Design para necessidades essenciais: projeto de captação e filtragem de água de chuva
Design para necessidades essenciais:
captação e filtragem de água de chuva
projeto
de
Design for essential needs: project of capturing and filtration of rain water
Chiminazzo, Sirlei; Bacharela em Design de Produto; UCS – Universidade de Caxias do Sul
[email protected]
Resumo
Os problemas ambientais e sociais do mundo atual são a principal motivação para este
projeto, o qual está fundamentado na sustentabilidade ambiental e social, necessidades
essenciais e design permacultural. Tem como bases referenciais as bioconstruções e a
arquitetura vernácula, para torná-lo viável e acessível. Outro importante propósito deste
trabalho é rever as prioridades do design, incentivando a adoção de atitudes críticas, éticas e
responsáveis. O principal objetivo é suprir a necessidade vital de abastecimento de água para
os trabalhadores do MST, com a concepção de cisternas para captação e filtragem de água da
chuva, em razão de sua condição de vida apontar a urgência na solução deste problema.
Palavras Chave: design; necessidades essenciais e projeto de cisternas.
Abstract
The environmental and social problems of the today’s world are the main motivation for this
project, which is founded in environmental and social sustainability, permaculture design and
essential needs. Its references are bioconstructions and vernacular architecture, to make it
feasible and affordable. Another important purpose of this work is to review the priorities of
design, encouraging the adoption of critical, ethical and responsible attitudes. The main
objective is to supply the vital need for water provision for the workers of the MST, with the
design of cisterns to capture and filter rainwater, because of their living conditions points to
the urgency in solving this problem.
Keywords: design; essential needs and cisterns project.
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Design para necessidades essenciais: projeto de captação e filtragem de água de chuva
Introdução
O objetivo deste trabalho é desenvolver um projeto de cisternas para captação e
filtragem da água da chuva, para atender a uma das necessidades essenciais dos trabalhadores
do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Para se buscar contribuições conceituais, foram feitas abordagens sobre
sustentabilidade ambiental e social, devido aos problemas ambientais e sociais estarem se
tornando cada vez mais graves. Sobre isso, serão apresentados apontamentos de Manzini
(2008), o qual adverte que é preciso cuidar para que as atividades humanas não contrariem os
princípios da justiça e da responsabilidade em relação ao futuro.
Serão tratados temas como necessidades essenciais e o papel do design (PAPANEK,
1977) para que se revejam prioridades da profissão, estimulando a escolha de atitudes críticas,
éticas e responsáveis, que não promovam o consumo irresponsável.
A permacultura será apontada como um dos caminhos para a criação de ambientes
humanos sustentáveis, ecologicamente corretos e economicamente viáveis (MOLLISON,
1997), que supram suas próprias necessidades, não explorem ou poluam e que sejam
sustentáveis em longo prazo. A associação do design com esses conceitos e princípios mostrase como uma inovadora fonte de inspiração para o presente projeto.
Por fim, objetivando atender necessidades dos trabalhadores do MST, serão
apresentadas as análises das visitas ao assentamento em Sananduva (RS) a ao acampamento
em Passo Fundo (RS), onde se procurou conhecer sua filosofia e modo de vida, para então
propor soluções para seus problemas mais urgentes. Foi selecionada como necessidade
prioritária, a de captação e potabilização da água de chuva, para a qual a proposição de um
projeto de cisterna pretende viabilizar uma resposta.
Sustentabilidade ambiental e social
A introdução do termo “desenvolvimento sustentável” confirmou que a promessa de
um bem-estar (baseado na continuidade do modelo de desenvolvimento dos países ricos e na
emulação desse modelo para os países pobres) não poderia mais ser sustentada, pois excedia a
capacidade de recuperação dos ecossistemas e estava exaurindo o capital natural (Manzini,
2008). Para ele, o uso insensato de recursos renováveis (pesca e energia solar); o uso de bens
não renováveis (redução de reservas e acúmulo de lixo) e a emissão de nocivas substâncias no
meio ambiente, estranhas à natureza têm mostrado que o caminho que estávamos seguindo
não conduziria ao desenvolvimento que almejávamos.
As pesquisas rumo à sustentabilidade têm como base dois princípios (MANZINI,
2008): a resiliência (capacidade de um ecossistema de tolerar uma atividade que o perturba
sem perder seu equilíbrio) e o “capital natural” (recursos não renováveis), que em conjunto
com a capacidade sistêmica do ambiente de reproduzir recursos renováveis, devem ser
avaliados como um todo, referindo-se também à riqueza genética. Esses fundamentos devem
ser complementados por outros, de cunho social e ético: sustentabilidade social, em escala
mundial ou regional, em que as atividades humanas não contrariem os princípios da justiça e
da responsabilidade em relação ao futuro, considerando a atual distribuição e a futura
disponibilidade de “espaço ambiental”.
Além disso, o princípio de justiça proclama que cada pessoa tem direito ao mesmo
espaço ambiental e o princípio de responsabilidade em relação ao futuro determina que se
deve garantir às gerações futuras ao menos a mesma quantidade e qualidade de recursos
ambientais que temos hoje a nosso dispor, profere o autor. Vale salientar que é preciso
garantir isso não apenas às pessoas, mas também, a todas as espécies não humanas.
Para Papanek (1977), a função primordial do designer baseia-se em solucionar
problemas e este tem de saber melhor que outros quais são os problemas existentes. Assim, os
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profissionais devem refletir se o projeto em que atuam está a favor ou contra o bem social. Há
mais necessidades básicas além de alimentos, abrigo e vestuário. Dentre os muitos exemplos
de projetos para “o mundo real”, ele propõe possibilidades para os países menos
desenvolvidos e salienta que a maioria de suas necessidades deve ser resolvida in loco.
Centrais elétricas, instalações para armazenar de alimentos, equipamentos para a depuração
da água etc. são algumas das sugestões de projetos apontadas pelo designer (1977).
Consumo e necessidade
Enquanto para muitos, o anseio de consumo é adquirir bens e serviços que supram
suas necessidades, para outros, o sonho de consumo é consumir o mínimo possível.
