Alternativas de Controle de Plantas Daninhas sem Herbicidas Kliewer, I. (e-mail: [email protected]) Palavras chave: Cobertura do solo permanente, adubos verdes, rotação de culturas, alelopatia, práticas culturais. Introdução Os herbicidas e a preparação de solos não são as únicas formas de controlar plantas daninhas. Fazer plantio direto sem o uso de herbicidas é um dos grandes desafios da atualidade para a pesquisa, assistência técnica e agricultores. Este é um dos maiores questionamentos com relação à sustentabilidade do sistema pois nele o uso de herbicidas é uma característica marcante. Faz alguns anos quando o sistema de plantio direto iniciou, era comum escutar que os herbicidas são um mal necessário e que não é possível controlar plantas daninhas sem eles. Nas recomendações para a implantação do cultivo, já se falava da utilização da cobertura morta para o controle de invasoras, mas a recomendação da utilização de herbicidas em geral é ainda a predominante no sistema. Atualmente, com um maior conhecimento e compreensão sobre el sistema, já se está alcançando sucesso no seu controle em pequenas propriedades e se está chegando cada vez mais próximo de conseguir-lo em áreas extensivas. Influência da Fertilidade do solo sobre as plantas daninhas A terra, quanto mais degradada, mais imprópria fica para a produção de culturas e ocorre um maior aparecimento de invasoras. Quando uma parcela é cultivada durante anos sob um sistema de manejo inadequado do solo no qual a cobertura do solo é escassa (por longos períodos sem cobertura viva ou morta), são realizadas práticas de preparações mecânicas do solo incorporando a resteva remanescente das colheitas (deixando o solo descoberto às intempéries climáticas), não há reposição adequada de nutrientes; as consequências são: a matéria orgânica vai desaparecendo, o solo é desestruturado fisicamente e compactado, os nutrientes são fixados, lavados e volatilizados. O tempo que leva a degradação vai depender da intensidade do mal manejo, das condições iniciais de fertilidade e da susceptibilidade do solo à degradação e das condições climáticas reinantes. A parcerla, quanto mais pobre vai ficando, tanto mais difícil fica de produzir matéria orgânica e proteger o solo dos agentes climáticos erosivos (chuva e vento). Nesta situação a luz solar ficou prejudicial ao solo pois em vez de fazer a síntese de substâncias orgânicas (matéria orgânica), está produzindo degradação, pois a medida que o tempo passa e se segue neste sistema, o solo fica mais descoberto e desprotegido. Quanto mais inadecuada a condição para as culturas comerciais, mais propícia será a condição para o aparecimento e o desenvolvimento de plantas daninhas. As invasoras que aparecem espontaneamente são plantas que se sentem bem no lugar pois encontram todas as condições que precisam para cescer e multiplicar. Aparecendo entre uma cultura comercial estas plantas são consideradas invasoras e estão neste lugar por existir algum desequilibrio no solo não para elas mas sim para um sistema de produção. Se sabe que a presença de grama-seda (Cynodon dactilon) ou guanxuma (Sida spp.) em uma área indica terra dura, a presença de samambaia (Pteridium aquilinum) indica solo con alumínio tóxico elevado, capimcarrapicho (Cenchrus echinatus) indica solo com baixos níveis de matéria orgânica e deficiencia de nitrogênio, amendoim-brabo (Euphorbia heterofylla) indica solo com deficiencia de molibdênio (ver quadro nº 01). Se mudamos a condição específica que favorece ao crecimento e desenvolvimento destas plantas, automaticamente vamos contribuir para eliminação das plantas daninhas e favorecer o desenvolvimento da cultura comercial e a sua competitividade em relação às invasoras. Assim, com os exemplos citados anteriormente: o amendoim-bravo é combatido pela aplicação de molibdênio ao solo, a samambaia com aplicações de calcário, o nabo-brabo (Raphanus raphanistrum) quando por fertilização de bórax e sulfato de magnésio, a guanxuma ou a