Revista da Fapese, v.4, n. 2, p. 141-148, jul./dez. 2008 141 Caracterização de uma Cooperativa de Produtores de Suínos Localizada no Município de Campo do Brito-SE Clício Souza Santos * Márcia Nunes Bandeira Roner ** Ana Rosa da Rocha Araújo *** Hunaldo Oliveira Silva **** R e s u m o Alfredo Acosta Backes ***** O bjetivou-se com este trabalho, caracterizar a Cooperativa de produtores de suínos de Sergipe - COOPERGIPE - no municí pio de “Campo do Brito, levando em consideração os fatores técnicos, ambientais, econômicos e sociais. A pesquisa de campo foi realizada através da aplicação de um questionário semi-estrutu- rado em vinte e duas propriedades suinícolas pertencentes à cooperativa e distribuídas em seis municípios localizadas nas microrregiões do Agreste e Sertão sergipanos. Os resultados obtidos mostram que a cooperativa é formada basicamente por agricultores familiares e que a maioria deles tem a suinocultura como fonte principal de renda. Em relação à questão econômica, notou-se que houve um grande avanço dos cooperados após terem entrado para a cooperativa, visto que as facilidades para compras e para vendas se tornaram maiores, além da inclusão de novas técnicas de manejo. Entretanto, há uma grande carência de controle de índices econômicos e zootécnicos e os produtores possuem pouco conhecimento a respeito da problemática dos dejetos de suínos. Conclui-se que a presença efetiva de técnicos especializados nas propriedades é fundamental para proporcionar aos criadores um maior controle sobre o processo produtivo e mostrar formas mais eficientes de combinação dos componentes existentes no sistema de produção, visando o aumento da eficiência e da qualidade desse sistema. PALAVRAS CHAVE: produção, suínos, cooperativa. * Engenheiro Agronômico formado pela Universidade Federal de Sergipe. E-mail: [email protected] ** Professora Doutora do Núcleo de Zootecnia da Universidade Federal de Sergipe. E-mail: [email protected] *** Professora Doutora do Curso de Engenharia de Pesca da Universidade Federal de Sergipe. E-mail: [email protected] **** Professor Doutor da Escola Agrotécnica Federal de São Cristóvão. E-mail: [email protected] ***** Professor Doutor do Núcleo de Zootecnia da Universidade Federal de Sergipe. E-mail: [email protected] 142 Clício S. Santos; Márcia Nunes B. Roner; Ana Rosa da R. Araújo; Hunaldo O. Silva; Alfredo A. Backes 1. Introdução 2. Material e métodos No Brasil, a suinocultura vem ocupando lugar de destaque na matriz produtiva do agronegócio, destacando-a como uma atividade de importância no âmbito econômico e social. A pesquisa foi realizada durante os meses de novembro de 2007 a fevereiro de 2008, em vinte e duas propriedades suinícolas pertencentes à cooperativa e distribuídas em seis municípios localizadas nas microrregiões do Agreste e Sertão sergipanos. A região sul é responsável pela metade do rebanho suíno nacional, a seguir vem a região sudeste e depois a região centro-oeste. As regiões Norte e Nordeste apresentam uma suinocultura de baixa tecnologia, pouco produtiva, onde predominam as chamadas produções de fundo de quintal (Beling et al. 2007). No Estado de Sergipe o rebanho total de suínos é de aproximadamente 115.410 cabeças, isso corresponde a 0,33% de todo o rebanho brasileiro e 1,6% do rebanho nordestino que é 7.167.368 animais (IBGE, 2006). A suinocultura Sergipana se caracteriza por ser exclusivamente desenvolvida por pequenos produtores, com baixo padrão tecnológico empregado e pouca expressão econômica e quantitativa. Há várias formas de se criar os suínos, uma forma que merece destaque são as cooperativas agropecuárias que desempenham um impor-tante papel no desenvolvimento econômico e social de seus associados, uma vez que, os produtores isolados e dispersos produzem muitas vezes de forma rudimentar, sem tecnologia e manejos adequados, de forma desorganizada e sem agregar valor ao produto. Além da importância econômica, é relevante frisar a importância social atribuída a essas organizações nas comunidades onde estão inseridas, pois a organização em cooperativa cria um canal de distribuição e comercialização da produção, favorecendo a diminuição das oscilações dos preços, aumentando assim a renda dos produtores e a qualidade dos produtos. Objetivou-se, com este trabalho, caracterizar a