Revista da Fapese, v.4, n. 2, p. 141-148, jul./dez. 2008
141
Caracterização de uma Cooperativa de Produtores de
Suínos Localizada no Município de Campo do Brito-SE
Clício Souza Santos *
Márcia Nunes Bandeira Roner **
Ana Rosa da Rocha Araújo ***
Hunaldo Oliveira Silva ****
R e s u m o
Alfredo Acosta Backes *****
O
bjetivou-se com este trabalho, caracterizar a Cooperativa de
produtores de suínos de Sergipe - COOPERGIPE - no municí
pio de “Campo do Brito, levando em consideração os fatores
técnicos, ambientais, econômicos e sociais. A pesquisa de campo
foi realizada através da aplicação de um questionário semi-estrutu-
rado em vinte e duas propriedades suinícolas pertencentes à cooperativa e distribuídas em seis municípios localizadas nas microrregiões
do Agreste e Sertão sergipanos. Os resultados obtidos mostram que a
cooperativa é formada basicamente por agricultores familiares e que a
maioria deles tem a suinocultura como fonte principal de renda. Em
relação à questão econômica, notou-se que houve um grande avanço
dos cooperados após terem entrado para a cooperativa, visto que as
facilidades para compras e para vendas se tornaram maiores, além da
inclusão de novas técnicas de manejo. Entretanto, há uma grande carência de controle de índices econômicos e zootécnicos e os produtores
possuem pouco conhecimento a respeito da problemática dos dejetos
de suínos. Conclui-se que a presença efetiva de técnicos especializados
nas propriedades é fundamental para proporcionar aos criadores um maior
controle sobre o processo produtivo e mostrar formas mais eficientes de
combinação dos componentes existentes no sistema de produção, visando o aumento da eficiência e da qualidade desse sistema.
PALAVRAS CHAVE: produção, suínos, cooperativa.
*
Engenheiro Agronômico formado pela Universidade Federal de Sergipe.
E-mail: [email protected]
**
Professora Doutora do Núcleo de Zootecnia da Universidade Federal de
Sergipe. E-mail: [email protected]
*** Professora Doutora do Curso de Engenharia de Pesca da Universidade Federal
de Sergipe. E-mail: [email protected]
**** Professor Doutor da Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão. E-mail:
[email protected]
***** Professor Doutor do Núcleo de Zootecnia da Universidade Federal de
Sergipe. E-mail: [email protected]
142
Clício S. Santos; Márcia Nunes B. Roner; Ana Rosa da R. Araújo; Hunaldo O. Silva; Alfredo A. Backes
1. Introdução
2. Material e métodos
No Brasil, a suinocultura vem ocupando lugar de
destaque na matriz produtiva do agronegócio, destacando-a como uma atividade de importância no âmbito econômico e social.
A pesquisa foi realizada durante os meses de
novembro de 2007 a fevereiro de 2008, em vinte e
duas propriedades suinícolas pertencentes à cooperativa e distribuídas em seis municípios localizadas nas microrregiões do Agreste e Sertão sergipanos.
A região sul é responsável pela metade do rebanho
suíno nacional, a seguir vem a região sudeste e depois
a região centro-oeste. As regiões Norte e Nordeste apresentam uma suinocultura de baixa tecnologia, pouco
produtiva, onde predominam as chamadas produções
de fundo de quintal (Beling et al. 2007).
No Estado de Sergipe o rebanho total de suínos é
de aproximadamente 115.410 cabeças, isso corresponde a 0,33% de todo o rebanho brasileiro e 1,6% do
rebanho nordestino que é 7.167.368 animais (IBGE,
2006). A suinocultura Sergipana se caracteriza por ser
exclusivamente desenvolvida por pequenos produtores, com baixo padrão tecnológico empregado e pouca
expressão econômica e quantitativa.
