MEMÓRIA DE PROFESSORAS APOSENTADAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL: DIALOGANDO COM NORBERT ELIAS SOBRE ENVELHECER Gislaine Azevedo da Cruz1 PPGEdu/UFGD CAPES [email protected] Resumo: A presente discussão está centrada na obra de Norbert Elias sobre a solidão dos moribundos e o processo de envelhecer e morrer, relacionando-os com a dissertação que está em andamento sobre as memórias de professoras aposentadas da educação infantil. Envelhecer, na sociedade atual é um processo construído historicamente, que influenciam, ou mesmo, determinam a forma de tratamento e compreensão das pessoas mais velhas. Palavras-chave: Envelhecer. Memórias. Docentes. Abstract: This discussion focuses on the work of Norbert Elias on the loneliness of the dying and the process of aging and dying, relating them to the dissertation that is in progress on the memoirs of retired teachers of early childhood education. Aging, in today's society is a process built historically, that influence or even determine the type of treatment and understanding of older people. Keywords: Ageing. Memories. Teachers. Memórias e envelhecer: processos construídos O presente trabalho2 tem como proposta refletir sobre a memória de professoras da educação infantil, a partir da história oral sobre as percepções de suas infâncias a partir das trajetórias profissionais no Município de Dourados/MS, neste sentido, buscaremos dialogar com Norbert Elias tendo como obra central a “Solidão dos Moribundos, seguido de envelhecer e morrer”. Esses breves apontamentos constituem as discussões que permeiam a dissertação de mestrado que está em andamento, no qual será utilizada para realização da pesquisa a 1 2 Integrante do Grupo de Pesquisa: Educação e Processo Civilizador (GPEPC). Trabalho orientado pela Profª Drª Magda Sarat, docente da Faculdade de Educação da UFGD, Coordenadora do Grupo de Pesquisa "Educação e Processo Civilizador”. E-mail: [email protected]. 2 opção metodológica nos pressupostos da história oral, pois é uma valiosa metodologia na pesquisa em educação, por meio da memória, a partir dos principais teóricos que discutem o uso destas na construção e elaboração de trabalhos na educação de crianças de 0 á 6 anos. Ao falarmos em memórias somos remetidos rapidamente a imagem de pessoas idosas, velhas, que possuem um vasto conhecimento, saberes e informações sobre diferentes situações já vividas e vivenciadas. Mas o que é memória? O que é ser velha e/ou velho hoje? Como se envelhece nos dias atuais? A maneira de compreender a velhice sempre foi igual? Qual é a relação entre as idosas e/ou idosos e a memória? São indagações que buscaremos refletir dialogando com as contribuições de Norbert Elias. O texto assim, está divido em duas partes. Na primeira procuramos dialogar sobre envelhecer e partir de Norbert Elias e no segundo momento abordarmos especificamente sobre as memórias de velhos e de velhas e as possíveis contribuições em pesquisas que as utilizam. “A solidão dos moribundos” é uma obra que se articula sobre envelhecer e morrer, texto originário de uma conferencia realizado em Bad Salzufen em outubro de 1983, uma junção que proporciona reflexões referentes a velhice e a morte. Elias (2001) mostra como a morte sempre esteve e estará sempre nas relações humanas. Um tema nada convencional, que retrata sobre como pessoas prestes a morrer e seus entes mais próximos passam por estes momentos, demonstrando que morrer foi sendo mudado ao longo do tempo, o processo de perceber os moribundos, de viver e conviver sofreram mudanças, inicialmente mais públicos e atualmente são situações praticamente privadas. A forma de compreender as idosas e/ou idosos atualmente foi um longo processo social. Processo esse, advindos das mudanças das sociedades industrializadas. A forma de tratamento dispensada aos mais velhos, sentimentos de crueldade, o amor, carinho e cuidado conforme Elias (2001) mudaram a relação entre os mais jovens e os mais velhos. Comportamentos de crueldade, domínio, zombaria do processo de envelhecer eram provavelmente maiores e piores antigamente, em relação aos dias atuais. O Estatuto de Idoso (2003) do Brasil, nos artigos 1º ao 3º declara sobre os direitos garantidos legalmente, considerando como pessoas idosas, com igual ou superior a 60 anos. Segundo o Estatuto, a pessoa idosa goza de todos os direitos básicos e fundamentais ao ser humano. Tendo ainda, a garantia legal e a proteção das condições fundamentais de liberdade e dignidade as mulheres e homens idosos brasileiros. 