Cooperativa de produtores de suínos - COOPERGIPE - no município de “Campo do Brito”, levando em consideração os fatores técnicos, ambientais, econômicos e sociais. Revista da Fapese, v.4, n.2, p. 141-148, jul./dez. 2008 A técnica de pesquisa utilizada foi o estudo de caso, que consiste na escolha de situações-problema de deter-minadas empresas ou organizações, com o intuito de promover uma discussão consolidada em fundamentos teóricos e apresentar estratégias adotadas na realidade, as quais poderão servir de modelo para as demais organiza-ções que têm vivenciado as mesmas circunstâncias. Empregou-se a abordagem qualitativa e quantitativa, com coleta de informações por meio de entrevistas semi-estruturadas, análise documental, visitas técnicas as propriedades e eventos em que a cooperativa esteve presente ou realizou durante o período citado acima. Para o levantamento das informações junto aos cooperados foi elaborado e aplicado um questionário semi-estruturado, com perguntas referentes aos seus dados gerais e de suas respectivas unidades de produção, a qualificação e quantificação do rebanho, produtividade das granjas; dados alusivos ao manejo adotado, à alimentação e ao controle feito em todas as fases (pré-gestação, cobrição, gestação, maternidade, intervalo desmama-cio, creche, crescimento e terminação), machos reprodutores; situação econômica das propriedades, fatores sociais (cooperativismo) e ao manejo dos dejetos. Depois de obtidos todos os dados, os resultados foram tabulados em programa Excel, analisados, utilizados na restituição das informações ao produtor e posteriormente confrontados com os encontrados na literatura. Caracterização de uma Cooperativa de Produtores de Suínos Localizada no Município de Campo do Brito-SE 3. Resultados e discussão 3.1 Localização da área de estudo O estudo foi realizado na área central do estado de Sergipe, conhecida como região agreste Itabaianense. A COOPERGIPE está localizada no município de Campo do Brito distante 53 km da capital do estado de Sergipe (Aracaju). As propriedades dos cooperados estão localizadas nos municípios de Campo do Brito, Macambira, São Domingos, Itabaiana, Areia Branca e Nossa Senhora das Dores, sendo que Campo do Brito reúne número maior de cooperados (17), conforme observado na Tabela 1. Isso pode ser explicado pelo fato da sede da cooperativa se encontrar nesse município. De acordo com os resultados obtidos observamos que a distancia entre a sede da cooperativa e as propriedades pode ser um fator limitante na adesão de mais cooperados, pois o número de propriedades diminuiu conforme aumentou a distancia da sede da cooperativa. 3.2 Informações Gerais 3. 2.1 DA COOPERGIPE A COOPERGIPE foi fundada em 25 de abril de 2006 por iniciativa de 21 pequenos produtores que 143 faziam parte da associação dos Produtores Rurais de Campo do Brito (ASPROCAMPO). Os objetivos principais da sua criação foi a necessidade dos produtores em otimizar a sua produção e produtividade, facilitando dessa forma as transações econômicas de venda do seu produto (suíno) e compra de alimentos e insumos. Atualmente, o quadro de associados da COOPERGIPE é formado por 29 cooperados, dentre os quais 23 são considerados ativos e 06 inativos. Os ativos são considerados os cooperados que utilizam a COOPERGIPE para comercializar e acessar crédito, esses cooperados participam freqüentemente das reuniões e eventos que a cooperativa promove. A diretoria da COOPERGIPE é composta de 08 membros cooperados. 3.2.2 DOS COOPERADOS Dos 21 cooperados entrevistados, a maioria está na cooperativa desde a sua criação que consiste em dois anos. A faixa etária dos cooperados, entrevistados, está entre 24 e 69 anos. O nível de escolaridade da maioria é o 1° Grau Incompleto, o que não os impede de desempenharem suas atividades. Tabela 1. Localização dos povoados e distancia a sede da COOPERGIPE, em 2008. Municípios Povoados (nome) Distância da COOPERGIPE (Km) Propriedades (número) Brito Velho Malhadinha Malhadinha Siriêma Sitio Barreirro Sitio Ceilão Terra Vermelha 5 12 4 2 1,5 1 7 17 Boa Vista Matadouro Pé de Serra 8 10 12 3 Areia Branca Sede Itabaiana Cachoeira Queimadas Campo do Brito Macambira N. S. das Dores São Domingos Sede Campanha Lagoas 2 28 18 2 40 1 14 9 4 Revista da Fapese, v.4, n.2, p. 143-150, jul./dez. 2008 