ANÁLISE QUALIQUANTITATIVA DOS RESÍDUOS DE SERVIÇO DE SAÚDE GERADOS EM UM LABORATÓRIO DE ANATOMIA PATOLÓGICA DE GOVERNADOR VALADARES – MG André Lordes Porto. Tecnologia em Gestão Ambiental - Instituto Federal de Ciência e Tecnologia de Minas Gerais IFMG – Campus Governador Valadares. [email protected] Professor Orientador: Luiz Fernando Rocha Penna. Instituto Federal de Ciência e Tecnologia de Minas Gerais IFMG – Campus Governador Valadares. [email protected] RESUMO A geração de resíduos pelas diversas atividades humanas constitui-se atualmente em um grande desafio a ser enfrentado pelas administrações municipais, sobretudo nos grandes centros urbanos. O presente trabalho tem como objetivo geral, diagnosticar qualiquantitativamente a geração dos resíduos de serviço de saúde (RSS) resultantes de um laboratório de anatomia patológica de Governador Valadares. Para a análise qualiquantitativa dos resíduos de serviço de saúde, os mesmos foram coletados no dia subsequente ao da sua geração, de forma a verificar a quantidade gerada por tipo de resíduo e por setor do estabelecimento. Destaca-se a geração de resíduos no setor Área Técnica, sendo neste ambiente gerados os resíduos considerados perigosos. Observou-se neste setor, a geração de 37% da massa total de resíduos gerados no estabelecimento. É fundamental realizar mais pesquisas sobre os RSS gerados em laboratórios de anatomia patológica, sendo escassos estudos referentes a este tipo de gerador. PALAVRAS-CHAVE: geração; quantidade; resíduos de serviço de saúde. ABSTRACT The generation of waste from different human activities constitutes a major challenge currently being faced by local governments, especially in large urban centers. This paper aims to describe, diagnose quality quantitatively the generation of waste from healthcare (RSS) service resulting from a pathological anatomy lab of Governador Valadares. For quantitative analysis of residues quality of health service, they were collected on the day following its generation in order to check the amount of waste generated by type and sector of the establishment. Noteworthy is the generation of waste in the sector Technical Area, being in this environment generated waste deemed hazardous. It observed in this sector, generating 37% of the total mass of waste generated on the property. It is essential to perform more research on the RSS generated in pathology laboratories, and there are few studies on this type of generator. KEYWORDS: generation; quantity; waste of health service. 1 1 INTRODUÇÃO Durante sua história o homem desenvolveu a capacidade de produzir o que lhe era necessário ao consumo, de tal forma que atualmente produz-se exacerbadamente. Como consequência, passou-se a gerar maiores quantidades de resíduos, que acabaram por prejudicar o próprio ambiente humano. Hoje, a esse fato, dá-se maior atenção, pois recentemente percebeu-se o quanto as atividades humanas contribuem para a deterioração do meio ambiente e desfavorecem a sua saúde. A geração de resíduos pelas diversas atividades humanas constitui-se atualmente em um grande desafio a ser enfrentado pelas administrações municipais, sobretudo nos grandes centros urbanos (ANVISA, 2006). Para Mendes (2005), uma preocupação acompanha o desenvolvimento humano: a redução de resíduos e propostas de seu aproveitamento. Reduzir a geração de resíduos significa intervir com mudanças no comportamento social, como o padrão de consumo. De acordo com a ANVISA (2006), a gestão sustentável dos resíduos sólidos pressupõe reduzir uso de matérias-primas e energia, reutilizar produtos e reciclar materiais. A reciclagem tem sido um dos métodos empregado por empresas que desejam reduzir a extração de recursos naturais. Método este que consiste no reaproveitamento cíclico de matérias-primas de fácil purificação como, por exemplo, papel, vidro, alumínio etc. Segundo Santana e Ferreira (2008), os resíduos sólidos são resultado da sobra de atividades da comunidade em geral, sejam