3 A família, o Poder Público, a comunidade e a sociedade possuem igual obrigação de proteger as idosas e/ou idosos, garantindo os direitos básicos/fundamentais de vida, educação, cultura, lazer, trabalho, cidadania, respeito entre outros, que proporcionem meios a convivência com a família e a sociedade. Essas características são inerentes a sociedade brasileira, garantidas e cobradas socialmente, as idosas e/ou idosos são protegidos, ao menos no âmbito legal atualmente. Ser idosa e/ou idoso assim, foi um longo processo que vem sendo um mecanismo de civilidade para as sociedades na maneira de compreender e tratar as pessoas mais velhas. As pessoas ao envelhecerem causam mudanças, principalmente na família, e na sociedade. As relações de cuidado, formas de tratamento, linguagem, situações de dependência e interdependência, são maiores em relação aos mais jovens. Conforme Elias (2001) as pessoas ao envelhecerem mudam fisicamente e mesmo psicologicamente, a dependência dos outros, a perda das forças, as mudanças físicas entre outras características variam de acordo com as estruturas da personalidade de cada pessoa, relacionada ainda, com a trajetória de vida de uma para outra. O envelhecimento ainda está em processo de mudança, conforme Norbert Elias (2001, p. 83) a maneira de pensar e tratar os mais velhos, nas sociedades industriais, deve estar voltado para o efetivo respeito, criando mecanismos que não mantenham o isolamento e a solidão neste período da vida do ser humano. Conforme o autor: [...] as pessoas que envelhecem não pode ser entendida a menos que percebamos que o processo de envelhecer produz uma mudança fundamental na posição de uma pessoa na sociedade e, portanto em todas as suas relações com os outros. O poder e o status das pessoas mudam, rápida ou lentamente, mais cedo ou mais tarde, quando elas chegam aos sessenta, aos setenta, oitenta ou noventas anos. (grifos do autor) As mudanças são inevitáveis, e também não devem ser impedidas, já que são necessárias conforme Elias (2001) para a construção dos processos que levaram aos estágios atuais da sociedade. Mas apesar disso, o controle humano sobre as emoções, sobre o processo de envelhecer, as dores, a agonia da morte, possuem limites, mas os avanços são nítidos quando comparadas as sociedades pré-industriais. A identificação com os moribundos não é algo fácil, a morte que os rodeias não são discutidas nos dias atuais. A afirmação central de Elias (2001) é que a morte tornase um problema unicamente dos vivos. 4 Os seres humanos segundo o autor, são os únicos que ao morrer possuem consciência de sua existência e do fim dela, no qual podem buscar formas de prevenção e prolongamento da vida. A experiência da morte assim, segundo o autor pode, e devem ser aprendidas, formas que regulam as relações estabelecidas entre os mais velhos, os moribundos e a morte, saberes que deverão ser utilizados para o estabelecimento de configurações dos indivíduos decorrentes destas situações. O processo de envelhecimento e morte são situações difíceis, o isolamento é utilizado pelos moribundos como um sistema tático para proteger-se do sofrimento até mesmo, aos entes mais próximos, como forma de poupa-los de conviverem com a sua decadência. Neste sentido Elias (2001, p. 37) aponta que: “[...] os viventes podem, de maneira semiconsciente, sentir que a morte é contagiosa e ameaçadora; afastam-se involuntariamente dos moribundos”. A morte é um momento doloroso tanto para o moribundo, como para as pessoas próximas, assim Elias (2001) afirma ser este um problema social, no qual os vivos devem aprender a viver e conviver da melhor forma possível neste estágio da vida. O autor aponta ainda a existência de dificuldades de verbalização das emoções e sentimentos para os moribundos, apesar dos termos específicos criados para as situações de morte, na perda de entes, doenças, mas como relata Elias (2001) acabam sendo desprovidos de sentido, contribuindo muitas vezes para o isolamento dos moribundos. Cada sociedade possui uma forma diferente de compreender a morte e tratar os moribundos, os membros utilizam, de maneira geral, formas variadas de trata lá que foram apreendidas socialmente, conforme as práticas especificas de cada grupo, com atitudes de respeito, medo, solenidade e mesmo de reverência. O conhecimento da morte, a compreensão da finitude da vida configura-se como um problema para os seres humanos. Assim o autor relata existir estágios das sociedades, sendo que em cada estágio foram sendo utilizadas formas diferentes de percepção da morte. Na Idade Média, a busca dos grupos por meio de rituais, crenças sobrenaturais eram mais difundidas e comuns que os dias atuais. O apego aos sistemas de valores sobrenaturais eram utilizadas como mecanismos para compreensão da morte que influenciavam na forma como eram tratados os moribundos. 