FA C U LD AD E SETE D E SET EM B R O – FA SETE
C U R SO D E LIC ENC IA TU RA EM LETR A S – H AB ILITAÇÃ O
PO R TU GU ÊS E IN G LÊS
U IA RA DA N TA S D E A LENC AR
LITER A LM EN TE VIN IC IU S D E M O RA ES: O R O M AN TISM O N O S
SO N ETO S
PA U LO A FON SO – B A
2013
U IA RA DA N TA S D E A LENC AR
LITER A LM EN TE VIN IC IU S D E M O RA ES: O R O M AN TISM O N O S
SO N ETO S
Trabalho apresentado à Faculdade Sete de Setembro
como requisito para a conclusão do Curso de Letras,
com habilitação Português/Inglês, sob a orientação da
Profª Msc. Cecília Maria Bezerra de O liveira.
PA U LO A FON SO – B A
2013
Dedico este trabalho, de modo especial, a meus
pais meus grandes incentivadores da boa leitura na
minha vida, onde sempre convivi com boa música e
boa leitura. Meus primeiros modelos.
Espero me fazer digna da lição de destemor e amor
á vida que ambos me legaram.
A G RA D EC IM EN TO S
Primeiramente agradeço a Deus, pois sem ele não teria conseguido chega r até aqui,
aliás, foi ele que me deu forças para eu conseguir atravessar todo o período da
minha formação acadêmica que por sinal foi conquistada diante de muitos
obstáculos e esforços, a todos que me ajudaram na realização do meu sonho,
principalmente a meus pais João Bosco de Alencar e Geraldina D antas de Alencar
onde sempre tiveram dispostos a me ajudar em qua lquer situação que me dispus,
Aos meus irmãos José Armando Dantas (in memorian), que se tivesse aqui com
certeza estaria vibrando por esse momento tão especial na minha vida. A Damião,
W endel e Rafaela que sempre torceram por mim, me apoiaram e aconselharam.
M eus sobrinhos lindos que tanto amo, são eles: Armando Henrique, Kaio Vinicius,
Gabriel, que tiveram que abrir mão do computador enquanto eu digitava.
Um carinho especial para minha tia mãe neném, uma das primeiras que acreditou
em mim, nunca vou esquecer o apoio que me deu durante tanto tempo . Meus tios e
tias. Enfim primos e primas que sempre torceram por mim.
M uito grata também ao professor Luiz José, coordenador do curso de Letras da
Faculdade Sete de Setembro – FASETE, que me apoiou na escolha do tema desse
trabalho monográfico me dando diretrizes para a realização de tal feito.
A minha orientadora Maria Cecília que sempre me ajudou nas pesquisas dando
orientações de como deveria ser construído esse projeto de pesquisa , além de me
incentivar e apoiar relevantemente para a apresentação da minha monografia.
Enfim, a todos que eu guardo no coração que não acompanharam minha jornada
mais auxiliaram em diversos momentos para que eu tiv esse êxito pessoal.
U iara D antas de Alencar
R ESU M O
Este trabalho analisa os sonetos de composições do poeta Vinicius de Moraes, com
o principal objetivo de mostrar o romantismo em suas três fases na obra poética do
referido poeta, reconhecendo as suas características marcantes n o que diz respeito
ao amor, estado natural do poeta em questão. Também faremos um breve passeio
na sua vida onde também Vinicius de Moraes fez história na música popular
brasileira com o nascimento da ‘’Bossa Nova ”. Sua paixão e amor pela vida deu uma
boa dose de contribuição para o sucesso da Bossa Nova. No último capítulo da
pesquisa observou -se que o romantismo presente em Vinicius de Moraes realmente
ousou viver sob a influência do amor. Ao final da pesquisa, como ele próprio se
definiu, cantou e escreveu o amor de todas as formas, sendo que todo ser humano
trata como o maior dos sentimentos.
Palavras Chave: Sonetos. Romantismo. M úsica. Amor. Vinicius de Moraes.
A B STR AC T
This work analyzis the sonnets of compositions of the poet Vinicius de Moraes, with
the main goal of showing the romance in their various aspects of his work,
recognizing their outstanding characteristics with regard to love, the natural state of
our poet in question also we'll take a brief tour in your life where Vinicius de Moraes
also made history in Brazilian popular music with the birth of ‘’Bossa Nova''. His
passion for life and the love he gave a good deal of contribution to the success of
Bossa Nova.No last chapter of the research showed that the ro manticism present in
Vinicius de Moraes really dared to live un der the influence of love the end of the
research, as he himself set, he sang and wrote love in all forms, and that every
human being is like the greatest feelings.
Keywords: Sonnets. Romanticism . Music. Love. Vinicius de Moraes
SU M Á R IO
IN TR OD UÇ A O .............................................................. ..........................07
1
VID A E O BR A D E VIN IC IU S D E M O RA ES......................................09
2
SO N ETO S E PO ESIA S: C O N SID ER AÇ Õ ES..................................13
2.1 SO N ETO ........................................................................................1 4
2.2 PO ESIA..........................................................................................16
3
A S C OR R EN TES LITÉR AR IA S FLU EN TES N O S SON ETO S D E
VIN IC IU S D E M OR A ES....................................................................21
3.1 TR O VAD O R ISM O .........................................................................21
3.2 H U M AN ISM O ................................................ ................................22
3.3 C LASSIC ISM O ..............................................................................24
3.4 BAR R O C O ........................................................................ .............25
3.5 AR C AD ISM O .................................................................................27
3.6 R O M AN TISM O ..............................................................................28
3.7 PAR N ASIAN ISM O .........................................................................29
3.8 SIM BO LISM O ................................................................................30
4
O R O MA N TISM O PR ESEN TE N O S SO N ETO S E PO ESIA S ........34
5
C O N SID ER AÇ Õ ES FIN A IS..............................................................40
6
R EFER ÊN C IA S.................................................................................41
7
IN TR OD UÇ Ã O
Esse trabalho objetiva relatar a vida do poeta e compositor Vinícius de Moraes, bem
como retratar a sua obra poética analisando alguns poemas e letras musicais
verificando a presença das características dos diversos períodos literários presentes
em toda sua obra poética .
Formado em direito e trabalhando muitos anos fora do Brasil nunca se desligou da
literatura. Vinicius de Moraes iniciou sua carreira na literatura seguindo correntes
neossimbolistas
espiritualizado
e
para
correntes
um
espiritualista s.
segundo
momento
Passando
de
de
sensualismo
um
momento
erótico. O
que
caracterizaria uma contradição entre o prazer da carne e a formaçã o religiosa.
Ao rejeitar a ideia da separação entre corpo e alma e ao buscar fundi -los numa única
esfera, o poeta converte -se no grande intérprete da modernidade amorosa brasileira.
A sua evolução humana e literária corresponde às mudanças que viri am a ocorrer no
país: o fim dos valores patriarcais nas relações afetivas, a destruição dos complexos
de culpa em relação ao corpo e ao sexo, a quebra do mito da eternidade dos
sentimentos (“... que seja eterno enquanto dure... ‘’)
Nesse trabalho de pesqu isa é preciso entender de que maneira mistério, amor,
erotismo, sensualidade e romantismo se inter-relacionam . A grande aventura de
Vinicius de Moraes foi deslocar o mistério do domínio do dogma espiritual para o
território humano o que o torna um grande p oeta por causa da sua percepção desse
lado tão escuro do homem e a coragem de enfrentá-lo.
Não é por acaso que V inicius de Moraes iniciou seu caminho de poeta pela
metafísica afora circunstancia determinante, foi formado por um colégio de padres,
ele parecia saber desde o início que o petiço está no instinto, com a sua sexualidade
bastante retraída e com esses medos ele apresenta na sua segunda fase o erotismo
e a sensualidade como traços marcantes dessa fase de sua vida.
8
Vinicius de Moraes teve a corage m que poucos poetas do seu tempo não tiveram
em falar de assuntos tão polêmicos na sua época. Prazer da carne, a mulher vista
como as damas da noite. Embora fosse uma realidade não eram vistas como se res
humanos que necessitavam de carinho, atenção e amor, sem o romantismo
idealizado por todo ser humano.
No primeiro capítulo desse trabalho faremos um breve histórico da vida e da obra de
Vinícius de Moraes. No segundo capítulo abordaremos sobre a estrutura dos
sonetos e poemas de Vinícius fazendo uma breve leitura analítica da sua obra na
perspectiva de identificar a presença marcante dos movimentos literários da época.
