O PAPEL DO ENFERMEIRO EM UMA ESTRTÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA1 SOUZA, Daiane Fagundes de2; SCHIMITH, Maria Denise2; SEGABINAZI, Aline Dalcin3; ALVES, Camila Neumaier2; WILHELM, Laís Antunes2; SILVA, Silvana Cruz da2 STUMM, Karine Eliel2; RESSEL, Lúcia Beatriz2 1 Relato de experiência ²Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil. 3 Estratégia de Saúde da Família - Prefeitura Municipal de Santa Maria, Santa Maria, RS, Brasil. Email: [email protected] RESUMO Apresenta-se o relato de experiência de uma acadêmica do curso de enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria, durante a realização do Programa de Formação Complementar em Enfermagem (Profcen), em uma Estratégia de Saúde da Família (ESF). Esta vivência objetivou a aquisição de novas experiências na área da saúde coletiva, o reconhecimento do serviço e o acompanhamento das atividades inerentes ao enfermeiro. O mesmo ocorreu durante o mês de julho, no ano de 2012. Assim, foi possível observar as diversas possibilidades inerentes à profissão, além de conhecer o papel do profissional, este imbricado em apoiar e supervisionar o trabalho dos agentes comunitários de saúde, assistir às pessoas que necessitam de cuidados, organizar o cotidiano da unidade, planejar ações e executar atividades de promoção da saúde junto à comunidade. Enaltece assim a importância de integrar a academia com a realidade vivenciada pela enfermagem, de forma a contribuir para o aprendizado dos futuros profissionais. Palavras-chave: Enfermagem; Saúde da Família; Saúde coletiva. 1. INTRODUÇÃO A Estratégia de Saúde da Família (ESF) é uma proposta do Ministério da Saúde para a reorientação do modelo assistencial, a partir da organização da atenção básica, apostando no estabelecimento de vínculos e a criação de laços de compromisso e de corresponsabilidade entre profissionais de saúde e a população (BRASIL, 1997). A família é o objeto principal de atenção, entendida a partir do lugar de onde vive. Mais que uma delimitação geográfica, é nesse espaço que se constroem as relações intra e extrafamiliares e onde se desenvolve a luta pela melhoria das condições de vida, permitindo ainda uma compreensão ampliada do processo saúde/doença e, portanto, da necessidade de intervenções de maior impacto e significação social (BRASIL, 1997). O papel do enfermeiro em uma Unidade de Saúde da Família (USF) se desenvolve para apoiar e supervisionar o trabalho dos agentes comunitários de saúde (ACS), assistir às 1 pessoas que necessitam de cuidados, organizar o cotidiano da USF, planejar ações e executar atividades juntamente à comunidade. Além disso, tem como atribuições a execução de ações na assistência básica de vigilância epidemiológica e sanitária nas áreas de atenção à criança, ao adolescente, à mulher, ao trabalhador e ao idoso; desenvolver ações para capacitação dos ACS e técnicos de enfermagem; oportunizar os contatos com indivíduos sadios ou doentes, visando promover a saúde e abordar os aspectos de educação sanitária; promover a qualidade de vida e contribuir para que o meio ambiente torne-se mais saudável (BRASIL, 1997). Considerando os aspectos citados, surgiu o interesse em aprofundar os conhecimentos obtidos em sala de aula, do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria, na intenção de ampliar a visão sobre o exercício de enfermagem na saúde coletiva, com a busca por novas experiências. Dessa maneira, os locais de aulas práticas do 3º semestre de Enfermagem, na disciplina Saúde Coletiva III da UFSM, permitiram colocar a teoria apreendida em sala de aula em prática, perceber a importância da criação de vínculo, de promover a saúde, prevenir agravos, trabalhar na redução de danos e na manutenção da saúde da comunidade atendida pelos enfermeiros, instigou a procura por realizar essa vivência em uma USF. Entende-se que este tipo de atividade faz parte de uma etapa importante para o crescimento profissional, em que temos a oportunidade de estar próximos da realidade da atenção básica, permitindo repensar nossas atitudes, conhecendo as ações realizadas pelos enfermeiros e fomentando a busca por novos conhecimentos e pelo crescimento pessoal e profissional. Mediante ao exposto, objetiva-se apresentar um relato de experiência de uma acadêmica do curso de enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria, durante a realização do Programa de Formação Complementar em Enfermagem (Profcen), em uma Estratégia de Saúde da Família (ESF). 