Há várias formas de se criar os suínos, uma forma que
merece destaque são as cooperativas agropecuárias que desempenham um impor-tante papel no desenvolvimento econômico e social de seus associados, uma vez que, os produtores isolados e dispersos produzem muitas vezes de
forma rudimentar, sem tecnologia e manejos adequados,
de forma desorganizada e sem agregar valor ao produto.
Além da importância econômica, é relevante frisar
a importância social atribuída a essas organizações nas
comunidades onde estão inseridas, pois a organização em cooperativa cria um canal de distribuição e
comercialização da produção, favorecendo a diminuição das oscilações dos preços, aumentando assim a
renda dos produtores e a qualidade dos produtos.
Objetivou-se, com este trabalho, caracterizar a Cooperativa de produtores de suínos - COOPERGIPE - no município de “Campo do Brito”, levando em consideração
os fatores técnicos, ambientais, econômicos e sociais.
Revista da Fapese, v.4, n.2, p. 141-148, jul./dez. 2008
A técnica de pesquisa utilizada foi o estudo de caso,
que consiste na escolha de situações-problema de
deter-minadas empresas ou organizações, com o intuito de promover uma discussão consolidada em fundamentos teóricos e apresentar estratégias adotadas na
realidade, as quais poderão servir de modelo para as
demais organiza-ções que têm vivenciado as mesmas
circunstâncias.
Empregou-se a abordagem qualitativa e quantitativa, com coleta de informações por meio de entrevistas
semi-estruturadas, análise documental, visitas técnicas as propriedades e eventos em que a cooperativa
esteve presente ou realizou durante o período citado
acima.
Para o levantamento das informações junto aos cooperados foi elaborado e aplicado um questionário
semi-estruturado, com perguntas referentes aos seus
dados gerais e de suas respectivas unidades de produção, a qualificação e quantificação do rebanho, produtividade das granjas; dados alusivos ao manejo adotado, à alimentação e ao controle feito em todas as
fases (pré-gestação, cobrição, gestação, maternidade,
intervalo desmama-cio, creche, crescimento e terminação), machos reprodutores; situação econômica das
propriedades, fatores sociais (cooperativismo) e ao
manejo dos dejetos.
Depois de obtidos todos os dados, os resultados
foram tabulados em programa Excel, analisados, utilizados na restituição das informações ao produtor e
posteriormente confrontados com os encontrados na
literatura.
Caracterização de uma Cooperativa de Produtores de Suínos Localizada no Município de Campo do Brito-SE
3. Resultados e discussão
3.1 Localização da área de estudo
O estudo foi realizado na área central do estado de
Sergipe, conhecida como região agreste Itabaianense. A
COOPERGIPE está localizada no município de Campo
do Brito distante 53 km da capital do estado de Sergipe
(Aracaju). As propriedades dos cooperados estão localizadas nos municípios de Campo do Brito, Macambira,
São Domingos, Itabaiana, Areia Branca e Nossa Senhora das Dores, sendo que Campo do Brito reúne número
maior de cooperados (17), conforme observado na Tabela 1. Isso pode ser explicado pelo fato da sede da
cooperativa se encontrar nesse município. De acordo
com os resultados obtidos observamos que a distancia
entre a sede da cooperativa e as propriedades pode
ser um fator limitante na adesão de mais cooperados,
pois o número de propriedades diminuiu conforme
aumentou a distancia da sede da cooperativa.
3.2 Informações Gerais
3. 2.1 DA COOPERGIPE
A COOPERGIPE foi fundada em 25 de abril de
2006 por iniciativa de 21 pequenos produtores que
143
faziam parte da associação dos Produtores Rurais de
Campo do Brito (ASPROCAMPO). Os objetivos principais da sua criação foi a necessidade dos produtores em otimizar a sua produção e produtividade, facilitando dessa forma as transações econômicas de
venda do seu produto (suíno) e compra de alimentos e insumos.
Atualmente, o quadro de associados da
COOPERGIPE é formado por 29 cooperados, dentre
os quais 23 são considerados ativos e 06 inativos. Os
ativos são considerados os cooperados que utilizam a
COOPERGIPE para comercializar e acessar crédito,
esses cooperados participam freqüentemente das reuniões e eventos que a cooperativa promove. A diretoria da COOPERGIPE é composta de 08 membros cooperados.