O consumo pode tornar-se alvo de generalizações imprudentes, preconceitos e
suposições precipitadas. Para não cair nessa cilada, Rocha (in Douglas e Isherwood, 2004),
revela três aspectos do consumo: o hedonista, o moralista e o naturalista. O hedonista
considera o consumo essencial à felicidade e ao sucesso profissional ou pessoal das pessoas.
Na visão moralista, o consumo é responsabilizado por diversos problemas da sociedade,
sendo considerado fútil e superficial. Já o consumo naturalista pode atender a necessidades
físicas ou responder a desejos psicológicos, o que o torna natural e universal.
No entanto, o consumismo pode ter “origens emocionais, sociais, financeiras e
psicológicas, as quais, juntas, levam as pessoas a gastarem o que podem e o que não podem
com a necessidade de suprir a indiferença social, a falta de recursos financeiros, a baixa autoestima e a perturbação emocional” (LOPES, s.d.). Sintomas psicológicos estão ligados ao
consumo e nem sempre se relacionam apenas com a aquisição de bens, mas também à
frustração ou à solidão. Além disso, o hábito de consumir em excesso pode comprometer o
equilíbrio emocional e o orçamento familiar.
Para avaliar o que seriam “necessidades”, nos referimos a Papanek (1977). Ele aponta
que a função essencial do designer consiste em resolver problemas e este deve atuar a favor
do bem social, alegando ainda que ele atende mais facilmente a necessidades e desejos
passageiros, descuidando-se das necessidades verdadeiras dos homens. Em uma era de
produção em massa, afirma Papanek, quando tudo tem que ser planejado e desenhado, o
design se tornou o instrumento mais poderoso de que se serve o homem para configurar suas
ferramentas, seu meio ambiente, a sociedade e a si mesmo.
Para Manzini é imprescindível que se reconheça que os limites do planeta tornaram-se
evidentes e isso representa “um profundo e poderoso fator de transformação” (2008, p. 20). E
nessa percepção, para além da questão dos problemas ambientais, é preciso que a humanidade
repense o modo como se relaciona com o mundo em que vive. E um dos principais
comportamentos a expressar essa relação é o consumo.
Considerando a atual situação de nosso planeta e a natureza calamitosa das
transformações em andamento, segundo ele, pode-se perguntar: qual foi o papel efetivo dos
designers até agora? Lamentavelmente a resposta é que, em termos gerais, eles ainda são parte
do problema. Entretanto, este pode não ser um destino inevitável. Designers podem e devem
tornar-se parte da solução. E isso é possível porque no “código genético” do design está
inscrito que sua razão de ser é melhorar a qualidade do mundo. E é a partir deste ponto que
devemos reiniciar, revendo “qual é a qualidade do mundo que o design, seguindo sua
profunda missão ética, deveria promover” (MANZINI, 2008, p. 16).
Nesse sentido, designers podem ter uma função muito especial, por lidarem com
interações cotidianas dos seres humanos e seus artefatos. E são essas interações, junto com a
esperança de bem-estar associadas a elas, que devem mudar rumo à sustentabilidade.
Todos nós estamos envolvidos com questões de ecologia, e uma das formas de
enfrentar os problemas levantados por um meio ambiente a deteriorar-se, na visão de Papanek
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(1995) é fazer algo em nível individual ou familiar: usar menos água nas caixas de descarga,
separar e reciclar o lixo, instalar a energia solar nas casas e praticar a preservação sempre que
possível. Há uma dimensão ecológica e ambiental em todas as ações humanas e cada
profissional pode fazer a sua parte, refletindo sobre como o seu trabalho afeta o meio
ambiente. Esses tempos ameaçadores para a Terra “requerem não só paixão, imaginação,
inteligência e trabalho árduo, mas essencialmente, um sentido de otimismo disposto a agir
sem plena compreensão, mas com fé no efeito de pequenos atos individuais sobre o cenário
global” (PAPANEK, 1995, p. 27). Problemas podem existir em nível mundial, mas só cedem
com ações descentralizadas, locais e à escala humana.
Design permacultural
Os australianos Bill Mollison e David Holmgren introduziram a permacultura nos anos
1970, e buscaram princípios éticos universais surgidos no seio de sociedades indígenas e de
tradições espirituais, orientados na lógica básica do universo de cooperação e solidariedade.
A permacultura “é um sistema de design para a criação de ambientes humanos
sustentáveis” (MOLLISON, 1991, p. 13). Designa também o conceito de cultura permanente,
pois, para sobreviver, as culturas precisam de base na agricultura e ética quanto ao uso da
terra. A criação de sistemas ecologicamente corretos e economicamente viáveis, que supram
suas próprias necessidades, não explorem ou poluam e que sejam sustentáveis em longo prazo
é o foco da permacultura. Usando as características das plantas e animais, combinadas com os
atributos naturais dos terrenos e construções, ela visa produzir um sistema de apoio à vida,
ocupando a menor área possível. Podemos iniciar a transformação a partir de onde vivemos,
adotando atitudes como: redução do consumo de energia; uso do transporte público ou divisão
do uso do carro; armazenamento da água dos telhados em cisternas; participação da produção
ou compra de alimentos plantados de forma responsável e outros, sugere Mollison.
Segundo Holmgren (2007, p. 8), “a ética atua como freio aos instintos de
sobrevivência e a outras ações pessoais e sociais em benefício próprio, que tendem a
direcionar o comportamento humano em qualquer sociedade”. Para Mollison (1991), as
formas pelas quais podemos promover a ética são:
• O cuidado com a Terra significa o cuidado com todas as coisas, vivas ou não (solos,
florestas, micro-habitats, animais e água). Pressupõe atividades inofensivas e reabilitantes,
conservação ativa, uso de recursos de forma ética e frugal e estilo de vida correto.
• O cuidado com as pessoas, de modo a suprir necessidades básicas, como
alimentação, abrigo, educação, trabalho satisfatório e contato humano saudável.
• A partilha justa significa que, tendo suprido as necessidades básicas e projetado
sistemas da melhor maneira possível, pode-se auxiliar outros no alcance desses objetivos.