industriais, domésticas, hospitalares, comerciais ou agrícolas. Podem ser ainda resultado das atividades da área de serviços, assim como de uma simples atividade pública, como a varrição. A Política Nacional de Resíduos sólidos – PNRS (2010) define resíduo sólido como: “Material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d'água, ou exijam para isso, soluções técnicas ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível”. A norma NBR nº 10004/04 da Associação Brasileira de Normas técnica - ABNT (2004) classifica os resíduos sólidos em função dos riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde, como mostra a Tabela 1: 2 Tabela 1 - Classificação dos Resíduos Sólidos segundo riscos ao meio ambiente e à saúde. Se possuírem uma das seguintes características: Resíduos Classe I – Perigosos inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade. Podem Resíduos Classe IIA - Não inertes ter propriedades, biodegradabilidade, tais combustibilidade como: ou solubilidade em água e não se enquadram na classe I ou na classe IIB. Materiais que não se decompõe prontamente, Resíduos Classe IIB – Inertes quando em contato estático ou dinâmico com a água. Fonte: ABNT (2006), adaptado por autor (2014). Para Dias (2012), um dos maiores problemas ambientais da atualidade, em relação aos resíduos sólidos, é a falta de gerenciamento adequado, ou seja, a segregação, o acondicionamento, a coleta, o transporte, o tratamento e a disposição final ambientalmente correta. No que se refere aos resíduos de serviço de saúde (RSS), que são os oriundos das unidades de trato de saúde, uma das questões mais preocupantes é a manipulação destes resíduos dentro dos estabelecimentos que os produzem. Geralmente, os resíduos com potencial de contaminação são misturados ao resíduo comum, ou vice e versa. Sabe-se ainda que os RSS não são gerados apenas em hospitais, mas também, pelos demais serviços de assistência médica como: clínicas odontológicas, laboratórios, farmácias e clínicas veterinárias (MENDES, 2005). Os RSS são definidos pela Fundação Estadual do Meio Ambiente - FEAM (2008) como resíduos resultantes de atividades exercidas por estabelecimento gerador que, por suas características, necessitam de processos diferenciados no manejo, exigindo ou não, tratamento prévio para a disposição final. Dá-se ênfase aos RSS, não necessariamente pela quantidade gerada, mas pelo potencial de risco que representam à saúde e ao meio ambiente. A ANVISA (2006) afirma que estes resíduos representam risco à saúde ocupacional, seja ao pessoal ligado à assistência médica ou médico-veterinária, seja para o pessoal ligado ao setor de limpeza e manutenção. Conforme indica a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE, 2012) e o Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE, 2012), dos 5.565 municípios brasileiros, 4.282 prestaram em 2012, serviços atinentes ao manejo dos RSS, levando a um índice médio de 1,5 kg por habitante/ano. A ABRELPE e IBGE (2012) esclarecem que dentre os 1.668 municípios que compõe a Região Sudeste, 1.317 prestaram em 2012, serviços relativos ao manejo de RSS, sendo gerado em Minas Gerais, no mesmo ano, cerca de 2 kg/hab. 3 Segundo Pereira (2011), o grande volume destes resíduos é resultado da decorrente evolução econômico-social na qual a sociedade está inserida. Órgãos como a ANVISA e o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) têm se dedicado para orientar a conduta dos prestadores de serviço de saúde, quanto à correta manipulação dos RSS até seu destino adequado. A FEAM (2008) afirma que o gerenciamento correto dos RSS é importante para garantir a qualidade da saúde coletiva e a preservação do meio ambiente. A RDC ANVISA nº306/04 estabelece que: “O gerenciamento dos RSS constitui-se em um conjunto de procedimentos de gestão, planejados a partir de bases científicas e técnicas, normativas e legais, com o objetivo de minimizar a produção de resíduos e proporcionar aos resíduos gerados, um encaminhamento seguro, de