5 Nesse estágio da sociedade Elias (2001) desta que a morte por prestes, doenças repentinas, guerras constantes, fome, frio eram comuns, sendo assim, mais públicas e corriqueiras, menos ocultas e mais familiares se compararmos ao presente. O autor utiliza-se do trabalho realizado por Philippe Ariés sobre imagens da morte dos povos ocidentais. Elias (2001) critica as concepções da morte como momentos serenos, calmos que mostram uma visão romantizada sobre morrer. Morrer conforme o autor, significa normalmente dor, sofrimento, tormento, principalmente nas sociedades anteriores, no qual não existiam formas mais avançadas para apaziguar ou aliviar o tormento advindo da morte. Nascer e morrer eram momentos públicos, sociáveis, comuns a todos nas sociedades de séculos passados. O processo civilizador foi decorrente de mudanças advindas dos avanços das sociedades, principalmente os proporcionados pela ciência médica. Nas sociedades pré-industriais a maioria da população possuíam suas vidas baseadas principalmente no cultivo, na criação de animais, o processo de envelhecimento assim, ficava restrito ao âmbito familiar até a morte. Já nas sociedades industrializadas atuais, os velhos ou os moribundos são mais isolados das famílias e círculos de amigos, a partir da criação de instituições de cuidados e proteção as pessoas idosas. O envelhecimento normalmente é seguido do isolamento, a partir da construção de espaços propriamente construídos para os cuidados tornando-se lugares de solidão conforme aponta Elias (2001). Atualmente, no século XXI, a morte é algo privado. Foram sendo construídos mitos que permeiam o ato de morrer, cada vez mais, como um momento solitário da vida. As dificuldades de verbalização de sentimentos, emoções, afetos, foram sendo deixados de lado, taxados como piegas, frases prontas, cada vez menos utilizadas nesses momentos pela falta de credibilidade e exaustão em que são utilizadas cotidianamente pelas pessoas. Elias (2009) quando discuti sobre o controle das emoções, destaca a evolução dos mecanismos criados socialmente para autorregulação dos sentimentos nos seres humanos. Destaca que os seres humanos são dotados de sentimentos, normalmente expressos de forma verbal, diversificando, ou seja, um processo evolutivo de refinamento das emoções ao longo dos tempos em cada sociedade. O controle das emoções são características evolutivas que mudam conforme cada estágio da sociedade, conforme Elias (2009, p. 46): 6 [...] as emoções e os movimentos a elas relacionados tem uma função dentro do contexto de relacionamento entre pessoas e, num sentido mais vasto, entre uma pessoa e a natureza. As emoções e os referidos movimentos ou „expressão‟ são, em resumo, uma das indicações que os seres humanos são por natureza constituídos para viver na companhia de outros, para a vida em sociedade. Os seres humanos devem assim, dominarem os códigos que regem cada sociedade, tornando-se seres funcionais3, tendo que a sociedade impõe, cobra e controla comportamentos, cabendo as pessoas a capacidade de autoregulação de suas emoções apreendidas socialmente para a convivência em grupo. A este repeito Elias (2001) chama a atenção para as dificuldades enfrentadas, principalmente pelos jovens, nos momentos de conforto e demonstração de afeição aos moribundos, já que existe uma carência a ser criada e aprendida sobre formas de comportamentos e manifestações de sentimentos atualmente. O respeito, o embaraço, a vergonha, são mudanças advindas do atual estágio em que se encontra a sociedade de individualização, os moribundos assim, tendem a se isolar. A segregação a partir do autocontrole das emoções tende a criar muralhas em relação a morte e aos moribundos, sendo permeadas cada vez mais pela solidão, isolamento, consequências da consciência decorrentes do estágio de individualização e autoconsciência da morte. Elias (2001) aborda inda, que morrer pode ser dolorido, para os moribundos, os familiares, conhecidos, enfim as