Saúde Coletiva ISSN: 1806-3365 [email protected] Editorial Bolina Brasil Rodrigues Padula Coiado, Cristina; Ferraz do Amaral, Anderson; Rocha dos Santos, Rodrigo Incidência de quedas na população idosa no âmbito domiciliar: atendimento Sistema 193 Saúde Coletiva, vol. 6, núm. 27, enero-febrero, 2009, pp. 19-23 Editorial Bolina São Paulo, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84212434005 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto epidemiologia e saúde Coiado CRP, Amaral AF, Santos RR. Incidência de quedas na população idosa no âmbito domiciliar: atendimento Sistema 193 Incidência de quedas na população idosa no âmbito domiciliar: atendimento Sistema 193 Este estudo teve como objetivo analisar as ocorrências envolvendo a população idosa atendida pelo sistema 193, sobre a incidência de quedas. Pesquisa retrospectiva, descritiva de análise documental realizada no 1º semestre de 2006 a partir de dados disponibilizados pelo Centro de Operações de Bombeiros (COBOM) do município de São Paulo. Foram analisadas 47 fichas de atendimento envolvendo idosos vitimas de queda. Dentre os principais resultados destacamos: 35 (74,46%) dos idosos sofreram queda do mesmo nível, sendo que 36 (76,60%) no momento do acidente encontravam-se sozinhos na sua residência, 41 (97,87%) dos idosos apresentaram alguma dificuldade motora e 33 (70,22%) referiram algum tipo de antecedentes mórbidos. Portanto, o profissional de enfermagem que presta assistência a esta população deve conhecer os fatores de risco envolvidos na queda para atuar preventivamente, evitando os prejuízos e agravos relacionados a este evento, haja visto o grande número de idosos que sofrem ou estão em risco de sofrerem quedas. Descritores: Incidência, Queda, Idoso. This study aims to analyze the occurrences involving the senior population assisted by the system 193, about the incidence of falls. It is a retrospective research, descriptive of documental analysis on the 1st semester of 2006 accomplished, based on data given by the Center of Firemen Operations (COBOM) of the municipal district of São Paulo, Brazil. A total of 47 attendance records were analyzed involving seniors victims of fall. Among the principal results we highlighted: 35 (74,46%) of the seniors suffered the same level of fall, and 36 (76,6%) on the moment of the accident were alone inside their residences, 41 (97,87%) of the seniors presented some motion difficulty and 33 (70,22%) referred some type of morbid antecedent. Therefore, the Nursing professional that renders attendance to this population should know the risk factors involved on the fall to render and prevent the act, because it avoids the damages related to this event, specially concerning the great number of seniors that suffer or that are in risk of suffering falls. Descriptors: Incidence, Fall, Senior. Este estudio tuve como objetivo analizar las ocurrencias que involucran la personas mayores asistidas por el sistema 193 a cerca de la incidencia de caídas. Investigación retrospectiva, descriptiva y documental hecha em el primer semester de 2006 com datos del Cientro de Actividades de los Bomberos (COBOM) en el distrito municipal de São Paulo, Brasil. Se analizaron 47 archivos de asistencia involucrando personas mayores con historia de caída. Entre los resultados principales se tuve: 35 (74,46%) de las personas mayores sufrieron caída del mismo nivel, y 36(76,6%) en el momento del accidente estaban solos en sus residencias, 41(97,87%) presentaron alguna dificultad motora y 33 (70,22%) refirieron algún tipo de antecedente de morbidad. Asi, el profesional de enfermería que da asistencia el esta