forma eficiente, visando à proteção dos trabalhadores, a preservação da saúde pública, dos recursos naturais e do meio ambiente.” O gerenciamento correto dos resíduos significa não só controlar e diminuir os riscos, mas também alcançar a minimização dos resíduos desde o ponto de origem, que elevaria também a qualidade e a eficiência dos serviços que proporciona o estabelecimento de saúde (OPAS, 1997). No intuito de facilitar o gerenciamento dos RSS, a RDC ANVISA nº 306/04 e a Resolução CONAMA nº 358/05 classificaram-nos segundo grupos distintos de risco que exigem formas de manejo específicas, mostrados na Tabela 2: Tabela 2 - Classificação dos Resíduos de Serviço de Saúde de acordo com a RDC ANVISA nº 306/04. Grupo A: Engloba os componentes com possível presença de agentes biológicos que, por suas características de maior virulência ou concentração, podem apresentar risco de infecção. Ex.: peças anatômicas, tecidos, bolsas transfusionais contendo sangue. Grupo B: Contém substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou ao meio ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade. Ex.: medicamentos apreendidos, reagentes de laboratório, resíduos contendo metais pesados, dentre outros. Grupo C: Quaisquer materiais resultantes de atividades humanas que contenham radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de eliminação especificados nas normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN, como, por exemplo, serviços de medicina nuclear e radioterapia etc. Grupo D: Não apresentam risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao meio ambiente. Equiparam-se aos resíduos domiciliares. Ex: resíduos de área administrativa. Grupo E: Materiais perfuro-cortantes ou escarificantes, tais como lâminas de barbear, agulhas, ampolas de vidro, pontas diamantadas, lâminas de bisturi, lancetas, espátulas e outros similares. Fonte: ANVISA (2006), adaptado por autor (2014). 4 A RDC ANVISA 306/04 informa que para gerenciar esses resíduos, é preciso que os prestadores de serviços de saúde elaborem o Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde (PGRSS), sendo este, o documento que aponta e descreve as ações relativas ao manejo de resíduos sólidos gerados nos estabelecimentos de serviço de saúde. O gerenciamento dos RSS possui fases distintas, sendo uma delas a fase intraestabelecimento, relativa às etapas ocorridas desde o ponto de geração até a colocação dos resíduos para a coleta externa (FEAM, 2008). Braga (2012) apud Dias (2012) cita que a geração dos resíduos pode ser considerada como o início do processo de gerenciamento, onde o funcionário deve estar capacitado para verificar as características e o potencial infectante do resíduo. Ressalta-se que a geração desses resíduos deve ser mantida a níveis mínimos de volume, pois, além de minimizar os riscos de exposição a agentes perigosos presentes em algumas frações, há redução dos custos para o gerenciamento (FEAM, 2008). Para a ANVISA (2006), tanto a minimização quanto a segregação estão diretamente relacionados à mudança de hábitos das pessoas envolvidas. A FEAM (2008) informa que para identificar os problemas na gestão de resíduos, o estabelecimento deve fazer um diagnóstico da situação, questionando, por exemplo, qual é a geração mensal de cada grupo, se há medidas de minimização e quais são os cuidados necessários para o manuseio seguro. Segundo Costa (2001) apud Silva (2008, p. 42), “é necessária a caracterização dos resíduos antes mesmo de iniciar qualquer gerenciamento, a fim de garantir a segurança e o mínimo de riscos aos funcionários que manuseiam tais resíduos, ao meio ambiente e a comunidade como um todo”. A caracterização quantitativa e qualitativa dos RSS é uma ferramenta que propicia a detecção de possibilidades de minimização, através da reciclagem de alguns tipos específicos ou da diminuição da contaminação da massa total (SANTANA; FERREIRA 2008). Ressalta-se que, os resíduos do grupo D podem ser destinados à reciclagem ou à reutilização. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS, 1997), indicadores como quilograma de resíduos sólidos gerados por consulta e por dia, são úteis, pois permitem avaliar a magnitude da geração de resíduos nos estabelecimentos de saúde, além de servirem como ponto de partida para o dimensionamento do sistema de manuseio. A RDC ANVISA nº 306/04 estabelece alguns indicadores a serem produzidos no momento da implantação do PGRSS, estando presente dentre esses indicadores, a variação da geração de resíduos. A quantidade de resíduos depende da tecnologia usada e da eficiência dos responsáveis por esses serviços (OPAS, 1997). 5 Segundo Takayanagui (2005) apud Gil (2007), há variação de volume gerado, de acordo com as diferentes fontes geradoras, dependendo do nível de complexidade ou do tipo de serviço gerador e, ainda, do grau de utilização de produtos descartáveis, especialmente plástico e papel. O autor ainda afirma que a localização de um estabelecimento pode influenciar na geração dos resíduos. Em relação a laboratórios, são escassos os estudos relacionados aos resíduos gerados nestes estabelecimentos, sendo mais comum encontrar estudos referentes a hospitais. No entanto, são realizados vários procedimentos nestas instituições, e os resíduos nelas gerados também podem comprometer o meio ambiente e a saúde humana. Portanto, torna-se viável realizar estudo relacionado à geração de resíduos em laboratórios. Inseridos neste contexto, estão os laboratórios de anatomia patológica, onde também é fundamental o correto gerenciamento dos RSS e a elaboração de um PGRSS. Laboratórios especializados em anatomia patológica fazem uso de produtos químicos, materiais perfuro-cortantes, além dos materiais usados em áreas administrativas e refeitórios. Realizam diariamente observações macroscópicas e microscópicas em peças cirúrgicas e tecidos humanos. A Anatomia Patológica, na sua vertente assistencial, tem por objetivo central o diagnóstico baseado no exame morfológico de órgãos, tecidos e células (PORTUGAL, 2003). Desta forma, sabendo-se da importância do correto gerenciamento dos RSS dentro dos estabelecimentos prestadores de serviços de saúde, e da caracterização destes resíduos como auxílio para o gerenciamento, torna-se pertinente propor a seguinte questão: quais os tipos de resíduos sólidos gerados em um laboratório de anatomia patológica e em que quantidade estes resíduos são gerados? E o que sabem os colaboradores que trabalham no mesmo, a respeito dos resíduos sólidos? Sabe-se da relevância de buscar alternativas para a problemática dos RSS e, portanto, o levantamento da quantidade de resíduos sólidos gerada, torna-se uma ferramenta servível para orientar a elaboração do PGRSS, assim como o conhecimento que têm colaboradores que trabalham nestes estabelecimentos, pode orientar questões chaves relacionado ao manejo dos resíduos. Com base no exposto acima, o presente trabalho tem como objetivo geral, diagnosticar qualiquantitativamente a geração dos resíduos de serviço de saúde resultantes de um laboratório de anatomia patológica de Governador Valadares. Como objetivos específicos, identificar a composição dos RSS gerados no laboratório e verificar o que os colaboradores do laboratório sabem, a respeito dos resíduos sólidos. 6 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 2.1 Caracterização da Área de Estudo Governador Valadares situa-se no Leste do Estado de Minas Gerais e está localizada no Vale do Rio Doce. A cidade foi fundada em 1938 e conta com uma população aproximada de 275.568 habitantes (IBGE, 2013). Segundo o departamento de informática do Sistema Único de Saúde do Brasil – DATASUS (2013) apud Batista (2013), o município possui 151 estabelecimentos de saúde, 78 deles privados. O laboratório onde se realizou o estudo fica localizado na Rua Artur Bernardes, nº 1046, bairro Esplanada em Governador Valadares. Possui 15 funcionários e tem sua estrutura física distribuída em: recepção, administração, área técnica, microscopia, digitação, sala de utilidades, cozinha, arquivo, sanitários e sala de descanso (Figura 1). Sua especialidade, anatomia patológica, envolve a realização de diagnósticos de várias doenças, por meio de estudo ao microscópio de amostras de células ou tecido. Figura 1 - Planta baixa Laboratório Alvarenga. Fonte: Autor, Abril 2014. 