Dra Edla Polsinelli Bedin Serviço de Gastro-Hepatologia Doença Hepática Alcoólica Introdução 2 bilhões de pessoas /ano consomem bebidas alcoólicas morrem 2 a 2,5 milhões de pessoas / ano devido uso de álcool (IEA, CH, violência e colisões de automóveis). Em 2003 : 44% dos óbitos por DHA No mundo: custo estimado do consumo nocivo /ano: 0,6% a 2% do PIB global (CISA =Centro de Informações de Saúde e álcool) *OMS **CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas) / UNIFESP 15% da população mundial é dependente de álcool 24 milhões de pessoas no Brasil 67.500 pessoas em São José do Rio Preto Doença Hepática Alcoólica Doença Hepática Alcoólica ALCOOLISMO Tolerância: estado de adaptação; o aumento na ingestão de álcool é necessário para produzir o efeito desejado Dependência Física: síndrome na retirada do álcool, que melhora com o álcool ou outras drogas Perda de controle: uma vez que inicia o consumo, não consegue controlar a quantidade Vício: medo de abstinência que leva à recidiva Doença Hepática Alcoólica ALCOOLISMO questionários padronizados e validados CAGE – para abuso de álcool / screening AUDIT-C – para abuso e dependência do álcool CAGE 2 ou mais: sensibilidade 70-96% e especificidade 91-99% C = cut; A= annoyed; G=guilty; E=eye Já sentiu necessidade de cortar a bebida? Já se sentiu constrangido por críticas ao seu etilismo? Já se sentiu culpado por beber? Já bebeu pela manhã para sentir-se melhor? Pelo menos uma resposta positiva = indica problemas com o álcool com alta sensibilidade e especificidade 2 + = maioria alcoolista 4 + = 50% alcoolista Doença Hepática Alcoólica ALCOOLISMO Questionário AUDIT-C / OMS 10 questões Identificação de etilistas “pesados” antes da dependência ≥ 8 H > 60 anos = + ≥ 4 M, adolescentes, H < 60 anos = + Sensibilidade 51 a 97% Especificidade 78 a 96% Pelo menos uma resposta positiva = indica alcoolismo ativo ou dependência 14 ou mais doses por semana = indica etilismo pesado ou dependência Fígado e Álcool Doença Hepática Alcoólica Lesões Extra-hepáticas em Etilistas Crônicos Rins Fígado SNC Toxicidade Direta Coração Trato gastrointestinal Etanol “caloria vazia” Coração Desnutrição SNC Fígado e Álcool Patogenia da Doença Hepática Alcoólica Metabolismo Hepático do Álcool Ingestão Absorção Fluido extravascular Metabolismo 90-95% Difusão Passiva Simples Sangue 75% 25% Oxidação ADH Excreção 2-10% Fígado e Álcool Patogenia da Doença Hepática Alcoólica Metabolismo Hepático do Álcool no HEPATÓCITO Retículo endoplasmático O2 - Etanol 10 a 15% 90 a 85% NADPH CYP2E1 NAD+ MEOS CITOSOL HEPÁTICO ADH NADP+ NADH Aldeído Acético MITOCON DRIA Aldeído-oxidase Xantina-oxidase O2- NAD+ ALDH Síntese de ácidos graxos NADH Acetato Efeitos do Aldeído acético na lesão hepática Aumenta a peroxidação lipídica Liga-se a membranas plasmáticas Lesa mitocôndrias Inibe o reparo nuclear Altera a função microtubular Forma complexos com proteínas Ativa complemento Estimula a formação de superóxido Aumenta a síntese de colágeno Patogenia da Doença Hepática Alcoólica Esteatose Síntese de ácidos graxos Síntese Triglicérides Esteatose Dieta Ácidos graxos X Oxidação Tecido adiposo NADH Função mitocondrial alterada Patogenia da Doença Hepática Alcoólica Mecanismo da Peroxidação Lipídica Neutrófilos Células de Kupffer Fibrose CYP2E1 Aldeído e xantina oxidase Fe Estresse oxidativo (O2-) Disfunção mitocondrial