gramaseda desaparecem quando o solo é “descompactado por meios biológicos” semeando azevém que afrouxa o solo com suas raízes, o capim-carrapicho quando se aumentam os níveis de nitrogênio no solo através de um adubo verde como Crotalaria juncea, mucuna (Mucuna pruriens), tremoço (Lupinus albus) ou ervillaca (Vicia villosa). Muitas das propriedades que estão fazendo o plantio direto por vários anos, já tem a fertilidade de seus solos bem recuperada e tem alcançado uma significativa redução na incidência de invasoras. Estas são propriedades possíveis para uma produção de culturas sem herbicidas. Quanto mais equilibrada a adubação, mais amplo é o espectro de plantas daninhas e tanto menor é sua persistência (Primavesi, 1992). Quadro 01: Plantas indicadoras de desequilibrios em solos de culturas ou pastagens Invasoras Indicam Azedinha (Oxalis oxyptera) solo argiloso, pH baixo, falta de cálcio, falta de molibdênio Amendoim-brabo (Euphorbia deficiência de molibdênio heterophylla) Ançarinha-branca (Chenopodium album) excesso de nitrogênio, devido a muita matéria orgânica Barba-de-bode (Aristida pallens) pastos queimados com frequência, deficiencia de fósforo, cálcio e umidade Capim-arroz (Echinochioa cruzgallii) terra anaeróbia, com nutrientes "reduzidos" a substâncias tóxicas Cabelo-de-porco (Carex spp) solo degradado, com nível de cálcio extremamente baixo Capim-favorito (Rhynchelytrum roseum) solos muito compactados e secas, a água não penetra facilmente Capim-amoroso ou carrapicho (Cenchrus solo lavoura depauperada e muito dura, ciliatus) pobre em cálcio Capim-marmelada ou capim-papuã terra de lavoura, com laje superficial e (Brachiaria plantaginea) falta de zinco Capim-rabo-de-burro (Andropogon uma camada impermeável em 80 a 100 bicornis) cm de profundidade, que represa água Cardo-santo (Argemone mexicana) excesso de cálcio Carneirinho ou carrapicho-de-carneiro deficiência em cálcio (Acanthospermum hispidum) Cravo-brabo (Tagetes minuta) infestação de nematóides Fazendeiro ou picão-branco (Galinsoga nitrogênio suficiente e falta de cobre parviflora) Grama-seda (Cynodon dactylon) solo muito compactado e pisoteado Gramão ou batatais ou grama-matoterra cansada, com baixa fertilidade grosso (Paspaium notatum) Guanxuma ou malva (Sida spp) Língua-de-boi (Rumex spp) Losna (Artemisia verlotorum) Maria-mole ou berneira (Senecio brasiliensis) Mamona (Ricinus communis) Nabisco ou nabo-brabo (Raphanus raphanistrum) Samambaia (Pteridium aquilinium) Sapé Macho ou mãe de sapé (Imperata brasiliensis) Papoula (Papaver somniferum) Urtiga (Urtica urens) Fonte: Adaptado de Primavesi, 1992. terras muito compactadas e duras excesso de nitrogênio (estrume), terra fresca solos alcalinos camada estagnante em 40 a 50 cm de profundidade, falta potássio terra arejada, deficiente em potássio terras carentes em boro e manganês aluminio tóxico elevado terra ácida excesso de cálcio excesso de nitrogênio (matéria orgânica), carência em cobre Influência do Plantio Direto e da Cobertura Morta do Solo sobre as plantas daninhas Pela presença permanente de cobertura morta sobre o solo (Jansen, 1999; Kliewer et al, 1999) e a melhora na fertilidade do solo pelo aumento dos níveis de matéria orgânica, o sistema de plantio direto reduz sensivelmente a infestação de plantas daninhas nas culturas (Derpsch, et al, 1991). Cobertura morta são resíduos do cultivo anterior que permanecem sobre o terreno. Ela funciona como um elemento isolante que reduz a amplitude térmica do solo e filtra a luz solar. O processo de germinação de plantas daninhas está intimamente relacionado a estes fatores, reduzindo substâncialmente sua emergência em plantio direto com abundante quantidade de cobertura morta (Adegas, 1999). Quando se deixa de preparar o solo, grandes quantidades de sementes de invasoras se mantém a profundidades que impedem sua germinação e emergência. A presença da cobertura morta altera as características físicas, químicas e biológicas do solo e interfere no processo da