2.2 Tipo de Estudo Trata-se de uma pesquisa quantitativa descritiva, a qual, Santos (2007) afirma ser desenvolvida selecionando-se amostra ou entrevistando-se indivíduos. A pesquisa descritiva, conforme Santos (2007), baseia-se em levantamento das características conhecidas que compõe um fato, fenômeno ou processo. Segundo Prodanov e Freitas (2013), a pesquisa descritiva observa, registra, analisa e ordenam dados, sem a interferência do pesquisador. A presente pesquisa também é do ponto de vista dos procedimentos técnicos, uma pesquisa de levantamento, onde se procede à solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas acerca do problema estudado para, em seguida, mediante análise quantitativa, obtermos as conclusões correspondentes aos dados coletados (PRODANOV; FREITAS, 2013). 7 2.3 Técnicas de coleta e Análise dos dados Os dados referentes à pesquisa foram obtidos no período de 07 (sete) de Abril/ 2014 a 3 (três) de Maio/2014. Para a análise quantitativa dos resíduos de serviço de saúde gerados no laboratório, os mesmos foram coletados no dia subsequente ao da sua geração, de forma que se pudesse verificar a quantidade de resíduos gerada por setor e posteriormente, a quantidade gerada por tipo de resíduo, conforme classificação da ANVISA (2004). Semanalmente os resíduos foram pesados com o auxílio de dois modelos de balança, uma delas da marca G-life, modelo CA 4000, usada para a pesagem dos resíduos gerados em quantidade superior a 2 kg por semana e a outra, para pesagem dos resíduos gerados em quantidade inferior a 2 kg, da marca Powerpack, modelo Pw 290. Os resíduos líquidos foram medidos com auxílio de uma proveta graduada em 1000 ml. Posteriormente os dados foram transferidos para tabelas confeccionadas no Microsoft Office Word. Foram feitas ainda, consultas ao sistema de informação do laboratório, a fim de averiguar a quantidade de exames realizados durante o período de estudo. Para verificar o que os colaboradores sabem a respeito dos resíduos sólidos, elaborou-se um questionário com uma pergunta aberta e outras fechadas, a fim de se obter informações importantes. O referido instrumento foi aplicado a todos os colaboradores nos dias 28 e 29 de Abril de 2014 e, posteriormente, foram gerados gráficos para demonstrar os resultados. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO O laboratório Alvarenga, segundo seu sistema de informação, realiza em média 91 exames por dia, dentre eles, exames anatomopatológicos e citológicos. O estabelecimento ainda não possui Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde - PGRSS. Todavia, a administração demonstrou, durante a realização deste estudo, interesse em realiza-lo. A Tabela 3 expõe a quantidade de resíduos gerados no laboratório durante o período de coleta de dados, exibindo a geração por setor e a geração por tipo de resíduo: 8 Tabela 3 - Geração total de RSS do Laboratório Alvarenga, no período de 07/04l/2014 a 03/05/2014. Total gerado por grupo Total/Setor (kg) A (kg) B (kg) B Líquido(L) D (kg) E (kg) Administração 1,7 - - - 1,7 - Recepção 18,4 - - - 18,4 - Sanitários 5,7 - - - 5,7 - Área Técnica 30,7 8,3 13,1 32,3 8,0 1,3 Microscopia 0 - - - - - Digitação 2,8 - - - 2,8 - Cozinha Sala de Utilidades 22,6 - - - 22,6 - 1,2 - 1,2 - - - Total 83,1 8,5 14,3 32,3 59,2 1,3 Setores Fonte: Autor, 2014. Destaca-se a geração de resíduos no setor Área Técnica, sendo neste ambiente gerados os resíduos considerados perigosos. Foram verificados resíduos do tipo químico como xileno, formaldeído, álcool e outros reagentes, observando-se ainda a geração de resíduos do tipo biológico como materiais usados na análise dos tecidos