UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ ssFonte: Dados do IBGE, 2000, por SEI, 2007c. Adaptado. Programa Regional de citado Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente HELGA DULCE BISPO PASSOS INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE: uma discussão teórico-metodológica aplicada a sistemas agroflorestais no Sul da Bahia ILHÉUS – BAHIA 2008 HELGA DULCE BISPO PASSOS INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE: uma discussão teórico-metodológica aplicada a sistemas agroflorestais no Sul da Bahia Dissertação apresentada, para a obtenção do título de mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, à Universidade Estadual de Santa Cruz. Área de concentração: agropecuários sustentáveis Sistemas Orientadora: Mônica de Moura Pires Co-Orientador: Jaênes Miranda Alves ILHÉUS – BAHIA 2008 HELGA DULCE BISPO PASSOS INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE: uma discussão teórico-metodológica aplicada a sistemas agroflorestais no Sul da Bahia Ilhéus-BA, 08/04/2008 _________________________________________________________ Mônica de Moura Pires – DS UESC/BA (Orientadora) _________________________________________________________ Andréa da Silva Gomes – DS UESC/BA _________________________________________________________ Maria Cecília Junqueira Lustosa – DS UFAL/AL – PRODEMA DEDICATÓRIA Dedico à minha mãe Maria Elza e ao meu pai Dilson, pelo carinho, compreensão, apoio e companheirismo de sempre. Obrigada pelo amor que me dedicam. AGRADECIMENTOS Agradeço à Luz Maior que nos rege, ilumina e oportuniza todos os dias novas possibilidades de crescimento, superação e felicidade. Aos meus pais, por todo carinho, esforço, auxílio e torcida ao longo dessa jornada. Ao meu irmão Anderson, pelo apoio de sempre. Ao meu amado, Luiz Otávio, pela presença, carinho, vibração e companheirismo constantes. À querida professora e amiga Mônica Pires, pelo companheirismo, pelos estímulos, pelo carinho e dedicação, e pelas valiosas orientações. Muito obrigada! Foi uma experiência muito gratificante. E certamente a primeira dentre muitas que virão. Às professoras Andréa Gomes, Cecília Lustosa e Moema Midlej pelas valiosas e sinceras contribuições. Aos amigos do mestrado, pelos momentos prazerosos de aprendizado e descontração. Em especial, às amigas Hellen, Joice, Michaele, Mônica, Nati e Silvinha, e ao amigo Gustavo. Meu agradecimento de coração aos amigos: Fátima Soares, Sayonara, Otávio, Luciana de Holanda e amigos do Porto. Aos amigos do CESESB, em especial à professora Rosana do Carmo que me oportunizou trabalhar com a temática ambiental no curso de Administração. Aos amigos do Terra Viva, principalmente ao Francisco Colli, amigo que me apresentou o mundo da agricultura agroecológica e dos SAF. Muito obrigada, Chico! Muito obrigada aos amigos e colegas do IESB, do Floresta Viva, da CEPLAC, da CABRUCA e da Cooperuna, pelo acolhimento e imensuráveis contribuições. Um abraço especial a Jafa, Peninha (em memória), Luizinho, Walter, Lico, Fausto e Beroaldo. Meus sinceros agradecimentos a todos produtores pela generosa colaboração. Agradeço em especial ao DAAD e ao Governo Alemão, representados na pessoa de Rita Meyer, pela atenção dispensada e pela bolsa de estudos que me oportunizou a realização do mestrado e da pesquisa em epígrafe. Obrigada a todos que cooperaram de algum modo para a realização deste estudo. v INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE: uma discussão teórico-metodológica aplicada a sistemas agroflorestais no Sul da Bahia RESUMO Com o movimento ambientalista e as subseqüentes buscas por formas de consumo e produção menos impactantes e mais sustentáveis, os sistemas agroflorestais (SAF) emergem em discussões locais e internacionais enquanto alternativa ao modelo da agricultura convencional. A adoção desses sistemas na Região Sul da Bahia intensifica-se com a crise da economia monocultora do cacau, que se revela vulnerável em termos agronômicos, econômicos, sociais e ambientais. Não obstante, nem todo SAF, mesmo fundamentado na agroecologia, constitui-se necessariamente num agroecossistema sustentável. Nesse sentido, o estudo identifica o grau de sustentabilidade socioeconômico e ambiental de SAF de unidades de produção agrícola no município de Una, Bahia, a partir de desenvolvimento metodológico para mensuração da sustentabilidade de SAF típicos do Sul baiano. Para tanto, aplica-se a estrutura metodológica para definição de indicadores de sustentabilidade para sistemas, sugerida por Camino V. e Müller (1993), avaliando-a quanto aos critérios de produtividade, estabilidade, eqüidade, resiliência e autonomia, nas dimensões ambiental, econômica e social. Realizam-se pesquisas bibliográficas sobre indicadores de sustentabilidade e pesquisas com especialistas e produtores da região. De maneira geral, os aspectos econômicos preponderam na estruturação e manutenção dos SAF da região Sul baiana e o método de mensuração proposto neste estudo mostra-se adequado em termos estruturais e operacionais, configurando-se em mais um instrumento para o planejamento, acompanhamento e avaliação de projetos e ações voltados para a promoção do desenvolvimento rural e regional de forma sustentável. Palavras-chave: indicadores de sustentabilidade; métodos; sistemas agroflorestais; Região Sul da Bahia vi SUSTAINABILITY INDICATORS: a theoretical-methodological discussion applied for agroforestry systems in Bahia ABSTRACT Due to the environmental movement and the search for sustainable forms of consumption and production, the agroforestry systems (AFS) emerge in contexts of debate, locally and abroad, as an alternative model for agriculture in contrast to the traditional one. The adoption of this agriculture system in southern region of Bahia has been increased since the crisis of the cocoa monoculture-based economy, which reveals itself vulnerable in agronomic, economic, social and environmental terms. Nevertheless it must be emphasized that not all agroforestry system, even when rooted in agro-ecology, constitutes itself as a sustainable agro-ecosystem. The present study determines the socio-economic and environmental sustainability level of agroforestry systems for units of production in the municipality of Una, Bahia, applying specific typically designed methodology for measuring sustainability of agroforestry system, in the region. The methodological structure for the definition of sustainability indicators for system is applied in accordance to Camino and Müller (1993), by analyzing the sustainability concerning criteria of yield, stability, equity, resilience, and autonomy, in its environmental, economical and social dimension. Bibliographical research on sustainability indicators was carried out, as well as interviews with experts and producers in the region. Among other findings, the study shows that: 1) economic aspects are prevalent in the building and maintenance of Agroforestry systems in the southern region of Bahia; and that 2) the method for estimating sustainability level proposed by the study revealed adequate concerning structural and operational terms, configuring itself as a great tool for planning, monitoring and evaluating projects and actions engaged to the promotion of sustainable rural and regional development. Keywords: sustainability indicators, methods, agroforestry systems, Southern region of Bahia. vii LISTA DE FIGURAS 1 Território Litoral Sul do Estado da Bahia................................................... 7 1F Cobertura vegetal do Estado da Bahia...................................................... 219 2F Relevo do Estado da Bahia....................................................................... 220 3F Tipos de solos existentes no Estado da Bahia.......................................... 221 4F Aptidão agrícola das terras do Estado da Bahia....................................... 222 2 A: A economia cresce de forma autônoma; B: O crescimento da economia é restrito pelos recursos naturais (RN)..................................... 23 3 Modelo Simplificado do Fluxo Circular da economia com interações com o ecossistema............................................................................................ 26 4 A coevolução do conhecimento, dos valores, da organização social, da tecnologia e dos sistemas biológicos........................................................ 28 5 Proposta de terminologias para sistemas agroflorestais sugerida por Daniel et al................................................................................................. 6 Estrutura metodológica para definição de indicadores de sustentabilidade para sistemas em geral.................................................. 7 Estrutura para definição de um grupo de indicadores 41 44 de sustentabilidade para um sistema específico............................................ 46 8 Etapas da pesquisa................................................................................... 52 9 Estrutura conceitual para classificação de indicadores de sustentabilidade para agroecossistemas................................................... 56 10 Estrutura conceitual do modelo PER da OECD........................................ 58 11 Exemplo de representação da estrutura de um agroecossistema e seus fluxos de produtos com seus subsistemas e com sistemas endógenos... 67 12 Representação dos índices de sustentabilidade em gráfico radar indicando os aspectos para a análise gráfica............................................ 82 viii 13 Proposta alternativa sugerida por Daniel (2000) para calcular um Índice de Sustentabilidade (IS)............................................................................ 89 1E Represa (à esquerda) e hidrelétrica (à direita) da UPA 2.......................... 216 2E Sistema de geração de energia da hidrelétrica da UPA 2......................... 217 14 Calendário agrícola dos principais cultivos do SAF 1 (cupuaçuzeiro x seringueira), Una, Bahia, 2008.................................................................. 133 15 Calendário agrícola dos principais cultivos do SAF 2 (cacaueiro x açaizeiro x seringueira), Una, Bahia, 2008................................................ 135 16 Calendário agrícola dos principais cultivos do SAF 3 (cacaueiro x seringueira), Una, Bahia, 2008.................................................................. 137 17 SAF 1 (cupuaçuzeiro x seringueira), apresentando em destaque o painel de uma seringueira com problemas de doença, Una, Bahia, 2008........................................................................................................... 138 18 Estrutura do SAF 1 (cupuaçuzeiro x seringueira) e seus fluxos de produtos e insumos com sistemas endógenos e exógenos, Una, Bahia, 2008........................................................................................................... 139 19 SAF 2 (cacaueiro x açaizeiro x seringueira), apresentando em destaque o painel de uma seringueira com problemas de doença, Una, Bahia, 2008........................................................................................................... 140 20 Estrutura do SAF 2 (cacaueiro x açaizeiro x seringueira) e seus fluxos de produtos e insumos com sistemas endógenos e exógenos, Una, Bahia, 2008................................................................................................ 141 21 SAF 3 (cacaueiro x seringueira), mostrando a diversidade de cultivos, Una, Bahia, 2008....................................................................................... 143 22 Estrutura do SAF 3 (cacaueiro x seringueira) e seus fluxos de produtos e insumos com sistemas endógenos e exógenos, Una, Bahia, 2008....... 144 23 Índices de Sustentabilidade de cada Critério (ISC) do SAF 1 (cupuaçuzeiro x seringueira), Una, Bahia, 2008........................................ 148 ix 24 Índices de Sustentabilidade de cada Critério (ISC) do SAF 2 (cacaueiro x açaizeiro x seringueira), Una, Bahia, 2008............................................. 150 25 Índices de Sustentabilidade de cada Critério (ISC) do SAF 3 (cacaueiro x seringueira), Una, Bahia, 2008............................................................... 26 Índices de Sustentabilidade de cada Critério (ISC) dos 151 SAF pesquisados, Una, Bahia, 2008................................................................. 153 27 Índices de Sustentabilidade de cada Dimensão (ISD) do SAF 1 (cupuaçuzeiro x seringueira), Una, Bahia, 2008........................................ 154 28 Índices de Sustentabilidade de cada Dimensão (ISD) do SAF 2 (cacaueiro x açaizeiro x seringueira), Una, Bahia, 2008........................... 155 29 Índices de Sustentabilidade de cada Dimensão (ISD) do SAF 3 (cacaueiro x seringueira), Una, Bahia, 2008............................................. 156 30 Índices de Sustentabilidade de cada Dimensão (ISD) dos SAF pesquisados, Una, Bahia, 2008................................................................. 157 x LISTA DE TABELAS 1 Produto Interno Bruto da Bahia, do Território Litoral Sul e do município de Una, 2002-2005 – a preços correntes e em %............................................. 8 2 Valor Adicionado a preços correntes por setor de atividade – Litoral Sul e município de Una, 2005................................................................................ 9 3 Pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas por setor e seção de atividade do trabalho principal – Una, 2000................................................. 10 4 Distribuição dos estabelecimentos rurais e de suas áreas segundo o uso do solo - Una, 2006...................................................................................... 11 5 Distribuição das culturas agrícolas segundo área plantada e quantidade produzida – Una, 2006................................................................................. 12 6 Distribuição das culturas agrícolas segundo a área plantada na Região Sul, no Litoral Sul e no município de Una (em hectare e %) – 2006............ 13 7 Distribuição das culturas agrícolas do Território Litoral Sul segundo o número de municípios produtores, os maiores produtores e suas respectivas produções, e o ranking no Estado – 2006................................. 15 8 Distribuição do número de estabelecimentos rurais por classes de tamanho – Una, 1996................................................................................... 16 1C Tipo e quantidade de aspectos indicados pelos especialistas para a composição do indicador de sustentabilidade dos SAF do Sul da Bahia, obtidos após o cruzamento e uniformização - por dimensão, categoria e elemento, 2007............................................................................................. 204 2C Indicadores originais dos SAF de Una, Bahia, por dimensão e por critério, 2008.............................................................................................................. 207 3C Indicadores originais transformados dos SAF de Una, Bahia, por dimensão e por critério, 2008....................................................................... 208 9 Tipo e quantidade de indicadores, identificados por autor e por elemento do sistema.................................................................................................... 102 xi 10 Distribuição dos indicadores empregados segundo as categorias de sistema......................................................................................................... 103 11 Distribuição dos indicadores empregados segundo o marco PER.............. 104 12 Tipos de SAF típicos do Sul da Bahia e quantidade de vezes citados pelos especialistas, 2007............................................................................. 109 13 Tipos de SAF típicos do município de Una, Bahia, e quantidade de vezes citados pelos especialistas, 2007................................................................. 111 14 Tipo de fatores influenciadores da sustentabilidade dos SAF do Sul da Bahia, segundo a dimensão e a quantidade de vezes citados pelos especialistas, 2007....................................................................................... 114 15 Tipo de fatores limitantes da sustentabilidade dos SAF do Sul da Bahia, segundo a dimensão e a quantidade de vezes citados pelos especialistas, 2007....................................................................................... 116 16 Tipos de fatores influenciadores/limitantes da sustentabilidade dos SAF do Sul da Bahia, segundo a dimensão e a quantidade de vezes citados pelos especialistas, 2007............................................................................. 118 17 Quantidade de indicações dos especialistas dos melhores indicadores da sustentabilidade dos SAF do Sul da Bahia, por dimensão, categoria e elemento, 2007............................................................................................. 120 4C Tipo e quantidade de aspectos indicados pelos especialistas como melhores indicadores da sustentabilidade dos SAF do Sul da Bahia, por dimensão, categoria e elemento, 2007........................................................ 209 18 Pesos das dimensões ambiental, econômica e social na determinação da sustentabilidade dos SAF do Sul da Bahia, segundo a quantidade de vezes citados pelos especialistas, 2007....................................................... 122 19 Quantidade de fatores influenciadores e limitantes da sustentabilidade dos SAF do Sul da Bahia, segundo a dimensão e a quantidade de vezes citados pelos especialistas, 2007................................................................ 123 xii 5C Indicadores agregados dos SAF de Una, Bahia, por dimensão e por critério, 2008................................................................................................. 211 20 Índices de Sustentabilidade de cada Critério (ISC) dos SAF pesquisados, Una, Bahia, 2008.......................................................................................... 152 21 Índices de Sustentabilidade de cada Dimensão (ISD) dos SAF pesquisados,Una, Bahia, 2008..................................................................... 156 22 Índices de Sustentabilidade (IS) dos SAF pesquisados, Una, Bahia, 2008. 157 23 Índices de Sustentabilidade Ponderados (ISP) dos SAF pesquisados, Una, Bahia, 2008.......................................................................................... 160 24 Índices de Sustentabilidade (IS) e ranking dos SAF de Una, Bahia, segundo os seis métodos analisados, 2008................................................. 161 25 Comparativo do nível de correlação existente entre os resultados obtidos com os métodos de avaliação de sustentabilidade de sistemas agroflorestais testados com dados de SAF de Una, Bahia, 2008................ 163 xiii LISTA DE QUADROS 1 As cinco dimensões do desenvolvimento sustentável................................. 21 2 Níveis de análise e objetos de síntese para análise de sistemas agrários.. 49 3 Aspectos considerados para a composição do indicador de sustentabilidade dos SAF do Sul da Bahia - por dimensão, categoria e elemento....................................................................................................... 61 4 Relação dos aspectos mais indicados pelos especialistas para a composição dos indicadores de sustentabilidade dos SAF, segundo o mínimo de indicações, 2007......................................................................... 63 5 Descrição dos indicadores de sustentabilidade utilizados no estudo........... 70 6 Quadro comparativo das metodologias de avaliação de agroecossistemas 84 7 Quadro síntese dos aspectos metodológicos dos estudos sobre sustentabilidade de agroecossistemas analisados...................................... 99 8 Quadro comparativo dos estudos sobre sustentabilidade ambiental analisados..................................................................................................... 106 9 Formação e instituição dos especialistas entrevistados, Sul da Bahia, 2007.............................................................................................................. 108 10 Caracterização dos produtores e das suas unidades de produção, Una, Bahia, 2008................................................................................................... 128 11 Características físicas dos Sistemas Agroflorestais pesquisados, Una, Brasil, 2008................................................................................................... 131 11 Características financeiras dos Sistemas Agroflorestais pesquisados, Una, Bahia, 2008.......................................................................................... 146 1D Uniformização dos aspectos identificados nos resultados das questões 5ª, 6ª e 7ª das entrevistas com especialistas............................................... 213 xiv LISTA DE SIGLAS APA Área de Proteção Ambiental ASAF Área Total do SAF AT Área Total da propriedade BNB Banco do Nordeste do Brasil CABRUCA Cooperativa dos Produtores Orgânicos do Sul da Bahia CEPAL Comissão Econômica para América Latina CEPLAC Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira CISAF Consumo Intermediário do SAF CNUMAD Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Desenvolvimento CONAB Companhia Nacional de Abastecimento DERBA Departamento de Infra-Estrutura de Transportes da Bahia DSA Diagnóstico de Sistemas Agrários E.P.I. Equipamento de Proteção Individual FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICRAF International Centre for Research in Agroforestry IDPSAF Índice de Diversificação da Produção do SAF IESB Instituto de Estudos Socioambientais do Sul da Bahia IICA Instituto Americano de Cooperação para a Agricultura INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INMET Instituto Nacional de Meteorologia IS Índice de Sustentabilidade ISC Índice de Sustentabilidade de cada Critério ISD Índice de Sustentabilidade de cada Dimensão ISP Índice de Sustentabilidade Ponderado IUCN International Union for Conservation of Nature OECD Organization for Economic Cooperation and Development ONG Organização Não-Governamental PAM Pesquisa Agrícola Municipal PBSAF Produto Bruto do SAF e xv PBT Produto Bruto Total PDA/MMA Projetos Demonstrativos do Ministério do Meio Ambiente PENSAF Plano Nacional de Silvicultura com Espécies Nativas e Sistemas Agroflorestais PER Pressão-Estado-Resposta PIB Produto Interno Bruto PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente PPG-7 Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil PROBOR Programa de Incentivo à Produção de Borracha Natural RA Renda Agrícola REBIO Reserva Biológica de Una REBRAF Instituto Rede Brasileira de Agrofloresta RN Recursos Naturais RNA Renda Não-Agrícola RSAF Renda familiar gerada pelo SAF RT Renda Total da família SAF Sistema Agroflorestal SEI Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia SUPLAN Superintendência de Planejamento do Estado de Bahia TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TGS Teoria Geral dos Sistemas UCs Unidades de Conservação UPA Unidade de Produção Agrícola UTH Unidade de Trabalho Humano UTHSAF Unidade de Trabalho Humano empregado no SAF VAB Valor Adicionado Bruto WWF World Wide Fund for Nature xvi SUMÁRIO INTRODUÇÃO .............................................................................................1 1 1.1 Problema......................................................................................................4 1.2 Objetivo Geral .............................................................................................5 1.3 Objetivos Específicos.................................................................................5 2 O MUNICÍPIO DE UNA ................................................................................6 3 REFERENCIAL TEÓRICO .........................................................................17 3.1 Desenvolvimento Sustentável e dimensões da sustentabilidade ........17 3.1.1 Dimensões da Sustentabilidade..................................................................20 3.2 Da Economia Ecológica ...........................................................................22 3.3 A Agroecologia: princípios e definição de agroecossistemas .............27 3.4 SAF: definição, objetivos, sustentabilidade e classificações...............32 3.4.1 Objetivos e Princípios da Sustentabilidade dos SAF ..................................37 3.4.2 Classificações dos SAF ..............................................................................40 3.5 Indicadores de Sustentabilidade para Agroecossistemas....................41 3.5.1 Definição e seleção de indicadores de sustentabilidade.............................42 4 METODOLOGIA.........................................................................................48 4.1 O Método ...................................................................................................48 4.2 Objeto e Área de estudo...........................................................................49 4.3 Processo de Amostragem........................................................................50 4.4 Etapas do estudo e técnicas de pesquisa ..............................................51 4.5 Pesquisa sobre indicadores de sustentabilidade para agroecossistemas.....................................................................................54 4.5.1 Metodologia de análise dos Indicadores ambientais...................................55 4.6 Identificação dos SAF típicos da região e dos indicadores de sustentabilidade........................................................................................58 4.6.1 Seleção de categorias, elementos e descritores de sustentabilidade .........59 4.7 Caracterização dos produtores, das unidades produtivas e dos SAF.64 4.8 Definição e operacionalização dos indicadores de sustentabilidade para SAF ....................................................................................................68 4.8.1 Cálculo e análise dos índices de sustentabilidade......................................77 4.9 Comparação de métodos de avaliação de sustentabilidade de SAF ...83 4.9.1 O método proposto por Calório (1997)........................................................86 xvii 4.9.2 O método proposto por Daniel (2000).........................................................88 4.9.3 O método proposto por Lopes (2001) .........................................................89 4.9.4 O método proposto por Moura (2002).........................................................91 4.9.5 O método proposto por Severo, Ribas e Miguel (2004) ..............................93 4.9.6 O método proposto por Sepúlveda, Chavarría e Rojas (2005) ...................95 RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................98 5 5.1 Uso de indicadores ambientais para avaliação de agroecossistemas 98 5.2 SAF típicos do Sul baiano e fatores de sustentabilidade....................107 5.3 Breve histórico dos SAF típicos na Região Sul da Bahia ...................124 5.4 Caracterização dos produtores, das UPA e dos SAF ..........................127 5.4.1 Características dos SAF ...........................................................................130 5.5 Os Índices de Sustentabilidade dos SAF..............................................148 5.6 Análise comparativa dos métodos de avaliação de sustentabilidade de SAF...........................................................................................................160 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................165 REFERÊNCIAS.......................................................................................................172 APÊNDICE A ..........................................................................................................181 APÊNDICE B ..........................................................................................................188 APÊNDICE C ..........................................................................................................203 APÊNDICE D ..........................................................................................................212 APÊNDICE E ..........................................................................................................215 APÊNDICE F...........................................................................................................218 1 1 INTRODUÇÃO Similar aos primeiros moldes de desenvolvimento adotados nacionalmente, a economia do Sul da Bahia fundamentou-se na monocultura agroexportadora do cacau, implantada no Estado no século XVIII. Essa dinâmica evoluiu ao longo dos séculos XIX e XX a ponto da atividade cacaueira se tornar o eixo de desenvolvimento da economia estadual, dada a grande relevância do cacau na pauta de exportação da Bahia e, conseqüentemente, do país. Porém, a economia cacaueira não foi capaz de dinamizar outros setores e atividades locais e promover o desenvolvimento econômico da região em bases sustentáveis. Tal modelo de desenvolvimento implicou em vulnerabilidade econômica da região face aos novos cenários, especialmente por fatores endógenos (adversidades climáticas, doenças e pragas, relações de troca negativas) e exógenos (flutuações de demanda, oferta e preços, políticas econômicas desfavoráveis, dentre outros), característicos de monoculturas (MASCARENHAS, 2004, p. 17). Esses fatores provocaram sucessivas crises nos anos de 1990, sobretudo frente à concorrência externa que implicou em substancial declínio dos preços do cacau no mercado internacional e concomitantemente queda da produção, dada à proliferação da vassoura-de-bruxa (Crinipellis perniciosa) no sul da Bahia. O aumento de atividades diversificadas1 no setor primário, segundo Mascarenhas (2004, p. 20), não se mostrou significativo, de modo que dados do IBGE mostram que ainda no ano de 1996 a lavoura cacaueira respondia por mais de 85% do valor bruto da produção agropecuária das culturas permanentes da 1 Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE apontam o crescimento de lavouras permanentes em área colhida na Microrregião Geográfica Ilhéus-Itabuna em 2000, sobremaneira do coco-da-baía (134%), da seringueira (127%) e do dendê (50%), entre os anos de 1990 e 1998, além da existência de informações não oficiais sobre o crescimento da lavoura de café (conilon) e da área de pastagens nos anos de 2002 e 2003 (MASCARENHAS, 2004). 2 Microrregião Ilhéus-Itabuna, e por 80% das lavouras permanentes e temporárias da referida região. A crise socioeconômica da atividade cacaueira desencadeia, por conseguinte, uma migração desordenada em direção a outras atividades no setor agropecuário, levando à exploração indiscriminada, à depredação oportunista dos recursos naturais e à degradação ambiental. Assim, na busca de fontes de renda que supram necessidades no curto e médio prazos, sucedem processos de desmatamento da vegetação primária e secundária para a venda de madeira, assoreamento e contaminação de bacias hidrográficas devido à retirada de matas ciliares, e degradação dos manguezais (MASCARENHAS, 2004, p. 20). Mesmo com a implementação de políticas voltadas para a revitalização da lavoura, os agroecossistemas baseados exclusivamente na monocultura cacaueira (inclusive o sistema agroflorestal cacau “cabruca”2) têm-se mostrado frágeis em termos de rentabilidade econômica – já que se constitui de um único componente econômico –, comprometendo, por conseguinte, a reprodução social. Diante desse cenário, os produtores rurais têm buscado alternativas, muitas sendo mais impactantes (como o desmatamento voltado para atividades madeireiras, a substituição da lavoura por pastagens, dentre outras), colocando em risco a preservação e conservação dos ecossistemas locais, caracterizando-se num processo retroalimentado de deterioração sócio-econômico-ambiental. Destarte, pautando-se na significância que a agricultura tem para a região, inúmeras têm sido as iniciativas na busca de alternativas sustentáveis para o setor, sendo o sistema agroflorestal (SAF) uma das principais alternativas sugeridas e adotadas por diversos pesquisadores e instituições da área, como pode ser conferido em Blanes et al. (2002), Mascarenhas (2004), Blanes et al. (2004), Moya (2004), Paraguassú (2004), TV Cultura (2004), Instituto de Estudos...-IESB (2005), Mello et al. (2005) e Mello (2005). Essa trajetória histórica decorrente do emprego de monocultivos e de sistemas agropecuários convencionais não se restringe à região sul baiana, assim 2 Trata-se de um sistema de produção onde os cacaueiros são plantados na área de Mata Atlântica raleada (MATOS et al., 2006, p. 10), e cujos principais (se não únicos) produtos (principalmente a amêndoa) são provenientes dos cacauais. Esse sistema foi o principal mantenedor de remanescentes florestais da Mata Atlântica na Região. Contudo, a busca de alternativas ao setor cacaueiro que se encontrava em crise levou à introdução de atividades mais impactantes ao meio ambiente. 3 como a proposição de SAF como alternativa sustentável. O emprego de sistemas agroflorestais no Brasil como estratégia-piloto para o desenvolvimento sustentável em ecossistemas ameaçados amplia-se de modo considerável. Em 20 projetos na Amazônia, avaliados pelo Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil/Subprograma Projetos Demonstrativos do Ministério do Meio Ambiente (PDA/PPG-7/MMA), 12 incorporavam SAF como estratégia principal, sendo que em todos os projetos ligados à recuperação e uso sustentável na Mata Atlântica e Cerrado, esta proporção é similar (BRASIL, 2004, apud VIVAN; FLORIANI, 2004, p.1). Uma das características dos SAF que o torna um sistema produtivo requerido em projetos e programas de desenvolvimento rural, refere-se ao princípio da diversidade de componentes num único sistema, que pode propiciar o alcance de bons níveis de sustentabilidade nos aspectos agronômico, econômico, social e ecológico. Quanto ao primeiro aspecto, devido à redução de riscos de pragas e doenças e melhor ciclagem de nutrientes; o segundo, em conseqüência da diversificação de mercados e serviços; o terceiro, em virtude da diversificação das fontes de renda; e o quarto, em decorrência da melhoria no balanço hidrológico, conservação do solo e condições para micro e macro faunas e floras (SCHREINER, 1994, citado por MASCARENHAS, 2004, p.23). Nesse sentido, considerando a aplicabilidade dos SAF como sistemas alternativos voltados para o desenvolvimento rural sustentável e a necessidade de informações e metodologias que contribuam para o planejamento, monitoramento e avaliação desses sistemas, a presente pesquisa analisa as condições sociais, econômicos e ambientais resultantes da implantação dos mesmos em unidades de produção rurais localizadas no município de Una, na Região Cacaueira do Sul da Bahia, no domínio da Mata Atlântica. Este trabalho constitui-se de cinco outros capítulos. No segundo capítulo fazse uma breve caracterização do município de Una, apontando aspectos biofísicos e socioeconômicos que influenciam os sistemas agroflorestais. No terceiro versa-se sobre as teorias e conceitos nos quais se fundamenta a pesquisa, tratando-se sobre Desenvolvimento Sustentável, Economia Ecológica, Agroecologia, Sistemas agroflorestais e Indicadores de Sustentabilidade para agroecossistemas. No quarto capítulo esclarece-se sobre os procedimentos metodológicos adotados,.e no quinto são apresentadas as discussões dos resultados da pesquisa. O sexto capítulo trata 4 das considerações finais sobre os aspectos mais relevantes observados nesta pesquisa. 1.1 Problema A Mata Atlântica constitui-se num dos ecossistemas mais ricos em termos de diversidade biológica do Planeta. O processo de ocupação e exploração das terras brasileiras iniciado no século XVI, e as subseqüentes formas de uso do solo delineadas pelo modelo de desenvolvimento agroexportador, levaram à redução desse bioma a menos de 8% da sua área original em 1995 (CAPOBIANCO, 2001, p. 9 e 20). Mais de 12% dos remanescentes florestais encontram-se no estado baiano, sendo que a Região Sul da Bahia apresenta-se como um dos principais centros de endemismo (BLANES et al., 2002, p.1). Nesse contexto, diversos programas e projetos conservacionistas3 vêm se concentrando nesta região, a exemplo do Projeto Corredores Ecológicos, integrante do Programa Piloto para Conservação das Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7). A região de Una, assim, em conseqüência da extensão dos remanescentes florestais e da grande riqueza de espécies da fauna e da flora existentes, resguardadas em uma das mais relevantes unidades de conservação (UCs) de proteção integral da Bahia – a Reserva Biológica de Una-REBIO –, é considerada uma das áreas prioritárias para a atuação desse Projeto (BLANES et al., 2002, p. 1). Os sistemas agroflorestais emergem nesse cenário como alternativa de desenvolvimento sustentável. De tal maneira que várias propriedades rurais da região, sobremodo do município de Una, têm participado de projetos que empregam esses sistemas produtivos, objetivando, mormente, a melhoria das condições de vida dos agricultores associada ao uso sustentável dos recursos naturais, à melhoria das condições agronômicas e ecológicas das áreas, e à incorporação dessas áreas ao corredor ecológico da região. 3 A conservação é entendida aqui como sendo o uso racional e econômico dos recursos naturais, ou seja, permite o uso humano de modo que o mesmo não comprometa a disponibilidade e existência desses recursos por questões de usos e manejos inadequados. As ações preservacionistas, por sua vez, são consideradas como aquelas que propõem a manutenção da integridade dos recursos, mantendo-os intactos, preferencialmente, resguardando-os da ação antrópica. Trata-se de uma postura mais radical do movimento ambientalista. 5 Entende-se, contudo, que a sustentabilidade de um sistema depende da sua conceituação e dos parâmetros que o compõe, ambos variáveis no tempo e no espaço. Nesse sentido, a mensuração de níveis de sustentabilidade constitui-se como uma atividade indispensável para o planejamento, acompanhamento e avaliação de projetos (privados e públicos) e ações que empregam sistemas agropecuários voltados para a promoção do desenvolvimento rural e regional de forma sustentável. Assim, atentando-se à relevância e à premência da avaliação acerca da sustentabilidade em agroecossistemas, questiona-se a respeito do grau de sustentabilidade socioeconômica e ambiental alcançado por unidades de produção agrícola (UPA) com SAF, no município de Una. 1.2 Objetivo Geral Identificar o grau de sustentabilidade socioeconômica e ambiental de sistemas agroflorestais de unidades de produção agrícola no município de Una, Bahia. 1.3 Objetivos Específicos caracterizar o perfil dos produtores, das unidades de produção e dos sistemas agroflorestais; propor metodologia de mensuração da sustentabilidade para os SAF típicos do Sul da Bahia ou similares; mensurar o grau de sustentabilidade socioeconômica e ambiental dos SAF das unidades produtivas estudadas; 6 2 O MUNICÍPIO DE UNA Faz-se aqui breve caracterização acerca do município foco da pesquisa. Descreve-se o cenário natural e socioeconômico no qual se desenvolvem os agroecossistemas em estudo, auferindo subsídios para a análise desses, posto que se tratam de variáveis que influenciam o estado dos mesmos. Para tanto, discorre-se sobre aspectos concernentes a sua geografia, clima, vegetação, relevo, solo, demografia e alguns aspectos socioeconômicos. Situado no Sul do Estado da Bahia, a -15º17'36'' de latitude e 39º04'31'' de longitude, Una abrange uma extensão de 1.160 km2 (os principais municípios da região, Ilhéus e Itabuna, possuem respectivamente 1.842 km² e 443 km²), distante 548 quilômetros da capital baiana4. É sitiado pelos municípios de Ilhéus, Buerarema, São José da Vitória, Arataca, Santa Luzia e Canavieiras, e compõe o Território de Identidade5 5, denominado de Litoral Sul (Figura 1). Caracteriza-se por um clima úmido a subúmido, com temperatura média que varia de 19,4°C a 24,6°C e precipitação média anual entre 1100 a 2000 milímetros6. Sua vegetação natural caracteriza-se pela presença de floresta ombrófila densa e formações pioneiras com influência fluviomarinha – mangue – (Figura 1F). Seu relevo é composto por planícies marinhas e fluviomarinhas, serras e maciços pré-litorâneos, tabuleiros costeiros e pré-litorâneos, sendo que o principal tipo de solo na região é o latossolo, com pequena participação de gleissolos e luviossolos, conforme pode ser verificado nos Figuras 2F e 3F. 4 INSTITUTO BRASILEIRO...-IBGE, 2002, Departamento de Infra-estrutura...-DERBA, 2004, citados por SUPERINTENDÊNCIA DE ESTUDOS...-SEI, 2007a. 5 Novo critério de planejamento das políticas públicas do Estado, que passa a agrupar os municípios em territórios – espaço definido por um projeto político institucional (SEI, 2004). 6 INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA-INMET, 1992, SEI, 1997, citados por SEI, 2007a. 7 Figura 1 – Território Litoral Sul do Estado da Bahia. Fonte: SEI (2007b). Disponível em: www.sei.ba.gov.br. 8 Segundo a classificação usada pela Superintendência de Planejamento do Estado de Bahia-SUPLAN (1978) para delimitar a aptidão agrícola das terras baianas, a maior parte do município de Una possui terras com inclinação regular para lavouras e um menor contingente de áreas com “aptidão boa, regular ou restrita ou sem aptidão para silvicultura e, ou pastagem natural” (Figura 4F). Criado do Ato Estadual de 02/08/1890, tem o município de Ilhéus (Olivença) como origem (SEI, 2001b), de modo que seus processos de ocupação, uso do solo e desenvolvimento socioeconômico derivam daqueles desenvolvidos ao longo da história da Capitania de São Jorge dos Ilhéus. Dados do IBGE (2000), transcritos pela SEI (2007c), informam que a população residente é de 31.261 habitantes, sendo que a maior parte dessa, mais de 50%, encontra-se fixada na zona rural. Em referência aos aspectos econômicos, o Produto Interno Bruto de Una atingiu o patamar dos R$95 milhões no ano de 2005. E embora se mostre em valores crescentes ao longo do período de 2002 a 2005, sua participação na composição do PIB do Litoral Sul e, conseqüentemente, no PIB da Bahia, apresentou ligeira redução, conforme mostra a Tabela 1. Tabela 1 – Produto Interno Bruto da Bahia, do Território Litoral Sul e do município de Una, 2002-2005 – a preços correntes e em % Estado, Território de Identidade e Município 2002 2003 2004 Bahia 60.671,84 68.146,92 79.083,23 90.942,99 3.044,33 3.420,84 3.830,49 4.366,71 76,14 74,48 87,90 95,18 Una/Bahia(%) 0,13 0,11 0,11 0,10 Una/Litoral Sul (%) 2,50 2,18 2,29 2,18 Produto Interno Bruto (em R$ milhões) Litoral Sul Una 2005(1) Fonte: Dados do IBGE e da SEI, citado por SEI (2008a). Elaboração própria. (1) Dados sujeitos a retificação. Verificando a riqueza gerada pelo município em termos setoriais, os dados oficiais para o ano de 2005 mostram que o setor de serviços é o que mais contribui na formação do PIB municipal, com cerca de 60%, seguido pelo setor primário, que 9 participa com quase 30%. O setor industrial ainda revela pouca representatividade na economia municipal, apresentando uma composição bastante distinta daquela observada no território ao qual pertence (Tabela 2). Tabela 2 – Valor Adicionado a preços correntes por setor de atividade – Litoral Sul e município de Una, 2005 Litoral Sul Setor VAB (R$ Milhões) Agropecuária Indústria Serviços Total Una % VAB (R$ Milhões) % 315,64 6.953,19 4.465,16 2,7 59,3 38,1 25,50 9,73 51,93 29,3 11,2 59,6 11.733,99 100,0 87,16 100,0 Fonte: Dados do IBGE e da SEI, citados pela SEI (2008b). Elaboração própria. Nota: Dados preliminares de 2004. De outro modo, a Tabela 3 mostra que 60% das pessoas ocupadas têm seu trabalho principal vinculado à agricultura, a pecuária, a silvicultura, a exploração florestal e a pesca, estando o restante dos ocupados distribuídos nos setores secundário e terciário. Considerando esses valores, em conjunto com os dados relativos à distribuição da população segundo as zonas rural e urbana, e ao Valor Adicionado Bruto municipal (Tabela 2), verifica-se que a economia municipal tem sua estrutura assentada nas atividades primárias, de modo que os outros dois setores econômicos desenvolvem-se em função do setor primário. Quanto à renda média da população, o censo de 2000 (SEI, 2007c) aponta que o rendimento nominal médio mensal era de R$244,00 no período, estando quase 40% abaixo da média estadual, que era de R$390,00. Esse valor médio, em conjunto com o rendimento mediano, confirma o baixo poder aquisitivo da população, de modo que 50% da mesma recebiam, no máximo, até um salário mínimo7. 