ESTEATOSE Depleção de antioxidantes (Vit. A, E) Peroxidação lipídica Patogenia da Doença Hepática Alcoólica Mecanismos Imunes e Inflamatórios Aldeído Acético neoAg (?) Peroxidação lipídica IL6 TNF TNF IL8 Fibrose Etanol Aumento da permeabilidade intestinal Endotoxina Inflamação FATORES DE RISCO PARA DESENVOLVER DHA: Diretos: Quantidade de álcool ingerida : H 40gr M 20gr / dia Continuidade tempo de ingesta : Hepatite alcoólica = 5 anos Cirrose Hepática = 10 anos Indiretos: Sexo feminino Desnutrição Associações: VHC, VHB, Ferro, obesidade Substâncias hepatotóxicas em bebidas alcoólicas Fator genético Fígado e Álcool Patogenia da Doença Hepática Alcoólica Fases da Doença Alcoólica Hepática Saudável 50 a 55% Esteatose 10 a 35% Hepatite 10 a 20% Cirrose Lesões Hepáticas pelo Álcool ESTEATOSE após 3 a 7 dias de consumo etílico ASSINTOMATICA E REVERSÍVEL Macrovesicular Zona centro-lobular HEPATITE ALCOÓLICA: Evolui para cirrose até em 50% Histologia: balonização de hepatócitos necrose infiltrado inflamatório (neutrófilos) fibrose pericelular e perivenular CIRROSE HCC: 5 a 10% dos que têm CH Progressão de esteatose alcoólica para fibrose e cirrose Fatores preditivos Manutenção do álcool / Quantidade ingerida Esteatose macro e microvesicular Megamitocôndria Gênero feminino Grau da esteatose na primeira biópsia Fibrose perivenular Giraud et all., Gastroenterol Clin Biol. 1998 Dec;22(12):997-1002 Teli MR et all.,Determinants of progression to cirrhosis or fibrosis in pure alcoholic fatty liver. Lancet. 1995 Oct 14;346(8981):987-90 Dose do Álcool OMS: consumo aceitável: H: 3 doses/dia - 15 doses \ semana M: 2 doses/dia – 10 doses \ semana 1 dose = 8 a 13 gr de etanol Homens e mulheres não devem beber por pelo menos dois dias na semana. Uma dose: 285 ml de cerveja 120 ml de vinho 30 ml de destilado (whisky, vodka, pinga). (CISA – Centro de Informações de Saúde e Álcool) Fígado e Álcool Conteúdo de Etanol em Algumas Unidades Alcoólicas Bebida Alcoólica Unidade (ml) Conteúdo de Etanol (g) Cachaça dose (50) garrafa (660) litro (1000) 17-20 220 340 dose (50) litro (1000) dose (50) Taça 16-18 320 8 10 copo (250) lata (350) garrafa (660) 9 13 25 Outros destilados (uísque, vodca, etc) Conhaque, Rum, Steinhager “Aperitivos” Campari, Martini, Vinho Cerveja Neves MM et al. Disc. Gastroenterol. Clin. da EPM. GED 8(1):17-20 Quantidade \ dia = Dose (ml) x grau x 0,8 100 Graus de bebida: Cerveja 4 Vinho 12 Uísque 43 Conhaque 40 Rum 40 Pinga 46 Moyses & Minci Gastroenterologia e Hepatologia Fígado e Álcool Hepatite Alcoólica Sinais e Sintomas Anamnese + Exame Físico • Leve – Fadiga, anorexia, hepatomegalia • Moderada a Grave – Dor em hipocôndrio direito, icterícia, desnutrição, febre, ascite, HDA, encefalopatia, neuropatia periférica • Associada a cirrose – Subclínica – Descompensação da hipertensão portal e insuficiência hepática Fígado e Álcool Hepatite Alcoólica Exames laboratoriais laboratoriais de 17 pacientes internados na Exames Enfermaria de Gastroenterologia do H. de Base AST/ALT > 2 fev. 99/fev. 2000 Exame Média Variação AST (UI) 421 (18 – 4.500) ALT (UI) VCM 174 (18 – 1.142) Leucocitose AST / ALT 2,4 – GGT (UI) 506,5 (62 – 1.739) FA (UI) 93 (26 – 213) ALB (g/dl) 3,5 (2,1 – 4,9) BIL (mg%) 7,5 (0,5 – 34,9) VCM (fl) 101 (93 – 108,3) Leuco (mm3) 9193 (3.800 – 22.200) AST ALT +- 400 UI/ L GGT Imagem Hepática (USG, TC, RNM) Biópsia Fígado e