población debe conocer los factores de riesgo envuelto en la situación de caída para actuar en la prevención, evitando perjuicios y ofensas relacionadas a este evento, ha visto, el gran número de personas mayores que sufren o, están en riesgo de sufrieren caídas. Descriptores: Incidencia, Caídas, Senior. Cristina Rodrigues Padula Coiado: Enfermeira. Mestre em Ciências da Saúde. Docente da Universidade Anhembi Morumbi e Universidade Paulista. [email protected] Anderson Ferraz do Amaral: Enfermeiro do Hospital da Polícia Militar. Especialista em Cardiologia. Rodrigo Rocha dos santos: Enfermeiro do Hospital Santa Paula e Hemocentro. Especialista em Transplante de Medula Óssea. Recebido: 24/08/2007 Aprovado: 20/05/2008 InTRoDuÇão população idosa vem crescendo nos últimos anos. Isto se relaciona dentre outros aspectos, ao avanço das tecnologias que influenciam diretamente no aumento da expectativa de vida desta população. Em 1950, o Brasil era o 16º país com maior população idosa do mundo, estima-se que atinja a 6º colocação no ano de 2025, chegando a cifras de 32 milhões de indivíduos com 60 anos ou mais. Nesse período, enquanto a população idosa crescerá 107%, o grupo de 0 a 14 anos crescerá apenas 14%1,2. Essa transformação demográfica é acompanhada por uma transição epidemiológica, gerando demandas específicas de cuidados à faixa etária de idosos incluindo, nestas demandas, o aumento do número de acidentes2,3. O envelhecimento é um processo biológico natural, produzindo alterações em todo o corpo. O declínio funcional A Saúde Coletiva 2009;06 (27):19-23 epidemiologia e saúde.indd 19 19 13.01.09 11:08:59 epidemiologia e saúde Coiado CRP, Amaral AF, Santos RR. Incidência de quedas na população idosa no âmbito domiciliar: atendimento Sistema 193 que ocorre ao longo da vida, particularmente após os 30-40 anos, é influenciado por vários fatores sejam físicos e/ou orgânicos, pela constituição genética individual, hábitos de vida, ambiente, condições educacionais e socioecômicas e também pelas relações familiares4. Essas alterações repercutem na mobilidade e nas atividades diária de vida. Com a descalcificação os ossos ficam mais frágeis e mais predispostos a fraturas. Ocorre perda de elasticidade do cristalino e por consequência a capacidade de acomodação. Produz-se uma redução na focagem dos objetos próximos, diminuição do tamanho da pupila, que adquire forma irregular, com diminuição na velocidade de resposta à luz. Com a idade o ouvido interno e o nervo auditivo sofrem processo de degeneração, com perda da capacidade para altas frequências2,5. Assim, vários sistemas se modificam, sendo comum à de- 20 epidemiologia e saúde.indd 20 terioração dos mecanismos de equilíbrio, diminuição da sensibilidade vibratória e propriocepção, diminuição da força muscular, declínio da função vestibular, alteração postural e na pressão sanguínea, entre outros fatores que são desencadeados pelo declínio funcional, estes tornam o idoso mais suscetível a determinados tipos de traumas6,7. O mais comum dos fatores traumáticos é a queda, sendo a principal causa de morte para população idosa, que normalmente ocorre em mais de 30% dos casos no domicílio, sendo implicado aproximadamente a um terço de todas as quedas ou lesões ocasionadas por quedas entre idosos. A queda é definida como um evento não esperado, no qual a pessoa cai ao chão de um mesmo nível ou de nível superior podendo ser de uma escada ou mobília7,8. Os fatores relacionados às quedas do idoso são múltiplos e complexos e se devem aos fatores intrínsecos que constituem alterações ocasionadas pelo envelhecimento e os extrínsecos que constituem fatores relacionados