Coração Outono/Inverno: casos clínicos. O que posso fazer pelo meu doente idoso com Enfarte agudo do miocárdio Kevin Domingues; Beatriz Santos EAM no idoso 20:57 EAM no idoso EAM no idoso Sr. Evaristo Antecedentes familiares: Pai – ţ AVC 80 anos Mãe – ţ EAM aos 75 anos Filho – saudável 82 anos Alergias: •Autónomo •Reformado – Banqueiro Antecedentes pessoais: Hipertensão arterial Diabetes Mellitus 2 Dislipidémia Excesso de peso (IMC 28.5) Tabagismo (antes 50 UMA, agora 1-2 cigarros quando joga o Sporting) Desconhecidas Medicação habitual: Ramipril 5 Metformina 1000 2id Sinvastatina 20 EAM no idoso “Começou há 1 hora, está cada vez pior” “Estou um bocado mal-disposto, acho que foram as moelas que me caíram mal” “Já tomei 2 nitromints que o Artur me deu e não passou” EAM no idoso COC AC: rítmico, SS II/VI AP sem alt Eupneico Abdómen livre TA=134/77mmHg sO2=97% FC=92bpm Sem edemas periféricos EAM no idoso 21:05 STEMI inferoposterolateral EAM no idoso O que fazer? 1. Dizer ao doente que devia ir para o HDS assim que possível! 2. Diazepam 5 e Oxigénio a 3L/min 3. Ligar 112 e activar a Via Verde coronária. Manter uma atitude calma, sentar o doente, evitar que este faça qualquer tipo de esforço físico, tais como, levantar-se, caminhar ou até falar. Dar AAS 162-325mg e, se possível, Ticagrelor 180mg (ou clopidogrel 600mg). EAM no idoso EAM no idoso EAM no idoso Antes Depois Oclusão Cx proximal angioplastia + colocação de stent revestido /com fármaco/farmacológico/com antiproliferativo EAM no idoso Transferido para o HDS. Unidade Coronária Enfermaria Reabilitação cardíaca Internamento sem intercorrências. Ecocardiograma transtorácico: - VE não dilatado, com paredes ligeiramente espessadas, com FSG conservada, sem alterações aparentes da cinética segmentar. - Disfunção diastólica tipo I. - Dilatação auricular esquerda. - Sem alterações valvulares significativas. EAM no idoso Alta após 3 dias de internamento. Medicação: Ácido acetilsalicílico 100 Clopidogrel 75 Ramipril 5 Bisoprolol 5 Metformina 1000 2id Atorvastatina 20 Orientação Consulta de Cardiologia Consulta de Desabituação tabágica Consulta de Nutrição EAM no idoso EAM no idoso Mas no idoso, não é sempre tão linear. EAM no idoso As guidelines para EAM no idoso são as mesmas que para os jovens o Personalizar a terapêutica o Estado funcional, comorbilidades, risco isquémico e hemorrágico, alterações fisiológicas (como declínio da função renal). Os scores de risco classificam os idosos como de alto risco Intervenção precoce Prescrição de toda a terapêutica indicada Acute Coronary Syndrome Management in Older Adults: Guidelines, Temporal Changes and Challenges Age Ageing. 2014;43(4):450-455 EAM no idoso 2/3 dos doentes que morrem com EAM têm ≥ 75 anos. <15% dos doentes nos ensaios clínicos de EAM têm ≥ 75 anos - Antithrombotic therapy in the elderly: expert position paper of the European Society of Cardiology Working Group on Thrombosis - Acute Coronary Care in the Elderly, Part II – AHA Statement. Circulation.2007; 115: 2570-2589 EAM no idoso Apresentação de STEMI no idoso EAM no idoso Atraso no pré-hospitalar Muito comum no idoso Sintomas atípicos atrasam reconhecimento do doente a próprio Cooperative Cardiovascular Project and the Worcester Heart Attack Study idade avançada, sexo feminino e raça não caucasiana – preditores de atraso Tempo sintomas-apresentação >75 anos 4,7 vs 2,1 horas Acute Coronary Care in the Elderly, Part II – AHA Statement. Circulation.2007; 115: 2570-2589 EAM no idoso Apresentação Bloqueio de ramo esquerdo >1/3 dos ECGs em doentes com >85 anos. Dor torácica à admissão no STEMI: 89,9% dos doentes <65 anos 56,8% dos doentes ≥85 anos IC aguda (Classe Killip ≥2) 11,7% dos doentes <65 anos 44,6% dos doentes ≥85 anos IC + sintomas atípicos Complicam diagnóstico Acute Coronary Care in the Elderly, Part II – AHA Statement. Circulation.2007; 115: 2570-2589 EAM no idoso Bloqueio completo de ramo esquerdo SupraST ≥ 1 mm em concordância com o QRS (5 pontos); InfraST ≥ 1 mm em V1, V2 ou V3 (3 pontos); SupraST ≥ 5 mm em discordância com o QRS (2 pontos) - sensível mas não específico para isquémia no BCRE (mas está associado a pior prognóstico) Um score de ≥ 3 pontos tem a especificidade de 90% para EAM EAM no idoso Bloqueio completo de ramo esquerdo EAM no idoso Candidatos a reperfusão? Muitos idosos com STEMI não têm critérios ideais para reperfusão. Justificações comuns: 1. Atraso na apresentação 2. ECG anormal prévio 3. Duração indeterminada 4. Comorbilidades Anemia pode limitar dupla antiagregação Presença de demência associada a uma probabilidade 27% menor de reperfusão Krumholz HM, Friesinger GC, Cook EF, Lee TH, Rouan GW, Goldman L (1994). Relationship of age with eligibility for thrombolytic therapy and mortality among patients with suspected acute myocardial infarction. J Am Geriatr Soc, 42:127-131. EAM no idoso Candidatos a reperfusão? Registo GRACE 30% dos doentes com STEMI com apresentação <12h, não receberam terapêutica de reperfusão Factores associados: Idade ≥75; odds ratio [OR], 2.63; 95% CI, 2.04 a 3.38 Sexo feminino, ausência de dor torácica e ICC. Eagle KA, Goodman SG, Avezum A, Budaj A, Sullivan CM, Lopez-Sendon J; GRACE Investigators. Practice variation and missed opportunities for reperfusion in ST-segment–elevation myocardial infarction: findings from the Global Registry of Acute Coronary Events (GRACE). Lancet. 2002; 359: 373–377 EAM no idoso Fibrinólise no idoso Benefício na mortalidade vs sem reperfusão Incluindo mortes relacionados com a terapêutica (HIC, AVC, choque, ruptura miocárdica) O risco de reperfusão no muito idoso ≥85 anos precisa de mais estudos Contudo, no estudo GUSTO-1 • Quase 10% dos doentes idosos têm contra-indicações absolutas para fibrinólise. Acute Coronary Care in the Elderly, Part II – AHA Statement. Circulation.2007; 115: 2570-2589 EAM no idoso Fibrinólise no idoso EAM no idoso Intervenção coronária percutânea no idoso Rácio risco/benefício favorece ICP sobre fibrinólise em pequenos estudos randomizados, meta-análises e estudos observacionais. São precisos mais dados em doentes ≥80 anos O maior benefício da ICP é a redução de reenfarte e necessidade de revascularização, com ligeira redução na mortalidade. Acute Coronary Care in the Elderly, Part II – AHA Statement. Circulation.2007; 115: 2570-2589 EAM no idoso Seguimento do Sr. Evaristo 1.º mês pós-EAM O meu periquito já não pia… Estou muito desanimado… EAM no idoso Depressão no pós-EAM Sintomas depressivos em ~42% dos doentes pós-EAM. Factor de risco significativo para eventos cardíacos em doentes ≥65 anos Depressive symptoms predict 12-month prognosis in elderly patients with acute myocardial infarction J Cardiovasc Risk. 2002 Jun;9(3):153-60. Os doentes com EAM devem ser avaliados para a presença de depressão em intervalos regulares durante o período pós-EAM, incluindo a hospitalização. ISRS preferíveis a antidepressivos tricíclicos AAFP Guideline for the Detection and Management of Post–Myocardial Infarction Depression Ann Fam Med. 2009 Jan; 7(1): 71–79. EAM no idoso Seguimento do Sr. Evaristo 4.º mês pós-EAM Sinto o coração muito rápido. Na internet dizem que pode ser uma fibrilação ventricular… EAM no idoso Holter 24h “…períodos de fibrilhação auricular…” CHA2DS2-VASc – 5 HAS-BLED – 2 EAM no idoso EAM no idoso EAM no idoso Primum non nocere. Haja bom senso. Enfermeira Fatinha