3.2.2 DOS COOPERADOS
Dos 21 cooperados entrevistados, a maioria está
na cooperativa desde a sua criação que consiste
em dois anos. A faixa etária dos cooperados, entrevistados, está entre 24 e 69 anos. O nível de
escolaridade da maioria é o 1° Grau Incompleto, o
que não os impede de desempenharem suas atividades.
Tabela 1. Localização dos povoados e distancia a sede da COOPERGIPE, em 2008.
Municípios
Povoados
(nome)
Distância da
COOPERGIPE (Km)
Propriedades
(número)
Brito Velho
Malhadinha
Malhadinha
Siriêma
Sitio Barreirro
Sitio Ceilão
Terra Vermelha
5
12
4
2
1,5
1
7
17
Boa Vista
Matadouro
Pé de Serra
8
10
12
3
Areia Branca
Sede
Itabaiana
Cachoeira
Queimadas
Campo do Brito
Macambira
N. S. das Dores
São Domingos
Sede
Campanha
Lagoas
2
28
18
2
40
1
14
9
4
Revista da Fapese, v.4, n.2, p. 143-150, jul./dez. 2008
144
Clício S. Santos; Márcia Nunes B. Roner; Ana Rosa da R. Araújo; Hunaldo O. Silva; Alfredo A. Backes
3.2.3 DA PROPRIEDADE
O tamanho das propriedades está entre 1,5 a 36
tarefas, sendo que a maioria das propriedades estão
entre 6 a 7 tarefas. Esses resultados demonstram que
os produtores vinculados a COOPERGIPE estão enquadrados na classificação de pequenos produtores, se
levarmos consideração com o Conceito citado por
Teixeira et al. (1997), no qual para serem considerados
agricultores familiares à extensão territorial de sua propriedade não pode ultrapassar de 100ha (333 tarefas).
Para a captação de água, observa que a maior parte
dos cooperados utilizam água de poços artesianos e
um número menor de produtores obtêm água através
da estação de tratamento. A água fornecida pelos cooperados aos seus animais aparentou ser de boa qualidade; embora não houvesse tratamento. De acordo com
Cavalcanti (1984), a qualidade da água é um fator muito
importante e decisivo na sanidade do rebanho, pois
tendo ela baixa qualidade, pode servir como veículo
de agentes patógenos e/ou conter alguns nutrientes
em excesso que podem ser prejudiciais aos suínos.
3.3 Caracterização do Rebanho
O número total de rebanho foi de 1943 cabeças de
suínos pertencentes aos cooperados da COOPERGIPE.
Esse valor é maior do que todo o rebanho encontrado
no município de Campo de Brito (1880 cabeças), conforme dados do IBGE, (2006). Essa informação sugere
que a produção da cooperativa abastece todo o município. Segundo dados do IBGE (2006) o rebanho total
de suínos em Sergipe é de aproximadamente 115.410
cabeças, o que corresponde a 0,33% de todo o rebanho brasileiro e 1,6% do rebanho nordestino que é
7.167.368 animais.
Em relação à quantidade de matrizes nas propriedades da cooperativa, 95% foram consideradas produção de pequeno porte, com produtores apresentando no mínimo 2 matrizes e no máximo 40 matrizes.
Uma pequena parte está incluída na categoria de médio produtor (5%) apresentando até 48 matrizes. De
acordo com Sobestiansky et al. (1998) os produtores
Revista da Fapese, v.4, n.2, p. 141-148, jul./dez. 2008
podem ser classificados como de pequeno porte (produtores com menos de 40 matrizes), médio porte (produtores entre 40 e 100) e produtores de grande porte
(maiores que 100 matrizes).
