividade humana, executada em larga escala, pode ter
consequências adversas para a terra, a vegetação e a vida animal, nos
locais onde ocorrem. Os problemas ambientais são agora temas centrais
do planejamento de muitos governos, porém, pouquíssimos projetos que
contam com um estudo de impactos ambientais são analisados de fato. A
qualidade do meio ambiente é um assunto central do desenvolvimento
econômico do país, pois depende dela a sobrevivência da população.
Contudo, os impactos causados pela atividade turística ao meio ambiente
não são apenas negativos.
Dentre os impactos positivos, podemos citar: conservação de áreas
naturais importantes; conservação de locais arqueológicos e históricos e
de caráter cultural e arquitetônico; melhoramento da qualidade ambiental;
aumento da atratividade ambiental; melhoramento das infraestruturas;
conscientização para os problemas ambientais.
Por outro lado, existem os impactos negativos. De acordo com Boff
(1999), o homem através do tempo vem conquistando espaço, quase
sempre com pressão sobre os recursos naturais. Muitas vezes visando
benefícios imediatos dando maior importância ao crescimento econômico
e não se preocupando com a capacidade de recuperação dos
ecossistemas. Assim, se com a modernização da agricultura por meio da
adoção de novas técnicas, a produção de alimentos aumentou muito,
como resultado enfrenta-se: a contaminação da água em todas as suas
fontes, a substituição da cobertura vegetal, a redução de muitas espécies
da fauna e da flora. A interferência humana no ambiente vem trazendo
prejuízos e danos notados em vários locais do planeta.
Segundo Scarlato (1993, p. 5):
O ambiente além de ser o conjunto de interações entre
os ecossistemas como entendido pelos biólogos,
envolve também o sentido de interação com a cultura
humana, numa relação de reciprocidade. Assim sendo,
se há mudanças em uma das partes a outra será
afetada, cabe então fazer parte às ações do homem
como um ser capaz de adaptar-se às condições do meio
e criar situações propondo alternativas para as
dificuldades encontradas.
Sendo o ambiente um conjunto de fatores naturais, pode-se
compreender que os problemas ambientais não podem ser tratados com
neutralidade. A sociedade é responsável por impactos causados aos
ecossistemas. Esses impactos, contudo, têm natureza histórica e não
podem ser resolvidos sem a transformação das relações da sociedade
com a natureza.
De acordo com Scarlato (1993), à medida que a nova sociedade se
consolida com ela surgem os problemas ambientais, como a grande
produção de lixo. Segundo o autor, a humanidade ainda não tinha
percebido que o volumoso lixo que produzia podia ser um grave problema
para o ambiente. Nesse sentido, vem a preocupação de como
conscientizar a população para que esse problema seja amenizado,
reconhecendo que a coleta de lixo seletivo é importante e que começa na
sua própria casa e nas escolas.
Deve-se propor uma ecologia integrada à cidadania, ao dia a dia
mostrando como se forma uma consciência ecológica e como esta pode
transformar a economia, a saúde, as tecnologias, as cidades, enfim, o
comportamento.
Quaisquer que sejam as modalidades de degradação e poluição,
as pesquisas e os projetos sobre o ambiente, devem objetivar o
conhecimento da complexidade das condições ambientais em seus
recursos disponíveis e potenciais, visando reduzir ao mínimo o aspecto
predatório na utilização do ambiente.
A partir do reconhecimento dos impactos positivos e negativos da
interferência do homem na humanidade, podemos afirmar que o
conhecimento da estrutura e funcionamento dos ecossistemas constitui
aspecto que, mais e mais, vem interessando às sociedades atuais, que
passam a reconhecer que é através dos processos desenvolvidos em
cadeia que certos recursos naturais são formados, se mantêm e são
renovados e utilizados no dia a dia. E também que, pela utilização dos
recursos naturais, transformados em bens e serviços, o homem supre
suas necessidades e melhora o seu bem estar.
Assim, conforme Giddens (2000), o conhecimento dos recursos
naturais e ecossistemas constitui base de manutenção e conservação do
ambiente nos
processos
de análise econômica
que
objetiva o
desenvolvimento regional e seu planejamento. Essa é uma das ações que
podem minimizar os impactos ambientais de qualquer atividade.