7 Que correspondia a R$151,00 na época. 10 Tabela 3 – Pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas por setor e seção de atividade do trabalho principal – Una, 2000 Setor e seção de atividade do trabalho principal Total de ocupados N° % 1. Setor primário 6.121 62,3 Agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal e pesca 6.121 62,3 2. Setor secundário 292 3,0 Indústria extrativa, indústria de transformação e distribuição de eletricidade, gás e água 292 3,0 3.408 34,7 Comércio, reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos 704 7,2 Alojamento e alimentação 492 5,0 Educação 460 4,7 Serviços domésticos 396 4,0 Construção 370 3,8 Administração pública, defesa e seguridade social 258 2,6 Intermediação financeira e atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados às empresas 217 2,2 Transporte, armazenagem e comunicação 197 2,0 Saúde e serviços sociais 46 0,5 Atividades mal definidas 137 1,4 Outros serviços coletivos, sociais e pessoais 131 1,3 9.821 100,0 3. Setor terciário Total Fonte: Dados do IBGE (2000, citado por SEI, 2007c). Elaboração própria. 11 Sobre o uso do solo na zona rural do município de Una, os dados do Censo Agropecuário de 2006 do IBGE (Tabela 4) mostram que mais de 90% dos estabelecimentos agropecuários do município tem áreas de lavoura permanente, ocupando quase 360.000 hectares com esse tipo de cultura. A lavoura temporária ocorre em quase 17% dos estabelecimentos, abrangendo uma área pouco maior que 3.000 ha. As pastagens naturais ocupam quase 19.000 ha, sendo cultivadas em 454 estabelecimentos, ou seja, cerca de 30% do total desses. As matas e florestas, por sua vez, são encontradas em 593 estabelecimentos (quase 40%), abrangendo uma área acima de 36.000 hectares. Tabela 4 – Distribuição dos estabelecimentos rurais e de suas áreas segundo o uso do solo - Una, 2006 Uso e ocupação do solo Lavoura temporária Estabelecimentos Nº % Área ha % 256 16,8 3.107 0,7 1.383 90,8 358.150 80,5 Pastagens naturais 454 29,8 18.769 4,2 Matas e florestas 593 38,9 36.198 8,1 1.523 100,0 445.081 100,0 Lavoura permanente Total de estabelecimentos agropecuários¹ Fonte: Dados da Pesquisa Agrícola Municipal do IBGE (apud SEI, 2008b). Elaboração própria. (1) Verifica-se que essa categoria não é o somatório das demais, já que num mesmo estabelecimento agropecuário podem ocorrer concomitantemente várias formas de uso do solo, inclusive de modo consorciado. Ex: um estabelecimento que tem áreas de lavoura permanente e temporária e de matas e florestas. A Pesquisa Agrícola Municipal (PAM) registra que, para o ano de 2006, Una apresentava 13 tipos de culturas agrícolas – permanentes e temporárias –, envolvendo, dentre outros cultivos, fruteiras, palmáceas e especiarias (Tabela 5). As lavouras permanentes que se destacam em termos de ocupação do solo são cacaueiro, seringueira, dendezeiro e coqueiro, correspondendo a 72%, 14%, 8% e 2% das áreas plantadas. Dentre as culturas temporárias, as principais são mandioca e banana, ocupando 3% e 1% das áreas plantadas. 12 Tabela 5 – Distribuição das culturas agrícolas segundo área plantada e quantidade produzida – Una, 2006 Cultura Área Plantada ha Produção % Quantidade Cacau (em amêndoa) Borracha (látex coagulado) Dendê (coco) Mandioca Coco-da-baía Banana Guaraná (semente) Milho (em grão) Cana-de-açúcar Abacaxi Mamão Maracujá Pimenta-do-reino 23.819 4.600 2.600 1.000 650 295 105 30 20 15 15 10 10 71,8 13,9 7,8 3,0 2,0 0,9 0,3 0,1 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 Total 33.169 100,0 4.373 2.800 16.120 9.800 5.200 2.520 32 15 810 150 188 100 20 .. Unidade T T T T 1000 Frutos T T T T 1000 Frutos T T T .. Fonte: Dados da Pesquisa Agrícola Municipal do IBGE (apud SEI, 2008b). Elaboração própria. Comparando a produção agrícola de Una com a Região Sul do Estado8 e o Território Litoral Sul, observa-se num primeiro instante que o referido município desenvolve em suas terras praticamente metade do número de variedades de culturas produzidas na Região Sul e no seu território de identidade, revelando elevada propensão à diversificação (Tabela 6). No ranking de diversificação de culturas do Litoral Sul, o município de Una fica atrás apenas de Ibirapitanga, que produz 25 tipos de culturas diferentes, e de Maraú, com 15 variedades de culturas. Essa questão da diversidade é retomada com maior propriedade na seção onde se abordam os objetivos e princípios da sustentabilidade dos SAF, tratada no terceiro capítulo. 8 Trata-se da Região Econômica, metodologia de divisão geográfica mais antiga do que os “Territórios”, e compreende 26 outros municípios além dos considerados no Território Litoral Sul, quais sejam: Aiquara, Apuarema, Barra do Rocha, Cairu, Camamu, Dário Meira, Gandu, Gongogi, Ibirataia, Igrapiúna, Ipiaú, Itagi, Itagiba, Itamari, Ituberá, Jitaúna, Mascote, Nilo Peçanha, Nova Ibiá, Piraí do Norte, Presidente Tancredo Neves, Santa Cruz da Vitória, Santa Luzia, Taperoá, Teolândia, Ubatã, Valença e Wenceslau Guimarães. 13 Tabela 6 – Distribuição das culturas agrícolas segundo a área plantada na Região Sul, no Litoral Sul e no município de Una (em hectare e %) – 2006 Área Plantada Cultura Região Sul (ha) Cacau (em amêndoa) Borracha (látex coagulado) 496.019 % Território Litoral Sul (ha) Una % 72,5 331.922 (ha) % 89,1 23.819 Una/ Região Sul Una/ Litoral Sul % % 71,8 4,8 7,2 26.505 3,9 9.244 2,5 4.600 13,9 17,4 49,8 Dendê (coco) 39.011 5,7 2.831 0,8 2.600 7,8 6,7 91,8 Mandioca 38.453 5,6 7.192 1,9 1.000 3,0 2,6 13,9 Coco-da-baía 16.131 2,4 5.811 1,6 650 2,0 4,0 11,2 Banana 41.650 6,1 9.773 2,6 295 0,9 0,7 3,0 Guaraná (semente) 6.236 0,9 142 0,0 105 0,3 1,7 73,9 Milho (em grão) 1.993 0,3 346 0,1 30 0,1 1,5 8,7 Cana-de-açúcar 2.162 0,3 484 0,1 20 0,1 0,9 4,1 Abacaxi 890 0,1 129 0,0 15 0,0 1,7 11,6 Mamão 466 0,1 96 0,0 15 0,0 3,2 15,6 Maracujá 732 0,1 73 0,0 10 0,0 1,4 13,7 Pimenta-do-reino 912 0,1 55 0,0 10 0,0 1,1 18,2 Abacate 200 0,0 152 0,0 - - - - Amendoim (em casca) 185 0,0 - - - - - - 88 0,0 3 0,0 - - - - 5.637 0,8 3.795 1,0 - - - - 152 0,0 77 0,0 - - - - Batata-doce Café (beneficiado) Castanha de caju Feijão (em grão) 2.408 0,4 172 0,0 - - - - Goiaba 106 0,0 9 0,0 - - - - Laranja 633 0,1 36 0,0 - - - - Limão 136 0,0 15 0,0 - - - - Manga 178 0,0 49 0,0 - - - - 62 0,0 - - - - - - 2.443 0,4 163 0,0 - - - - 53 0,0 5 0,0 - - - - Tomate 181 0,0 3 0,0 - - - - Urucum (semente) 285 0,0 22 0,0 - - - - 100,0 33.169 100,0 4,8 8,9 Melancia Palmito Tangerina Total geral 683.907 100,0 372.599 Fonte: Dados da Pesquisa Agrícola Municipal do IBGE, citado pela SEI (2008b). Elaboração própria. 14 Além desse aspecto, os dados corroboram com as informações já mencionadas acerca da importância da cacauicultura na Região Sul, no território e no município de Una, de tal modo que 73%, 90% e 72% das áreas cultivadas nessas localidades, respectivamente, são destinadas à produção de cacau. As áreas do município de Una ocupadas com essa cultura correspondem, respectivamente, a 5% e 7% do total cultivado na região e no território. O cultivo de banana é o que apresenta a segunda maior área tanto na Região Sul (6%), quanto no Litoral Sul (3%). Outras culturas relevantes na Região Sul baiana, segundo a área plantada, são as de dendê, mandioca e a heveicultura (seringueira). Essa última, por sua vez, é a cultura que ocupa a terceira maior área plantada no Território Litoral Sul. Cabe ainda destacar que os cultivos de dendê (coco), de guaraná (semente) e seringueira (látex coagulado) realizados no município de Una abarcam no mínimo a metade das áreas plantadas no Litoral Sul destinadas a essas culturas, correspondendo a 92%, 74% e 50%, respectivamente. De outro modo, a seringueira é o tipo de cultivo que propicia ao município de Una o maior percentual de participação (17%) em áreas plantadas na Região Sul. A Tabela 7 revela que Una em 2006 alcança a colocação de maior produtor dessas culturas no Território, sendo que as suas produções correspondem, na mesma ordem citada, a 94%, 68% e 43% do total de quantidade produzidas no Litoral Sul. De outro modo, contribuem com 9%, 2% e 11% para a produção estadual, o que confere ao município a 6ª, 10ª e 3ª posição na produção de coco de dendê, semente de guaraná e látex, respectivamente, no ranking baiano. Tabela 7 – Distribuição das culturas agrícolas do Território Litoral Sul segundo o número de municípios produtores, os maiores produtores e suas respectivas produções, e o ranking no Estado – 2006 Cultura Nº de municípios produtores Abacate Abacaxi Banana Batata – doce Borracha (látex coagulado) Cacau (em amêndoa) Café (beneficiado) Cana-de-açúcar Castanha de caju Coco-da-baía Dendê (coco) Feijão (em grão) Goiaba Guaraná (semente) Laranja Limão Mamão Mandioca Manga Maracujá Milho (em grão) Palmito Pimenta-do-reino Tangerina Tomate Urucum (semente) 2 13 26 1 13 27 20 18 1 14 6 4 2 4 2 1 5 27 2 8 13 5 7 1 1 2 Município Barro Preto Ilhéus Ibirapitanga Ibirapitanga Una Ibirapitanga Arataca Itajuípe Maraú Canavieiras Una Coaraci Ibirapitanga Una Ibirapitanga Ibirapitanga Ilhéus Ibirapitanga Maraú Ilhéus Ibicaraí Ibirapitanga Maraú Ibirapitanga Ibirapitanga Maraú Maior produtor do Litoral Sul Produção % em relação ao % em relação ao Quantidade Litoral Sul Estado 750 (toneladas) 96,9 60,6 320 (1000 frutos) 20,1 0,2 49.500 (toneladas) 55,1 4,2 27 (toneladas) 100,0 0,1 2.800 (toneladas) 42,8 11,0 9.750 (toneladas) 15,4 6,6 2.236 (toneladas) 42,2 1,5 3.800 (toneladas) 20,7 0,1 50 (toneladas) 100,0 0,8 10.350 (1000 frutos) 35,7 1,6 16.120 (toneladas) 93,9 9,2 60 (toneladas) 41,7 0,0 35 (toneladas) 74,5 0,2 32 (toneladas) 68,1 2,3 260 (toneladas) 67,0 0,0 120 (toneladas) 100,0 0,3 1.200 (toneladas) 68,1 0,1 17.550 (toneladas) 23,8 0,4 615 (toneladas) 83,7 0,1 325 (toneladas) 38,7 0,2 54 (toneladas) 20,7 0,0 162 (toneladas) 49,2 0,9 60 (toneladas) 33,0 1,6 45 (toneladas) 100,0 0,5 75 (toneladas) 100,0 0,0 6 (toneladas) 75,0 0,5 Fonte: Dados da Pesquisa Agrícola Municipal do IBGE, citado pela SEI (2008b). Elaboração própria. Ranking no Estado 1º 45º 5º 88º 3º 2º 16º 115º 22º 12º 6º 273º 37º 10º 77º 33º 29º 62º 35º 72º 266º 8º 15º 20º 124º 22º 16 Por fim, outro aspecto interessante a se pontuar refere-se ao tamanho das propriedades rurais no município de Una. Segundo o Censo Agropecuário de 1996, estima-se que cerca de 50% do total de estabelecimentos tenham até 20 hectares (Tabela 8). Caso se considere os estabelecimentos com até 50 hectares esse percentual eleva-se para 83%. De outro modo, as propriedades rurais com mais de 100 hectares correspondem a apenas 7% do total de estabelecimentos. Tabela 8 – Distribuição do número de estabelecimentos rurais por classes de tamanho – Una, 1996 Tamanho dos estabelecimentos (em ha) Menos de 1 1 a menos de 2 2 a menos de 5 5 a menos de 10 10 a menos de 20 20 a menos de 50 50 a menos de 100 100 a menos de 200 200 a menos de 500 500 a menos de 1.000 1.000 a menos de 2.000 2.000 a menos de 5.000 Total Estimativa do número de estabelecimentos¹ Total % Frac² 18,4 34,8 111,6 275,4 588,9 660,0 196,6 76,5 44,8 10,6 2,5 4,8 0,91 1,72 5,51 13,60 29,09 32,59 9,71 3,78 2,21 0,52 0,12 0,23 0,91 2,63 8,14 21,74 50,83 83,42 93,13 96,91 99,12 99,64 99,77 100,00 2024,8 100,00 .. Fonte: Dados do Censo Agropecuário do IBGE (1996). Elaboração própria. (1) Valores encontrados dividindo-se o total das áreas pelo ponto médio de cada classe. (2) Freqüência relativa acumulada crescente. 17 3 REFERENCIAL TEÓRICO Apresentam-se no presente capítulo as referências teóricas que subsidiam a estruturação do arcabouço metodológico, mormente aspectos concernentes às variáveis a serem consideradas, como também a compreensão e a análise do objeto pesquisado. Para tanto, expõem-se os conteúdos em quatro tópicos. No primeiro é discutido o surgimento e as principais definições de Desenvolvimento Sustentável, seguindo-se com um subitem sobre as dimensões normalmente consideradas nos estudos sobre sustentabilidade, no qual se apontam aquelas adotadas no presente estudo. Essas discussões se concentram, principalmente, nas definições debatidas por Ignacy Sachs (1993), Montibieller Filho (2004), Lopes (2001) e Moura (2002). No segundo tópico, por sua vez, disserta-se sobre os princípios teóricos da Ciência Econômica que norteiam a compreensão referente ao objeto de estudo e aspectos relacionados a sua sustentabilidade. Desse modo, discorre-se, principalmente, sobre a Economia Ecológica. Na seqüência, aduz-se os preceitos e concepções da Agroecologia, base científica dos sistemas agroflorestais e de outras formas de agricultura alternativa. No tópico seguinte discute-se a respeito da definição de SAF, seus objetivos, aplicações, atributos, contribuições e limitações. Por fim, no quinto item explana-se sobre metodologias e indicadores para avaliação da sustentabilidade de agroecossistemas. 3.1 Desenvolvimento Sustentável e dimensões da sustentabilidade Ao longo da evolução das civilizações humanas, preocupações quanto ao estágio da riqueza e de bem estar das populações sempre foram foco da ação e da política pública. Já no século XVIII diversos estudiosos da esfera política e econômica se ocupavam em delinear e explicar estratégias para elevar as riquezas das nações (François Quesnay, David Ricardo, Adam Smith, dentre outros), embora 18 não vislumbrassem as questões sociais e ecológicas, ou ao menos não tratassem de modo mais aprofundado9. Até duas décadas após a Segunda Grande Guerra, o desenvolvimento era entendido como sinônimo do crescimento econômico, sendo mensurado estritamente por indicadores de ordem quantitativa. Só a partir dos anos de 1960 que o conceito de desenvolvimento econômico passa a considerar o processo de crescimento econômico conjugado com melhorias na qualidade de vida da população, como a diminuição dos níveis de pobreza, de desemprego e desigualdade, a melhoria das condições de saúde, nutrição, educação, moradia, transporte (CUNHA, [2006?], p. 2; SANDRONI, 1999, p.141, 169 e 170). O aumento significativo de produção e consumo, propiciado pelo aumento populacional, pelos avanços tecnológicos e comerciais (inclusive na área da biotecnologia), e a subseqüente propagação do movimento ambientalista (iniciado em meados dos anos 60) estimulam a construção de conceitos acerca do desenvolvimento. Estes surgem como crítica à visão economicista e ao desenvolvimentismo, apontando-os como reducionismo econômico e como responsáveis pela geração dos problemas sociais e ambientais no mundo. Dentre os diversos conceitos elaborados10, destacam-se o de ecodesenvolvimento e o de desenvolvimento sustentável. O primeiro, introduzido por Maurice Strong em 1973, na primeira reunião do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), e posteriormente formulado por Ignacy Sachs em 1974, no clássico "Environnement et styles de développement" (MONTIBELLER FILHO, 2004, p. 47; JOLY, 2003), refere-se ao: Desenvolvimento de um país ou região, baseado em suas próprias potencialidades, portanto endógeno, sem criar dependência externa, tendo por finalidade “responder à problemática da harmonização dos objetivos sociais e econômicos do desenvolvimento com uma gestão ecologicamente prudente dos recursos naturais e do meio” (MONTIBELLER FILHO, 2004, p. 47). Percebe-se que o conceito atribui igual valor às questões sociais, ambientais e econômicas, como também possui uma posição ética crucial: o comprometimento 9 Algumas obras pontuais já revelavam certa preocupação com os recursos naturais, como a conhecida publicação de Thomas Malthus, “População: o primeiro ensaio”, de 1798, dentre outras, como “De I’ Économie politique à I’ Écologie politique”, de 1957, publicação do francês Bertrand de Jouvenel. 10 O conceito de desenvolvimento durável, embora menos abrangente, é outro também adotado entre estudiosos do assunto. 19 intrageracional, ou sincrônico, referente à melhoria da qualidade de vida da população como um todo, reduzindo as desigualdades; e o comprometimento intergeracional, ou diacrônico, relativo ao cuidado de preservar o meio ambiente e as possibilidades de reprodução da vida com qualidade para as gerações sucessoras (MONTIBELLER FILHO, 2004). A partir da década de 1980, difunde-se o termo desenvolvimento sustentável, expressão de influência anglo-saxônica (sustainable development) utilizada primeiramente pela International Union for Conservation of Nature-IUCN, que o define como “o processo que melhora as condições de vida das comunidades humanas e, ao mesmo tempo, respeita os limites da capacidade de carga dos ecossistemas” (SACHS, 1993, p. 24). Sem embargo, a definição mais difundida do referido conceito é a atribuída pelo Relatório Brundtland, de 1987, que o descreve como sendo o “desenvolvimento que responde às necessidades do presente sem comprometer as possibilidades das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades” (MONTIBELLER FILHO, 2004, p. 50). Embora os termos resguardem significativa semelhança entre si no que tange à preocupação e aos propósitos, e para diversos autores sejam tomados como sinônimos, Montibeller Filho assegura que o ecodesenvolvimento difere do conceito de desenvolvimento sustentável principalmente por pressupor a auto- sustentabilidade. De outro modo, analisando apuradamente as referidas definições, observa-se que enquanto o primeiro conceito ocupa-se com o atendimento das necessidades básicas da população, por meio da aplicação de tecnologias apropriadas a cada ambiente, o segundo ressalta o papel de uma política ambiental, a responsabilidade com os problemas globais e com as gerações futuras (MONTIBELLER FILHO, 2004, p. 50 e 52). Abordando sobre a noção de sustentabilidade na agricultura, Lopes (2001) declara que a mesma também permanece envolta de imprecisões conceituais e interesses contraditórios. Não obstante, segundo o autor, as diversas definições e explicações sobre o conceito11 encontradas na literatura incorporam: manutenção dos recursos naturais e da produtividade agrícola a longo prazo, impactos adversos 11 Sobre o conceito de sustentabilidade na agricultura, Brklacich et al. (apud LOPES, 2001, p.27) listam 18 autores e instituições; o Instituto Americano de Cooperação para a Agricultura (IICA) apresenta 14 definições distintas de agricultura sustentável e Camino V. e Müller (1993) falam da existência de cerca de 50 definições de sustentabilidade. 20 mínimos ao meio ambiente, retornos adequados aos produtores, otimização da produção das culturas com o mínimo de inputs químicos, satisfação das necessidades sociais das famílias e das comunidades rurais (LOPES, 2001, p.27 e 28). Lopes (2001) afirma que a dificuldade para se estabelecer uma definição consensual para sustentabilidade decorre da diferença de entendimentos a respeito do que seja desenvolvimento e dos objetivos a serem alcançados por esse desenvolvimento, de modo que os pontos de vista configuram padrões em função de objetivos a serem atingidos e prioridades. A apreensão do conceito de sustentabilidade também está intimamente ligada a características e aspectos que possam compô-lo. Nesse sentido, os autores buscam delimitar as dimensões que constituem o desenvolvimento sustentável e, ou a sustentabilidade, consensualmente entendidos como multidimensionais. 3.1.1 Dimensões da Sustentabilidade Montibeller Filho (2004), pautando-se nos requisitos de sustentabilidade do ecodesenvolvimento definidos por Sachs, delineia cinco dimensões do desenvolvimento sustentável: social, econômica, ecológica, espacial e cultural. Os respectivos componentes e objetivos de cada dessas dimensões são apresentados no Quadro 1. Daly e Gayo (1995, citados por LOPES, 2001, p. 28) relacionam três aspectos como constitutivos da sustentabilidade: o ecológico, o econômico e o social. O primeiro refere-se à manutenção das características do ecossistema essenciais à sobrevivência do mesmo a longo prazo. O segundo, diz respeito à gestão adequada dos recursos naturais de tal forma a possibilitar a manutenção da atividade econômica. O terceiro, considera a distribuição adequada dos custos e benefícios entre os indivíduos da população atual (equidade intrageracional) e entre esta geração e as futuras (equidade intergeracional). Nesse mesmo sentido, Daniel (2000, p. 7) aponta que os conceitos de desenvolvimento sustentável e de sustentabilidade envolvem relações sociais, econômicas e ambientais. 21 Quadro 1. As cinco dimensões do Desenvolvimento Sustentável DIMENSÃO SUSTENTABILIDADE SOCIAL SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA COMPONENTES Criação de postos de trabalho que permitam a obtenção de renda individual adequada (à melhor condição de vida; à maior qualificação profissional). Produção de bens dirigida prioritariamente às necessidades básicas sociais. Fluxo permanente de investimentos públicos e privados (estes últimos com especial destaque para o cooperativismo). Manejo eficiente dos recursos. Absorção, pela empresa, dos custos ambientais. OBJETIVOS REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS AUMENTO DA PRODUÇÃO E DA RIQUEZA SOCIAL, SEM DEPENDÊNCIA EXTERNA Endogeneização: contar com suas próprias forças. Produzir respeitando os ciclos ecológicos dos ecossistemas. Prudência no uso de recursos naturais não renováveis SUSTENTABILIDADE ECOLÓGICA Prioridade à produção de biomassa e à industrialização de insumos naturais renováveis. Redução da intensidade energética e aumento da conservação de energia. Tecnologias e processos produtivos de baixo índice de resíduos. MELHORIA DA QUALIDADE DO MEIO AMBIENTE E PRESERVAÇÃO DAS FONTES DE RECURSOS ENERGÉTICOS E NATURAIS PARA AS PRÓXIMAS GERAÇÕES Cuidados ambientais. Desconcentração espacial (de atividades; de população). SUSTENTABILIDADE ESPACIAL/ GEOGRÁFICA Desconcentração/democratização do poder local e regional. EVITAR EXCESSO DE AGLOMERAÇÕES Relação cidade/campo equilibrada (benefícios centrípetos). SUSTENTABILIDADE CULTURAL Soluções adaptadas a cada ecossistema. Respeito à formação cultural comunitária. Fonte: Montibeller Filho (2004, p. 51). EVITAR CONFLITOS CULTURAIS COM POTENCIAL REGRESSIVO 22 Moura (2002), listando diversos autores, identifica uma miríade de possibilidades sobre a composição da sustentabilidade. Como a reunião de cinco dimensões (sócio-cultural, técnico-agronômica, econômica, ecológica e políticoinstitucional), conforme trabalhou Darolt (2000), ou como enfocou Costabeber (1989) – econômica, social, ecológica, geográfica e tecnológica. Ou ainda combinando seis aspectos, como propôs Carvalho (1994) – econômicos, sociológicos, ambientais, políticos, culturais e institucionais, ou conforme Camino V. e Müller (1993), que afirmam ser necessário contemplar justiça social, viabilidade econômica, sustentabilidade ambiental, democracia, solidariedade e ética. Todos são citados por Moura (2002, p. 34). Não obstante, Moura (2002), assim como Marzall e Almeida (1998), citados por aquele, afirmam que em se tratando de sustentabilidade, é fundamental que sejam consideradas, minimamente, as dimensões: econômica, ambiental e social. Assim, fundamentando-se na IUCN (1980, apud SACHS, 1993), no Relatório de Relatório Brundtland (1987, MONTIBELLER FILHO, 2004), em Sachs (1993) e Montibeller Filho (2004), o presente estudo admite que a sustentabilidade de qualquer tipo de sistema que envolva seres humanos, inclusive os agroecossistemas, pressupõe o uso racional e eqüitativo dos recursos, garantido a disponibilidade desses às gerações futuras, visando sempre a melhoria das condições de vida das comunidades. Para tanto, entende-se que, conforme asseveram Moura (2002), Marzall e Almeida (1998, apud MOURA, 2002), a promoção da sustentabilidade nas dimensões ambiental, econômica e social de forma conjunta é condição precípua para a geração do desenvolvimento no longo prazo. É com base nessas concepções que se propõe identificar a sustentabilidade de sistemas agroflorestais no município de Una, Bahia. 3.2 Da Economia Ecológica Até por volta do ano de 1970, as teorias econômicas existentes não consideravam componentes ambientais tais como a degradação do meio pela poluição, exaustão de recursos naturais (renováveis ou não) ou destruição de ecossistemas. Mas essa situação não decorreu da inexistência de tais problemas em 23 períodos anteriores, pois pode se afirmar que a degradação ambiental data do início da sedentarização humana. Resulta do início e da evolução do processo de consciência ecológica coletiva, caracterizado pelo movimento ambientalista, que propicia a incorporação da questão ambiental ao âmbito científico. Assim, no campo das Ciências Econômicas, os estudiosos são levados a incluir o aspecto ambiental às análises acerca do sistema econômico e seus elementos constitutivos, de modo que a relação, grau de influência e interdependência entre o meio ambiente e o meio econômico variam conforme a escola teórica, o enfoque dado. A Figura 2 exemplifica duas possibilidades de enfoque sobre a economia, sendo que um deles insere a questão ambiental. A B RN ECONOMIA ECONOMIA Figura 2 – A: A economia cresce de forma autônoma; B: O crescimento da economia é restrito pelos recursos naturais (RN). Fonte: Romeiro (2003, p. 8). Entre os debates existentes na Ciência Econômica acerca da questão ambiental, três correntes ambientalistas se consolidam, quais sejam: Economia Ambiental Neoclássica, Ecomarxismo e Economia Ecológica. A primeira corrente ocupa-se em discutir a regulação do uso dos recursos e serviços ambientais segundo o princípio da “mão-invisível”, por meio da internalização das externalidades decorrentes de processos de explotação e consumo (esgotamento de recursos – renováveis ou não –, poluição, degradação, dentre outros efeitos), valorando (atribuição de preços, taxas, multas, etc.) esses 24 bens sob a ótica do mercado. A segunda corrente ocupa-se em esclarecer as contradições socioambientais geradas e a tendência ao declínio de sistemas de produção pautados no modelo de exploração capitalista dos recursos naturais. Nesse sentido, trata-se exclusivamente da terceira – Economia Ecológica –, posto que diz respeito ao enfoque adotado para interpretar e analisar o objeto de estudo do presente trabalho. A Economia Ecológica, ou Ecoeconomia, como o próprio termo faz alusão, baseia-se em princípios da Ecologia (geral), transpostos e adaptados à Ecologia humana12. Na colocação de Leff (2000, p. 199), essa corrente “aborda os processos econômicos e ecológicos como dois sistemas interdependentes”. Ocupa-se em analisar a estrutura e o processo econômico de “ecossistemas humanos” sob a ótica dos fluxos físicos de energia e de materiais (MONTIBELLER FILHO, 2004, p. 126). Os estudos que buscam avaliar o emprego de energia na economia sob esse enfoque são relativamente recentes. Ganham consistência com o artigo de Nicholas Georgescu-Roegen, intitulado como “A lei da entropia e o processo econômico”, publicado em 1971. A partir de então os economistas ecológicos passaram a mensurar e analisar os processos de transformação, como o industrial, com base nas leis da termodinâmica. Nesse contexto, a Ecoeconomia se estrutura sobre alguns princípios e conceitos da Ecologia geral e humana, sendo os principais: a visão sistêmica, o conceito de capacidade de suporte (ambas advindas da Biologia) e as leis da termodinâmica (leis físicas, sendo considerada sobremodo a lei de entropia). Assim, a visão sistêmica contribui com a possibilidade de demarcar o objeto de estudo e, concomitantemente, vinculá-lo a todas as suas possíveis esferas de inter-relações. A mesma surge com a Teoria Geral dos Sistemas (TGS), desenvolvida pelo biólogo húngaro, Ludwig von Bertalanffy, em 1936. Segundo essa abordagem, o objeto de estudo é entendido como um sistema, “entidade que tem a capacidade de manter certo grau de organização em face de mudanças internas ou externas, composto de um conjunto de elementos, em interação, segundo determinadas leis, para atingir um objetivo específico” (ARAÚJO, 12 Em nota de rodapé, Montibeller Filho (2004, p. 114) define Ecologia humana “como uma ciência interdisciplinar voltada ao estudo dos dinâmicos processos biológicos e sociais que ocorrem entre os homens – como indivíduos, coletividades e sociedades – e igualmente entre estes e o ambiente (natural, social, técnico e cultural) em que vivem”. 25 [2007?]). Os sistemas buscam relações com outros sistemas/subsistemas/suprasistemas, estão constantemente em mútua inter-relação, influindo e sendo influenciados, de modo ativo e reativo. Nesse sentido, a economia e seus processos podem ser analisados em diversos níveis – internacional, nacional, regional, por unidade de produção, podendo se restringir a graus cada vez menores –, estando limitados e influenciando os sistemas ecológicos. Consoante a essa visão, “qualquer atividade humana se assenta em bases ecológicas, representadas por fluxos de energia e de materiais que alimentam todos os empreendimentos que se queiram efetuar” (CAVALCANTI, 2003, p.154). O processo econômico, por conseguinte, operaria “dentro de um subsistema aberto envolvido pelo ecossistema global” e, segundo esse enfoque, deve “respeitar limites (quer os do fornecimento de recursos, quer os da absorção de dejetos, além dos da própria tecnologia)” (CAVALCANTI, 2003, p.154, grifo do autor), conforme é ilustrado na Figura 3. Deste modo, a Economia Ecológica ocupa-se em investigar como a atividade econômica depende de processos biogeofísicos, com os feedbacks que existem entre uma e outros, e de que maneira funções e processos ecológicos, não comercializáveis, condicionam o funcionamento do processo de produção de bens e serviços economicamente valorados. Por sua vez, o conceito de capacidade de suporte, ou de carga populacional, refere-se ao montante de população que seria compatível com determinado ecossistema, garantindo-lhe a condição de equilíbrio. Em conformidade com esse conceito, Cavalcanti (2003, p.154) afirma que a noção de desenvolvimento sustentável refere-se à promoção da economia (e do bem-estar dos humanos) sem causar estresses que o sistema ecológico não possa absorver (ver BROWN, 2003, p. 83-84). Quanto às leis da termodinâmica empregadas pela ecologia e adotadas pela Ecoeconomia, mormente a lei de entropia, essas são consideradas na análise dos processos produtivos. Segundo Georgescu-Roegen (apud MONTIBELLER FILHO, 2004, p. 116-117), matéria-energia entram nos processos econômicos no estado de baixa entropia (ou sintropia, estados de elevada ordem, concentração) e saem no estado de alta entropia (desordem, dissipação). 26 ENERGIA SOLAR ESPAÇO ENERGIA DISSIPADA POLUIÇÃO REJEITOS MERCADO DE BENS E ECONOMIA CONSUMO PRODUÇÃO SERVIÇOS MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO RECURSOS E BIOSFERA SERVIÇOS AMBIENTAIS LEGENDA: Fluxo Real da economia (bens e insumos) Fluxo Monetário da economia (pagamentos e recebimentos) Fluxos de energia e matéria entre ecossistema e economia Fluxos de energia entre a Biosfera e o Espaço sideral Figura 3 – Modelo Simplificado do Fluxo Circular da economia com interações com o ecossistema. Fonte: Elaboração própria, adaptado de Souza (2005). 27 Conforme a postulação básica da busca de equilíbrio na natureza, definida em ecologia, a não dissipação de calor, que o estado de equilíbrio proporcionaria, significaria o total aproveitamento energético nos processos de transformação (MONTIBELLER FILHO, 2004, p. 117). Nesse sentido, toda a energia seria aproveitada, mudado apenas em termos qualitativos e não quantitativos. Esses conceitos e princípios da Ecoeconomia se ampliam e passam também a serem aplicados e a subsidiarem outras áreas científicas e de pesquisa. Tratam-se dessa e de outras questões nos tópicos que seguem sobre Agroecologia e SAF. 3.3 A Agroecologia: princípios e definição de agroecossistemas A Agroecologia constitui-se numa ciência e prática tão antiga quanto às origens da agricultura, embora o uso contemporâneo do termo data dos anos 70 com a emergência e propagação do movimento ambientalista. De modo amplo, a Agroecologia incorpora idéias sobre um enfoque da agricultura mais voltado ao meio ambiente e às questões sociais, centrado no solo, na produção e também na sustentabilidade ecológica dos sistemas de produção rurais. Isso constitui sua característica normativa ou prescritiva, posto que inclui aspectos que ultrapassam os limites da agricultura propriamente dita. Sob um ponto de vista mais restrito, refere-se ao estudo de fenômenos estritamente ecológicos que ocorrem no âmbito dos cultivos (relação presa/predador, competição cultivos/ervas invasoras, dentre outros), o que revela grande potencial da sua aplicação na resolução de questões tecnológicas na agricultura, favorecendo assim o desenho e a gestão de agroecossistemas sustentáveis (HECHT, 1999, p. 17-18; CAPORAL; COSTABEBER, 2000, p. 26). Tem suas raízes nas ciências agrícolas, no movimento ambientalista, na Ecologia (sobremodo as contribuições dadas pela Teoria Geral dos Sistemas-TGS13 e pelas investigações sobre os ecossistemas tropicais), na Sociologia, na Antropologia (como as análises de agroecossistemas indígenas), na Economia 13 A TGS passa a ser usada para explicar o funcionamento das organizações sociais, de modo que essas passam a ser vistas como desenvolvendo um conjunto de transações com elementos externos, sendo compostas por subunidades, interdependentes, que interagem continuamente (CASTRO, 2002, p. 38), conforme tratado no tópico sobre Ecoeconomia. 28 Ecológica, nos estudos sobre desenvolvimento rural, entre tantas outras áreas do conhecimento (HECHT, 1999, p. 20; CAPORAL; COSTABEBER, 2002, p. 14). Especificamente, pode-se definir a Agroecologia como a ciência ou disciplina científica que apresenta uma série de princípios, conceitos e metodologias para estudar, analisar, dirigir, desenhar e avaliar agroecossistemas, com o propósito de permitir a implantação e o desenvolvimento de estilos de agricultura com maiores níveis de sustentabilidade no curto, médio e longo prazos (CAPORAL; COSTABEBER, 2000, p. 26). De acordo com a visão agroecológica, o desenvolvimento é entendido como um processo coevolucionista entre o sistema ambiental e o sistema social, sendo este último constituído por sistemas de conhecimento, valores tecnológicos e organizacionais (NORGAARD; SIKOR, 1999, p. 34). Trata-se, assim, de um sistema em rede onde cada subsistema exerce uma pressão seletiva sobre cada um dos outros, em ações recíprocas, desencadeando processos de coevolução (Figura 4). Dessa forma tudo se conecta e muda constantemente, concepção explicitamente advinda da abordagem sistêmica. CONHECIMENTO VALORES SISTEMA BIOLÓGICO ORGANIZAÇÃO TECNOLOGIA Figura 4 – A coevolução do conhecimento, dos valores, da organização social, da tecnologia e dos sistemas biológicos. Fonte: Adaptado de Norgaard e Sikor (1999, p. 34). Na colocação de Lopes (2001, p. 35), a formação e o desenvolvimento de determinados sistemas produtivos, assim como sua evolução, estabilidade ou 29 desaparecimento no tempo, são resultantes da interação estabelecida entre o agricultor, sua unidade de produção e a comunidade, em relação íntima com o sistema econômico. Segundo Norgaard e Sikor (1999, p. 32-35), essa perspectiva, contrariamente à percepção atomística difundida pela ciência convencional, evidencia que os sistemas agrícolas devem ser considerados como sistemas integrais e dinâmicos. A ciência conservadora (moderna), por sua vez, tem como premissas dominantes: o atomismo, que considera os sistemas constituídos de partes não intercambiáveis resultantes da simples soma das partes; o mecanismo, segundo o qual as relações entre as partes são fixas, os sistemas se movem ininterruptamente de um ponto de equilíbrio a outro e as mudanças são reversíveis; o universalismo, que atribui princípios universais aos fenômenos complexos e diversos, desconsiderando condições específicas de tempo e espaço; o objetivismo, que desconsidera o envolvimento do sujeito com o objeto observado; e o monismo, que atesta que as múltiplas e diversas formas de entender os sistemas complexos fazem parte de um todo coerente (NORGAARD; SIKOR, 1999). Conseqüentemente, a aplicação dos princípios agroecológicos na promoção do desenvolvimento rural, coevolucionista, logicamente, implica no reconhecimento por parte dos envolvidos (pesquisadores, extensionistas e agricultores) da existência da dependência entre os objetivos de produção e o contexto cultural e socioeconômico dos empreendedores rurais. No caso da agricultura familiar, isto implica freqüentemente em enfatizar a estabilidade e a sustentabilidade da produção agrícola e da segurança alimentar durante todo o ano, da mesma maneira que se enfatiza a produtividade. Os agroecológos, nesse sentido, comumente ocupam-se em reduzir a dependência dos agricultores em relação às forças externas (a seu agroecossistema, ou seja, sua unidade de produção) e fortalecer os débeis fatores estabilizadores que protegem os rurais pobres de mudanças prejudiciais inerentes ao seu meio social (NORGAARD; SIKOR, 1999, p. 44). Destarte, os sistemas rurais são denominados de agroecossistemas, e estes definidos como ecossistemas “semi-domesticados” que se situam num gradiente entre uma série de ecossistemas que sofreram um mínimo de impacto humano. Hecht afirma que a magnitude das diferenças da função ecológica entre um ecossistema natural e um agrícola depende em grande medida da intensidade e freqüência das perturbações naturais e humanas que se fazem sentir no 30 ecossistema. Nesse sentido, a interação entre essas características endógenas (biológicas e ambientais) no empreendimento agrícola, com fatores exógenos (sociais e econômicos) é que geram a estrutura particular do agroecossistema (HECHT, 1999, p. 18-19). Os agroecossistemas são sistemas abertos, de difícil delimitação, que recebem insumos do exterior e dão como resultado produtos que podem ingressar em sistemas externos. Segundo Whittlesay, citado por Altieri (1999, p. 49), os agroecossistemas podem ser classificados de acordo com os seguintes critérios: 1. a associação de cultivos e gado; 2. os métodos de produção dos cultivos e do gado; 3. a intensidade no uso da mão-de-obra, do capital, a organização e a produção resultante; 4. a distribuição dos produtos para o consumo (se são utilizados para a subsistência no imóvel ou para a venda); 5. o conjunto de estruturas usadas para a casa e para facilitar as operações do imóvel. Quanto ao controle dos agroecossistemas, sejam eles modernos ou tradicionais, diversos teóricos e estudos práticos apontam para o uso de critérios para se identificar os resultados das interações entre suas dimensões (sociais, econômicos, ambientais, dentre outras possíveis). Altieri (1999, p. 62-65) propõe o emprego de quatro critérios: sustentabilidade, equidade estabilidade e produtividade. Moura (2002, p. 35 e 36), pautando-se em Altieri (1989) e Fernández (1995), faz uso dos critérios de produtividade, estabilidade, equidade, resiliência e autonomia para avaliar a sustentabilidade das atividades de fumicultores. Severo, Ribas e Miguel (2004, p. 1) também empregam esses mesmos critérios para avaliar a sustentabilidade de agroecossistemas extrativistas. Lopes (2001, p. 31 e 32), fundamentando-se em Conway (1987), utiliza produtividade, estabilidade, equidade, sustentabilidade (empregada como sinônimo de resiliência) e autonomia para estudar a sustentabilidade de alguns padrões de SAF. Para as finalidades do estudo em epígrafe, adotaram-se os seguintes critérios: Produtividade – é uma medida quantitativa que determina a quantidade da produção por unidade de terra ou de insumo. Embora possua um viés econômico e 31 pressuponha a avaliação da eficiência do emprego dos recursos, estabelece uma relação direta com os processos sociais e ambientais, posto que pode refletir o rendimento do trabalho e a relação de recursos naturais gastos no processo produtivo com o resultado do processo (MOURA, 2002, p. 36). Pimentel e Pimentel (1979) atestam que quando se analisam os padrões de produção utilizando relações de energia, os sistemas tradicionais mostram-se extraordinariamente mais eficientes que os agroecossistemas modernos (apud ALTIERI, 1999, p. 65). Estabilidade – “é a constância produtiva dada sob um conjunto de condições ambientais, econômicas e administrativas” (CONWAY, 1985, apud ALTIERI, 1999, p. 63). Segundo Beroldt da Silva (1998, apud MOURA, 2002, p. 36) essas condições se referem a “pequenas forças perturbadoras que surgem das flutuações e ciclos normais no ambiente circundante”, ou seja, perturbações decorrentes de mudanças normais do ambiente, como variações de clima e do mercado. De acordo com Moura (2002, p. 36), esse critério tem uma relação “com a escala temporal e, conseqüentemente, com a solidariedade intergeracional e a manutenção da viabilidade econômica”. Eqüidade – mede quanto equitativamente estão distribuídos os produtos do agroecossistema entre os produtores e os consumidores locais, seja referente ao acesso aos alimentos, às oportunidades ou aos ingressos ocorridos dentro de comunidades. Relaciona-se diretamente com a justiça social, posto que pressupõe crescimento econômico acompanhando pela redução das diferenças na distribuição dos recursos na sociedade. Resiliência – trata-se de uma definição importada da Física e que também é denominada de capacidade homeostática14. Walker et al. (2004, apud FOLKE et al., 2004, p. 558) definem resiliência como a capacidade de um sistema de absorver perturbação e se reorganizar enquanto sofre mudanças para reter essencialmente a mesma função, estrutura, identidade, e realimentações. Refere-se “à capacidade de um ecossistema de manter a produtividade diante de perturbações de maior importância ou choques de grande impacto”, o que significa dizer que essas tensões não devem ultrapassar o limite de sua elasticidade (MOURA, 2002, p. 36-37). 14 Aquilo que tem: 1. Fisiol. Med. Tendência à estabilidade do meio interno do organismo. 2. Cibern. Propriedade auto-reguladora de um sistema ou organismo que permite manter o estado de equilíbrio de suas variáveis essenciais ou de seu meio ambiente (FERREIRA, 1999). 32 Autonomia – Fernández (1995 citado por MOURA, 2002, p. 37) afirma que esta característica “está relacionada ao grau de integração do agroecossistema, refletido no fluxo de materiais, energia e informação entre as partes constituintes e entre o agroecossistema e ambiente externo”. Assim, possibilita conhecer o nível de controle interno sobre o funcionamento dos agroecossistemas e a sua capacidade de administrar os fluxos essenciais usando recursos próprios ou externos para manter a produção (LOPES, 2001, p. 32; MOURA, 2002, p. 37). 3.4 SAF: definição, objetivos, sustentabilidade e classificações Quando se fala em sistemas agroflorestais, os estudos e a literatura concernentes ao tema apontam diversas conceituações norteadoras. As definições existentes de SAF delineiam-no desde um conjunto de técnicas, manejos, forma de uso da terra até uma modalidade de sistema de produção. Variando, ainda, em função ou não do número de espécies arbóreas no sistema, a origem dessas espécies (nativas ou exógenas), como também por declararem ou não que esses sistemas sejam sustentáveis. Para tratar de tal questão, faz-se mister esclarecerem alguns conceitos respeitantes ao objeto de estudo. Nesse sentido, no dicionário Aurélio define-se técnica como “a parte material ou o conjunto de processos de uma arte”, ou “maneira, jeito ou habilidade especial de executar ou fazer algo”, ou “prática”; enquanto que manejo refere-se ao ato de manejar, verbo cujos principais significados atribuídos na obra são: “mover ou executar com as mãos”, manusear, “trabalhar com”, administrar, dirigir, traçar, delinear, projetar, dispor, controlar, “ter conhecimento de”, exercitar, praticar (FERREIRA, 1999). Sandroni (1999), por sua vez, descreve “técnica” como o conjunto de processos mecânicos e intelectuais pelos quais os homens atuam na produção. Seu desenvolvimento constitui um índice de domínio do homem sobre a natureza e se manifesta por meio do aperfeiçoamento dos instrumentos, dos objetos de trabalho e do próprio trabalhador: ferramentas, máquinas, matérias- primas, métodos de observação, controle e processos de interação entre o homem e o objeto de seu trabalho, manual ou intelectual (SANDRONI, 1999, p. 593, grifos nossos). 