Em relação ao material genético utilizado pelos produtores observamos que 67% utilizam genética melhorada e 33% não. O principal fornecedor de matrizes geneticamente melhoradas é a AGROCERES (Empresa Particular). A genéticas difundidas entre os produtores que utilizam animais melhorados são o AGPIC
412 e 415 (machos) e COMBOROUGH 23 (matrizes).
Através da percentagem encontrada de animais
melhorados geneticamente, podemos observar a preocupação que a maioria dos produtores tem em melhorar a qualidade do seu produto e garantir uma maior
lucratividade. De acordo com Gomes et al. (1992), quando um produtor não utiliza genética melhorada em
seu plantel à eficiência de produção dos animais é
diminuída, a quantidade de carne produzida por quilo de alimento consumido é insatisfatória e o custo
final de produção se torna mais alto. Então, para manter altos níveis de produção e produtividade os suinocultores devem utilizar animais geneticamente melhorados.
3.4 Comercialização
Observamos que 71% dos cooperados não têm idéia
de quanto ganha por mês com a atividade, o restante
tem uma vaga noção da sua taxa de lucros. No entanto, durante a entrevista foi feito um cálculo estimado
de despesas para estimar o lucro liquido. Os produtores de suínos informaram que o custo médio de produção mensal é de R$ 3.500,00 aproximadamente e
que eles obtêm um lucro líquido de aproximadamente
R$ 400,00. A produção média mensal dos cooperados
é de 838 kg de carcaça, com preço variando de R$ 3,5
a R$ 5,0 por quilo. O que significou um ganho bruto
médio de R$ 3.435,80 por produtor.
É muito importante que em todas as granjas sejam
realizadas o controle para a avaliação técnica e econômica da atividade suinícola, visando diminuir os ris-
Caracterização de uma Cooperativa de Produtores de Suínos Localizada no Município de Campo do Brito-SE
cos de possíveis prejuízos financeiros. Esse controle
pode ser feito por softwares específicos que acompanham detalhadamente os resultados da atividade e
auxiliam nas tomadas de decisão. Quando na propriedade não há recursos suficientes para tê-lo, esse controle pode ser feito de forma manual com anotações
dos dados produtivos em fichas convencionais.
A comercialização do produto é realizada em maior parte através da cooperativa e atravessadores; sendo que o restante somente pela cooperativa e
atravessadores. Vale ressaltar que a cooperativa tem
um convênio com a CONAB (Companhia Nacional de
Abastecimento) no qual a carne é comprada dos cooperados e distribuída, uma vez por semana, para 1.700
famílias carentes do município de Campo do Brito.
Os atravessadores revendem a carne nas feiras livres.
Os maiores problemas relacionados ao escoamento
da produção são o baixo preço pago pela carne, a falta
de compradores e o preconceito das pessoas em relação à carne suína. No que diz respeito a esse item,
BOHRER (2003) reforça que para reverter essa situação devemos demonstrar ao consumidor as qualidades nutricionais da carne suína e, assim, aumentar o
seu consumo. Segundo o autor esse consumo pode
ser aumentado também, através da inclusão de carne
suína no cardápio permanente das forças armadas e
do programa nacional da merenda escolar.
Dentre os entrevistados, 57% declararam que depois que entraram para a cooperativa não tem mais
problemas com escoamento de produção. Podemos
observar através dessa informação que uma das funções do cooperativismo está sendo bem contemplada,
visto que a cooperativa criou um canal de distribuição
e comercialização da produção, além de ter favorecido
a diminuição da oscilação do preço pago pelo produto
(carne suína) e aumentado à renda dos produtores
(Oliveira & Rocha, 2005).
Mesmo com todos os problemas apontados acima
e relacionados ao escoamento da produção, 80% dos
cooperados pretendem aumentar sua produção. Os
outros 20% responderam que não pretendem aumen-
145
tar sua produção alegando que já estão muito velhos e
que suas propriedades ficam muito próximas da área
urbana.
A grande maioria dos cooperados possui algum tipo
de financiamento no Banco (80%) e 20% disseram não
terem feito nenhum empréstimo junto ao banco. Todos os financiamentos foram feitos pelo Programa
Nacional de Agricultura Familiar - PRONAF.