2. ASPECTOS GERAIS DA SERRA DO LENHEIRO
3.1 Aspectos históricos
Na Serra do Lenheiro, podem ser contempladas interessantes
pinturas rupestres, símbolos gravados em rochas. De formas diversas,
alguns se assemelham a símbolos alfabéticos, outros a homens ou a
animais.
Segundo estudiosos, as pinturas rupestres da Serra do Lenheiro
devem ter sido realizadas por tribos nômades, há cerca de 6 a 9 mil anos
atrás. Acredita-se que esses homens abrigavam-se na serra para
desfrutar das boas condições de caça.
Conforme Gaio Sobrinho (1996), outro importante aspecto histórico
da serra é o Córrego do Lenheiro. Esse córrego nasce na Serra do
Lenheiro e deságua no Rio das Mortes. Com quase 6 km de extensão, ele
marca a história e a paisagem de São João del-Rei, sob as pontes de
pedra, rompendo toda a cidade.
Segundo Gaio Sobrinho (1996), há ainda o Canal dos Ingleses que
era um aqueduto4, que percorria longa extensão em curvas de nível, onde
se separava o ouro, lavando a areia. Os vestígios do aqueduto,
construído antes de 1830, podem ser encontrados na Serra do Lenheiro.
A Serra do Lenheiro foi cenário na história da conquista e do
povoamento de Minas Gerais. Por ela passava o antigo Caminho Geral do
Sertão, posteriormente conhecido como Caminho Velho, por onde
transitaram Fernão Dias Paes e sua histórica "Bandeira das Esmeraldas",
Borba Gato, Matias Cardoso e o fundador de São João del-Rei, Tomé
Portes del-Rei 5.
3.2 Aspectos geográficos
A Serra do Lenheiro, com cerca de 1,6 bilhões de anos de
formação, abriga inúmeros atrativos. Dentre eles, estão o Canal dos
4
5
Antigo sistema de canalização de água.
Personagens da nossa história, os quais eram bandeirantes e participaram efetivamente de missões de
reconhecimento e/ou exploração do interior do território brasileiro.
Ingleses, a Gruta do Caitetu, o Pico Três Pontões, as pinturas
rupestres e cachoeiras. O seu nome origina-se dos lenhadores, que
extraíam a madeira dos arbustos da serra.
Mas o sua maior contribuição à história de São João del-Rei foi o
ouro, descoberto ali nos primeiros tempos do primitivo arraial. As
pedras, utilizadas na construção das pontes e igrejas, também foram
extraídas no local.
Com altitude máxima de 1262 metros, essa formação é,
geologicamente, a continuação da Serra de São José. Ambas estão
separadas pelo vale do Rio das Mortes. São reconhecidas atrações as
fontes de água, vida, cultura e lazer.
3. Planejamento da atividade turística na Serra do Lenheiro
4.1. Modalidades de ecoturismo na serra do lenheiro
A Serra do Lenheiro oferece as seguintes opções no que tange ao
ecoturismo:
- Trekking (caminhadas); mountain bike; escalada; rapel e cachoeiras: a
Cachoeira do Triângulo e Cachoeira Véu da Noiva;
- Montanhismo: essa atividade é muito tradicional na Serra do Lenheiro,
principalmente, pelo trabalho realizado pelo 11º Batalhão de Infantaria e
Montanha. Os montanhistas do exército desafiam alturas, com o auxílio
de cordas e outros equipamentos de segurança. O Batalhão possui uma
Unidade Escola (CEMONTA)6, onde treina delegações militares de todo
Brasil, inclusive do exterior.
5. Entrevistas com participantes de atividades ecoturísticas na Serra
do Lenheiro
A metodologia utilizada para essa etapa da pesquisa constituiu-se
de elaboração e distribuição de cento e vinte questionários, sendo
aplicados noventa na comunidade local e trinta com turistas e ecoturistas.
6
Sigla que significa Campo Escola de Montanhismo
Da coleta desses questionários, passou-se a uma análise
caracterizada por gráficos, os quais apresentam os pontos de destaque
das entrevistas.
