Boletim Informativo das Pesquisas do Projeto Paleotocas Número 22 – Junho de 2012 Site: www.ufrgs.br/paleotocas Responsável: Prof. Heinrich Frank Contato: [email protected] EDITORIAL Distribuição Dirigida Fone: 51.30320382 Trabalhos Científicos Estamos nos aproximando do inverno, No dia 19 de abril pp, no decorrer da uma época em que o trabalho com paleotocas Mostra Científica da Reunião Acadêmica da fica quase impossível. As baixas temperaturas Biologia da Unisinos (RABU 2012), o Projeto e principalmente o grande volume de chuvas Paleotocas apresentou o trabalho “Possíveis tornam o trabalho muito difícil. Como sempre Escavadores corre o Hamburgo, RS”. O trabalho demonstra que equipamento fica embarrado e danificado, em um único sistema de túneis em Novo sem dos Hamburgo existem túneis com 5 larguras pesquisadores. Vamos aguardar o quanto o originais diferentes, de 63 a 110 cm, um fato inverno vai nos deixar trabalhar. novo que implica em várias interpretações água falar dentro do das estado paleotocas, das roupas de Paleotocas de Novo diferentes. Paleotocas na BAND - SC O Projeto Paleotocas participou de No final de maio pp, outro trabalho científico do Projeto Paleotocas foi uma gravação sobre paleotocas em Santa apresentado nas XXVI Jornadas Argentinas Catarina, na região de Timbé do Sul. A de Paleontologia de Vertebrados, em Buenos iniciativa foi do Programa “Nossa Terra, Aires. O trabalho apresenta a morfologia Nossa Gente”. Ali, visitamos a paleotoca interna das paleotocas, que normalmente conhecida como “Toca do Tatu”. Os 3 vídeos formam uma seqüência de câmaras alinhadas, correspondentes aos 3 blocos do programa como uma fila de ovos deitados. estão disponíveis no site do YouTube: http://www.youtube.com/watch?v=jHShHWInAAc http://www.youtube.com/watch?v=58CJWdo8g5U http://www.youtube.com/watch?v=26_-exvsatQ Os dois trabalhos estão disponíveis para leitura e download no endereço www.ufrgs.br/paleotocas/Producao.htm A Gruta do Parque da Gruta em Santa Cruz do Sul - RS A grande surpresa nestes últimos dois meses foi a Gruta da cidade de Santa Cruz do Sul, que vamos apresentar abaixo. Localiza-se no Parque da Gruta, que contém uma série de atrações em seus 17 hectares. Fomos olhar a Gruta porque aprendemos, nestes últimos anos, que paleotocas podem ser enormes, nem sempre são túneis apertados e baixinhos. Entrada da gruta. Está localizada no alto de um morrinho, a menos de 100 metros do arroio (hoje com barragens e tal), mas pelo menos 20 metros mais alto que o arroio que passa perto. A entrada da Gruta vista de dentro. A Gruta é muito visitada, com dezenas de pessoas entrando durante um final de semana. E aqui na entrada a Gruta realmente apenas é uma caverna com muitas feições de desabamento nas paredes. A gente vê onde despencaram blocos de rocha ao longo dos anos. Quando chove, a água infiltra, forma poças dentro da Gruta e inclusive corre para fora. O sulco que a água fez no chão pode ser visto no piso, serpenteando para fora da Gruta. A Gruta tem uma forma de P, você entra pelo topo do P: A “perna do P” tem 30 metros de comprimento. A “barriga do P” tem 21 metros de comprimento. Esta é uma imagem da “barriga do P”. A Gruta tem iluminação, com várias luminárias. E esta parte continua com teto e paredes desabadas. Mas há um fato intrigante: como se forma um buraco com estas dimensões em uma rocha arenítica? Só se tiver um arroio passando por dentro do morro, que não é o caso. Não há fendas no teto, não tem água entrando, nada. Todas as paredes estão cheias de nomes e datas riscadas pelos visitantes. Isso tem apenas um nome: VANDALISMO Em cavernas só se deixa pegadas, só se tira fotografias; cavernas devem ser protegidas. É um sinal de burrice riscar as paredes. Nas paredes da Gruta é possível distinguir três camadas diferentes: a inferior, mais antiga, que em muitos pontos é completamente lisa, que pode ser visto na base da imagem acima. Atrás dela há uma superfície de arenito revestida por uma capa preta de óxidos e hidróxidos de manganês. Atrás desta, no topo da imagem, há a rocha que forma o morro. Esta rocha é um arenito, chamado de Formação Botucatu na Geologia. Há mais de 135 milhões de anos atrás, esta rocha era uma duna de areia em um deserto. E dunas têm cavernas? Claro que não. Portanto a Gruta não é natural. Antigamente se comentava em Santa Cruz do Sul que a Gruta tinha sido escavada e habitada por índios. Entretanto, como não foi encontrado nenhum artefato indígena dentro da Gruta, a versão atual é que a Gruta foi formada por erosão fluvial/pluvial: “A gruta lá existente é de origem natural, resultante de um processo de erosão. Não foi encontrado dentro da Gruta vestígios da presença de indígenas. Os vestígios de indígenas foram encontrados nos arredores da Gruta.” É o que consta no sítio da Prefeitura na internet, no seguinte endereço: http://www.santacruz.rs.gov.br/index.php?acao=areas&areas_id=19&acao2=conteudo&menus_site_id=266 Realmente, os índios que habitam o Brasil nunca tiveram nem motivos nem ferramentas adequadas para cavar cavernas e túneis. Uma rocha resistente como o arenito Botucatu só pode ser escavado com ferramentas metálicas. E os índios não conheciam metais. Os índios foram conhecer o ferro apenas quando chegaram ao Brasil os Jesuítas, que ensinaram aos índios de que é possível obter ferro a partir da pedra-cupim, usando uma antiga técnica de fundição de ferro empregada na Europa há mais de 2.000 anos. Em um único ponto da Gruta nós achamos nas paredes o que suspeitávamos: longos sulcos, predominantemente verticais, com vários centímetros de largura. E, abaixo deles, superfícies originais, antigas, extremamente lisas, alisadas. Isso nós já vimos na paleotoca de Boqueirão do Leão, um megatúnel escavado por preguiças gigantes e usado por muito tempo. De tanto os bichos se esfregarem nas paredes, elas se tornaram lisas. Apenas nas partes mais altas, algumas marcas de garra se preservaram. Esta imagem é do final da “perna do P”. A porção mais profunda e mais preservada da Gruta. Observa-se com facilidade que são três câmaras sucessivas de formato elíptico, com 5 a 7 metros de largura e 1,5 metros de altura. Isso não é obra nem da água nem dos índios: isso é um dormitório de um grupo de preguiças gigantes. As dimensões e a forma são muito típicas. A última câmara termina como rua sem saída, não há entrada de água, as paredes são lisas (com exceção do teto pouco desabado). Tem largura de 3,50 m, altura de 1,5 m e profundidade de 3,2 m. Considerando as 15 maneiras diferentes de formar uma caverna (leia mais em http://www.ufrgs.br/paleotocas/Origem.htm) é extremamente provável que a Gruta foi um abrigo subterrâneo escavado e habitado por grupos de preguiças gigantes há mais de 10.000 anos atrás. Reconstruindo a Gruta como era originalmente, podemos imaginar algo assim: Preguiças gigantes, animais com mais de 800 quilos de peso, habitando a paleotoca que hoje é a Gruta de Santa Cruz do Sul. Glossotherium robustum, desenho de Renato Lopes. Obrigado pela leitura.