A assistência técnica perante as situações levantadas anteriormente teria o papel de buscar juntamente
com os produtores as formas mais hábeis de como
solucionar todos esses problemas, aumentando assim
a eficiência e a qualidade do sistema produtivo
(Miranda, 1997).
3.5 Cooperativismo
Os motivos que levaram a maioria dos sócios a participar da cooperativa foram à vontade de sair das “mãos”
dos atravessadores, melhorar a produção em qualidade
e quantidade, aumentarem a renda da família e ter maior facilidade para comprar insumos e alimentos para os
animais. Na verdade uma cooperativa além de contemplar todas essas atividades citadas acima, deve buscar
também desempenhar um papel formativo e educativo
que tantos os seus sócios como as pessoas que fazem
parte da comunidade onde a instituição esteja inserida
(Souza & Braga, 2007; Turra et al. 2002).
A maioria dos cooperados (61%), nunca tinha feito parte de movimento associativista antes de entrar
para a cooperativa e 39% faziam parte da Associação
de Produtores Rurais de Campo do Brito. Entretanto,
a maior parte deles observou que após terem entrado
para cooperativa, através da união de suas forças em
busca de um objetivo comum, suas chances de obterem sucesso aumentaram. Os produtores isolados produzem muitas vezes de forma rudimentar, sem tecnologias apropriadas, manejos adequados e de forma
desorganizada, garantindo assim, pouca valor agregado ao produto. Dessa forma, sua garantia de permanecia no mercado está limitada diante das crescentes
exigências de qualidade.
Revista da Fapese, v.4, n.2, p. 143-150, jul./dez. 2008
146
Clício S. Santos; Márcia Nunes B. Roner; Ana Rosa da R. Araújo; Hunaldo O. Silva; Alfredo A. Backes
Ao serem interrogados sobre como a cooperativa
influencia na comunidade, a maioria dos sócios responderam que essa ajuda se dá principalmente através da distribuição carne para as famílias carentes via
programa FOME ZERO. Eles também acrescentaram
que a cooperativa ajuda a garantir um preço mais alto
de venda do produto até mesmo para os produtores
que não fazem parte da cooperativa e que ela gera mais
empregos para a comunidade.
3.6 Manejo de dejetos
Ao serem perguntados sobre a sua opinião sobre
a temática “dejetos de suínos”, 52% dos cooperados
responderam que ele é um bom adubo, e que quando
não bem manejado pode trazer prejuízos ao meio
ambiente; 33% que ele é poluente e que contamina
o ar e o solo; e 15% responderam que ele só trás
benefícios. Esses resultados são semelhantes aos
obtidos por Correa e Correa (2003), quando eles afirmam que grande parte dos produtores possui um
baixo nível de percepção da poluição que a
suinocultura pode causar, e isso é um fator extremamente preocupante visto que a suinocultura da
cooperativa em questão tende a crescer e concomitantemente a emissão de dejetos; e se esses não forem bem manejados poderão causar impactos
significantes ao ecossistema local.
De acordo Correa & Correa (1998), a atividade
suinícola quando desenvolvida sem os devidos cuidados com seus dejetos é considerada pelos órgãos de
fiscalização ambiental, como uma das principais atividades degradadoras e poluidoras do meio ambiente.
Essa poluição é causada pelos resíduos suínos, que é
composto por fezes e urina; água desperdiçada pelos
bebedouros e pela higienização das instalações; resíduos de ração; poeira e outros materiais gerados durante o processo criatório (Konzen, 1983).
Ao serem perguntados sobre como utilizam os
dejetos, todos os cooperados responderam que o empregam como adubo na pastagem e agricultura. Para a
sua utilização, os produtores retiram os dejetos das
Revista da Fapese, v.4, n.2, p. 141-148, jul./dez. 2008
instalações com o auxilio de uma pá e de um carrinho
de mão, depois todo material é colocando ao ar livre
para secar, permanecendo nesse local em um período
de 15 dias a um mês. Após esse procedimento o material é distribuído na pastagem ou em posto em covas
feitas ao lado do caule das plantas a serem adubadas
(agricultura).