Os princípios de design permacultural são inerentes a qualquer projeto, em qualquer
clima e escala, aponta Mollison (1991), e resultam de disciplinas como: ecologia, conservação
de energia, paisagismo e ciência ambiental. São, em resumo:
• Localização relativa: cada elemento (casa, tanque, horta e outros) é situado em
relação a outro, para que se auxiliem mutuamente.
• Cada elemento efetua muitas funções. Por exemplo, um tanque pode ser utilizado
para irrigação, prover água aos animais, para o cultivo de plantas aquáticas, etc.
• Cada função importante é apoiada por muitos elementos. A água, alimentação e
energia deveriam ser supridos de duas ou mais formas.
• Planejamento eficiente do uso de energia para a casa e assentamentos.
• Predomínio do uso de recursos biológicos sobre o uso de combustíveis fósseis.
• Reciclagem local de energias (humanas e combustíveis).
• Utilização e aceleração da sucessão natural de plantas (sítios e solos favoráveis).
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• Policultura e diversidade de espécies benéficas (sistema produtivo e interativo).
• Utilização de bordas e padrões naturais para um melhor efeito.
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST
Diante do objetivo que orienta este projeto, de atender necessidades dos trabalhadores
rurais sem terra, que vivem em acampamentos e assentamentos do MST, cabe apresentar uma
síntese histórica do movimento, em seus 26 anos de existência.
Conforme a publicação MST – Lutas e Conquistas (SECRETARIA NACIONAL DO
MST, 2010), o Brasil é um dos países com maior concentração de terras e os maiores
latifúndios do mundo e, desde meados do século XX, nas diferentes regiões do país, contínuos
conflitos e eventos formaram o campesinato.
No final dos anos 1970 ressurgem as ocupações de terra e a década de 90 testemunhou
importantes lutas camponesas pela reforma agrária no país. Desde 2002 o modelo agrárioexportador se acentuou e dividiu o território brasileiro em monoculturas e pecuária extensiva.
Entretanto, mesmo sem um real processo de reforma agrária, em 26 anos o MST organizou
mais de 1,5 milhões de acampados1 e assentados em 23 estados e no Distrito Federal.
Procedimentos metodológicos
A pesquisa teve como objetivo conhecer o modo de vida dos acampados e assentados,
identificar suas necessidades e coletar dados para este projeto. Para isso, foram realizadas três
visitas a campo: no dia 16 de abril deste ano, aos assentados de Três Pinheiros, em Sananduva
(RS); no dia 30 de abril, aos acampados de Passo Fundo (RS) e no dia 1º de novembro, nova
visita aos acampados de Passo Fundo para apresentar o esboço do projeto. Neste dia também
foi visitado o Instituto EDUCAR PARA VIVER, em Pontão (RS), que promove a formação
de técnicos em agropecuária com habilitação em agroecologia.
Visando buscar bibliografia e dados sobre o MST, no dia 7 de maio, foi efetuada visita
ao IEJC (Instituto de Educação Josué de Castro) em Veranópolis (RS) cuja entidade
mantenedora é o ITERRA (Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária),
vinculado ao MST.
Para adquirir conhecimento prático em permacultura, no dia 25 de setembro foi
visitada a ecovila de permacultores de São Francisco de Paula (RS).
No dia 9 de agosto vistamos a Estação de Tratamento de Água (ETA) – CORSAN,
com o propósito de conhecer seu sistema de purificação da água.
E, no dia 15 de outubro foi apresentado o projeto à Vigilância Ambiental de Bento
Gonçalves, com o intuito de buscar mais informações sobre desinfecção de água.
Como meio de abordagem, foi realizada pesquisa qualitativa, a qual, segundo Baxter
(2000), pode ser feita individualmente ou em pequenos grupos, na casa de alguém, para que
se obtenha um clima relaxado, facilitando-se a discussão. Nesse método, o objetivo é “obter a
percepção aprofundada da necessidade de mercado de um pequeno número de consumidores”
(BAXTER 2000, p. 167). Participaram cinco assentados e dois acampados do MST, e sua
faixa etária situa-se entre 21 e 45 anos. O método projetual foi baseado em Bonsiepe (1984).
O modelo de entrevista aplicado foi o semi-estruturado, por permitir: a otimização do
tempo disponível; a seleção de temáticas de aprofundamento; um tratamento mais sistemático
dos dados; a introdução de novas questões conforme a conversação e uma maior flexibilidade
1
Os trabalhadores acampados vivem de modo itinerante, em barracas, cujas condições são rudimentares e
improvisadas, até o momento do assentamento. Participam das ocupações de terra e dos protestos sociais. Os
assentados são os indivíduos ex-acampados que já conquistaram a terra. Para isso, há critérios como o tempo de
estada no acampamento; necessidade ou sorteio. Participam das manifestações em apoio aos acampados.
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ao se explorar as questões. Nesse procedimento, foi feito registro fotográfico e por escrito,
simultaneamente à entrevista (Apêndice 1).
O grau de escolaridade dos participantes compreende o ensino fundamental e médio e
são de classe baixa. Os entrevistados esclareceram dúvidas e responderam a todas as questões.
Tem-se consciência de que o ideal como fonte de coleta de dados seria conhecer o
maior número possível de acampamentos e assentamentos, para que se evitem generalizações.
Todavia, em razão da carência de tempo disponível para tal, acredita-se que as amostragens
colhidas sejam de importante valia para o conhecimento do estilo de vida e das necessidades
dessas comunidades. De qualquer forma, não é negligenciável que a proposta de solução de
um problema cotidiano possa fazer diferença para esses indivíduos em particular, e para
quaisquer outros que se encontrem em situações semelhantes.
Análise e coleta de dados
O levantamento de dados obtidos pela pesquisa em visitas a campo, análise das
entrevistas e documentação fotográfica, tornou possível identificar os principais problemas,
que levaram às seguintes constatações:
1) O acampados necessitam de habitações desmontáveis, fáceis de transportar e
resistentes à intempérie. O material dessas construções deve ter preço acessível, para se fazer
reparos sempre que necessário.