quebra de dormência das sementes (Almeida, 1991). O conteúdo de matéria orgânica nas áreas de plantio direto é normalmente superior ao das áreas de plantio convencional. Maior teor de matéria orgânica está relacionado a maior atividade biológica. Muitos microorganismos para sobreviver e reproduzir utilizam as sementes e plântulas das infestantes e por conseguinte diminuem o potencial de infestação nas áreas de plantio (Adegas, 1999), sendo este efeito mais acentuado em plantio direto. O proceso de decomposição da cobertura morta na superfície libera gradualmente uma série de compostos orgânicos denominados alelequímicos, muitos deles interferem diretamente na germinação e emergência das plantas indesejáveis. A quantidade e a composição da cobertura morta é responsável pelo nível de interferência. Ao preparar o solo a palhada se decompõe rapidamente e esta é uma das razões porque o controle de infestantes obtido é superior em plantio direto (Figura 01). 10 dias depois da colheita ou manejo Quantidade de infestantes/m2 400 317 350 282 299 235 300 250 200 150 100 50 0 13 5 Plantio Direto Ervilhaca Plantio convencional Aveia preta comum Trigo Figura 01: Influência do manejo do solo e da cobertura morta de inverno sobre a densidade de infestantes Fonte: Ruedell, 1998; citado por Bianchi, 1999. Em geral as sementes de plantas daninhas sofrem de dormência. A dormência pode ser explicada como sendo um estado passivo em que a semente não começa os procesos de germinação, ainda que se presentem condições favoraveis de luz, umidade e temperatura no solo. É por isso que as sementes das plantas invasoras não germinam todas de uma vez. Uma certa quantidade germina antes da semeadura da cultura, outra durante seu desenvolvimento, outra na colheita e dependendo da espécie, até muitos anos despois. Muitas espécies de plantas necessitam que suas sementes fiquem no escuro e que depois sejam expostas à luz para inciar os processos de germinação. A água é essencial para o processo da germinação. Este só se inicia quando a semente se umedece, o que depende da permeabilidade do tegumento. Em algumas espécies a permeabilidade só é produzida depois de longo tempo de contato da semente com a àgua, outras exigem alternância de períodos de umidade e seca (Popey, 1976; citado por Almeida, 1991). Uma vez que a àgua transpassa a barreira do tegumento, tem a função no interior da semente, de lavar as substância inibitórias da germinação, e esta só se iniciará quando as substâncias promotoras de crecimento excedam as inibidoras (Thompson, 1973; citado por Almeida, 1991). A temperatura influi significativamente na quebra de dormência das sementes. Cada espécie depende de uma condição necessária de temperatura para que se inicie a germinação. Esta é uma das razões porque existem espécies de inverno e de verão. Outras ainda requerem alternâncias de temperatura mais ou menos acentuadas para que se inicie a germinação. Estes fatores atúam conjuntamente. Se observa entre eles fortes interações o qual complica ainda mais a compreensão do processo. Assim a quebra de dormência da semente de uma espécie se verifica em uma determinada combinação de temperatura, umidade, luminosidade e outros fatores (Vincent & Roberts, 1977; citado por Almeida, 1991). No plantio direto estes fatores são alterados com mayor ou menor profundidade de acordo à constituição da cobertura morta. É possível prever que as sementes de plantas daninhas germinarão em condições de solo descoberto e não germinarão em condições de plantio direto, por outro lado outras espécies de invasoras que no solo descoberto se manteríam dormentes, vão germinar em plantio direto. A incidência de plantas daninhas está na proporção inversa da quantidade de cobertura (palha) sobre o solo (Almeida y Rodríguez, 1985; citato por Derpsch, 1991). Influência dos Adubos verdes sobre as plantas daninhas Também, podemos usar para suprimir plantas daninhas, os efeitos de inibição que umas plantas exercem sobre outras