Vale lembrar que a aplicação desenfreada e em grandes quantidades desses dejetos na adubação do solo
pode resultar em perdas econômicas e ambientais muito
grandes, através do desequilíbrio químico causado no
solo (Seganfredo, 1999). Para evitar esse desequilíbrio
é de suma importância a elaboração de um plano técnico de manejo e adubação, que leve em consideração
a composição química dos dejetos, as exigências da
cultura a ser implantada e a capacidade de suporte do
solo em relação à quantidade de nutrientes que serão
depositados através da adubação com os dejetos
(Gaspar, 2003).
A quantificação mais próxima da produção real
de dejetos segundo Ferreira et al. (1999), seria a base
fundamental para o estabelecimento de uma adequada estrutura de estocagem e de aproveitamento dos
mesmos.
Todos os cooperados afirmaram que nunca tiveram nenhum tipo de assessoramento técnico sobre o
manejo dos dejetos de suínos produzidos em suas
propriedades. Quando perguntados se possuíam alguma informação sobre outras possíveis formas de
utilização desses dejetos, 52% responderam que não
tinham idéia alguma de como eles poderiam ser utilizados e 38% disseram que já ouviram falar. As formas
alternativas de utilização que eles mencionaram foram
à produção de energia elétrica, produção de biogás e
alimentação de peixes.
A grande maioria dos cooperados (76%) não possui nenhum sistema de captação de dejetos, sendo
todo ele despejado no terreno. Observamos que alguns produtores (24%) têm ou esta construindo algum sistema de captação de dejetos.
Caracterização de uma Cooperativa de Produtores de Suínos Localizada no Município de Campo do Brito-SE
4. Considerações finais
A cooperativa melhorou o poder de barganha dos
seus associados, tanto para compra de insumos e alimentos para os animais, como para a venda do produto final. Os mesmos aparentaram ter consciência de
todas as melhorias que aconteceram após terem aderido a essa instituição.
Acrescentamos que para o bom desenvolvimento
da atividade suinícola, seria muito vantajoso para os
suinocultores da cooperativa que eles começassem a
fazer um controle efetivo e freqüente de todos os dados relacionados a ganho de peso dos leitões em um
determinado período de tempo, quantidade de alimento
que é fornecido para cada animal durante o dia, quantidade de alimento que sobrou no final do dia, preço
do quilo do animal vendido, para no final fazer uma
análise utilizando todos esses dados, e assim estimar
se está havendo uma relação custo-benefício favorável
ou não.
147
Outro ponto a ser considerado, diz respeito aos
dejetos produzidos pela criação. Devido a essa problemática causada pela suinocultura, podemos perceber a importância de serem tomadas medidas que busquem o controle da poluição causada por essa atividade. Nesse contexto a educação ambiental pode ser uma
ferramenta muito importante no processo de conscientização dos cooperados em relação à questão da deposição dos dejetos no meio ambiente.
Não podemos esquecer da necessidade da assistência técnica aos cooperados. Os técnicos especializados na área têm o papel de buscar e mostrar as formas mais eficientes de combinação dos componentes
de um sistema de produção, visando o aumento da
eficiência e da qualidade desse sistema. Através da
especialização, as criações passam a ter um maior controle sobre o processo produtivo, fundamentalmente
com o fornecimento de material genético, alimentação
e acompanhamento das práticas de manejo, que garantem uma eficiência maior na sua produção.
Revista da Fapese, v.4, n.2, p. 143-150, jul./dez. 2008
148
Clício S. Santos; Márcia Nunes B. Roner; Ana Rosa da R. Araújo; Hunaldo O. Silva; Alfredo A. Backes
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAVALCANTI, S. Produção de Suínos. Instituto
Campineiro de Ensino Agrícola, Campinas, SP, 1984,
453p.