33 Percebe-se, assim, que o uso desses termos para definir o sistema agroflorestal, tal como acontece com a expressão “forma de uso”, remetem a métodos, processos, ao modo de fazer, determinado pelo ser humano, para utilizar, explorar elementos naturais (tratados como recursos naturais), sobremodo o solo, restringindo a agrofloresta a um modus operandi. O sistema agroflorestal, não obstante, constitui-se num ecossistema – mais ou menos antropizado15 –, e que, portanto, apresenta uma estrutura (elementos constitutivos: meio biótico e abiótico), fluxos e inter-relações, que lhes são próprios, e que apresentam autonomia e dinamicidade independentemente da presença humana. Assim, uma área de agrofloresta abandonada não refletiria, ou não ‘manifestaria’ tal como diz Sandroni (1999, p. 593), a ação e vontade humanas – posto que estas não se fazem presente –, mas manteria uma determinada estrutura de elementos naturais e suas respectivas (inter)relações. Nesse caso, contudo, não se poderia intitular esse ecossistema como um sistema “agro” florestal, posto que o termo “agro” refere-se a atividades humanas desenvolvidas em campo, ou terra voltadas para o cultivo de vegetais e, ou criação de animais (LAROUSSE, 1998, apud DANIEL et al., 1999, p. 368). Tal entendimento faz alusão à idéia de sistema, em que uma das definições apontadas por Ferreira (1999) é “disposição das partes ou dos elementos de um todo, coordenados entre si, e que funcionam como estrutura organizada” (grifos nossos), uma das noções encontradas na literatura da área e no próprio termo “sistema agroflorestal”. Nesses termos, os SAF são sistemas voltados para a geração de produtos, no campo, que atendam às necessidades humanas (seja para a subsistência ou para o mercado), e têm todos os atributos de qualquer outro sistema (AMBIENTE BRASIL, [200-]) como: • componentes, que são os elementos físicos, biológicos e socioeconômicos; • limites, que definem as bordas físicas: entradas (energia solar, mão-deobra, insumos) e saídas (alimento, madeira e produtos animais), constituem a energia ou matéria trocada entre sistemas; 15 • interações, que são as relações entre os componentes do sistema; • hierarquia, que indica a posição do sistema com relação a outros sistemas. Ou seja, um tipo de agroecossistema, conforme é definido pela Agroecologia. 34 Descartadas as possibilidades de conceber os sistemas agroflorestais enquanto “processos” e “técnicas”, passa-se a verificar a possibilidade de defini-los como sistema de produção. Para Reboul (1976), sistema de produção refere-se a um modo de combinação entre terra, força e meios de trabalho com fins de produção vegetal e, ou animal, sendo caracterizado pela natureza das produções, da força de trabalho (qualificação) e dos meios de trabalho (apud DUFUMIER, 1996, p. 80, grifos nossos). Ou ainda, segundo Chombart de Lauwe, Poitevin e TireI (1969, apud DUFUMIER, 1996), o sistema de produção é a combinação das produções e dos fatores de produção (capital fundiário, trabalho e capital de exploração) numa exploração agrícola. Dufumier (1996) elucida que o sistema de produção agrícola também pode ser conhecido como uma combinação mais ou menos coerente de diversos subsistemas produtivos, quais sejam: os sistemas de cultivos, os sistemas de criação de animais e os sistemas de primeira transformação (beneficiamento) dos produtos agrícolas da unidade de produção. Chama-se atenção para dois aspectos nessas definições. O primeiro respeitante à preocupação quanto à tipificação da força de trabalho empregada no processo produtivo e a sua relação com os meios de produção, ou seja, identificar, além da quantidade empregada de a mão-de-obra, se esta é familiar, assalariada, etc., e se é proprietária ou não dos meios de produção, sobretudo da terra. O segundo concernente à delimitação do sistema de produção, corresponde à unidade de produção agrícola e, ou agropecuária. Por conseguinte, confrontando a definição de sistema de produção com as diversas definições e caracterizações dos sistemas agroflorestais encontradas na literatura específica, conclui-se que esses últimos são sub-sistemas de um dado sistema produtivo agrícola, posto que estão inseridos numa determinada unidade de produção agrícola e, ou agropecuária, e fazem uso específico da mão-de-obra. Assim, em conformidade com os componentes que constituem os sistemas agroflorestais, os mesmos podem se configurar num sistema de cultivo ou de criação de animais. Segundo Sebillotte (1982, apud DUFUMIER, 1996, p. 81), pode-se definir o sistema de cultivo como um conjunto de modalidades técnicas postas em prática sobre parcelas tratadas de maneira idêntica, de modo que cada sistema de 35 cultura se define pela natureza dos cultivos e sua ordem de sucessão, e pelos itinerários técnicos aplicados às diferentes culturas. O sistema de criação de animais, por seu turno, é definido por Menjon e D' Orgeval (1983, apud DUFUMIER, 1996, p. 83) como o conjunto constituído pelo local de criação e pelas técnicas que permitem a produção de animais, ou de seus derivados, em condições compatíveis com o objetivo do agricultor e com as especificidades da unidade de produção. O segundo ponto a ser esclarecido refere-se às definições que declaram os sistemas agroflorestais enquanto sistemas sustentáveis. Com referência a essa temática, Fearnside (1998, p. 294) aponta que freqüentemente o termo tem sido usado num sentido normativo, “indicando o que é sustentável, não ambientalmente predatório, e, em geral, o que "deve" ser promovido”. A definição difundida pelo Plano Nacional de Silvicultura com Espécies Nativas e Sistemas Agroflorestais – PENSAF, do Ministério do Meio Ambiente em conjunto com outros Ministérios, por exemplo, apresenta esse aspecto normativo. Segundo o PENSAF, os sistemas agroflorestais constituem-se em modalidade de sistema produtivo que contempla o plantio combinado de árvores e culturas agrícolas com ou sem a presença de animais em uma mesma área sob bases sustentáveis (BRASIL, 2006, p. 13, grifo nosso). Na definição atualmente adotada pelo International Centre for Research in Agroforestry-ICRAF, sediado em Nairobi, no Quênia, além da existência de complementaridade biológica entre os componentes do sistema, a sustentabilidade consiste num critério para nomear um sistema como sendo uma agrofloresta. Assim: La agroforestería es la combinación de cultivos agrícolas o ganadería con árboles en chacras y paisajes agrícolas, de tal manera que los diferentes componentes sean complementarios entre sí y formen parte de un sistema de uso de la tierra ecológica, social y económicamente sostenibles. […] (International Centre...-ICRAF, 2007, grifo nosso). O ponto ao qual Fearnside (1998, p. 294) alerta é que esse tipo de emprego do conceito “faz com que qualquer discussão da sustentabilidade desses sistemas seja circular, já que os sistemas começam com esta característica por definição”. A sustentabilidade estaria, assim, pré-determinada pelo conceito, ou, de outro modo, só se poderia nomear um sistema como agrofloresta após a comprovação da sua 36 sustentabilidade. Por outro lado, considerando que se trata de um agroecossistema, e esses, por definição, são variados (em termos de desenho16, sobremodo) e dinâmicos, o conceito de sustentabilidade requer interpretações em termos relativos: um sistema é mais ou menos sustentável em relação a outro; um sistema é sustentável com base na observância de parâmetros específicos (condições geográficas e biofísicas, capacidade de carga do ecossistema, padrão de consumo da população, nível tecnológico, etc.), variáveis temporal e espacialmente, sendo que sua estrutura e funções podem não aferir o mesmo nível de sustentabilidade noutras condições. Sobre essa perspectiva, Guijt (1999) afirma que a sustentabilidade só pode ser avaliada de maneira comparativa ou relativa. Franco (1998) corrobora alertando que a perspectiva espacial é fundamental pela necessidade de contextualização do conceito (de desenvolvimento em bases sustentáveis) para avaliação da sustentabilidade, pois o que é considerado sustentável em dado local poderá não o ser noutro. Assim, diferentemente das definições que restringem os sistemas agroflorestais a um conjunto de procedimentos, entende-se que esses são dotados de estruturas e interações. E, embasando-se em Dufumier (1996), Sebillotte (1982) e Menjon e D' Orgeval (1983), citados por Dufumier (1996), definem-se SAF aqui como sistemas de cultivo ou de criação animal nos quais espécies lenhosas perenes (árvores, arbustos e palmeiras) são utilizadas em associação com cultivos agrícolas e, ou animais, em uma mesma área, de maneira simultânea ou em uma seqüência temporal. De outro modo, conclui-se que SAF e sustentabilidade são conceitos distintos, e que a existência de um não é condição sine qua non para a existência do outro, de modo que, com base em Franco (1998) e Guijt (1999), a sustentabilidade desses sistemas é definida e determinada de acordo com o estabelecimento de referências, critérios – variáveis no tempo e no espaço – enquanto parâmetros para sua avaliação. 16 Refere-se à disposição dos componentes do sistema em termos espaciais e temporais, considerando a escolha dessas espécies e a determinação da combinação entre as mesmas. Isso confere uma miríade de tipos de SAF, possibilitando, conforme as escolhas, a criação de sistemas insustentáveis, inclusive. 37 3.4.1 Objetivos e Princípios da Sustentabilidade dos SAF A sustentabilidade atestada aos SAF por diversos estudiosos se fundamenta nos objetivos e princípios sobre os quais se assenta esse sistema. Os mesmos têm como finalidade principal a otimização da produção por unidade de área, tendo sempre em vista o princípio do rendimento contínuo, mormente por meio da conservação/manutenção do potencial produtivo dos recursos naturais renováveis, ou seja, dos solos, recursos hídricos, fauna e das florestas nativas (MACEDO, 2000). Propõem-se, assim, conciliar o aumento de produtividade e rentabilidade econômica com a proteção ambiental e a melhoria da qualidade de vida das populações rurais. Macedo (2000, p. 12-13) evidencia que para alcançar o referido objetivo é necessário que os SAF cumpram os seguintes pré-requisitos: a) mantenham-se sustentáveis; b) aumentem a produtividade vegetal e animal; c) direcionem técnicas para o uso racional do solo e água; d) diversifiquem a produção de alimentos; e) estimulem a utilização de espécies para usos múltiplos; f) diminuam os riscos do agricultor; g) amenizem os efeitos adversos dos fatores de produção; h) minimizem os processos erosivos; i) combinem a experiência rural dos agricultores com o conhecimento científico; j) conferir sustentabilidade aos sistemas agrícolas. A concretização desse objetivo e pré-requisitos só é possível pelo fato desses sistemas estarem alicerçados em princípios básicos que envolvem aspectos ecológicos, sociais e econômicos (MACEDO, 2000). Esses atributos propiciam que os SAF, desde que observadas as especificidades de cada localidade, apresentemse como mais sustentáveis do que sistemas produtivos menos complexos, tal como os monocultivos ou aqueles alicerçados num único tipo de produto/cultivo. A sustentabilidade ecológica dos SAF assenta-se no princípio da Biodinâmica de Sobrevivência, de modo que a combinação de espécies arbóreas com cultivos agrícolas e, ou animais propicia interações e explorações diversificadas desses 38 componentes entre si mesmos e entre o meio abiótico. Noutras palavras, a sustentabilidade/estabilidade deriva da diversidade biológica promovida pela presença de diferentes espécies de vegetais e, ou animais, que exploram nichos diversificados dentro do sistema (MACEDO, 2000). A esse respeito, Folke et al. (2004) apontam que perturbações em níveis subseqüentes da cadeia trófica (cascatas tróficas) de um dado ecossistema, como efeito de pressões externas, parecem ser menos prováveis sob condições de alta diversidade (grifo nosso) ou com a presença de grande número de espécies generalistas (que se alimentam de tudo) nos ciclos alimentares. Segundo Chapin et al. (1997) e Luck et al. (2003), citados por Folke et al. (2004, p. 569), baseando-se na revisão de diversos estudos sobre mudanças de estados em diversos ecossistemas, a diversidade de grupos funcionais (que exploram nichos diferentes) num ecossistema dinâmico em processo de mudança ou perturbação, assim como a diversidade dentro de espécies e populações, e a diversidade de espécies em grupos funcionais (espécies diferentes que exercem a mesma função) parece ser crucial para a resiliência17 e a geração de serviços do ecossistema. A biodiversidade e a manutenção de um componente arbóreo no sistema propiciam inúmeros ganhos ecológicos e agronômicos. Um deles diz respeito à otimização do aproveitamento da energia solar e dos nutrientes do solo através da multiestratificação diferenciada das diversas espécies vegetais existentes numa mesma área, cujo dossel de copas e sistema radicular exploram de forma singular os perfis verticais e horizontais da paisagem e os horizontes do solo. Outro benefício refere-se à diminuição da ocorrência de plantas invasoras, extremamente exigentes em luz, como efeito da proteção do solo às radiações diretas do sol, propiciada pela estratificação do dossel de copas e formação de camada de material orgânico sobre sua superfície (MACEDO, 2000, p. 7-8). Diversos autores ainda acrescentam como benefícios relacionados ao aspecto ecológico, o potencial de manutenção e proteção de mananciais e fontes d´água, e do estoque de material genético do próprio SAF e de sistemas no seu entorno. Como as agroflorestas exigem componentes florestais na sua estrutura, constituem-se em potencial instrumento de proteção a remanescentes florestais e dos respectivos seres que neles habitam, configurando-se em peças integrantes de 17 Conceito tratado no item 3.3: “A Agroecologia: princípios e definição de agroecossistemas”. 39 corredores ecológicos (ver MASCARENHAS, 2004, p. 23; BLANES et al., 2002; IESB, 2005). Outro proveito apontado por Macedo (2000) relaciona-se à ciclagem de nutrientes. Nesse processo, os nutrientes existentes nas camadas mais profundas do solo são absorvidos pelas raízes dos componentes arbóreos, transportados e disponibilizados nas camadas mais rasas através da decomposição das folhagens dessas espécies florestais na superfície do solo. Quanto ao princípio social dos SAF, estes exercem, mormente, três importantes funções (MACEDO, 2000). A primeira refere-se ao potencial de fixação do homem no campo devido principalmente ao aumento da demanda de mão-deobra e por sua distribuição ser normalmente mais uniforme durante o ano, já que os tratos culturais e colheita ocorrem em épocas distintas e diferem entre as várias culturas. A segunda diz respeito à melhoria das condições de vida propiciada pela diversidade de produção (produtos agrícolas, florestais e animais), que reduz a vulnerabilidade e dependência do produtor, diversifica suas fontes de renda em termos de produtos e possibilita que a mesma seja mantida e apresente menores flutuações ao longo do ano. A terceira função consiste no suprimento de necessidades básicas de famílias rurais com o provimento de serviços e produtos para o consumo humano, sobremaneira a alimentação – função que se denomina de segurança alimentar. Acerca do princípio econômico, esse é atribuído à sustentabilidade econômica resultante da alternância e diversificação da produção e de produtos ao longo do ano, o que confere ao produtor menor instabilidade e risco frente ao mercado (queda de preços, dependência de fornecedores e consumidores, etc.). Outra vantagem econômica decorre dos serviços e produtos ambientais gerados pelos princípios ecológicos, que reduzem substancialmente os investimentos em insumos, e atenuam (ou suprimem, a depender do grau de auto-sustentabilidade do agroecossistema), conseqüentemente, a dependência com fornecedores. Alguns desses serviços e produtos gerados são: ciclagem de nutrientes, proteção contra erosão, aproveitamento da luminosidade e do solo, geração de insumos/serviços internos onde os produtos/funções de uma cultura/espécie fornecem suprimentos a outra (ex.: a composição de adubação utilizando excremento de animais e, ou restos de vegetais/culturas – compostagem, cobertura morta, adubação verde, etc –; o controle biológico de pragas e doenças realizado com o uso de parasitas, 40 competidores e, ou predadores naturais); a manutenção e, ou criação de condições e meios adequados à (re)produção de espécies imprescindíveis à manutenção e reprodução do agroecossistema, e que influenciam diretamente na produtividade e eficiência deste (sobremodo os decompositores e polinizadores). Tais colocações evidenciam o caráter sistêmico dos agroecossistemas, em especial dos SAF, indicando as relações sinérgicas e de interdependência entre seus aspectos ecológicos, sociais e econômicos. De outro modo, é notório que tanto as vantagens ecológicas, sociais e econômicas, quanto o próprio potencial de sustentabilidade dos SAF decorrem, em última instância, da diversidade de espécies, de populações, de grupos funcionais e de grupos que exercem a mesma função no ecossistema. Nesse sentido, para a avaliação dos sistemas agroflorestais, admite-se no presente trabalho que a sustentabilidade desses é definida por aspectos sociais, econômicos e ambientais, numa relação de interdependência, e em conformidade com a produtividade, estabilidade, eqüidade, resiliência e autonomia alcançadas em cada um desses aspectos nos agroecossistemas analisados. 3.4.2 Classificações dos SAF Diversas formas têm sido utilizadas para se classificar os sistemas agroflorestais, sendo considerado, para tanto, sua estrutura no espaço, seu desenho ao longo do tempo, a importância relativa e a função dos diferentes componentes, os objetivos da produção e suas características sociais e econômicas. De acordo com Nair (1990, apud MACEDO, 2000, p. 13), a classificação mais difundida é a que se baseia nos aspectos estruturais e funcionais para agrupar estes sistemas em categorias. Têm-se assim três tipos de sistemas, e cujas nomenclaturas corretas, segundo Daniel et al. (1999), são: agrissilviculturais, quando são combinados cultivos agrícolas com árvores; os silvipastoris, ou silvipastorais, quando se combina pastagens e, ou criação de animais com árvores; e os agrissilvipastoris, ou agrissilvipastorais, que é a combinação de cultivos agrícolas com pastagens e, ou criação de animais e árvores. As respectivas denominações para as atividades e quem as pratica são definidas pelos autores conforme mostra a Figura 5. 41 SISTEMAS AGROFLORESTAIS (SAF) <tratamento genérico a todos os sistemas> Referência genérica a todos os sistemas Referência a sistemas específicos Referência à atividade Referência a quem pratica a atividade Sistema(s) agrissilvicultural(rais) Sistema(s) silvipostoril(ris) Sistema(s) agrissilvipastoril(ris) <culturas agrícolas e árvores> <pastagens/animais e árvores> <culturas agrícolas, pastagens/animais e árvores> Agrissilvicultura Silvipastoralismo Agrissilvipastoralismo Agrissilvicultor(es) Agrissilviculturista(s) Silvipastor(es) Silvipastorista(s) Agrissilvipastor(es) Agrissilvipastorista(s) Figura 5 – Proposta de terminologias para sistemas agroflorestais sugerida por Daniel et al.. Fonte: Adaptado de Daniel et al. (1999). Em termos temporais, os componentes dos sistemas agroflorestais podem ser distribuídos de duas formas: seqüencial ou simultânea. Na primeira forma, existe uma relação cronológica entre os componentes, de modo que esses não são dispostos na mesma área concomitantemente, mas sim, sucedem no tempo. Nos SAF simultâneos há uma associação, no mesmo período de tempo, entre os componentes na área considerada (MACEDO, 2000, p. 13). 3.5 Indicadores de Sustentabilidade para Agroecossistemas Desde que a discussão sobre a questão ambiental emerge e difunde-se no âmbito acadêmico, político e social, os indicadores socioeconômicos passam a se apresentar como insuficientes para aferir o grau de desenvolvimento do bem-estar social para inúmeros níveis de agregação humana. A preocupação quanto ao envolvimento da dimensão ambiental em avaliações sobre sistemas sociais, especificamente os econômicos, ganha consistência com o artigo de Nicholas Georgescu-Roegen, intitulado “A lei da entropia e o processo econômico”, publicado em 1971 (MONTIBELLER FILHO, 42 2004, p. 116-117). Não obstante, o progresso substantivo na área de desenvolvimento de indicadores ambientais inicia no final da década de 1980, no Canadá e em alguns países da Europa (MOURA, 2002, p. 38; CEPAL, 2001, p. 15). Em 1989 a Organization for Economic Cooperation and Development-OECD manifesta sua preocupação na Conferência Econômica do G7 e, em 1992 a temática é retomada com um novo impulso a partir da publicação do relatório da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento-CNUMAD (MOURA, 2002). Nos últimos anos as investigações referentes a indicadores de sustentabilidade intensificaram-se, buscando construir indicadores bem como instrumentos adequados para aferir a sustentabilidade em diferentes contextos. A literatura especializada na temática revela que o processo de definição e seleção de indicadores de sustentabilidade é laborioso e complexo, devendo se atentar a algumas questões importantes. Acerca disso trata o tópico a seguir. 3.5.1 Definição e seleção de indicadores de sustentabilidade Para Guijt (1999), o indicador constitui-se numa característica quantitativa ou qualitativa de um processo ou atividade acerca dos quais se deseja mensurar as alterações ocorridas, de tal forma que se configura num instrumento para comunicar processos, fatos ou tendências complexas a um público mais amplo. Com respeito aos indicadores de sustentabilidade, a World Wide Fund for Nature-WWF (2000) os define como “medidas, geralmente numéricas na sua forma, apresentadas de modo gráfico, que pretendem contribuir para a compreensão e realização do desenvolvimento sustentável nas comunidades” (apud MOURA, 2002, p. 40). Acrescenta-se, contudo, que o emprego de recursos gráficos é algo facultativo nos estudos sobre indicadores de sustentabilidade. Vê-se que “é a definição de sustentabilidade que vai determinar o que é importante ser medido, quais serão os componentes dos indicadores e como avaliar e interpretar os resultados” (LOPES, 2001, p. 39). Acerca dos estorvos nos quais esbarram o processo de definição do desenvolvimento sustentável ou da sustentabilidade e, conseqüentemente, dos instrumentos para avaliá-los, Moura (2002) afirma que se deve partir do pressuposto que esses conceitos se tratam de noções comparativas, de modo que um critério é mais ou menos sustentável em dado contexto, não existindo medidas exatas para 43 cada critério. Não obstante, embasando-se em diversos autores, elenca uma série de características de sistemas sustentáveis e metas a serem perseguidas para que um agroecossistema caminhe em direção à sustentabilidade. Tais características e metas constituem-se, assim, em aspectos fundamentais a serem observados para a definição e seleção de indicadores de sustentabilidade. Nesse sentido, Moura declara que os indicadores de sustentabilidade devem basear-se nos ciclos de ecossistemas naturais; ter uma perspectiva multidimensional com a incorporação da problemática sócio-ambiental, integrando as diferentes dimensões; a noção de complexidade que exige uma visão integrada de cada sistema; a incorporação de uma escala temporal e a consciência da finitude da base de recursos que pode ser alterada ou ampliada através de inovações tecnológicas o que, no entanto, pode provocar efeitos colaterais não desejáveis (MOURA, 2002, p. 32). Os indicadores precisam ser os mais específicos possíveis, de modo a se evitar ambigüidades e problemas de validade e confiabilidade, devendo incluir: o objetivo ou a meta a ser alcançado; o aspecto a ser medido; o período abrangido e a área física em questão. Além de específicos, devem ser mensuráveis, atingíveis, relevantes e oportunos (GUIJT, 1999). Moura (2002, p. 44) pontua que os objetivos e metas da avaliação devem considerar “o contexto, a definição e os critérios de sustentabilidade adotados, as expectativas dos atores locais e a viabilidade de obtenção das informações”. Quanto à necessidade de definição da escala espacial, esta se assenta no fato de que, devido às características próprias e distintas de cada ecossistema, não existe um indicador ou conjunto de indicadores único aplicável de modo universal (CAMINO V.; MÜLLER, 1993). A utilização de indicadores de sustentabilidade, por conseguinte, deve se fundamentar nos objetivos ou metas do desenvolvimento sustentável de determinada realidade. Nas palavras de Clara Nicholls (2001, apud MOURA, 2002, p. 42), isto significa “definir prioridades onde é inevitável a subjetividade”, mesmo que já existam metas estabelecidas – em legislação local ou convenções e protocolos internacionais – para alguns indicadores. Com referência à escala temporal, esta evoca, por um lado, o conceito de desenvolvimento sustentável, buscando conciliar as necessidades das gerações presentes com as das gerações futuras. Por outro, exige que não se olvide da viabilidade da obtenção de dados, conforme a proposta definida. 44 Camino V. e Müller (1993) sugerem uma estrutura metodológica para a definição de indicadores de sustentabilidade para qualquer tipo de sistema, a qual é adotada no presente estudo. Na proposta dos autores, o processo de definição de indicadores é composto por sete etapas, conforme mostra a Figura 6. De maneira geral, um sistema apresenta dois grupos de características: a estrutural e a funcional (ROSNAY, [1993?]). Assim, o primeiro passo, onde é definido o sistema a ser avaliado, implica não apenas na delimitação espacial do objeto de estudo, mas também na caracterização desse, identificando sua estrutura (elementos físicos, biológicos e socioeconômicos), seus limites, e as interações existentes entre os seus subsistemas e elementos internos e entre o próprio sistema e o meio externo (inclusive com os supra-sistemas do qual fazem parte). Figura 6 – Estrutura metodológica para definição de indicadores de sustentabilidade para sistemas em geral. Fonte: Camino V. e Müller (1993). Acerca da aplicação dessa abordagem sistêmica à agricultura, Conway (1993, apud MOURA, 2002, p. 51) afirma que, para a compreensão e avaliação da sustentabilidade da mesma, “a visão do sistema em suas diferentes dimensões, a análise de sua estrutura e função e a identificação das inter-relações intra e intersistemas constituem elementos básicos”. O segundo e terceiro passos referem-se, respectivamente, à identificação das categorias e dos elementos do sistema, entendidos como relevantes, seja pelo grau 45 de influência desses na sustentabilidade do sistema, seja pela importância que eles assumem ante a finalidade do estudo. As categorias e elementos significativos referem-se ao que Hansen (1996) e Marzall (1999), mencionados por Lopes (2001, p. 39), denominam de atributos-chave que se acredita influenciar na sustentabilidade do sistema. A Figura 7 mostra as categorias e elementos propostos por Avila (1989) e Torquebiau (1989), ambos citados por Daniel (2000, p. 24-25), e por Camino V. e Müller (1993), para a definição de indicadores para um sistema específico. Essa estrutura foi elaborada e empregada por Daniel (2000) na definição de indicadores de sustentabilidade para SAF, e também é tomada como base para a realização de algumas etapas deste estudo. Segundo o autor, para qualquer sistema e em qualquer nível de organização ou agregação, podem ser utilizadas quatro categorias, quais sejam: • recursos endógenos: tratam-se da base de recursos do sistema e, portanto, compõem a parte estrutural desse. Os indicadores relacionados a essa categoria devem evidenciar se o sistema impacta negativamente ou se melhora a base de recursos; • recursos exógenos: compõem-se dos mesmos elementos da categoria dos recursos endógenos, não obstante são os recursos de sistemas externos com os quais o sistema estudado mantém relações, ou seja, afetam e são afetados. Também se referem à parte estrutural, nesse caso, de sistemas exógenos; • operação do sistema: são as atividades necessárias à exeqüibilidade do sistema, ou seja, constituem a sua parte funcional. Os indicadores desta categoria devem mostrar se o seu manejo e desempenho são compatíveis com as exigências da sustentabilidade; • operação de sistemas exógenos: são atividades exógenas necessárias à exeqüibilidade do sistema. Constituem, portanto, a parte funcional. 46 Figura 7 – Estrutura para definição de um grupo de indicadores de sustentabilidade para um sistema específico. Fonte: Daniel (2000, p. 25). Os dois passos seguintes (quarto e quinto) tratam da escolha dos descritores – aspectos relevantes dos elementos selecionados na etapa anterior – e dos indicadores, ou seja, das medidas importantes para esses descritores. No quinto passo também é realizada a pesquisa de campo. As etapas subseqüentes (sexta e sétima) envolvem a análise dos indicadores e o acompanhamento da evolução desses ao longo do tempo. Esta última etapa é a única que não é envolvida no presente trabalho, posto que a atividade de monitoramento pressupõe o acompanhamento e avaliação contínuos da sustentabilidade. Nesse sentido, para a definição e operacionalização dos indicadores de sustentabilidade neste estudo, adotaram-se os seguintes aspectos norteadores, adaptados de Moura (2002, p. 45): a) quanto aos pressupostos: partir de uma noção clara de sustentabilidade, considerando os princípios e as exigências da mesma, e representar um equilíbrio entre os interesses ambientais, econômicos e sociais; b) quanto à metodologia: “apresentar um enfoque sistêmico; quantificar fenômenos complexos; contemplar as interrelações entre os indicadores” e atentar para os atores envolvidos na questão; 47 3) quanto à validade: possibilitar a comparação entre si; ser de fácil interpretação; apresentar limites óbvios que distingam o sustentável do insustentável e ser objetivo e capaz de medir alterações nos sistemas; estar contextualizados em relação ao local, ao investigador e ao público a quem interessam as informações; 4) quanto à relevância: apresentar relevância para o público alvo e para políticas públicas; ser capaz de relacionar elementos e processos dos agroecossistemas; ser confiável analiticamente; atender aos objetivos do processo de monitoramento; ser capaz de mostrar tendências no longo prazo e ser de replicável. 5) quanto à viabilidade: haver facilidade na obtenção de dados, preferencialmente com o emprego de recursos locais; ser de fácil mensuração, e rápida determinação e interpretação; apresentar um custo de implementação viável; 6) quanto à comunicação de informação: simplificar informações, permitindo a comunicação entre os diversos atores envolvidos no processo; ser de fácil compreensão para as pessoas comuns; gerar valores de referência para comparações. 48 4 METODOLOGIA 4.1 O Método Segundo Gil (1994, p. 27), método científico é “o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para se atingir o conhecimento”. O autor assinala duas classificações para o método científico utilizado nas Ciências Sociais: os métodos gerais e os específicos, definidos por Lakatos e Marconi (1991, p. 106) como método de abordagem e métodos de procedimento, respectivamente. Os primeiros “são os que proporcionam a base lógica para a investigação”, tratam-se de métodos essencialmente de raciocínio. Os métodos específicos, por sua vez, “são os que indicam os procedimentos técnicos a serem adotados na investigação científica” (GIL, op. cit., p. 28). O surgimento de novas realidades e a emergência de problemas dantes impensados (como os problemas ambientais, cujos questionamentos são recentes) têm exigido e propiciado o despontar de metodologias de investigação distintas dos métodos clássicos usuais. Em se tratando dos métodos gerais, a abordagem sistêmica, ou sistemismo, surge em 1936 com a Teoria Geral dos Sistemas. E o uso deste método de abordagem, tal como é considerado por Demo (1995, p. 60), nas questões sociais é ainda mais contemporâneo. Assim sendo, o estudo sobre sistemas agroflorestais, tal como é proposto aqui, fundamentando-se sobremaneira nos princípios da Agroecologia e da Economia Ecológica, remete a uma abordagem sistêmica acerca da temática, conforme se trata no referencial teórico. Para tanto, emprega-se a estrutura metodológica para definição de indicadores de sustentabilidade para sistemas em geral, proposta por Camino V. e Müller (1993), já mencionada no referencial teórico (Figura 6), e que norteia este estudo quanto às etapas necessárias para a seleção e identificação dos indicadores. 49 4.2 Objeto e Área de estudo Os sistemas agroflorestais constituem-se no objeto de estudo. Assim, em conformidade com a sua definição tratada no referencial teórico – segundo o qual o SAF corresponde a um “sistema de cultivo” e, ou “sistema de criação”, a depender dos seus componentes constitutivos –, o nível de análise desta pesquisa situa-se na parcela e, ou no grupo de animais, ou seja, subsistemas de uma unidade de produção rural (Quadro 2). Quadro 2 – Níveis de análise e objetos de síntese para análise de sistemas agrários18 NÍVEL DE ANÁLISE OBJETO DE SÍNTESE Internacional Mercado mundial Nacional Articulação intersetorial (agricultura/outros setores) Regional e microrregional Sistema agrário Unidade de produção Sistema de produção Grupo de animais (da mesma espécie) Sistema de criação Parcela (analisada de forma homogênea) Sistema de cultura Fonte: Garcia Filho ([2001?], p. 11). Com relação à área de estudo, esta abrange a zona rural do município de Una, localizado no Sul da Bahia, em área de Mata Atlântica. Trata-se de uma região alvo de programas conservacionistas, a exemplo do Projeto Corredores Ecológicos do Programa Piloto para Conservação das Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7), 18 Definidos pela “Análise Diagnóstico de Sistemas Agrários”-DSA, que é uma metodologia de análise de sistemas, supra e subsistemas agrários, baseada no enfoque sistêmico, que orienta a identificação dos elementos constitutivos daqueles, assim como dos processos (ecológicos, econômicos, técnicos, etc.) que culminam com o aparecimento desses elementos e suas (in)relações. A mesma é utilizada desde 1985 pelo Projeto de Cooperação Técnica firmado entre o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária e a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação-PCT INCRA/FAO (UTF/BRA/051/BRA). 50 devido à extensão dos remanescentes florestais e à grande riqueza de espécies da fauna e flora (BLANES et al., 2002, p. 1). O capítulo concernente ao município fundamenta o entendimento de que o mesmo se constitui em excelente área para o estudo da temática em questão. Isso é verificado basicamente por duas razões. A primeira refere-se à importância ambiental que tal região revela devido a sua localização estratégica, conforme pontuado acima. A segunda, diz respeito à relevância que as atividades do setor primário possuem em termos socioeconômicos e, conseqüentemente, ambientais, já que mais de 50% da população reside na zona rural, sendo que as atividades do setor primário representam mais de 62% das ocupações principais das pessoas (IBGE, 2000). 4.3 Processo de Amostragem Devido à diversidade e a complexidade do objeto de estudo – a miríade de variáveis que influenciam na sua estrutura, funcionamento, manutenção e sustentabilidade – adotam-se alguns procedimentos para a seleção da amostra, de modo que essa se configura como não-probabilística (MARCONI; LAKATOS, 1996, p. 47), resultando de um processo de amostragem dirigida e por acessibilidade. A amostra é definida consoante aos principais tipos de SAF historicamente estabelecidos na região de estudo, e que são mais freqüentemente adotados, segundo a percepção de especialistas da área. Como critério para o recorte, identificam-se os SAF típicos segundo as culturas permanentes que os compõem, já que ordinariamente essas são as culturas principais dos sistemas e que, portanto, constituem-se numa das variáveis principais que delimitam as características desses agroecossistemas, inclusive em termos econômicos, sociais e ambientais. Para a delimitação dos SAF típicos do município de Una, realizam-se, então, pesquisa bibliográfica, recorrendo à literatura relativa ao assunto, e pesquisa de campo, através de entrevistas com especialistas conhecedores de agroflorestas da região em foco. Por conseguinte, solicita-se aos especialistas e entidades de produtores – associações e cooperativas – a indicação de unidades de produção da área de estudo que possam representar os SAF típicos identificados. Após essas indicações, 51 a amostra é definida através da acessibilidade aos produtores e às informações necessárias ao estudo, dando-se preferência aos SAF com mais tempo de implantação. Seguindo esses procedimentos, ao final são selecionadas três unidades de produção agrícola do município de Una, que possuem SAF cujos componentes permanentes principais referem-se àqueles constituintes de cada um dos três tipos de sistemas agroflorestais identificados como sendo os mais adotados nessa região. Esse procedimento possibilita que os SAF amostrados apresentem outros componentes além daqueles apontados pelos especialistas. Esclarece-se que, considerando a miríade de aspectos que definem os SAF – tais como os tipos de componentes (permanentes e temporários), a disposição espacial e temporal, o sistema de produção, as práticas e os manejos adotados, o nível de tecnologia empregada, os insumos utilizados, dentre outros –, é certo afirmar que é impossível a ocorrência de dois SAF iguais numa mesma região. Dessa maneira, os SAF típicos amostrados apresentam os componentes permanentes mais freqüentemente adotados nos sistemas agroflorestais presentes em UPA do município de Una, mas resguardam especificidades que não necessariamente ocorrem nas outras unidades de produção agrícola dessa região. 4.4 Etapas do estudo e técnicas de pesquisa A descrição das etapas deste estudo tem como finalidade facilitar a compreensão sobre o processo e a lógica de construção da pesquisa e, sobremaneira, o percurso trilhado e as técnicas de pesquisas empregadas para o cumprimento dos objetivos. A Figura 8 apresenta essas etapas de forma sumária, que ora são detalhadas concomitantemente. 1ª etapa Corresponde à pesquisa bibliográfica sobre o uso de indicadores de sustentabilidade para avaliação de agroecossistemas. Esta etapa tem como fim identificar os aspectos metodológicos comuns e díspares quanto ao emprego desses indicadores em estudos realizados para avaliar agroecossistemas, assim como possíveis limitações para a reaplicação dessas metodologias noutras realidades. 1ª ETAPA 2ª ETAPA 3ª ETAPA 4ª ETAPA OBJETIVOS: Identificar os aspectos metodológicos comuns nos estudos sobre indicadores de sustentabilidade para avaliação de agroecossistemas. OBJETIVOS: Identificar os SAF típicos da região Sul da Bahia e do município de Una e os fatores relacionados à sua sustentabilidade. Definir a metodologia de mensuração da sustentabilidade de SAF típicos do Sul da Bahia. Definir as unidades de produção que serão amostradas. OBJETIVOS: Caracterizar o perfil socioeconômico dos produtores, das unidades produtivas e dos sistemas agroflorestais; obter dados para a mensuração do nível de sustentabilidade dos SAF. OBJETIVOS: Mensurar e analisar o grau de sustentabilidade socioeconômica e ambiental dos SAF. TÉCNICAS: Pesquisa bibliográfica TÉCNICAS: Pesquisa de campo (entrevista com especialistas sobre SAF da região) Pesquisa bibliográfica Figura 8 – Etapas da pesquisa. Fonte: Elaboração própria. TÉCNICAS: Pesquisa de campo (entrevista com produtores) TÉCNICAS: Conforme a metodologia de mensuração definida na 2ª etapa. 53 Outrossim, a 1ª etapa subsidia a estruturação do roteiro de entrevista com especialistas em agroflorestas da região e a construção da metodologia de avaliação da sustentabilidade de sistemas agroflorestais típicos da região Sul da Bahia. 2ª etapa Inclui a pesquisa com os especialistas (pesquisa de campo) e a pesquisa bibliográfica sobre os SAF típicos da região e do município de Una, realizadas nos meses de setembro e outubro de 2007. Essa fase do estudo objetiva: identificar os SAF típicos da região e do município de Una e os fatores que influenciam a sustentabilidade desses agroecossistemas; definir e selecionar as categorias, os elementos, os descritores, os indicadores e a metodologia de operacionalização do indicador de sustentabilidade para SAF da região. Nessa fase também se verifica as unidades de produção agrícola potenciais que possam compor a amostra dos SAF típicos do município de Una. 3ª etapa Corresponde à segunda pesquisa de campo do estudo, realizada no mês de fevereiro de 2008, e que visa caracterizar o perfil socioeconômico dos produtores; das suas unidades de produção e dos respectivos sistemas agroflorestais (que representam os SAF típicos detectados), como também obter dados para o cálculo dos indicadores de sustentabilidade desses sistemas. 4ª etapa Reúne a fase de tratamento dos dados, cálculo e análise da sustentabilidade socioeconômica e ambiental das unidades de produção. Tem como finalidade, por conseguinte, mensurar e analisar o grau de sustentabilidade socioeconômica e ambiental dos SAF. A seguir detalham-se os procedimentos e instrumentos metodológicos: da pesquisa sobre o uso de indicadores de sustentabilidade em estudos que avaliam agroecossistemas; da pesquisa sobre os SAF típicos da região realizada com especialistas; sobre a caracterização dos produtores, suas unidades produtivas e os SAF pesquisados; sobre a operacionalização e mensuração dos indicadores de sustentabilidade dos SAF típicos da região. 54 4.5 Pesquisa sobre indicadores de sustentabilidade para agroecossistemas Consoante ao exposto anteriormente, esta etapa tem como propósito identificar os aspectos comuns e as formas de operacionalização desses indicadores em estudo de avaliação da sustentabilidade de agroecossistemas. Considerando a recentidade da inserção das questões ambientais na determinação de níveis de desenvolvimento de aglomerados humanos, e, por conseguinte, da sustentabilidade desses, a pesquisa sobre indicadores de sustentabilidade aprofunda-se no que tange aos indicadores ambientais. Desse modo, verificam-se mais detalhadamente os aspectos comuns dos estudos quanto à composição dos indicadores ambientais e as limitações para reaplicar as metodologias dos estudos analisados noutras realidades. O procedimento metodológico adotado é a revisão bibliográfica a partir da seleção de textos e publicações sobre o tema indicadores de sustentabilidade para a avaliação de agroecossistemas. Selecionam-se, através de uma amostra por acessibilidade, trabalhos acadêmicos (teses, dissertações, monografias, artigos) e técnicos (relatórios e manuais) publicados entre os anos de 1999 a 2005. Assim, analisam-se os estudos quanto aos procedimentos metodológicos adotados, considerando os seguintes aspectos: • tipos de agroecossistemas avaliados; • técnicas de coleta de dados empregadas; • tipos de variáveis que compõem os indicadores (quantitativas, qualitativas); • métodos de cálculo e operacionalização dos indicadores; • quantidade e tipo de indicadores ambientais usados; • possíveis fatores limitantes da reaplicação das metodologias noutras realidades No caso dos indicadores ambientais, são considerados os indicadores denominados de ambientais, ecológicos, agroecológicos e biofísicos presentes nos estudos, comparando-os também a partir de aspectos metodológicos comumente encontrados, cujos procedimentos são descritos a seguir. 