5.1. Análise dos dados coletados com os questionários
De acordo com o primeiro gráfico, percebe-se que a importância da
atividade turística para o município é muito salientada (53%), porém, na
prática não identificamos estratégias e/ou ações que venham a confirmar
esse dado. A região em especial, Serra do lenheiro, não tem um
planejamento em relação às atividades de ecoturismo ou qualquer outro
ramo do turismo, haja vista a degradação em seu ambiente.
É necessário, principalmente a partir de pesquisas como essa,
exigir que os órgãos responsáveis implementem urgentemente ações que
venham não só dar lucro, mas principalmente que contribuam para a
preservação de áreas ambientais riquíssimas como é o caso da Serra do
Lenheiro.
Importância da atividade turística para o munícipio
Importante
42%
52%
Não é importante
Pouco importante
Muito importante
5%
1%
FIG. 1 – Gráfico sobre a atividade turística para o município
Sobre o segundo gráfico – vantagens positivas e negativas da
atividade turística – as informações coletadas apontam para o fato de ela
ser considerada um bom incremento financeiro (70%) para a região. Daí
a necessidade premente de se estruturar a região para receber bem os
turistas e conscientizá-los da importância de se preservar os locais
visitados.
FIG. 2 - Gráfico sobre as vantagens do turista
Vantagens Positivas e Negativas do Turista
Recursos Financeiros
15%
10%
Congestionamento
5%
Intercâmbio Cultural
70%
Depredação Ambiental
Em relação ao terceiro gráfico, aponta-se uma questão
fundamental que é a preocupação com o meio ambiente, percebendose que a relação entre os que têm muita preocupação (32%) e os que
não têm (28%) é quase a mesma. Isso é muito sério, porém verdadeiro,
pois retrata a realidade da destruição do meio ambiente.
Preocupação com o Meio Ambiente
Muita
28%
19%
32%
Moderada
21%
Pouca
Nenhuma
FIG. 3 - Gráfico sobre a preocupação com o meio ambiente
O quarto gráfico apresenta as atitudes de preservação, onde se
observa alguns pontos fundamentais: postura ambiental; não jogar lixo em
qualquer local; preservação do patrimônio e dos bens locais.
A preocupação é o sentimento da maioria em praticamente todos
os itens, porém, não se percebe em termos reais essa situação,
principalmente, na questão do lixo e na preservação de bens e do
patrimônio em geral.
FIG. 4 - Gráfico sobre as atitudes de preservação
Atitudes de Preservação
60
50
40
30
20
10
0
Preocupa
Muito Preocupado
Pouco Preocupado
Sobre o quinto gráfico – relação entre a prática do
Ecoturismo, a idade e o sexo dos entrevistados –, percebe-se que
a população mais jovem está mais preocupada com essa questão.
Relação: Prática do Eco / Idade / Sexo
20
18
16
14
Masculino/Idade
Feminino/Idade
Masculino/Prática
Feminino/Prática
12
10
8
6
4
2
0
13 entre 25
26 entre 36
37 entre 47
48 entre 58
59 entre 69
70 entre 79
FIG. 5 – Gráfico sobre a relação entre a prática do Ecoturismo, a idade e o sexo
No sexto gráfico percebe-se que a maior parte da população
local sabe da prática de Ecoturismo na região, porém, o maior número
de participantes é composto de turistas.
No sétimo gráfico são apresentados os locais de origem dos
turistas – ecoturistas que conheceram a cidade de São João del-Rei.
Origem dos Turistas
3%
3%
7%
3%
3%
3%
14%
17%
3%
10%
17%
São Paulo
Rio de Janeiro
Belo Horizonte
Uberlândia
Espirito Santo
Brasilia
Barbacena
Juiz de Fora
Diamantina
Ouro Preto
Isso demonstra a importância da região como atrativo turístico.
FIG. 6 – Gráfico sobre Ecoturismo desenvolvido em São João del-Rei
EcoTurismo desenvolvido em São João Del Rei
36%
sim
64%
não
FIG. 7 – Gráfico sobre a origem dos turistas
No oitavo gráfico, percebe-se que a maior parte dos praticantes de
Ecoturismo é do sexo feminino e que está entre 26 e 36 anos, mas
também é grande o número de mulheres e jovens de 13 a 25 anos.