ao ambiente7. Como fatores intrínsecos, os idosos apresentam dificuldade da regulação das respostas que requerem velocidade e precisão. A base de sustentação tende a alargar-se, os passos são curtos e lentos, o tronco tende a fletir-se para proporcionar elasticidade. No entanto, isso pode inibir as reações automáticas de equilíbrio, restringir as atividades ou mesmo provocar imobilidade. Há limitação da amplitude do movimento para dorsoflexão do tornozelo, o que aumenta a chance de tropeços. Diante das perturbações posturais há ativação da musculatura proximal dos membros inferiores antes da distal, não se conseguindo o retorno do centro da gravidade à sua posição normal, com consequente perda de equilíbrio; há também contração simultânea das musculaturas agonistas e antagonistas, resultando em enrijecimento ao invés de movimento compensatório6,7. A diminuição de receptores de tato e pressão, na planta do pé, informa menos sobre a base de sustentação. A diminuição da propriocepção altera a percepção da posição do corpo, tanto estática quanto dinâmica. Doenças que comprometem a capacidade sensória tais como diabetes mellitus e outras patologias causadoras de neuropatia periférica, poderão acentuar essas perdas. A deficiência visual altera a adaptação ao escuro, ocorrendo embaralhamento da visão periférica e diminuição do tempo de resposta visual6,7. Há progressivo declínio na sensibilidade de baroreflexos para ambos os estímulos hipertensivos e hipotensivos, e conseqüentemente são menos capazes de aumentar a frequência cardíaca, regular a pressão arterial e o fluxo cerebral. Há também diminuição progressiva dos níveis basais de renina e aldosterona, com prejuízo da conservação renal de sódio e da manutenção do volume intravascular. Os idosos mais freqüêntemente tornam-se desidratados com consequente hipotensão em resposta a diurético, doença febril aguda ou situação onde o acesso à água e ao sal é limitado. Além disso, os idosos têm menos sede, o que pode levar a rápida depleção de volume, hipotensão ortostática e queda6,7. Doenças neurológicas como o acidente vascular encefálico pode cursar hemiplegias ou hemiparesias que podem levar à transferência do peso corporal e provocar espastiscidades com alteração do padrão normal postural e de movimento, levando à diminuição das reações de equilíbrio e sensoriais, principalmente tato e percepção7. Saúde Coletiva 2009;06 (27):19-23 13.01.09 11:09:01 epidemiologia e saúde Coiado CRP, Amaral AF, Santos RR. Incidência de quedas na população idosa no âmbito domiciliar: atendimento Sistema 193 Doenças osteomoleculares como a artrite inflamatória ou de 2006 à junho de 2006. A partir deste levantamento fodegenerativa, a osteoporose e os problemas podiátricos (calosiram avaliadas as fichas de atendimento que relatam queda dades, joanetes, deformidades dos pés e sapatos mal adaptados nos idosos e os dados foram inseridos em planilha eletrônica ou solados escorregadios) causam dor, imobilidade, diminuição utilizando-se o programa Excel 2000. Os dados levantados do equilíbrio, instabilidade articular e fraqueza muscular que foram tratados por frequência simples e relativa. predispõem as quedas, assim formam um ciclo vicioso6,7. REsulTADos Pessoas com demência ou deprimidos caem mais que indiNeste estudo foram analisadas 47 fichas de atendimento a idovíduos sem esses distúrbios, possivelmente devido à diminuisos vítimas de queda sistema 193 no período de janeiro 2006 ção da atenção, do julgamento, da percepção visuespacial, da a junho 2006. A idade média foi de 65,29 anos e desvio paorientação espacial, e da concentração, inerentes ao próprio drão de 6,74 