55 4.5.1 Metodologia de análise dos Indicadores ambientais Na composição de um indicador pode-se incluir mais de uma variável (ou parâmetro), de modo que muitas vezes, num único indicador, mesmo esse tendo certa especificidade (ex.: indicadores ambientais), são reunidos parâmetros diversos. Assim, para a análise dos indicadores ambientais dos estudos consultados estabelecem-se alguns critérios de procedimento. Os indicadores constituídos pelo somatório de vários parâmetros são desagregados de forma que cada parâmetro passa a ser considerado como um indicador. Por exemplo: Práticas conservacionistas = Uso de equipamento de proteção individual (E.P.I.) + Uso de esterco + Proteção do solo + Controle biológico + Proporção de matas na propriedade. Como esse tipo de somatório pode reunir num único indicador elementos distintos relativos às questões ambientais, opta-se pelo citado procedimento com o intuito de se identificar com mais fidedignidade os elementos de maior preocupação dos estudos. De outro modo, os indicadores auferidos por expressões matemáticas que estabelecem uma relação entre os parâmetros, como proporção (ex.: área de matas/área total), ou proporção complementar (ex.: 1- (consumo intermediário/produto bruto total)), são mantidos tal como se apresentam. Os indicadores são analisados sob uma perspectiva sistêmica, de modo que se empregam duas estruturas conceituais de classificação para se identificar e categorizar as questões concernentes à sustentabilidade ambiental dos agroecossistemas abordadas nos estudos pesquisados. Assim, uma das estruturas conceituais aplicadas nas análises dos aspectos comuns dos estudos é elaborada com base no esquema usado por Daniel (2000, p. 25). Dessa forma, os indicadores são agrupados segundo categorias e elementos do agroecossistema avaliado, conforme Figura 9. Como se verifica, essa estrutura conceitual estabelece dois tipos de classificações com relação aos indicadores de sustentabilidade: as categorias e os elementos. As categorias são as mesmas propostas por Daniel (2000), já tratadas no tópico sobre definição e seleção de indicadores de sustentabilidade do capítulo anterior. 56 SISTEMA Categorias Recursos endógenos Recursos exógenos - Água - Minerais - Solo - Flora - Fauna - Ar - Recursos Energéticos - Estrutura da Paisagem - Biodiversidade Operação do sistema Elementos Operação de sistemas exógenos - Manejo Técnico - Rendimento Técnico - Manejo e rendimento socioeconômico Figura 9 – Estrutura conceitual para classificação de indicadores de sustentabilidade para agroecossistemas. Fonte: Elaboração própria, adaptado de Daniel (2000). Nota: Os elementos “Estrutura da Paisagem” e “Biodiversidade” referem-se respectivamente aos fatores de zoneamento/organização do espaço do agroecossistema e às áreas de proteção e condições relativas à diversidade de espécies em geral. Quanto aos elementos, esses são partes, ou melhor, subsistemas de uma categoria. Considerando os propostos na Figura 9, exceto “estrutura da paisagem” e “biodiversidade”, todos os elementos de recursos endógenos e exógenos são listados por Avila (1989), Weber (1990), mencionados por Daniel (2000), e Daniel (2000), enquanto aqueles relacionados à operação de sistemas são listados por Avila e ampliados por Camino V. e Müller (1993). A inclusão dos elementos “estrutura da paisagem” e “biodiversidade”, assim como a supressão dos elementos ”recursos culturais” e “áreas únicas” (propostos pelos autores supracitados), dá-se com base em análise prévia dos estudos avaliados, buscando adequar a estrutura metodológica às características desses. A segunda estrutura conceitual utilizada para a classificação é o marco ordenador dos indicadores ambientais “Pressão-Estado-Resposta”-PER, proposto 57 pela OECD (CEPAL, 2001; TOMASONI, 2006). Neste marco, os indicadores se agrupam em três categorias: • Indicadores de pressão: denominados também de indicadores de stress, tratam de responder perguntas sobre as causas dos problemas no meio ambiente. Consideram, assim, as atividades antrópicas como as causadoras desses problemas, tais como a emissão e acumulação de dejetos. • Indicadores de estado: também conhecidos como indicador de qualidade ou efeito, respondem sobre o estado do ambiente. Ressaltam a qualidade e a quantidade de recursos naturais disponíveis, na presença da atividade humana. • Indicadores de resposta: também definidos como indicador de resposta social, tratam de responder perguntas sobre o que se está fazendo para resolver os problemas ambientais, ou seja, as ações e decisões tomadas para mitigar/resolver os impactos nos recursos naturais. O fluxograma apresentado na Figura 10 mostra a estrutura conceitual do modelo PER proposto pela OECD de modo esquemático, mostrando uma das possíveis interpretações de como se dá a interação entre as ações humanas e as condições ambientais de um dado sistema. Analisam-se ainda aspectos relativos à reaplicação das metodologias noutras realidades, a fim de se identificar possíveis fatores limitantes a seu uso. Os dados são tabulados e submetidos à estatística descritiva. 58 Figura 10 – Estrutura conceitual do modelo PER da OECD. Fonte: Gomes et al. (2000, apud TOMASONI, 2006, p. 99). 4.6 Identificação dos SAF típicos da região e dos indicadores de sustentabilidade Nesta etapa ocupa-se em obter diversas informações que subsidiam o cumprimento do objetivo geral e do último objetivo específico deste estudo. Para tanto, realizam-se pesquisa com especialistas da região e pesquisa bibliográfica, tratando sobre os SAF típicos da região e do município de Una e acerca da sustentabilidade desses. Os especialistas são definidos aqui como pessoas com conhecimentos técnicos (adquiridos pela formação acadêmica ou pela experiência prática) sobre agroflorestas e o desenvolvimento dessas na região Sul da Bahia e no município de Una. Selecionam-se especialistas que atuam na área de pesquisa e, ou extensão do desenvolvimento rural e ambiental na região – representantes da Estação Experimental Lemos Maia da CEPLAC, localizada no município de Una, do Escritório Local de Ilhéus da CEPLAC, do Centro de Extensão da CEPLAC, e do Instituto de Estudos Socioambientais do Sul da Bahia-IESB, ONG sediada em Ilhéus –, e que também representam cooperativas de produtores da região. 59 Realizam-se entrevistas semi-estruturadas com os mesmos19, nas quais se investigam as seguintes variáveis: • composição dos SAF típicos da região; • composição dos SAF típicos do município de Una; • fatores que contribuíram para a implantação e desenvolvimento dos SAF típicos na região; • fatores que afetam a sustentabilidade dos SAF; • pesos atribuídos às dimensões ambiental, econômica e social na determinação da sustentabilidade dos sistemas agroflorestais da região; • descritores e as respectivas categorias e elementos que melhor subsidiam na identificação do grau de sustentabilidade dos SAF, segundo a ótica dos especialistas. Os descritores são características importantes de um elemento, os quais estão subordinados aos principais atributos de sustentabilidade de um sistema e ao seu nível de agregação. Assim, por exemplo, para o elemento água tem-se o descritor “estado da água”. Os resultados são complementados com informações obtidas em literatura que tratava da agricultura e de sistemas agroflorestais da região. Os dados são analisados com base na estrutura conceitual para classificação de indicadores de sustentabilidade para agroecossistemas, apresentada na Figura 9, sendo tratados e submetidos à estatística descritiva. 4.6.1 Seleção de categorias, elementos e descritores de sustentabilidade Os indicadores de sustentabilidade são definidos com base no referencial teórico tratado, na pesquisa referente a estudos existentes sobre indicadores de sustentabilidade para avaliação de agroecossistemas (1ª etapa) e na pesquisa realizada com especialistas em SAF da Região Sul da Bahia (2ª etapa). Os dados de ambas as pesquisas são apresentados no capítulo de resultados e discussão. 19 Carta de Chefe de Serviço, Termo de Consentimento Livre e Esclarecido-TCLE e roteiro da entrevista nos Apêndices A e B, respectivamente. 60 Nesse sentido, os indicadores encontram-se agrupados em três dimensões: ambiental, econômica e social. Considera-se ainda, com base na literatura consultada, que a sustentabilidade, assim como sua expressão em cada dimensão, é alcançada, e, portanto, deve ser avaliada, segundo cinco critérios: produtividade, estabilidade, eqüidade, resiliência e autonomia. Por conseguinte, em cada dimensão há pelo menos um indicador em cada um desses critérios estabelecidos. A seleção dos parâmetros e descritores que compõem os indicadores de sustentabilidade é realizada com base nos aspectos que apresentam o maior número de indicações dos especialistas entrevistados, e que se referem à sustentabilidade dos SAF típicos da Região Sul baiana. A relação dos aspectos considerados para a composição dos indicadores é apresentada na íntegra no Quadro 3. Tal relação é obtida através do cruzamento dos resultados obtidos com as questões 5ª, 6ª e 7ª do roteiro das entrevistas com especialistas20 (Apêndice B), e que são apresentados na Tabela 1C. 20 A 6ª questão do referido roteiro propicia a identificação de variáveis relativas à sustentabilidade dos SAF de forma mais objetiva, posto que se trata de uma questão fechada de múltipla escolha. As questões 5ª e 7ª, por sua vez, complementam esses resultados com variáveis que não são previstas na 6ª questão, propiciando que os especialistas apontassem de forma mais livre aspectos e fatores que entendem serem influenciadores da sustentabilidade dos SAF. 61 Quadro 3 - Aspectos considerados para a composição do indicador de sustentabilidade dos SAF do Sul da Bahia - por dimensão, categoria e elemento Dimensão/Categorias/Elementos/Aspectos Dimensão/Categorias/Elementos/Aspectos AMBIENTAIS Recursos endógenos Água Estado(condição) Precipitação Contaminantes(aplicação) Conservação(prática/estado) Solo Conservação Microclima Qualidade química Qualidade biológica Qualidade física Contaminantes Luz Radiação Flora Reprodução Diversidade Cadeia trófica Espécies raras Alteração de habitats Dinâmica Pragas e doenças Estrutura Mutualismo Fauna Reprodução Diversidade Cadeia trófica (predadores) Espécies raras Vida silvestre (abrigo) Parasitos e doenças Contaminantes Estrutura Ar Estado Microclima Recursos Energéticos Consumo Áreas únicas Área de proteção Operação do sistema Manejo técnico Resíduos Uso de recursos naturais não-renováveis Matéria orgânica Práticas culturais AMBIENTAIS Operação do sistema Manejo técnico Colheita e manejo florestal Rendimento técnico Vegetais cultivados Animais manejados Recursos exógenos Água Estado(condição) Solo Conservação Flora Espécies raras Alteração de habitats Fauna Cadeia trófica Alteração de habitats Ar Estado Áreas únicas Área de proteção SOCIAIS Operação do sistema Saúde e nutrição Satisfação Eqüidade Empregos Educação Saber cultural Habitação e saneamento básico Perspectivas Barreira cultural Conscientização ambiental do produtor Qualidade de vida ECONÔMICOS Operação do sistema Manejo e rendimento socioeconômico Agregação de valor Produtividade Administração Economia de recursos Relações de propriedade Análise econômica Diversificação da produção Reprodução social simples Participação em associações/cooperativas Disponibilidade de mão-de-obra 62 Quadro 3 - Continuação Dimensão/Categorias/Elementos/Aspectos Dimensão/Categorias/Elementos/Aspectos ECONÔMICOS Operação de sistemas exógenos Manejo e rendimento socioeconômico Comercialização Agregação de valor ECONÔMICOS Operação de sistemas exógenos Manejo e rendimento socioeconômico Suporte e influência de instituições técnicas Especulação imobiliária de terras Limitações legislativas para explotação de espécies florestais Disponibilidade de crédito Infra-estrutura rural Fonte: Dados da pesquisa. Na seqüência, realizam-se dois outros passos para a definição dos descritores e indicadores: 1°) Pré-seleção dos aspectos mais indicados apresentados na Tabela 1C, reunindo aqueles que têm um mínimo de 5, 6 e 7 indicações, e cujas listagens resultantes são apresentadas no Quadro 4. Essa pré-seleção possibilita a verificação do número total de possíveis descritores que são obtidos com cada limite mínimo de indicações estabelecido. Os totais de descritores obtidos são de 31, 22 e 10 para um mínimo de 5, 6 e 7 indicações, respectivamente (Quadro 4). 2°) Definição dos descritores e indicadores tomando como base a listagem dos aspectos com um mínimo de 7 indicações. Acrescentam-se ainda 2 aspectos com um mínimo de 6 indicações para cumprir o princípio de se ter pelo menos um indicador em cada um dos cinco critérios pré-estabelecidos. Os descritores selecionados encontram-se destacados em amarelo no Quadro 4. 63 Quadro 4 – Relação dos aspectos mais indicados pelos especialistas para a composição dos indicadores de sustentabilidade dos SAF, segundo o mínimo de indicações, 2007 Dimensões/categorias/elementos/aspectos Mínimo de 5 indicações Mínimo de 6 indicações Mínimo de 7 indicações AMBIENTAIS AMBIENTAIS AMBIENTAIS Recursos endógenos Recursos endógenos Recursos endógenos Água Água Água 1.Estado(condição) 4.Conservação(prática/estado) 4.Conservação(prática/estado) 4.Conservação(prática/estado) Solo Solo Solo 5.Conservação 5.Conservação 5.Conservação 8.Qualidade biológica 8.Qualidade biológica 10.Contaminantes Flora Flora Flora 13.Diversidade 13.Diversidade 13.Diversidade 17.Dinâmica 20.Mutualismo Fauna 26.Parasitos e doenças Ar 30.Microclima Recursos Energéticos Recursos Energéticos Recursos Energéticos 31.Consumo 31.Consumo 31.Consumo Áreas únicas Áreas únicas Áreas únicas 32.Área de proteção 32.Área de proteção 32.Área de proteção Operação do sistema Operação do sistema Manejo técnico Manejo técnico 35.Matéria orgânica 35.Matéria orgânica 36.Práticas culturais 36.Práticas culturais Rendimento técnico Rendimento técnico 38.Vegetais cultivados 38.Vegetais cultivados Recursos exógenos Recursos exógenos Água Água 40.Estado(condição) 40.Estado(condição) Solo Solo 41.Conservação 41.Conservação Áreas únicas Áreas únicas 47.Área de proteção 47.Área de proteção SOCIAIS SOCIAIS SOCIAIS Operação do sistema Operação do sistema Operação do sistema 48.Saúde e nutrição 48.Saúde e nutrição 48.Saúde e nutrição 49.Satisfação 49.Satisfação 50.Eqüidade 50.Eqüidade 53.Saber cultural 53.Saber cultural 53.Saber cultural ECONÔMICOS ECONÔMICOS ECONÔMICOS Operação do sistema Operação do sistema Operação do sistema Manejo e rendimento Manejo e rendimento Manejo e rendimento socioeconômico socioeconômico socioeconômico 56.Agregação de valor 57.Produtividade 59.Economia de recursos 59.Economia de recursos 59.Economia de recursos 64 Quadro 4 – Continuação Dimensões/categorias/elementos/descritores Mínimo de 5 indicações Mínimo de 6 indicações Mínimo de 7 indicações 62.Diversificação da produção 62.Diversificação da produção 64.Participação em 64.Participação em 64.Participação em associações/cooperativas associações/cooperativas associações/cooperativas Operação de sistemas Operação de sistemas Operação de sistemas exógenos exógenos exógenos Manejo e rendimento Manejo e rendimento Manejo e rendimento socioeconômico socioeconômico socioeconômico 65.Comercialização 65.Comercialização 65.Comercialização 66.Agregação de valor 66.Agregação de valor 66.Agregação de valor 67.Disponibilidade de crédito 68.Infra-estrutura rural 68.Infra-estrutura rural Total de aspectos: 31 Total de aspectos: 22 Total de aspectos: 10 Fonte: Dados da pesquisa. 4.7 Caracterização dos produtores, das unidades produtivas e dos SAF Para a caracterização dos produtores, das suas unidades de produção e dos SAF típicos que adotam em suas áreas, são consideradas as seguintes variáveis: 1. Caracterização do produtor, composta por • Tipologia do produtor, segundo a classificação empregada pelo Diagnóstico de Sistemas Agrários-DSA (DUFUMIER, 1996; GARCIA FILHO, [2001?]), cujas categorias são: - produtor familiar: cujas atividades do sistema de produção agrícola da propriedade são exercidas pela força de trabalho disponível na família, sendo que essas atividades são suficientes para assegurar o mínimo necessário para o sustento da família sem que haja necessidade de rendimentos externos. - pequeno produtor patronal: cujos rendimentos da propriedade não são suficientes para assegurar o sustento da família nem da exploração agrícola, de modo que normalmente combinam as atividades agrícolas com atividades externas (atividades artesanais, ou comerciais, etc.). A mão-de-obra na propriedade normalmente é composta por membros da família e por trabalhadores assalariados. 65 - produtor de grandes unidades de produção: chama-se de produtor patronal de grandes unidades de produção agrícola quando as atividades agrícolas da propriedade são realizadas quase que totalmente por mão-de-obra assalariada e o proprietário participa ativamente da gestão execução dos trabalhos; chama-se de produtor capitalista quando o produtor confia a gestão e todas as atividades agrícolas a pessoal assalariado. • Gênero • Nível de instrução • Principal atividade • Forma de aquisição da propriedade • Percentual da Renda Não-Agrícola (RNA): é a proporção da Renda Total da família que é auferida através de atividades não-agrícolas, de aposentadorias, de aluguéis, etc. recebidas por membros da família 2. Caracterização da unidade de produção, definida por: • Tipo de produção: orgânica ou convencional • Área Total da Propriedade (AT): engloba a totalidade da área da unidade de produção utilizada na produção ou preservação • Tipo e quantidade de mão-de-obra empregada na propriedade • Produto Bruto Total (PBT): é o valor final dos produtos e serviços gerados durante o ano pela unidade de produção, tais como: a produção vendida, produção consumida pela família, a produção estocada, produção utilizada na forma de pagamento de serviços de terceiros, a variação do rebanho animal e a remuneração paga por terceiros a serviços prestados pela mão-de-obra familiar. É medido em R$/ano • % RA sobre RT: é a proporção da Renda Total da família que é auferida através das atividades desenvolvidas na propriedade, ou seja, a renda agrícola 3. Caracterização do SAF composta por: • Área Total do SAF (ASAF): é a área ocupada pelo sistema agroflorestal típico em cuja categoria se enquadra a propriedade na pesquisa (ASAF ≤ AT) 66 • % ASAF sobre AT: é o percentual da área ocupada pelo sistema agroflorestal típico em relação à área total da propriedade • Componentes utilizados em todo ciclo do SAF: são todas as espécies (animais e vegetais) adotados na composição do SAF, desde sua implantação até o momento atual • Idade dos principais componentes, em anos • UTHSAF: é a Unidade de Trabalho Humano empregado no SAF, e corresponde à unidade de medida utilizada para mensurar a quantidade de trabalho na atividade agrícola (empregada no sistema). É o somatório total de UTH do sistema (mão-de-obra familiar utilizada mais mão-de-obra contratada, permanente ou temporária, utilizada no SAF). Para fins de cálculo são usados os seguintes coeficientes para transformação da mão-de-obra disponível em UTH: pessoas com 7 a 13 anos = 0,5 UTH; pessoas com 14 a 17 anos = 0,65 UTH; pessoas com 18 a 59 anos = 1 UTH; pessoas com mais de 60 anos = 0,65 UTH (MOURA, 2002) • Produção do SAF: é a estimativa de biomassa vegetal efetivamente colhida no SAF no ano anterior à pesquisa, medida em toneladas (DANIEL, 2000) • Produção/ASAF: é a produtividade da área do SAF obtida dividindo-se a produção pela área, medida em toneladas por hectare ano (T/ha/ano) • Produção/UTHSAF: é a produtividade da mão-de-obra do SAF obtida dividindo-se a produção por UTHSAF, medida em toneladas por unidade de trabalho humano ano (T/UTH/ano) • Calendário agrícola do SAF • PBSAF: é o Produto Bruto do SAF relativo ao ano anterior à pesquisa, medido em R$/ano (valores nominais) • % PBSAF sobre PBT: é a percentagem do PBT referente ao valor da produção do SAF • IDPSAF: é o Índice de Diversificação da Produção do SAF, sendo que IDPSAF = 1/ΣFx², em que Fx é a fração do PBSAF referente a cada produto do SAF, ou seja, refere-se ao faturamento auferido com cada produto do sistema no exercício do ano que antecede a pesquisa. O IDPSAF não tem unidade (HOFFMANN, 1984, apud SEVERO, RIBAS e MIGUEL, 2004) • CISAF: é o Consumo Intermediário do sistema. Compreende os gastos com manutenção, insumos e serviços terceirizados e é medido em R$/ano 67 • 1-(CISAF/PBSAF): é a proporção do Produto Bruto do SAF (PBSAF) que é auferida com recursos do próprio sistema (SEVERO, RIBAS e MIGUEL, 2004) • (PBSAF-CISAF)/ASAF: é o rendimento dos recursos internos do sistema por hectare, medido em R$/ha/ano • (PBSAF-CISAF)/UTHSAF: é o rendimento dos recursos internos do sistema por unidade de trabalho humano, medido em R$/UTH/ano • % RSAF: é o percentual da Renda Total da família que é auferida através dos produtos e serviços gerados pelo SAF • Fluxos de insumos e produtos do SAF com outros subsistemas da propriedade, e do mesmo com sistemas externos (Figura 11) Objetiva-se ter uma compreensão geral dos SAF através da última variável. Dessa forma, utiliza-se um esquema de representação gráfica similar à apresentada na Figura 11. Figura 11 – Exemplo de representação da estrutura de um agroecossistema e seus fluxos de produtos com seus subsistemas e com sistemas endógenos. Fonte: Garcia Filho ([1997?], p. 28). 68 Essas variáveis são coletadas por meio de entrevistas semi-estruturadas com produtores de Una21, proprietários de unidades produtivas com SAF com componentes conforme cada um dos sistemas típicos identificados. 4.8 Definição e operacionalização dos indicadores de sustentabilidade para SAF Camino V. e Müller (1993), tratando de sistemas genéricos, afirmam que a quantidade ideal de indicadores de sustentabilidade encontra-se entre 6 e 8, enquanto Torquebiau (1989, apud DANIEL, 2000), trabalhando com sustentabilidade para pomares domésticos, obtém 24 indicadores. Daniel (2000) sugere um mínimo de 105 indicadores para a avaliação da sustentabilidade SAF, trabalhando com 87 desses numa pesquisa empírica. Lopes (2001), avaliando a sustentabilidade de sistemas agroflorestais segundo arranjos institucionais adotados, emprega 10 indicadores agregados. Moura (2002), por sua vez, faz uso de 15 indicadores agregados para avaliar a sustentabilidade de unidades de produção de fumo. Severo, Ribas e Miguel (2004), fundamentados sobremodo no estudo de Moura, também empregam 15 indicadores para avaliar unidades extrativistas de samambaia no Litoral do Rio Grande do Sul. O Instituto Rede Brasileira de Agrofloresta – REBRAF, no “Projeto Formação Agroflorestal em Rede na Mata Atlântica”, utiliza 28 indicadores agregados para a avaliação de aspectos econômicos, sociais, ecológicos, paisagísticos, culturais, referentes ao solo de SAF no referido bioma (REBRAF, 2003). No presente estudo, após o processo de seleção dos aspectos relativos à sustentabilidade dos SAF (descrito no tópico 4.6.1), auferem-se 13 descritores, compostos por 37 indicadores originais, sintetizados em 15 indicadores agregados. Esses últimos encontram-se distribuídos entre os cinco critérios (produtividade, estabilidade, eqüidade, resiliência e autonomia) e as três dimensões (Ambiental, Econômica e Social), conforme Quadro 5. No referido quadro são apresentados os seguintes itens: 21 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e roteiro de entrevista nos Apêndices A e B, respectivamente. 69 • dimensão: refere-se ao enfoque com o qual o indicador agregado tem uma maior relação; • critério: característica concernente à sustentabilidade do sistema e na qual se assenta a avaliação proposta pelo indicador agregado; • nome do indicador agregado: atribuído pelo pesquisador de modo a identificar o significado do índice após a agregação de indicadores originais correspondentes, bem como a sua pertinência para retratar determinadas condições dos sistemas em análise; • categorias dos descritores: aspectos relativos ao sistema, conforme indicado na Figura 7, e aos quais pertencem os descritores que compõem o indicador agregado; • elementos: subsistemas das categorias selecionadas, e que são enfocados pelos indicadores; • descritores: aspectos relevantes dos elementos selecionados, e que servem de base para a definição dos indicadores originais; • indicadores originais22: são características significativas de cada descritor. São definidos com base nos fatores que influenciam a sustentabilidade dos sistemas avaliados. Constituem-se de variáveis qualitativas e, ou quantitativas. Os valores atribuídos às primeiras são definidos em conformidade com a relação dessas com a sustentabilidade e com base na literatura consultada, de modo que variam de zero, situação limite contrária à manutenção do sistema no longo prazo, a um, situação ideal para essa manutenção. Os valores das segundas correspondem aos valores observados nas unidades de produção pesquisadas. Acrescenta-se que a definição dos indicadores e sua alocação em cada dimensão obedece, ordinariamente, à dimensão dos descritores selecionados no Quadro 4. Não obstante, conforme a necessidade de se gerar indicadores representativos de determinado critério de avaliação em questão, alguns descritores, originalmente de uma dada dimensão, são tomados como referência para a composição de indicadores de outras dimensões. 22 Referem-se às variáveis originárias que compõem os indicadores agregados. Quadro 5 – Descrição dos indicadores de sustentabilidade utilizados no estudo Dimensão AMBIENTAL Critério Produtividade Nome do indicador agregado I P – Produtividade ambiental I E – Estabilidade ambiental I I - Eqüidade ambiental I Categorias dos descritores Operação do sistema Recursos endógenos Operação do sistema Recursos endógenos Recursos endógenos Elementos Rendimento técnico Água e Solo Manejo técnico Flora, Recursos energéticos e Áreas únicas Recursos energéticos Descritores Rendimento técnico dos vegetais cultivados Conservação da água; Conservação do solo Manejo técnico dos recursos naturais Diversidade da flora; Consumo dos recursos energéticos; Áreas de proteção Consumo dos recursos energéticos 1. Estimativa do peso da biomassa vegetal efetivamente colhida no sistema por -1 hectare(T.ha/ano ) 1. Existência de sinais de destruição, desaparecimento ou soterramento de corpos d’água (lagoas, açudes, rios, riachos, fontes, etc.) na propriedade : 1. O manejo e uso dos recursos naturais na propriedade são definidos e realizados: Indicadores originais A Estabilidade A Estima-se toda a sim=0 produção vegetal (arbórea e não arbórea) não=1 efetivamente colhida no 2. Medidas são sistema, tanto aquela empregadas para destinada ao consumo conservar ou recuperar quanto à comercialização, corpos d’água na ao longo do ano que propriedade : Eqüidade A somente por homens adultos=0,25 somente por homens e mulheres adultos=0,5 somente por adultos (homens e mulheres) e adolescentes=0,75 por adultos, adolescentes e idosos=1 Resiliência A R - Resiliência ambiental 1. N° total de componentes da flora, utilizados em todo o ciclo do sistema (unid.) 2. Proporção da energia utilizada de fonte renovável : valor mínimo=0 valor máximo=1 Autonomia A A I – Autonomia ambiental 1. Proporção da energia e combustível consumidos e que são gerados internamente sobre o total de energia e combustível utilizados nos processos de produção e reprodução social da propriedade : valor mínimo=0 valor máximo=1 3. Existência de medidas 2. Existência de estoques para redução de de florestas plantadas desperdícios de energia para fins energéticos na 71 Quadro 5 – Continuação Dimensão Critério AMBIENTAL Produtividade antecedeu a pesquisa, dividindo-se o resultado pela área do SAF. A produtividade ambiental é expressa em toneladas por hectare ano. Indicadores originais Estabilidade Eqüidade Resiliência Autonomia sim=1 na propriedade : propriedade : não=0 sim=1 sim=1 não=0 não=0 3. As marcas de erosão na propriedade(ou no sistema?) mostram : formação de voçorocas e deposição de solo superficial nas baixadas=0,25 perda de solo superficial e pequenos valos=0,5 pequenas perdas de solo superficial=0,75 não existe nenhuma erosão aparente=1 4. A água que escorre do sistema : tem forte cor de terra=0,25 tem cor de terra=0,5 tem cor de terra, mas ainda é clara=0,75 sai limpa=1 5. Usa fogo no sistema : sempre=0,25 só nas capoeiras=0,5 4. Proporção do fragmento florestal em relação à área total da propriedade : valor mínimo=0 valor máximo=1 5. Proximidade do(s) fragmento(s) florestal(is) da propriedade em relação à vizinhos e, ou áreas protegidas : muito distante=0,25 afastado=0,5 próximo=0,75 praticamente um contínuo=1 72 Quadro 5 – Continuação Dimensão Critério AMBIENTAL Produtividade Estabilidade Eqüidade Resiliência Autonomia Resiliência Autonomia poucas vezes=0,75 nunca=1 6. Práticas de conservação do solo : não utiliza nenhuma prática de conservação do solo=0 realiza apenas uma prática (ex.:curva de nível, adubação verde, terraceamento)=0,5 realiza mais de uma prática de conservação do solo =1 Indicadores originais Dimensão ECONÔMICA Critério Produtividade Nome do indicador agregado I P – Produtividade econômica I E – Estabilidade econômica I I - Eqüidade econômica I R – Resiliência econômica I A – Autonomia econômica Categorias dos descritores Operação do sistema Operação do sistema e de sistemas exógenos Operação do sistema e de sistemas exógenos Operação do sistema Operação do sistema e de sistemas exógenos Elementos Manejo e rendimento socioeconômico Manejo e rendimento socioeconômico Manejo e rendimento socioeconômico Manejo e rendimento socioeconômico Manejo e rendimento socioeconômico Economia de recursos Comercialização; Participação em associações/cooperativa; Agregação de valor Comercialização; Participação em associações/cooperativa Diversificação da produção Economia de recursos; Comercialização Descritores E Estabilidade E Eqüidade E E E 73 Quadro 5 – Continuação Dimensão Critério ECONÔMICA Produtividade 1. Rendimento dos recursos internos do sistema por hectare, dado pela fórmula: (PBSAF-CISAF)/ASAF (R$/ha) Indicadores originais Estabilidade 1. Nível de satisfação do produtor quanto à comercialização (processo, acesso ao mercado, retorno financeiro) da produção do SAF, expresso em proporção: PBSAF = Produto Bruto valor mínimo=0 do SAF (em R$), ASAF = (corresponde a 0% de Área do SAF (em ha) e satisfação) CISAF = Consumo Intermediário do sistema valor (em R$). PBSAF máximo=1(corresponde corresponde ao valor final a 100% de satisfação) dos produtos gerados no 2. Nível de participação decorrer do ano no em associações e, ou sistema. Integra o cooperativas : Produto Bruto a produção não associado=0 vendida, a produção associado=0,5 consumida pela família, a produção estocada, a associação com produção utilizada na participação efetiva=1 forma de pagamento de 3. Valorização dos serviços de terceiros. Ou produtos em função de seja, a totalidade da terem origem em um produção bruta do sistema dito sistema. O CISAF sustentável : compreende os gastos sim=1 com manutenção, não=0 insumos e serviços terceirizados. O indicador Eqüidade Resiliência Autonomia 1. Pessoas vinculadas à 1. Índice de diversificação 1. Proporção do Produto propriedade (família, Bruto do SAF (PBSAF) da produção do SAF funcionários) que que é auferida com (IDPSAF) = 1/ΣFx², em normalmente participam recursos do próprio que Fx é a fração da do processo de sistema, dado pela renda total referente a fórmula: 1comercialização : cada produto : (CISAF/PBSAF) : somente homens valor mínimo=0 adultos=0,25 A renda para o cálculo do valor máximo=1 somente homens e IDPSAF refere-se ao mulheres adultos=0,5 faturamento auferido com 2. Forma como é realizada cada produto do sistema somente adultos a venda dos produtos : no exercício do ano que (homens e mulheres) e entregando tudo à antecede a pesquisa. O adolescentes=0,75 intermediários=0,2 adultos, adolescentes e IDPSAF não tem unidade. parte para idosos=1 intermediários e parte é 2. Pessoas vinculadas à vendido direto ou por propriedade (família, grupo organizado=0,4 funcionários) que venda direta normalmente participam individual=0,6 e freqüentam as parte é venda direta reuniões e discussões individualmente e parte da associação e, ou por grupo cooperativa: organizado=0,8 o produtor não tem venda direta vínculo com participando de grupo associações/ organizado=1 cooperativas=0 3. O mercado para os somente homens produtos atinge adultos=0,25 abrangência além do somente homens e local : mulheres adultos=0,5 74 Quadro 5 – Continuação Dimensão ECONÔMICA Critério Produtividade Indicadores originais verifica quanto cada hectare do sistema contribui na composição da parcela da produção total do SAF gerada com recursos do próprio sistema. Estabilidade Eqüidade Resiliência Autonomia somente adultos (homens e mulheres) e adolescentes=0,75 adultos, adolescentes e idosos=1 Dimensão sim=1 não=0 SOCIAL Critério Produtividade Nome do indicador agregado I Categorias dos descritores Operação do sistema Elementos Descritores S P – Produtividade social Estabilidade S E S S R S A Operação do sistema Operação de sistemas exógenos Operação do sistema Operação do sistema - - - - - Rendimento técnico dos vegetais cultivados; Economia de recursos Saúde e nutrição Saber cultural Saúde e nutrição; Saber cultural Saúde e nutrição; Saber cultural 1. Condições da água para consumo humano : 1. Maioria dos membros da comunidade que dominam as informações necessárias para implantar e manejar o SAF de forma no mínimo razoável : 1. N° intoxicações de 1. Proporção dos alimentos consumidos pessoas por agrotóxicos nos 10 últimos anos na que provêm da história da propriedade : propriedade : valor mínimo=0 3 vezes ou mais=0,25 valor máximo=1 2 vezes=0,5 não existe ou não é apropriada para o consumo humano=0 a água para o consumo humano é limitada=0,5 - Resiliência social Autonomia I 2. Rendimento dos recursos internos do sistema por unidade de – Estabilidade social Resiliência I I - Eqüidade social 1. Estimativa do peso da biomassa vegetal não arbórea efetivamente colhida no sistema por Indicadores mão-deoriginais -1 obra(T.UTH/ano ) I Eqüidade I – Autonomia social 75 Quadro 5 – Continuação Dimensão Critério SOCIAL Produtividade trabalho humano, dado pela fórmula: (PBSAFCISAF)/UTHSAF. Verifica o quanto a parcela do Produto Bruto Total gerada com recursos do próprio sistema contribui para reprodução social (R$ UTH/ano-1). Indicadores originais Estabilidade a água para o consumo humano é abundante=1 2. As pessoas vinculadas à propriedade (família, funcionários) têm acesso à assistência pública de saúde : sim=1 não=0 3. Destino dos resíduos líquidos (esgoto) gerados na propriedade : UTHSAF = Unidade de Trabalho Humano empregado no SAF. Corresponde à unidade disposição a céu aberto, de medida utilizada para vala, ou destinado a mensurar a quantidade de cursos d’água=0 trabalho na atividade fossa negra=0,5 agrícola (empregada no sistema). É o somatório fossa séptica ou rede total de UTH do sistema pública =1 (mão-de-obra familiar 4. Destino dos resíduos utilizada mais mão-desólidos (lixo) gerados na obra contratada, propriedade : permanente ou temporária, utilizada no disposição a céu aberto, SAF). Para fins de cálculo ou vala=0 são usados os seguintes queima=0,25 coeficientes para transformação da mãoenterra=0,5 de-obra disponível em Eqüidade os homens adultos=0 Resiliência 1 vez=0,75 normalmente a família nenhuma=1 de produtores, incluindo 2. Existência de adolescentes e adultos membro(s) da família e, de ambos os sexos=0,5 ou administrador do vários indivíduos da sistema/propriedade comunidade=1 que fez algum tipo de treinamento sobre o manejo de SAF : sim=1 não=0 Autonomia 2. Grau de conhecimento para operar o SAF, desde a implantação até o uso final dos produtos, pela pessoa que o maneja : sabe muito pouco=0,25 sabe pouco=0,5 sabe o suficiente=0,75 sabe bastante=1 3. Grau de uso direto e indireto, pela família e, ou pessoa(s) que maneja(m) o SAF, de todas as espécies (tanto espontâneas como as cultivadas) presentes no SAF : usa muito pouco=0,25 usa pouco=0,5 usa o suficiente=0,75 usa bastante=1 76 Quadro 5 – Continuação Dimensão Critério Indicadores originais SOCIAL Produtividade UTH: pessoas com 7 a 13 anos = 0,5 UTH; pessoas com 14 a 17 anos = 0,65 UTH; pessoas com 18 a 59 anos = 1 UTH; pessoas com mais de 60 anos = 0,65 UTH . Estabilidade Eqüidade Resiliência Autonomia todo recolhido pela prefeitura, ou parte é enterrado e a outra parte é reutilizada na propriedade (adubo, reciclagem, etc.)=0,75 parte é recolhido pela prefeitura e parte é reutilizado na propriedade (adubo, reciclagem, etc.)=1 Fonte: Elaboração própria, adaptado de () Daniel (2000), () BNB (1999), () Albé ([2006?]), () REBRAF, () Fernandes (2005), () Moura (2002), () Severo, Ribas e Miguel (2004), () Hoffmann (1984, apud SEVERO, RIBAS e MIGUEL, 2004), () Lopes (2001). 77 4.8.1 Cálculo e análise dos índices de sustentabilidade Para a obtenção dos dados que compõem os índices utilizam-se os roteiros de entrevista aplicados aos produtores e que se encontram no Apêndice B. De outro modo, em se tratando do cálculo dos índices, diversas são as metodologias encontradas nos estudos concernentes ao tema. As variações vão desde o número de dimensões e critérios considerados até o cálculo dos índices de sustentabilidade. Acerca dessa temática, Calório (1997) desenvolve uma metodologia de cálculo em que o valor dos índices de sustentabilidade é obtido calculando-se a área de gráfico tipo radar, sendo esse gerado através da plotagem dos indicadores agregados. Daniel (2000) embasa-se no método proposto por Calório, faz algumas adaptações nas fórmulas utilizadas pela autora para simplificar o cálculo da sustentabilidade de agroflorestas, alegando que, segundo Lightfoot et al. (1993), “esse tipo de diagrama produz informações visuais que são úteis para comparar sistemas ao longo do tempo e do espaço” (apud DANIEL, 2000, p. 8). Lopes (2001), por sua vez, embora utilize o gráfico tipo radar como instrumento para representar e avaliar visualmente a sustentabilidade de unidades agrícolas, calcula os índices de sustentabilidade dessas unidades empregando a média harmônica. O autor justifica sua escolha pontuando que o método de cálculo de índices de sustentabilidade através do cálculo da área de gráfico tipo radar, semelhantemente à média aritmética simples, tende a considerar valores altos, baixos e mesmo nulos, indistintamente, fazendo com que um sistema com valores muito desequilibrados, máximos em uma dimensão e mínimos noutra, por exemplo, alcance índice de sustentabilidade médio, desconsiderando, conseqüentemente, o equilíbrio entre os indicadores e as dimensões da sustentabilidade consideradas. Contrariamente, a média harmônica registra maiores índices aos sistemas mais equilibrados (LOPES, 2001). Já Severo, Ribas e Miguel (2004) primeiramente calculam os indicadores agregados utilizando a média aritmética e, em seguida, mensuram os índices de sustentabilidade de unidades extrativistas de samambaia usando a média harmônica. Moura (2002), propondo simplificar os cálculos, utiliza a média aritmética em todas as etapas, inclusive no cálculo dos índices de sustentabilidade das 78 propriedades. O autor, comparando as posições das unidades de produção agrícola no ranking de sustentabilidade, estabelecido com base nos resultados obtidos com seu método e com os métodos de Calório (1997), Daniel (2000), Lopes (2001) e Sepúlveda (2002) aplicados aos dados coletados na sua pesquisa, comprova, por meio do cálculo de coeficientes de correlação entre essas metodologias, que seu método – metodologia mais simplificada que as outras – apresenta resultados finais semelhantes aos obtidos com os outros métodos. Verifica, ainda, que as maiores discrepâncias entre os resultados encontrados se dão entre seu método e o método de Lopes (2001). E conclui que seu método mostra-se limitado para expressar o equilíbrio entre as dimensões de sustentabilidade tratadas quando existirem valores extremos no conjunto de indicadores ou entre os índices de sustentabilidade das diferentes dimensões analisadas, posto que a simples soma dos indicadores pode levar a superestimar ou subestimar valores extremos e, conseqüentemente, não contemplar o equilíbrio entre as dimensões e indicadores (MOURA, 2002). Moura identifica, ainda, por meio de simulações, uma limitação nas metodologias propostas por Calório (1997) e Daniel (2000). De acordo com Moura, os valores dos índices de sustentabilidade mensurados através da área do gráfico tipo radar podem alterar de modo significativo em decorrência da alteração da ordem como são dispostos os indicadores agregados nos eixos do gráfico (MOURA, 2002). Ou seja, utilizando-se os mesmos indicadores agregados e dispondo-os em ordens diversas nos eixos do gráfico, obtêm-se índices de sustentabilidade de valores diferentes. Nesse sentido, utiliza-se no presente estudo a média harmônica em todas as etapas do cálculo dos indicadores e índices de sustentabilidade, pelas seguintes razões: • a natureza dessa média valoriza o equilíbrio entre os aspectos avaliados, propiciando a obtenção de melhores resultados àqueles sistemas que se apresentam mais equilibrados, tanto nas dimensões quanto nos critérios, característica que torna esse procedimento como sendo o mais adequada aos pressupostos teóricos adotados nesta pesquisa; • no caso de valores com menores ou nenhuma dispersão, o resultado dos cálculos realizados com a média harmônica são próximos ou iguais, respectivamente, àqueles realizados com a média aritmética simples; 79 • a alteração da ordem dos indicadores na fórmula não resulta índices com valores diferentes; • a escolha da média harmônica deveu-se ao critério de uniformização das fórmulas empregadas no cálculo dos índices. Devido à própria natureza da média harmônica, que não tolera valores iguais ou menores que zero, adiciona-se, aleatoriamente, uma constante de valor 4 (quatro) a cada uma dos indicadores originais para a posterior substituição dos valores na fórmula da média harmônica, representada genericamente pela Equação 1. A soma desta constante aos valores dos indicadores originais obtidos não altera a comparabilidade dos índices, nem a representação desses em gráficos, posto que apenas desloca o nível de distribuição dos valores, de maneira uniforme, um pouco mais para cima. Por conseguinte, os valores dos indicadores originais, que antes apresentavam uma variação de 0 (zero) a 1 (um), passam a variar em uma escala de 4 (quatro) a 5 (cinco). Após o acréscimo da constante, calculam-se, através da média harmônica, para cada unidade de produção agrícola, os indicadores agregados relativos a cada um dos cinco critérios, segundo a dimensão à qual pertenciam, conforme Quadro 5. Auferem-se, dessa forma, 15 indicadores agregados para cada unidade de produção agrícola, todos eles variando, portanto, de 4 (quatro), situação de sustentabilidade fraca, a 5 (cinco), situação de sustentabilidade forte. n I d ci = 1 n Σk=1Vki –1 –1 (1) em que se tem, Idci – indicador agregado do c-enésimo critério e d-enésima dimensão na ienésima unidade de produção. Trata-se da média harmônica resultante. Vki – valor do k-enésimo indicador original da i-enésima unidade de produção, no c-enésimo critério e d-enésima dimensão. n – número total de k indicadores originais. 80 Os indicadores originais cujos valores apresentam uma unidade de medida, presentes no Quadro 5, ou então que ultrapassam o intervalo original de [0,1] – como é o caso do Índice de Diversificação da Produção do SAF (IDPSAF) –, passam por uma transformação para que estejam em uma mesma escala de medida antes de se adicionar a constante 4 (quatro) e realizar o cálculo do indicador agregado. Desse modo utiliza-se a fórmula empregada por Sepúlveda, Chavarría e Rojas (2005, p. 25) na transformação desses valores: Vki = v - vmín vmáx - vmín (2) em que, Vki – valor do indicador original da i-enésima unidade de produção agrícola após a transformação. v – valor correspondente ao indicador original de determinada unidade de produção agrícola para um período determinado. vmín – valor mínimo que o indicador original pode assumir num determinado período (valor mínimo observado). vmáx – valor máximo que o indicador original pode assumir num determinado período (valor máximo observado). Mensuram-se, em seguida, os Índices de Sustentabilidade de cada Dimensão (ISD) e de cada Critério (ISC) para cada unidade de produção agrícola, ambos também obtidos através da média harmônica, expressas pelas Equações 3 e 4, respectivamente. Assim, o ISD da d-enésima dimensão na i-enésima unidade de produção agrícola é n ISDdi = 1 n –1 Σ I c=1 ci –1 (3) 81 sendo n o número total de c critérios dentro de cada dimensão. Enquanto que o ISC do c-enésimo critério na i-enésima unidade de produção agrícola é ISCci = 1 n d –1 i d=1 –1 (4) ΣI onde n é o número total de d dimensões de cada critério. Para o cálculo do Índice de Sustentabilidade (IS) de cada unidade de produção agrícola, tomando como base tanto as dimensões (ISDs) quanto os critérios (ISCs), tem-se que o IS da i-enésima unidade de produção é dado pela fórmula n ISi = 1 n Σ ISDdi d=1 –1 –1 (5) sendo n é o número total de d dimensões, ou ISi = 1 n Σ ISCci c=1 –1 –1 (6) sendo n é o número total de c critérios. Os níveis de sustentabilidade dessas unidades produtivas também são analisados graficamente plotando-se tanto os valores dos seus Índices de Sustentabilidade de cada Dimensão (ISD) quanto os de cada Critério (ISC) em gráficos tipo radar, similar ao da Figura 12. Essas representações gráficas possibilitam uma análise comparativa mais imediata entre os níveis de sustentabilidade apresentados por cada unidade de produção, representante de cada sistema agroflorestal típico presente no município de Una. 82 Na análise gráfica dois aspectos são precípuos: o valor dos índices, se esses se aproximam do valor mínimo (4), sustentabilidade fraca, ou do valor máximo (5), sustentabilidade forte, no intervalo do nível de sustentabilidade; a distribuição dos índices na área do gráfico, de modo que quanto mais eqüidistantes esses se mostram, melhor é o resultado – devido ao próprio cálculo do índice que é realizado com uso da média harmônica – e mais sustentável o sistema se apresenta. A Figura 12 apresenta os aspectos que devem ser considerados na realização da análise gráfica. Nível de sustentabilidade forte = 5. Produtividade 5 Intervalo do nível de sustentabilidade, sendo 5(cinco) o valor máximo e 4(quatro) o mínimo. Valor mediano do nível de sustentabilidade = 4,5. 