2) As condições são extremamente precárias (Fig. 1); não há saneamento básico, nem
água encanada (Fig. 2). A água supostamente “potável” não é tratada e nem analisada
regularmente, o que pode provocar uma série de prejuízos à saúde.
3) Os acampados utilizam fogão a lenha (Fig. 3), a gás ou fogão de chão (Fig. 11), de
modo precário, o que causa desconforto físico e limitações quanto a combustível.
4) As barracas não possuem isolamento térmico e a lona plástica é frágil (Fig. 4),
sendo que, em dias quentes ou frios, isso pode causar doenças respiratórias.
5) A comunidade não dispõe de um local apropriado para tomar banho (Fig. 5), além
de não contar com o aquecimento da água, o que também pode atrair gripes e resfriados.
6) O sanitário é precário (Fig. 6), o que pode gerar doenças por contaminação.
7) A lavagem das roupas é feita em tanque improvisado (Fig. 9), causando desconforto
e problemas de coluna.
8) Em dias chuvosos a secagem das roupas torna-se um problema (Fig. 10).
Fig. 1: vista do acampamento.
Fig. 2: fonte de água para beber.
Figura 3: fogão a lenha.
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Fig.4: interior de barraca. Fig. 5: área para banho.
Figura 8.
Figura 6: o sanitário.
Figura 9: lavagem das roupas.
Figura 7.
Figura 10.
As fotos que seguem mostram casas pré-existentes de assentamentos e uma casa
padrão do INCRA em Passo Fundo (RS) e em Sananduva (RS).
Fig. 11: casa de Passo Fundo.
Figura12: casa de Sananduva.
Figura 13: casa padrão INCRA.
Fonte: fotos do autor.
9) Quase todos os assentados têm problemas com o abastecimento de água: ou porque a
nascente foi contaminada por agrotóxicos, ou porque têm dificuldades em encontrar água.
Isso poderia ser resolvido com a instalação de cisternas para captação de água da chuva.
Apresentação dos resultados
Tendo como base a análise e coleta de dados, com especial atenção no que concerne a
necessidades essenciais, podemos apresentar algumas possibilidades de projeto:
a) Cisterna para a captação da água da chuva e filtro de água para torná-la potável;
b) Moradias desmontáveis com materiais alternativos e recicláveis;
c) Cápsula móvel para banho, com o uso de aquecimento solar ou por meio do
aproveitamento do calor gerado pelo fogão a lenha em dias frios e nublados;
d) Projeto de forno/fogão solar híbrido;
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e) Sistemas de canteiros móveis para produzir alimentos (design permacultural);
f) Sanitário móvel ecológico baseado nos conceitos da permacultura;
Briefing
O desenvolvimento de um produto deve partir de uma intenção e esta deve ser
delimitada por uma série de quesitos, que orientem o foco do projeto. O sucesso de um novo
produto depende da elaboração de um bom, claro e objetivo briefing.
O produto que se pretende desenvolver tem como foco atender à necessidade de
abastecimento de água para os acampados e assentados do MST. Considerando que a água é
uma das necessidades vitais, tem-se como finalidade elaborar o projeto de cisternas para a
captação de água da chuva e armazenamento; e sistema de filtragem da água, para torná-la
potável. Deve ser ecologicamente correto e economicamente viável.
O objetivo deste projeto é resolver o problema de abastecimento de água de boa
qualidade nessas comunidades. Como requisitos, o produto deve ser de fácil construção e
montagem; utilizar materiais resistentes à intempérie; baixa variedade de materiais, além levar
em conta o descarte final; materiais ecológicos, naturais e de preferência, do próprio lugar. A
mão-de-obra também deverá ser do próprio local.
Os usuários são pessoas que vivem em acampamentos e assentamentos, de ambos os
sexos, de todas as idades, de classe social baixa. O processo de fabricação será definido
conforme os materiais selecionados.
O projeto será apresentado ao INCRA, à FUNASA - Fundação Nacional da Saúde
(órgão do Ministério da Saúde) e aos Ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, com o
objetivo de se obter recursos financeiros para viabilizá-lo e distribuí-lo para os usuários.
Análise sincrônica
Foram feitas análises de filtros de água e cisternas existentes no mercado, para conhecer
as diferentes propostas e modelos, para posterior analogia.
Figura 14: modelos de filtros de diferentes tecnologias existentes no Mercado. Fontes:
14.1) http://queluzdebaixo.olx.pt/vendo-filtro-purificador-de-agua-iid-18387253
14.2) http:// http://www.submarino.com.br/produto/34/21633196/filtro+de+agua
14.3) http://pt.efeitoverde.com/Product-207-Filtro%2Bde%2B%25E1gua.html
14.4) http://www.europa.com.br/noticias/index.asp?idNews=31
14.5) http://www.jcrefrigeracoes.com.br/?cat=10
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Figura 15: cisternas de várias formas, capacidades e materiais. Fontes:
15.1) http://todaoferta.uol.com.br/comprar/cisterna-em-polietileno-3000lt-P2RPTHJEZX#rmcl
15.2) http://www.jardin-garantia.es/recuperacion-agua-lluvia/contenedores-de-agua.html
15.3) http://www.fomezero.gov.br/noticias/desenvolvimento-social-investe-r-54-milhoes-no-semi-arido
15.4) http://www.sempresustentavel.com.br/hidrica/minicisterna/minicisterna.htm
15.5) http://www.jardin-garantia.es/recuperacion-agua-lluvia/contenedores-de-agua.html
15.6) http://www.informativosbc.com.br/novidades/acqualimp1.htm
Figura 16: filtros de água de chuva. Fontes:
16.1) http://www.ecocasa.com.br/produtos.asp?it=1212
16.2, 16.3, 16.4 e 16.5) http://www.jardin-garantia.es/recuperacion-agua-lluvia/filtros-para-el-agua-delluvia.html
16.6) http://www.sempresustentavel.com.br/hidrica/minicisterna/filtro-de-agua-de-chuva.htm
Análise de materiais
Para a química Maria Anita Scorsafava (Instituto Adolfo Lutz - São Paulo) as funções
mais básicas que um filtro de água eficiente deve ter são a retenção de impurezas e redução da
quantidade de cloro na água e estão presentes na maioria dos filtros do mercado.