variando de 56 a 83 anos. Constatou-se que 28 quadro ou relacionados ao tratamento instituído, ou seja, ao (59,57%) indivíduos eram do sexo masculino 19 (40,42%) do uso de sedativos, hipnóticos ou psicotrópicos. sexo feminino. Estudos epidemiológicos mostram que mulheres Como fatores extrínsecos, as exposições perigosas potenciais apresentam taxa mais elevadas de queda que homens11, difepodem ser divididas em persistentes como armários, pisos irregulares ou escorregadios, ausência de barras no banheiro para rente do aqui encontrado. se segurar, perigo de tropeços, tapetes soltos, roupões longo e Quanto ao período em que ocorreram as quedas, 19 escadas e objetos ou móveis que obrigam o desvio de trajeto: e (40,42%) foram no período noturno, 16 (34,05%) no períovariáveis como a baixa luminosidade7. Podo de tarde e 12 (25,53%) no período da manhã. As quedas noturnas podem estar rém um estudo mostrou que a maioria dos associadas a vários distúrbios do sono le“caidores” apresenta fatores intrínsecos jus"A POPULAÇÃO IDOSA VEM vando o idoso à sonolência diurna e petificando-se as quedas, principalmente nos rambulação noturna. Pode-se relacionar muito idosos9. CRESCENDO NOS ÚLTIMOS ainda, ao declínio funcional com déficit Segundo Estatuto do Idoso, através da ANOS. ISTO SE RELACIONA de algumas funções fisiológicas que aulei 10.741 de 1º de outubro de 2003, o mentam ainda mais o índice de queda envelhecimento é um direito personalíssiDENTRE OUTROS ASPECTOS, noturna. Outros estudos mostram que a mo e a sua proteção um direito social, nos AO AVANÇO DAS TECNOLOGIAS maior parte das quedas ocorrem em petermos desta lei e da legislação vigente. ríodo diurno devido aos idosos estarem O idoso goza de todos os direitos fundaQUE INFLUENCIAM em intensa atividade12. Neste estudo verimentais inerentes à pessoa humana, sem DIRETAMENTE NO AUMENTO prejuízo da proteção integral de que trata ficou-se uma maior ocorrência de quedas DA EXPECTATIVA DE VIDA esta lei, assegurando-lhe, por lei ou por no período noturno 40,42%. outros meios, todas as oportunidades e faPode-se observar na tabela 1, que 14 DESTA POPULAÇÃO" cilidades, para preservação de sua saúde (29,78%) dos idosos não relatam nenhum física e mental e seu aperfeiçoamento motipo de antecedente pessoal. Em contraral, intelectual, espiritual e social, em conpartida ao se agregar os demais indivíduos dições de liberdade e dignidade, sendo obrigação do Estado, se verificam que grande parte mencionou um ou mais tipos de garantir à pessoa idosa a proteção à vida e a saúde, mediante antecedente, totalizando em 33 (70,22%). As doenças crônicas efetivação de políticas sociais públicas que permitam um enpodem indicar maior risco de queda ou uma tendência à imovelhecimento saudável e em condições de dignidade10. bilidade, pois são patologias que provocam neuropatias dificultando a circulação e podendo levar o idoso à queda. Dentre as Sabe-se que as quedas na população idosa representam um doenças associadas ao aumento de risco de queda incluem-se problema de saúde pública, assim nos questionamos: Qual ino diabetes, que neste estudo ocorreu em 13 (27,68%). cidência de queda na população idosa? Quais as situações enO uso de álcool e o risco de quedas podem aumentar possivolvidas na queda? velmente por efeitos no controle postural. Neste estudo, segunAssim, o objetivo deste estudo foi analisar situações envoldo tabela 1, o uso excessivo de álcool foi citado como antecevendo a população idosa, atendida pelo sistema 193, acerca da dente mórbido em 12 idosos (25,52%). incidência de queda. A maioria dos idosos deste estudo (tabela 2) refere alguma alteração motora. Estas podem