4,5 Autonomia Estabilidade Nível de sustentabilidade fraca = 4. Equivale à origem do gráfico, posto que foi acrescido a constante 4 aos valores dos indicadores, conforme já descrito. Resiliência 4 Valor dos índices calculados. Eqüidade Figura 12 – Representação dos índices de sustentabilidade em gráfico radar indicando os aspectos para a análise gráfica. Fonte: Elaboração própria. 83 4.9 Comparação de métodos de avaliação de sustentabilidade de SAF Realiza-se também a comparação entre o método proposto neste estudo e métodos científicos existentes, analisando os resultados obtidos com os respectivos procedimentos adotados em cada método. Para efeitos de comparação entre os métodos, utilizam-se os valores dos indicadores originais (Tabela 2C) do presente estudo, assim como os respectivos critérios e dimensões neste adotados. Em seguida, são empregados os procedimentos de padronização de escalas23 e de cálculo dos indicadores agregados e dos índices de sustentabilidade, conforme proposições feitas por cada metodologia analisada. Utiliza-se o Microsoft Excel para a realização dos cálculos. Por conseguinte, calculam-se os coeficientes de correlação de produto-momento de Pearson (r) entre os valores dos índices obtidos em cada método, verificando em que medida os procedimentos adotados em cada um desses revelam algum grau de associação. Examinam-se assim os métodos propostos por Calório (1997), Daniel (2000), Lopes (2001), Moura (2002), Severo, Ribas e Miguel (2004) e Sepúlveda, Chavarría e Rojas (2005). Seus aspectos metodológicos são apresentados de forma sumária no Quadro 6, e em seguida explana-se sobre a aplicação de cada um no cálculo dos índices. 23 Os valores dos indicadores originais padronizados segundo os procedimentos da metodologia deste estudo são apresentados na Tabela 3C. Quadro 6 – Quadro comparativo das metodologias de avaliação de agroecossistemas ASPECTOS Dimensões adotadas Uso dos critérios de sustentabilidade na estruturação dos indicadores Quant. de indicadores Procedimentos p/ cálculo do Índice de Sustentabilidade Cálculo dos indicadores agregados Transformação da escala dos indicadores CALÓRIO Usa 4 dimensões: Física, Biológica, Econômicas e Sociais - DANIEL LOPES Usa 4 dimensões: Usa 3 dimensões: Técnico-produtiva, Ambiental, Econômica, Econômica e Social Ambiental e Organizacional - MOURA SEVERO 1 1 SEPÚLVEDA Usa 3 dimensões: Usa 3 dimensões: Definidas pelo Ambiental, Ambiental, usuário do método Econômica e Social Econômica e Social Cita 5 critérios (produtividade, estabilidade, sustentabilidade, equidade e autonomia) Usa 5 critérios (produtividade, estabilidade, sustentabilidade, equidade e autonomia) na composição dos indicadores Usa 5 critérios (produtividade, estabilidade, sustentabilidade, equidade e autonomia) na composição dos indicadores Usa 28 indicadores originais e 10 agregados Usa 47 indicadores originais e 15 agregados Usa 21 indicadores originais e 15 agregados Definidos pelo usuário do método Somatório Média aritmética simples Média aritmética simples Usa 129 indicadores Sugere 105 indicadores originais, mas usa 87 em pesquisa empírica Calculando a área formada pelos lados dos triângulos do gráfico radar Calculando a área formada pelos lados Somatório e média dos triângulos do aritmética simples gráfico radar Uso da constante 5 Uso da constante 5 - - Uso da constante 5 - - 85 Quadro 6 – Continuação ASPECTOS Transformação da escala dos Procedimentos p/ indicadocálculo do res Índice de Sustentabilidade Cálculo do Índice de Sustentab ilidade CALÓRIO Transforma com base na fórmula Ip = [5+(xn - µ)]/S Área do gráfico radar para o cálculo do Índice de sustentabilidade DANIEL LOPES MOURA Não transforma. Simula cálculos dos índices, baseado em Calório, com e Função padronizar sem transformação, do excel concluindo que a Z = [xn - µ]/σ padronização não é adequada para o monitoramento da sustentabilidade. Área do gráfico radar para o cálculo dos Índices de sustentabilidade biofísico e socioeconômico Uso do gráfico radar - SEVERO SEPÚLVEDA Indicadores com relação direta com a sustentabilidade: Iij = [(xij xmín)/(xmáx Iij = [(xij - xmín)/(xmáx xmín)]; Indicadores xmín)] com relação inversa com a sustentabilidade: Iij = [(xij - xmáx)/(xmín - xmáx)] Média aritmética simples e soma para o cálculo do Índice de sustentabilidade Média harmônica para o cálculo do Índice de sustentabilidade Média harmônica para o cálculo do Índice de sustentabilidade Uso do gráfico radar Uso do gráfico radar Uso do gráfico em colunas Calório (1997), Daniel (2000), Lopes (2001) e Sepúlveda (2002) Lopes (2001) e Moura (2002) Apresentação gráfica dos Índices Uso do gráfico radar Referência teóricometodológica Douglas (1990) e Torres (1990) Calório (1997) Calório (1997) e Daniel (2000) Ano de publicação 1997 2000 2001 2002 2004 Local de publicação Universidade Federal de Mato Grosso-UFMG Universidade Federal de ViçosaUFV Universidade Federal do rio Grande do SulUFRGS Universidade Federal do rio Grande do SulUFRGS Universidade Federal do rio Grande do SulUFRGS Soma ponderada com base na atribuição de pesos às dimensões pelo usuário Uso do gráfico radar Hammond et.al. (1995), Programa das Nações Unidas para o DesenvolvimentoPNUD 2005 Instituto Americano de Cooperação para a AgriculturaIICA, Coronado, Costa Rica Fonte: Elaboração própria com base em Calório (1997), Daniel (2000), Lopes (2001), Moura (2002), Severo, Ribas e Miguel (2004) e Sepúlveda, Chavarría e Rojas (2005). (1) Nome do primeiro autor. 86 4.9.1 O método proposto por Calório (1997) Calório examina a sustentabilidade de estabelecimentos de agricultores familiares sob o enfoque da capacidade de produção e reprodução dessas UPA. Para tanto, utiliza 129 indicadores, considerando as dimensões físicas, biológicas, sociais e econômicas. Realizada análise multivariada dos componentes principais, agrupando-os e, posteriormente, calcula um Índice de Sustentabilidade (IS) para cada uma das unidades de produção, permitindo a comparação entre as diversas UPA (CALÓRIO, 1997). O Índice de Sustentabilidade (IS) é obtido pelo cálculo da área conformada pelas variáveis, quando plotadas em um gráfico do tipo radar. Desse modo, cada um dos eixos do gráfico corresponde a um indicador, cujos aumentos de valores significam maiores valores de sustentabilidade. Assim, área do polígono formado no gráfico é o valor do índice IS da UPA analisada. Os procedimentos para o cálculo do IS são as seguintes: 1°) Transformação dos indicadores originais Utilizada para eliminar os efeitos de escala e de unidades de medida. Tal procedimento assegura que cada variável empregada no cálculo do IS tenha o mesmo peso relativo. A padronização se dá através da equação: Ip = [5+(xn - µ)]/S (7) em que, Ip = indicador padronizado; x = valor original do indicador; xn = valor médio da variável para todas as UPA; S = desvio padrão das variáveis; 5 = constante para eliminar valores negativos ou iguais a zero. 2°) Obtenção do ângulo formado entre os indicadores originais O ângulo formado entre os eixos do gráfico, onde são representados os indicadores originais padronizadas, é calculado através da seguinte fórmula: 87 α = (360 x π)/(N x 180)24 (8) em que, α = ângulo formado entre os eixos do gráfico radar, em radianos; N = número total de indicadores originais, π = valor de pi. 3°) Cálculo da área de cada triângulo identificado no gráfico Este cálculo é feito a partir de dois indicadores originais e do ângulo definido anteriormente. Para calcular a área do triângulo, a autora entende que há necessidade de se conhecer todos os lados do triângulo. Para a obtenção do terceiro lado (dois são os indicadores padronizados dos eixos adjacentes ao ângulo) usa-se a seguinte formula: d = [(Ip1)² + (Ip2)² - 2 (Ip1 x Ip2) cos x ] ½ (9) em que, d = lado desconhecido do triângulo; Ip1 e Ip2 = indicadores 1 e 2 padronizados; cos x = cosseno do ângulo x formado entre os eixos. Conhecidos os três lados do triângulo, é calculado o semiperímetro, através da fórmula: p = (a + b + c)/2 (10) em que, p = semiperímetro; a, b e c = lados do triângulo. Calculado o semiperímetro, acha-se a área (S) através da fórmula: S = [p (p - a) (p - b) (p - c)] ½ (11) 4°) Cálculo do Índice de Sustentabilidade (IS) Para a obtenção do IS é feito o somatório das áreas de todos os triângulos formados no gráfico radar, conforme a fórmula: IS = ΣS 24 (12) A fórmula original proposta pela autora apresenta uma falha. Esta é fórmula corrigida proposta por Daniel (2000). 88 A análise é feita de forma comparativa: quanto maior o IS, maior a sustentabilidade das propriedades. 4.9.2 O método proposto por Daniel (2000) O autor analisa a sustentabilidade de SAF através de indicadores relativos às dimensões ambiental, social e econômica. Sugere 105 indicadores, mas utiliza 87 em pesquisa empírica com uma UPA. Realiza processo similar ao de Calório (1997), adaptando a metodologia proposta pela autora. Para tanto, o autor segue o primeiro – transformação dos indicadores originais – e o segundo passos – obtenção do ângulo formado entre os indicadores originais – proposto por Calório (1997), descritos acima, aplicando as respectivas fórmulas 7 e 8. Os passos subseqüentes são simplificados, conforme se apresenta a seguir. 3°) Cálculo da área de cada triângulo identificado no gráfico A área de cada triângulo é obtida a partir do valor padronizado de dois indicadores adjacentes e do ângulo definido no 2° passo. Com base na Figura 13, sequencialmente realizam-se: a. Cálculo do ângulo β: β = 180 – 90 - α (13) b. Cálculo da área do triângulo: Sn = (|vpn| x hn)/2 (14) em que, vpn = indicador padronizado; hn = altura do triângulo e hn = cos β x |vpn+1| então: (15) 89 Sn = (|vpn| x cos β x |vpn+1| )/ 2 (16) Figura 13 – Proposta alternativa sugerida por Daniel (2000) para calcular um Índice de Sustentabilidade (IS). Fonte: Daniel (2000, p. 11). Nota: In - indicadores, hn - altura do triângulo formado pela interface entre dois indicadores, α – ângulo formado entre as linhas de comprimento de dois indicadores adjacentes, β - ângulo formado entre a linha de altura hn e a linha de comprimento do indicador In+1, vpn - valor padronizado do indicador e Sn - área do triângulo n. 4°) Cálculo do Índice de Sustentabilidade (IS) Tal como em Calório (1997), o IS é obtido pelo somatório da área de todos os triângulos formados no gráfico radar, expresso pela fórmula 12. A principal contribuição de Daniel (2000) à metodologia proposta por Calório (1997), refere-se à redução do volume de cálculos. 4.9.3 O método proposto por Lopes (2001) Analisando a sustentabilidade de sistemas agroflorestais, conforme seus arranjos institucionais, o autor trabalha com 28 indicadores originais distribuídos em quatro dimensões: ambiental, organizacional, técnico-produtiva e econômica (Quadro 6). No cálculo dos indicadores agregados ora utiliza o somatório dos indicadores originais, ora a sua média aritmética. Depois segue com a soma de todos os indicadores de cada dimensão para, posteriormente, transformar os valores 90 e calcular o Índice de Sustentabilidade (IS) usando a média harmônica. Para fins de comparação, considera-se os indicadores originais do presente estudo, aplicando os procedimentos a partir do somatório dos indicadores originais, seguindo-se com a transformação dos indicadores agregados e com o cálculo do IS, conforme descreve-se a seguir. 1°) Cálculo dos indicadores agregados xn = ΣIn (17) em que, xn = valor do indicador agregado; In = valor do indicador original de cada dimensão. 2°) Transformação dos indicadores agregados Para eliminar os efeitos de escala e de unidades de medida, os indicadores passam por um processo de transformação com o uso da função “padronizar” do Microsoft Excel, a qual é expressa pela seguinte equação: Z = [xn - µ]/σ (18) em que, Z = valor padronizado de um indicador qualquer; xn = valor do indicador agregado; µ = valor médio do indicador para a amostra; σ = desvio-padrão populacional. Seguidamente, acrescenta-se uma constante de valor cinco (5) a cada indicador padronizado com a finalidade de eliminar valores menores ou iguais a zero, permitindo sua posterior introdução na fórmula da média harmônica, a qual, não tolera valores iguais a zero ou negativos. 3°) Cálculo dos Índices de sustentabilidade (IS) Os IS de cada UPA são obtidos através da média harmônica dos indicadores agregados, através da equação genérica: 91 n IS = 1 n –1 –1 Σ x n=1 n (19) Em que, xn = valor do indicador agregado; n = número de indicadores agregados. 4.9.4 O método proposto por Moura (2002) Moura (2002) mensura o nível de sustentabilidade em sistemas de produção da agricultura familiar, trabalhando com 47 indicadores originais relativos às dimensões ambiental, econômica e social e, concomitantemente, aos critérios produtividade, estabilidade, eqüidade, resiliência e autonomia. A metodologia proposta pelo autor apresenta dois principais diferenciais: cálculo de um Índice Relativo de Sustentabilidade (IRS); e simplificação dos cálculos com o emprego de média aritmética simples. Assim, procede da seguinte maneira: 1°) Cálculo dos indicadores agregados Os indicadores agregados de cada critério e cada dimensão são auferidos pelo somatório dos indicadores originais, conforme expressa a fórmula: Idc = ΣIn (20) Em que, Idc = indicador agregado do c-enésimo critério e da d-enésima dimensão; In = indicador original. 2°) Cálculo do Índice Relativo de Sustentabilidade (IRS) de cada UPA No cálculo do IRS de cada UPA são realizados os seguintes procedimentos: a. Cálculo da média aritmética simples dos indicadores agregados Calcula-se a média aritmética simples dos indicadores agregados de todas as UPA, em cada critério e em cada dimensão. Assim tem-se a seguinte fórmula: µdc = (ΣIdci)/i (21) 92 em que, µdc = é a média aritmética simples dos indicadores agregados de todas as UPA, no c-enésimo critério e na d-enésima dimensão; Idci = indicador agregado da i-enésima UPA, no c-enésimo critério e na d-enésima dimensão; i = total de UPA. Exemplificando, no caso do IDPSAF das unidades pesquisadas, calcula-se a média aritmética dos IDPSAF das 3 UPA. b. Cálculo do indicador agregado relativo de cada UPA é obtido através da equação: IRdci = Idci/ µdc (22) em que IRdci = indicador agregado relativo da i-enésima UPA, no c-enésimo critério e na d-enésima dimensão. c. Cálculo do Índice Relativo de Sustentabilidade da UPA Para obter o Índice Relativo de Sustentabilidade (IRS) da UPA, somam-se todos os indicadores agregados relativos de cada UPA, auferindo-se 15 indicadores. IRSi = Σ IRdci (23) em que, IRSi = é o índice relativo de sustentabilidade da i-enésima UPA. Para o cálculo dos Índices de Sustentabilidade (IS) dos SAF deste estudo, utiliza-se os procedimentos de Moura (2002) até o passo acima (c). Não obstante, como o autor avalia mais de uma UPA em cada sistema de produção pesquisado, o método ainda contempla o cálculo do Índice Relativo de Sustentabilidade (IRS) de cada sistema. Assim, os IRS de cada sistema de produção são obtidos com média aritmética simples dos IRS das UPA que o compõem. Moura (2002) também analisa os IRS de cada critério e de cada dimensão, que resultam da soma dos respectivos indicadores agregados relativos das UPA correspondentes a cada critério e cada dimensão. 93 4.9.5 O método proposto por Severo, Ribas e Miguel (2004) Os autores, embasados em Lopes (2001) e Moura (2002), analisam a sustentabilidade da agricultura familiar de samambaieiros através de um Índice de Sustentabilidade que utiliza média aritmética simples e média harmônica. Para tanto, elaboram 21 indicadores originais relativos a aspectos ambientais, econômicos e sociais. Consideram ainda os mesmos cinco critérios tratados no presente estudo. O diferencial desta metodologia em relação às duas que a embasam, refere-se ao fato da mesma propor um análise não apenas relativa (entre um e outro sistema, ou entre uma e outra UPA) da sustentabilidade, mas de avaliar comparando as informações dentro de um espaço geográfico limitado. Para tanto, utiliza os seguintes procedimentos: 1°) Cálculo dos indicadores agregados Esses são auferidos através do somatório dos respectivos indicadores originais que os compõem. Utiliza-se assim a equação 20. 2°) Transformação dos indicadores agregados Utiliza a mesma fórmula de transformação empregada neste estudo. Assim, os indicadores são padronizados através da equação: Iij = [(xij - xmín)/(xmáx - xmín)] (24) em que, Iij = é o indicador transformado, ou índice; xij = valor original do indicador; xmín = valor mínimo do indicador; xmáx = valor máximo do indicador. Os valores mínimos e máximos são determinados conforme o formato do indicador. Desse modo, no caso de indicadores de “proporção” – como 1(CISAF/PBSAF) –, o valor mínimo é dado como igual a zero e o valor máximo igual a um. Para indicadores de “valoração arbitrada” – como IDPSAF, (PBSAFCISAF)/ASAF – os valores ficam entre os valores mínimos e máximos que as observações podem atingir. Os autores ainda empregam duas outras fórmulas para determinar os mínimos e os máximos de alguns dos indicadores que trabalham, mas 94 tomam a amostra como sendo representativa. Como este não é o caso da amostra utilizada neste estudo, resguarda-se em empregar os procedimentos supracitados. Embora a metodologia proposta pelos autores não faça uso de constantes, para a realização desta análise comparativa, acrescenta-se a constante 4 aos indicadores tratados, para sua posterior inserção na média harmônica. Reitera-se que uso da constante não altera a essência do cálculo dos índices, apenas deslocando-os a um nível acima. 3°) Cálculo dos Índices Relativos de cada Dimensão (IRD) e de cada Critério (IRC) Os IRD são auferidos por média aritmética simples, conforme a equação: n IRDdi = 1 n Σ Ici (25) c =1 em que, IRDdi = Índice Relativo da i-enésima UPA na d-enésima dimensão; Ici = indicador agregado da i-enésima UPA, em cada c critério; n = total de indicadores agregados da i-enésima UPA na d-enésima dimensão. Similarmente, os IRC são dados pela equação: n IRCci = 1 n Σd=1Idi (26) em que, IRCci = Índice Relativo da i-enésima UPA no c-enésimo critério; Idi = indicador agregado da i-enésima UPA, em cada d dimensão; n = total de indicadores agregados da i-enésima UPA no c-enésimo critério. 4°) Cálculo dos Índices Relativos de Sustentabilidade (IRS) Os IRS das UPA são auferidos através da média harmônica dos IRD ou dos IRC, conforme mostram as equações que seguem: n IRSi = 1 n –1 Σ IRDdi d=1 –1 (27) 95 ou então, n IRSi = 1 n Σ IRCci c=1 –1 –1 (28) 4.9.6 O método proposto por Sepúlveda, Chavarría e Rojas (2005) Os autores apresentam uma metodologia e seu respectivo programa de cálculo computadorizado (O Biograma), que permite realizar avaliações rápidas e a análise comparativa dos níveis de sustentabilidade em diversos níveis de agregação, bem como realizar análises para diferentes séries temporais. Em relação aos outros métodos, é mais flexível, posto que possibilita ao usuário definir as dimensões e indicadores que serão considerados, assim como atribuir pesos às dimensões. Seu enfoque metodológico fundamenta-se numa perspectiva multidimensional do processo de desenvolvimento. No cálculo do Índice de Desenvolvimento Sustentável (S³) são utilizadas a média aritmética simples e a ponderada. Para tanto, são realizados os seguintes passos: 1°) Seleção das unidades de análise (espaço territorial), das dimensões e dos indicadores correspondentes Esse processo é definida pelo usuário, que selecionará e delimitará os aspectos relevantes para a análise. 2°) Definição da relação de cada indicador com a perspectiva de sustentabilidade Os autores utilizam duas fórmulas para relativizar os valores dos indicadores com o seu efeito sobre o entorno. Para indicadores com relação direta (onde o aumento do valor do indicador representa aumento da sustentabilidade), utiliza-se a fórmula 24. No caso de indicadores que apresentam uma relação inversa, com a finalidade de manter uma escala comum, é utilizada a fórmula: 96 Iij = [(xij - xmáx)/(xmín - xmáx)] (29) em que, Iij = é o indicador transformado, ou índice; xij = valor original do indicador; xmín = valor mínimo do indicador; xmáx = valor máximo do indicador. Para estabelecer os valores máximos e mínimos os autores admitem três possibilidades para cada indicador: a) definir a partir dos valores observados, utilizando valores extremos da amostra; b) arbitrar a partir do estabelecimento de porcentagens de acumulação, utilizando valores extremos do limite usado (Ex: 40% abaixo ou acima da média); c) arbitrar níveis ótimos de cada indicador, o que implica em incluir uma função de ajuste baseada em rendimentos marginais (crescentes ou decrescentes). Nos cálculos usados para a comparação entre os métodos foram utilizados os menores e maiores valores observados nas unidades de produção, em cada indicador original. 3°) Cálculo do Índice de Sustentabilidade de cada Dimensão (S) O S é auferido através da média aritmética simples dos indicadores de cada dimensão, conforme expressa a equação: Si = Σ Idi/n (30) em que, Si = Índice de Sustentabilidade da i-enésima unidade de análise na dimensão d; Idi = indicador da i-enésima unidade de análise na dimensão d; n = total de indicadores na dimensão d. 4°) Cálculo do Índice de Sustentabilidade (S3) da unidade de análise O cálculo é realizado por meio da soma ponderada dos Índices de Sustentabilidade das Dimensões (S), em conformidade com os pesos atribuídos pelo usuário. Assim, é representada genericamente como: S3 = Σ (βd/100)Si 97 Em que, βd = peso da dimensão d; Si = índice de sustentabilidade de cada dimensão da i-enésima unidade de análise. 98 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados e a respectiva discussão são apresentados, seqüencialmente, em conformidade com as etapas metodológicas estabelecidas para atender aos objetivos propostos. Nesse sentido, dispõem-se os resultados e análises relativos: à pesquisa sobre o uso de indicadores ambientais para a avaliação de agroecossistemas, às entrevistas com especialistas em conjunto com dados secundários, abordando os SAF típicos da região Sul da Bahia e aqueles específicos do município de Una, e os respectivos fatores que influenciam a sustentabilidade desses sistemas e, por fim, discute-se sobre o método proposto pelo presente estudo para mensurar a sustentabilidade de sistemas agroflorestais similares àqueles da região Sul da Bahia. 5.1 Uso de indicadores ambientais para avaliação de agroecossistemas São analisados 11 trabalhos de avaliação de sustentabilidade de agroecossistemas, incluindo teses, dissertações, monografias, artigos, relatórios e manuais técnicos publicados entre os anos de 1999 a 2005. Constituem-se em estudos de avaliação da sustentabilidade de agroecossistemas, cujos principais aspectos metodológicos adotados encontram-se sintetizados no Quadro 7. As informações apresentadas nesse quadro exemplificam a diversidade de metodologias quanto à temática, verificando-se uma miríade de possibilidades que vão desde o tipo de técnica de coleta de dados até os métodos de operacionalização dos indicadores. Essas questões são tratadas de forma mais detalhada nos itens 4.8.1 e 4.9 da metodologia e retomadas através de uma análise comparativa no item 5.6 deste capítulo, onde se confrontam os resultados obtidos com o método proposto neste estudo com os obtidos com outros métodos existentes no meio científico. Quadro 7 – Quadro síntese dos aspectos metodológicos dos estudos sobre sustentabilidade de agroecossistemas analisados AUTOR¹ Sistema avaliado Denominação dos indicadores ambientais Técnica de coleta Tipo de variáveis² Definição de escala das variáveis³ Operacionalização dos indicadores Quali e Quanti Qualitativa: binária; Quantitativa: conforme valor observado. Plotação dos indicadores em gráfico radar e cálculo do índice de sustentabilidade através da área do gráfico Quali Arbitrária. Cinco escalas, valores de dois em dois decis. Convencionada por grupos de trabalho em oficinas. Valores de 1 a 4. Segundo a percepção do agricultor. Normalmente variam de zero a 15. Qualitativa: arbitrária, variando normalmente de 0 a 4; Quantitativa: conforme valor observado. Qualitativa: arbitrária, variando normalmente de 0 a 1; Quantitativa: conforme valor observado. Obtenção do índice de sustentabilidade pelo cálculo da proporção de condições ideais sobre o número total de aspectos avaliados Cálculo dos indicadores pela média aritmética. Não calcula um índice de sustentabilidade geral. Daniel (2000) Agrissilvipastoril Biofísicos Entrevista com produtores; Observação direta; Laboratório instrumental e de campo BNB (1999) Agricultura em geral Peformance ambiental Entrevista com produtores REBRAF (2003) SAF na área de Mata Atlântica De Solo, Ecológicos e da Paisagem Observação direta de Quali técnicos na área Lesama [200-] Agricultura familiar Agroecológicos Entrevista com produtores Quali Moura (2002) Fumicultura familiar Ambientais Entrevista com produtores Quali e Quanti Severo (2004) Extrativistas familiares de samambaia Ambientais Entrevista com produtores Quali e Quanti Albé [2006?] Pequenos/ médios produtores Integridade ecológica Entrevista com produtores Quali Arbitrária.Três escalas, valores de 1 a 3. Freqüência relativa dos fatores analisados em cada indicador. Não calcula um índice de sustentabilidade geral. Agrissilvicultura na Amazônia Entrevista com Edafo-climáticos e produtores; potencialidade Laboratório agroflorestal para instrumental e produção de campo Quanti Arbitrária. Cinco escalas, valores de 1 a 10. Cálculo dos indicadores por regressão linear simples e o índice de sustentabilidade por média aritmética. Ribeiro (2004) Cálculo dos indicadores pelo somatório. Não calcula um índice de sustentabilidade geral. Cálculo dos indicadores e do índice de sustentabilidade geral por média aritmética. Cálculo dos indicadores e do índice de sustentabilidade geral por média aritmética. 100 Quadro 7 – Continuação AUTOR¹ Sistema avaliado Denominação dos indicadores ambientais Técnica de coleta Tipo de variáveis² Definição de escala das variáveis³ Lopes (2001) Agrissilvicultura Ambientais Entrevista com produtores Quali Arbitrária. Valores múltiplos Cálculo dos indicadores por média aritmética de 10, sendo zero o valor e do índice de sustentabilidade por média menor. harmônica. Macedo [2003?] Agrissilvicultura familiar Nutricionais e de desenvolvimento das espécies frutíferas Laboratório instrumental e de campo Quanti Conforme valores observados Cálculo dos indicadores pela média aritmética. Não calcula um índice de sustentabilidade geral. Fernandes Agricultores de (2005) uma APA Conservação de recursos Entrevista com produtores Quali Arbitrária.Três escalas, valores de 1 a 10. Cálculo dos indicadores pela média aritmética. Não calcula um índice de sustentabilidade geral, este é apenas visualizado num gráfico tipo radar. Operacionalização dos indicadores Fonte: Dados da pesquisa. (1) Nome do primeiro autor. (2) Quali: Qualitativas; Quanti: Quantitativas. (3) A arbitrariedade refere-se à falta de justificativas quanto à definição do número de escalas e, ou dos valores dessas. 101 Assim, os resultados e a discussão que se seguem a partir deste ponto centram-se especificamente nos indicadores ambientais empregados nos estudos analisados. Dos trabalhos analisados identifica-se um total de 216 indicadores, com repetição, apresentando indicadores em todas as classes de elementos, exclusive a de “minerais” – que não está inserida na tabela por não apresentar ocorrências nos estudos –, o que certamente decorre das características dos sistemas avaliados nesta pesquisa (Tabela 9). Os indicadores relativos aos manejos técnicos empregados nos sistemas avaliados, ou seja, práticas e insumos utilizados apresentam a maior incidência (25,0%), ausentando-se em apenas um dos trabalhos analisados. Em se tratando dos recursos naturais, as questões relativas ao solo são as mais referidas (20,4%) nas avaliações ambientais. Fato esperado, posto que se referem ao bem ambiental cujas atividades rurais estabelecem maior dependência e que, portanto, constitui-se em um recurso passível de um maior número de impactos. Outrossim, o know-how atinente à avaliação das condições do solo, tratado e sistematizado pelas Ciências Agrárias e do Solo, é mais aprofundado e amplo do que de outro bem natural listado. Na seqüência, apresentam-se a flora (12,0%) e a fauna (10,6%), empregadas em cinco e quatro dos estudos, respectivamente. A água, por sua vez, embora se constitua em um recurso relevante para as atividades agropecuárias, não é um dos principais alvos dos estudos. Já biodiversidade, estrutura da paisagem, ar e recursos energéticos reúnem um número menor de indicadores, sendo que os três últimos estão presentes em poucos dos trabalhos pesquisados. 102 Rendimento socioeconômico 13 3 2 - 2 1 3 - 57 BNB 16 12 - 3 10 1 - 6 2 - - 50 REBRAF 1 16 7 3 - 8 9 - - 1 - 45 Lesama 5 1 2 4 - - 3 - - 1 - 16 Moura 7 1 - - - 1 - - 4 - 1 14 Severo 3 - - - - 1 1 - - - 4 9 Albé 2 1 - - 1 - - - - 2 - 6 Ribeiro 1 1 3 - 1 - - - - - - 6 Lopes 3 2 - - - - - - - - - 5 Macedo 1 2 - - - 1 - - - - - 4 Fernandes - - 4 - - - - - - - - 4 N° 54 44 26 23 15 14 13 8 7 7 5 216 % 25,0 20,4 12,0 10,6 6,9 6,5 6,0 3,7 3,2 3,2 Total geral Estrutura da paisagem Água Flora Solo Total geral Rendimento técnico 10 Ar 8 Biodiversidade 15 Autor¹ Fauna Daniel² Manejo técnico Recursos energéticos Tabela 9 – Tipo e quantidade de indicadores, identificados por autor e por elemento do sistema 2,3 100,0 Fonte: Dados da pesquisa. (1) Nome do primeiro autor. (2) Considerou-se a relação que continha um conjunto mínimo de indicadores biofísicos proposto pelo autor. 103 Pode-se constatar que as atenções dos estudos se fixaram quase que totalmente (95,8%) dentro dos sistemas avaliados, ou seja, Operação do sistema + Recursos endógenos, ver Tabela 10. Assim, a maior parte dos indicadores, 66,2%, enquadra-se como recursos endógenos e em segundo lugar, com quase 30%, como operação do sistema. Reduzido é o percentual dos recursos exógenos (4,2%). Tabela 10 – Distribuição dos indicadores empregados segundo as categorias de sistema Categorias N° % Recursos endógenos 143 66,2 Operação do sistema 64 29,6 Recursos exógenos 9 4,2 216 100,0 Total geral Fonte: Dados da pesquisa. Nenhum dos indicadores trabalhados nos estudos pesquisados se enquadra na categoria “Operação de sistemas exógenos”, confirmando que a percepção dos estudiosos ao avaliar a sustentabilidade ambiental de agroecossistemas se centram, quase exclusivamente, dentro dos limites dos sistemas avaliados. Mesmo estes mantendo contínuo fluxo de relações – ora na condição de influenciadores, ora na condição de influenciados -, num processo de coevolução com sistemas existentes no seu entorno, ou com macro sistemas dos quais fazem parte. Noutras palavras, verifica-se que o nível de análise dos estudos de avaliação de sustentabilidade de agroecossistemas normalmente é circunscrito à unidade de produção. Entende-se que essa situação possivelmente decorra de duas questões. A primeira relativa às restrições financeiras e ao tempo para levantamento de dados relativos aos impactos no meio externo ao sistema, inclusive pela possibilidade de se deduzir tais impactos através daqueles já ocasionados dentro do próprio sistema. A segunda, pelo fato de que dificilmente o tomador de decisão do sistema avaliado poderá interferir em sistemas externos ao seu e que não sejam de sua propriedade, portanto, os indicadores respeitantes aos sistemas exógenos, enquanto influenciadores das condições do agroecossistema estudado teriam pouca ou nenhuma serventia para a avaliação da sua sustentabilidade. 104 As investigações relativas àquela segunda questão, habitualmente ocorrem quando se supõe que o impacto do sistema externo sobre o interno é conhecido, recorrendo-se normalmente a instrumentos da política pública ambiental para regularizar e, ou contornar situações indesejáveis. Em se tratando dos indicadores segundo a classificação do marco PER, aqueles relativos à quantidade e à qualidade dos recursos e serviços ambientais – indicadores de estado – tiveram a maior incidência, 54,6% (Tabela 11). Já as avaliações sobre a pressão sofrida pelos sistemas envolveram mais de 28% dos indicadores utilizados. Os 17% restantes tratavam de ações/práticas voltadas para a redução dos impactos e das pressões exercidas sobre o ambiente – indicadores resposta. Há que se esclarecer que as três classificações propostas pela OECD podem ser empregadas para se analisar uma mesma situação, inclusive de forma complementar. Haja vista que cada tipo de indicador – pressão, estado, resposta – denotam ângulos distintos de uma mesma realidade e podem ser tomados enquanto avaliações processuais, numa sucessão de causa e efeito. Assim, o avaliador poderá levantar as pressões sobre o meio, como tipo de práticas e atividades desenvolvidas, verificar as condições nas quais os recursos se encontram em decorrência dessas ações impactantes e, após um processo de intervenção no intuito de mitigar e, ou reverter o processo de degradação, constatando, por meio de indicadores de estado, os resultados obtidos dessas ações-respostas. Tabela 11 – Distribuição dos indicadores empregados segundo o marco PER Especificação N° % Estado 118 54,6 Resposta 37 17,1 Pressão 61 28,2 Total geral 216 100,0 Fonte: Dados da pesquisa. Essa possibilidade, não obstante, demanda, normalmente, um espaço de tempo longo, sobremodo quando se trata de se identificar efeitos de ações sobre 105 determinados recursos, como degradação e, ou recuperação de solo, água, mata, etc. Acerca disso, observa-se que em todos os estudos analisados apenas um fragmento temporal mais restrito do agroecossistema avaliado é abordado, de modo a não empregarem tal possibilidade metodológica. O Quadro 8, por sua vez, apresenta os tipos de agroecossistemas avaliados nos estudos, seus aspectos metodológicos e possíveis limitações quanto à reaplicação em sistemas e realidades diferentes. Verifica-se que apenas dois dos 11 estudos avaliados envolvem indicadores referentes aos sistemas exógenos àqueles agroecossistemas avaliados. Seis dos estudos são voltados especificamente para sistemas agrissilviculturais, não apresentando indicadores relativos à criação de animais. Outras possíveis limitações identificadas, com recorrência, nas metodologias de alguns dos estudos referem-se à necessidade de conhecimento técnico/especializado e ao reduzido número de indicadores ambientais para a avaliação de sustentabilidade. Nesta etapa da pesquisa constata-se que mesmo com relevantes avanços observados na literatura existente sobre indicadores para a avaliação da sustentabilidade de agroecossistemas, as metodologias empregadas mostram-se ainda restritas a determinados contextos e realidades, sendo muitas vezes de difícil reaplicação, restringindo-se a recortes específicos de análises. Tais restrições ocorrem porque, tanto a construção como a seleção de indicadores sob a ótica da sustentabilidade, envolvendo aspectos concernentes às condições e à disponibilidade dos recursos e serviços ambientais, tornam-se mais complexas e de aplicação normalmente limitada. Alguns fatores que contribuem para que essa situação se verifique são: • falta de consenso sobre os conceitos de Desenvolvimento Sustentável e de sustentabilidade, sendo que esta ainda varia em conformidade com o espaço e o tempo; • diversidade de enfoques acerca do desenvolvimento do meio rural e da agricultura (convencional, alternativa – orgânica, biodinâmica, agroecológica, etc); 106 Quadro 8 – Quadro comparativo dos estudos sobre sustentabilidade ambiental analisados AUTOR Sistema avaliado Possíveis limitações DANIEL Agrissilvipastoril Exige conhecimento especializado para o emprego da maior parte dos indicadores. BNB Agricultura geral REBRAF Limitado a sistemas agrissilviculturais (não engloba criação SAF na área de de animais). Não enfoca impactos/relações com sistemas Mata Atlântica exógenos. LESAMA Agricultura familiar O agricultor é quem atribui pesos aos fatores avaliados, podendo não ter conhecimento suficiente para exprimir sua opinião. Não enfoca impactos/relações com sistemas exógenos. MOURA Fumicultura familiar Utiliza princípios da avaliação emergética¹, a qual exige que se conheçam os coeficientes de eficiência energética de todos os insumos, produtos e processos empregados no sistema. Não enfoca impactos/relações com sistemas exógenos. SEVERO Extrativistas familiares samambaia Limitado a sistemas agrissilviculturais (não engloba criação de de animais). Não enfoca impactos/relações com sistemas exógenos. ALBÉ Pequenos/médios Pouca clareza na definição dos indicadores. Não enfoca produtores impactos/relações com sistemas exógenos. RIBEIRO Agrissilvicultura na Amazônia Limitado a sistemas agrissilviculturais (não engloba criação de animais). Mede a sustentabilidade ambiental com vistas à geração de renda. Não enfoca impactos/relações com sistemas exógenos. LOPES Agrissilvicultura Limitado a sistemas agrissilviculturais (não engloba criação de animais). Diminuto número de indicadores e tipos de recursos/serviços ambientais considerados². MACEDO Agrissilvicultura familiar Limitado a sistemas agrissilviculturais (não engloba criação de animais). Diminuto número de indicadores e tipos de recursos/serviços ambientais considerados². Exige conhecimento especializado para o emprego dos indicadores. Não enfoca impactos/relações com sistemas exógenos. FERNANDES Agricultores uma APA Centra-se no cumprimento de normas e procedimentos em legislativos e agronômicos. Pouco aplicável ao pequeno agricultor/agricultura familiar. Não enfoca impactos/relações com sistemas exógenos. Limitado a sistemas agrissilviculturais (não engloba criação de de animais). Diminuto número de indicadores e tipos de recursos/serviços ambientais considerados². Não enfoca impactos/relações com sistemas exógenos. Fonte: Dados da pesquisa. (1) Para mais informações, conferir Ortega (2003, p. 73 a 90) e www.unicamp.br/fea/ortega. (2) Segundo Camino V. e Müller (1993), a quantidade ideal de indicadores de sustentabilidade para sistemas em geral encontra-se entre 6 e 8. 107 • diversidade de níveis de análise (global, nacional, regional, de propriedade, de sistema de produção) e de possibilidades que, considerando apenas os tipos de sistema de produção (combinação entre os tipos de cultivos, criações, práticas, manejos, instrumentos de trabalho, insumos, tipo de produtor, etc.), variam ao infinito; • a miríade de tipos de ecossistemas e agroecossistemas existentes segundo as condições bióticas e abióticas, sendo que as mesmas mantêm relações de interdependência, num processo de coevolução (NORGAARD e SIKOR, 1999, p. 32-35) com condições relativas a outras dimensões que não a ambiental (social, econômica, cultural, política, dentre outras). Entende-se ainda que as dificuldades encontradas na definição, seleção e escolha de métodos e instrumentos dirigidos à avaliação da sustentabilidade ambiental de agroecossistemas também têm suas raízes fundadas no processo de evolução das ciências acerca da temática. Nesta etapa da pesquisa verifica-se que os indicadores empregados por avaliadores/pesquisadores da sustentabilidade de agroecossistemas apresentam as seguintes características: • referem-se comumente à estrutura e ao fluxo do sistema analisado, ou seja, aos recursos endógenos e à operação do sistema, e especificamente em termos de elementos, ao manejo técnico e ao solo; • na maioria trata-se de indicadores que apontam as condições dos recursos naturais e as ações impactantes; • ratificam a diversidade de possibilidades conceituais e metodológicas e a necessidade de, ante à imensidão de variáveis e relações entre estas, adequar os instrumentos ao contexto e especificidades da realidade estudada. 5.2 SAF típicos do Sul baiano e fatores de sustentabilidade A segunda pesquisa realizada para a proposição da metodologia para mensurar a sustentabilidade de sistemas agroflorestais típicos do Sul da Bahia, ou 108 que sejam similares a estes, se dá com base na consulta de literatura específica e de entrevistas com especialistas da referida região. Aqui a finalidade é identificar os SAF típicos, ou seja, aqueles mais freqüentemente encontrados no Sul do Estado baiano, e, sobremodo, no município de Una, e os fatores que influenciam na sustentabilidade desses agroecossistemas, como também as variáveis ambientais, econômicas e sociais que possibilitam explicar esse estado de sustentabilidade. Nesse intento, são realizadas entrevistas com sete especialistas conhecedores desse tipo de agroecossistema e da realidade regional, e cujas formações e instituições às quais pertencem são elencadas no Quadro 9. Quadro 9 – Formação e instituição dos especialistas entrevistados, Sul da Bahia, 2007 Formação Administrador Técnico agropecuário Instituição Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) Administrador1 Cooperativa dos Produtores Orgânicos do Sul da Bahia (CABRUCA) Engenheiro Agrônomo Geógrafo Técnico agrícola Instituto de Estudos Socioambientais do Sul da Bahia (IESB) Fonte: Dados da pesquisa. (1) Nível superior incompleto. Considerando a multiplicidade de estruturas e desenhos possíveis de SAF, os especialistas apontam os componentes perenes dos sistemas agroflorestais típicos mais comumente observados na região: Cacaueiro x Espécies arbóreas nativas, Cacaueiro x Seringueira e Cacaueiro x Eritrina25 (Tabela 12). Outros arranjos são também indicados, porém com menor freqüência, mas, normalmente têm o cacaueiro como um dos componentes, sendo consorciado com outras fruteiras ou palmáceas. Os três arranjos agrissilviculturais citados também são apontados por Gomes (1992, apud AMBIENTE BRASIL, [200-]) como sendo aqueles mais largamente 25 A Eritrina (Erythrina fusca) é uma espécie de leguminosa exótica difundida na região pela CEPLAC de forma intensiva nos anos de 1970. 109 disseminados na região. Além desses, o sistema composto por dendezeiro e pecuária está presente na realidade local. Tabela 12 – Tipos de SAF típicos do Sul da Bahia e quantidade de vezes citados pelos especialistas, 2007 SAF típicos do Sul da Bahia Quantidade de citações N° % Cacaueiro x Espécies arbóreas nativas 6 27,3 Cacaueiro x Seringueira 4 18,2 Cacaueiro x Eritrina 3 13,6 Quintais Agroflorestais 2 9,1 Seringueira x Fruteiras 1 4,5 Cacaueiro x Coqueiro x Cupuaçuzeiro 1 4,5 Cacaueiro x Açaizeiro 1 4,5 Cacaueiro x Gravioleira 1 4,5 Cacaueiro x Coqueiro 1 4,5 Cacaueiro x Cupuaçuzeiro 1 4,5 Seringueira x Cupuaçuzeiro 1 4,5 Total geral 22 100,0 Fonte: Dados da pesquisa. Muitos desses arranjos surgiram na região como alternativa para as monoculturas economicamente em declínio e, ou ambientalmente degradadas, introduzindo-se novos componentes na dinâmica local de produção. Assim, tem se verificado no caso do consórcio cacaueiro com seringueira, ou palmáceas (coqueiro, dendezeiro, açaizeiro), ou (cupuaçuzeiro, gravioleira), ou seringueira com esses componentes, ou ainda dendezeiro com pastagens. Embora a cacauicultura seja uma das principais e mais representativas atividades agrícolas da região Sul da Bahia, os tipos de culturas que preponderam e, ou estabelecem certa paridade com o cacaueiro nos municípios que a constituem variam, sobremaneira, em conformidade com as condições edafoclimáticas, e, em alguns casos, devido a influências socioculturais, como foi o caso da influência da colonização japonesa nos municípios de Una e Ituberá. 