No terceiro capítulo analisaremos alguns sonetos e poesias, verificando a presença
do romantismo.
9
1 VID A E O BR A D E VIN IC IU S D E M O RA ES
Nesse primeiro capítulo pretenderemos tecer informações a respeito da biografia do
poeta Vinicius de Moraes onde o mesmo apresenta algumas faces , entre elas a mais
relevante em sua obra, a face rom ântica. A bordaremos a sua obra poética na
perspectiva de mostrar à tessitura e os traços que dão corpo e identidade as
composições poéticas do texto literário de Vinicius de Moraes.
Vinicius de Moraes n asceu na cidade do Rio de Janeiro, filho de uma família de
classe média intelectualizada e com gosto artística. Estudou com os jesuítas, no
Colégio Santo Inácio que lhe deixou fortes marcas religiosas. Na adolescência já
se interessava por música popular, compondo inclusive algumas canções.
Vinicius fez sua primeira comunhão em 1923 na igreja M atriz, também iniciou o
curso secundário no colégio Santo Inácio, participava do coral da igreja e fez
grandes amizades, Moacyr Cardoso de Oliveira e Renato Pompéia este sobrinho de
Raul Pompéia, com os quais escreveu um livro chamado Épico onde teve inspiração
nos acadêmicos. Em 1928, compõe Loura ou Morena e Canção da Noite que
alcança grande prestígio popular.
Em 1930 ingressou na Faculdade de Direito na qual se formaria em 1933. Foi colega
de figuras que, mais tarde, seriam importantes na política brasileira. Seu maior
amigo Octávio de Faria influenciou-o decisivamente, reforçando -lhe o pensamento
católico e direitista. Quando se forma em direito publica seu primeiro livro. Estreou
com O caminho para distância , editora Schimidt, obra filiada a uma poétic a mais
simbolista do que moderna. Quando conhece Manoel Bandeira e Carlos Drum m ond
de Andrade e tornam -se muito amigos. E m 1936, publica o poema’’Ariana, a mulher’’
e assim foi censurado.
Em 1938, foi agraciado com uma bolsa do Conselho Britânico para est udar língua e
literatura inglesa em Oxford. A estadia na Europa foi de curta duração dada à
eclosão da II Guerra Mundial. De volta ao Brasil, acompanhou (1942) o escritor
10
marxista norte-americano W aldo Frank em uma longa viagem pelo Norte e pelo
Nordeste, onde constatou a miséria e a indiferença das elites pela pobreza de seu
povo. Em função desse contato direto com a realidade brasileira, suas ide ias até
certo ponto reacionárias foram substituídas por uma visão de mundo progressista.
Em 1940, em São Paulo, nasceu sua primeira filha Suzana fruto do relacionamento
com Beatriz Azevedo de Mello,onde conheceu no programa brasileiro da BBC que
trabalhava, tornando-se amigo de Augusto Frederico Schimidt e Jayme Ovalle
Saiu da Inglaterra por causa da segunda gu erra mundial indo morar em Lisboa onde
encontrou seu amigo Oswald de Andrade e volta para o Brasil juntos. Segundo
Castello:
Vinicius e Tati estão de volta para o Brasil. Continuam mantendo
contato com casal Oswald de Andrade. O poeta se encanta com
Tati(Beatriz)e a enche de gentilezas.Ao lhe dar,um dia,o exemplar de
luxo 247 da edição limitada em 199 exemplares de seu Primeiro
caderno de poesia,de 1929,O swald de Andrade,com seu gosto pelo
chiste e pelos jogos de palavras,autografa:’’Pra ti,Tati,ta!’’. (1 997:
p.110)
Em 1943 ingressou na carreira diplomática. Nos anos seguintes, serviu em várias
cidades do exterior, sem jamais perder suas ligações com o país, faz mais
publicações em 1944, é as Cinco Elegias, mandada fazer por Manoel Bandeira,
Anibal Machado e Otávio de Faria.
Quando em 1945, sofre um acidente de avião e passa cinco anos em Los Angeles
como vice-cônsul, pública em edição luxo Poemas, Sonetos e Baladas. João Cabral
de Melo em Barcelona em edição de cinquenta exemplares o poema ‘’Pátria Minha’’.
Produz em 1954, quando estava em Paris e onde conheceu seu traduto r francês
Jean Georges Ruell com quem trabalhou na tradução do seu livro Cinco Elegias
nasce seu novo livro Antologia Poética, a revista Anhembi pública sua peça Orfeu da
Conceição, m erecida mente premiada no concurso de teatro d e IV centenário do
estado de São Paulo.
11
Vinicius de Moraes retorna ao Brasil para produzir seu filme trabalhando junto no
roteiro com o maestro Cláudio Santoro, Orfeu Negro e na peça Orfe u da Conceição.
No ano de 1955 participou do grupo fundador da Bossa Nova ao lado de Tom Jobim,
João Gilberto e outros. A partir de então a música popular ocuparia cada vez mais
espaço no seu trabalho de criação e publica a primeira edição de seu Livro de
Sonetos, também com edição em Portugal. Casou pela terceira vez com Maria Lúcia
Proença, lançou o disco Canção do Amor Demais, as músicas de maiores sucessos
são frutos de sua ligação com Tom Jobim e Badem Powell e Carlos Lyra foram
Chega de Saudade, Berimbau e Canção de Ossanha , Podre menina rica, Garota de
Ipanema, Samba da benção, Au bom Gourmet. Quando casa sua filha Suzana lança
Novos Poemas II.
Durante as décadas de 1960 e 1970 – no embalo do crescimento da indústria
cultural que se espalhava por todo o país – o nome de Vinícius, sobremodo junto ao
público jovem, tornou -se uma espécie ícone da liberação amorosa e da qualificação
poética da canção popular.
Segundo Carlos D rum m ond de Andrade, Vinicius de Moraes foi o único brasileiro
que ousou viver sob o signo da paixão. E também um dia confessou; “eu queria ter
sido Vinicius de Moraes”. Viveu e amou seus amo res por assim dizer de maneira
ímpar, ilimitada sabendo quais das suas nove mulheres era seu grande amor.
Em 1964 faz show de grande sucesso ao lado de Dorival Caymmi seu grande amigo
lançando assim o Quarteto e Cy, desse show ele lança um LP na sua primeira
edição chamado “para viver um grande amor’’ do seu livro de crônicas e poemas.
Mas o seu romantismo ressalta o mistério dos seus amores e causa comentários a
respeito. Castello afirma que: “Ex – ou futuras mulheres de Vinicius de terminarão
por reconhecer, mais tarde, que Lucinda Proença foi, de fato, seu grande amor”. A
prova talvez esteja-nos próprios escritos de Vinicius de Moraes. (1997, p.233)
De acordo com a citação do autor sobre a obra d e Vinicius de Moraes e toda sua
trajetória podemos concordar com essa citação, poemas e a opinião de suas
12
declarações feitas a Lucinha ele a vê como sua musa inspiradora e amor
imortalizado que carrega até o último dia de sua existência.
Seu romantismo presente nos seus poemas, sonetos e música com a revolução
musical no Brasil lhe renderam um primeiro e segundo prêmio no festival de música
popular em São Paulo feita pela TV Record, suas parcerias com Edu Lobo e Baden
Powell. Logo mais partiu para Paris e foi escrever o roteiro do seu filme “Arrastão”
com temperamento forte que tinha, discutiu com o seu diretor e tirou sua música do
então roteiro do filme. Voa de Paris para Los Angeles com interesse de se encontrar
antes de voltar ao Rio de Janeiro com seu p arceiro e amigo Tom Jobim para juntos
trabalhar no roteiro do filme Garota de Ipanema.
Como o romantismo de Vinicius de Moraes estava em alta e ainda está, em 1966 foi
homenageado pelas redes de televisões internacionais, e ntre elas, Americanas,
Alemã, Italiana e Francesa sobre sua vida. Aproveitando esse momento tão especial
de sua vida lança seu livro de crônicas “Para uma menina com uma flor, Samba de
Benção”.
Depois que sua mãe falece por volta de 1969, é exonerado do Itamarati. Passaram se dois anos conhece a linda baiana por quem se apaixona e encanta -se por Gesse
Gessy e casa-se pela sétima vez, com quem tem uma filha chamada Maria. Nesse
mesmo período começa uma parceria com seu amigo Toquinho. Depois de mudar
para B ahia em 1971 e passar alguns dias a trabalho pela Itália e grava seu disco na
companhia de seu amigo Toquinho “Per vivere um grande amoré ”.