144 Clício S. Santos; Márcia Nunes B. Roner; Ana Rosa da R. Araújo; Hunaldo O. Silva; Alfredo A. Backes 3.2.3 DA PROPRIEDADE O tamanho das propriedades está entre 1,5 a 36 tarefas, sendo que a maioria das propriedades estão entre 6 a 7 tarefas. Esses resultados demonstram que os produtores vinculados a COOPERGIPE estão enquadrados na classificação de pequenos produtores, se levarmos consideração com o Conceito citado por Teixeira et al. (1997), no qual para serem considerados agricultores familiares à extensão territorial de sua propriedade não pode ultrapassar de 100ha (333 tarefas). Para a captação de água, observa que a maior parte dos cooperados utilizam água de poços artesianos e um número menor de produtores obtêm água através da estação de tratamento. A água fornecida pelos cooperados aos seus animais aparentou ser de boa qualidade; embora não houvesse tratamento. De acordo com Cavalcanti (1984), a qualidade da água é um fator muito importante e decisivo na sanidade do rebanho, pois tendo ela baixa qualidade, pode servir como veículo de agentes patógenos e/ou conter alguns nutrientes em excesso que podem ser prejudiciais aos suínos. 3.3 Caracterização do Rebanho O número total de rebanho foi de 1943 cabeças de suínos pertencentes aos cooperados da COOPERGIPE. Esse valor é maior do que todo o rebanho encontrado no município de Campo de Brito (1880 cabeças), conforme dados do IBGE, (2006). Essa informação sugere que a produção da cooperativa abastece todo o município. Segundo dados do IBGE (2006) o rebanho total de suínos em Sergipe é de aproximadamente 115.410 cabeças, o que corresponde a 0,33% de todo o rebanho brasileiro e 1,6% do rebanho nordestino que é 7.167.368 animais. Em relação à quantidade de matrizes nas propriedades da cooperativa, 95% foram consideradas produção de pequeno porte, com produtores apresentando no mínimo 2 matrizes e no máximo 40 matrizes. Uma pequena parte está incluída na categoria de médio produtor (5%) apresentando até 48 matrizes. De acordo com Sobestiansky et al. (1998) os produtores Revista da Fapese, v.4, n.2, p. 141-148, jul./dez. 2008 podem ser classificados como de pequeno porte (produtores com menos de 40 matrizes), médio porte (produtores entre 40 e 100) e produtores de grande porte (maiores que 100 matrizes). Em relação ao material genético utilizado pelos produtores observamos que 67% utilizam genética melhorada e 33% não. O principal fornecedor de matrizes geneticamente melhoradas é a AGROCERES (Empresa Particular). A genéticas difundidas entre os produtores que utilizam animais melhorados são o AGPIC 412 e 415 (machos) e COMBOROUGH 23 (matrizes). Através da percentagem encontrada de animais melhorados geneticamente, podemos observar a preocupação que a maioria dos produtores tem em melhorar a qualidade do seu produto e garantir uma maior lucratividade. De acordo com Gomes et al. (1992), quando um produtor não utiliza genética melhorada em seu plantel à eficiência de produção dos animais é diminuída, a quantidade de carne produzida por quilo de alimento consumido é insatisfatória e o custo final de produção se torna mais alto. Então, para manter altos níveis de produção e produtividade os suinocultores devem utilizar animais geneticamente melhorados. 3.4 Comercialização Observamos que 71% dos cooperados não têm idéia de quanto ganha por mês com a atividade, o restante tem uma vaga noção da sua taxa de lucros. No entanto, durante a entrevista foi feito um cálculo estimado de despesas para estimar o lucro liquido. Os produtores de suínos informaram que o custo médio de produção mensal é de R$ 3.500,00 aproximadamente e que eles obtêm um lucro líquido de aproximadamente R$ 400,00. A produção média mensal dos cooperados é de 838 kg de carcaça, com preço variando de R$ 3,5 a R$ 5,0 por quilo. O que significou um ganho bruto médio de R$ 3.435,80 por produtor. É muito importante que em todas as granjas sejam realizadas o controle para a avaliação técnica e econômica da atividade suinícola, visando diminuir os ris- Caracterização de uma Cooperativa de Produtores de Suínos Localizada no Município de Campo do Brito-SE cos de possíveis prejuízos financeiros. Esse controle pode ser feito por softwares específicos que acompanham detalhadamente os resultados da atividade e auxiliam nas tomadas de