ID: 48802862
17-07-2013
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Pág: 2
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 17,06 x 26,26 cm²
Âmbito: Informação Geral
Corte: 1 de 3
Saúde
Portugal perdeu 350 milhões de euros com
emigração de enfermeiros
Reino Unido é o principal destino dos enfermeiros portugueses que decidem emigrar. “Estes
países estão a receber mão-de-obra qualificada, na qual não tiveram de investir nada na sua
formação”, diz o vice-presidente da Ordem dos Enfermeiros. “Oferecemos de mão beijada
a alguns países da Europa um milhão e quatrocentos mil euros”, diz coordenador do curso
no Porto.
Pelo menos cinco mil jovens enfermeiros
saíram do país à procura de trabalho nos
últimos três anos e meio. Durante o mesmo
período, o Estado investiu mais de 350 milhões de euros na formação desses profissionais, que agora estão a ser exportados
para hospitais estrangeiros, a custo zero.
Os dados são da Ordem dos Enfermeiros,
com base no número de profissionais que
pediram a Declaração das Directivas Comunitárias, documento necessário para exercer a profissão na União Europeia (UE).
Os números são apenas relativos à emigração para outros países da UE, uma vez
que a Ordem não tem maneira de contar a
saída de profissionais para fora do espaço
europeu.
O Reino Unido é o principal destino. “Estes
países estão a receber mão-de-obra qualificada e na
qual não tiveram de investir nada na sua formação”,
afirma o vice-presidente da Ordem dos Enfermeiros,
Bruno Noronha.
“Os portugueses investiram através dos seus impostos,
num activo de futuro que nunca vão ter, porque quando está apto para trabalhar emigra”, sustenta.
E o investimento feito pelo Estado português na formação dos profissionais de enfermagem é grande. Desde o
primeiro ciclo até ao final da licenciatura, cada aluno
custou mais de 66 mil euros.
”Estamos a investir, com o dinheiro dos nossos impostos, em formação de alta qualidade que oferecemos a
outros países que supostamente terão mais possibilidades do que nós para fazer essa formação”, lamenta o
coordenador da Licenciatura em Enfermagem da Escola Superior de Enfermagem do Porto, Luís Carvalho.
“Se nós dissermos que cada estudante custa 20 mil euros e que, dos que terminaram o curso em Julho do ano
passado, emigraram à volta de 70, estamos a dizer que
oferecemos de mão beijada a alguns países da Europa
um milhão e quatrocentos mil euros. E este é o dado
da nossa escola”, acrescenta.
Mas é a emigração que permite que as estatísticas de
empregabilidade na área ainda sejam positivas. “Os
dados que temos apontam para uma empregabilidade
de 50% dos estudantes. Cerca de 50% destes que estão
a trabalhar estão no estrangeiro, sobretudo em Inglaterra e França”, afirma Luís Carvalho.
A opinião dos estudantes
A emigração dos enfermeiros é uma temática presente
nos média e nas conversas de café há algum tempo.
DR
» Marília Freitas
Candidaturas ao Superior via
Internet arrancam hoje
As inscrições para a primeira fase de candidatura de
acesso ao Ensino Superior começaram hoje, com menos
837 vagas do que no ano passado, mas também com menos alunos a concorrer.
É através da plataforma da Direcção Geral do Ensino Superior que os alunos se candidatam para ocupar um dos
51.461 lugares dos 1.087 cursos disponibilizados pelas
universidades e politécnicos.
As vagas baixam assim pelo segundo ano consecutivo,
estando agora disponíveis menos 837 do que no ano passado, altura em que sobraram 8.547 lugares.
Os representantes dos reitores das universidade e presidentes dos politécnicos acreditam que, este ano, o número de vagas sobrantes possa vir a ser igualado ou até
superado, tendo em conta que o número de candidatos
também tem vindo a diminuir: em 2009 eram cerca de
60 mil candidatos, enquanto no ano passado foram apenas 53 mil.
As informações sobre o número de vagas que cada curso
oferece está também disponível no site, onde é possível
pesquisar por todas as instituições públicas, mas também privadas.
Segundo o Ministério da Educação e Ciência, as instituições procederam a uma reorientação da oferta na
fixação de vagas, tendo em consideração a procura, a
empregabilidade e as áreas de formação, segundo regras definidas pela tutela.
A primeira fase de candidatura termina a 9 de Agosto e
os resultados vão ser conhecidos um mês depois, a 9 de
Setembro.