Quando faz uma turnê pela Europa Vinicius se casa em 1975 pela oitava vez com
Marta Rodrigues e faz parceria na letra Deus lhe pague, com Edu lobo.
Vinicius de Moraes morre no dia 09 de junho junto de sua nona e última
companheira e seu fiel escoteiro parceiro de longas datas Toquinho. O Brasil perde
o seu poeta que viveu inte nsamente sobe o signo da paixão, romântico como
sempre sabia que o sofrimento era apenas uma pausa para a felicidade e como ele
mesmo fala, numa de suas letras de músicas, ninguém consegue ser feliz sozinho.
13
2 SO N ETO S E PO ESIA S: C O N SID ER AÇ Õ ES
Como já falado no trabalho, a pretensão é observar nas obras de Vinicius de Moraes
o gosto belo pelo soneto e pela poesia. O escritor que sempre apre sentou uma forte
tendência íntima ao derramamento verbal, ao verso longo e excessivo, Vinícius de
Moraes obtém seus melhores resultados quando esta falação i ncontida é podada
pela rigidez formal do soneto e pelo enquadramento da letra nos limites de uma
melodia.
Aliás, a regeneração do soneto, depois das arremetidas libertárias de 1922, deve -se
a ele. Como nenhum outro lírico moderno, soube explorar as possi bilidades de
junção do espírito do nosso tempo com uma antiga forma fixa de versificação que
parecia relegada ao esquecimento. Este sabor simultaneamente contemporâneo e
arcaico de seus sonetos e o caráter recitativo dos mesmos, oriundo tanto dos versos
alexandrinos quanto da musicalidade inata da linguagem do poeta explica -lhes o
sucesso.
De acordo com Alfredo Bosi:
“Vinicius de Moraes será talvez, depois de Bandeira, o mais intenso e
poeta erótico da poesia brasileira moderna”. Alguns de seus sonetos
deram vida nova à antiga forma e povoaram de ecos camonianos
(referindo-se a camões) o estilo de não poucos jovens estreados
depois da guerra.” (1994, p.459)
Seguindo a linha de pensamento de Alfredo Bos i que o ‘’poetinha’’ falava das
diversas faces do amo r e erotismo de forma moderna, contemporânea a frente do
seu tempo. Ousou com sonetos esquecidos de outrora de forma criativa e romântica.
Era quase inadmissível a sua época, mais como ousou viver a frente do seu tempo
com segmentos outrora esquecidos,sone tos.
14
2.1 SONETO
Afrânio Coutinho afirma que:
“... as experiências formais se fazem numerosas – no soneto, no
verso curto, no redondilho, no decassílabo, até no alexandrino – e
evapora-se o tom merencório, a dicção etereamente grave da
Primeira Fase, para dar lugar a uma expressão colorida com os
sestros do local, do transitório, do compactuante com a realidade em
torno”. (1992, p. 152)
O soneto é um poema lírico composto na maioria das vezes de catorze versos
distribuídos em dois quartetos e dois tercetos, obedecendo a regras restritas quanto
à disposição das rimas. Sua forma regular, simétrica e restritiva favorece a precisão,
a concisão. Por causa da forma restritiv a, a ideia faz-se mais intensa, ela impede o
poeta de ceder às liberdades do lirismo. A rima e o movimento das estrofes
permitem jogos de antíteses e de metáforas que exprimem as tensões – a
complexidade da vida interior do poeta. O soneto é então caracterizado por uma
forte coerência interna. Em outras palavras, ele permite uma co ncordância perfeita
entre forma e conteúdo.
A estrutura básica do soneto é geralmente composta por dois quartetos e dois
tercetos com métrica, devendo possuir em cada verso o mesmo número de sílabas
poéticas e rima Outra característica importante de um so neto é a ordem em que os
versos rimam, ou posicionamento de rimas. Para os quartetos, existem três formas
principais de posicionamento: Rimas entrelaçadas ou opostas – abba (o primeiro
verso rima com o quarto, o segundo rima com o terceiro). O soneto de Orfeu de
Vinicius de Moraes mais abaixo exemplifica as características clássicas do soneto :
São demais os perigos dessa vida
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida.
E se ao luar, que atua d esvairado
15
Vem unir-se uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher,
Uma mulher que é feita de música
Luar e sentimento, e que a vida
Não quer, de tão perfeita .
Uma mulher que é como a própria lua
Tão linda que só espalha so frimento
Tão cheia de pudor que vive nua .
Nesta poesia, em especifico, Vinicius usa do Soneto italiano ou petrarquiano, o qual
apresenta duas estrofes de 4 versos (quartetos) e duas de 3 versos (tercetos). É
também um soneto formado por versos decassílabos, como se comprovará n o verso
a seguir: ‘’São/ de/mais/ os/ pe/ri/gos/ dês/as/ vi/da.’’
Lembrando que a contagem em tal versificação se considera até a última síl aba
tônica do verso, que, neste caso, é “vi”. Essa estrutura poética pode -se dizer que
Vinicius de Moraes retoma com um teor clássico, porém popular, a estética
parnasiana, que visa a arte pela arte, a perfeição métrica. E stabelecendo um acordo
entre as aspirações primordiais e a tradição literária. Com seus sonetos, pode -se
dizer que há certo rompimento com a ideologia moderna. Inclusive, não obstante o
talento alcançado – sobretudo popularmente – Vinicius sofre algumas críticas por
parte de alguns autores modernistas e críticos literários. Dentre estas, destacam -se
as críticas e Afrânio Coutinho (1992, p. 157), que seguem abaixo:
(...) não chegou Vinicius de Moraes a cristalizar sua poesia em expressão
irredutivelmente própria. Assim, cai freqüentemente sob a égide de
influências e de modos [...] Até como sonetista Vinicius d e Moraes não
descobriu o seu modo imperativo de dizer, sendo que boa parte de seus
sonetos, com efeito, são pastiches quinhentistas; outros revelam -se
incolores”.
Influenciado, plagiador ou não, é preciso se admitir que Vinicius foi um mestre dos
sonetos. A musicalidade e as temáticas que costumava inserir em suas poesias que
atingiam em cheio o leitor. Segundo o professor Douglas Tufano (1998, p. 265)
16
Depois de uma fase inicial (seus dois primeiros livros – A caminho da
distancia e Forma e exegese), em que sua poesia manifesta claros
acentos bíblicos e uma visão idealizante do amor, Vinicius de Moraes
passa a desenvolver, cada vez mais intensamente, um lirismo que
faz das sensações do amor físico sua fonte temática constante [...]
Numa linguagem comunicativa, em que o popular está presente, mas
sem descer ao vulgar, compôs alguns dos mais belos poe mas de
amor da nossa literatura.
Podemos dizer que Vinicius de Moraes teve que passar por vários momentos até
achar a sua forma de escrever seus sonetos,até cair definitivamente no gosto
popular e enfim ser chamado de mestre dos sonetos.
2.2 POESIA
A literatura é a forma mais representativa da oralidade do s povos das antigas
civilizações, pois a literatura era o instrumento de comunicação bem como de
transmissão de conhecimentos e experiências vividas pelos mais velhos passadas
dos mais velhos aos mais novos, de pai para filho, de geração a geração através da
fala.
A essa forma de comunicação de cunho inicialmente oral era acrescentada o ritmo
para que os ensinamentos fossem mais bem transmitidos e assimilados pelo povo.
Antônio Saraiva, dá respaldo teórico a essa fala inicial quando afirma que:
[...] nas civilizações do passado, a mais corrente forma de
comunicação e de transmissão da obra literária não é escrita, mas
oral. Antes de se fixarem no bronze, na pedra, no papiro, no papel ou
no pergaminho, as histórias, as narrativas, e até os códigos morais e
jurídicos gravavam-se na memória dos ouvintes; [...] (SARAIVA,
2005, p. 45)
Como se pode observar nas palavras de Saraiva as civilizações de outrora
utilizavam
uma
literatura
oral
para
uma
comunicação
e
transmissão
de
conhecimentos de forma eficaz, ou seja, que de fato fosse entendida e memorizada
pelo próprio.