e peças cirúrgicas humanas. Verificou-se que o tipo de resíduo mais gerado na Área técnica, durante o estudo, foi do tipo químico, observando-se 13,1 kg de resíduo químico sólido e 32,3 litros de resíduo líquido. As peças anatômicas são postas na classificação da ANVISA como resíduos do Grupo A, definidos como componentes com possível presença de agentes biológicos. Todavia, autores como Mendes (2005) ressaltam que quando mantidas em solução de formol para análise citológica, histopatológica ou anatomopatológica, mudam de classe, pois a adição de formol à peça torna-a um resíduo químico perigoso, devido às características do produto químico adicionado. Portanto, neste caso, estas peças foram consideradas e quantificadas como resíduos do Grupo B. Segundo os dados da coleta, verificou-se que na área técnica, setor de maior geração de resíduos no laboratório, gerou-se 37% da massa total de resíduos do estabelecimento, como mostra a Figura 2. Figura 2 – Gráfico da geração de resíduos por setor do laboratório. 2% 2% 27% Administração 22% 37% 3% 0% Recepção 7% Sanitários Área Técnica Microscopia Digitação Fonte: Autor, 2014 9 Verificou-se que houve no estabelecimento, durante o período de estudo, uma geração média semanal de resíduos de aproximadamente 20,8 kg. Segundo observações, a quantidade total de resíduos corresponde a um volume inferior a 700 litros por semana e menor que 150 litros por dia. De acordo com a RDC ANVISA nº 306/04, o estabelecimento gerador de resíduos dentro deste limite pode optar pela instalação de um abrigo externo de resíduos reduzido, destacando-se as seguintes características: ser construído em alvenaria, fechado, dotado apenas de aberturas teladas para ventilação, restrita a duas aberturas de 10X20 cm cada uma delas, uma a 20 cm do piso e a outra a 20 cm do teto, abrindo para a área externa. Conforme dados obtidos no sistema de informação do laboratório, durante o período de estudo, foram realizados 3.246 exames ao todo. Portanto, no mesmo período gerou-se uma média de 26 g de resíduos por exame realizado. Observou-se que, em função da especialidade do laboratório, inexistiu a geração de resíduos do grupo C, definidos como radionuclídeos. Durante o período de estudo não houve, também, a geração de resíduos no setor Microscopia. Através da coleta dos resíduos observou-se a geração de resíduos, tanto no estado sólido como no estado líquido, e verificou-se a composição dos resíduos gerados, notando-se o descarte dos materiais mostrados na Tabela 4: Tabela 4 - Tipo de materiais descartados como resíduos por setor. Setores Resíduos gerados Administração Papéis, sacos plásticos e copos descartáveis. Sanitários Papéis higiênicos, absorventes. Área Técnica Papéis, sacos plásticos, filtros de papel, recipientes contendo restos de reagentes químicos, peças anatómicas, tecidos humanos, reagentes químicos, luvas descartáveis, papéis-toalha, navalhas, lâminas. Microscopia Ausência de resíduos durante o período de estudo. Digitação Papéis, sacos plásticos, cartucho de impressora. Cozinha Restos alimentares, restos de podas de jardim e folhas, copos descartáveis, papéis, sacos plásticos, papéis toalha, recipientes de plástico e de alumínio. Sala de Utilidades Recipientes contendo restos de produtos químicos, recipientes de plásticos, sacos plásticos, papéis, adesivos. Fonte: Autor, 2014. Através do questionário para verificar o que os colaboradores do laboratório sabem a respeito dos resíduos sólidos notou-se o seguinte: Quando perguntados, a maioria dos colaboradores afirmou saber as cores da coleta seletiva, porém disseram que não identificam os resíduos sólidos compatíveis com a cor (Figura 3). 10 Figura 3 – Gráfico sobre o que sabem os colaboradores em relação às cores da reciclagem. 