2. METODOLOGIA Trata-se de um relato de experiência, realizado por uma acadêmica do curso de enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria, que descreve as atividades realizadas no mês de julho de 2012, em uma Estratégia de Saúde da Família, no município de Santa Maria, totalizando 120 horas. Esta vivência foi possibilitada por meio do programa de Ensino e Extensão “Programa de Formação Complementar em Enfermagem” (Profcen) que permite aos acadêmicos do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria, a inserção em múltiplos espaços de produção de saúde, oportunizando a troca de experiências entre a instituição de ensino e serviços de saúde. 2 Assim, foi possível acompanhar o dia a dia do enfermeiro e da equipe de saúde, como também aprimorar aprendizados, e refletir sobre a atuação do enfermeiro em um ESF. Para inserção em tal iniciativa, foi necessária a elaboração de um plano de atividades, o qual consta de objetivos como, acompanhar as atividades desenvolvidas pela equipe de Enfermagem, buscando auxiliar sempre que possível; desenvolver visitas domiciliares; administração de medicamentos; realização de curativos; retirada de pontos; observar consultas de Enfermagem; participar da reunião da equipe; participar de grupos de educação em saúde; aperfeiçoar as habilidades técnicas conforme a demanda do campo; complementar e enriquecer a formação profissional. Além disso, para melhor descrever as atividades realizadas foi elaborado um relatório diário, contendo um breve resumo das tarefas realizadas durante o dia. Dessa forma, a seguir apresenta-se a experiência desenvolvida pela acadêmica de enfermagem, em uma ESF de Santa Maria. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO O profissional da enfermagem em uma ESF realiza atividades com a equipe e a população, organiza o cotidiano dos serviços, planeja ações de promoção da saúde e prevenção de agravos. Além disso, tem a oportunidade de tomar decisões juntamente com a equipe de saúde multiprofissional, com o usuário e seus familiares quanto aos cuidados com sua saúde, o que promove a atenção integral à saúde da população atendida. O trabalho do enfermeiro deve estar voltado também para as atividades clínicas da atenção básica de saúde, desenvolvido de forma a atender as necessidades de saúde de uma população. Deve-se levar em consideração o contexto social, histórico e econômico, de forma a promover a saúde. Para que isso seja possível, é preciso ver o usuário para além de suas necessidades biológicas por meio da escuta, do acolhimento, da relação humanizada, do vínculo, da responsabilização e do estímulo à autonomia (SCHIMTH, LIMA 2009). Dessa forma, o enfermeiro deve promover a continuidade da assistência prestada, criar e participar de grupos de educação em saúde, realizar consulta de enfermagem, solicitar e realizar exames (como o citopatológico), planejar, gerenciar, coordenar, executar e avaliar o ESF, além de supervisionar e coordenar as ações dos ACS e de auxiliares de enfermagem (LEAL, MONTEIRO, BARBOSA, 2004). Ademais, o profissional também precisa ter conhecimento prático e teórico no que diz respeito aos cuidados com a saúde, dados epidemiológicos, vacinas, curativos, administração de medicamentos, limpeza e esterilização de materiais, realizando assim uma supervisão com maior segurança e liderança frente à equipe. 3 Considerando que o enfermeiro está envolvido na organização das atividades da unidade, do ambiente de trabalho e da estrutura de atendimento, observou-se que a unidade em que foi realizada a vivência, atende satisfatoriamente as exigências do Manual de Estrutura Física das Unidades Básicas de Saúde. Tais exigências são cumpridas pelo fato de possuir uma sala de recepção, farmácia, sala de nebulização e administração de medicamentos, consultório de odontologia, sala de vacinas, sala de triagem, consultório da enfermagem, sala de reuniões, banheiro para os usuários e um para os funcionários, dois consultórios para clínicos gerais e um para o médico ginecologista, sala de curativos e suturas, sala de limpeza e esterilização dos materiais e, por último, a cozinha. O espaço físico de uma unidade básica de saúde deve proporcionar uma atenção acolhedora e humana, tanto para os trabalhadores e profissionais de saúde quanto para os usuários (BRASIL, 2006). Além disso, de acordo com o Ministério da Saúde, o atendimento na ESF deve ser sempre realizado por uma equipe multiprofissional habilitada para