17
O período literário do Trovadorismo foi de extrema importância nesse tempo em que
a literatura oral era a base e a estrutura da comunicação porque era formado de
poemas musicados em cantigas compostas pelos trovadores da época, cantadas
pelos
menestréis
acompanhados
pela
flauta,
viola
e
alaúde
entre
outros
instrumentos da época.
As cantigas trovadorescas eram poemas para serem cantados acompanhados por
instrumentos musicais. Essas cantigas eram constituídas pelos gêneros lírico: as
cantigas de amor e de amigo e satírico, as cantigas de escá rnio e maldizer.
Embora o gênero satírico fosse também composto de versos canta dos pelo trovador
as cantigas de amor e amigo foram a representação mais fiel dessa poesia cantada
e rimada desse período oral da literatura.
As cantigas de amor representava m um eu poético masculino que sofria por um
amor impossível, de modo geral, por uma dama da corte, inacessível pela questão
da diferença de estirpe social muito acima do que a do trovador.
As cantigas de amigo eram feitas pelos mesmos trovadores, mas rep resentavam um
eu poético feminino que segundo Massaud Moisés:
“surpreendia “momentos” do namoro, desde as primeiras horas da
corte até as dores do abandono, ou da ausência, pelo fato de o bem amado estar no fossado ou no bafordo, isto é, no serviço milit ar ou
no exercício das armas”. (2001, p. 22)
Quando tratamos de poesia como arte dos versos característica de um poeta, de um
povo, de uma época, logo podemos fazer associação à poesia de Vinicius de
Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, e ntre outros tantos
poetas que lemos, também podemos falar da poesia trovadoresca, clássica,
moderna, romântica e assim por diante, pois representam a poesia de um povo em
uma determinada época.
18
Segundo BARTHES (2002, p. 11) “Todo escritor dirá então: louc o não posso, são
não me digno, neurótico sou.” A busca do escritor/poeta pela palavra, a frase
perfeita que será capaz de produzir no leitor a fruição o prazer da leitura, torna -se
como uma neurose em busca da linguagem perfeita.
A poesia também pode ser tratada como a arte de excitar a alma com uma visão do
mundo, por meio das melhores palavras em sua melhor ordem, poder criativo;
inspiração, o que desperta o sentimento do belo, aquilo que há de elevado ou
comovente nas pessoas ou nas coisas.
Aos escritores BARTHES (2002, p. 11) adverte :
O texto que o senhor escreve tem de me dar prova de que ele me
deseja. Essa prova existe: é a escritura. A escritura é isto: a ciência
das fruições da linguagem, seu kama-sutra (desta ciência, só há um
tratado: a própria escritura.”
Em uma de suas crônicas sobre poesia Vinícius de Moraes define o que para ele é
poesia; literatura: composição em versos (livres e/ou providos de rima) cujo
conteúdo apresenta uma visão emocional e/ou conceitual na abordagem de ideias,
estados de alma, sentimentos, impressões subjetivas etc., quase sempre expressos
por associações imagéticas , literatura: composição poética de pequena extensão ou
característica de um poeta, de um povo, de uma época a Arte de excitar a alma com
uma visão do m undo, por meio das melhores palavras em sua melhor ordem , poder
criativo; inspiração; o que desperta o sentimento do belo; aquilo que há de elevado
ou comovente nas pessoas ou nas coisas.
Ao falar de poesia como arte de compor versos, podemos supor que q ualquer
sequência ritmada e, especialmente rimada, seja poesia. Mas ao dizermos que
poesia é composição em versos (livres e/ou providos de rima) cujo conteúdo
apresenta uma visão emocional e/ou conceitual na abordagem de ideias, estados de
alma, sentimento s, impressões subjetivas etc., quase sempre expressos por
associações imagéticas e composição poética de pequena extensão já não
podemos associar ao versinho infantil acima citado, pois se pressupõe que seja algo
19
mais elaborado e pensado para que produza n o leitor o efeito desejado pelo poeta.
Para que as imagens sejam criadas e sentimentos sejam produzidos, o poeta realiza
um trabalho árduo em busca da linguagem perfeita.
Como no exemplo da poesia Uma operária parte de um monte de tijolos sem
significação especial senão serem tijolos para – sob a orientação de um construtor
que por sua vez segue os cálculos de um engenheiro obediente ao projeto de um
arquiteto – levantar uma casa. Um monte de tijolos é um monte de tijolos. Não existe
neles beleza específica. Mas uma casa pode ser bela, se o projeto de um bom
arquiteto tiver a estruturá-lo os cálculos de um bom engenheiro e a vigilância de um
bom construtor no sentido do bom acabamento, por um bom operário, do trabalho
em execução. Troquem -se tijolos por palavras, ponha-se o poeta, subjetivamente, na
quádrupla função de arquiteto, engenheiro, construtor e operário, e aí tendes o que é
poesia.
Transcrevendo a reflexão de Vinícius, conforme o sugerido por ele mesmo pode -se
dizer então que; o poeta parte de um monte de palavras sem significação especial
senão serem palavras, que sob a orientação, construção, cálculos e projeto do
poeta, tornam -se poesia. Um monte de palavras é um monte de palavras. Não existe
beleza específica. Mas uma poesia pode ser bela se o poeta der um bom
acabamento.
Vejamos o Soneto da fidelidade :
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
20
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure
A simplicidade expressiva de Vinícius, aliada à musicalidade de seus versos e ao
gosto pelo soneto (muito fácil de ser lembrado e recitado) garantiram -lhe uma
popularidade que nenhum outro poeta moderno teve no país. É difícil encontrar
algum brasileiro, medianamente informado, que não conheça o Soneto da fidelidade .
21
3 A S C OR R EN TES LITER Á R IA S FLU EN TES N O S SO NETO S D E
VIN IC IU S D E M OR A ES.
Neste capítulo veremos o que é poesia para Vinícius de Moraes analisando por meio
da história da literatura, e as correntes literárias influentes nos sonetos, quais foram
as retomadas de características históricas utilizadas por Vinícius de Moraes.
3.1 TROVADOR ISMO
Na história da literatura (luso-brasileira) a primeira escola literária que aparece é o
Trovadorismo, com suas cantigas de amor, cantigas de amigo, cantigas de escárnio
e de maldizer. Vinícius toma para si o papel de trovador, aquele que é ao mesmo
tempo poeta e músico, que canta e recita seus poemas que são feitos para a mulher
idealizada e inacessível. Aquela mulher que o homem nunca a terá:
Meu Deus, eu quero a mulher que passa.
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabe los
Sete esperanças na boca fresca!
Oh! Como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicas
Dentro das noites, dentro dos dias!
Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pelos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me encontrava se te perdias?
22
Por que não voltas, mulher que passa?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida
Para o que sofro não ser desgraça?
Meu Deus, eu quero, quero depressa
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!
No santo nome do teu martírio
Do teu martírio que nunca cessa
Meu Deus, eu quero, quero depressa
A minha amada mulher que passa!
Que fica e passa, que pacifica
Que é tanto pura como devassa
Que bóia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.
3.2 HU MANISMO
No Humanismo podemos encontrar o teatro de Gil Vicente, as novelas de cavalaria e
as poesias palacianas, essas, ao contrário da poesia trovadoresca, eram elaboradas
para serem recitadas nas cortes.
Segundo Maia (2003, p. 135):
“O Humanismo foi um movimento cultural que além do estudo e
imitação dos autores greco-latinos, fez do homem objeto
conhecimento, reivindicando para ele uma posição de importância
contexto do universo, sem , contudo, negar o valor supremo
Deus.”
da
de
no
de
Vinícius de Moraes, Assim como no humanismo, rebusca os autores greco -latinos.
Em forma de teatro, ele re conta o Mito de Orfeu com a peça Orfeu da Conceição:
Tragédia carioca.
Com o subtítulo "Tragédia Carioca", o texto dramático de Vinícius de Morais (mais
tarde transposto para a tela - Orfeu Negro — pelo francês Mareei Camus, sucesso
internacional) adapta a um morro do Rio de Janeiro o antigo mito de Orfeu:
23
inconsolado com a morte da bem -amada, o poeta e músico desce aos infernos e
obtém do Rei das Sombras a prom essa de poder levar Eurídice com ele , desde que
não olhasse para trás, para ver se ela o seguia , Orfeu então desobedeceu as
condições para ter sua amada de volta, olhou para traz e contemplo u-a por um breve
instante, perdendo Eurídice para sempre.