• Filtragem com Minerais: tem como maior objetivo reter impurezas. Simples e
eficiente, faz bem sua função. Minerais dispostos dentro do filtro criam uma peneira que
impede a passagem de impurezas.
• Filtragem com Carvão Ativado: o principal objetivo é diminuir drasticamente a
quantidade de cloro na água e evitar contaminação através de bactérias. O carvão ativado
absorve o cloro, deixando a água pura e sem gosto.
• Filtragem com Membrana Oca: retém bactérias e protozoários que possam ter
contaminado água, através de uma fibra microporosa do tamanho de milhares de vezes
menores que um fio de cabelo.
• Filtragem com Raios Ultravioleta: alta tecnologia que visa matar bactérias e vírus
presentes na água, que, para isso, é exposta a uma lâmpada ultravioleta.
Índice pluviométrico
De acordo com Carpenedo (2007), a análise da precipitação pluvial ocorrida no Rio
Grande do Sul no período de 1976 a 2005, mostra que na metade Norte ocorrem os maiores
volumes anuais de chuvas quando comparados com a metade Sul. Ao Norte o volume de
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chuvas pode ultrapassar 1900 mm anuais, enquanto que na metade Sul, algumas regiões
apresentam volumes inferiores a 1400 mm.
Figura 17: Regime anual de chuvas no Rio Grande do Sul de 1976 a 2005. Fonte:
http://www.ufrgs.br/srm/novo/publicacoes/CBAGRO%20%202007_Camila_artigo%20
Regime%20de%20chuvas%20no%20RS.pdf
Referenciais
Arquitetura vernácula
Segundo Papanek, desde meados do século XX que antropólogos, arquitetos e
historiadores vêm mostrando cada vez mais interesse pela arquitetura vernácula. Muitas
construções, antes nunca estudadas a sério, têm sido documentadas através de fotografias e
descrições escritas da chamada “arquitetura sem arquitetos”. O que resumidamente pode
definir arquitetura vernácula, afirma o autor, é o respeito pela tradição, pela perfeição e o uso
de materiais e métodos locais, sendo que, tudo isto pode ser afetado pelo clima, ambiente,
aspectos culturais e sociais, esforços estéticos e contextos familiares e urbanísticos.
Figura 18. Alguns exemplos de arquitetura vernácula em diferentes locais do mundo. Fonte:
http://www.casosdecasa.com.br/index.php/2010/03/arquitetura-vernacular-mais-em-moda-do-que-nunca/
Bioconstrução
Bioconstrução é definida por Prompt (2008) como a construção de ambientes
sustentáveis através do uso de materiais de baixo impacto ambiental, pela adequação da
arquitetura ao clima local e pelo tratamento de resíduos. Um ambiente sustentável satisfaz as
necessidades de moradia, alimentação e energia e garante também às gerações futuras os
mesmos direitos de suprimento de suas necessidades. São os sistemas construtivos que
respeitam o meio ambiente durante a fase de projeto e de construção (na escolha dos materiais
e técnicas adequadas) e ao longo do uso do edifício (eficiência energética e tratamento
adequado dos resíduos). Podem ser feitas com pedras, terra, palha e madeira, todos
provenientes do próprio local.
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Construções em cob
Cob, segundo Prompt, é uma técnica de construção com terra muito antiga e
amplamente utilizada em diferentes lugares do mundo, que permite usar muita criatividade e
liberdade, pois consiste em ir moldando a casa como se fosse uma grande escultura.
• Materiais: argila, areia e palha.
• Ferramentas: pá, enxada, pés e mãos.
Essa construção é muito simples, afirma a autora. Primeiro mistura-se argila, areia,
palha e água, até que se obtenha uma mistura homogênea e plástica, que é feita com os pés. O
próximo passo é ir formando bolas com a argila e então é só começar a moldar a casa e, ao
mesmo tempo, estantes, bancos, nichos e outros.
Figura 19: Casas de cob, adobe e superadobe (as duas últimas).
19.1) http://agricabaz.blogspot.com/2009/11/arquitectura-ecologica.html
19.2) http://www.travelpod.com/s/photos/the+adobe+resort
19.3) http://www.ecocentro.org/artigo.do?acao=pesquisarArtigo&artigo.id=20411
19.4) http://weburbanist.com/2008/11/12/lifesaving-temporary-emergency-shelters-buildings/
Construções em adobe
O tijolo de adobe é um material de construção muito antigo, afirma Prompt. Consiste em
um tijolo de barro e palha mesclados, moldado e seco naturalmente. Essa técnica não utiliza
nada de cimento e não gasta combustível na secagem dos tijolos, por não serem queimados.
Pelo uso da palha na sua composição, garante excelente conforto térmico.
Essas construções, quando bem feitas, podem durar muitas décadas e estão sendo cada
vez mais resgatadas e valorizadas.
• Materiais: areia, argila e palha. Madeira e pregos para a forma.
• Ferramentas: pá, enxada, estopa, martelo e serrote.
Para a construção é feito um buraco próximo ao local da obra onde haja solo apropriado.
Coloca-se água e terra, amassando-se com os pés até que se obtenha uma mistura
homogênea e plástica, que permita que a massa seja moldável. Depois de amassado, o barro é
colocado nas formas de madeira. Além de terra e água, pode-se utilizar capim cortado, que
funciona de estabilizador, como uma armação.
Construções em superadobe
Superadobe é uma técnica que utiliza sacos com terra comprimida para fazer paredes e
coberturas e foi criada pelo arquiteto iraniano Nader Khalili nos anos 1980.
• Materiais: saco de ráfia em rolo ou sacos reaproveitados, arame farpado e terra local.
• Ferramentas: tubo de 25 cm de diâmetro ou balde sem fundo, pilões, pilões para as
laterais, martelo de borracha, enxada e pá.