estar relacionadas às limiMEToDoloGIA tações funcionais que ocorrem nesta faixa etária, sendo que Trata-se de uma pesquisa retrospectiva, descritiva de análise 38 (80,86%) dos idosos referem dificuldade de caminhar. A documental, realizada no COBOM (Controle de Operações simples observação da marcha fornece várias informações de Bombeiros – Sistema 193) do município de São Paulo. Fodiagnósticas importantes. A população idosa desenvolve ram analisadas as ocorrências envolvendo idosos, que sofreuma marcha lenta, deslizante, na qual os pés parecem estar ram quedas, atendidos no sistema 193 no período de janeiaderidos ao solo.O paciente caminha com passos irregulares ro de 2006 à junho de 2006. Para se coletar as informações dificultando a passagem de obstáculos em sua frente aumendestas ocorrências foi utilizada um instrumento de coletas tando assim o risco para quedas11,12. de dados (Anexo 1). O projeto foi apreciado pelo Comitê de Ética e PesquiVerificou-se que 36 (76,6%) dos idosos estavam sozinho sa da Universidade Anhembi Morumbi, que após aprovação, no momento do acidente, tendo então, que executar suas foi solicitado levantamento das ocorrências atendidas no atividades, aumentando o grau de dificuldade de tarefas físistema 193 que envolveram idosos no período de janeiro Saúde Coletiva 2009;06 (27):19-23 epidemiologia e saúde.indd 21 21 13.01.09 11:09:01 epidemiologia e saúde Coiado CRP, Amaral AF, Santos RR. Incidência de quedas na população idosa no âmbito domiciliar: atendimento Sistema 193 Tabela 1. Antecedentes mórbidos de idosos vítimas de queda atendidos pelo sistema 193. São Paulo, 2006. Antecedentes Pessoais Hipertensão Diabetes Alcoolismo Diabetes + Hipertensão Hipertensão+ Alcoolismo Diabetes + Hipertensão + Alcoolismo Nenhum Total N° 10 8 8 3 2 2 14 47 % 21,3 17,02 17,02 6,38 4,25 4,25 29,78 100,0 Tabela 2. Alteração motora de idosos vítimas de queda atendidas pelo sistema 193. São Paulo, 2006. Alteração Motora Dificuldade de Caminhar Hemiplegia Paraplegia Nenhum Total Nº 38 2 1 6 47 % 80,86 12,76 4,25 2,13 100,0 Tabela 3. Tipo de Lesão sofrida após queda em idosos atendidos pelo sistema 193, São Paulo, 2006. Lesão MMII + Crânio MMSS MMII Crânio Tórax Face MMSS + MMII Crânio + Face MMSS + Crânio MMII + Face MMSS + Face Não Houve Total Nº 1 6 4 5 1 2 2 2 1 1 1 21 47 % 2,12 12,79 8,55 10,63 2,12 4,25 4,25 4,25 2,12 2,12 2,12 44,68 100 Tabela 4. Local onde ocorre a queda sofrida por idosos, atendidos pelo sistema 193, São Paulo, 2006. Local da Queda Banheiro Quarto Escada Cozinha Sala Quintal Laje Garagem Total 22 epidemiologia e saúde.indd 22 Nº 15 9 5 7 4 4 2 1 47 % 31,95 19,14 10,63 14,89 8,51 8,51 4,25 2,12 100 sicas associadas à instabilidade funcional, e podendo gerar situações de quedas. Vale lembrar que, os idosos, com maior frequência moram sozinhos; além disto, muitos se encontravam na situação de viúvos, desquitados e solteiros. Neste estudo, 18 (38,30%), dos idosos que acionaram o serviço de emergência estavam sós, e destes, oito (17,02%) tiveram acionamento por vizinhos, 13 (27,66%) por outros, e somente oito (17,02%) pelos familiares. Neste estudo a maioria dos idosos sofreu quedas do mesmo nível, 35 (74,46%) podendo ser correlacionada este fato com as alterações fisiológicas que ocorrem no processo de envelhecimento, como diminuição da acuidade visual, diminuição da força motora, dificuldade de locomoção e ainda fatores relacionados ao ambiente, tais como: piso escorregadio, problemas com degraus, trombar em outras pessoas, subir em objetos para alcançar algo, atrapalhar-se com objeto no chão, quedas de cama, entre outros13. Analisando a tabela 3, a maioria 26 (55,32%) dos idosos obteve lesão proveniente da queda. Em 21 (44,68%) não houve lesão. A queda pode ser dividida de acordo com a presença ou não de lesões. As quedas com lesões graves são consideradas aquelas cuja consequência é uma fratura, trauma ou luxação. As fraturas podem estar relacionadas à existência maior de osteoporose entre os idosos, já que existe forte relação entre estas. Abrasões, cortes, escoriações e hematomas são considerados lesões leves13,14,15. Dos 26 (55,32%) idosos que sofrerão lesão, o local de maior incidência foi em MMSS, podendo ser correlacionado ao fato que no ato da queda, o idoso tende a se apoiar deixando o peso corporal todo concentrado neste local, podendo explicar o porque da fratura dos membros em questão. Não há relato sobre qual local do corpo existe uma maior probabilidade de fratura, apenas encontramos que a fratura de quadril é a mais temida entre idosos e profissionais que acolhem esta população, pois normalmente uma fratura neste local esta associada a osteoporose, possuem graus variados de complexidade o que torna a recuperação do idoso muito prolongada e por ser uma local de sustentação do organismo podendo até mesmo levar idoso a morte. Outras lesões graves resultantes de uma queda incluem os traumas cranioencefálico ocasionando a perda de consciência, lacerações severas, hematomas, luxações, traumas articulares e outras lesões do tecido mole, já os traumas torácicos podem ocasionar complicações significativas como pneumotórax, hemotórax, dificuldade respiratória, fraturas de arcos costais ou esterno podendo ocasionar hipoventilação e como consequência formação de atelectasia11,14. O local de maior ocorrência de queda segundo tabela 4 foi no banheiro com 15 (31,95%), seguido do quarto nove (19,14%), e cozinha sete (14,89%), podemos notar que são cômodos de maior permanência dos idosos, onde se concentra o maior índice de atividades. O banheiro é o local propício para queda devido tipo de piso (azulejo), que em contato com água tende a tornar-se escorregadio e sendo um cômodo onde o idoso tende a estar diariamente devido a execução de suas atividades rotineiras como o banho, atividades fisiológicas, entre outras atividades que favorecem a queda. No quarto, os idosos concentram muita parte do seu tempo exercendo atividades do tipo leitura, assistir TV, descansar, entre outras Saúde Coletiva 2009;06 (27):19-23 13.01.09 11:09:01 epidemiologia e saúde Coiado CRP, Amaral AF, Santos RR. Incidência de quedas na população idosa no âmbito domiciliar: atendimento Sistema 193 atividades. Na cozinha podemos destacar atividades rotineiras como limpeza dos materiais, preparo de alimentação, local para execução de suas refeições, sendo assim, uma grande parte do tempo pode estar ligada a esta parte da residência, podendo explicar o porque do alto índice de queda. Estudos apontam que as quedas domiciliares internas ocorrem nos cômodos mais utilizados (quartos, cozinha, banheiro, sala de jantar), pois nestes locais os idosos tendem a concentrar suas atividades diárias. Com isso podemos aferir que os fatores de risco mais preocupantes estão dentro do domicílio, sendo que apenas oito (17,02%) dos acidentes ocorrem fora do âmbito interno, o que coincide com estes estudos que mostram que maioria dos idosos cai dentro de casa (ambiente interno) e poucas nos jardins de suas residências (ambiente externo)12. Portanto, o profissional de enfermagem que presta assistência a esta população, deve conhecer os fatores de risco envolvidos na queda para estar preparado e atuar preventivamente através da avaliação funcional. A prevenção é uma estratégia útil pois evita os