O poeta passa o resto de seus dias buscando Eurídice, inutilmente, e acaba sendo
esquartejadas pelas Bacantes, invejosas da fidelidade de Orfeu à sua amada. Na
adaptação, a descida aos infernos será ambientada num baile de 3 ª feira gorda, no
clube "Os Maiorais do Inferno"; a lira será substituída pelo violão; as bacantes, por
um bando de prostitutas - e assim por diante , numa série de bem dosados
expedientes que imprimem à tragédia forte marca de realismo e atualidade
(LAJOLO; CAMPEDELLI, 1980, p. 58).
MONÓLOGO DE O RFEU
Mulher mais adorada!
Agora que não estás, deixa que eu rompa
O meu peito em soluços! Te enrustiste
Em minha vida; e cada hora que passa
É mais por que te amar, a hora derrama
O seu óleo de amor, em mim, amada...
E sabes de uma coisa...cada vez
Que o sofrimento vem, essa saudade
De estar perto, se longe, ou estar mais perto
Se perto – que é que eu sei! Essa agonia
De viver fraco, o peito extravasado
O mel correndo; essa incapacidade
De me sentir mais eu, O rfeu; tudo isso
Que é bem capaz de confundir o espírito
De um homem – nada disso tem importância
Quando tu chegas com essa harmonia
Esse corpo! E me dizes essas coisas
Que me dão essa força, essa coragem
Esse orgulho de rei. Ah, minha Eurídice
Meu verso, meu silêncio, minha música!
Nunca fujas de mim! Sem ti sou nada
Sou coisa sem razão, jogada, sou
Pedra rolada. Orfeu menos Eurídice...
Coisa incompreensível! A existência
Sem ti é como olhar para um relógio
Só com o ponteiro dos minutos. Tu
És a hora, és o que dá sentido
E direção ao tempo, minha amiga
Mais querida! Qual mãe, qual pai, qual nada!
24
A beleza da vida és tu, amada
Milhões amada! Ah, criatura, quem
Poderia pensar que Orfeu: O rfeu
Cujo violão é a vida da cidade
E cuja fala, como o vento à flor
Despetala as mulheres – que ele, Orfeu
Ficasse assim rendido aos teus encantos!
Mulata, pele escura, dente branco
Vai teu caminho
Que eu vou te seguindo
No pensamento e aqui me deixo rente
Quando voltares, pela lua cheia
Para os braços sem fim do teu amigo!
Vai tua vida, pássaro contente
Vai tua vida que estarei contigo!
3.3 CLASSICISMO
Dentre as características C lássicas, estão a inversão dos termos da oração; a
preocupação com a forma, métrica, rima, correção gramatical; clareza na expressão
do pensamento. Segundo a afirmativa de Maia (2003, p. 143).
A concepção estética oriunda do Humanismo e do Renascimento
convencionou -se chamar Classicismo, porque clássicos eram os
antigos artistas e filósofos greco -latinos dignos de serem estudados
nas “classes”. [...] (A) Época Clássica, [...] abrangia não apenas o
Renascimento, mas também o Barroco e o Arcadismo (este últi mo
conhecido também como Neo-classicismo).
Tais características estão presentes na obra de Vinícius de Moraes e podemos
percebê-las em seus sonetos. Para exemplificar, temos como exemplo o Soneto de
Contrição:
Eu te amo, Maria, te amo tanto
Que o meu pe ito me dói como em doença
E quanto mais me seja a dor intensa
Mais cresce na minha alma teu encanto.
Como a criança que vagueia o canto
Ante o mistério da amplidão suspensa
Meu coração é um vago de acalanto
Berçando versos de saudade imensa.
Não é maior o coração que a alma
Nem melhor a presença que a saudade
25
Só te amar é divino, e sentir calma...
E é uma calma tão feita de humildade
Que tão mais te soubesse pertencida
Menos seria eterno em tua vida.
3.4 BARROC O
Do Barroco Vinícius de Moraes buscou características tais como: “Culto do
contraste. [...] consciência da transitoriedade da vida. [...] Cultismo” (MAIA, 2003, p.
166). A vida feita de momentos e que os puros não a tinha, pela sua subjetividade e
a busca de encontrar as respostas ocultas aos olhos meramente humanos.
CARTA AOS "PURO S"
Ó vós, homens sem sol, que vos dizeis os Puros
E em cujos olhos queima um lento fogo frio
Vós de nervos de nylon e de músculos duros
Capazes de não rir durante anos a fio.
Ó vós, homens sem sal, em cujos corpos tensos
Corre um sangue incolor, da cor alvar dos lírios
Vós que almejais na carne o estigma dos martírios
E desejais ser fuzilados sem o lenço.
Ó vós, homens iluminados a néon
Seres extraordinariamente rarefeitos
Vós que vos bem-amais e vos julga is perfeitos
E vos ciliciais à ideia do que é bom.
Ó vós, a quem os bons amam chamar de os Puros
E vos julgais os portadores da verdade
Quando nada mais sois, à luz da realidade,
Que os súcubos dos sentimentos mais escuros.
Ó vós que só viveis nos vórtices da morte
E vos enclausurais no instinto que vos ceva
Vós que vedes na luz o antônimo da treva
E acreditais que o amor é o túmulo do forte.
Ó vós que pedis pouco à vida que dá muito
E erigis a esperança em bandeira aguerrida
Sem saber que a esperança é um simples dom da vida
E tanto mais porque é um dom público e gratuito.
Ó vós que vos negais à escuridão dos bares
Onde o homem que ama oculta o seu segredo
26
Vós que viveis a mastigar os maxilares
E temeis a mulher e a noite, e dormis cedo.
Ó vós, os curiais; ó vós, os ressentidos
Que tudo equacionais em termos de conflito
E não sabeis pedir sem ter recurso ao grito
E não sabeis vencer se não houver vencidos.
Ó vós que vos comprais com a esmola feita aos pobres
Que vos dão Deus de graça em troca de alguns restos
E maiusculizais os sentimentos nobres
E gostais de dizer que sois homens honestos.
Ó vós, falsos Catões, chichisbéus de mulheres
Que só articulais para emitir conceitos
E pensais que o credor tem todos os direitos
E o pobre devedor tem todos os deveres.
Ó vós que desprezais a mulher e o poeta
Em nome de vossa vã sabedoria
Vós que tudo comeis mas viveis de dieta
E achais que o bem do alheio é a melhor iguaria.
Ó vós, homens da sigla; ó vós, homens da cifra
Falsos chimangos, calabares, sinecuros
Tende cuidado porque a Esfinge vos decifra.
E eis que é chegada a vez dos verdadeiros puros.
Podemos
perceber
o
contraste
no
poema
quando
se
coloca
palavras
semanticamente opostas, como em; fogo versos frio, nervos de nylon verso s
músculos duros, sangue incolor versos estima dos martírios.Porque não se entregar
as vicissitudes corpóreas e viver a química tipicamente humana. A carne. Podemos
observar consciência da transitoriedade da vida pode ser compreendida nos versos
“Tende cuidado porque a Esfinge vos decifra... E eis que é chegada a vez dos
verdadeiros puros.”
Na mitologia grega, no caminho para a cidade de Tebas, havia uma Esfinge. Para
passar pelo caminho era necessário que se decifrasse o enigma da Esfinge, era uma
questão de vida ou morte, quem não conseguisse decifrar, era devorado pela
Esfinge. No poema, é a Esfinge quem decifra a pessoa, colocando -a, desta forma,
entre a vida e a morte . “E eis que é chegada a vez dos verdadeiros puros.”
O cultismo, que nada mais é do q ue o jogo de palavras e o estilo trabalhado podem
ser observados nos versos a seguir:
27
“Ó
“Ó
“Ó
“Ó
“Ó
“Ó
“Ó
“Ó
“Ó
vós, homens sem sol, que vos dizeis os Puros”
vós, homens sem sal, em cujos corpos tensos”
vós, homens iluminados a néon”
vós, a quem os bons amam chamar de os Puros”
vós que só viveis nos vórtices da morte”
vós que pedis pouco à vida que dá muito”
vós que vos negais à escuridão dos bares”
vós, os curiais; ó vós, os ressentidos”
vós que vos comprais com a esmola feita aos pobres”
3.5 A RCADISMO
O Arcadismo foi uma escola literária também conhecida como Neo -clássica, pois
retomava os ideais do classicismo. As características do Arcadismo que podemos
encontrar em Vinícius de Moraes são: ”Imitação: [...] retorno aos modelos clássicos
renascentistas. Bucolismo: [...] a pureza, a beleza e a espiritualidade residem na
natureza.” (MAIA, 2003, p. 185).