pessoas que ficam, mas a solidão e distanciamentos em relação a eles podem e devem ser mudados. Sentimentos, amizades, afetos, carinhos, conquistas realizadas, são elementos que certamente podem ajudar a diminuir a dor, ao menos durante o processo de morrer do ser humano. O autor aponta neste sentido que a morte é simples, é deixar de viver, é o fim de uma pessoa, mas pode ser terrível se não houver mudanças nesse estágio da sociedade, principalmente para aqueles que ficam e durante o processo dos moribundos que se vão. Elias (2001) por fim destaca o isolamento é uma constante, demonstrando que nunca se morreu tão higienicamente e silenciosamente como nos dias atuais, condições essas, advindas das sociedades industriais em que morrer tornou-se um ato de 3 De acordo com Elias (2009) seres funcionais é o domínio dos códigos que regem uma determinada sociedade. São os processos de aquisição dos conhecimentos construídos socialmente necessários para a sobrevivência do ser humano, perpassados ao longo dos processos de maturação da espécie, no qual homem deve aprender para tornar-se um funcional/habilitado para a vida na sociedade que compõe. 7 constrangimento, passando a ficar destinado aos bastidores da vida como momentos que devem ser ofuscados. Os mortos conforme o autor, passam a existir por meio da memória dos vivos, no presente e futuro. Tendo que um dos medos em relação a morte é a perda e destruição das conquistas alcançadas pelos moribundos ao longo da vida que consideram significativas. Para Elias (2001, p. 41) “[...] a única maneira pela qual uma pessoa morta vive é na memória dos vivos”. Assim, quando as recordações, as lembranças, os saberes criados, são rompidos, sem uma continuidade da sociedade humana, pode se colocar tudo até então conquistado em perigo, as relações neste sentido devem ser entendidas como relações de interdependência. Uma das funções sociais dos mais velhos, ou dos moribundos assim, é lembrar. O segundo elemento que abordaremos mais detalhadamente. Para Bosi (1994) os mais velhos possuem como uma espécie de obrigação que não existe em outras gerações, de lembrar e lembrar bem. A velhice é entendida por pela a autora coma uma categoria social, construída de forma diferente conforme as especificidades de cada sociedade. Desta que: Além de ser um destino do indivíduo, a velhice é uma categoria social. Tem um estatuto contingente, pois cada sociedade vive de forma diferente o declínio biológico do homem. A sociedade industrial é maléfica para a velhice. (Bosi, 1994, p.77) Na velhice as mulheres e os homens não são valorizados, de acordo com a autora, pois não são mais produtivos. A sua sobrevivência está comprometida, já que deixam de ter a força do trabalho. Os mais velhos passam a ser tutelados como um menor, as relações de dependência aumentam em relações aos mais jovens. O que podemos pensar a partir de Elias e Scotson (2000) como sendo configurações de interdependência, ou mesmo que em determinados momentos da vida e da sociedade, é bem provável que na velhice as pessoas estabelecidas tornem-se outsiders4 e/ou vice versa, no qual as relações de poder 4 O termo Outsiders conforme Elias e Scotson (2000) é denominação relacionada as pessoas que não compõe determinado grupo e/ou lugar, os que são de “fora”. Este trabalho foi realizado em uma comunidade pequena, que tinha por objetivo compreender as relações de poder existentes entre moradores “antigos” e os “novos”, bem como os mecanismos criados para perpetuação destas interdependências de poder entre os indivíduos, e os elementos criados diariamente como instrumentos de punição aos desviantes das condutas e nas relações predeterminadas nesta comunidade. 8 tornem tênues e/ou conflitantes. O poder presente na balança torna-se por assim disser, mais visíveis ao grupo. Um dos mecanismos de poder, dos mais velhos em relação as outras gerações seria a memória. Bosi (1994) relata que as lembranças são construídas a partir das representações sobre determinados fatos, experiências a partir da consciência atual. Sobre a importância da memória e do papel das pessoas mais velhas, Bosi (1994, p. 82) relata que a partir dela: Um mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que não conhecemos pode chegar-nos pela memória dos velhos. Momentos desse mundo perdido podem ser compreendidos por quem não viveu e até humanizar o presente. A conversa evocativa de um velho é sempre uma experiência profunda: repassada