alucinação ? E como prova que essa pessoa
que eu vejo n ã o existe? É por m e i o d o s
sentidos do m e u corpo q u e me a p e r c e b o d o
m e u c o r p o . E é t a m b é m por meio dos sentidos do m e u corpo que m e a p e r c e b o desse
o u t r o c o r p o . . . i r r e a l » . (Presença n.° 23).
E , num- o u t r o de J o r g e de L i m a , publicado t a m b é m na Presença, lê-se: «A poesia
está a c i m a dos leitores, d a politica, da ciência, da
filosofia...—O
poeta está a c i m a
d e s s a s coisas, t r a n s c e d e ao t e m p o , não liga
a b s o l u t a m e n t e às m o d a s , aos políticos, às
g u e r r a s , às revoluções, às tiranias, às mudanças d o t e m p o . . . — A p e d r a de toque
m e s m o , do genuíno poeta é sair do t e m p o ,
sair do v e r s o , sair dos p a r t i d o s , sair do
m u n d o . S ó não p o d e sair de Deus. F o r a
do limite do t r a n s c e n d e n t e só se p o d e r á
fazer verso, discurso, ciência r i m a d a , coisas
muito transitórias s e m o r i t m o e t e r n o da
v e r d a d e i r a e única poesia... — Ciência, sociologia, reivindicações de classe, são ó p t i m o s
t e m a s p a r a discurso de comício, panfletos
de c o m b a t e , t e s e s , e t c . . m a s n ã o d ã o u m
m i l i g r a m a de p o e s i a . . . — A poesia é s u p r a
t e m p u s . . . — O poeta n ã o estará o b r i g a d o
a s e r porta-voz do t e m p o , d o s factos d o
tempo.
O poeta n ã o estará o b r i g a d o a
t r a n s m i t i r as vozes do m u n d o , as cores e
as formas especiais d o seu a m b i e n t e , m a s
t r a n s f o r m a r á as coisas, irá além delas p a r a
q u e o s o b r e n a t u r a l q u e elas contéem e está
e m t u d o , nele se manifesta'. O m u n d o do
poeta assenta em planos diferentes.
E , nesta época, e m q u e sociólogos, políticos, r e f o r m a d o r e s , e c o n o m i s t a s , a maioria
dos h o m e n s se ajoelham ante a ciência oficial, a pretenciosa ciência positiva, os poucos
p o e t a s d a t e r r a se voltam para Cristo —
força s u p r e m a de que se a p r o x i m a r ã o , para
oferecer-lhe a e t e r n a partícula d a Poesia
q u e é o seu mais p r ó x i m o p a r e n t e s c o c o m
o C r i a d o r » (n.° 45).
A o s m o d e r n i s t a s só lhes interessa port a n t o o p r o b l e m a artístico, só lhes interessa
a A r t e , c o m m a i ú s c u l a . E , como esse Iançar-se n a A r t e resulta d a fuga de todos os
factores concretos d a vida, evidente é pois
que fazem a r t e r e p u d i a n d o esses factores.
Foi Régio que disse s e r m o d e r n i s t a t o d o
aquele «que partisse a t r a z de n ã o sei q u e
intuição d o Desconhecido, que se t o r t u r a s s e
( a o m e s m o t e m p o vencido e v e n c e d o r ) na
febre de realizar n ã o sei q u e virtualidades
de ampliar, de r e m e x e r , de i-limitar o m u n d o ,
que q u a l q u e r espécie d e código artístico,
social, religioso, m o r a l , intelectual, e metafísico n ã o c o n s e g u e s e n ã o fechar ».
P a r a o m o d e r n i s t a a a r t e é u m a concretização de todos os p r o b l e m a s e t e r n o s d o
h o m e m . S ó o artista a p r e e n d e verdadeiram e n t e todos os s e n t i m e n t o s q u e os h o m e n s
p o s s u e m . E a p r e e n d e - o s , p r e c i s a m e n t e porq u e só se p r e o c u p a c o m eles. O artista
m o d e r n i s t a b u s c a e m todas as coisas o desconhecido e o oculto. S ó os valores e t e r n o s
i n t e r e s s a m e, os valores e t e r n o s do espírito,
estão n o espirito. T o d a a teoria artística
d o m o d e r n i s m o assenta s o b r e o mistério
q u e solicita o h o m e m a p r e t e n d e r desvend a r a sua o r i g e m . E u m a a r t e d o t r a n s c e n
dente e do metafísico. E é p o r isso q u e o
divino constitui quási exclusivamente o drama d o s artistas m o d e r n i s t a s .
Q u e cada um fale d o s e u d r a m a í n t i m o ,
q u e cada u m p a r t a « a t r a z de n ã o sei que
intuição do D e s c o n h e c i d o » , q u e c a d a u m
t r a d u z a as suas angústias e d e s e s p e r o s , se
os t e m , e se os n ã o t e m , q u e fale d a sua
s e r e n i d a d e e m os n ã o ter. Q u e cada u m
fale pois de si. Q u e cada u m diga sinceram e n t e c o m o é. O s o u t r o s n ã o i n t e r e s s a m .
O artista m o d e r n i s t a é, na m e d i d a e m que
se conhece, s u p e r i o r a todos os o u t r o s , e
superior por diferente. P a r a longe as p r e o cupações do g r u p o . A ' a r t e i n t e r e s s a m só
as lutas do h o m e m consigo p r ó p r i o .
1
E c o m o exprimir e s t a s lutas, esta vaga
intuição d o desconhecido ?
Q u e cada um p r o c u r e e m si a e x p r e s s ã o
m a i s a d e q u a d a àquilo q u e p r e t e n d e exprimir. O artista n ã o deve estar sujeito a
fórmulas rígidas. Deve q u e b r a r t o d a s as
a m a r r a s , deve e x p r i m i r - s e c o m o quiser.
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alucinação ? E como prova que essa pessoa que eu vejo não existe