SONETO DE INTIMIDADE
Nas tardes de fazenda há muito azul demais.
Eu saio às vezes, sigo pelo pasto, agora
Mastigando um capim, o peito nu de fora
No pijama irreal de há três anos atrás.
Deço o rio no vau dos pequenos canais
Para ir beber na fonte a água fria e sonora
E se encontro no mato o rubro de uma amora
Vou cuspindo-lhe o sangue em torno dos currais.
Fico ali respirando o cheiro bom do estrume
Entre as vacas e os bois que me olham sem ciúme
E quando por acaso uma mijada ferve
Seguida de um olhar não sem malícia e verve
Nós todos, animais, sem comoção nenhuma
Mijamos em comum numa festa de espuma.
Assim como no Arcadismo havia a idealização do amor e da mulher e em Vinícius
esta também é uma temática marcante, corre -se o risco de pensar que seria também
esta uma característica Árcade presente na obra de Vinícius de Moraes, mas no
Arcadismo esta idealização do amor e da mulher er am tidos como “fonte de prazer,
28
tranqüilo e não-passional” (MAIA, 2003, p. 186), enquanto que em Vinícius o amor é
passional, melancólico e ás vezes até levado ao extremo de morrer por amor ou
morrer de amor.
SONETO DO AMO R TO TAL
Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano amor coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde,
é que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
3.5 R OMANTISMO
Para Vinícius de Moraes, o Romantismo foi a estética literária que mais o
influenciou, em especial a segunda geração romântica, também conhecida como
ultra-romântica.
O Romantismo traz como uma de suas caracte rísticas uma linguagem caracterizad a:
Evasão ou escapismo, resultante do conflito do eu com a realidade.
Saudosismo [..] O sonho [..] A consciência da solidão [..] O exagero
[..] somado à instabilidade e à ânsia de evasão [...] caracterizada o
estado de espírito de vários românticos que se entregaram a uma
excessiva melancolia e solidão. [...] A idealização da mulher e do
amor. [...] o poeta romântico reveste a mulher de uma aura angelical,
retratando -a como figura poderosa e inacessível. [...] Porém reflete
muitas vezes um sensualismo be m material na descrição feminina,
Pelo transbordamento de expressão: poemas extensos, repetições
inúteis e recursos que revelam o estado emotivo do artista. [...] Os
românticos defendiam uma linguagem simples, mais coloquial e livre
dos grilhões da sintaxe clássica [...] ‘’(MAIA, 2003, p. 203 -204).
29
Seguindo a linha de raciocínio citado acima, Vinícius de Moraes imprimiu em sua
obra tais características românticas, em especial as chamadas de características
ultra-românticas (que foi a causa do, que posteri ormente, foi chamado Mal do
Século). Tais características são: o lirismo, o subjetivismo, o sonho de um lado, o
exagero, a busca pelo exótico e pelo inóspito de outro. Também se destacam o
nacionalismo, a idealização do mundo e da mulher, assim como a fuga da realidade
e o escapismo. Eventualmente também serão notados o pessimismo e certo gosto
pela morte, religiosidade e naturalismo.
3.6 PARNASIANISMO
Vinícius buscou no Parnasianismo característica como “Visão carnal da mulher
procura da rima rica , retorno aos módulos clássicos greco -latinos e alusão à mitologi,
procura da palavra perfeita (mot juste) predileção pelo soneto” (MAIA, 2003, p. 311).
SONETO DA MULHER CASUAL
Por não seres aquela que eu buscava
Nem do meu ontem nada recordares,
Por não haver, aquém e além dos mares,
Alguém mais relva e seda, avena e lava;
Por o efêmero e o vão me revelares
Dos ídolos antigos que adorava
E por assim sem cânticos chegares
Quando de tudo eu já desesperava;
E por seres feliz e por quereres
A alguém que é feliz, até o resto
de mim que é feliz, até o resto
De mim, quando talvez nem mais viveres,
Serás, inesperada e longe amiga,
Presente em todo pensamento, gesto
E palavra de amor que tenha e diga.
A inspiração nos modelos clássicos ajudaria a combater as emoções e fantasias
exageradas dos românticos, garantindo o equilíbrio que desejavam.
30
Neste soneto, podemos perceber que a mulher é vista de uma forma bem carnal,
pois ela não é “aquela que eu buscava”. ‘’Quanto às rimas (ABBA, BABA, CDC,
EDE), são chamadas de rimas ricas, pois são rimas “que se dá quando a homofonia
se estende até a consoante de apoio da última vogal tônica” (D \'O NOFRIO, 2005, p.
15).
Para o poeta, o soneto é um desafio e uma brincadeira. Dotar um a composição de
quatorze versos de toda a sua ciência emocional, eis uma proposição que convida o
poeta, honesto como tal, a meditar seriamente. No entanto , é também uma
brincadeira, porque o poeta, vítima das próprias emoções, humilhado pelo mundo,
tem o direito de sentir-se maior do que u m soneto e desprezá -lo como jogo
indiferente.
Vinícius cultivava uma predileção pelos sonetos, assim como os parnasianos. Mas
Vinícius de Moraes, no entanto, não despreza o soneto nem o trata com indiferença,
mas pelo contrário, segundo Coutinho: “Numa época em que este relegado à
mediocridade das antologias escolares, Vinícius de Moraes publicou no seu primeiro
livro os sonetos “Revolta”, com acentos românticos e um penúltimo verso
apreciável”. ((1986, p. 751)
Vinicius de Moraes trouxe de forma ousada a volta do soneto,uma vez que esse
modelo de poesia havia sido um pouco esquecido e só lembrado nas escolas
poéticas e ousou como um poeta a frente do seu tempo quando lançou
no seu
primeiro livro com versos românticos e de muito bom gosto.
3.7 SIMBOLISM O
Talvez seja da estética Simbolista, que Vinícius tenha buscado a sua segunda maior
inspiração poética.
31
“O que os românticos iniciaram os simbolistas terminaram”, comenta
Edmund W ilson. [...] Na Alemanha, a tripla constelação constituída
por Shopenha uer, Wagner e Nitzsche introdua a preocupação com a
música na formulação de sua teoria crítica e metafísica. [...] a tese de
Shopenhauer, para quem a música constitui a expressão imediata da
vontade. Friedrich Schiller também se interessou pelo caráter mus ical
da poesia. Suas considerações envolvem três tópicos: o aspecto
meramente sonoro do texto, a questão da música como expressão
direta, imediata e exclusiva da emoção, e a ordenação artísitca da
sucessão temporal na criação literária e musical (OLIVEIRA, 2003, p.
21).
A escola Simbolista é conhecida pela expressão indireta de ideias e emoções, pela
sonoridade expressiva e musicalidade, por um grande subjetivismo, misticismos e
espiritualismo, e também pela abstração e preocupação com a form a.
MAR
Na MELANCOLIA de teus olhos
Eu sinto a noite se inclinar
E ouço as cantigas antigas
Do mar.
Nos frios espaços de teus braços
Eu me perco em carícias de água
E durmo escutando em vão
O silêncio.
E anseio em teu misterioso seio
Na atonia das ondas redondas
Náufrago entregue ao fluxo forte
Da morte.
Podemos observar nessa poesia a a tenção exclusiva ao “eu”, explorando -o através
de uma linguagem pessimista e musical, de modo que a carga emotiva das palavras
é ressaltada. A poesia é aproximada da mús ica pelo uso de aliterações . O efeito de
musicalidade produzido pelo poeta no poema é produzido pela escolha lexical.
Percorremos as estéticas literárias apontando em cada uma delas o porquê Vinícius
pode ser considerado como um poeta que transitou pelas diversas estéticas,
32
retirando
delas apenas o
que
ele
considerava
o
melhor e transformando,
reinventando em sua própria poesia.
Estudar a poesia de Vinícius de Moraes é a todo o momento , enfrentar uma criação
de extraordinária riqueza formal, onde, aos pri meiro versos em geral livres, longos,
despojados de rigor, se sucedem os poemas rimados e metrificados, as baladas e
sonetos de seus últimos livros que, afinal, parecem ser os de sua predileção
(COUT INH O, 1986, p. 749)
Vinícius de Moraes pode ser considerado Modernista, não por ter pertencido à
estética literária do Modernismo, e sim por ter sido um poeta moderno, que sabe
aproveitar o que há de melhor em cada uma das estéticas passadas e recriar,
imprimindo assim, suas características e emoções em sua obr a.