através da semeadura de adubos verdes. Os adubos verdes controlam as plantas daninhas de três formas principais: uma através da competição que realizam por água, nutrientes, luz e espaço durante seu crescimento. Outra é por alelopatia ou efeito inibitório sobre a germinação de sementes e sobre o desenvolvimento de plântulas, causando exudados e/ou substâncias químicas que são liberadas durante a decomposição, imediatamente depois do manejo. A terceira é por efeito físico de sombreamento que produz sua palhada o que impede que as sementes das invasoras recebam estímulos para sua germinação. A intensidade de controle de invasoras varia de acordo com as espécies e variedades de adubos verdes utilizados. A competição se baseia na eficiencia que os adubos verdes têm de retirar do solo, água e nutrientes, antes que o possam fazer as plantas invasoras e está relacionada principalmente à velocidade e hábito de crescimento. Por isso, é importante que se faça a semeadura dos adubos verdes o antes possível depois da colheita de uma cultura comercial para eliminar os períodos aonde possam crescer as ervas, pois, em termos gerais se pode afirmar que a planta que ganha a competição é aquela que se instala primeiro no terreno. Para substituição dos herbicidas dessecantes, são utilizadas plantas de grande capacidade de abafamento das infestantes para a formação da cobertura morta (as espécies aplicadas dependem do clima reinante em cada lugar). A escolha de espécies de maior cobertura e maior intensidade do efeito alelopático reduz significativamente a incidência de invasoras e facilita em muito o seu controle sem o uso de herbicidas. Dentro das espécies de adubos verdes também existem variedades de maior produção de biomasa com maior durabilidade e maior efeito alelepático, como por exemplo a aveia preta Iapar 61 (Avena strigosa), que geralmente permite semear soja sem herbicidas até a colheita, sendo que com a variedade de aveia preta comum poucas vezes se consegue o mesmo efeito. Outra espécie de inverno é a ervilhaca peluda que é uma leguminosa de ciclo longo e que pode ser rolada na fase de formação de grãos ou pode ser deixada para completar o ciclo, semeando a cultura posterior (soja ou milho) sobre plantas verdes ou já em fase de maduração. Nas regiões mais frias, também o azevem á uma excelente alternativa, inclusive como planta expotânea, germinando com a ressemadura natural de plantas maduras do ciclo anterior. No caso de possibilidade de reservar parcelas para adubação verde de verão, a mucuna é uma das melhores alternativas para a supressão e o abafamento de plantas daninhas. Em parcelas de pequenas propriedades a mucuna já vem sendo aplamente aplicada, sendo semeada entre o milho 50 dias antes da colheita aproveitando-se o tempo de calor que resta no verão. Os resultados da redução de incidência de plantas daninhas são observados meses depois até no seguinte verão. Supressão de Plantas Daninhas na Cultura da Soja em Plantio Direto através do uso de adubos verdes de inverno Um experimento para comprovar a supressão dos adubos verdes sobre plantas infestantes na cultura da soja foi realizado em 1996 (KLIEWER, CASACCIA Y VALLEJOS, 1999) no campo experimental de CETAPAR/JICA, Yguazú, Paraguai, a 45 Km de Ciudad del Este. No inverno foram semeados os seguintes tratamentos: aveia preta comum, centeio, girassol, tremoço branco amargo, nabo forrageiro, trigo e pousio. Nenhum tratamento foi fertilizado. Os adubos verdes foram manejados com rolo-faca e o trigo foi colhido. A soja foi semeada sobre a cobertura oferecida pelos tratamientos de inverno, com fertilização de 300 Kg/ha da formulação 00-2020. A cultura se desenvolveu exclusivamente com o controle oferecido pelo efeito supressor da palhada dos adubos verdes manejados (não foram aplicados herbicidas). Os melhores supressores de invasoras na cultura da soja foram a aveia preta, o trigo, e o centeio (tabela). A parcela de aveia preta se apresentava limpa com apenas 93 Kg/ha de