Antes de tudo, para construir com superadobe, ensina Prompt, é preciso fazer uma boa
fundação, que pode ser de pedra, de concreto, de terra compactada e/ou fiadas com areia e
cimento na proporção 9/1. É importante também deixar a parede de terra uns 30 cm acima do
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nível do solo, para não absorver umidade, mantendo-a seca e segura. Após, começa-se a
construir as paredes de superadobe, enchendo-se o saco com terra, apiloando-se as camadas.
Conceito
O conceito do produto terá como base o design permacultural e design social. O design
permacultural contemplará os seguintes atributos:
• Design vernáculo, abrangendo bioconstrução e uso de materiais e mão-de-obra locais.
• Simplicidade: para proporcionar autonomia (de construção relativamente fácil) e
dignidade (condição de vida decente aos habitantes do local).
• Localização relativa: para que se utilize a gravidade e não outros recursos que
demandem gastos com energia.
• Cuidado com a terra e com todas as coisas, vivas ou não.
• Cuidado com as pessoas, suprindo suas necessidades essenciais.
• Uso eficiente da energia: construções e filtros de barro promovem a troca de calor entre
o ambiente interno e externo, proporcionado conforto térmico (18º C).
O conceito de design social providenciará a satisfação da necessidade essencial de
suprimento de água para comunidades de baixa renda.
Geração de alternativas
Figura 20: módulo 20.1 com mini cisterna de 50 litros, funil captador de água e carrinho para transporte;
módulo 20.2 com casulo de tijolos de adobe, cisterna de 1.000 litros, funil e filtro para macro partículas; módulo
20.3 com cisterna de 2.000 litros, sistema de filtragem, desinfecção e potabilização da água.
Figura 21: módulo 21.1 em superadobe com cisterna de 5.000 litros, telhado em aluzinc e sistema de
filtragem, desinfecção e potabilização da água. Módulo 21.2 em superadobe, com cinco cisternas de 5.000 litros,
filtro de água da chuva e telhado vivo.
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Figura 22: módulo em superadobe com 2 cisternas de 5.000 litros (polipropileno), telhado de fibras
vegetais Onduline, calhas de aluzinc, tesouras de madeira local, filtro e encanamentos de PVC.
Projeto
A alternativa selecionada foi o módulo da figura 22, porque o superadobe, conforme
Soares (2007), tem se mostrado como o modo mais simples de se construir com terra. Não é
necessário fazer testes com o material, nem peneirar a terra, moldá-la ou acrescentar-lhe
palha. As paredes são erguidas muito rapidamente, com uma equipe de pelo menos cinco
pessoas. Argumentos importantes dessa alternativa: o barro promove a troca de calor entre os
ambientes interno e externo e a mantém em torno de 18º C; foi aplicado o conceito
permacultural de localização relativa (uso da gravidade e não de uma bomba), pois a cisterna
está localizada acima da superfície; o telhado arredondado apresenta forma coerente com a
construção orgânica; as tesouras são confeccionadas com madeira e a mão-de-obra é local
(arquitetura vernácula); as cisternas são de polipropileno, um material leve, de superfície lisa,
fácil de limpar. Como complemento da potabilização da água, sugere-se o filtro de barro com
vela de cerâmica tripla ação2, por ser simples, eficiente, barato e cumprir bem sua função.
Componentes:
• Fundações e primeiras três fiadas de areia e cimento na proporção 9/1.
• Telhado de fibras vegetais Onduline, na cor vermelha.
• Estrutura do telhado com sobras de madeira e cintas de MDF (espessura 3 mm).
• Calhas de PVC.
• Tesouras de madeira local (eucalipto), sendo o pilar central de cerca de 15 cm de
diâmetro e os demais de 7,5 cm de diâmetro aproximadamente.
• Cisternas de polipropileno (espessura de 5 mm), com quatro cintas de reforço do
mesmo material. O processo de produção contará com corte e solda PP.
2
De acordo com o fabricante (Cerâmica Stéfani), a parede microporosa retém partículas de 0,5 a 1 mícron, o carvão ativado
retira gostos e odores e a prata coloidal elimina bactérias.
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Design para necessidades essenciais: projeto de captação e filtragem de água de chuva
• Tubulação, joelhos, luvas, registros e filtros com tubos de PVC de 7,5 cm de diâmetro.
• Filtros bolsas de malha de polipropileno, para reter partículas de 1 a 2.000 micras.
• Torneiras em PVC.
• Visor de nível em tubo de PVC cristal; luvas e joelhos em PVC de 2,5 cm de diâmetro.
Outra recomendação importante é que se façam análises químicas e microbiológicas
periódicas da água (6 em 6 meses) com laboratórios especializados.
Figura 23: Planta baixa, Corte A-A e Corte B-B do sistema de captação de água da chuva Casulo D’Água.
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Figura 24: Vista Superior, Vista Frontal e Vista Lateral do Casulo D’Água.
Figura 25: modelagem virtual do Casulo D’Água.
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No Apêndice 2 apresentamos:
• A imagem da vista explodida do módulo.
• O detalhamento das cisternas com as tubulações.
• O Storyboard do sistema de captação de água da chuva.
• O Fluxograma do sistema.
• O Esquema de distribuição da água para os acampamentos do MST.
• Responsáveis pelo sistema de captação de água de chuva: cuidados e manutenção.
• O cálculo do potencial de captação de água de chuva do sistema Casulo D’Água.
Considerações finais
Como se constatou no desenvolvimento e análise do presente trabalho, é incontestável
a relevância do design como instrumento para atuar a favor do bem social, em especial
quando atende a necessidades essenciais e importantes para promover o bem-estar de
indivíduos e comunidades.
Testemunhar in loco os problemas e necessidades dos acampados e assentados do
MST, além de promover uma maior conscientização em relação às suas condições de vida,
desmistificou o conceito que se tinha a respeito, formado por filtros midiáticos e, portanto,
passíveis de gerar preconceitos sem conhecimento de causa.
Nessas duas visitas, observou-se nas duas comunidades um forte espírito comunitário,
onde todos lutam pelos interesses do bem comum; e nos indivíduos, um brio incomum que
lhes serve de alento, diante de um modo de vida extremamente frugal. Isso contradiz o que se
percebe como tendência nas sociedades contemporâneas, onde, paralelamente, podem-se
testemunhar desequilíbrios não apenas ecológicos, como também, segundo Guattari (2002),
os modos de vida, individual e coletivo, caminham para a deterioração das relações
familiares, domésticas e de vizinhança, tornando-as cada vez menos expressivas.
