2002 Trabalho 2186 - 1/4 EDUCAÇÃO EM SAÚDE PARA A REALIZAÇÃO DO EXAME PAPANICOLAOU: UMA EXPERIÊNCIA COM MULHERES DE UMA UNIDADE DE REFERÊNCIA, RECIFE-PE Brandão-Neto, Waldemar1 Oliveira, Jonas Welton Barros de2 Santos, Márcia Cristina Martins dos3 Andrade, Carla Andréia Alves de4 Monteiro, Estela Maria Leite Meirelles5 Aquino, Jael Maria de6 Introdução: O câncer cérvico-uterino é a doença crônico-degenerativa, apresentando possibilidade de cura se for diagnosticada precocemente (1). É um problema de saúde pública em países em desenvolvimento, pois alcança altas taxas de prevalência e mortalidade em mulheres de estratos sociais e econômicos mais baixos e que se encontram em plena fase produtiva(1). É o tipo de câncer que apresenta um dos mais altos potenciais de cura pela prevenção. A incidência ocorre na faixa etária de 20 a 29 anos e o risco aumenta à medida que se atinge a faixa etária de 45 a 49 anos(1). O teste Papanicolaou é aceito internacionalmente como o instrumento mais adequado e de baixo custo, conhecido e aceito para o rastreamento deste tipo de câncer. A coleta do material pode ser realizada por médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem, desde que treinados previamente(2). A periodicidade da realização deste exame é indispensável quando se pensa em qualidade de prevenção do câncer de colo uterino, pois quando deixa de realizá-lo com a mulher compromete a prevenção do agravo e diminui a possibilidade do diagnóstico precoce(2). Estudo realizado em uma Unidade Básica de Fortaleza aponta que a mulher geralmente só procura fazer o exame de prevenção quando surgem sintomas, por ter vivenciado este exame com apreensão e medo; sente-se constrangida em expor seu corpo e tê-lo examinado, sobretudo, quando o profissional de saúde é do sexo masculino; não tem 1 Acadêmico de Enfermagem 9º período da Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças (FENSG-UPE). E-mail: [email protected] 2 Enfermeiro. Aluno Especial do Programa Associado de Pós-graduação em Enfermagem UPE/UEPB 3 Enfermeira. Mestranda do Programa Associado de Pós-graduação em Enfermagem UPE/UEPB 4 Enfermeira da Estratégia Saúde da Família do Município de Santa Cecília – PB. Aluna do Curso de Pós-graduação Lato sensu em Estomaterapia (FENSG-UPE). 5 Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela UFC. Docente da FENSG e do Programa Associado de Pós-Graduação em Enfermagem UPE/UEPB. 6 Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela EERP/USP. Docente da FENSG e do Programa Associado de Pós-Graduação em Enfermagem UPE/UEPB. Todos são membros do Grupo de Estudos e Pesquisas em Epistemologia e Fundamentos do Cuidar 2003 Trabalho 2186 - 2/4 conhecimento do corpo e tampouco de sua sexualidade(3). Assim, é imprescindível que o profissional de saúde venha desenvolver ações estratégicas de educação em saúde junto às mulheres, no sentido de melhorar a relação profissional de saúde-usuária, pois não basta somente o exame ser oferecido, as mulheres precisam reconhecer esta necessidade. Para Monteiro e Vieira(4) (pág. 27): “As ações de Educação em saúde devem corrigir a tendência de uma ação em saúde fragmentada e embasada em uma atitude autoritária, verticalizada, de imposição de um saber cientifico descontextualizado e inerte em relação aos anseios da população, no tocante a sua saúde e condições de vida”. Diante do exposto, o referido trabalho justifica-se pela necessidade do profissional de saúde, em especial o Enfermeiro, desenvolver ações estratégias de educação em saúde, mediante metodologias participativas, com a conscientização da população feminina para um viver saudável. Objetivo: Realizar ações de educação em saúde com um grupo de mulheres que se submetem ao exame papanicolaou. Metodologia: Trata-se de um relato de experiência, desenvolvido com um grupo de mulheres, na faixa etária de 20 a 60 anos, que aguardavam a realização do exame papanicolaou, no Ambulatório da Mulher de uma Unidade de Referencia na cidade do Recife-PE. Resultados: A atividade foi iniciada com uma apresentação para as mulheres dos autores e os objetivos do trabalho a ser realizado. Esse momento inicial é muito importante, pelo fato de estabelecer vínculos e uma relação de confiança com as mesmas. Mediante a realização de uma investigação da realidade das participantes, identificamos temas de seu próprio interesse, dessa forma a abordagem da atividade se deu em 3 momentos. 