massa seca de infestantes em contraste coma a parcela de pousio com 7.390 kg/ha. O nabo forrageiro não pode exercer supressão sobre as infestantes por não haver apresentado um desenvolvimento satisfatório. Além disso, houve um período de 45 dias desde o manejo dos adubos verdes até a semeadura da soja que favoreceu o desenvolvimento de plantas daninhas que aproveitaram os nutrientes liberados pela rápida mineralização dos resíduos de tremoço, girassol e nabo forrageiro. Massa seca de plantas daninhas (kg/ha) 7.390 8.000 6.000 3.740 4.000 2.000 93 500 760 1.650 0 Aveia preta Trigo Centeio Girassol Tremoço branco Pousio Figura 02: Infestação de plantas daninhas na cultura da soja semeada despois de algumas espécies de adubos verdes de inverno, trigo e um período sem cultura (pousio), aos 96 dias depois da semeadura (dds). Yguazú (campo experimental CETAPAR/JICA), Dpto. Alto Paraná, Paraguai. Fuente: Kliewer et al., 1999. Nos solos pobres e esgotados pela exploração agrícola, o tremoço e o centeio são adubos verdes que apresentam rusticidade e bom desenvolvimento. A aveia preta e o nabo forrageiro sofrem deficiencias nutricionais e diminuem fortemente sua produção de massa seca. Os mesmos autores, semearam os adubos verdes com 300 kg/ha de 00-20-20 e registraram um aumento de 2.100 kg/ha de massa seca na aveia preta e 4.280 no nabo forrageiro. Uso das Associações de Adubos verdes para o controle de plantas daninhas As misturas de adubos verdes são, de um modo geral, mais eficientes no controle de plantas daninhas do que os mesmos semeados de forma solteira (sozinhos), pois a arquitetura diferenciada das plantas faz com que se ocupe um maior espaço não dando chancess às invasoras. Um exemplo é a semeadura a lanço de aveia preta comum antes do plantio do tremoço branco amargo com semeadora de trigo. No lugar de invasoras entre o tremoço, a aveia preta ocupa o espaço e se desenvolve sem dar-lhes chance, permitindo semear milho na sequência, sem aplicação de desecantes. Desta maneira também se obtém maior produção de masa verde e seca, conseguindo maior permanência de cobertura viva ou morta, pela diferenciação do ciclo e da qualidade da palhada. Figura 03: Associação de aveia preta com tremoço branco. A aveia ocupa os espaços vazios entre as plantas de tremoço, ocupando o lugar das invasoras. Figura 04: Associação de aveia preta e nabo forrageiro em áreas extensivas em Yguazú, Paraguai. Controle de plantas daninhas através de Adubos verdes de curto período Experimentos realizados por Kliewer et al, 1998, tem demonstrado que é possível com a semeadura de adubos verdes de curto período, de rápido crescimento y curta duração (45 a 60 días), conseguir semear culturas comerciais sem o uso de dessecantes e de pós-emergentes. Foram semeados o girassol (Helianthus annuus), figura 04, utilizando semente F2 e a crotalária (Crotalaria juncea), figura 05, ambos com distância entre linhas de 18,5 cm. Estas culturas produziram respectivamente 5.500 kg/ha e 6.060 kg/ha de matéria seca entre a colheita de milho (Zea mais) e a semeadura do trigo (Triticum aestivum) (57 y 52 días respectivamente), eliminando o tempo em que o terreno ficava exposto ao crescimento e à multiplicação de plantas daninhas. As ervas foram suprimidas e as poucas que coseguiram sobreviver à competição com a densa massa vegetal, foram elimidadas por completo pelo manejo com rolo-faca e a exposição brusca à radiação solar. Nestas parcelas foi cultivado soja (Glycine max) e se realizó a colheita sem necessidade de aplicação de herbicidas. Considerando os custos de implantação e manejo destes adubos verdes como custo de controle de plantas daninhas e comparando-os aos custos de herbicidas em uma parcela testemunha com monocultura de trigo/soja durante todo um ano (US$ 105,10), a prática do girasol (US$ 37,27) e da crotalária (US$ 43,09) foram respectivamente 67,83 US$/ha/ano e 62,01 US$/ha/ano mais baratos. Figura 05: Girassol aos 57 dias depois da semeadura (dds) no momento