CHEGA DE SAUDADE
Vai, minha tristeza
E diz a ela
Que sem ela não pode ser
Diz-lhe numa prece
Que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer.
Chega de saudade
A realidade é que sem ela
Não há paz, não há beleza
É só tristeza, e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim
Não sai.
Mas se ela voltar
Se ela voltar, que coisa linda
Que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei
Na sua boca. . .
Dentro dos meus braços
O s abraços hão de ser
Milhões de abraços apertado assim
Colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos e carinhos
Sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio
De viver longe de mim.
33
A aliteração e a assonância provocam na música um ar de sensualidade, mas ao
mesmo tempo um a tensão. No 1° e no 2° Verso o eu -lírico manda um recado cujo
intermediário é a tristeza, vai lá e fala pra ela que eu não sou nada sem ela. Do 3°
ao 5° verso é como se o eu -lírico pedisse a tristeza que se ajoelhasse diante do
objeto amado (mulher amada) assim como se ajoelha para rezar, roga -lhe, pede pra
que ela volte, eu não posso mais sofrer.
O amante que perde a amada, assim é o poeta que perde sua poesia. O amante não
vive sem sua amada, assim como o poeta não vive sem sua poesia. No 6° verso o
eu-lírico dá um Basta, chega eu não quero mais viver de saudade. Do 7° ao 12°
verso é como se o eu -lírico caísse em si, e voltasse pra realidade, e esta realidade é
que faz com que o amante não viva sem o objeto amado e que o poeta não viva sem
a poesia, pois um longe do outro é só tristeza e melancolia.
O poeta não existe sem a poesia e segundo Freud (1996, p. 251) “a melancolia é a
reação à perda do objeto amado”. A partir do 13° verso a aliteração e a assonância,
intensificam -se gerando um aumento da tensã o. Tensão esta que é gerada pela
expectativa da volta ou não do objeto amado.
Do verso 19 ao 22, dá -se a impressão de que o eu -lírico faz promessas que se
assemelham as promessas feitas pelos amantes quando querem a volta de sua
amada. O poeta promete tra tar bem sua poesia, se ela voltar.
Do verso 23 até o final é como se o eu -lírico fizesse um pedido e uma constatação
deixa pra lá, eu não vivo sem você, mas também sei que você não vive sem mim. O
poeta não vive sem a poesia, assim como a poesia não exist e sem o poeta.
Vinicius de Moraes fala que longe da amada é um homem desesperado que se
sente solitário e perdido. Essa última declaração encerra uma das mais belas que
produziu ao longo de sua vida.Ser poeta é ser um homem disposto à luta.
34
4 O R O MA N TISM O PR ESEN TE N O S SO N ETO S E POESIA S
Neste capítulo trabalharemos a relação do poeta com algumas das tendências
verificadas no movimento do Romantismo, como por exemplo, a questão da
melancolia, da subjetividade e da idealização da mulher amada.
Segundo Löwy, o romantismo é:
‘’Enigma aparentemente indecifrável, [...] Sobretudo por seu caráter
fabulosamente
contraditório,
sua
natureza
de
coincidentia
oppositorum: simultânea (ou alternadamente) revolucionário e contra
revolucionário, [...] retrógrado e utopista, revoltado e melancólico,
democrático e aristocrático, ativista e contemplativo, [...] vermelho e
branco, místico e sensual. Tais contradições permeiam não somente
o fenômeno romântico no seu conjunto, mas a vida e obra de um
único e mesmo autor, e por vezes um único e mesmo texto ‘’(1995, p.
9).
O Romantismo, como movimento literário, teve início por volta de 1836 e terminou
em 1881. Historicamente, podemos dizer que, por ser um movimento literário que
tinha uma visão subjetivista do mundo, dado o momento histórico de independências
e surgimento das nações europeias, deu lugar ao realismo, com sua visão do mundo
como ele é, sem floreamentos, mostrando as misérias do ser humano e da
sociedade em que ele vive.
Para o Romantismo, o critério da beleza artística seria histórico, relativo, e
dependeria fundamentalmente da ação individual. A realidade, para o romântico, era
apenas ponto de partida para a manifestação de suas e moções.
No Romantismo, é dada uma grande importância ao eu, devido ao subjetivi smo e ao
antropocentrismo, visando sempre à satisfação dos desejos do eu, mesmo que essa
satisfação se dê apenas subjetivamente por meio da pena e da mão que escrevem o
poema, exteriorizando assim, os seus desejos e sonhos mais secretos. No
35
Romantismo, o amor, a mulher, a pátria são idealizados e o idealizador vive sempre
buscando conquistar o idealizado, que parece ser inconquistável.
Mas, o Romantismo não teve um tempo limite. Assim como as outras escolas
literárias, as datas fixadas são apenas referenciais, pois, podemos observar
características Românticas nas novelas de cavalaria e também na atualidade em
músicas e poemas, que são tidos como ultra -românticos, ou, podemos chamar de
neo-românticos.
“A melancolia também pode constituir reação à perda de um objeto amado. Onde as
causas existentes se mostram diferentes (do luto) pode -se reconhecer que existe
uma perda de natureza mais ideal. O objeto talvez não tenha realmente morrido,
mas tenha sido perdido enquanto objeto de amor.” (FREUD , 19 96, p. 251)
Esta
definição de Freud pode ser associada à relação Poeta -poesia. A poesia faz parte
do poeta, e o sentimento de perda do poeta gera a melancolia poética.
O poeta é aquele que possui a poesia somente enquanto esta está dentro dele, a
partir do momento em que o poeta escreve a poesia já não mais pertence a ele e
sim ao papel e ao leitor. Esta perda da poesia pelo poeta gera a melancolia, pois o
objeto de amor do poeta, sua poesia, não morreu realmente, mas foi perdido pelo
poeta.
No âmbito artístico, Blan chot (1987), ao escrever sobre essa relação Poeta -poesia,
posiciona o olhar de Orfeu, que é como o olhar do autor, que ao terminar a sua obra,
ao mesmo tempo em que a contempla, ele lembra -se de todo o processo de
concepção e construção da mesma, daí ele toma consciência de que está perdendo
sua obra:
O olhar de Orfeu é o dom último de Orfeu à obra, dom que ele a
recusa, onde ele se sacrifica, transportando -se pelo movimento
exorbitante do desejo, para a origem, e onde se transporta ainda,
sem o saber, para a obra, para a origem da obra. (BLANCHO T, 1987
apud JUSTINO , 2006, 1987, p. 77).
36
O sentimento gerado no autor pela consciência de perda é solitário, doloroso e
melancólico, pois durante o processo de concepção da obra, o autor convive com a
obra, os personagens fazem parte do seu dia -a-dia e ao terminá-la é como se ele
tivesse morrido com a dor causada pela separação e também neste momento há a
morte e o renascimento da obra. A cada leitor que a lê, ela renasce e novos
significados lhe são atribuídos
O tema órfico foi amplamente trabalhado por Vinícius de Moraes. Um exemplo claro
é a Valsa de Eurídice, que inscreve todo processo de criação do poeta e
correlaciona também à temática daquele que canta em nome da melancolia da
perda.
VALSA DE EURÍDICE
Tantas vezes já partiste
Que chego a desesperar
Chorei tanto, estou tão triste
Que já nem sei mais chorar
Oh, meu amado, não parta
Não parta de mim
Oh, uma partida que não tem fim
Não há nada que conforte
A falta dos olhos teus
Pensa que a saudade
Pode matar-me
Adeus
Podemos observar no poema, que, assim como no mito de Orfeu e Eurídice, Orfeu
perde sua amada devido a saudade e a falta que sentia dos olhos da amada, o
poeta também perde sua poesia no momento em que a olha, no m omento em que a
contempla.
No poema Valsa de Eurídice, a musicalidade e a sonoridade intensa presente no
poema, a cada verso faz um movimento em espirais, indo e vindo, mas ao mesmo
tempo escapando de nós.