desenvolver as atividades de promoção, proteção e recuperação da saúde (BRASIL, 1997). Assim, a equipe da ESF onde se realizou as vivências é composta por um médicos generalista, um ginecologista, duas enfermeiras, duas técnicas em enfermagem, uma dentista, uma auxiliar de consultório dentário e oito ACS. Tal composição profissional configura uma equipe mínima de atendimento à saúde, visto que os médicos que ali atendem não fazem parte da equipe no sentido de trabalho em conjunto. Durante a realização do referido estágio pôde-se acompanhar a enfermeira na execução de atividades assistências e organizacionais. Dentre elas, acompanhar o trabalho do profissional em grupos de educação em saúde com diabéticos e hipertensos. As atividades realizadas neste grupo eram verificação de pressão arterial, orientações para uma boa alimentação e prática de exercícios, e distribuição de medicamentos conforme prescrição médica de cada um. O objetivo principal desta atividade visa auxiliar o paciente no controle e prevenção dos agravantes de sua doença. Também foi possível participar das reuniões da equipe da ESF, acompanhar a supervisão do trabalho das técnicas de enfermagem e ACS, e ainda acompanhar visitas domiciliares, junto aos ACS. Algumas dessas visitas eram em domicílios de crianças sem vacinas e sem certidão de nascimento. Nesse caso, pôde-se observar a resolução do problema, o que nos mostra o quanto o papel do enfermeiro é fundamental na atenção a saúde da população. Ainda, foi possível constatar durante estas visitas, como ações de educação e assistência por parte da ESF produzem mudanças e benefícios significativos nesta população que se encontra em situação de fragilidade social. Além disso, outras atividades que foram possíveis de realizar neste período foram administrar medicamentos, aplicar vacinas, realizar curativos, acompanhar consultas de 4 enfermagem, auxiliar na organização de materiais e medicamentos, conhecer o trabalho de toda a equipe de saúde, além de procurar integrar os conhecimentos adquiridos em sala de aula com a experiência diretamente ligada a atuação profissional da enfermeira. Assim, foi possível a união da teoria com a prática engrandecendo o conhecimento adquirido durante a realização da vivência, contribuindo para a completa formação deste futuro profissional da saúde. Ressalta-se aqui, a importância da integração ensino/serviço, que permitiu além da interação multiprofissional o reconhecimento das atividades fundamentais de uma ESF para a saúde da comunidade, bem como o envolvimento da acadêmica com as ações propostas pela enfermeira na execução de planejamento e gerenciamento de serviços de saúde. 3 CONCLUSÃO O caminho para a autonomia do exercício da enfermagem se fará com o domínio do conhecimento, bem como da prática e a utilização destes para o cuidado da saúde. Por isso, a importância da vivência em uma ESF possibilita fazer reflexões acerca da prática no campo e a contribuição para o aprendizado, pautado em conhecimentos previamente discutidos e socializados em aulas teóricas da graduação. Esta vivência é primordial e extremamente válida para a consolidação dos conhecimentos necessários para um bom desempenho e, portanto, para a formação profissional. Além disso, reconhece-se a importância do papel do enfermeiro em uma ESF, as suas ações e conhecimentos específicos. Dentro desta proposta, considera-se que os objetivos foram atingidos e superados de forma que impulsionaram o crescimento acadêmico e pessoal, instigaram a procura pela constante atualização e pela ampliação dos horizontes profissionais. REFERÊNCIAS ARAÚJO M.F.S; OLIVEIRA F.M.C. A Atuação do Enfermeiro na Equipe de Saúde da Família e a Satisfação Profissional. Revista Eletrônica de Ciências Sociais n.14, p.03-14. 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde da Família: Uma Estratégia para a Reorientação do Modelo Assistencial. Brasília: Secretaria de Assistência à Saúde. Brasília, 1997. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de Estrutura Física das Unidades Básicas de Saúde. Série A. Normas e Manuais Técnicos. 1. ed. Brasília, 2006. SCHIMIT, M.D.; LIMA, M.A.D.S. O Enfermeiro na Equipe de Saúde da Família: Estudo de Caso. (Artigo de Pesquisa). Revista Enfermagem UERJ, Rio de Janeiro, Abril/Junho2009. 5 LEAL, D. C. M. F.; MONTEIRO, E. M.; BARBOSA, M. A. - Os horizontes da percepção do enfermeiro do PSF sobre os limites de sua legislação. Revista da UFG, Vol. 6, No. Especial, Dez 2004. 6