do manejo com rolo-faca. Semeado em alta densidade é um excelente adubo verde de curto período, com grande capacidade para suprimir infestantes. Figura 06: Crotalaria juncea no momento de ser manejada com rolo-faca aos 83 dias (dds). Esta planta é altamente eficiente no controle de plantas daninhas Influênca da Rotação de culturas sobre as plantas daninhas A realidade do campo mostra que um grande número de produtores que ingressaram no sistema de plantio direto tiveram dificultade para conseguir um bom controle de plantas daninhas e em muitos dos casos um custo maior para fazê-lo. Isto ocorre porque depois da implantação do sistema de plantio direto, os produtores realizaram o controle de plantas daninhas quase exclusivamente com a utilização de herbicida, seja na dessecação, realizada para substituir a preparação para o plantio, seja na instalação da cultura. O sistema de exploração das propriedades tem seguido um esquema de uma cultura no verão e outra no inverno, normalmente as mesmas são utilizadas todos os anos, com períodos no qual o terreno fica em descanso. Para o controle de invasoras, poucas vezes são usados outros métodos, como a rotação de culturas com o uso de adubos verdes. A rotação de culturas é uma prática determinante no controle de plantas daninhas sem herbicidas. As ervas perdem agressividade aonde se pratica rotação de culturas (Primavesi, 1992). Um ensaio similar se realizó paralelamente (ambos casos foram parte de um experimento de rotação de culturas a partir de 1995) o qual obedeceu a sequência de girasol (no mês de março, depois de milho), aveia preta Iapar 61 (inverno, 1995), soja (verão, 1995/96), trigo (inverno, 1996), soja (verão 1996/97), tremoço branco amargo (Lupinus albus) (inverno, 1997) e milho (verão, 1997/98) seguido de crotalária. Durante todo o período desta sequência, não foi nescessária a aplicação de herbicidas desecantes nem de pós-emergentes pois as plantas daninhas foram controladas pela cobertura permanente do solo com adubos verdes e culturas comerciais que a rotação de culturas ofereceu, e três capinas manuais de baixo custo (uma diária, 7,00 US$ por hectárea) nas culturas de verão (Figura 05). Experiencias parecidas foram obtidas por agricultores, como Herbert Bartz, pionero do plantio direto no Brasil. Isto demonstra que a redução do uso de herbicidas em plantio direto mediante o uso de adubos verdes de curto período também está comprovada entre agricultores. Entretanto, esta redução nem sempre se conseguirá nos primeiros anos de plantio direto, ou em campos muito infestados, senão por um bom manejo do solo e rotações de culturas adequadas com adubos verdes criteriosamente selecionados. Quantidade de plantas daninhas/m2 400 350 300 211 250 144 200 150 100 51 54 50 0 Com rotação Sem rotação Plantio direto Plantio convencional Figura 05: Influências do manejo do solo e da rotação de culturas na ocorrência de plantas daninhas no trigo, 6 anos depois de iniciados os trabalhos. Cruz Alta 1.995. Fonte: Adaptado FUNDACEP/BASF, 1995 12 Com um corte 26 17 Colhida 6 Madura em pé 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Acamada Quantidade de infestantes/m 2 Formas de Manejo A forma de manejar os adubos verdes também é importante pois o acame da palhada cobre melhor o solo impedindo a penetração de luz. Existem diferenças pronunciadas neste aspecto havendo significativamente menos plantas daninhas na soja que foi semeada sobre aveia preta acamada com rolo-faca que na soja que foi semeada sobre aveia preta dessecada em pé (Figura 06). Formas de manejo da aveia preta comum Figura 06: Efeito da modalidade de manejo da aveia preta comum sobre a quantidade de infestantes/m2, 50 dias despois de acamada. Yguazú , Dpto. Alto Paraná, Paraguai Controle generalizado Também é possível controlar plantas daninhas de outras formas, mas, um controle generalizado de invasoras sem herbicidas só se conseguirá com um conjunto de práticas que vão desde a recuperação da fertilidade destes