13% 20% 67% Sim Não Mais ou menos Fonte: Autor, 2014 A Resolução CONAMA nº 275, de 2001 estabelece o código de cores para os diferentes tipos de resíduos, a ser adotado na identificação de coletores e transportadores, bem como nas campanhas informativas para a coleta seletiva, como indicado na Tabela 5: Tabela 5 – Código de cores dos resíduos sólidos recicláveis. Cores Material Reciclável Azul Papéis/papelão Vermelha Plástico Verde Vidros Amarela Metais Preta Madeira Laranja Resíduos perigosos Branca Resíduos ambulatoriais de serviços de saúde Marrom Resíduos orgânicos Cinza Resíduo geral não reciclável ou misturado, não passível de separação. Fonte: Resolução CONAMA 275/2001. Em relação aos Resíduos de Serviço de Saúde, ao serem questionados, a maioria dos colaboradores afirmou não saber o que significa a sigla RSS (Figura 4). Figura 4 – Gráfico sobre o conhecimento dos colaboradores a respeito da sigla RSS. 27% 6% 67% Sim Não Nunca ouviram falar Fonte: Autor, 2014 11 Os RSS, durante muito tempo, foram, e ainda são conhecidos como lixo hospitalar, o que pode explicar o desconhecimento da sigla por parte dos colaboradores do laboratório. Nesse sentido, promover educação ambiental seria uma forma de transmitir as informações necessárias aos colaboradores, de forma a gerar conhecimento a respeito dos riscos e tipos de resíduos, assim como informações sobre a segregação adequada. Ao serem interrogados, quase três quartos dos colaboradores disseram não conhecer a sigla PGRSS e o seu significado (Figura 5). Figura 5 – Gráfico sobre o conhecimento dos colaboradores a respeito da sigla PGRSS. 20% 7% Sim 73% Não Nunca ouviram falar Fonte: Autor, 2014 Em 12 de Julho de 2001 com publicação da Resolução CONAMA nº 283/01 é que foi adotado o termo Plano de Gerenciamento dos Resíduos de Serviços de Saúde – PGRSS, antes conhecido como Plano de Gerenciamento dos Resíduos da Saúde. A ANVISA (2006) informa que o PGRSS deve contemplar medidas de envolvimento coletivo. O planejamento do programa deve ser feito em conjunto com todos os setores definindo-se responsabilidades e obrigações de cada um em relação aos riscos. O Laboratório onde se efetuou a pesquisa ainda não possui o PGRSS, o que reduz o contato dos colaboradores com esse termo, e que pode explicar o fato deles não o conhecerem. 13% dos colaboradores, quando perguntados, afirmaram saber como são classificados os Resíduos de serviço de Saúde, e 33%, afirmaram saber, em partes, como estes resíduos são classificados (Figura 6). Figura 6 – Conhecimento dos colaboradores sobre classificação dos Resíduos de Serviço de Saúde. 33% 13% 54% Sim Não Mais ou menos Fonte: Autor, 2014 12 A RDC ANVISA nº 306/04 define que é da competência dos serviços geradores de RSS prover a capacitação e o treinamento inicial e de forma continuada para o pessoal envolvido no gerenciamento de resíduos. Portanto compete ao laboratório transmitir o conhecimento aos colaboradores a cerca da classificação dos resíduos, de forma que os colaboradores que ainda não conhecem a classificação passem a entendê-la, e favoreçam o melhor manejo dos resíduos dentro do estabelecimento. A identificação dos recipientes de coleta e armazenamento dos RSS também é fator que interfere no conhecimento, por parte dos colaboradores, dos tipos de resíduos gerados. Segundo a ANVISA (2006) a identificação deve estar aposta nos sacos de acondicionamento, nos recipientes de armazenamento, nos coletores de transporte interno e externo, e nos locais de armazenamento, em local de fácil visualização, utilizando-se símbolos, cores e frases, como mostra a Tabela 6: Tabela 6: Simbologia de identificação dos Grupos de resíduos. Grupo A: INFECTANTE Grupo B: QUÍMICOS Grupo C: RADIONUCLÍDEOS Grupo D: COMUNS. VIDRO PLÁSTICO PAPEL METAL ORGÂNICO Grupo E: PERFUROCORTANTES RESÍDUO PERFUROCORTANTE Fonte: ANVISA (2006), adaptado por autor (2014). 13 Ao serem questionados, cerca da metade dos colaboradores consideram ser necessário melhorar o gerenciamento dos resíduos no laboratório (Figura 7). Figura 7 – Gráfico sobre a necessidade de melhorar o gerenciamento dos resíduos. 