1° Momento: Conhecendo o aparelho reprodutor feminino: Nesta etapa foi abordada a anatomia do aparelho reprodutor feminino, foi mostrado desde as estruturas externas quanto às internas que compõem o aparelho reprodutor. Para tanto, foi confeccionado cartazes com figuras relativas ao tema. Foi percebido que as mulheres possuem muitas dúvidas em relação ao seu corpo, inclusive de onde o material do exame é retirado. Este primeiro momento foi muito importante, pois um dos fatores que leva a mulher a não adesão ao exame é o não conhecimento sobre seu corpo. 2° Momento: Materiais utilizados no exame e significados da prevenção para as mulheres: Neste segundo momento foram trabalhados os materiais que são utilizados para a coleta do exame, assim como o significado 2004 Trabalho 2186 - 3/4 deste tipo de exame para as mulheres, muitas vezes marcado por medos e tabus, como pode ser constatado nas falas: (...)a mulher virgem pode fazer o exame, como é feito então(...)Perde a virgindade, (...)as gestantes podem fazer(...), (...)uma pessoa que já fez a retirada do útero pode fazer o exame(...). Nesta etapa, diante dos questionamentos relatados pelas mulheres, procuramos valorizar a troca de experiências já vivenciadas por outras participantes que conheciam um pouco mais o exame. Ao término deste momento, percebemos que as mulheres mostraram bastante interesse e curiosidade sobre o assunto, no entanto, o que falta para elas é mais informação com troca de conhecimentos, de modo a valorizar o saber popular contextualizado com a realidade das mesmas. 3° Momento: Como é realizado o exame de prevenção e sentimentos das mulheres vivenciados frente ao exame: Este último momento buscamos valorizar não só o procedimento técnico, mas também os sentimentos, vontades e opiniões das mulheres. Foi relatado pelas mulheres motivos para que as mesmas não realizassem o exame preventivo, como pode ser apreciado nas falas: (...)os profissionais de saúde do posto de meu bairro, fazem comentários com outras pessoas, em relação a nossa intimidade, além de que eles entregam o resultado do exame na frente de todos os pacientes, em vez de nos levar para o consultório, conversar, trocar informações(...), (...)não gosto quando é homem que vai fazer o exame, tenho vergonha(...), (...)faz 2 anos que não faço e exame, pois tem uns profissionais de saúde que parecem que não sabem fazer o exame, da ultima vez que eu fiz a pessoa que coletou o material machucou minha vagina, por isso agora tenho medo em fazer novamente(...). Conclusão: As ações educativas buscam estabelecer a participação, o diálogo, a troca de experiências e a construção de um novo saber, a partir da valorização do saber popular unido ao saber cientifico, de modo a estabelecer uma co-participação entre os profissionais de saúde e a comunidade no enfrentamento das reais necessidades e busca de soluções para a transformação da realidade. As mulheres expuseram a importância do momento de diálogo com o profissional, de forma a proporcionar segurança e confiança e a não ter medo frente ao exame, garantindo assim um momento prazeroso no cuidar da saúde da mulher sem uma obrigação curativa e preventiva. 2005 Trabalho 2186 - 4/4 Descritores: Educação em saúde, Saúde da Mulher, Exame de Prevenção, Enfermagem Referências 1-Brasil. Ministério da Saúde. Incidência de câncer no Brasil: estimativa/2005. Brasília: Instituto Nacional do Câncer. 2004 [acessado 2004 Dez 06]; [cerca de 15 p.]. Disponível em: http://www.inca.gov. br/estimativa2005 2-Brasil. Ministério da Saúde. Instituto nacional do câncer (INCA). Ações de enfermagem para o controle do câncer: uma proposta de integração ensinoserviço. Rio de Janeiro: INCA; 2002. 3-Duavy LM, Batista FLR, Jorge MSB, Santos JBF. A percepção da mulher sobre o exame preventivo do câncer cérvico-uterino: estudo de caso. Ciênc. saúde coletiva 2007; 12(3):733-42 4- Monteiro EMLM, Vieira NFC. (Re) construção de ações de educação em saúde a partir de círculos de cultura: experiência participativa com enfermeiras do PSF do Recife- PE. Recife: EDUPE; 2008.