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17-07-2013
Mas o que pensam os jovens que estudam enfermagem?
“Estou mesmo com a perspectiva de ir embora”, confessa Mafalda. A frequentar o terceiro ano da licenciatura em enfermagem, já não põe a hipótese de procurar trabalho em Portugal.
“O meu objectivo é mesmo ir para fora. Se me chamarem para a China, eu vou para China. Se me chamarem
para o Brasil, vou para o Brasil, para as favelas, para
onde for preciso. Porque é isto que eu amo e é isto que
eu quero fazer”, conta com entusiasmo.
Vanessa é finalista e, apesar de querer tentar uma
oportunidade de trabalhar perto de casa e da família,
admite que é mais por “descargo de consciência” e
que a possibilidade de emigrar “está na cabeça”.
O sentimento é comum à maioria dos seus colegas finalistas. “Se não conseguirmos cá, ou se conseguirmos
cá e não for aquilo que ambicionámos, vamos fazer
malas e prestar cuidados noutro sítio”, afirma.
“Se lá fora somos um dos licenciados mais procurados, por alguma razão será. É porque ainda há muito
emprego e porque ainda nos querem. Por isso, porque
não ir embora?”, questiona.
Encontrámos Mafalda e Marta na Escola Superior de
Enfermagem do Porto (ESEP). Paulo também lá estava, nas aulas de mestrado que lhe ocupam o tempo
demasiado livre. Acabou a licenciatura há um ano e
agora presta cuidados ao domicílio por conta própria.
“São apenas trabalhos esporádicos”, lamenta. No último ano enviou currículos para todo o país, mas “a
resposta foi sempre a mesma”. “Grande parte dos
concursos pedem experiência na área, mas se nunca
tivemos acesso ao mercado de trabalho, não temos
hipótese”, conta.
Desanimado e “a ver o futuro adiado”, Paulo entrou
em contacto com uma empresa de recrutamento e
está prestes fazer as malas para o Canadá.
“Frustração? Sim, porque vejo tanta coisa que é preciso fazer e eu sei que vou fazer esse trabalho fora”,
desabafa.
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Âmbito: Informação Geral
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Emigração é solução inevitável
Tanto para os licenciados, como para aqueles que ainda estão a tirar o curso, a emigração parece ser uma
solução inevitável. “Muitos alunos dizem-me: ‘professor, entre vir de Lisboa para o Porto ou de Londres para
o Porto, o tempo é mais ou menos o mesmo e é mais
barato”, afirma Luís Carvalho, coordenador da licenciatura na ESEP.
Vanessa está a seguir esse caminho. Também passou
pela ESEP, onde acabou a licenciatura em 2011. “No
primeiro ano pensámos: ‘com os outros foi assim, mas
comigo vai ser diferente’. No final do quarto ano é que
começamos a ver que a nossa saída vai ser emigrar”.
Até agora, tudo o que conseguiu foi um part-time precário numa clínica. A ganhar pouco mais de 100 euros
por mês, que “mal chegam para pagar a gasolina”, decidiu tentar a sorte em Inglaterra.
Encontramo-la precisamente numa sessão de recrutamento para um hospital público nos arredores de Londres. É lá que trabalha Nélson, há cerca de um ano.
Veio com a equipa do hospital para facilitar a comunicação com os candidatos portugueses e relatar a própria experiência em Inglaterra. “O salário lá aproximase dos dois mil euros. Os turnos extra, que existem com
frequência, são pagos a cerca de 200 euros por dia.
Portanto, facilmente se consegue no mínimo o dobro
do que se ganha aqui.” Em menos e um ano, já lhe
“falam em concorrer para cargos de gestão”. “Em Portugal, isto é completamente impensável”, admite.
Apesar das melhores condições que encontrou em Inglaterra, a apenas duas horas da terra natal, Nélson
admite que “ser obrigado a emigrar é frustrante”. “É
quase um castrar de oportunidade, é dizer-nos ‘este
país já não é bom para ti, vai-te embora’. É extremamente frustrante perceber que todo o dinheiro que o
Estado gasta a formar profissionais é totalmente desperdiçado e não permitem que ninguém sonhe sequer
em construir uma família no país em que nasceu.”
Reportagem vídeo em rr.sapo.pt
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Portugal “oferece” enfermeiros
recém-formados à Europa
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Portugal perdeu 350 milhões de euros com emigração de enfermeiros