20% 53% 27% Sim Não Não sabem Fonte: Autor, 2014 O gerenciamento adequado dos RSS tem o objetivo de minimizar a geração de resíduos e proporcionar aos mesmos um manejo seguro, de forma eficiente, visando a proteção dos trabalhadores, a preservação da saúde, dos recursos naturais e do meio ambiente (ANVISA, 2006). Em relação à pergunta aberta feita aos colaboradores, a maioria citou que poderia contribuir com a minimização dos resíduos gerados no laboratório. Informando como exemplo: o uso de papéis que seriam descartados, e que poderiam ser usados como rascunhos; o uso consciente de copos descartáveis e o uso mínimo de papéistoalha. Pôde-se perceber que algumas destas atitudes são tomadas por parte dos colaboradores, como a adoção de copos laváveis, evitando assim o uso desnecessário dos copos descartáveis. Atitudes simples como as citadas acima contribuem com a minimização dos resíduos gerados pelo laboratório, assim como ajudam reduzir a extração de matéria prima retirada de recursos naturais. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Sugere-se ao laboratório, a realização de seminários, reuniões, cursos e palestras para os colaboradores, em especial para os envolvidos diretamente com os resíduos com possibilidade de infecção e os resíduos químicos perigosos, contribuindo na prevenção de acidentes com os RSS e passando o conhecimento necessário ao gerenciamento adequado destes resíduos. Entende-se que o estabelecimento também deve manter uma educação continuada atualizando os procedimentos de manejo dos RSS sempre que houver necessidade, enfatizando as exigências técnicas e legais a respeito destes resíduos. 14 Conforme exposto acima, cabe aos estabelecimentos geradores de RSS elaborar o Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde. Portanto, o Laboratório em estudo deve buscar de imediato a elaboração do PGRSS. Ressalta-se ainda, a importância da cobrança por parte da fiscalização das agências ambientais e sanitárias como forma de manter os geradores de resíduos de serviço de saúde atualizados em relação ao correto manejo. Torna-se viável alertar a todos os colaboradores do laboratório as consequências advindas das agressões ao meio ambiente, relacionadas aos RSS. Algumas informações podem contribuir para soluções futuras. Sugere-se aos gestores do estabelecimento, incentivar os colaboradores, formas de minimizar a geração de resíduos dentro do laboratório, visto que algumas atitudes já são tomadas pelos mesmos. Pode-se ainda, avaliar a possibilidade de encaminhamento dos resíduos recicláveis para reciclagem. Entende-se que os resultados desta pesquisa servem de base para orientar a elaboração do PGRSS no laboratório. O aprofundamento deste trabalho contribuiria com formação de indicadores, como resíduos químicos por semana e resíduos perfurocortante por semana, para colaborar com o gerenciamento dos RSS. É fundamental realizar mais pesquisas relacionadas aos RSS gerados em laboratórios de anatomia patológica, sendo escassos estudos referentes a este tipo de gerador. 15 APÊNDICE Questionário aplicado aos colaboradores do laboratório a respeito do que sabem sobre resíduos sólidos? Dados de identificação: Setor: Data: Idade: Cargo: Nível de escolaridade: 1 - Você conhece as cores da coleta seletiva para reciclagem dos resíduos sólidos? ( ) sim ( ) não ( ) mais ou menos 2 - Você sabe o que significa a sigla RSS? ( ) sim ( ) não ( ) nunca ouvi falar 3 - Você sabe o que significa a sigla PGRSS? ( ) sim ( ) não ( ) nunca ouvi falar 4 - Você sabe como são classificados os resíduos de serviço de saúde? ( ) sim ( ) não ( ) mais ou menos 5 - Você considera ser necessário melhorar o gerenciamento dos RSS no laboratório? ( ) sim ( ) não ( ) não sei 6 - De que forma você acha que pode contribuir para reduzir os resíduos gerados no laboratório? 16 5 REFERÊNCIAS ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 1004, de 31 de Maio de 2004 – Resíduos sólidos-Classificação. 2004. ABRELPE, Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2012. São Paulo-SP, 2012. p. 88. 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