Um tema importante como a questão dos limites do planeta adverte para a urgência em
desenvolver produtos ecologicamente corretos e socialmente justos, respeitando-se sempre
aspectos de ordem cultural e local. Dedicar a profissão do design a usos mais valiosos e
prioritários é uma questão a ser levada em conta.
Trata-se de um enorme desafio desenvolver projetos com requisitos tão limitantes no
que concerne a recursos financeiros, porém, ao mesmo tempo, de tamanha relevância no
âmbito social. As necessidades dos acampados são tantas, mas como pôde ser verificado,
oferecem amplas fontes de projetos necessários, urgentes e, no mínimo, interessantes.
O projeto do sistema de captação e filtragem de água de chuva foi apontado como
prioritário, por ser essa uma necessidade básica e vital. É factível e, segundo entrevista com
assentados, mediante apresentação de projeto, pode-se obter o apoio financeiro do INCRA e
da Caixa Econômica Federal. E, para oferecê-lo a outras comunidades que também estão
sofrendo com a falta de água potável, o projeto pode ser também apresentado à FUNASA3 Fundação Nacional da Saúde (órgão do Ministério da Saúde), aos Ministérios da Agricultura e
do Meio Ambiente e à Caixa Econômica Federal para torná-lo realidade.
3
Em visita ao órgão municipal de Vigilância Sanitária de Bento Gonçalves (RS), foi-nos informado que no interior de nosso
município há muitas famílias que carecem de abastecimento de água potável e que, mediante apresentação de projeto,
podem-se obter recursos financeiros a fundo perdido, através da FUNASA.
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APÊNDICE 1
Como levantamento de campo, primeiramente efetuou-se visita a um grupo de
assentados do MST, residentes no Assentamento Três Pinheiros, em Sanaduva, Rio Grande
do Sul. Em entrevista concedida no dia 16 de abril de 2010, (cinco pessoas: uma mulher e
quatro homens) responderam às seguintes questões:
1) De que maneira foi concedida a terra onde vocês estão assentados?
R: O atual assentamento Três Pinheiros, correspondente à antiga Granja Três Pinheiros,
que produzia sementes e compreendia uma área de mais ou menos dois mil hectares em vários
lugares. Neste, em específico, de novecentos hectares. Como houve a falência da Granja em
1995, a Justiça fez empenho com o Banco do Brasil, o Banrisul e o Banco Santander.
2) Quantas famílias residem neste local?
R: Aqui estão assentadas sessenta e quatro famílias.
3) Antes do assentamento, quanto tempo fica-se acampado?
R: Antes de 2007, de seis meses a sete anos, geralmente na beira das estradas.
4) Como os acampados sobrevivem?
R: Arranjávamos serviço temporário nas fazendas próximas (maçã). Do dinheiro recebido,
havia uma pequena contribuição para o grupo dos acampados. A partir de 1999 o INCRA
fornecia mini cestas-básicas mensais.
5) Como foram obtidas as casas?
R: Tínhamos nove casas existentes, que estão sendo aproveitadas; trinta em fase terminal
de construção e dezoito em fase inicial. O INCRA e a Caixa Econômica Federal oferecem
empréstimo a fundo perdido. Quando o projeto é finalizado é feita uma vistoria e o assentado
não pode vender a propriedade adquirida. As casas obedecem a um projeto padrão (42 m2, 6m
x 7m). São construídas pelo sistema de mutirão, onde se contratam pedreiros e os familiares
fazem o serviço de serventes.
6) Qual é a área destinada a cada família?
R: Cada família possui mais ou menos dez hectares demarcados, numerados e
documentados. A maioria das famílias tem animais (vacas, galinhas e porcos). Todas têm
horta.
7) Como é feito o abastecimento de água?
R: Temos dois poços artesianos, pertencentes a Sananduva. A cada dois anos é feita a
análise da água. Há uma vertente nesta região, porém, ao fazer análise, a água foi reprovada
por contaminação por agrotóxicos, devido à lavagem das máquinas agrícolas pelos antigos
fazendeiros. Estamos cercados por fazendeiros que fazem a aplicação de agrotóxicos por
avião.
8) Quanto à Educação, como as crianças estudam?
R: Tínhamos escolas itinerantes em parceria com universidades até a quinta série (em
dezembro de 2009 foi suspensa por questões políticas – temeridade quanto à formação de
líderes fortes). Temos professores com formação pelo magistério. Em Portão há uma escola
de ensino médio, com ênfase em agroecologia. No ITERRA de Veranópolis, os alunos têm
um tempo de aula na escola e um tempo na comunidade. A Universidade UERS fornecia
livros e material didático. No acampamento temos equipes que cuidam as saúde (2º Grau
Técnico em Saúde Comunitária), alimentação, higiene e educação. Usamos a medicina
alternativa.
9) Voltando à questão da água, todas as famílias são servidas pelos poços artesianos?
R: Há outras famílias que estão sofrendo com a falta de água. Às vezes falta água.
Algumas usam a água da vertente.
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10) Como vocês vêem a possibilidade de um projeto de captação de água da chuva e o seu
armazenamento em pequenas cisternas?
R: Seria muito útil e necessário, principalmente para aquelas famílias que sofrem com
a falta de água. Porém, precisaríamos de uma cisterna com três mil litros ou mais para
resolver o problema.
Além da entrevista, visitamos as casas padrão (fornecidas pelo INCRA) em fase final de
construção de outros quatro assentados.
Posteriormente, efetuou-se visita a um grupo de acampados do MST, residentes
(temporariamente) em Passo Fundo, Rio Grande do Sul. No dia 30 de abril de 2010, (duas
pessoas: uma mulher e um homem) concederam a seguinte entrevista:
1) Qual é a fonte de sustento dessa comunidade?
R: Vivemos de doações e venda do excedente da nossa pequena produção. Alguns
acampados trabalham na cidade, outros, na área agrícola. Queremos trabalho, não emprego.