Idade / Sexo / Prática do Ecoturismo
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
Masculino/Idade
Feminino/Idade
Masculino/Prática
Feminino/Prática
13 entre 25 26 entre 36 37 entre 47 48 entre 58 59 entre 69
FIG. 8 – Gráfico sobre a prática de Ecoturismo por idade e sexo
No nono gráfico, é possível perceber que o motivo que mais atrai
os turistas é conhecer novos lugares, seguido de negócios e férias e curtir
a natureza.
Motivo da Viagem
14%
23%
Negócios/Férias
Conhecer novos lugares
21%
Curtir a natureza
Outros
42%
FIG. 9 – Gráfico sobre o motivo da viagem dos turistas
O décimo gráfico apresenta, a partir dos questionários aplicados,
a opinião dos entrevistados sobre a Serra do Lenheiro como local de
prática de Ecoturismo, os quais em sua maioria desconheciam essa
função do local. Portanto, é urgente um trabalho não só de preservação
do local, mas de conscientização da população para o fato de que essa
atividade turística em muito pode contribuir para a melhoria de sua
vida.
Opinião sobre a Serra do Lenheiro para Prática do Ecoturismo
14%
10%
73%
Interessante
3%
Excelente
Conheço
Não conheço
FIG. 10 – Gráfico sobre a opinião dos entrevistados
sobre a Serra do Lenheiro para a prática de Ecoturismo
5.2. Propostas e contribuições para a minimização dos impactos
ambientais causados à Serra do Lenheiro
Neste tópico final do trabalho, procuramos listar algumas propostas
tanto para minimizar os impactos ambientais quanto para estimular a
região da Serra do Lenheiro como atrativo turístico: aumentar a
capacidade de absorção de turistas, desde que respeitem as riquezas
ambientais; levar ao conhecimento dos visitantes outras áreas turísticas;
desenvolver ações para conservação ambiental; estabelecer parcerias
com órgãos competentes a fim de promover a região e suas belezas
naturais; fomentar campanha de conscientização; providenciar recipientes
de lixo em lugares apropriados; aumentar a vigilância; aumentar a
disponibilidade dos transportes públicos; criar programas de educação
ambiental para a comunidade.
Considerações finais
A partir dessa pesquisa pode-se observar que muito precisa ser
feito em relação à preservação e à conservação ambiental antes de se
definir uma região como atrativo turístico. Isso porque, caso não se faça
um planejamento prévio pautado na sustentabilidade, só se terá um lucro
financeiro por pouco tempo, pois a degradação se tornará tão feroz que
inutilizará tal região.
Planejar com, ao invés de para (a comunidade), conforme Hogan
(1992), não é fácil, uma vez que a dependência de recursos externos,
públicos ou privados, impede o controle local. E os objetivos econômicos
individuais de curto prazo tendem a predominar sobre os objetivos
comunitários de longo prazo. Também caracteriza um fator de dificuldade
a falta de informação e treinamento das pessoas envolvidas nessa ação.
Outro fator complicador é a falta de interesse e compromisso daqueles
que não estão envolvidos diretamente com o turismo.
Uma pesquisa como essa não tem um ponto final, é simplesmente
um começo na luta pela conscientização ambiental principalmente da
comunidade local em relação à preservação e à utilização sustentável de
suas riquezas naturais, em especial, da Serra do Lenheiro.
Referências
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SCARLATO, Francisco Capuano. Natureza e Sociedade de Hoje: uma
leitura geográfica. São Paulo: Hucitec, 1993.
Serra do Lenheiro in São João del-Rei as an
eco-touristic attraction: a case study
Abstract: The present paper aims at presenting a study about Serra do
Lenheiro as an eco-touristic attraction, emphasizing positive and negative
aspects of that activity for both the environment and the population. In order to
reach that objective, the following methodological resources were used:
literature review, visits and semi-structured surveys. Such research emphasizes
the main forms of aggression against the environment concerning eco-touristic
practices and suggests actions that aim at preserving other nearby touristic
areas.
Keywords: Serra do Lenheiro – Eco-tourism – Preservation - Environment
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Serra do Lenheiro em São João del-Rei como atrativo