110 Em termos gerais, os melhores solos encontram-se mais no interior da região, ao passo que se aproxima do litoral, tornam-se mais pobres, restringindo as possibilidades de cultivos ou implicando em maiores custos de produção. Nesse sentido, a área da Região Sul baiana, que inclui a denominada de Região Cacaueira, apresenta dois arranjos espaciais distintos: aquele, mais para o interior e que predomina o cacaueiro; outro, na faixa mais litorânea com tendência à diversificação, tendo o cacaueiro como cultura predominante consorciada com mandioca e banana; e em menor proporção com outros cultivos como guaraná, coco-da-baía, pimenta do reino, borracha e maracujá (SEI, 2001a, p. 32). Conferir com os dados da Tabela 6, no segundo capítulo. Nas zonas policultoras do Baixo Sul26 (Ituberá e Valença, especialmente), destacam-se o dendê, a seringueira, a pimenta-do-reino, o cravo-da-índia, o guaraná, o coco-da-baía, e a mandioca (SEI, 2001a, p. 30; LOBÃO, CARVALHO e CARVALHO, 1997, p. 74). Segundo relato de alguns dos especialistas entrevistados, além das condições do solo, essa diversificação foi influenciada pela colonização japonesa iniciada nos anos de 1950 na região de Ituberá. Acrescenta-se ainda que o cacau-cabruca é um sistema agrissilvicultural que não tem um padrão bem definido quanto à densidade de indivíduos, a altura total e nem quanto à composição florística das árvores que compõem a proteção de topo (LOBÃO, CARVALHO; CARVALHO, 1997, p. 75), de forma que esses aspectos podem variar de região para região, conforme o manejo adotado e às condições edafoclimáticas. Esse agroecossistema foi implantado principalmente nas regiões de solos mais férteis, sobremodo nas margens de rios do Sul baiano. Em Una, pelas próprias condições dos seus solos – predominantemente latossolos, ou solos de tabuleiro –, mais pobres do que em outros municípios da região do Sul da Bahia, contendo elevada acidez e quantidade de alumínio, é considerada uma região não tradicional no cultivo do cacaueiro. Segundo os entrevistados, tal aspecto, aliado ao processo de colonização japonesa pelo qual passou o município na década de 1950 – que inseriu o cultivo de especiarias e de algumas fruteiras exóticas –, propiciou à produção agrícola do município um caráter mais diversificado em relação a outras regiões do Sul baiano, conforme se verifica nos dados apresentados no capítulo sobre o município de Una. Devido a essas 26 O Baixo Sul compreende a região que vai de Maraú a Valença. 111 particularidades, o município assemelha-se muito a algumas regiões do Baixo Sul, como Valença e Ituberá. E, por conseguinte, essas especiarias e fruteiras passaram também a compor muitos dos sistemas agroflorestais dessa região, tornando-os mais complexos. Contudo, os componentes perenes principais dos agroecossistemas, de acordo com os especialistas, são o cacaueiro, a seringueira, o cupuaçuzeiro e o açaizeiro (Tabela 13). O dendezeiro por algum tempo também compôs arranjos relevantes na região, mas se encontra em decadência sendo substituído em algumas áreas por outros cultivos. Tabela 13 – Tipos de SAF típicos do município de Una, Bahia, e quantidade de vezes citados pelos especialistas, 2007 SAF típicos de Una Quantidade de citações N° % Cacaueiro x Seringueira 5 26,3 Cupuaçuzeiro x Seringueira 3 15,8 Cacaueiro x Açaizeiro x Seringueira 2 10,5 Seringueira x Cupuaçuzeiro x Açaizeiro 1 5,3 Cacaueiro x Dendezeiro 1 5,3 Cacaueiro x Espécies nativas 1 5,3 Cacaueiro x Pupunheira 1 5,3 Cacaueiro x Açaizeiro 1 5,3 Cacaueiro x Seringueira x Cupuaçuzeiro 1 5,3 Gravioleira x Coqueiro 1 5,3 Quintais Agroflorestais 1 5,3 Cacaueiro x Coqueiro 1 5,3 Total geral 19 100,0 Fonte: Dados da pesquisa. Segundo o relato de um dos entrevistados, tanto o açaizeiro quanto o cupuaçuzeiro passaram a fazer parte dos arranjos locais após pesquisas e extensão realizadas pela CEPLAC. Confrontando os resultados das Tabelas 12 e 13 com os dados da Pesquisa Agrícola Municipal-PAM do IBGE apresentados na Tabela 6 (capítulo 2), nota-se que 112 as principais culturas da Região Sul e do município de Una – cacaueiro, seringueira, coqueiro e dendezeiro – encontram-se na constituição dos SAF citados. Quanto aos cultivos de cupuaçuzeiro e gravioleira, esses não são apresentados de forma especificada nos dados da PAM/IBGE por questões metodológicas do Instituto, de modo que essas culturas, juntamente com outras fruteiras, fazem parte de uma categoria denominada “cultivo de frutas de lavoura permanente não especificadas anteriormente”, conforme esclarece nota técnica do órgão (IBGE, 2007, p. 126). A cultura da pupunheira, similarmente, e em conjunto com outras culturas, compõe as categorias “cultivo de outras plantas de lavoura permanente não especificadas anteriormente” e “coleta de palmito em florestas nativas”, não havendo divulgação de dados individualizados pelo Instituto para essa cultura, de modo que os dados da produção do palmito da pupunha certamente estão incorporados à categoria “palmito” 27 da Tabela 6. A produção de frutos do açaizeiro, por sua vez, consta na Pesquisa de Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura de 2006, sendo divulgados apenas a produção nacional total e a do Estado do Pará, principal produtor do país (IBGE, 2006). Sobre a cultura de cupuaçu na Bahia, Lopes (1999, apud FRAIFE FILHO, [2002?]) informa que a área cultivada com essa fruteira em 1999 era de aproximadamente 254 hectares, estando 45 hectares em produção e 209 hectares em desenvolvimento. O autor acrescenta ainda que a maior concentração de plantio do cupuaçuzeiro no Estado localiza-se nos municípios de Ilhéus, Camamu, Ituberá, Nilo Peçanha, Taperoá, Valença e Una (ver LOPES; LUZ , 2000). No caso da gravioleira, São José (2003, p. 7) confirma que o cultivo dessa fruteira é bastante recente, e que evolução do mercado tem propiciado o surgimento de “muitas áreas comerciais em diversos Estados brasileiros, destacando a Bahia, Ceará, Pernambuco, Alagoas e Minas Gerais”. Quanto ao açaizeiro, Silva [2004?] afirma que o cultivo dessa palmácea e o processamento do seu fruto, já ocorrem em vários estados brasileiros, principalmente no Sul da Bahia. Pita (2008) complementa informando que a fruta é comercializada apenas no Baixo Sul da Bahia, na região de Valença, Camamu e Ituberá, e em Ilhéus, no Sul do Estado. 27 Além da pupunheira, outras palmáceas são produtoras de palmito, como a palmeira juçara (Euterpe edulis Mart) e o açaizeiro (Euterpe oleracea Marth). Outras informações, verificar Aboboreira Neto [2004?]. 113 Ao se questionar sobre os fatores que afetam a sustentabilidade dos SAF típicos da região, considerando as dimensões ambiental, econômica e social, os especialistas apontam um total de 14 aspectos distintos (Tabela 14). O mais citado refere-se ao conhecimento técnico do produtor ou dos trabalhadores agrícolas sobre o SAF, mormente quanto ao manejo e as relações existentes entre os diversos recursos do sistema. Outros dois fatores que obtêm mais de uma indicação são “eficiência no uso do manejo” e “influência de instituições técnicas regionais”. O primeiro concernente ao emprego mais adequado dos recursos do sistema, de modo a se ter um melhor aproveitamento desses, e, o segundo, relativo à influência exercida pelas instituições regionais de extensão e pesquisa quanto à abordagem técnica adotada e sugerida – respeitantes tanto aos tipos de cultivos como ao manejo – sobre os produtores. Todos os outros fatores têm apenas uma citação. 114 Tabela 14 – Tipo de fatores influenciadores da sustentabilidade dos SAF do Sul da Bahia, segundo a dimensão e a quantidade de vezes citados pelos especialistas, 2007 Fatores influenciadores Quantidade de citações N° % Conhecimento técnico (Social) 3 16,7 Eficiência no uso do manejo (Econômica) 2 11,1 Influência de instituições técnicas regionais (Econômica) 2 11,1 Agregação de valor (Econômica) 1 5,6 Conectividade entre os fragmentos (Ambiental) 1 5,6 Conscientização ambiental do produtor (Social) 1 5,6 Consumo de madeira¹ (Ambiental) 1 5,6 Dificuldades p/ reprodução social (Social) 1 5,6 Disponibilidade de mão-de-obra (Econômica) 1 5,6 Desenvolvimento de produtos (Econômica) 1 5,6 Limitações legislativas para explotação de espécies florestais (Econômica) 1 5,6 Condições dos Recursos Hídricos (Ambiental) 1 5,6 Preço/mercado (Econômica) 1 5,6 Sistemas associativistas (Econômica) 1 5,6 Total geral 18 100,0 Fonte: Dados da pesquisa. (1) Exploração de madeira voltada para o consumo dentro da UPA (ex.: madeira para fogão a lenha, secador de cacau). 115 Com relação aos fatores que têm limitado e, ou comprometido a sustentabilidade desses agroecossistemas na região, os especialistas enumeraram 16 aspectos, de tal forma que um maior número desses obteve no mínimo duas indicações, conforme se verifica na Tabela 15. Dentre os fatores mais indicados encontram-se três de ordem econômica – “preço/mercado”, “gerenciamento” e “crédito” – e um de ordem social – conhecimento técnico. O primeiro, ”preço/mercado”, conforme os entrevistados, refere-se às flutuações de preço e demanda, à estrutura do mercado – nesse caso, os especialistas referiam-se especificamente ao de cacau, que é uma commodity regida por um mercado oligopsônico. As limitações decorrentes dessas condições dizem respeito às mudanças bruscas de preços e, ou demanda, assim como a desaquecimentos cíclicos do mercado de determinados produtos (látex, subprodutos do dendê, dentre outros), situações às quais o produtor regional comumente, por falta de estratégia e conhecimento de mercado, e na busca de manter seu rendimento e sustento, apresenta um comportamento elástico, ora se endividando para investir e aumentar a produção, ora alterando drasticamente a sua produção para o que o mercado estiver remunerando melhor. Essas ações normalmente são acompanhadas de práticas ambientalmente impactantes, como derruba de matas para a venda de madeira, queima, etc. 116 Tabela 15 – Tipo de fatores limitantes da sustentabilidade dos SAF do Sul da Bahia, segundo a dimensão e a quantidade de vezes citados pelos especialistas, 2007 Fatores limitantes Quantidade de citações N° % Preço/mercado (Econômica) 4 12,5 Gerenciamento (Econômica) 4 12,5 Crédito (Econômica) 3 9,4 Conhecimento técnico (Social) 3 9,4 Assistência técnica (Econômica) 2 6,3 Barreira cultural (Social) 2 6,3 Custo/benefício da produção/ dependência de insumos externos (Econômica) 2 6,3 Escassez de diversidade de produtos/componentes econômicos (Econômica) 2 6,3 Disponibilidade de mão-de-obra (Econômica) 2 6,3 Escassez de agroindústria/agregação de valor (Econômica) 2 6,3 Qualidade de vida (Social) 1 3,1 Especulação imobiliária de terras (Econômica) 1 3,1 Dificuldades p/ reprodução social (Social) 1 3,1 Falta de credibilidade do cooperativismo (Econômica) 1 3,1 Condições dos Recursos Hídricos (Ambiental) 1 3,1 Consumo de madeira (Ambiental) 1 3,1 Total geral 32 100,0 Fonte: Dados da pesquisa. 117 O “gerenciamento” diz respeito tanto à administração e controle econômicofinanceiro da unidade de produção quanto ao conhecimento do mercado ou de processos de comercialização de produtos pelos produtores e, ou administradores das unidades de produção. A prática de um controle e gestão econômico-financeira das produções rurais da região é algo pouco comum, ou praticamente inexistente, sobremodo nas propriedades médias, pequenas e familiares, dificultando a tomada de decisão e melhoria do empreendimento. Por um lado, o produtor rural tradicional do Sul da Bahia durante anos habituou-se em lidar com as “facilidades” e liquidez do mercado da amêndoa de cacau, não se mostrando na atualidade hábil com a comercialização de outros produtos que passaram a fazer parte da sua produção (como fruteiras – gravioleira, cupuaçuzeiro, maracujazeiro –, palmáceas – coqueiro, açaizeiro, dendezeiro –, dentre outras), especialmente após a crise cacaueira. Por outro, a lida com essa commodity há mais de dois séculos propiciou ao agricultor da região grande acúmulo de conhecimento sobre a produção e comercialização do cacau, que não é o mesmo para outros produtos, e que ao ser transmitido por gerações, torna-se um capital fortemente imobilizado. Acerca do “crédito”, esse, segundo os entrevistados, não é disponibilizado em número e em condições (valores, prazos, etc.) adequados ao contexto e às características dos produtores da região. Reunindo os fatores listados enquanto influenciadores e limitantes da sustentabilidade dos SAF típicos da região Sul da Bahia, têm-se, por ordem, “conhecimento técnico”, “preço/mercado”, “gerenciamento” e “suporte e influência de instituições técnicas” como sendo os mais citados (Tabela 16). 118 Tabela 16 – Tipos de fatores influenciadores/limitantes da sustentabilidade dos SAF do Sul da Bahia, segundo a dimensão e a quantidade de vezes citados pelos especialistas, 2007 Fatores influenciadores/limitantes Quantidade de citações N° % Conhecimento técnico (Social) 6 12,0 Preço/mercado (Econômica) 5 10,0 Gerenciamento (Econômica) 4 8,0 Suporte e influência de instituições técnicas (Econômica)¹ 4 8,0 Disponibilidade de mão-de-obra (Econômica) 3 6,0 Crédito (Econômica) 3 6,0 Diversidade de produtos/componentes econômicos (Econômica) 3 6,0 Escassez de agroindústria/agregação de valor (Econômica) 3 6,0 Condições dos Recursos Hídricos (Ambiental) 2 4,0 Consumo de madeira (Ambiental) 2 4,0 Custo/benefício da produção/ dependência de insumos externos (Econômica) 2 4,0 Dificuldades p/ reprodução social (Social) 2 4,0 Barreira cultural (Social) 2 4,0 Eficiência no uso do manejo (Econômica) 2 4,0 Presença de sistemas/ações associativistas/cooperativistas (Econômica) 2 4,0 Conectividade entre os fragmentos (Ambiental) 1 2,0 Especulação imobiliária de terras (Econômica) 1 2,0 Conscientização ambiental do produtor (Social) 1 2,0 Limitações legislativas para explotação de espécies florestais (Econômica) 1 2,0 Qualidade de vida (Social) 1 2,0 Total geral 50 100,0 Fonte: Dados da pesquisa. (1) Reúne os fatores definidos nas Tabelas 14 e 15 como “influência de instituições técnicas regionais” e “assistência técnica”. 119 Para a orientação da composição do indicador de sustentabilidade dos SAF padrões do Sul da Bahia, os entrevistados selecionaram, a partir de uma relação apresentada28, as variáveis que entendiam compor os melhores indicadores das condições de sustentabilidade dos sistemas agroflorestais da região (Tabela 17). Ao todo foram obtidas 303 indicações para um total de 68 variáveis, ou seja, cada variável recebeu, em média, 4,46 citações. Em conformidade com as dimensões às quais pertenciam, as variáveis econômicas alcançaram a média mais elevada (5,15), seguidas pelas sociais (4,88) e ambientais (4,19), ou seja, encontravam-se aproximadamente a 0,7, 0,42 e -0,26 pontos distantes da média geral, respectivamente. Dentre as variáveis ambientais, aquelas pertencentes à operação do sistema auferiram a maior média (4,43) da respectiva dimensão. Em seguida vieram os recursos exógenos (4,38) e os endógenos (4,09). Confrontando com os resultados da pesquisa sobre o uso de indicadores ambientais para avaliação de agroecossistemas, apresentada no item anterior, aparentemente se verificam ordens de preferência distintas, de modo que para a pesquisa sobre o uso de indicadores os recursos endógenos compreendiam o maior volume de variáveis (66,2%), seguidas por aquelas relativas às operações do sistema (29,6%) e, por fim, aos recursos endógenos (4,2%), ver Tabela 10. Há que se esclarecer, contudo, que os especialistas selecionaram as variáveis que melhor indicam as condições de sustentabilidade dos SAF típicos do Sul da Bahia, os quais, conforme Tabela 12, constituem-se em sistemas agrissilviculturais, ou seja, sem a presença de animais na sua composição. Desta forma, reduzidas foram as indicações de variáveis concernentes ao elemento “fauna” da categoria “recursos endógenos” (Tabela 4C). Assim, recalculando a média de indicações dos “recursos endógenos” sem incluir o elemento “fauna”, obtém-se uma média aproximada de 4,46, levando as três categorias da dimensão ambiental presentes na Tabela 17 a ocuparem as mesmas posições de indicação apresentadas na Tabela 10. 28 Ver 6ª questão do roteiro de entrevista dos especialistas no Apêndice B. 120 Tabela 17 – Quantidade de indicações dos especialistas dos melhores indicadores da sustentabilidade dos SAF do Sul da Bahia, por dimensão, categoria e elemento, 2007 Dimensão/categoria/elemento AMBIENTAIS Recursos Endógenos Água Solo Luz Flora Fauna Ar Recursos Energéticos Áreas Únicas Operação do Sistema Manejo técnico Rendimento técnico Recursos Exógenos Água Solo Flora Fauna Ar Áreas Únicas SOCIAIS Operação do Sistema ECONÔMICOS Operação do Sistema Manejo e rendimento socioeconômico Operação de Sistemas Exógenos Manejo e rendimento socioeconômico Resultado geral Fonte: Dados da pesquisa. Total de indicadores Quantidade de indicações Média de indicações Média de indicações – Média do resultado geral 47 32 4 6 1 9 8 2 1 1 7 5 2 8 1 1 2 2 1 1 8 8 13 9 9 4 4 68 197 131 18 28 4 37 24 7 7 6 31 23 8 35 6 6 7 7 3 6 39 39 67 43 43 24 24 303 4,19 4,09 4,50 4,67 4,00 4,11 3,00 3,50 7,00 6,00 4,43 4,60 4,00 4,38 6,00 6,00 3,50 3,50 3,00 6,00 4,88 4,88 5,15 4,78 4,78 6,00 6,00 4,46 -0,26 -0,36 0,04 0,21 -0,46 -0,34 -1,46 -0,96 2,54 1,54 -0,03 0,14 -0,46 -0,08 1,54 1,54 -0,96 -0,96 -1,46 1,54 0,42 0,42 0,70 0,32 0,32 1,54 1,54 0,00 Nota: Os valores referentes às médias estão de acordo com o critério de aproximação utilizado pelo software Microsoft Excel. 121 Como a dimensão social é composta por apenas um elemento – “operação do sistema” – a média corresponde ao seu próprio valor. No que diz respeito à dimensão econômica, a seleção de variáveis constituintes da “operação de sistemas exógenos” a levaram a atingir elevada média de votos (6,0), enquanto às operações internas alcançaram um valor menor (4,78). Dividindo-se as variáveis econômicas listadas na Tabela 16 em internas e externas aos agroecossistemas considerados, constata-se que pelo menos 19 das 33 indicações referem-se a fatores externos ao sistema29, ou seja, 57,6% das variáveis enumeradas pelos especialistas correspondem a operações de sistemas exógenos. Nesse sentido, as médias citadas corroboram com a preocupação dos especialistas com os aspectos econômicos externos ao agroecossistema enquanto fatores relevantes na determinação da sustentabilidade desses sistemas. Com respeito aos elementos mais indicados, verifica-se que a observação de questões relativas ao consumo de recursos energéticos (recursos endógenos) é tida pelos especialistas, com unanimidade, como um bom indicador do grau de sustentabilidade dos SAF. Outros recursos ambientais com alto índice de indicação (média 6,0) são as áreas únicas (de proteção) – tanto do sistema, quanto as externas–, e a água e o solo de sistemas externos. Similarmente aos resultados obtidos na pesquisa sobre indicadores ambientais e apresentados na Tabela 9, fauna e ar revelam não serem bons indicadores para a maior parte dos entrevistados. O solo (média interna – 4,67; média externa – 6,0) e o manejo técnico (4,6), por sua vez, são dois dos elementos mais indicados. E diferentemente do ocorrido na citada pesquisa, a água (média interna – 4,5; média externa – 6,0), aqui, é considerada como “bom indicador” das condições de manutenção dos SAF na região, no longo prazo. Em se tratando dos pesos de cada uma das dimensões na determinação da sustentabilidade dos SAF, a atribuição de pesos iguais às três dimensões foi a alternativa mais apontada (3 citações). E em segundo lugar ficou a possibilidade que confere maior peso à dimensão econômica (2 citações). Cada uma das duas outras citações é conferida à opção que considera a questão ambiental de maior peso, e à 29 Fatores externos e respectivas quantidades de citações: “Preço/mercado” (5), “Suporte e influência de instituições técnicas” (4), “Crédito” (3), “Escassez de agroindústria/agregação de valor” (3), “Presença de sistemas/ações associativistas/cooperativistas” (2), “Especulação imobiliária de terras” (1) e “Limitações legislativas para explotação de espécies florestais” (1). 122 opção que concebe que as dimensões possuem pesos diferentes conforme o tipo de SAF (Tabela 18). Segundo essa última concepção, no sistema cacau-cabruca o peso maior é da dimensão ambiental, devido ao potencial de conservação de remanescentes florestais; nos arranjos mais recentes na região, como o Cacaueiro x Seringueira, a dimensão econômica tem maior peso, por serem constituídos de componentes econômicos voltados para o mercado; e no caso de sistema de policultivos, mais diversificados, a questão social apresenta maior peso, já que esses tendem a suprir as necessidades de consumo da família dos produtores rurais, devido aos diferentes produtos gerados, como também, em decorrência da sua complexidade, demandam maior tempo e quantidade de trabalho, gerando postos de trabalho principalmente para a mão-de-obra familiar. Tabela 18 – Pesos das dimensões ambiental, econômica e social na determinação da sustentabilidade dos SAF do Sul da Bahia, segundo a quantidade de vezes citados pelos especialistas, 2007 Pesos das dimensões Quantidade de citações N° % Pesos iguais às três dimensões 3 42,9 Maior peso à dimensão econômica 2 28,6 Maior peso à dimensão ambiental 1 14,3 Pesos às dimensões conforme a estrutura do SAF 1 14,3 Total geral 7 100,0 Fonte: Dados da pesquisa. Realmente, pensar em definir pesos a essas três dimensões, ou a outras que se considerem como constituintes da sustentabilidade de um agroecossistema é tarefa de difícil concepção e, certamente, questionável para muitos estudiosos da área. Dentre todos os estudos consultados e analisados na presente pesquisa, não se encontrou um que atribuísse pesos distintos às dimensões contempladas. Podese dizer, sumariamente, que a dificuldade reside na infinitude de variáveis envolvidas e na delimitação do grau de influência de cada uma isoladamente e em conjunto na 123 sustentabilidade, pois se sabe que existem relações de interdependência e que, devido ao próprio caráter das variáveis (aspectos ambientais, sociais, econômicos, políticos, culturais, etc.), envolvem processos contínuos, dinâmicos e de coevolução, em termos espaciais e temporais. Apesar dessas ponderações, remontando às percepções dos especialistas acerca da realidade regional e dos fatores que afetam as condições de manutenção dos SAF, expressas nas questões anteriores, observa-se que, diferentemente da maior parte dos resultados apresentados na Tabela 18, os fatores econômicos são apontados como sendo os de maior peso no estabelecimento da sustentabilidade dessas agroflorestas. Para ilustrar tal verificação, cada um dos fatores apontados pelos especialistas é classificado segundo as dimensões ambiental, econômica e social (em parênteses nas Tabelas 14, 15 e 16). Verifica-se que as variáveis que ora influenciam, ora limitam a sustentabilidade dos SAF na região são preponderantemente de cunho econômico, de modo que essa dimensão compreende 55,6% e 71,9% dos aspectos influenciadores e limitantes, respectivamente (Tabela 19). Considerando ambos os aspectos, a dimensão econômica soma 66% dos fatores citados e, na seqüência, encontram-se fatores relativos às questões sociais (24%), e em último lugar, às ambientais (10%). Tabela 19 – Quantidade de fatores influenciadores e limitantes da sustentabilidade dos SAF do Sul da Bahia, segundo a dimensão e a quantidade de vezes citados pelos especialistas, 2007 Dimensões Influenciadores Limitantes Ambos N° % N° % N° % Econômico 10 55,6 23 71,9 33 66,0 Social 5 27,8 7 21,9 12 24,0 Ambiental 3 16,7 2 6,3 5 10,0 Total geral 18 100,0 32 100,0 50 100,0 Fonte: Dados da pesquisa. 124 Interessante ressaltar que foi justamente na perspectiva de limitação e comprometimento da sustentabilidade desses agroecossistemas que as variáveis econômicas revelam maior peso sob a ótica dos especialistas. Consoante com as etapas delineadas na metodologia salienta-se que a pesquisa sobre indicadores de sustentabilidade para agroecossistemas e a pesquisa sobre os SAF típicos da região Sul da Bahia e seus fatores de sustentabilidade correspondem exatamente ao segundo e terceiro passos sugeridos por Camino V. e Müller (1993) no processo de definição de indicadores de sustentabilidade para sistemas em geral. As informações nelas auferidas, por conseguinte, são peças fundamentais para a construção de uma proposta metodológica de mensuração da sustentabilidade de SAF típicos da região, ação da próxima etapa. 5.3 Breve histórico dos SAF típicos na Região Sul da Bahia Para se entender o surgimento e implantação desses padrões de sistemas agroflorestais há que se recorrer ao processo de inserção dos respectivos cultivos que compõem os SAF típicos mais citados pelos especialistas, quais sejam: o cacaueiro, a seringueira, o cupuaçuzeiro e o açaizeiro. O cacaueiro, planta tradicional e mais antiga na região, tem sua inserção no Sul baiano datada da época de colonização e povoamento dessa região. O cultivo do cacaueiro (Theobroma cacau) é originário de áreas de floresta equatorial da bacia amazônica, onde essa árvore cresce naturalmente como componente das matas densas tropicais (PURSEGLOVE, 1966, apud MAY; ROCHA, 1996, p. 35-36). O cacaueiro foi introduzido no estado da Bahia em meados do século XVIII, quando algumas sementes desse fruto foram trazidas do Pará e plantadas nas matas úmidas litorâneas. A partir do século XIX seu cultivo é disseminado de forma sistemática pelos colonos em roças e áreas vizinhas ao município de Ilhéus, sendo difundido no Sul do Estado inicialmente nos terrenos de maior fertilidade e às margens dos rios, pois era difícil o acesso ao interior da região decorrentes da mata densa e dos terrenos acidentados. Nesse período propaga-se o cultivo do cacaueiro baseado no sistema agrissilvicultural denominado de “cacau-cabruca”. Trata-se de um sistema de plantio onde os cacauais são implantados em áreas nas quais o sub-bosque da mata nativa 125 é eliminado, mantendo-se o estrato dominante e codominante da floresta. Em alguns casos, o dossel superior da floresta também é raleado, para proporcionar uma proteção mais adequada ao cacaueiro (LOBÃO; CARVALHO; CARVALHO, 1997, p. 74). Daí o surgimento do termo “cabruca”, que deriva do ato de cabrucar (roçar, cortar). Nos anos de 1890 os plantios avançam pela região e passa a ser cultivado em escala comercial, tornando-se o principal produto na pauta de exportação da Bahia a partir de 1903. No município de Una, entretanto, os plantios de cacaueiros não se expandem como no restante da região, devido à baixa fertilidade dos seus solos, muito embora nos dias atuais se constitua no cultivo que ocupa a maior área no município. Em meados dos anos de 1970, a CEPLAC, órgão federal criado em 1957 para incentivar a expansão da lavoura do cacau, receando um déficit na oferta mundial de cacau, teve como missão principal estimular a substituição dos cacauais antigos e de baixa produtividade por um sistema intensivo, com adensamento das áreas de cacaueiros. Assim, esse órgão desenvolve e difunde um pacote tecnológico, vinculado à disponibilidade de crédito, que consistia num sistema de derruba total da mata e no plantio dos cacauais consorciados com leguminosas – sendo a Eritrina (Erytrina fusca) uma das principais espécies empregadas –, associado ao emprego elevado de fertilizantes e agrotóxicos nas áreas (MAY; ROCHA, 1996, p. 39-43; INSTITUTO AMERICANO DE...-IICA/CEPLAC, 1976, p. 136). No caso da seringueira (Hevea brasiliensis), planta originária da região Amazônica, encontrada naturalmente nas florestas dos Estados do Acre, Amazonas, Rondônia, Pará e em áreas vizinhas do Peru e Bolívia, registros históricos indicam que o seu cultivo no Sul da Bahia – especificamente em Canavieiras, Una e Ilhéus – está presente desde o início dos anos de 1900. Contudo, a exploração comercial passa a receber incentivos governamentais no final dos anos de 1950, através de fomento para a ampliação do cultivo industrial. O maior impulso ao cultivo da seringueira no Estado baiano deu-se na década de 1960 graças à campanha encetada pelo Governo Estadual, despertando para as possibilidades da borracha no mercado nacional e internacional (INSTITUTO AMERICANO DE...-IICA/CEPLAC, 1976, p. 114-115 e 137). Seguiram-se outros programas de apoio à produção de borracha, tal como o Programa de Incentivo à 126 Produção de Borracha Natural-PROBOR na década de 1970, implantado com recursos subsidiados pelo Tesouro Nacional, e, mais recentemente, em 2004, a política do Governo Federal incluindo a borracha na Política de Garantia de Preços Mínimos através da CONAB (PENNACCHIO, [2005?], p. 1). Essas medidas influenciam fortemente a ampliação desse cultivo no Sul da Bahia. O cupuaçuzeiro (Theobroma grandiflorum), fruteira nativa da Amazônia brasileira, foi introduzido na Bahia em 1930 por Gregório Bondar, na antiga estação experimental de Água Preta, em Uruçuca (BONDAR, 1949; RIBEIRO et al., 1992, citados por LOPES; LUZ, 2000). Devido à grande expansão da cacauicultura, essa primeira introdução parece não ter despertado grande interesse por parte dos agricultores. Não obstante, sabia-se que colonos japoneses estabelecidos em Ituberá e Nilo Peçanha tinham áreas representativas de cupuaçuzeiro, originadas de matrizes plantadas nos anos de 1970, pois realizavam venda de polpa de frutos com sucesso. Até o final da década de 1980, essa fruteira era mais ou menos proscrita na Bahia por ser considerada, na Amazônia, hospedeira de Crinipellis perniciosa, o agente causal da vassoura-de-bruxa (LOPES; LUZ, 2000). O açaizeiro (Euterpe oleracea) é uma espécie nativa das várzeas da região amazônica, tendo o Estado do Pará como o principal produtor nacional (IBGE, 2006). A partir da década de 1980 é difundido no resto do mercado nacional, de modo que sua introdução no Estado baiano, mais especificamente na Região Sul é bastante recente. As sucessivas crises na economia cacaueira nos anos de 1990, associadas à infestação das lavouras com a vassoura-de-bruxa, à perda de parte de seringais por conta de doenças e do envelhecimento das plantas e à difusão de discussões ambientalistas na região promovem o cenário propício à busca de alternativas que reduzissem a vulnerabilidade financeira do produtor e que fossem menos impactantes ao meio ambiente. Assim, os consórcios e policultivos – inclusive com cacaueiros, seringueiras, fruteiras (cupuaçuzeiro, gravioleira, dentre outras), palmáceas (açaizeiro, pupunheira, etc.) – começam a ser considerados na política, pesquisa e extensão de instituições atuantes na região, como a CEPLAC e ONGs, estimulando a implantação e difusão desses sistemas agroflorestais na região (ver LEITE; LINS; VIEIRA, [2001?] e LOPES; LUZ, 2000). 127 5.4 Caracterização dos produtores, das UPA e dos SAF Ocupa-se neste tópico em apresentar e discutir os resultados respeitantes à caracterização dos produtores entrevistados, das suas unidades de produção e dos respectivos SAF investigados que compõem suas áreas. A amostra compreende categorias singulares entre si, possibilitando a análise de realidades bastante diferentes. Com base em Dufumier (1996, p. 72), a mesma compõem-se de um pequeno produtor patronal (UPA 1), um produtor patronal de grande unidade de produção (UPA 2) e um produtor familiar (UPA 3), como pode ser conferido pelas características constantes no Quadro 10. Todos os proprietários são do gênero masculino, dois possuem o ensino superior – um completo (UPA 1) e outro incompleto (UPA 2) – e um o fundamental. Os das unidades 2 e 3 são exclusivamente produtores rurais e têm certificação orgânica para seus produtos. O da UPA 1 é funcionário público, sua principal atividade, e sua produção é convencional. O pequeno produtor patronal tem uma propriedade com 28 hectares, mantida com mão-de-obra temporária e permanente. O mesmo representa o SAF composto por cupuaçuzeiro e seringueira. O SAF composto por cacaueiro, açaizeiro e seringueira tem o produtor patronal de grande unidade de produção como representante. Este é detentor de uma propriedade rural com 38 empregados (entre permanentes e temporários) em 2.000 hectares, sendo que 350 hectares são destinados ao referido sistema de cultivo. O produtor familiar, por sua vez, apresenta o sistema agroflorestal cacaueiro com seringueira, implantado em 5 hectares de uma área total de 7,7 hectares. A mão-de-obra utilizada é exclusivamente familiar. As três propriedades foram adquiridas por meio de herança familiar. Sumariamente, UPA 1 foi comprada dos primeiros proprietários, colonos brasileiros, os quais, nos anos de 1950, receberam do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária-INCRA terras da região para serem povoadas. A UPA 2 faz parte de herança do produtor, estabelecida ao longo dos últimos 250 anos. E a UPA 3 também faz parte de herança paterna. 128 Quadro 10 – Caracterização dos produtores e das suas unidades de produção, Una, Bahia, 2008 Unidade de produção agrícola (UPA) Especificações 1 2 3 Tipo de SAF Cupuaçuzeiro x Seringueira Cacaueiro x Açaizeiro x Seringueira Cacaueiro x Seringueira Tipologia do produtor pequeno produtor patronal produtor patronal de grande unidade de produção produtor familiar Gênero Masculino Masculino Masculino Escolaridade Superior completo Superior incompleto Fundamental incompleto Principal atividade Funcionário público Produtor rural Forma de aquisição da propriedade Herança Tipo de produção Convencional Área total da propriedade rural 28,0 ha 2.000,0ha 7,7 ha 2 assalariados com carteira 17 assalariados com carteira 4 pessoas (familiar) 3 temporários 21 temporários PBT* (R$) 20.000,00 550.000,00 13.000,00 %RA sobre RT 25% 100% 80% %RNA sobre RT 75% 0% 20%** Mão-de-obra Orgânica certificada Fonte: Dados da pesquisa. Nota: Legenda: PBT – Produto Bruto Total da unidade de produção; RA – Renda Agrícola; RT – Renda Total familiar; RNA – Renda Não-Agrícola. (*) Estimativa do Produto Bruto Total da unidade de produção em 2007, expressa em valores nominais. (**) Relativa a aposentadoria por invalidez de um dos membros da família. 129 Tratam-se de propriedades localizadas em regiões mais ao interior do município de Una, em solos classificados como latossolos, e que apresentam aptidão regular para lavouras (Figuras 3F e 4F, respectivamente). Quanto à parte financeira das UPA, cada uma, conforme a ordem exposta no Quadro 10, aufere, em média, um faturamento anual de R$20.000,00, R$550.000,00 e R$13.000,00. As atividades desenvolvidas na propriedade rural contribuem com 100% na composição da renda da família do proprietário da UPA 2, e com 80% no caso da família do proprietário da UPA 3. Esse percentual corresponde apenas a 25% para o caso da renda familiar do proprietário da UPA 1. Esses valores não apenas refletem a relevância da atividade rural na vida desses produtores como, sobremodo, confirma a classificação de cada um deles segundo as categorias de Dufumier (1996). Assim, o produtor da UPA 1, qualificado como pequeno produtor patronal não encontra na atividade rural condições suficientes para manter seu padrão de vida, tendo na zona urbana outras possibilidades profissionais para compor sua renda familiar. O produtor da UPA 2, por sua vez, encontra condições satisfatórias para a manutenção do seu modo de vida através das atividades agropecuárias, de sorte que se dedica exclusivamente a elas. Quanto ao produtor da UPA 3, esse tem a maior parte da renda da sua família composta pelas atividades agrícolas, o que decorre certamente do fato de ainda serem mais atrativas, mormente para o sustento familiar, em comparação às possibilidades financeiras que teria, caso realizasse outras atividades profissionais fora da sua propriedade. Por outro lado, a terra, em última instância, configura-se numa segurança futura enquanto ativo fixo. Em se tratando da infra-estrutura e benfeitorias existentes, na UPA 1 há uma casa e um secador à lenha, ambos de alvenaria, um cômodo em madeira, e vicinais. Não possui rede elétrica nem estruturas de saneamento básico. Na UPA 2, por sua vez, existe uma infra-estrutura rara às propriedades da região. Além da casa sede, possui casas de alvenaria para seus funcionários, escritório, fábrica para processamento de polpas de frutas, secador elétrico e à lenha, represa, pequena hidrelétrica (Figuras 1E e 2E), rede elétrica própria, estrutura própria de fornecimento de água para consumo, tratamento de esgoto (fossa séptica), galpões de madeira, estradas de chão, dentre outras. 130 A UPA 3 possui casa de alvenaria, onde reside a família do produtor, barcaça, fossa negra, ligação com rede elétrica pública. Verifica-se que tanto a UPA 1 como a UPA 2, no que tange ao tamanho, correspondem aos tipos de propriedades mais presentes no município de Una. Apresentam-se a seguir os resultados relativos aos sistemas agroflorestais pesquisados que compõem essas unidades de produção. 5.4.1 Características dos SAF Discutem-se neste tópico as características apresentadas pelos SAF pesquisados, inclusive os resultados de algumas das variáveis que compõem os indicadores originais da metodologia proposta neste estudo para mensurar a sustentabilidade desses sistemas. Assim, por ordem, os SAF pesquisados correspondem a 3% (0,8ha), 18% (350ha) e 65% (5ha) das áreas das UPA 1, 2 e 3. O SAF 1 emprega três tipos de componentes diferentes ao longo do seu ciclo: mandioca, seringueira e cupuaçuzeiro. O SAF 2 (cacaueiro x açaizeiro x seringueira) tem seu ciclo constituído por bananeira, seringueira, cacaueiro e açaizeiro (Quadro 11). O SAF 3, por seu turno, é o mais diversificado dos três, de modo que além dos dois principais componentes, a seringueira e o cacaueiro, engloba mais seis diferentes tipos de vegetais, quais sejam: bananeira, açaizeiro, cupuaçuzeiro, laranjeira, pupunheira e espécies arbóreas nativas. A distribuição desses seis últimos componentes nas áreas do SAF, contudo, não se dá de maneira uniforme, ocorrendo áreas onde alguns não estão presentes. Estima-se que a produção vegetal total desses sistemas no ano de 2007 – tanto a consumida dentro da propriedade quanto a comercializada – alcançou cerca de 2 T no SAF 1, 214 T no SAF 2 , 5 T no SAF 3. Dividindo a produção pelas respectivas áreas dos SAF, obtém-se o indicador da produtividade da terra, variável que corresponde ao indicador de produtividade ambiental do índice de sustentabilidade dos sistemas. Sobre esse aspecto, verificase que o sistema cupuaçuzeiro com seringueira (SAF 1) mostra-se o mais produtivo dentre os três sistemas agrissilviculturais, auferindo mais de duas toneladas (2,17 T/ha/ano) em cada hectare do SAF. 131 Quadro 11 – Características físicas dos Sistemas Agroflorestais pesquisados, Una, Brasil, 2008 Tipo de SAF 1 2 3 Cupuaçuzeiro x Seringueira Cacaueiro x Açaizeiro x Seringueira Cacaueiro x Seringueira ASAF (ha) 0,8ha 350,0ha 5,0ha % ASAF sobre AT 2,9% 17,5% 64,9% Banana Bananeira, Açaizeiro, Cupuaçuzeiro, Laranjeira, Pupunheira, Espécies arbóreas nativas Especificações Outros componentes utilizados no ciclo do SAF1 Mandioca Seringueira: 25 Seringueira: 38 Seringueira: 24 Idade dos principais componentes (anos) Cupuaçuzeiro: 7 UTHSAF2 (UTH/ano) 1,42 25,00 3,65 Produção do SAF3 (T) 1,76 213,94 4,63 Produção/ASAF (T/ha/ano) 2,17 0,61 0,93 Produção/UTHSAF (T/UTH/ano) 1,24 8,56 1,27 Cacaueiro: 23 Açaizeiro:10 Cacaueiro: 10 Fonte: Dados da pesquisa. Nota: Legenda: ASAF – Área do SAF; AT – Área Total da propriedade; UTHSAF – Unidade de Trabalho Humano empregada no SAF, ao ano. (1) Ou seja, os componentes utilizados desde a implantação do SAF até o momento atual. (2) Considera-se a mão-de-obra familiar empregada na propriedade e a não familiar empregada no SAF. (3) Estimativa do total da produção (biomassa) vegetal efetivamente colhida no SAF em 2007, expressa em toneladas. 132 No segundo lugar encontra-se o sistema cacaueiro com seringueira (SAF 3), com uma colheita de quase uma tonelada (0,93 T/ha/ano) por hectare. O sistema cacaueiro com açaizeiro e seringueira (SAF 2) revela-se o menos eficiente dentre os sistemas de cultivo analisados, colhendo em 2007 cerca de 0,6 T/ha/ano. Sobre a produtividade da mão-de-obra do sistema, que inclusive se constitui numa das variáveis que compõem o indicador de produtividade da dimensão social, as posições entre dois sistemas se invertem. O SAF 2 revela-se o mais produtivo, colhendo mais de oito toneladas (8,56 T/UTH/ano) por unidade de mão-de-obra ao ano. Enquanto isso, o SAF 3 mantém-se em segundo lugar, com 1,27 T/UTH/ano, seguido pelo SAF 1 com 1,24 toneladas de produção vegetal por unidade de trabalho em 2007. Dentre outros aspectos como o tipo de solo, o desempenho e a capacitação da mão-de-obra para o manejo, ambos resultados de produtividade – da terra e da mão-de-obra – decorrem dos desenhos adotados na disposição e combinação dos componentes na área do SAF. Por seu turno, os desenhos adotados influenciam diretamente sobre dois importantes aspectos internos, e indissociáveis, de todo e qualquer tipo de sistema de cultivo ou de criação de animais: as interações ecológicas estabelecidas e o manejo demandado e, ou adotado. Quanto ao primeiro aspecto, são determinadas as interações que ocorrem entre os componentes (relações de complementaridade, de competição, de predação, etc.), e entre esses e o meio abiótico (horizontes do solo mais explorados e as respectivas demandas e ciclagem de nutrientes, níveis de estratos estabelecidos e seus efeitos relativos à luminosidade e ao microclima da área, dentre outros). Quanto ao segundo, são delineados o tipo e a quantidade de tratos culturais demandados, a distribuição da mão-de-obra ao longo do ano agrícola, os insumos necessários, enfim, as diversas operações a serem realizadas dentro do sistema. Os tratos culturais desenvolvidos e a distribuição da mão-de-obra ao longo de um ano agrícola, em cada SAF, podem ser conferidos nas Figuras 14, 15 e 16. Assim, no caso do SAF 1 (cupuaçuzeiro x seringueira), os tratos normalmente desenvolvidos no cultivo de cupuaçuzeiro são a roçagem (em janeiro e junho), a adubação (em janeiro), e a colheita e quebra (de fevereiro a maio), ver Figura 14. Cultura JAN FEV MAR ABR MAI MESES JUN JUL AGO SET OUT NOV Cupuaçuzeiro Seringueira Legenda: Sem tratos Roçagem (1 pessoa na empreita¹) Adubação (1 pessoa – permanente) Colheita e quebra (1 pessoa – permanente) Sangria (2 pessoas (parceria) – a cada dois dias (esquema de D2)) Época da renovação da folhagem Figura 14 – Calendário agrícola dos principais cultivos do SAF 1 (cupuaçuzeiro x seringueira), Una, Bahia, 2008. Fonte: Dados da pesquisa. (1) Trabalho ajustado para pagamento global da atividade, e não a dias. DEZ 134 Nas seringueiras, por sua vez, é realizada apenas a sangria, que ocorre durante todo o ano, exclusive nos meses de setembro e outubro – época em que há renovação das folhagens. Quanto ao SAF 2 (cacaueiro x açaizeiro x seringueira), verifica-se na Figura 15 a diversidade de tratos culturais demandados ao longo do ano. E mesmo empregando uma quantidade de mão-de-obra cerca de quatro vezes maior do que a empregada no SAF 1, a produção vegetal por mão-de-obra alcança maior índice (Quadro 11). Com relação a isso, há que se considerar que os tipos de cultivos implantados em um e em outro SAF diferem também quanto ao período e o volume de produção. Vê-se no SAF 2 que além da prática da sangria ser mantida no período de renovação das folhagens (meses de setembro e outubro), período no qual a seringueira sofre grande redução na sua produção, tanto o açaizeiro quanto o cacaueiro são culturas com períodos de produção mais longos do que o cupuaçuzeiro. Tais aspectos propiciam a retirada de maior volume de produção vegetal ao longo do ano, o que repercute positivamente na produtividade da mão-deobra e da terra. Cultura JAN FEV MAR ABR MAI MESES JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ Açaizeiro Seringueira Cacaueiro Legenda: Sem tratos Colheita do fruto (a cada 15 dias – 7 pessoas permanentes) Limpeza (poda a cada 3 ou 4 anos – 7 pessoas permanentes) Limpeza (roçagem, poda, retirada da vassoura-de-bruxa), colheita e quebra na Safra Principal (18 pessoas na parceria) Sangria (a cada três dias (esquema de D3) – 18 pessoas na parceria) Sangria na época da renovação da folhagem (a cada três dias (esquema de D3) – 18 pessoas na parceria) Colheita e quebra na Safra Temporã (18 pessoas na parceria) Colheita e quebra na Safra Principal (18 pessoas na parceria) Figura 15 – Calendário agrícola dos principais cultivos do SAF 2 (cacaueiro x açaizeiro x seringueira), Una, Bahia, 2008. Fonte: Dados da pesquisa. 