Plantamos feijão, soja, milho, trigo e cana. Também estamos estudando a permacultura.
2) Há quanto tempo vocês estão neste local?
R: Desde 14 de novembro do ano passado. Antes, estávamos em Coqueiros. Fomos
despejados pelo Ministério Público: alegaram “problemas ambientais”. Deram-nos 8 horas
para desocuparmos a área, e isso foi de madrugada, com mulheres e crianças pequenas. Foram
muito duros.
3) Quantas famílias estão neste acampamento?
R: 100 famílias.
4) E quando alguém da comunidade tem algum problema de saúde? Vocês contam com
médicos ou enfermeiros?
R: Contamos com um profissional, técnico em saúde comunitária.
5) Como é viver sem energia elétrica?
R: Como podes ver, usamos velas e candeeiros. Fogão a lenha ou a gás. Ao invés de
assistirmos televisão, nos reunimos com o grupo para debater assuntos da comunidade.
Também usamos esse tempo para ler.
6) E quando vocês precisam de transporte, como é feito?
R: O único veículo que temos é a moto. Contamos com a ajuda de amigos e simpatizantes
do MST. Emprestam-nos caminhões e outros veículos, se necessário.
7) E quanto à educação das crianças, como é feita?
R: Na ciranda infantil, as crianças desenvolvem mais a criatividade que numa escola
comum. Constroem, por exemplo, o próprio brinquedo. Nos acampamentos, contamos com
setores (núcleos de base: de 20 a 25 famílias), cada um se responsabiliza pela Educação,
Segurança, Infra-estrutura, Saúde, Alimentação e Higiene. Cada Núcleo tem dois
coordenadores. Nós lutamos por uma nova sociedade. A monocultura trabalha para a
exportação. Expulsou os pequenos agricultores do campo e, além disso, usa sementes
transgênicas.
Durante a entrevista, percorreu-se toda a área do acampamento e informações
espontâneas foram sendo concedidas. Fotografias foram feitas nas diversas áreas: local onde
tomam banho, onde se lava roupa, sanitário, pequena fonte da água que usam para beber, da
plantação e do conjunto de barracas.
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Apêndice 2
A vista explodida do Casulo D’Água mostra a montagem dos componentes do sistema.
Figura 1: Modelagem virtual da vista explodida do sistema de captação de água da chuva Casulo D'Água.
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Figura 2: Detalhamento técnico da cisterna e componentes como tubulações, filtro de água da chuva e filtro bag.
Figura 3: Imagem das cisternas com tubulações. visor de nível e detalhe do filtro de água da chuva.
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Figura 4: Storyboard da captação até a filtração e potabilização da água.
Figura 5: Esquema de distribuição da água para acampados do MST. Casulo D'Água ao centro, com aberturas nos
dois lados para servir as barracas próximas.
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Figura 6: Fluxograma do trajeto da água da captação até o serviço.
Manutenção e cuidados
Para que haja uma melhor conservação do sistema e cuidados essenciais com a higiene
e, consequentemente, com a saúde, é necessário denominar um responsável pelo manejo da
água, pela limpeza das cisternas e filtros e pela limpeza do telhado e calhas. O responsável
pelo manejo da água terá as funções de:
• Descarte das primeiras águas, pelos registros.
• Aplicação de hipoclorito de sódio (2,5%): 500 ml (meio litro) para 5.000 L, de
acordo com Artêmio R. Júnior, técnico da Vigilância Ambiental de Bento Gonçalves (RS).
• Aguardar. Desinfecção após 30 minutos.
• Manter o hipoclorito fora do alcance de crianças e animais domésticos.
O hipoclorito é fornecido gratuitamente pelo Ministério da Saúde.
O responsável pela limpeza das cisternas terá as tarefas de:
• Limpar o filtro interno com água quente.
• Esvaziar e limpar a cisterna (de 6 em 6 meses). Escove e lave as paredes com jatos
d'água. Depois de limpa, encha a cisterna com: 1 litro de água sanitária + 1000 litros de água
ou 400 ml de Hipoclorito de Sódio +1000 litros de água.
• Deixar desinfetar por 2 horas. Não usar esta água (alta dosagem de cloro).
• Esvaziar as cisternas, abrindo o registro inferior. Enxaguar com água limpa.
O responsável pela limpeza do telhado deverá lavá-lo com água e escova (de 6 em 6 meses).
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Cálculo do potencial de captação
No cálculo de captação4 são levados em conta os seguintes dados:
I) Precipitação (x)
Fatores determinantes:
A quantidade de chuva que cai do céu.
O índice anual de chuva do local onde se deseja instalar o sistema.
O índice pluviométrico mede quantos milímetros chove por ano em 1 m².
II) A área de Captação (y)
Superfície do telhado em que a água será captada. Em m² - superfície projetada (y):
III) Eficiência do telhado (w)
O material, a porosidade, a inclinação e o estado de conservação afetam a eficiência da
drenagem do telhado. Supõe-se que sejam perdidos 15% da água que caiu no telhado.
IV) Eficiência na filtragem (z)
Um filtro de boa qualidade e em bom estado de conservação envia cerca de 90% de água
"limpa" segue para o reservatório.
Considerando-se que no norte do estado chove 2.000 mm/ano (x) e o telhado tem uma
superfície de 46,81 m² (y) e no sul do estado chove 1.500 mm/ano (x) e o telhado tem a
mesma superfície (y), procede-se o seguinte cálculo:
X (chuva anual) = 2.000 mm ou 2,0 m³
Y (área do telhado) = 8,80 m x 5,32 m =46,81 m²
W (eficiência do telhado) = 85%
Z (eficiência do filtro) = 90%
Potencial Norte do estado:
2.0 x 46,81 x 85% x 90% = 71,6 m³/ano ou 71.600 litros/ano.
Potencial Sul do estado:
1.5 x 46,81 x 85% x 90% = 53,7 m³/ano ou 53.700 litros/ano.
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Fonte: http://www.engeplas.com.br/agua.html
DESENHANDO O FUTURO 2011 | 1º CONGRESSO NACIONAL DE DESIGN
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