solos com a diminuição da população das ervas daninhas e melhora na competitividade da cultura até um controle manual localizado: É necesário introduzir um equilíbrio total no solo. O uso de adubos verdes e de rotação de culturas estão entre as ferramentas mais poderosas no sucesso do controle de invasoras pois contribuem com vários efeitos no controle e supressão de plantas indesejáveis. O uso de adubos verdes de curto periodo eliminando os pousios entre as culturas de renda, seja no inverno, outono, primavera ou mesmo em alguns casos no verão, mantém o solo coberto durante todo o ano evitando que invasoras venham a se desenvolver e multiplicar. Consorciação de culturas ou de adubos verdes: A associação de culturas comerciais ou de cobertura de solo promovem um melhor aproveitamento dos espaços no terreno, diminuindo ou eliminando as chances das invasoras. Correção equilibrada do solo: Com a recuperação do solo combatem-se eficientemente inúmeras invasoras, entre elas estão: o capim-carrapicho, a guanxuma e a grama-seda. A adubação e calagem deve ser controlada em relação à terra e não em relação à cultura. A calagem faz desaparecer o carrapicho-decameiro ou carneirinho, a samambaia, a erva-lanceta e o sapé. Controle da resemeadura: O controle da resemeadura de plantas daninhas pode reduzir, em médio prazo, o banco de sementes no solo. Skóra Neto, F. (1993), citado por Ribeiro, S. et al (1996) verificou uma redução de até 97 % na infestação, quando houve controle da frutificação das invasoras. Culturais: Uso de sementes da cultura com altos índices de vigor e germinação, variedades resistentes a pragas e doenças e bem adaptadas ao lugar de semeadura. Preventivas: Os equipamentos e máquinas agrícolas são um veículo de disseminação de sementes de plantas daninhas. O cuidado na limpeza dos mesmos evita a entrada e instalação das plantas daninhas. Disposição espacial das plantas: Geralmente o uso de um espaçamento reduzido entre linhas contribui para um mais rápido sombreamento e fechamento da cultura. A disposição das plantas da cultura, quanto mais uniforme seja, mais rápido cobrirá o solo evitando que penetre luz. Quanto antes o solo seja coberto pela cultura, maior será a supressão exercida sobre as plantas daninhas colocando em desvantagem as que queiram germinar (por falta de luz) e não dando condições às plântulas emergidas (por abafamento). Densidade de semeadura: O uso de uma densidade adequada dará à cultura maior vigor. A mesma necessita de espacio e luz suficiente para um bom crescimento. Um ligeiro aumento na população de plantas da cultura tende a promover um mais rápido crescimento, antecipa o fechamento da mesma e aumenta a supressão sobre invasoras. Época de plantio: a mudança da época de plantio, semeando a cultura mais cedo, para germinar e se desenvolver antes que as invasoras nasçam. Mecânicas: Para substituição dos herbicidas na cultura tem-se utilizado a capina manual (catação) ou a roçada, aliado a outras práticas culturais de manejo. Ainda não foram desenvolvidas máquinas eficientes e económicas capazes de remover plantas indesejáveis sem que seja removido o solo. Nos países do hemisferio norte (Canadá, principalmente) se está usando equipamento de capina mecânica com dentes rotativos que apenas mexem o solo superficialmente para prejudicar as ervas. Vantagens As vantagens deste sistema são: diminuição de custos no controle de invasoras e aumento na rentabilidade, menor dano ao meio ambiente, controle de invasoras sem aparecimento de resistência à herbicidas, colheita de um produto mais saudável ao consumidor, eliminação de riscos de acidentes na aplicação de herbicidas, etc. Outros benefícios proporcionados por esta técnica são a produção de cobertura morta necessária para o plantio direto, com o aumento consequente da matéria orgânica, reciclagem de nutrientes evitando a lixiviação dos mesmos a camadas profundas, conservação do solo e da umidade, controle de pragas, doenças (inclusive nematóides) e