Álcool Doença Hepática Alcoólica Diagnóstico Laboratorial • Função discriminante de Madrey (FD) • > 32 = mau prognóstico • Índice de mortalidade em 4 sem ≥ 35% FD = 4.6 x (TP(s) do paciente – TPcontrole) + BT Madrey et al. Gastroenterology, 1978 AASLD, Hepatology janeiro 2010 Fígado e Álcool Hepatite Alcoólica Tratamento Medicamentoso Corticóides: Prednisolona 40 mg E.V. / dia por 28 dias Pentoxifilina: 400 mg V.O. 3x/ dia por 28 dias AASLD, Hepatology janeiro 2010 Fígado e Álcool Cirrose Alcoólica Sinais, sintomas e achados laboratoriais • Fadiga, anorexia, desnutrição • Ascite, encefalopatia, icterícia hipertensão portal, • Hepatomegalia ou fígado • Coagulopatia, Alb , Bil , AST/ALT > 2 • US - superfície irregular e nodular • EDA – verizes, gastropatia hipertensiva Fígado e Álcool DAF – Hepatite alcoólica Diagnóstico Diferencial • Hepatites virais • Drogas • Esteatohepatite não alcoólica (superposição?) – Obesidade – Diabetes – Síndrome metabólica – By-pass gástrico – Desnutrição Fígado e Álcool Comorbidades Associadas ao Etilismo • Miocardiopatia alcoólica • Miopatia • Doença neurológica – Korsakoff (defic B1 – tiamina) – Disfunção cerebelar crônica – Degeneração cerebelar alcoólica – Neuropatia periférica • Pancreatite crônica • Desnutrição • Osteopenia Keeffe EB, 1997 Fígado e Álcool Comorbidades Associadas à Doença Hepática Alcoólica • Doenças comuns em cirróticos – Miocardiopatia do cirrótico – Hepatites por vírus VHC VHB Keeffe EB, 1997 Fígado e Álcool Doença Hepática Alcoólica Diagnóstico Laboratorial Marcadores de Consumo de Álcool • Consumo recente – Etanol no sangue (100 – 300 mg/%) – Metanol no sangue – Metabólito de serotonina na urina 5 hidroxi indol-acético Morgan MY, 1999 Fígado e Álcool DAF – Biópsia Diagnóstico Histológico Esteatose 60-95% Balonização de hepatócitos 60-90% Corpúsculos acidófilos 60-90% Corpúsculos de Mallory 70-75% Infiltrado neutrofílico (periportal 75%) 50-85% Fibrose perivenular 50-75% Mendenhal CL. Clin Gastroenterol, 1981; Chedid et al. Am J Gastroenterol, 1991; French et al. Semin Liver Dis, 1993 Importantes para o Prognóstico: - Severidade da inflamação - Alterações colestáticas Pior Prognóstico Fígado e Álcool Doença Hepática Alcoólica Tratamento Abuso de Álcool Fígado aumentado VCM; AST > ALT; GT ou FA esteatose Abstenção Melhora Seguimento Febre, icterícia, hepatomegalia dolorosa Leuco; AST > 2x ALT (hepatite alcoólica) Cirrose hepática e suas complicações Abstenção Tto medicamentoso Suporte Abstenção Transplante de fígado Piora ou sem resolução Melhora e programa de reabilitação Biópsia do fígado Hepatite alcoólica grave Outras doenças do fígado Fígado e Álcool Doença Hepática Alcoólica Tratamento da hepatite alcoólica • Abstenção do álcool • Investigar fatores precipitantes • Prevenir abstinência alcoólica aguda • Clordiazepóxido • Suporte nutricional e Multivitamínicos • Vit B (Piridoxina, Tiamina) C, A, K, Folato, • K, Mg, Proteína • Tratar as complicações • ascite e encefalopatia, HDA Fígado e Álcool Cirrose Alcoólica Indicação para Transplante de Fígado • Aumento da sobrevida • Favorece a melhor qualidade de vida • Melhora parâmetros fisiopatológicos importantes • Requer abstenção > 6 meses • Sobrevida: 60% em 7 anos Charithers RL Jr. AASLD Practice Guidelines, Liver Transplantation, 2000 Fígado e Álcool Antes do transplante Após o transplante Tenham um Bom Dia!