decisão. Quando na propriedade não há recursos suficientes para tê-lo, esse controle pode ser feito de forma manual com anotações dos dados produtivos em fichas convencionais. A comercialização do produto é realizada em maior parte através da cooperativa e atravessadores; sendo que o restante somente pela cooperativa e atravessadores. Vale ressaltar que a cooperativa tem um convênio com a CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) no qual a carne é comprada dos cooperados e distribuída, uma vez por semana, para 1.700 famílias carentes do município de Campo do Brito. Os atravessadores revendem a carne nas feiras livres. Os maiores problemas relacionados ao escoamento da produção são o baixo preço pago pela carne, a falta de compradores e o preconceito das pessoas em relação à carne suína. No que diz respeito a esse item, BOHRER (2003) reforça que para reverter essa situação devemos demonstrar ao consumidor as qualidades nutricionais da carne suína e, assim, aumentar o seu consumo. Segundo o autor esse consumo pode ser aumentado também, através da inclusão de carne suína no cardápio permanente das forças armadas e do programa nacional da merenda escolar. Dentre os entrevistados, 57% declararam que depois que entraram para a cooperativa não tem mais problemas com escoamento de produção. Podemos observar através dessa informação que uma das funções do cooperativismo está sendo bem contemplada, visto que a cooperativa criou um canal de distribuição e comercialização da produção, além de ter favorecido a diminuição da oscilação do preço pago pelo produto (carne suína) e aumentado à renda dos produtores (Oliveira & Rocha, 2005). Mesmo com todos os problemas apontados acima e relacionados ao escoamento da produção, 80% dos cooperados pretendem aumentar sua produção. Os outros 20% responderam que não pretendem aumen- 145 tar sua produção alegando que já estão muito velhos e que suas propriedades ficam muito próximas da área urbana. A grande maioria dos cooperados possui algum tipo de financiamento no Banco (80%) e 20% disseram não terem feito nenhum empréstimo junto ao banco. Todos os financiamentos foram feitos pelo Programa Nacional de Agricultura Familiar - PRONAF. A assistência técnica perante as situações levantadas anteriormente teria o papel de buscar juntamente com os produtores as formas mais hábeis de como solucionar todos esses problemas, aumentando assim a eficiência e a qualidade do sistema produtivo (Miranda, 1997). 3.5 Cooperativismo Os motivos que levaram a maioria dos sócios a participar da cooperativa foram à vontade de sair das “mãos” dos atravessadores, melhorar a produção em qualidade e quantidade, aumentarem a renda da família e ter maior facilidade para comprar insumos e alimentos para os animais. Na verdade uma cooperativa além de contemplar todas essas atividades citadas acima, deve buscar também desempenhar um papel formativo e educativo que tantos os seus sócios como as pessoas que fazem parte da comunidade onde a instituição esteja inserida (Souza & Braga, 2007; Turra et al. 2002). A maioria dos cooperados (61%), nunca tinha feito parte de movimento associativista antes de entrar para a cooperativa e 39% faziam parte da Associação de Produtores Rurais de Campo do Brito. Entretanto, a maior parte deles observou que após terem entrado para cooperativa, através da união de suas forças em busca de um objetivo comum, suas chances de obterem sucesso aumentaram. Os produtores isolados produzem muitas vezes de forma rudimentar, sem tecnologias apropriadas, manejos adequados e de forma desorganizada, garantindo assim, pouca valor agregado ao produto. Dessa forma, sua garantia de permanecia no mercado está limitada diante das crescentes exigências de qualidade. Revista da Fapese, v.4, n.2, p. 143-150, jul./dez. 2008 146 Clício S. Santos; Márcia Nunes B. Roner; Ana Rosa da R. Araújo; Hunaldo O. Silva; Alfredo A. Backes Ao serem interrogados sobre como a cooperativa influencia na comunidade, a maioria dos sócios responderam que essa ajuda se dá principalmente através da distribuição carne para as famílias carentes via programa FOME ZERO. Eles também acrescentaram que a cooperativa ajuda a garantir um preço mais alto de venda do produto até mesmo para os produtores que não fazem parte da cooperativa e que ela gera mais empregos para a comunidade. 