evitar o aparecimento de resistência de plantas daninhas. Conclusões O controle de plantas daninhas sem herbicidas não funciona em terra degradada. Deve-se primeiramente recuperar o solo com plantio direto e aplicar um conjunto de tecnologias para ter êxito. É necessário introduzir um equilíbrio total no solo para que o controle de plantas daninhas seja possível, por isso a combinação das práticas como plantio direto, rotação de culturas, adubos verdes, eliminação dos pousios entre culturas, adubação adequada, manejo de forma correta e no momento certo, capinas, roçadas, controle da frutificação das infestantes, escolha de espécies e variedades agressivas e competitivas às infestantes com efeito alelopático e supresor, etc., devem ser aplicados. A presença de cobertura morta permanente sobre o solo evita a quebra de dormência das sementes de numersas espécies de plantas daninhas porque impede a entrada de luz e proporcionoa ao solo tempeaturas e umidades mais estáveis. A quantidade e qualidade da cobertura morta e a velocidade de sua decomposição são responsáveis pelo grau de supressão de invasoras. Os adubos verdes e seu resíduos têm uma grande influência na redução da infestação de plantas daninhas, seja por efeito de competição e/ou supressão, quebra de dormência das sementes, alelopatia, etc. A eficiencia do controle de infestantes pelos adubos verdes depende principalmente de sua copetitividade durante o crecimento e do potencial de cobertura do solo que oferecem seus resíduos depois do manejo. Estas características variam da acordo às espécies e variedades dos adubos verdes usados e estão relacionados principalmente com a velocidade e hábito de crecimento, asim como da quantidade e durabilidade da biomassa produzida. O sucesso do controle de plantas daninhas depende também do manejo utilizado referente a época, método e densidade de semeadura, assim como do momento e forma de manejo da biomassa. A rotação de culturas é uma ferramenta que facilita o controle de plantas daninhas e diminui os riscos de selecionar plantas daninhas resistentes. No manejo das infestantes sem herbicidas o princípio da prevenção deve ser privilegiado. Portanto, recomenda-se o uso de práticas que evitem a ressemeadura de invasoras; recomenda-se também a manutenção de uma boa quantidade de palha, o uso de plantas com efeito alelopático, o plantio em época adequada (antecipado para ganhar a concorrência com as invasoras), o uso de máquinas que permitam um bom corte da palha (com pouco revolvimento de solo na linha e deposição da semente em contato com o solo) e evitar períodos de pousio entre as culturas (Skora Neto, 1998). A incidencia de plantas daninhas está em relação direta com o comprimento do período de descanso. O pousio de inverno oferece cobertura verde e morta deficiente durante o período de inverno e de desenvolvimento da cultura de verão. Favorece o aumento do banco de sementes de plantas daninhas para as seguites culturas e aumeta as possibilidades de mayor competição por água e nutrientes na cultura de renda. Não existem receitas ou pacotes prontos, e a cada safra a estratégia de controle das infestantes sem herbicidas pode ser alterada em função de variáveis como clima, nível de infestação, quantidade de cobertura, variedade utilizada, mercado etc. Referências Bibligráficas Adegas, F. S., 1999: Manejo integrado de plantas daninhas em plantio direto na pequena propriedade. In: II Seminario Nacional Sobre Manejo e Controle de Plantas Daninhas em Plantio Direto. Resumos de Palestras. Aldeia Norte. Passo Fundo, Brasil, p. 7 – 14. Almeida, F. S., 1991: Controle de plantas daninhas em plantio direto. (Circular nº 67) IAPAR, Londrina, Brasil. 34 p. Bianchi, M. A., Manejo integrado de planas daninhas no sistema platio direto. In: II Seminario Nacional Sobre Manejo e Controle de Plantas Daninhas em Plantio Direto. Resumos de Palestras. Aldeia Norte. Passo Fundo, Brasil, p. 53 – 63. 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