Comunicação à 4ª Secção Os tempos de crise que hoje vivemos vão exigir de todos nós, advogados, um esforço suplementar na defesa dos direitos das pessoas, que tantas vezes se dão por adquiridos, mas que os períodos conturbados se encarregam de ofender. Cabe-nos a nós assumir sem pruridos e com coragem a linha da frente da defesa de tais direitos, pois estão infelizmente reunidas todas as condições para que as pessoas se vejam gravemente ofendidas na sua esfera jurídica, ao arrepio dos princípios estruturantes do Estado de Direito em que todos gostamos de viver. É nos períodos de crise que as Pessoas têm a oportunidade de colocar a tónica na superioridade de espírito que são capazes de alcançar, mas é também nestes períodos que se cometem os maiores atropelos aos direitos mais básicos das pessoas. Antes dos nossos direitos estão os nossos deveres, sendo na conjugação equilibrada de ambos que reside a nossa responsabilidade perante a sociedade, o nosso papel enquanto advogados, a exigência de estarmos à altura do que as pessoas vão necessitar da nossa parte. Nós existimos para servir os outros, e só podemos ser úteis e fazer a diferença se nos apetrecharmos com todos os instrumentos necessários à defesa das pessoas que nos procuram, em termos de conhecimentos, de assunção das nossas elevadas responsabilidades, cientes de que a qualquer momento nos pode ser exigido que demos o melhor de nós mesmos. Ali onde estão um idoso ou uma criança desprotegidos tem de estar um advogado fortalecido, onde estiver uma pessoa com uma carência grave tem de estar um advogado atento, onde houver uma pessoa cujos direitos sejam ameaçados tem de estar um advogado combativo e corajoso, mesmo quando as suas condições de trabalho não são as melhores, mesmo quando a nossa profissão atravessa uma crise sem precedentes, a impor a discussão de tantos e tão variados assuntos, com a abertura de espírito suficiente para aceitarmos conciliar as nossas ideias com ideias diferentes das nossas, sendo todas elas globalmente necessárias à sustentabilidade da advocacia em Portugal no futuro. Chamo a especial atenção de todos para os idosos, para aquelas pessoas que já deram tudo o que podiam à sociedade, mas que, em troca, não recebem desta o mínimo que se lhe impunha. Um idoso não é um lenço de papel que se deita fora depois de usado. É muitas vezes um mestre, uma soma de mais-valias desaproveitadas pela sociedade, uma peça chave sem a qual o puzzle não se completa. É chegada a altura de defender a elaboração e aprovação de um estatuto do idoso, que contemple a defesa dos mais variados aspectos da sua vida, pois à semelhança das crianças, são seres humanos fragilizados, sendo postos à margem e em segundo plano, quando deveriam estar no lugar cimeiro das nossas preocupações, por respeito, por agradecimento pelos seus contributos, por uma questão de responsabilidade, por solidariedade inter-geracional. Para sermos cidadãos temos, primeiro, deveres e, só depois, direitos. É a minha convicção pessoal, que nunca deixarei de defender em cada dia da minha vida. Aprendamos, pois, a ser cidadãos, cultivando com cuidado o caminho que nos há-de levar ao amanhã, agradecendo o caminho que foi cultivado para nós, pelos nossos idosos. Conclusão Devemos pugnar pela elaboração de um estatuto do idoso. A delegada ao Congresso Joana Roque Lino Largo de São Domingos, 14 – 1º 1169-060 LISBOA-PORTUGAL Tel. +351 21 8823556 | + 351 236 209 650 [email protected] www.oa.pt