136 Com respeito ao SAF 3 (cacaueiro x seringueira), os cultivos principais demandam mão-de-obra ao longo de todo o ano agrícola, conforme mostra a Figura 16. Verifica-se, ainda, que essa demanda é maior comparativamente ao SAF 1. A produção dos vegetais que compõem o SAF 3 também apresenta-se mais prolongada do que a observada no sistema cupuaçuzeiro com seringueira (SAF 1). Não obstante, conforme indicado no Quadro 11, a produtividade da terra do SAF 3 é menor que a do SAF 1 e maior que a do SAF 2, enquanto a produtividade da sua mão-de-obra é menor do que a do SAF 2 e próxima ao valor apresentado pelo SAF 1. O nível de adensamento das áreas e as técnicas de manejo adotadas nos sistemas podem ser a justificativa para esses resultados. Ainda sobre o desenho dos SAF estudados, esses foram estabelecidos gradualmente ao longo dos anos e em conformidade, sobremaneira, com o mercado dos produtos envolvidos, com as políticas agrícolas e leis (sobremodo as ambientais) vigentes na época, e com a concepção de desenvolvimento regional adotada e difundida por órgãos e instituições técnicas e de assistência às atividades agropecuárias que atuam na região. No caso do sistema da UPA 1 (cupuaçuzeiro x seringueira), a área foi preparada apenas para o cultivo de seringueira, estabelecido num espaçamento de 3 metros (em linha) por 6 metros (em coluna). Com a perspectiva de ganhos por meio da inserção no mercado de frutas (goiaba, graviola, etc.), e por entender que a seringueira admite consórcio com outras culturas, o produtor local foi estimulado a plantar cupuaçuzeiro nos plantios de seringueira. Cultura JAN FEV MAR ABR MAI MESES JUN JUL AGO SET OUT NOV Cacaueiro Seringueira Legenda: Sem tratos Limpeza (roçagem, poda, retirada da vassoura-de-bruxa), colheita e quebra na Safra Principal (2 pessoas da família) Sangria (a cada dois dias (esquema D2) - 4 pessoas da família) Sangria na época da renovação da folhagem (a cada dois dias (esquema D2) - 4 pessoas da família) Colheita e quebra na Safra Temporã Colheita e quebra na Safra Principal Figura 16 – Calendário agrícola dos principais cultivos do SAF 3 (cacaueiro x seringueira), Una, Bahia, 2008. Fonte: Dados da pesquisa. DEZ 138 Segundo o produtor, no entanto, a implantação do SAF 1 sem o devido planejamento tem propiciado baixa produtividade do cupuaçuzeiro e proliferação de doenças nos painéis das seringueiras, decorrentes do excesso de sombreamento. A Figura 17 apresenta uma área do SAF 1. Na mesma se verifica o espaçamento adotado entre as linhas e colunas de seringueira e cupuaçuzeiro e, em destaque, mostra-se o efeito da doença sobre o painel de uma seringueira. Figura 17 – SAF 1 (cupuaçuzeiro x seringueira), apresentando em destaque o painel de uma seringueira com problemas de doença, Una, Bahia, 2008. Fonte: Dados da pesquisa. Atualmente o sistema possui uma estrutura tal como mostra o esquema da Figura 18. Em vista a outros, trata-se de uma estrutura simplificada, sendo constituído exclusivamente por esses dois componentes vegetais, tendo sido implantados em torno de 25 anos (seringueira) e 8 anos o cupuaçuzeiro. Dessas culturas são extraídos a polpa e o “polpão” (polpa com caroços) do cupuaçu, e o látex da seringueira, sendo o primeiro produto destinado ao consumo da família e os dois últimos ao mercado local (Una). 139 LEGENDA Componente vegetal UNIDADE DE PRODUÇÃO Látex SISTEMA AGRISSILVICULTURAL SERINGUEIRA CUPUAÇU Polpa (consumo) Fluxo de produtos Fluxo de insumos Mão-de-obra Adubo Polpão Figura 18 – Estrutura do SAF 1 (cupuaçuzeiro x seringueira) e seus fluxos de produtos e insumos com sistemas endógenos e exógenos, Una, Bahia, 2008. Fonte: Dados da pesquisa. Caso o produtor tivesse uma estrutura de beneficiamento, poderia ser extraída a polpa de cupuaçu e obter retornos maiores pela agregação de valor ao produto. Não obstante, tal estrutura demandaria volume de capital, além de energia elétrica, que até o momento inexiste na propriedade. Observa-se ainda que a forma atual de manejo deste SAF leva-o a depender de insumos externos (mão-de-obra e adubo) para a sua manutenção e produção. Essa situação poderia ser minimizada caso o produtor adotasse práticas de reaproveitamento da matéria orgânica existente na propriedade (casca do cupuaçu, do cacau, etc.) como adubo. Quanto ao SAF 2 (cacaueiro x açaizeiro x seringueira), inicialmente tratava-se apenas de um SAF de cacaueiro com seringueira, sendo depois incorporado o açaí, mas de forma aleatória nas áreas. Mais uma vez aqui a implantação da nova cultura de forma não planejada provocou baixa produtividade de muitos açaizeiros (alguns nem produzem frutos), e a proliferação de doenças nos painéis de seringueiras, culminando com a redução da sua produção. A Figura 19 apresenta uma imagem do SAF, na qual se identificam os três componentes, o cacaueiro (de folhas largas e porte mediano), o açaizeiro (palmácea) e a seringueira (caules acinzentados e de porte elevado). Em destaque é apresentado painel de seringueira com problemas de doença. 140 Figura 19 – SAF 2 (cacaueiro x açaizeiro x seringueira), apresentando em destaque o painel de uma seringueira com problemas de doença, Una, Bahia, 2008. Fonte: Dados da pesquisa. Como a propriedade é dotada de uma unidade de beneficiamento de polpa e possui energia elétrica própria (Figuras 1E e 2E), há a comercialização de polpa de açaí e cacau (essa última em menor quantidade). Além desses produtos, também são produzidos látex e amêndoa de cacau, que se constituem atualmente nos principais produtos em volume de receitas geradas. Parte da polpa do açaí e do cacau é destinada ao consumo interno da propriedade (Figura 20). Acerca da comercialização dos produtos desta UPA, destacam-se dois aspectos que têm influenciado positivamente no retorno financeiro . O primeiro refere-se ao fato dos produtos, exclusive o látex, serem comercializados via cooperativa, possibilitando aos produtores acesso ao mercado nacional e até mesmo internacional. O segundo, diz respeito ao sobre-preço que conseguem imputar aos produtos em decorrência de se tratarem de produtos orgânicos certificados. Enquanto consumo intermediário do SAF, o mesmo demanda apenas a mãode-obra. UNIDADE DE PRODUÇÃO LEGENDA Componente vegetal Polpa (consumo) Fluxo de produtos SISTEMA AGRISSILVICULTURAL CACAU Fluxo de insumos Amêndoa Polpa AÇAÍ Mão-de-obra SERINGUEIRA Látex Figura 20 – Estrutura do SAF 2 (cacaueiro x açaizeiro x seringueira) e seus fluxos de produtos e insumos com sistemas endógenos e exógenos, Una, Bahia, 2008. Fonte: Dados da pesquisa. 142 Comparando-se os SAF 1 e SAF 2, este último mostra-se mais complexo tanto em termos de biodiversidade de cultivos, repercutindo num maior número de práticas, manejos, produtos e fluxos energéticos e financeiros. Dentre outros aspectos, ressalta-se que essa biodiversidade possibilita: melhor uso dos recursos naturais decorrente dos diferentes estratos e estruturas radiculares estabelecidos, que contribuem sobremaneira na ciclagem dos nutrientes; demanda por mão-deobra ao longo do ano, garantindo a ocupação dos trabalhadores contratados ou da mão-de-obra familiar; redução da vulnerabilidade financeira do produtor em função de uma maior distribuição das receitas durante o ano, e reduzindo sua dependência e vulnerabilidade em relação às idiossincrasias do mercado; menor vulnerabilidade da produção da UPA frente à infestação de pragas e doenças. Com relação ao SAF 3 (cacaueiro x seringueira), a respectiva unidade de produção pesquisada apresenta uma grande diversidade na sua estrutura, não restringindo sua constituição apenas a esses dois componentes. Embora o cacaueiro e a seringueira se configurem nas principais culturas da propriedade, sobremaneira a última, o sistema agroflorestal reúne mais seis tipos de componentes distintos, quais sejam: açaizeiro, bananeira, cupuaçuzeiro, espécies arbóreas nativas, laranjeira e pupunheira. A Figura 21 mostra uma das áreas do sistema onde se identificam os cultivos de cacaueiro, seringueira, bananeira e açaizeiro. Mesmo assim, esse sistema também foi estabelecido sem planejamento adequado, sendo que em algumas áreas a banana prata existente e que estava em decadência produtiva foi substituída por cacaueiro e seringueira. Os outros componentes também foram implantados de forma aleatória. A conseqüência às culturas foi similar ao verificado nos outros SAF, redução da produção – principalmente do açaí – propagação do fungo do painel das seringueiras. 143 Figura 21 – SAF 3 (cacaueiro x seringueira), mostrando a diversidade de cultivos, Una, Bahia, 2008. Fonte: Dados da pesquisa. Até o momento da realização da pesquisa os fluxos de produtos e insumos relacionados ao sistema são aqueles constantes na Figura 22. Mesmo apresentando número relativamente maior de componentes do que os outros dois sistemas tratados, o SAF 3 comercializa apenas cinco tipos de produtos: banana prata, látex, palmito de pupunha e açaí e amêndoa de cacau. Nenhum desses, entretanto, é beneficiado, o que reduz o grau de escoamento e o retorno financeiro dos mesmos. UNIDADE DE PRODUÇÃO Lenha (consumo) Fruto SISTEMA AGRISSILVICULTURAL ESPÉCIES ARBÓREAS Húmus (adubo) LAGOA GALINHAS Casca (adubação dos componentes vegetais) Esterco (adubação dos componentes vegetais) BANANA PRATA LARANJA PUPUNHA Componente animal Fluxo de insumos Palmito AÇAÍ CACAU Fluxo de produtos Látex SERINGUEIRA CUPUAÇU LEGENDA Componente vegetal Fruto (consumo) Polpa (consumo) Mel (consumo) Amêndoa Subsistema natural ou menos antropizado Figura 22 – Estrutura do SAF 3 (cacaueiro x seringueira) e seus fluxos de produtos e insumos com sistemas endógenos e exógenos, Una, Bahia, 2008. Fonte: Dados da pesquisa. 145 De outro modo, um maior número de produtos é destinado ao consumo interno da propriedade, elevando o nível de segurança alimentar. E, diferentemente dos outros dois sistemas, muita matéria orgânica é reaproveitada para a adubação das diversas culturas. Isso propicia um grau mais elevado de ciclagem de nutrientes, e maior autonomia ao SAF em relação a sistemas exógenos. Essa diversidade tende a ampliar tanto a resiliência ambiental – inclusive quanto à proliferação de pragas e doenças –, quanto à estabilidade e resiliência socioeconômica – devido ao número de produtos diferentes, cuja produção se distribui distintamente ao longo do ano, favorecendo a redução do produtor frente às alterações do mercado. O consumo intermediário do SAF no ano de 2007 foi nulo, posto que os recursos como mão-de-obra e adubo empregados eram internos. Tratando especificamente dos aspectos financeiros, o faturamento de cada um dos SAF, por ordem, corresponde a 10%, 61% e 95% do faturamento das suas respectivas UPA. Além desses percentuais relacionarem-se com a representatividade que os cultivos dos sistemas têm na geração das receitas das UPA, estão estreitamente relacionados à proporção que suas áreas apresentam em relação à área total da propriedade (Quadro 12). O Índice de Diversificação da Produção do sistema (IDPSAF) considera a quantidade de produtos comercializados dos SAF e suas respectivas contribuições na composição do faturamento do sistema. Revela, portanto, a capacidade do sistema ser submetido a tensões, de repercussão econômica (quedas bruscas de preços de determinado produto, perdas na lavoura, etc.), e recuperar-se. Noutras palavras, trata-se do grau de resiliência econômica do SAF. Nesse sentido, embora o SAF 3 apresente um maior número de produtos que são comercializados – cinco: látex, amêndoa de cacau, palmito de pupunha, palmito de açaí e banana prata (Figuras 18, 20 e 22), seu IDP apresenta o menor valor (1,66) dentre os três sistemas agrissilviculturais. Isso decorre do fato de mais de 74% do seu faturamento ser auferido com látex e pouco mais de 22% com amêndoa de cacau, sendo os 4% restantes distribuídos entre os outros produtos. Considerando a possibilidade da produção ou do mercado de látex sofrer alguma alteração negativa inesperada, o faturamento do sistema ficará comprometido (Quadro 12). 146 Quadro 12 – Características financeiras dos Sistemas Agroflorestais pesquisados, Una, Bahia, 2008 Tipo de SAF 1 2 3 Cupuaçuzeiro x Seringueira Cacaueiro x Açaizeiro x Seringueira Cacaueiro x Seringueira ASAF (ha) 0,8 ha 350,0 ha 5,0 ha % ASAF sobre AT 2,9% 17,5% 64,9% UTHSAF1 (UTH/ano) 1,42 25,00 3,65 R$ 2.000,00 R$ 335.755,00 R$ 12.350,00 10,0% 61,1% 95,0% 1,80 2,28 1,66 R$ 600,00 R$ 309.225,00 R$ 0,00 0,70 0,08 1,00 1.721,93 75,80 2.470,00 988,24 1.061,20 3.383,56 2,5% 61,1% 76,0% Especificações PBSAF2 (R$/ano) % PBSAF sobre PBT IDPSAF CISAF3 (R$/ano) 1- (CISAF/PBSAF) (PBSAFCISAF)/ASAF (R$/ha/ano) (PBSAFCISAF)/UTHSAF (R$/UTH/ano) % RSAF sobre RT Fonte: Dados da pesquisa. Nota: Legenda: ASAF – Área do SAF; AT – Área Total da propriedade; UTHSAF – Unidade de Trabalho Humano empregada no SAF, ao ano; PBSAF – Produto Bruto do SAF; PBT – Produto Bruto Total da unidade de produção; IDPSAF – Índice de Diversificação da Produção do SAF; CISAF – Consumo Intermediário do SAF; RSAF – Renda Agrícola gerada pelo SAF; RT – Renda Total familiar. (1) Consideradas a mão-de-obra familiar empregada na propriedade e a não familiar empregada no SAF. (2) Estimativa do Produto Bruto do SAF em 2007, expresso em valores nominais. (3) Estimativa do Consumo Intermediário do SAF em 2007, expresso em valores nominais. 147 O SAF 1, por seu turno, indica uma diversificação ligeiramente maior (1,80) na composição do seu produto bruto se comparado ao SAF 3, posto que, embora comercialize apenas dois produtos, a distribuição do faturamento entre os mesmos é menos desigual (látex: 66,6%; “polpão” de cupuaçu: 33,4%). O SAF 2, por conseguinte, é o sistema que apresenta maior resiliência econômica, com um IDP de 2,28. Segundo informações da administração da UPA, esse valor deriva de um faturamento composto em 59,5% de receitas de látex, 24,6% de amêndoa de cacau, 15, 6% de polpa de açaí e 0,3% de polpa de cacau. Considerando os recursos necessários para que cada sistema aufira suas respectivas, o SAF 2 depende quase que totalmente da aquisição de insumos externos (1- (CISAF/PBSAF) = 0,08), que nesse caso referem-se à mão-de-obra. O SAF 1 têm 70% do seu faturamento gerado com recursos originários do próprio sistema. Já o SAF 3 apresenta autonomia total de sistemas exógenos quando se observa a origem dos insumos necessários à sua produção. Quanto ao rendimento da terra obtido exclusivamente com recursos do sistema, o SAF 3 apresenta-se mais rentável, auferindo R$2.470,00 por hectare ao ano. O SAF 1 encontra-se na segunda posição, com um rendimento 30% menor (R$1.721,00/ha/ano). O rendimento do SAF 2, por sua vez, mostra-se bastante reduzido quando comparado aos dos outros SAF, não chegando a R$76/ha ao ano. Em relação à eficiência econômica da mão-de-obra, o SAF 3 mantém-se na primeira colocação obtendo R$3.383,56/UTH/ano. Já o rendimento do SAF 1, em termos de mão-de-obra (R$988,24/UTH/ano), levando-o à terceira colocação. O SAF 2, por seu turno, apresenta mão-de-obra que lhe propicia uma eficiência de R$1.061,20 por unidade de trabalho/ano. Esses resultados possibilitam que cada um dos SAF, por ordem, subsidie 2,5%, 61% e 76% da renda familiar de seus respectivos produtores. A seguir são apresentados e discutidos os índices de sustentabilidade desses sistemas, de modo a se verificar como as características dos mesmos têm contribuído ou não para a manutenção e desenvolvimento das condições ambientais, econômicas e sociais. 148 5.5 Os Índices de Sustentabilidade dos SAF Discute-se neste tópico os resultados dos Índices de Sustentabilidade para cada Critério (ISC), cada Dimensão (ISD) dos SAF pesquisados, assim como seus respectivos Índices de Sustentabilidade (IS). O cálculo, conforme descrito na metodologia, é realizado com base nos indicadores agregados dos sistemas das unidades de produção agrícola, e cujos valores são expostos na Tabela 5C. Reitera-se que a noção de sustentabilidade no presente estudo pressupõe a consideração das dimensões ambiental, econômica e social, assim como dos cinco critérios já pontuados, de forma conjunta e interdependente. No entanto, por uma questão didática, decorrente da própria composição dos índices aqui tratados, faz-se uso do termo referenciando-o a um ou outro aspecto (ex.: sustentabilidade ambiental). Para o sistema agrissilvicultura composto por cupuaçuzeiro e seringueira, os resultados revelam que o mesmo apresenta níveis de produtividade (4,60), estabilidade (4,58) e resiliência (4,59) acima do valor mediano (4,50) no intervalo de sustentabilidade, como se observa na Figura 23. Produtividade 5,00 4,75 4,50 Autonomia 4,25 Estabilidade 4,00 Resiliência Eqüidade Figura 23 – Índices de Sustentabilidade de cada Critério (ISC) do SAF 1 (cupuaçuzeiro x seringueira), Una, Bahia, 2008. Fonte: Dados da pesquisa. 149 Quanto à autonomia para administrar os fluxos necessários à sua produção e manutenção, em relação a sistemas externos, esta se encontra ligeiramente abaixo do ponto mediano, alcançando um índice de 4,41. O aspecto na dimensão ambiental que contribui para obtenção de um valor mais baixo nesse critério refere-se à inexistência de estoques de florestas plantadas para fins energéticos da propriedade. Na dimensão econômica, os aspectos referem-se ao processo de comercialização dos produtos dessa unidade produtiva. Esse é realizado exclusivamente no mercado local, por meio de intermediários. Isso revela fragilidade do produtor no mercado, especialmente quanto ao acesso a canais de comercialização mais rentáveis e, conseqüentemente, tendência a menores ganhos financeiros com a venda dos produtos. O aspecto social, por sua vez, refere-se à segurança alimentar da família propiciada com produtos da propriedade, sendo que esses contribuem apenas com 15% para a alimentação, fato observável no esquema da estrutura e dos fluxos de produtos e insumos desse sistema (Figura 18). A eqüidade é o critério que apresenta o valor mais crítico (4,16), aproximando-se do nível de sustentabilidade fraca. Fato que resulta do próprio processo de gestão da propriedade (patronal) e do não envolvimento de outros membros familiares. Com respeito ao SAF 2 (cacaueiro x açaizeiro x seringueira), o critério resiliência para esse sistema mostra-se muito próximo do nível de sustentabilidade forte, apresentando índice igual a 4,83. Tal situação decorre dos elevados valores dos indicadores relacionados à áreas de proteção ambiental e sua conectividade, ao uso dos recursos energéticos de fontes renováveis, à inexistência de casos de pessoas vítimas de intoxicação na propriedade, ao elevado índice de diversificação da produção e à capacitação de mão-de-obra em cursos e treinamentos para manejo do SAF. No critério estabilidade também se obtém alto índice (4,7), e na autonomia (4,54) mantém-se pouco acima do valor mediano da escala de sustentabilidade. Nos quesitos produtividade e eqüidade, contudo, auferem-se índices que apontam situações fracamente sustentáveis (Figura 24). Recorda-se, oportunamente, que o critério produtividade tem um cunho econômico, entretanto, distinto das concepções capitalistas. Refere-se à eficiência na alocação e manejo dos recursos internos, inclusive relativos aos elementos e 150 fluxos próprios do meio ambiente. O sistema gera faturamentos mais expressivos, mas com emprego de quantidades substanciais de insumos externos, o indica certa fragilidade e vulnerabilidade desse sistema. O critério eqüidade verifica o acesso a informações e o nível de participação das pessoas, segundo faixa etária e gênero, em processos decisórios relativos ao sistema e ao uso dos recursos. Nesse quesito, o SAF 2 apresenta-se fracamente sustentável, mostrando-se pouco equilibrado em termos intra e inter-geracional. O formato do gráfico radar resultante desses índices possibilita a visualização da disparidade existente entre os cinco critérios, mais precisamente entre os de valores maiores, resiliência e estabilidade, e os de índices menores, produtividade e eqüidade. Esses resultados acabam por afetar o índice de sustentabilidade do sistema. Produtividade 5 4,75 4,5 Autonomia 4,25 Estabilidade 4 Resiliência Eqüidade Figura 24 – Índices de Sustentabilidade de cada Critério (ISC) do SAF 2 (cacaueiro x açaizeiro x seringueira), Una, Bahia, 2008. Fonte: Dados da pesquisa. Diferentemente, o SAF 3 (cacaueiro x seringueira) apresenta um gráfico radar, Figura 25, com coordenadas de valores relativamente menos dispersos, sendo a estabilidade o critério de índice mais elevado (4,76), inclusive em 151 comparação com os outros sistemas. Em seguida têm-se os índices relativos à produtividade (4,53) e a resiliência (4,55). O índice de eqüidade, por sua vez com 4,43, é bem superior aos dos outros dois sistemas, embora se encontre abaixo do valor mediano. O índice relativo à autonomia apresenta um valor menor (4,35) em decorrência de aspectos concernentes às condições sanitárias precárias e ao uso dos recursos energéticos na propriedade, como também devido a questões relacionadas à comercialização. Produtividade 5 4,75 4,5 Autonomia 4,25 Estabilidade 4 Resiliência Eqüidade Figura 25 – Índices de Sustentabilidade de cada Critério (ISC) do SAF 3 (cacaueiro x seringueira), Una, Bahia, 2008. Fonte: Dados da pesquisa. A Tabela 20 sintetiza os índices relativos aos critérios de cada um dos sistemas de forma comparativa, sinalizando em destaque (vermelho) aqueles que se encontram abaixo do valor mediano (4,5) do intervalo de sustentabilidade. Reitera-se que 4 representa o limite mínimo, ou seja, o nível de sustentabilidade fraca, e 5 o limite máximo, ou a situação fortemente sustentável. 152 Percebe-se que invariavelmente todos os sistemas possuem três índices relativos aos critérios com valores tendendo à sustentabilidade forte (acima de 4,5), e dois à sustentabilidade fraca (abaixo de 4,5). Todos os índices de eqüidade revelam situações de elevada segregação social, seja em termos econômicos, etários ou de gênero, dentro da propriedade ou em sistemas externos. Tabela 20 – Índices de Sustentabilidade de cada Critério (ISC) dos SAF pesquisados, Una, Bahia, 2008 UPA SAF Produtividade Estabilidade Eqüidade Resiliência Autonomia ISCP ISCE ISCI ISCR ISCA 1 Cupuaçu x Seringueira 4,60 4,58 4,16 4,59 4,41 2 Cacaueiro x Açaizeiro x Seringueira 4,14 4,70 4,16 4,83 4,54 3 Cacaueiro x Seringueira 4,53 4,76 4,43 4,55 4,35 Fonte: Dados da pesquisa. Os sistemas constituídos por cupuaçuzeiro com seringueira (SAF 1) e por cacaueiro com seringueira (SAF 3) apresentam alta dependência de sistemas exógenos, sobremodo quanto aos recursos energéticos, à comercialização e aos aspectos relativos à saúde. De outra forma, o SAF 2 (cacaueiro x açaizeiro x seringueira) é o único com limitações relevantes quanto à produtividade dos recursos internos. A Figura 26 expõe os ISCs dos três sistemas plotados num único gráfico. A apresentação desses dados de forma conjunta num mesmo gráfico radar possibilita uma análise gráfica comparativa mais elucidativa acerca dos polígonos gerados pelos índices de cada SAF. 153 Produtividade 5,00 4,75 4,50 Autonomia Estabilidade 4,25 4,00 Resiliência Eqüidade SAF 1 (Cupuaçu x Seringueira) SAF 2 (Cacaueiro x Açaizeiro x Seringueira) SAF 3 (Cacaueiro x Seringueira) Figura 26 – Índices de Sustentabilidade de cada Critério (ISC) dos SAF pesquisados, Una, Bahia, 2008. Fonte: Dados da pesquisa. Em referência aos índices para cada dimensão, o SAF 1 mostra valores em torno do valor mediano, sendo 4,63 na ambiental, 4,42 na econômica e o menor valor, 4,34, na social (Figura 27). Esses resultados indicam que a atividade agrícola nessa propriedade, mormente na área do SAF, não tem acarretado efeitos ao meio ambiente que comprometam a sua reprodução e manutenção. Não obstante, essa forma de exploração, tal como se encontra, não se mostra satisfatoriamente eficiente sob o ponto de vista do uso dos fluxos de energia e matéria que os recursos (naturais, econômicos e sociais) disponibilizam. De modo que a mesma não tem se constituído numa atividade que possibilite a manutenção da família do produtor. 154 Ambiental 5,00 4,75 4,50 4,25 4,00 Social Econômica Figura 27 – Índices de Sustentabilidade de cada Dimensão (ISD) do SAF 1 (cupuaçuzeiro x seringueira), Una, Bahia, 2008. Fonte: Dados da pesquisa. Quanto ao caso do SAF 2, os resultados da dimensão social são mais satisfatórios comparativamente às outras duas dimensões (Figura 28). O índice social de 4,53 resulta de boas condições nos quesitos saúde e nutrição, conhecimento da mão-de-obra, manejo dos recursos e comercialização. Muitos desses aspectos decorrem da infra-estrutura disponível na propriedade e das possibilidades que a atuação do proprietário enquanto membro de uma cooperativa o traz (acesso e tipo de relação estabelecida no mercado). 155 Ambiental 5,00 4,75 4,50 4,25 4,00 Social Econômica Figura 28 – Índices de Sustentabilidade de cada Dimensão (ISD) do SAF 2 (cacaueiro x açaizeiro x seringueira), Una, Bahia, 2008. Fonte: Dados da pesquisa. Os índices de sustentabilidade econômica (4,43) e ambiental (4,42) se apresentam menores, mas com pouca discrepância. Sobre os três índices do SAF 3 (cacaueiro x seringueira), mais uma vez o equilíbrio prevalece, sendo que todos se mantêm quase sobre as linhas do valor mediano no gráfico radar (Figura 29). De tal forma que, apenas o índice de sustentabilidade econômica expõe valor ligeiramente abaixo (4,49). 156 Ambiental 5,00 4,75 4,50 4,25 4,00 Social Econômica Figura 29 – Índices de Sustentabilidade de cada Dimensão (ISD) do SAF 3 (cacaueiro x seringueira), Una, Bahia, 2008. Fonte: Dados da pesquisa. Reunindo esses resultados na Tabela 21, verifica-se que todos os sistemas apresentam índices da dimensão econômica tendendo a situações de sustentabilidade fraca, muito embora ainda se encontrem próximos a 4,5. Tanto o SAF 1, quanto o SAF 2, têm mais de um índice abaixo do ponto mediano dos eixos. O SAF 3 tem apenas o índice de sustentabilidade para a dimensão econômica nessas condições. Tabela 21 – Índices de Sustentabilidade de cada Dimensão (ISD) dos SAF pesquisados,Una, Bahia, 2008 UPA SAF Ambiental Econômica Social ISDA ISDE ISDS 1 Cupuaçuzeiro x Seringueira 4,63 4,42 4,34 2 Cacaueiro x Açaizeiro x Seringueira 4,42 4,43 4,53 3 Cacaueiro x Seringueira 4,56 4,49 4,51 Fonte: Dados da pesquisa. 157 Esses resultados são expostos concomitantemente num mesmo gráfico radar apresentado na Figura 30. Ambiental 5,00 4,75 4,50 4,25 4,00 Social Econômica SAF 1 (Cupuaçu x Seringueira) SAF 2 (Cacaueiro x Açaizeiro x Seringueira) SAF 3 (Cacaueiro x Seringueira) Figura 30 – Índices de Sustentabilidade de cada Dimensão (ISD) dos SAF pesquisados, Una, Bahia, 2008. Fonte: Dados da pesquisa. Após o cálculo dos índices acima tratados, mensuram-se, por fim, os índices de sustentabilidade, através dos critérios ou das dimensões. Os valores encontrados são apresentados na Tabela 22. Tabela 22 – Índices de Sustentabilidade (IS) dos SAF pesquisados, Una, Bahia, 2008 SAF IS Cupuaçuzeiro x Seringueira 4,46 Cacaueiro x Açaizeiro x Seringueira 4,46 Cacaueiro x Seringueira 4,52 Fonte: Dados da pesquisa. 158 O sistema agrissilvicultural composto por cacaueiro e seringueira (SAF 3) é o que se apresenta mais fortemente sustentável, com IS igual a 4,52. O SAF 1 (cupuaçuzeiro x seringueira) e o SAF 2 (cacaueiro x açaizeiro x seringueira) auferem resultados iguais considerando o IS com dois dígitos. Entretanto, se se consideram três dígitos, o SAF 1 tem a segunda colocação com IS = 4,463, e o SAF 2 a terceira, com IS = 4,458. No geral, os índices dos três SAF denotam pouca discrepância entre si. Constata-se que o índice de maior valor encontrado é aquele que apresenta maior equilíbrio entre seus diversos indicadores e índices, o que é de se esperar. Recorrendo aos resultados obtidos pelos três sistemas em cada índice que compõe o IS, verifica-se que os tipos de componentes permanentes adotados nos SAF não se constituem no fator determinante do nível de sustentabilidade alcançado por cada um deles, muito embora o fato de todos serem componentes com grande potencial econômico represente um aspecto positivo no sentido de reduzir a vulnerabilidade financeira dos produtores. De outra forma, identificam-se nos casos avaliados seis aspectos principais na determinação da sustentabilidade dos SAF, todos de ordem interna: • a diversidade de componentes (culturas) do sistema; • o manejo adotado; • a conservação dos recursos naturais • a agregação de valor (beneficiamento) aos produtos do sistema; • a participação em grupos organizados (associação, cooperativa) eficazes; • e a eqüidade intra e intergeracional. Os dois primeiros são os principais influenciadores do que se obtém em termos de: economia de recursos (através da ciclagem de nutrientes, do reaproveitamento de recursos do próprio sistema como insumos); grau de dependência de insumos externos; e vulnerabilidade ecológica, agronômica, econômica e social. Sobre o terceiro, atentando-se especialmente à manutenção da qualidade do solo e de corpos d’água, às áreas de proteção, ao uso dos recursos energéticos e à disposição de dejetos, garantem-se não apenas a reprodução e disponibilidade dos recursos e serviços ambientais, mas inclusive as condições imprescindíveis à reprodução social e econômica das famílias dos produtores. 159 O quarto e o quinto propiciam, dentre outras vantagens: a conquista de melhores condições na compra de insumos, na logística, na comercialização e no acesso a mercados com melhores remunerações. O sexto, por fim, remete à construção de processos e decisões relativos ao sistema e às unidades de produção de modo mais participativo, envolvendo principalmente mulheres e filhos de produtores. Embora esse aspecto trate de algo interno à propriedade, nos casos analisados reflete a história cultural da região. Contemplando a possibilidade das dimensões aludidas na metodologia exercerem influências diferenciadas sobre a sustentabilidade desses sistemas, tal como é discutido no tópico sobre os SAF típicos da região Sul da Bahia e os fatores de sustentabilidade, faz-se breve experimento calculando o índice com atribuição de pesos. Para tanto, consideram-se os pesos resultantes da pesquisa realizada com os especialistas, mais especificamente os constantes na terceira coluna, denominada “ambos”, da Tabela 18. Nesse sentido, considerando o contexto – temporal e espacial – no qual os sistemas agroflorestais tratados estão inseridos – especificidades ambientais, históricas, socioeconômicas, políticas, culturais, dentre outras – admite-se que as dimensões ambiental, econômica e social exercem, individual e respectivamente, pesos de 10%, 66% e 24% sobre a sustentabilidade dos SAF do Sul da Bahia. Inserindo esses pesos no cálculo dos índices, obtêm-se os valores expostos na Tabela 23. Destacam-se três aspectos nos resultados obtidos. Primeiro, as alterações ocorridas são suficientes para modificar as colocações dos SAF 1 e 2 no ranking de nível de sustentabilidade – muito embora se refiram a variações que não chegam a 1% –, rebaixando o SAF 1 à terceira posição. Segundo, todas as variações são negativas, ou seja, a atribuição de um peso maior à dimensão econômica leva os SAF a obterem índices menores de sustentabilidade, já que é a dimensão em que todos têm ISD menores (Tabela 21). Terceiro, os valores do índice de cada SAF sofrem variações percentuais desiguais, em conformidade com os valores dos índices da dimensão econômica em relação aos das outras duas dimensões (se são menores ou maiores). 160 Tabela 23 – Índices de Sustentabilidade Ponderados (ISP) dos SAF pesquisados, Una, Bahia, 2008 SAF ISP Variação % Cupuaçuzeiro x Seringueira 4,42 - 0,88 Cacaueiro x Açaizeiro x Seringueira 4,45 - 0,15 Cacaueiro x Seringueira 4,50 - 0,43 Fonte: Dados da pesquisa. Verifica-se, desse modo, que o SAF 1 apresenta uma maior variação negativa no valor do índice, e o SAF 2 a menor variação negativa dentre os três sistemas. Outrossim, essa variação nos valores e alteração nas colocações demonstram a sensibilidade do método em absorver e refletir mudanças na realidade analisada ou nos critérios adotados, e que se constitui numa qualidade essencial que um indicador deve apresentar. No tópico que segue, discutem-se os resultados obtidos com a metodologia proposta neste estudo comparando com aqueles obtidos utilizando-se as principais metodologias consultadas. 5.6 Análise comparativa dos métodos de avaliação de sustentabilidade de SAF Os resultados auferidos com a aplicação dos métodos, assim como as respectivas colocações dos SAF no ranking de sustentabilidade encontram-se reunidos na Tabela 24. Na mesma Tabela também se encontram índices obtidos com a atribuição de pesos às dimensões abordadas – pelo método aqui proposto e o de Sepúlveda (2005). Para a realização de análise com mais minúcia, são contemplados três dígitos nos valores obtidos. Não obstante os resultados relativos aos SAF 1 e 2 obtidos com o método proposto no estudo em epígrafe pouco divirjam, verifica-se que as posições dos sistemas agrissilviculturais avaliados alcançadas nesse método correspondem apenas àquelas obtidas no método proposto por Moura (2002). Em todos os métodos, inclusive no método com pesos deste estudo, o SAF 3 ocupa a primeira posição, enquanto o SAF 2 e o SAF 1 a segunda e terceira, respectivamente. Tabela 24 – Índices de Sustentabilidade (IS) e ranking dos SAF de Una, Bahia, segundo os seis métodos analisados, 2008 ÍNDICES DE SUSTENTABILIDADE (IS) MÉTODO RANKING DOS SAF SAF 1 SAF 2 SAF 3 Desvio-padrão SAF 1 SAF 2 SAF 3 IS 4,463 4,458 4,519 0,034 2 3 1 IS (pond.) 4,424 4,452 4,499 0,038 3 2 1 CALÓRIO/DANIEL1 IS 1,262 1,347 1,517 0,130 3 2 1 LOPES IS 4,716 4,855 5,129 0,210 3 2 1 MOURA IS 12,570 12,359 17,071 2,662 2 3 1 IS (crit.) 4,476 4,493 4,556 0,042 3 2 1 IS (dim.) 4,479 4,509 4,560 0,041 3 2 1 IS 1,624 1,842 1,944 0,163 3 2 1 IS (pond.) 0,539 0,598 0,624 0,043 3 2 1 PASSOS SEVERO2 SEPÚLVEDA Fonte: Dados da pesquisa. Nota: Legenda: IS – Índice de Sustentabilidade; IS (pond.) – Índice de Sustentabilidade ponderado, considerando os seguintes pesos das dimensões constantes na Tabela 18: ambiental = 10%, econômica = 66%, social = 24%; IS (crit.) – Índice de Sustentabilidade calculado com base nos valores dos Índices de Sustentabilidade dos critérios; IS (dim.) – Índice de Sustentabilidade calculado com base nos valores dos Índices de Sustentabilidade das dimensões. (1) Como os resultados obtidos com as metodologias de Calório (1997) e Daniel (2000) são idênticos, apresentam-se juntos. (2) Como os resultados obtidos com a média harmônica dos indicadores dos critérios (IRC) em relação aos obtidos com os das dimensões (IRD) na metodologia de Severo, Ribas e Miguel (2004) revelam ligeira diferença, são apresentados separadamente. Os IS (crit.) são os resultados obtidos com os indicadores dos critérios, e o IS (dim.) com as dimensões. 162 Interessante observar que os índices encontrados em cada método mostramse pouco dispersos. O maior desvio-padrão apresentado entre os índices calculados (2,662) refere-se ao do método de Moura (2002). Outro aspecto observado nos valores diz respeito aos resultados obtidos pelos dois procedimentos propostos por Severo, Ribas e Miguel (2004), ou seja, a obtenção do IRS via cálculo da média harmônica dos Índices de Sustentabilidade dos Critérios (IRC), ou dos Índices das Dimensões (IRD). Como se verifica na Tabela 24, os índices apresentam valores ligeiramente diferentes. Isso decorre do efeito que a média harmônica incide sobre os indicadores inseridos no cálculo, posto que a quantidade (IRC – cinco indicadores; IRD – três indicadores) e os valores de indicadores considerados num e noutro procedimento diferem. Caso utilizasse a média aritmética para calcular o Índice de Sustentabilidade (IRS), obteria resultados idênticos. Para um melhor exame entre os métodos, verifica-se o nível de correlação entre esses, calculando-se os coeficientes de correlação de produto-momento de Pearson (r). Para tanto, admite-se que a associação entre os resultados é: nula - r = 0; fraca - 0 < |r| ≤ 0,30; média – 0,30 < |r| ≤ 0,60; forte – 0,60 < |r| ≤ 0,90; fortíssima – 0,90 < |r| ≤ 1; perfeita - |r|= 1 (GONZALEZ, 2002, apud MOURA, 2002, p. 195). Observando os valores dos coeficientes expostos na Tabela 25, observa-se que a maioria dos resultados aponta para um nível de correlação fortíssimo entre os resultados auferidos nos diferentes métodos, ocorrendo alguns poucos casos de uma associação forte (destaque em vermelho). Atentando-se aos resultados relativos ao método proposto neste estudo (Passos), estes revelam um grau de correlação fortíssimo praticamente com todos os métodos considerados, podendo ser considerada como perfeita quando relacionado ao método de Moura (2002), cujo r = 0,999, e a segunda mais elevada (0,965) relacionando-o com o método Severo (crit.). Os níveis de correlação menos intensos envolvem justamente esses três métodos supracitados nas seguintes relações: Passos x Sepúlveda (r = 0,696), Passos x Sepúlveda (pond.) (r = 689), Moura x Sepúlveda (r = 0,717), Moura x Sepúlveda (pond.) (r = 711), Severo (crit.) x Sepúlveda (r = 0,860), Severo (crit.) x Sepúlveda (pond.) (r = 856). Tabela 25 – Comparativo do nível de correlação existente entre os resultados obtidos com os métodos de avaliação de sustentabilidade de sistemas agroflorestais testados com dados de SAF de Una, Bahia, 2008 Passos Passos (pond.) Calório/ Daniel Lopes Moura Severo (crit.) Severo (dim.) Sepúlveda Sepúlveda (pond.) Passos 1,0000 0,9022 0,9194 0,9180 0,9995 0,9646 0,9034 0,6957 0,6894 Passos (pond.) 0,9022 1,0000 0,9991 0,9993 0,9150 0,9840 1,0000 0,9375 0,9344 Calório/ Daniel 0,9194 0,9991 1,0000 1,0000 0,9309 0,9906 0,9992 0,9222 0,9187 Lopes 0,9180 0,9993 1,0000 1,0000 0,9297 0,9901 0,9994 0,9235 0,9201 Moura 0,9995 0,9150 0,9309 0,9297 1,0000 0,9722 0,9160 0,7173 0,7111 Severo (crit.) 0,9646 0,9840 0,9906 0,9901 0,9722 1,0000 0,9845 0,8605 0,8560 Severo (dim.) 0,9034 1,0000 0,9992 0,9994 0,9160 0,9845 1,0000 0,9366 0,9334 Sepúlveda 0,6957 0,9375 0,9222 0,9235 0,7173 0,8605 0,9366 1,0000 1,0000 Sepúlveda (pond.) 0,6894 0,9344 0,9187 0,9201 0,7111 0,8560 0,9334 1,0000 1,0000 Fonte: Dados da pesquisa. Nota: Legenda: “pond.” – Índice de Sustentabilidade ponderado; “crit.” – Índice de Sustentabilidade calculado com base nos valores dos Índices de Sustentabilidade dos critérios; “dim.” – Índice de Sustentabilidade calculado com base nos valores dos Índices de Sustentabilidade das dimensões. 164 Quando se contempla o procedimento do presente trabalho que utiliza a média harmônica ponderada (ou seja, as dimensões apresentam participações diferenciadas na composição do índice), o grau de correlação com os métodos de Calório (1997) e Daniel (2000), Lopes (2001), Severo (2004) – as duas versões – e os dois de Sepúlveda (2005) se elevam, sobremodo com esses dois últimos. Dentre esses casos, a correlação é perfeita entre Passos e Severo (dim.). O nível de correlação reduz, contudo, quando se comparam com os resultados obtidos com a metodologia de Moura (2002). Entende-se que para a realização de uma análise mais pormenorizada seria necessário um rol maior de variáveis e situações para se verificar em que medida os resultados auferidos com os diversos métodos divergem ou não entre si. De outro modo, depreende-se que o método proposto neste estudo se mostra adequado quanto aos aspectos metodológicos adotados para avaliar a sustentabilidade de sistemas agroflorestais do Sul da Bahia e similares, mormente quando são considerados os pesos das dimensões obtidos na pesquisa com os especialistas. A adoção da média harmônica, nesse sentido, além de apresentar resultados muito próximos aos obtidos com os métodos já existentes, apresenta algumas vantagens, mencionados na metodologia, que torna o método proposto menos falho. 165 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Acerca da pesquisa sobre indicadores de sustentabilidade para avaliação de agroecossistemas, os resultados ratificam a multiplicidade de possibilidades metodológicas e abordagens para tratar da temática. Tal diversidade, que também decorre das próprias especificidades de cada agroecossistema, no tempo e no espaço, gera limitações para a reaplicação das metodologias propostas nos estudos noutras realidades, exigindo um mínimo de adaptações para adotá-las. Esse processo, por um lado, não apenas mantém, mas amplia as propostas metodológicas e restringe as investidas no sentido da padronização e, ou de comparabilidade entre realidades distintas. Por outro lado, propicia que os estudos mantenham-se mais fiéis às realidades e aos objetos de estudo pesquisados. Outrossim, a preocupação desses estudos centra-se nos recursos e fluxos endógenos, sobremaneira nos elementos “manejo técnico” e “solo”, sendo as condições dos recursos naturais e as ações impactantes, os principais focos. Ainda sobre os indicadores ambientais, identifica-se certa fusão de variáveis de outras esferas – sociais e econômicas, por exemplo – na composição desses indicadores. Entende-se que em determinada medida isso reflete a busca por indicadores que revelem ou expressem aspectos dantes impensados sobre o meio ambiente, principalmente quanto à interação existente entre essas e outras dimensões. Nesse sentido, por um lado, tal situação pode acarretar dificuldades na classificação e escolha de indicadores por se mostrar em alguns momentos ambíguo quanto à dimensão ou aspecto que representa. No entanto, considerando essa situação enquanto um processo resultante da integração multidisciplinar, promovida pela discussão das temáticas sustentabilidade e desenvolvimento, as inquietações no sentido da especialização dos indicadores possivelmente se mostrariam contrárias à dinâmica e ao fluxo do conhecimento na área. Em referência aos SAF típicos da região Sul da Bahia, o tradicional “cacaucabruca” (cacaueiro com espécies arbóreas nativas) ainda se mantém como o 166 sistema mais adotado, de acordo com os especialistas. O cacaueiro consorciado com seringueira, como também o consorciado com eritrina são os dois outros modelos de agroflorestas que se apresentam com maior incidência. Em relação à estrutura dos SAF mais adotados no município de Una, essa difere daqueles padrões, principalmente pelas terras menos férteis e menos propícias à cacauicultura e pela influência de imigrantes japoneses, apresentando maior diversidade de componentes e, embora ainda tenha o cacaueiro na sua composição – por questões comumente de tradicionalismo da região –, o cultivo da seringueira vem se revelando como o principal componente econômico. Desse modo, o cacaueiro com seringueira, o cupuaçuzeiro com seringueira, e o cacaueiro com açaizeiro e seringueira são os consórcios mais encontrados nos sistemas agroflorestais do município. Importante salientar que a inserção e difusão desses cultivos no Sul da Bahia estão vinculadas, principalmente, à dinâmica dos mercados de produtos agropecuários, às políticas agrícolas vigentes em determinados períodos e à atuação de determinadas instituições na região, sobremaneira a CEPLAC. Nesse sentido, num breve resgate histórico, identifica-se que: o cacaueiro participa da realidade regional desde o início de sua colonização, mantendo grande presença na composição dos SAF; a eritrina, em conjunto com um pacote tecnológico, é inserida na década de 1970 pela CEPLAC, no intuito de aumentar a produção e a produtividade dos cacauais; a seringueira expande-se em termos industriais e comerciais através de programas governamentais de apoio à produção da borracha; o cupuaçuzeiro e o açaizeiro, mais recentes na região, surgem e propagam-se enquanto alternativas à crise cacaueira, principalmente enquanto forma de diversificação de cultivos, sendo difundidas sobremodo através da atuação da CEPLAC. No que se refere aos produtores, a amostra compreende perfis diversos, de modo que os SAF 1 (cupuaçuzeiro x seringueira) e 2 (cacaueiro x açaizeiro x seringueira) representam produtores patronais, sendo o primeiro classificado como de pequena propriedade, e o segundo de grande propriedade. O SAF 3 (cacaueiro x seringueira), a seu turno, é representado por um mini produtor familiar. Observando aspectos relativos à estrutura (componentes) e aos fluxos de energia e matéria desses sistemas, o SAF 3 mostra-se o mais diversificado. 