37
De acordo com Blanchot,
o espaço onde tudo retorna ao ser profundo, onde existe passagem
infinita entre dois domínios, onde tudo morre, mas onde a morte é a
sábia companheira da vida, onde o pavor é êxtase, onde a
celebração se lamenta e a lamentação glorifica, o próprio espaço
para o qual “se precipitam todos os mund os como para a sua
realidade mais próxima e mais verdadeira”, o do maior círculo e da
incessante metamorfose, é o espaço do poema, o espaço órfico ao
qual o poeta, sem dúvida, não tem acesso, onde só pode penetrar
para desaparecer, que só atinge unido à in timidade da dilaceração
que faz dele uma boca sem entendimento, tal como faz daquele que
entende o peso do silêncio: é a obra, mas a obra como origem.
(1987, p. 140);
Vinícius de Moraes, em seu processo de composição, parece ser consciente deste
espaço, onde tudo morre, sabe que sua poesia não lhe pertence, mas pertence
àquele que o lê no momento em que a leitura é realizada. A obra é a origem, nela
tudo se inicia e tudo se finda.
MAIS UM ADEUS
Mais um adeus
Uma separação
Outra vez solidão
Outra vez sofrimento
Mais um adeus
Que não pode esperar
O amor é agonia
Vem de noite, vai de dia
É uma alegra
E de repente
Uma vontade
Uma vontade de chorar.
O lha benzinho cuidado
Com seu resfriado
Não pegue sereno
Não tome gelado
O gim é um veneno
Cuidado benzinho
Não beba demais.
38
Se guarde para mim
A ausência é um sofrimento.
E se tiver um momento
Me escreva um carinho
E mande dinheiro pro apartamento
Porque o vencimento
Não é como eu
Não pode esperar.
O amor é uma agonia
Vem de noite, vai de dia
É uma alegria
E de repente
Uma vontade de chorar.
Ciente de que o poema não lhe pertence, o poeta faz recomendações do tipo
cuidado com o resfriado, não beba demais, etc. O poema nasceu do poeta, é obra
do poeta, e como pai-criador do poema, o poeta vive seu amor e sua agonia em sua
certeza de não posse sobre sua criação.
Vinícius de Moraes, apontando características que revelam algumas faces do poeta,
principalmente aquelas já explicadas neste trabalho pela linha teórica pela qual
optamos é um poeta criticado por muitos, talvez por ser muito lido e pouco
compreendido.
Segundo Manhães (2005, p. 1,3) dizia que Vinícius foi:
“o único poeta que viveu como poeta [...]. Isso porque Vinícius viveu
sua ideologia através de suas músicas e de seus p oemas,
quebrando protocolos, regras e paradigmas de seu tempo. Vinícius
de Moraes definiu o ser poeta com sua poesia, [...] promoveu no
meio artístico brasileiro uma retomada da subjetividade humana
apelativa das emoções, [...] estruturou uma nova estética na
produção da obra de arte, [...] é uma estética de si que traz a
representatividade da sua forma de viver e pensar sobre a vida
encharcada de paixão e melancolia.”
Há na poesia de Vinícius uma equação de extremos: AMOR = DO R
“Eu sei que vou te amar”
“Eu sei que vou chorar”
“Eu sei que vou sofrer”
39
Assim como o amor não existe sem a dor, a poesia também não existe sem a morte.
Há uma certeza poética de uma sequ ência lógica, em que o amor provoca o choro e
o sofrimento. É como algo pré -determinado, em que o eu-lírico sabe quais são as
consequências de amar, mas sabe também, que ele está pré -destinado a amar.Eis o
Soneto de Fidelidade.
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Neste soneto Vinícius de Moraes define o que é ser poeta, o que é poesia e de onde
vem sua poesia. É a pré-destinação do poeta, que ama sua poesia, mesmo sabendo
que vai perdê-la, nisso podemos notar a nostalgia e a melancolia antecipada pelo
pré-sentimento de perda da mulher amada.
Ao tomarmos Vinícius como um poeta clássico, no sentido de que ele g osta da forma
clássica do soneto, versos decassílabos, redondilhas, etc., podemos ler a palavra
estátua como uma referência à Grécia, berço da cultura e da literatura ocidental.
Nisto, também, podemos observar que Vinícius é um poeta anacrônico, ou seja, f ora
de seu tempo, ele está no tempo do modernismo e utiliza recursos de outros
movimentos literários, no entanto, utiliza -se de outros temas, ou até mesmo a
mesma temática, com uma linguagem diferente. Ele define separadamente cada
amor vivido e suas mulhe res expostas nas entrelinhas dos seus debafos poéticos.
40
C O N SID ER AÇ Õ ES FIN A IS
Ao encerrar o presente trabalho, podemos chegar à conclusão de que a obra de
Vinícius de Moraes é pouco explorada pelos estudiosos, no sentido de estudos com
rigor metodológicos.
Ao leitor e ao crítico que buscam em Vinícius de Moraes um poetinha que escreve
apenas poeminhas de prazer, deve -se estar ciente de que ao analisar a obra deste
grande poeta poderão assustar-se ao deparar com poemas de fruição e não apenas
de prazer.
Ao leitor que procura na obra de Vinícius algo que vai além da beleza, no sentido de
poema bonito ou música bonita, há uma beleza estética que faz da obra de Vinícius
ser uma busca intensa pela fruição do texto, pelo amor contemporâneo e atual, amar
sem pre e de várias formas, pois o poeta busca a origem de seu poema que está
encerrada no próprio poema.
O poeta que perde seu poema vive em busca daquele que é a razão de seu ser
poeta, sua poesia, pois a arte é “o caminho para si mesmo” (BLANCH OT, 1987, p.
155).
Há sempre aqueles interessados em se apegar à árvore das influencias literárias.
Isso sem dúvidas existe. Só que não se passa bem assim e que para que esse
impulso para a beleza, e não a habitualidade presença de versos e em fazê-lo que
dá a marca do poeta. Para Vinicius de Moraes poesia sem paixão podia ser tudo
menos poesia.
41
Soube demonstrar cada sentimento nos seus poemas, sonetos e classificar não
como o grande amor mais cada amor de maneira impar. Não temos ‘’o soneto’’ nem
‘’o poema’’ ele ape nas colocou nos versos ilustrados a maneira implícita do amor
total, a busca incessante do prazer e devoção à mulher amada. Qual mulher não
gostaria de ser amada das maneiras que Vinicius de Moraes amou.
42
R EFER ÊN C IA S
ABDALA JUNIOR , B.; CAMPEDELLI, S. Y. Tem pos da literatura brasileira . São
Paulo: Círculo do livro, 1987.
BARTHES, R.; GUINSBURG . J. O prazer do texto. 3. ed. São Paulo: Perspectiva,
2002.
BLANCHOT, M . O espaço literário . Rio de Janeiro: Rocco, 1987.
CASTELO, J. Vinícius de Moraes : o poeta da paixão – uma biografia. São Paulo:
Companhia das Letras, 1994.
COUTINHO , A. (org.) Vinícius de Moraes : poesia Completa e prosa. Rio de Janeiro:
Nova Aguiar, 1986.
D’ONOFR IO, S. Teoria do texto 2: teoria da lírica e do dra ma. São Paulo: Ática,
1995.
FREUD, S. Luto e Melancolia . In : Obras completas de Sigmund Freud. Rio de
Janeiro: Imago. 1996. v. 14 . p. 245 -263.
HOUAISS, A. Dic ionário eletrônico Hauaiss da língua portuguesa . Versão 1.0.12.
Objetiva, out. 2006.
JUSTINO, K . L. Problem as de inscrição e apagam ento do sujeito em Sopro de
Vida de Clarice Lispector. [Dissertação]. São José do Rio Preto: IBILCE/U NESP,
2006. 106p.
LAJOLO, M.; CAMPEDELLI, S. (Coords.) Vinícius de Moraes. São Paulo: Abril
Educação, 1980. (Literatura Comentada).
LÖW Y, M. Revolta e m elancolia : o romantismo na contramão da modernidade.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
MANHÃES, M. C. Melancolia e paixão no poem a canção em Vinícius de Moraes.
Disponível em: http://ww w.abralic.org.br/enc2007/anais/18 /59.pdf . A cesso em: 25
out. 2012.
MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa . São Paulo: Cultrix, 2001, 31ª edição.
SARAIVA, Antônio José. História da Literatura Portuguesa 17ª ed. Cidade do
Porto: Porto Editora, 1993.
MICHAELIS, Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Online. Disponível em:
http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php . Acesso em: 14 out. 2012.
Download

Visualizar monografia