prejuízos e agravos relacionados a este evento, sendo este um tema importante para Saúde Pública, haja vista, o grande número de idosos que sofrem ou estão em risco de sofrerem quedas. Conclusão Foram analisadas 47 fichas de atendimento à vítima de queda na população idosa no âmbito domiciliar, atendimento 193, no período de janeiro de 2006 a junho de 2006. A idade média dos idosos foi de 65,29 anos, sendo 28 (59,57%) do sexo masculino e 19 (40,42%) do sexo feminino, a maioria das ocorrências foram vítimas de queda da própria altura 39(82,97%) e ocorrida em âmbito domiciliar interno 39 (82,97%), com maior incidência no banheiro 15 (31,95%). Dentre estes eventos, 26 (55,32%) dos idosos sofreram algum tipo de lesão, sendo a maior prevalência em MMSS 10 (21,28%). Constatamos que 36 (76,60%) dos idosos no momento da ocorrência encontravam-se sozinhos e 41 (97,87%) dos idosos apresentaram algum tipo de alteração motora. Vale ressaltar que a importância de algumas doenças crônicas também influenciam no evento da queda, pois 33 (70,22%) apresentaram algum tipo de antecedente pessoal. O conhecimento dos fatores de risco envolvidos na queda é amplo, sendo este conhecimento necessário para o enfermeiro realizar a avaliação funcional no idoso e atuar preventivamente, visando a promoção da saúde, minimizando os gastos e as incapacidades geradas pela queda, contribuindo assim, para um envelhecimento saudável. Referências 1. Schoueri Júnior R, Ramos LR, Papaléo Netto M. Crescimento populacional: aspectos demográficos e sociais. In: Carvalho Filho ET, Papaléo Netto M. Geriatria: fundamentos, clinica e terapêutica. 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Sattin RW, Rodriguez IG, Devito CA, Wingo PA. The study to assess falls among the elderly (SAFE) group: home environmental hazards and the risk of fall injury events among communtydwelling older people. J Am Gerart Soc. 1998;46:669-76. 10. Brasil. Senado Federal. Estado do Idoso. Projeto de Lei nº. 57 de 2003 [Internet]. [citado em 2008 Set 28]. Disponível em: http:www.senado.gov.br. 11. Brito CF, Costa N. Avaliação clínica e laborátorial do idoso que cai. In: Netto Papaléo M. Urgência em gereatria. São Paulo: Atheneu; 2001. p. 330. 12. Fabricio CZ. Causa e conseqüência de quedas de idoso atendido em hospital público. Rev Saúde Pública. 2004;38(1):337-9. 13. Perracini MR, Ramos LR. Fatores associados a quedas em uma corte de idosos residentes na comunidade. Rev Saúde Pública. 2002;36(6):709-16. 14. Guimarâes MR, Cunha VGU. O idoso com história de queda. In: Sinais e sintomas em geriatria. 2 ed. São Paulo: Atheneu; 2004. p. 330-2. 15. Freitas VE. Distúrbio de postura, marcha e quedas. In: Tratado de geriatria e gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. p. 628-34. Anexo 1 A - Nº. do Instrumento____ B - Idade ____ anos C - Sexo: (1) Feminino (2) Masculino D - Horário da ocorrência (1) Manhã (2) Tarde (3) Noite E - Antecedentes Pessoais: (1) AVC (2) Diabetes (3) HAS (4) Nenhum (5) Outros: Qual?__________ F - Alteração Motora: ( ) Não ( ) Sim G - No momento do acidente estava sozinho: ( ) Não ( )Sim H - Quem acionou o serviço: (1) Família (2) Vizinho (3) Transeuntes (4) Própria Vítima (5) Outros I - Tipo de ocorrência: (1) Queda do mesmo nível (2) Queda de um nível a outro J - Houve Lesão: ( ) Não ( ) Sim. K - Local da Lesão: (1) MMSS (2) MMII (3) Crânio (4) Tórax (5) Outros ___________ L - Local da queda residencial: (1) Âmbito Interno (2) Âmbito Externo M - Detalhamento do local da queda: (1)Cozinha (2) Quarto (3) Banheiro (4) Sala (5) Outros___________ epidemiologia e saúde.indd 23 Saúde Coletiva 2009;06 (27):19-23 23 13.01.09 11:09:01