CORÊA, L. B.; CORÊA, E. K. Estudo de fontes
poluidoras em uma granja produtora de suínos: Uma
perspectiva para a educação ambiental – Estudo de
caso. In: Congresso Brasileiro de Veterinários Especialistas em Suínos, 11, 2003, Goiânia. Anais... Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 2003. 483p.
CORREA, M. N.; VIVAN, J. C.; XAVIER, E. G.; ROLL,
V. F. B.; CORREA, É. K. ; DESCHAMPS, J. C. Manejo
Reprodutivo do macho suíno. In: THOMAZ, L. J.;
MARCIO, N. C., DESCHAMPS, J. C. Tópicos em
suinocultura. Pelotas: UFPEL, 2000, p. 123-148.
FERREIRA, L. B; OLIVEIRA, E. P; SILVA, Y. L. da.
Uso de dejetos de suínos na alimentação de Tilápias
Nilóticas (Saratherodon niloticus). Rev. Uni. Alfenas,
Alfenas, v. 5, n. 1, p.37-40, 1999.
GASPAR, R. M. B. L.. Utilização de biodigestores em
pequenas e médias propriedades rurais com ênfase na
agregação de valor: um estudo de caso na região de
Toledo-PR. Dissertação (Mestrado em Engenharia da
Produção). Programa de Pós-Graduação em Engenharia De Produção da Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis, 2003.
GOMES, M. F. M.; GIROTTO, A. F.; TALAMINI, D. J.
D.; LIMA, G. J. M. M. de; MORES, N.; TRAMONTINI,
P. Analise prospectiva do complexo agroindustrial de
suínos no Brasil. Concórdia: EMBRAPA-CNPSA, 1992.
108 p. Documentos, 26.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/home/ >.
Acesso em: 07 fev. 2008.
Revista da Fapese, v.4, n.2, p. 141-148, jul./dez. 2008
KONZEN, E. A. Manejo e utilização dos dejetos de
suínos. Concórdia, SC, Embrapa/Cnpsa, 1983. 32 p.
MIRANDA, C. R. A assistência técnica na ótica dos
suinocultores familiares de Concórdia-SC. In: Congresso Brasileiro de Veterinários Especializados em Suínos, 8, 1997. Foz do Iguaçu. Anais... Concórdia:
Embrapa Suínos e Aves, 1997.
OLIVEIRA, M. A. S; ROCHA, A. dos S.
Cooperativismo como alternativo à pequena atividade
leiteira na região de Feira de Santana (Bahia). Conjuntura e Planejamento, Salvador, SEI, n.141, p.33-39,
2005.
SEGANFREDO, M. A. Os dejetos de suínos são um
fertilizante ou um poluente do solo. Cadernos de Ciência e Tecnologia, Brasília, v.16, n.3, p.129-141, 1999.
SOBESTIANSKY, J.; WENTZ, I.; SILVEIRA, P. R. S.
da.; SESTI, L. A. C. Suinocultura Intensiva: Produção, Manejo e Saúde do Rebanho. Concórdia:
EMBRAPA-SPI, 1998, 388 p
SOUZA, U. R. de; BRAGA, M. J. Diversificação concêntrica na cooperativa agropecuária: um estudo de
caso da COMIGO. Gest. Prod., São Carlos, v. 14, n. 1,
p. 169-179, abr. 2007.
TEIXEIRA, E. C; AGUIAR, D. R. D; VIEIRA, W. da C.
Agricultura comercial e familiar num contexto de abertura econômica. In: Teixeira, E. C.; Vieira, W. da C.
(ed.). Reforma da política agrícola e abertura econômica. Viçosa-MG: UFV, 1996. 210p.
TURRA, F. R; SANTOS, F. E. DE G; COLTURATO,
L. C. Associações e cooperativas. Serviço Nacional de
Aprendizagem do Cooperativismo - Ed. Casa do
Cooperativismo, Brasília, 2002.
Download

vol 4 - Fapese