3.6 Manejo de dejetos Ao serem perguntados sobre a sua opinião sobre a temática “dejetos de suínos”, 52% dos cooperados responderam que ele é um bom adubo, e que quando não bem manejado pode trazer prejuízos ao meio ambiente; 33% que ele é poluente e que contamina o ar e o solo; e 15% responderam que ele só trás benefícios. Esses resultados são semelhantes aos obtidos por Correa e Correa (2003), quando eles afirmam que grande parte dos produtores possui um baixo nível de percepção da poluição que a suinocultura pode causar, e isso é um fator extremamente preocupante visto que a suinocultura da cooperativa em questão tende a crescer e concomitantemente a emissão de dejetos; e se esses não forem bem manejados poderão causar impactos significantes ao ecossistema local. De acordo Correa & Correa (1998), a atividade suinícola quando desenvolvida sem os devidos cuidados com seus dejetos é considerada pelos órgãos de fiscalização ambiental, como uma das principais atividades degradadoras e poluidoras do meio ambiente. Essa poluição é causada pelos resíduos suínos, que é composto por fezes e urina; água desperdiçada pelos bebedouros e pela higienização das instalações; resíduos de ração; poeira e outros materiais gerados durante o processo criatório (Konzen, 1983). Ao serem perguntados sobre como utilizam os dejetos, todos os cooperados responderam que o empregam como adubo na pastagem e agricultura. Para a sua utilização, os produtores retiram os dejetos das Revista da Fapese, v.4, n.2, p. 141-148, jul./dez. 2008 instalações com o auxilio de uma pá e de um carrinho de mão, depois todo material é colocando ao ar livre para secar, permanecendo nesse local em um período de 15 dias a um mês. Após esse procedimento o material é distribuído na pastagem ou em posto em covas feitas ao lado do caule das plantas a serem adubadas (agricultura). Vale lembrar que a aplicação desenfreada e em grandes quantidades desses dejetos na adubação do solo pode resultar em perdas econômicas e ambientais muito grandes, através do desequilíbrio químico causado no solo (Seganfredo, 1999). Para evitar esse desequilíbrio é de suma importância a elaboração de um plano técnico de manejo e adubação, que leve em consideração a composição química dos dejetos, as exigências da cultura a ser implantada e a capacidade de suporte do solo em relação à quantidade de nutrientes que serão depositados através da adubação com os dejetos (Gaspar, 2003). A quantificação mais próxima da produção real de dejetos segundo Ferreira et al. (1999), seria a base fundamental para o estabelecimento de uma adequada estrutura de estocagem e de aproveitamento dos mesmos. Todos os cooperados afirmaram que nunca tiveram nenhum tipo de assessoramento técnico sobre o manejo dos dejetos de suínos produzidos em suas propriedades. Quando perguntados se possuíam alguma informação sobre outras possíveis formas de utilização desses dejetos, 52% responderam que não tinham idéia alguma de como eles poderiam ser utilizados e 38% disseram que já ouviram falar. As formas alternativas de utilização que eles mencionaram foram à produção de energia elétrica, produção de biogás e alimentação de peixes. A grande maioria dos cooperados (76%) não possui nenhum sistema de captação de dejetos, sendo todo ele despejado no terreno. Observamos que alguns produtores (24%) têm ou esta construindo algum sistema de captação de dejetos. Caracterização de uma Cooperativa de Produtores de Suínos Localizada no Município de Campo do Brito-SE 4. Considerações finais A cooperativa melhorou o poder de barganha dos seus associados, tanto para compra de insumos e alimentos para os animais, como para a venda do produto final. Os mesmos aparentaram ter consciência de todas as melhorias que aconteceram após terem aderido a essa instituição. Acrescentamos que para o bom desenvolvimento da atividade suinícola, seria muito vantajoso para os suinocultores da cooperativa que eles começassem a fazer um controle efetivo e freqüente de todos os dados relacionados a ganho de peso dos leitões em um determinado período de tempo, quantidade de alimento que é fornecido para cada animal durante o dia, quantidade de alimento que sobrou no final do dia, preço do quilo do animal vendido, para no final fazer uma análise utilizando todos