de nostalgia, revolta, resignificação pelo desfiguramento das paisagens caras, pela desaparição de entes amados, é semelhante a uma obra de arte. Para quem sabe ouvi-la, é desalineadora, pois contrasta a riqueza e a potencialidade do homem criador de cultura com a mísera figura do consumidor atual. Neste sentido Bosi (1994) afirma que memória são as lembranças, fatos vivenciados, que poderiam ter acontecidos ou não, ela não é estática, pronta, acabada, apenas narrações. A memória constitui-se em possibilidades construídas coletivamente e a partir de fatores pessoais, no qual as pessoas mais velhas são prioritariamente uma das principais propagadoras, mas que vem perdendo gradativamente o papel, tendo que as sociedades não se dispõem a ouvi-los. Halbwachs (1990) relata ainda que a memória constitui-se em uma construção histórica, as pessoas mais velhas são ainda essencialmente os detentores de saberes, conhecimentos e experiências. A valorização dos mais velhos é um processo, conforme averiguamos anteriormente em constante mudança. Tendo que os velhos e velhas não são narradores ou contadores de histórias natos. Conforme Montenegro (2001) é um elemento que algumas pessoas possuem e outras não. Assim, o autor destaca que não é preciso quem uma pessoa idosa tenha vivido inúmeras acontecimentos para ser um narrador. Neste sentido Montenegro (2001, p. 152) relata que: A capacidade de narrar uma história, um fato, uma experiência ou mesmo um sentimento está associada a dois fatores: por um lado, á descrição dos detalhes dos elementos que são projetados, de forma tão rica que se assemelham a um quadro que vai sendo redesenhado ás nossas vistas; por outro, á capacidade de recuperar o lado imaginário do que era vivenciado individual e coletivamente em relação ao acontecimento narrado. 9 Na dissertação assim, buscaremos compreender as concepções de professoras idosas aposentadas por meio de suas memórias sobre as percepções de suas infâncias, tendo que cada sociedade em determinados estágios atribuem formas de tratamento e significados aos mais velhos, bem como suas funções sociais. Para finalizar cabe-nos, registrar alguns questionamentos necessários que devem ser melhores contemplados nas pesquisas, tais como: Qual tem sido o papel das idosas e/ou idosos hoje? Existem meios que buscam valoriza-las/os? Como têm sido compreendidos os mais velhos atualmente? A solidão e o isolamento ainda estão presentes neste estágio da vida? São perguntas que devem ser feitas, e dentro do possível, devemos refletir sobre as implicações em nossa sociedade, mas podemos ter diversas formas de leitura a partir das contribuições advindas dos escritos de Norbert Elias, está é apenas uma delas. Finalizamos neste sentido, com o Poema de Natal de Vinicius de Moraes (1960): Para isso fomos feitos: Para lembrar e ser lembrados Para chorar e fazer chorar Para enterrar os nossos mortos — Por isso temos braços longos para os adeuses Mãos para colher o que foi dado Dedos para cavar a terra. Assim será nossa vida: Uma tarde sempre a esquecer Uma estrela a se apagar na treva Um caminho entre dois túmulos — Por isso precisamos velar Falar baixo, pisar leve, ver A noite dormir em silêncio. Não há muito o que dizer: Uma canção sobre um berço Um verso, talvez de amor Uma prece por quem se vai — Mas que essa hora não esqueça E por ela os nossos corações Se deixem, graves e simples. Pois para isso fomos feitos: Para a esperança no milagre Para a participação da poesia Para ver a face da morte — De repente nunca mais esperaremos... Hoje a noite é jovem; da morte, apenas Nascemos, imensamente. 10 Que possamos valorizar as pessoas mais velhas, seus saberes e também seus fazeres, tendo que criamos e recriamos diariamente as formas de tratamento, participamos ativamente na construção desse estágio na sociedade. Que possamos ouvilos assim como respeita-los nesta etapa da vida. Referências BOSI, Ecléia. Memória e sociedade: lembranças de velhos. das Letras, 1994. São Paulo: Companhia BRASIL, Estatuto do Idoso. PAIM, Paulo (org.), Brasília: Senado Federal Subsecretaria de Edições Técnicas, 2003. Disponível em: http://www.assufba.org.br/legis/estatuto_idoso.pdf. 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Poema extraído do livro "Antologia Poética", Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1960, p.147. Acesso em: 18 out. 2012. Endereço: Dourados/MS. Rua São João, Bairro: Vila Vieira, nº 540, CEP: 79.840-190.