esses dados, e assim estimar se está havendo uma relação custo-benefício favorável ou não. 147 Outro ponto a ser considerado, diz respeito aos dejetos produzidos pela criação. Devido a essa problemática causada pela suinocultura, podemos perceber a importância de serem tomadas medidas que busquem o controle da poluição causada por essa atividade. Nesse contexto a educação ambiental pode ser uma ferramenta muito importante no processo de conscientização dos cooperados em relação à questão da deposição dos dejetos no meio ambiente. Não podemos esquecer da necessidade da assistência técnica aos cooperados. Os técnicos especializados na área têm o papel de buscar e mostrar as formas mais eficientes de combinação dos componentes de um sistema de produção, visando o aumento da eficiência e da qualidade desse sistema. Através da especialização, as criações passam a ter um maior controle sobre o processo produtivo, fundamentalmente com o fornecimento de material genético, alimentação e acompanhamento das práticas de manejo, que garantem uma eficiência maior na sua produção. Revista da Fapese, v.4, n.2, p. 143-150, jul./dez. 2008 148 Clício S. Santos; Márcia Nunes B. Roner; Ana Rosa da R. Araújo; Hunaldo O. Silva; Alfredo A. Backes REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAVALCANTI, S. Produção de Suínos. Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, Campinas, SP, 1984, 453p. CORÊA, L. B.; CORÊA, E. K. Estudo de fontes poluidoras em uma granja produtora de suínos: Uma perspectiva para a educação ambiental – Estudo de caso. In: Congresso Brasileiro de Veterinários Especialistas em Suínos, 11, 2003, Goiânia. Anais... Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 2003. 483p. CORREA, M. N.; VIVAN, J. C.; XAVIER, E. G.; ROLL, V. F. B.; CORREA, É. K. ; DESCHAMPS, J. C. Manejo Reprodutivo do macho suíno. In: THOMAZ, L. J.; MARCIO, N. C., DESCHAMPS, J. C. Tópicos em suinocultura. Pelotas: UFPEL, 2000, p. 123-148. FERREIRA, L. B; OLIVEIRA, E. P; SILVA, Y. L. da. Uso de dejetos de suínos na alimentação de Tilápias Nilóticas (Saratherodon niloticus). Rev. Uni. Alfenas, Alfenas, v. 5, n. 1, p.37-40, 1999. GASPAR, R. M. B. L.. Utilização de biodigestores em pequenas e médias propriedades rurais com ênfase na agregação de valor: um estudo de caso na região de Toledo-PR. Dissertação (Mestrado em Engenharia da Produção). Programa de Pós-Graduação em Engenharia De Produção da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003. GOMES, M. F. M.; GIROTTO, A. F.; TALAMINI, D. J. D.; LIMA, G. J. M. M. de; MORES, N.; TRAMONTINI, P. Analise prospectiva do complexo agroindustrial de suínos no Brasil. Concórdia: EMBRAPA-CNPSA, 1992. 108 p. Documentos, 26. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/home/ >. Acesso em: 07 fev. 2008. Revista da Fapese, v.4, n.2, p. 141-148, jul./dez. 2008 KONZEN, E. A. Manejo e utilização dos dejetos de suínos. Concórdia, SC, Embrapa/Cnpsa, 1983. 32 p. MIRANDA, C. R. A assistência técnica na ótica dos suinocultores familiares de Concórdia-SC. In: Congresso Brasileiro de Veterinários Especializados em Suínos, 8, 1997. Foz do Iguaçu. Anais... Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 1997. OLIVEIRA, M. A. S; ROCHA, A. dos S. Cooperativismo como alternativo à pequena atividade leiteira na região de Feira de Santana (Bahia). Conjuntura e Planejamento, Salvador, SEI, n.141, p.33-39, 2005. SEGANFREDO, M. A. Os dejetos de suínos são um fertilizante ou um poluente do solo. Cadernos de Ciência e Tecnologia, Brasília, v.16, n.3, p.129-141, 1999. SOBESTIANSKY, J.; WENTZ, I.; SILVEIRA, P. R. S. da.; SESTI, L. A. C. Suinocultura Intensiva: Produção, Manejo e Saúde do Rebanho. Concórdia: EMBRAPA-SPI, 1998, 388 p SOUZA, U. R. de; BRAGA, M. J. Diversificação concêntrica na cooperativa agropecuária: um estudo de caso da COMIGO. Gest. Prod., São Carlos, v. 14, n. 1, p. 169-179, abr. 2007. TEIXEIRA, E. C; AGUIAR, D. R. D; VIEIRA, W. da C. Agricultura comercial e familiar num contexto de abertura econômica. In: Teixeira, E. C.; Vieira, W. da C. (ed.). Reforma da política agrícola e abertura econômica. Viçosa-MG: UFV, 1996. 210p. TURRA, F. R; SANTOS, F. E. DE G; COLTURATO, L. C. Associações e cooperativas. Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo - Ed. Casa do Cooperativismo, Brasília, 2002.