167 Com respeito à produtividade física, o SAF 1 tem as áreas mais produtivas e a mão-de-obra menos eficiente. O SAF 2, inversamente, possui as áreas menos produtivas e a mão-de-obra mais eficiente. Esses resultados decorrem, dentre outros aspectos, dos desenhos adotados na disposição e combinação dos componentes na área do SAF que, por sua vez, influenciam diretamente sobre as interações ecológicas estabelecidas e o manejo demandado e, ou adotado. Sobre esses dois aspectos – desenho e manejo do SAF – os três sistemas enfrentam diversas dificuldades quanto à produtividade dos seus cultivos e infestação de pragas e doenças, ambos decorrentes de adensamento das áreas e espaçamentos não planejados. Ressalta-se que os desenhos dos SAF na região Sul da Bahia, principalmente os pesquisados neste estudo, foram estabelecidos gradualmente ao longo dos anos e em conformidade com as exigências do mercado, as políticas agrícolas e leis vigentes (em especial as ambientais) na época, e com a influência de órgãos de assistência técnica que atuam na região. Atentando-se ao Índice de Diversificação da Produção do SAF (IDPSAF), o SAF 2 é o sistema que apresenta maior resiliência econômica, decorrente de receitas de látex, amêndoa de cacau, polpa de açaí e polpa de cacau. O SAF 1 apresenta o segundo maior IDPSAF, em função das receitas provenientes do látex e do “polpão” de cupuaçu. O SAF 3, por sua vez, mesmo sendo o mais diversificado, inclusive quanto aos tipos de produtos comercializados, tem seu faturamento altamente dependente das receitas auferidas com látex, situação que gera grande dependência e vulnerabilidade econômica. A observação da realidade dos sistemas pesquisados possibilita afirmar que essa vulnerabilidade econômica apresentada pelos SAF 1 e 3 deriva da falta de estruturas de beneficiamento (nas UPA ou que os produtores tenham acesso) e da inexistência ou incipiente atuação em grupos cooperados. Quanto aos rendimentos auferidos com recursos do próprio sistema, seja da terra, seja da mão-de-obra, o SAF 3 apresenta melhor desempenho. O SAF 1 mostra-se o segundo mais eficiente economicamente em termos de área e o menos eficiente em mão-de-obra. Por conseguinte, dentre os três, o SAF 2 tem as terras menos rentáveis e a mão-de-obra com o segundo melhor desempenho. Entende-se que o nível de autonomia desse último sistema em relação ao emprego de insumos 168 externos é o principal fator promotor desses resultados, já que apenas 8% do seu Produto Bruto é gerado com recursos internos. Sumariamente, os Índices de Sustentabilidade (ISC e ISD) revelam que: • o SAF 1 apresenta condições de produtividade, estabilidade e resiliência, e aspectos ambientais que levam-no a uma situação de sustentabilidade forte. De outra forma, seus níveis de eqüidade e autonomia, assim como características econômicas e sociais comprometem a manutenção do agroecossistema, da unidade de produção e do produtor e sua família no longo prazo; • os níveis de estabilidade, resiliência, autonomia e as condições sociais do SAF 2 contribuem para que se estabeleça uma sustentabilidade forte, enquanto que seus níveis de produtividade, eqüidade e aspectos econômicos e ambientais contribuem fracamente; • a sustentabilidade do SAF 3 é mais fortemente influenciada pelos critérios de produtividade, estabilidade, resiliência, e aspectos sociais e ambientais, ao passo que os níveis de eqüidade, autonomia e as condições econômicas influenciam fracamente. Comparativamente, o SAF 1 destaca-se enquanto o mais produtivo, o SAF 2, o mais resiliente e autônomo, e o SAF 3, o mais estável e eqüitativo. Quanto a este último quesito, todos os sistemas apresentam valores abaixo do valor mediano do intervalo de sustentabilidade, revelando situações de desigualdade social, sobremodo quanto à participação do gênero feminino. Em relação às dimensões, o SAF 1 se sobressai ambientalmente, o SAF 2, socialmente, e o SAF 3, economicamente. Quanto à sustentabilidade geral, o SAF 3 mostra-se como o mais sustentável, enquanto que os SAF 1 e 2 não se diferenciam. Mensurando o IS com atribuição de pesos às dimensões (ambiental = 10%, econômica = 66% e social = 24%), os valores dos índices sofrem uma variação negativa, pois a dimensão econômica (com maior peso) é aquela na qual os SAF apresentam-se mais fragilizados. Os índices resultantes desse procedimento levam o SAF 1 a ocupar a terceira posição e elevam o SAF 2 à segunda. Percebe-se ao longo desta análise que os aspectos ambientais relativos ao solo, à flora, aos recursos hídricos e energéticos, e às áreas de proteção, de acordo com os especialistas, influenciam mais fortemente na sustentabilidade dos SAF 169 pesquisados. No âmbito social os aspectos, por sua vez, referem-se ao conhecimento sobre o manejo do sistema, às barreiras culturais, e às condições de saúde e nutrição e de reprodução social. No entanto, dentre as três dimensões consideradas, o maior número de fatores indicados como influenciadores da sustentabilidade desses sistemas agroflorestais correspondem a aspectos de ordem econômica, como a economia de recursos, a diversificação da produção, a participação em grupos organizados (associações e cooperativas), a comercialização, a agregação de valor e a infraestrutura rural. A investigação em campo, nesse sentido, corrobora a indicação dos especialistas sobre a relevância do conhecimento do manejo como fator crucial na manutenção e reprodução desses sistemas. Os resultados revelam que o desconhecimento acerca do manejo desses sistemas e a ausência de planejamento, desencadeiam problemas como os que são enfrentados pelos produtores, como a baixa produtividade dos componentes e proliferação de pragas e doenças nos cultivos. Tal cenário decorre normalmente do fato dos processos ecológicos que são estabelecidos entre os componentes selecionados e entre esses e o meio abiótico serem ignorados pelos produtores, pelos tratos culturais dispensados por outras pessoas no SAF e, inclusive, pela assistência técnica empregada. Esses aspectos associados a questões estratégicas de mercado – para quem vender, como escoar, como agregar valor, possibilidades de estocagem e beneficiamento, retorno financeiro, adequação dos recursos internos do sistema à demanda da produção (como a mão-de-obra), tendências de preços, dentre outros aspectos –, conforme indicado pelos especialistas e confirmado nos índices de sustentabilidade econômica, tendem a comprometer a manutenção dos sistemas no longo prazo e a reprodução social e ambiental que deles dependem e que também os mantêm. De acordo com a análise compartimentalizada do nível de sustentabilidade, os resultados alcançados pelos três sistemas analisados não decorrem dos tipos de componentes que os constituem, muito embora influenciem principalmente na questão financeira da produção e do produtor. Mas antes, resultam principalmente: da diversidade de componentes dos sistemas, do manejo adotado, das práticas de conservação dos recursos naturais, do beneficiamento dos produtos dos sistemas, 170 da participação em associações/cooperativas eficazes e da eqüidade social existente nas UPA. Destarte, pautando-se na concepção de sustentabilidade de agroecossistemas norteadora do estudo em epígrafe e nos fatores que influenciam na sustentabilidade desses na região, entende-se que os sistemas agroflorestais se confirmam enquanto sistema alternativo com capacidade de reduzir vulnerabilidades ambientais, econômicas e sociais e potencializar as possibilidades de manutenção e reprodução no longo prazo das UPA e dos produtores e famílias da região Sul da Bahia. Para tanto, a observância das demandas regionais é imprescindível, dentre as quais destacam-se: incentivos políticos, financeiros e técnicos para implantação, difusão, monitoramento e melhoramento de sistemas agroflorestais regionais; treinamento de mão-de-obra local quanto ao manejo de SAF e de outros agroecossistemas; capacitação de produtores e técnicos quanto a conhecimentos relativos ao mercado de produtos agropecuários; centros de estudos e difusão de informações e conhecimentos relacionados ao mercado de produtos agropecuários; implantação de agroindústrias vinculadas a grupos cooperados; ações voltadas para a inserção e envolvimento de filhos e mulheres dos produtores, mormente dos produtores familiares, nas atividades e decisões concernentes à propriedade rural. Com relação ao método proposto neste estudo para avaliar sistemas agroflorestais da região Sul da Bahia e similares, conclui-se que o mesmo mostra-se apropriado em termos estruturais e operacionais à realidade analisada. Nos aspectos estruturais, por revelar-se sensível aos fatores que exercem maior influência sobre a manutenção e reprodução dos sistemas agrissilviculturais e dos produtores no longo prazo, indicando em quais condições de sustentabilidade encontra-se a realidade analisada. Nos aspectos operacionais, em função das seguintes características: fácil manuseio, apresentando reduzidas possibilidades de erro na sua aplicação; absorve as condições de equilíbrio entre as variáveis; incorpora um número conveniente de indicadores, não se mostrando demasiado elevado, a ponto de torna-se complexo, nem reduzido, ao ponto de ser insuficiente; a coleta e o tratamento dos dados não exigem instrumentos e conhecimentos rebuscados e caros; apresenta elevado nível de correlação com os resultados obtidos com outros métodos divulgados no meio científico; e fácil adaptação a realidades distintas. 171 Associado a esses aspectos, encontra-se a função do método enquanto instrumento de avaliação, monitoramento e fornecedor de subsídios ao planejamento, tanto no âmbito privado quanto no público. Assim, enquanto indicador, possibilita a produtores, agentes financeiros, políticos, pesquisadores, extensionistas e outros interessados a mensuração e comparação de diversos tipos de agrissilviculturas, tanto entre si quanto com metas almejadas, identificando fragilidades e potencialidades ambientais, econômicas e sociais através de uma avaliação multi-criterial. De outro modo, entende-se que métodos de avaliação de agroecossistemas constituem-se em instrumento essencial para o planejamento, acompanhamento e avaliação de programas e projetos voltados para a promoção do desenvolvimento rural e regional, sendo imprescindíveis ações e discussões no sentido da elaboração, aplicação e adequação de metodologias desse cunho. Diante disso, a realização de novos estudos, inclusive na região pesquisada, que relacionem o nível de sustentabilidade de SAF com sistemas de produção, tipologia de produtor e outras variáveis, é de grande relevância para o desenvolvimento do conhecimento e ações nessa área. 172 REFERÊNCIAS ABOBOREIRA NETO, Manoel. Produção e comercialização de palmito de punpunha (Bactris gasipaes Kunth) no Sistema de Integração. Ilhéus/Itabuna: CEPLAC, [2004?]. Disponível em <http://www.ceplac.gov.br/radar/Artigos/artigo24.htm>. Acesso em: 18 jun. 2008. ALBÉ, M. de Q.. Alguns indicadores de sustentabilidade para os pequenos e médios produtores rurais do município de Jaquirana. Universidade Luterana do Brasil – ULBRA, [2006?]. Disponível em: <http://www.liberato.com.br/upload/arquivos/0131010716030816.pdf>. Acesso em: 23 jul. 2007. ALTIERI, Miguel A.. El Agroecosistema: Determinantes, Recursos, Procesos, y Sustentabilidad. In: ______. Agroecologia: bases científicas para una agricultura sustentable. 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No caso da instituição aceitar fazer parte desta pesquisa, vocês disponibilizarão dados/informações referentes: ( ) às características dos tipos de sistemas agroflorestais adotados em larga escala no Sul da Bahia, e sobre os fatores (ambientais, sociais e econômicos) que influenciam na sustentabilidade desses; ( ) ao perfil socioeconômico dos produtores que são assistidos/acompanhados, que consentirem o fornecimento dos dados, e sobre suas respectivas UPA (localização, tamanho, tipos de sistemas de produção, condições agronômicas e ambientais, dados físicos e financeiros da produção, etc.). Esses dados serão levantados através de documentos e banco de dados da instituição, e por meio de entrevistas gravadas com funcionários seus especialistas na área (técnicos agrícolas, agrônomos, etc.). A participação desta instituição será de grande valia e importantíssima para o desenvolvimento da pesquisa, pois a partir dessas informações poderemos avaliar o emprego de SAF sob diversas óticas. Vocês poderão pedir esclarecimentos sobre qualquer questão, bem como desistir de participar da pesquisa em qualquer momento que desejar. Como responsável por este estudo, tenho o compromisso de manter em sigilo todos os dados confidenciais. Assim, se está claro para o(a) senhor(a) a finalidade desta pesquisa e se concorda com a participação desta instituição, peço que assine este documento. Meus sinceros agradecimentos pela colaboração, Helga Dulce Bispo Passos Pesquisadora responsável Telefone para contato: (73) 3632-7347 – Cel: (73)9147-9747 Email: [email protected] 183 Eu, ____________________________________________, RG________________, (função/cargo) ______________________________________________________ do(a) (nome da instituição) _____________________________________________ ___________________________________________________________________, autorizo a participação desta instituição nas atividades da pesquisa: AVALIAÇÃO SOCIOECONÔMICA E AMBIENTAL DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS: o caso de unidades de produção agrícola no município de Una, Bahia. Fui devidamente informado que disponibilizaremos dados e documentos referentes: ( ) aos SAF adotados no Sul da Bahia e sua sustentabilidade; ( ) aos produtores e suas UPA que acompanhamos, sendo que me foi garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade, e que os resultados serão tratados confidencialmente. Quanto à realização de entrevistas gravadas conosco (técnicos agrícolas, agrônomos, especialistas na área de SAF), eu ( ) Autorizo ( ) Não autorizo ( ) Não se aplica _______________________________________________________ Assinatura e carimbo (se houver) Local e data:___________________________, _____/_____/_______ 184 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ Comitê de Ética em Pesquisa – CEP/UESC TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DOS ESPECIALISTAS EM SAF (TÉCNICOS AGRÍCOLAS, AGRÔNOMOS, ETC.) Pesquisa: INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE: uma discussão teóricometodológica aplicada a sistemas agroflorestais no Sul da Bahia Pesquisadora responsável: Helga Dulce Bispo Passos Prezado Senhor(a), Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário(a), em uma pesquisa que busca analisar a sustentabilidade socioeconômica e ambiental de unidades de produção agrícola (UPA) com sistemas agroflorestais (SAF) no município de Una; especialmente nos aspectos relativos às condições econômicas, qualidade de vida da sua família e conservação/preservação da natureza. No caso de aceitar fazer parte desta pesquisa, você responderá a uma entrevista que será gravada. A sua participação e opinião serão de grande valia e importantíssimas para o desenvolvimento da pesquisa, pois a partir dessas informações poderemos avaliar o emprego de SAF sob diversas óticas. Você poderá pedir esclarecimentos sobre qualquer questão, bem como desistir de participar da pesquisa em qualquer momento que desejar. Como responsável por este estudo, tenho o compromisso de manter em sigilo todos os dados confidenciais. Assim, se está claro para o(a) senhor(a) a finalidade desta pesquisa e se concorda em participar, peço que assine este documento. Meus sinceros agradecimentos por sua colaboração, Helga Dulce Bispo Passos Pesquisadora responsável Telefone para contato: (73) 3632-7347 – Cel: (73)9147-9747 Email: [email protected] 185 Eu, ____________________________________________, RG________________, (função/cargo) ______________________________________________________ do(a) (nome da instituição) _____________________________________________ ___________________________________________________________________, concordo em participar das atividades da pesquisa: AVALIAÇÃO SOCIOECONÔMICA E AMBIENTAL DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS: o caso de unidades de produção agrícola no município de Una, Bahia. Verifiquei o TCLE assinado por meu superior autorizando minha participação na referida pesquisa (se for o caso), e fui devidamente informado que responderei a uma entrevista que será gravada, sendo garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade, e que os resultados serão tratados confidencialmente. _______________________________________________________ Assinatura e carimbo (se houver) Local e data:___________________________, _____/_____/_______ 186 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ Comitê de Ética em Pesquisa – CEP/UESC TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DOS PRODUTORES Pesquisa: INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE: uma discussão teóricometodológica aplicada a sistemas agroflorestais no Sul da Bahia Pesquisadora responsável: Helga Dulce Bispo Passos Prezado Senhor (a), Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário(a), em uma pesquisa que busca avaliar as condições econômicas da sua produção e propriedade, assim como as condições de vida da sua família e o estado de recursos naturais (solo, mata, animais, etc.) que os tipos de produção existentes na sua área têm provocado. No caso de aceitar fazer parte desta pesquisa, você responderá dois roteiros de entrevista que trata da trajetória e das condições de vida da sua família e de aspectos físicos, financeiros e ambientais relacionados à sua propriedade e produção, sendo que suas respostas serão gravadas e algumas registraremos em questionário, de forma escrita e em desenho. A sua opinião e participação serão de grande valor e é importantíssimo para o desenvolvimento da pesquisa, já que com essas informações poderemos avaliar a importância do uso de SAF para o agricultor, para o meio ambiente e para o desenvolvimento agricultura no Sul da Bahia. Você terá liberdade para pedir esclarecimentos sobre qualquer questão, bem como para desistir de participar da pesquisa em qualquer momento que desejar, sem que isto leve você a qualquer penalidade. Como responsável por este estudo, tenho o compromisso de manter em segredo todos os dados confidenciais, bem como de indenizá-lo se sofrer algum prejuízo físico ou moral por causa dos mesmos. Assim, se está claro para o senhor(a) a finalidade desta pesquisa e se concorda em participar, peço que confirme nesta gravação. Meus sinceros agradecimentos por sua colaboração, Helga Dulce Bispo Passos Pesquisadora responsável Telefone para contato: (73) 3632-7347 – Cel: (73)9147-9747 Email: [email protected] 187 Nome do produtor(a). RG, CPF ou nome completo do pai e da mãe. O(a) Sr(a) aceita participar das atividades da pesquisa: AVALIAÇÃO SOCIOECONÔMICA E AMBIENTAL DE SISTEMAS AGROFLORESTAIS: o caso de unidades de produção agrícola no município de Una, Bahia? O(a) Sr(a) confirma que foi devidamente informado que responderá a entrevistas que serão registradas em desenho e gravadas? Confirma ainda que te foi garantido que poderá retirar seu consentimento a qualquer momento, sem que isto leve a qualquer penalidade, e que os resultados serão tratados confidencialmente? O(a) Sr(a) autoriza que sua propriedade seja fotografada e que as imagens sejam utilizadas em todas e quaisquer trabalhos gráficos ligados a esta pesquisa, podendo esses imagens serem transmitidas e difundidas por prazo indeterminado, sem limites de território e sem cobrar qualquer tipo de remuneração por isso? Local e data. 188 APÊNDICE B 189 INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE: uma discussão teórico-metodológica aplicada a sistemas agroflorestais no Sul da Bahia ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA 1 – ESPECIALISTAS EM SAF (TÉCNICOS AGRÍCOLAS, AGRÔNOMOS, ETC.) Características e sustentabilidade de SAF no Sul da Bahia Entrevista no: _________________ Data: _______/______/_______ Entrevistado(a): ______________________________________________________ Formação: __________________________________________________________ Instituição: __________________________________________________________ Função/Cargo: _______________________________________________________ Entrevistadora: Helga Dulce Bispo Passos 1. Quais os principais tipos de SAF adotados no Sul da Bahia? (solicitar a indicação dos componentes empregados. Solicitar ajuda para desenhar a estrutura dos SAF, se necessário) 2. Saberia informar quando, como e por que os mesmos se difundiram na região? 3. Esses SAF são os mais adotados no município de Una? Se não, quais os mais presentes neste município? 4. Há diferenças (históricas, econômicas, sociais, ambientais,etc.) relevantes entre o município de Una e os demais da região Sul da Bahia de modo que a sustentabilidade de SAF nessas localidades estejam submetidas a diferentes condições e fatores? 5. Considerando os critérios de produtividade, estabilidade, equidade, resiliência e autonomia (apresentar a definição dos referidos critérios), sugeridos, por estudiosos da área, para a avaliação da sustentabilidade em sistemas de produção, quais fatores você entende que afetam/influenciam a sustentabilidade dos SAF no Sul da Bahia no âmbito: a) Econômico b) Social c) Ambiental 6. Considerando as condições econômicas, sociais e ambientais específicas do Sul da Bahia, você poderia assinalar os aspectos que entende que melhor indicam o grau de sustentabilidade de um SAF na região em questão? (apresentar o anexo com a relação dos elementos e aspectos ambientais, sociais e econômicos) 190 7. Quais fatores têm limitado/comprometido a sustentabilidade de SAF no Sul da Bahia? 8. Considerando as dimensões econômica, social e ambiental, qual peso você atribuiria a cada uma delas enquanto fatores determinantes da sustentabilidade de SAF em geral? Por quê? Esses pesos seriam os mesmos para o caso de SAF para a região Sul da Bahia? Se não, quais seriam os respectivos pesos? 9. Considerando os tipos de SAF mais adotados no município de Una, você poderia indicar três produtores, para cada tipo de SAF, que sejam enquadrados na categoria de bem sucedidos, medianamente sucedidos e mal sucedidos na atividade? (Seguir modelo abaixo) SAF 1: _____________________________________________________________ Nome do produtor: ____________________________________________________ Endereço: ___________________________________________________________ Contato: ____________________________________________________________ Obs. (acesso a informações, etc.): ________________________________________ 191 Questão 6 (Anexo) RELAÇÃO DOS ELEMENTOS E ASPECTOS PARA A COMPOSIÇÃO DOS INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE PARA SAF NO SUL DA BAHIA 1.AMBIENTAIS 1.1. Recursos endógenos(relativos aos componentes e condições do sistema) Água Solo Luz Flora ( ) Estado(condição) ( ) Conservação ( ( ( ) Precipitação ( ) Microclima ( ) Diversidade ( ) Contaminantes(aplicação) ( ) Qualidade química ( ) Cadeia trófica(consumidor 1° - sp*) ( ) Conservação(prática/estado) ( ) Qualidade biológica ( ) Espécies raras(existentes) ) Radiação ) Reprodução(exótica) ( ) Qualidade física ( ) Alteração de habitats ( ) Contaminantes ( ) Dinâmica(regeneração,sucessão) ( ) Pragas e doenças(existência) ( ) Estrutura ( ) Mutualismo(leguminosas) Fauna(sp)* Ar ( ) Reprodução ( ) Estado(condição) ( ) Diversidade ( ) Microclima ( ) Cadeia trófica(predadores) ( ) Espécies raras ( ) Vida silvestre(abrigo – ts*) ( ) Parasitos e doenças ( ) Contaminantes ( ) Estrutura Rec.Energéticos Áreas únicas ( ( ) Consumo ) Área de proteção 1.2. Operação do sistema Manejo técnico Rendimento técnico ( ) Resíduos ( ) Vegetais cultivados ( ) Uso de recursos naturais não-renováveis ( ) Animais manejados(sp) ( ) Matéria orgânica ( ) Práticas culturais ( ) Colheita e manejo florestal 1.3. Recursos exógenos(interferência nos sistemas externos) * Água Solo Flora ( ( ( ) Espécies raras ( ) Alteração de habitats ) Estado(condição) ) Conservação sp – sistemas com componente animal; ts – todos tipos de sistemas. 192 Fauna Ar ( ) Cadeia trófica(sp) ( ( ) Alteração de habitats Áreas únicas ) Estado(condição) ( ) Área de proteção 2.SOCIAIS 2.1. Operação do sistema ( ) Saúde e nutrição(doenças,segurança alimentar) ( ) Satisfação(do produtor,da família em relação ao sistema) ( ) Eqüidade(divisão do trabalho,acesso aos recursos) ( ) Empregos(mão-de-obra familiar e não familiar) ( ) Educação ( ) Saber cultural(em relação ao sistema) ( ) Habitação e saneamento básico(condições,acesso) ( ) Perspectivas(com relação à atividade,ao futuro) 3.ECONÔMICOS 3.1. Operação do sistema Manejo e rendimento socioeconômico ( ) Agregação de valor(beneficiamento) ( ) Produtividade (da terra, da mão-de-obra, dos componentes animais e vegetais) ( ) Administração ( ) Economia de recursos ( ) Relações de propriedade(em relação à terra) ( ) Análise econômica ( ) Diversificação da produção ( ) Reprodução social simples(remuneração da mão-de-obra familiar) ( ) Participação em associações/cooperativas 3.2. Operação de sistemas exógenos Manejo e rendimento socioeconômico ( ) Comercialização ( ) Agregação de valor ( ) Disponibilidade de crédito ( ) Infra-estrutura rural(estradas,armazenamento) 193 MATERIAL DE SUBSÍDIO À ENTREVISTA 1. Definição dos critérios de produtividade, estabilidade, equidade, resiliência e autonomia. Trecho transcrito de Moura (2002, p. 36 e 37). A produtividade é uma medida quantitativa da proporção e montante de produção por unidade de terra ou insumo. Possui um viés econômico e pressupõe a avaliação da eficiência do uso dos recursos no processo de produção e a viabilidade econômica das estratégias utilizadas. Mesmo assim, tem uma relação direta com os processos sociais e ambientais, pois pode refletir o rendimento do trabalho e a relação de recursos naturais gastos no processo produtivo com o resultado do processo. A estabilidade de um ecossistema pode ser definida como “a capacidade do ecossistema de absorver perturbações e permanecer inalterado”. (CEPAL/PNUMA, 1994) ou a capacidade de um ecossistema resistir à perturbações, sem alterar substancialmente sua estrutura ou seus estoques materiais ou energéticos. Tratar de agroecossistemas implica em incluir a ação humana na exploração dos recursos de um ecossistema. A definição de que “estabilidade é a constância da produtividade diante das pequenas forças perturbadoras que surgem das flutuações e ciclos normais no ambiente circundante” (Beroldt da Silva, 1998), refere-se a perturbações causadas por mudanças normais do ambiente, como variações de clima e do mercado. O fator estabilidade tem uma relação direta com a escala temporal e, conseqüentemente, com a solidariedade intergeracional e a manutenção da viabilidade econômica. A eqüidade é a “medida de como os produtos do agroecossistema são distribuídos entre os produtores e consumidores locais” (Dias Júnior, 2000). Este critério pressupõe processos de crescimento econômico que possam reduzir as diferenças na distribuição dos recursos na sociedade, tendo, desta forma, uma relação direta com justiça social. “Se refiere, a la manera en que la organización general de la sociedad permite o impide el acceso por parte de los individuos y colectividades a los recursos tangibles y no tangibles, y, por lo tanto, alienta o limita el desarrollo de capacidades de los sujetos” (Plaza, 2002). A resiliência, também chamada de capacidade homeostática30, é uma definição captada da física. É a capacidade de um corpo recuperar sua forma e seu tamanho original, após ser submetido a uma tensão que não ultrapasse o limite de sua elasticidade. Resiliência, em se tratando de ecossistemas, “é a capacidade do ecossistema flutuar dentro de certos limites e voltar ao seu estado original depois de uma perturbação” (CEPAL/PNUMA, 1994). Refere-se à capacidade de um ecossistema de manter a produtividade diante de perturbações de maior importância ou choques de grande impacto. É a capacidade de retornar a seu estado de equilíbrio dinâmico, após sofrer uma alteração ou agressão externa. A autonomia mede a relação com o meio externo, permitindo conhecer o grau de controle interno sobre o funcionamento dos agroecossistemas e a sua capacidade de administrar os fluxos necessários usando recursos próprios ou externos para 30 Aquilo que tem: 1. Fisiol. Med. Tendência à estabilidade do meio interno do organismo. 2. Cibern. Propriedade auto-reguladora de um sistema ou organismo que permite manter o estado de equilíbrio de suas variáveis essenciais ou de seu meio ambiente (FERREIRA, 1999). 194 manter a produção. “A autonomia está relacionada ao grau de integração do agroecossistema, refletido no fluxo de materiais, energia e informação entre as partes constituintes e entre o agroecossistema e ambiente externo” (Fernández, 1995 apud Beroldt da Silva, 1998). Conforme Dias Júnior (2000), a “autonomia sugere a necessidade de se promover a participação efetiva da população nos processos de gestão do patrimônio natural, tornando-se essencial levar em conta a diversidade de contextos sócio-ambientais e a pesquisa de soluções específicas para cada contexto”. Obs.: Necessitando, apresentar e explicar a Figura 7 que trata da estrutura para definição de um grupo de indicadores de sustentabilidade para um sistema específico sugerida por Daniel (2000). 195 INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE: uma discussão teórico-metodológica aplicada a sistemas agroflorestais no Sul da Bahia ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA 2 - PRODUTORES Caracterização do produtor e da unidade de produção e do SAF Entrevista no: _________________ Data: _______/______/_______ Tipo de SAF: ___________________________________________ Categoria: ____ Produtor(a): _________________________________________________________ Fazenda: ___________________________________________________________ Endereço: ___________________________________________________________ Entrevistadora: Helga Dulce Bispo Passos 1. A família: a) membros da família que residem na propriedade Nome Parentesco1 Gênero Idade Escolar.2 Ativ. na propriedade (1) 1-marido/pai; 2-esposa/mãe; 3- filho(a); 4-genro/nora; 5-neto(a); 7- outros; (2) A(analfabeto) 1(até 4 serie) 2(até 8 série) 3 (2°grau) 4 (superior) Obs: definir I (incompleto) b) a história e a trajetória da família c) a trajetória e condições de ocupação da terra pelo produtor/família d) divisão de trabalho na propriedade com a mão-de-obra familiar 2. A propriedade: a) forma de apropriação da terra: ( ) Proprietário ( ) Arrendatário ( ) Parceria b) n° de empregados: Efetivos: ______________ Temporários: ______________ c) razões que levaram a implantar o SAF (do qual é representante), quando(período/ano) e como se deu essa implantação (fez sozinho, com auxílio/incentivo de instituições/amigos, incentivo do mercado, etc) d) quais as vantagens e desvantagens desse tipo de sistema de cultivo? e) Tem alguma produção certificada? Qual(is)? _________________________________ 196 3. Desenhar o SAF com a ajuda do agricultor, indicando as áreas onde se localizam a casa sede, outras benfeitorias, área de mata, e cada tipo de produção agrícola (culturas, consórcios) e, ou criação de animal, bem como a origem dos insumos que são utilizados e o destino do que é produzido (alimentação, mercado, para outros subsistemas da unidade de produção agropecuária)? Utilizar a folha anexa específica. Identificar no desenho: • tamanho da área: total da propriedade, de cada sistema de cultivo, de mata/área de proteção, destinada à criação de animais, da casa sede e de outras benfeitorias; • localização de corpos d’água dentro da propriedade e que fazem divisa com a mesma; • fluxos de insumos e produtos (dentro do sistema e deste com sistemas externos); • origem e destino dos insumos e produtos (inclusive as cidades para onde é destinada a produção) 4. Especificar, com auxílio do agricultor, o calendário agrícola do SAF (se for necessário, limitar ao ano de 2007). Utilizar a folha anexa específica. Identificar: a) os principais cultivos b) os itinerários técnicos (insumos e práticas empregadas) c) a quantidade e tipo de mão-de-obra (familiar e não-familiar) empregada d) consumo intermediário e volume da produção e) renda de cada produto do SAF 5. Componentes (espécies) da flora utilizados em todo o ciclo do SAF: _________________ __________________________________________________________________________ 6. Quais são as perspectivas de ampliação das áreas com SAF? 7. Fatores que estimulariam a ampliação do SAF. 8. Receitas e rendas a) Produto Bruto Total da propriedade em 2007 (produção vendida, produção consumida pela família, a produção estocada, produção utilizada na forma de pagamento de serviços de terceiros, a variação do rebanho animal e a remuneração paga por terceiros a serviços prestados pela mão-de-obra familiar) _______________________ b) % do PBT que é do SAF em 2007: _________________ c) Fontes de Renda não-agrícola: ( ) Não tem. Especificar: _______________________ ________________________________________________________________________ d) Percentual da Renda Total da família: % gerado pela propriedade: ____________ % gerado pelo SAF: ____________ % gerado por atividades não-agrícolas: ____________ Questão 3 (Anexo) – Desenho do SAF INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE: uma discussão teórico-metodológica aplicada a sistemas agroflorestais no Sul da Bahia ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA 2 - PRODUTORES Caracterização do produtor e da unidade de produção e do SAF Produtor(a): _________________________________________________________ 198 Questão 4 (Anexo) – Percentual de ocupação da superfície do SAF e calendário agrícola INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE: uma discussão teórico-metodológica aplicada a sistemas agroflorestais no Sul da Bahia ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA 2 - PRODUTORES Caracterização do produtor e da unidade de produção e do SAF Produtor(a): _________________________________________________________ Itinerários técnicos/mês (insumos, práticas, mão-de-obra, consumo intermediário, volume e renda da produção) 199 INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE: uma discussão teórico-metodológica aplicada a sistemas agroflorestais no Sul da Bahia ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA 3 - PRODUTORES Coleta dos indicadores ambientais, sociais e econômicos Entrevista no: _________________ Data: _______/______/_______ Tipo de SAF: ___________________________________________ Categoria: ____ Produtor(a): _________________________________________________________ Fazenda: ___________________________________________________________ Endereço: ___________________________________________________________ Entrevistadora: Helga Dulce Bispo Passos 1. Solo a) As marcas de erosão no sistema mostram: formação de voçorocas e deposição de solo superficial nas baixadas=0,25 perda de solo superficial e pequenos valos=0,5 Pequenas perdas de solo superficial=0,75 não existe nenhuma erosão aparente=1 b) A água que escorre do sistema: tem forte cor de terra=0,25 tem cor de terra=0,5 tem cor de terra, mas ainda é clara=0,75 sai limpa=1 c) Usa fogo na área do SAF: sempre=0,25 só nas capoeiras=0,5 poucas vezes=0,75 nunca=1 d) Práticas de conservação do solo: não utiliza nenhuma prática de conservação do solo=0 realiza apenas uma prática (ex.:curva de nível, adubação verde, terraceamento)=0,5 realiza mais de uma prática de conservação do solo =1 2. Água a) Existência de sinais de destruição, desaparecimento ou soterramento de corpos d’água (lagoas, açudes, rios, riachos, fontes, etc.) na propriedade: sim=0 não=1 200 b) Medidas são empregadas para conservar ou recuperar corpos d’água na propriedade: sim=1 não=0 3. Área de Proteção c) Proporção do fragmento florestal em relação à área total da propriedade: _____________ d) Proximidade do(s) fragmento(s) florestal(is) da propriedade em relação à fragmentos vizinhos e, ou áreas protegidas: muito distante=0,25 afastado=0,5 próximo=0,75 praticamente um contínuo=1 4. Recursos Energéticos a) Proporção da energia utilizada de fonte renovável (renovável: eólica, solar, hidráulica, biodiesel, álcool, biomassa; não renovável: combustíveis fósseis – petróleo e gás natural –, carvão, combustíveis nucleares): ______________________ b) Existência de medidas para redução de desperdícios de energia na propriedade: sim=1 não=0 c) Proporção da energia e combustível consumidos e que são gerados internamente sobre o total de energia e combustível utilizados nos processos de produção e reprodução social da propriedade: ______ d) Existência de estoques de florestas plantadas para fins energéticos na propriedade: sim=1 não=0 5. Manejo dos recursos e do SAF a) O manejo e uso dos recursos naturais na propriedade são definidos e realizados: somente por homens adultos=0,25 somente por homens e mulheres adultos=0,5 somente por adultos (homens e mulheres) e adolescentes=0,75 por adultos, adolescentes e idosos=1 b) Maioria dos membros da comunidade que dominam as informações necessárias para implantar e manejar o SAF de forma no mínimo razoável: os homens adultos=0 normalmente a família de produtores, incluindo adolescentes e adultos de ambos os sexos=0,5 vários indivíduos da comunidade=1 201 c) Existência de membro(s) da família e, ou administrador do sistema/propriedade que fez algum tipo de treinamento sobre o manejo de SAF sim=1 não=0 d) Grau de conhecimento para operar o SAF, desde a implantação até o uso final dos produtos, pela pessoa que o maneja: sabe muito pouco=0,25 sabe pouco=0,5 sabe o suficiente=0,75 sabe bastante=1 e) Grau de uso direto e indireto, pela família e, ou pessoa(s) que maneja(m) o SAF, de todas as espécies (tanto espontâneas como as cultivadas) presentes no SAF: usa muito pouco=0,25 usa pouco=0,5 usa o suficiente=0,75 usa bastante=1 6. Saúde e Nutrição a) Condições da água para consumo humano: não existe ou não é apropriada para o consumo humano=0 a água para o consumo humano é limitada=0,5 a água para o consumo humano é abundante=1 b) N° intoxicações de pessoas por agrotóxicos nos 10 últimos anos na história da propriedade: 3 vezes ou mais=0,25 2 vezes=0,5 1 vez=0,75 nenhuma=1 c) Proporção dos alimentos consumidos que provêm da propriedade: _________________ d) As pessoas vinculadas à propriedade (família, funcionários) têm acesso à assistência pública de saúde: sim=1 não=0 e) Destino dos resíduos líquidos (esgoto) gerados na propriedade: disposição a céu aberto, vala, ou destinado a cursos d’água=0 fossa negra=0,5 fossa séptica ou rede pública =1 f) Destino dos resíduos sólidos (lixo) gerados na propriedade: disposição a céu aberto, ou vala=0 queima=0,25 enterra=0,5 202 todo recolhido pela prefeitura, ou parte é enterrado e a outra parte é reutilizada na propriedade (adubo, reciclagem, etc.)=0,75 parte é recolhido pela prefeitura e parte é reutilizado na propriedade (adubo, reciclagem, etc.)=1 7. Participação em associações/cooperativas a) Nível de participação em associações e, ou cooperativas: não associado=0 associado=0,5 Associação com participação efetiva=1 b) Pessoas vinculadas à propriedade (família, funcionários) que normalmente participam e freqüentam as reuniões e discussões da associação e, ou cooperativa: o produtor não tem vínculo com associações/ cooperativas=0 somente homens adultos=0,25 somente homens e mulheres adultos=0,5 somente adultos (homens e mulheres) e adolescentes=0,75 adultos, adolescentes e idosos=1 8. Comercialização a) Forma como é realizada a venda dos produtos: Entregando tudo à intermediários=0,2 parte para intermediários e parte é vendido direto ou por grupo organizado=0,4 venda direta individual=0,6 parte é venda direta individualmente e parte por grupo organizado=0,8 venda direta participando de grupo organizado=1 b) O mercado para os produtos atinge abrangência além do local: sim=1 não=0 c) Valorização dos produtos em função de terem origem em um sistema dito sustentável: sim=1 não=0 d) Nível de satisfação do produtor quanto à comercialização (processo, acesso ao mercado, retorno financeiro) da produção do SAF, expresso em proporção: _____________________________ e) Pessoas vinculadas à propriedade (família, funcionários) que normalmente participam do processo de comercialização: somente homens adultos=0,25 somente homens e mulheres adultos=0,5 somente adultos (homens e mulheres) e adolescentes=0,75 adultos, adolescentes e idosos=1 203 APÊNDICE C 204 Tabela 1C - Tipo e quantidade de aspectos indicados pelos especialistas para a composição do indicador de sustentabilidade dos SAF do Sul da Bahia, obtidos após o cruzamento e uniformização¹ - por dimensão, categoria e elemento, 2007 Dimensão/Categorias/Elementos/Aspectos AMBIENTAIS Recursos endógenos Água 1.Estado(condição) 2.Precipitação 3.Contaminantes(aplicação) 4.Conservação(prática/estado) Solo 5.Conservação 6.Microclima 7.Qualidade química 8.Qualidade biológica 9.Qualidade física 10.Contaminantes Luz 11.Radiação Flora 12.Reprodução 13.Diversidade 14.Cadeia trófica 15.Espécies raras 16.Alteração de habitats 17.Dinâmica 18.Pragas e doenças 19.Estrutura 20.Mutualismo Fauna 21.Reprodução 22.Diversidade 23.Cadeia trófica (predadores) 24.Espécies raras 25.Vida silvestre (abrigo) 26.Parasitos e doenças 27.Contaminantes 28.Estrutura Ar 29.Estado 30.Microclima Recursos Energéticos 31.Consumo Áreas únicas 32.Área de proteção Quantidade de indicações 198 132 18 5 2 4 7 28 7 3 3 6 4 5 4 4 37 1 7 3 4 4 5 4 4 5 24 3 4 2 1 4 5 3 2 7 2 5 7 7 7 7 205 Tabela 1C - Continuação Dimensão/Categorias/Elementos/Aspectos Operação do sistema Manejo técnico 33.Resíduos 34.Uso de recursos naturais não-renováveis 35.Matéria orgânica 36.Práticas culturais 37.Colheita e manejo florestal Rendimento técnico 38.Vegetais cultivados 39.Animais manejados Recursos exógenos Água 40.Estado(condição) Solo 41.Conservação Flora 42.Espécies raras 43.Alteração de habitats Fauna 44.Cadeia trófica 45.Alteração de habitats Ar 46.Estado Áreas únicas 47.Área de proteção SOCIAIS Operação do sistema 48.Saúde e nutrição 49.Satisfação 50.Eqüidade 51.Empregos 52.Educação 53.Saber cultural 54.Habitação e saneamento básico 55.Perspectivas Barreira cultural Conscientização ambiental do produtor Qualidade de vida ECONÔMICOS Operação do sistema Manejo e rendimento socioeconômico 56.Agregação de valor 57.Produtividade 58.Administração 59.Economia de recursos 60.Relações de propriedade 61.Análise econômica 62.Diversificação da produção 63.Reprodução social simples Quantidade de indicações 31 23 4 3 6 6 4 8 6 2 35 6 6 6 6 7 3 4 7 3 4 3 3 6 6 43 43 7 6 6 3 3 7 3 4 2 1 1 78 48 48 5 5 5 7 2 4 6 4 206 Tabela 1C - Continuação Dimensão/Categorias/Elementos/Aspectos 64.Participação em associações/cooperativas Disponibilidade de mão-de-obra Operação de sistemas exógenos Manejo e rendimento socioeconômico 65.Comercialização 66.Agregação de valor 67.Disponibilidade de crédito 68.Infra-estrutura rural Suporte e influência de instituições técnicas Especulação imobiliária de terras Limitações legislativas para explotação de espécies florestais Total Fonte: Dados da pesquisa. Quantidade de indicações 7 3 30 30 7 7 5 6 3 1 1 319 (1) Resultado do cruzamento dos dados obtidos com as questões 5ª, 6ª e 7ª das entrevistas com especialistas (roteiro no Apêndice B), sendo contabilizada apenas uma indicação de cada especialista por aspecto, por exemplo: se um especialista indica o aspecto “comercialização” nas questões 6ª e 7ª, contabiliza-se tal aspecto uma única vez. A uniformização dos aspectos identificados nas questões 5ª, 6ª e 7ª é apresentada no Quadro 1D (Apêndice D). Tabela 2C – Indicadores originais dos SAF de Una, Bahia, por dimensão e por critério, 2008 Dimensão: AMBIENTAL UPA IAP - Produtividade IAE – Estabilidade IAI - Eqüidade I AA – Autonomia IAR – Resiliência 1 1 2 3 4 5 6 1 1 2 3 4 5 1 2 1 2,17 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 0,25 3,00 0,99 1,00 0,15 1,00 0,99 0,00 2 0,61 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 0,25 4,00 0,98 0,00 0,60 1,00 0,98 0,00 3 0,93 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 0,75 8,00 0,90 1,00 0,13 1,00 0,40 0,00 Dimensão: ECONÔMICA UPA I E P - Produtividade I E E IEI - Eqüidade - Estabilidade IER - Resiliência IEA – Autonomia 1 1 2 3 1 2 1 1 2 3 1 1721,93 0,50 1,00 0,00 0,25 0,25 1,80 0,70 0,20 0,00 2 75,80 0,40 1,00 0,00 0,25 0,25 2,28 0,08 0,80 1,00 3 2470,00 0,60 1,00 0,00 0,75 0,50 1,66 1,00 0,40 0,00 Dimensão: SOCIAL UPA ISP - Produtividade ISE – Estabilidade ISI - Eqüidade ISR - Resiliência ISA – Autonomia 1 2 1 2 3 4 1 1 2 1 2 3 1 1,24 988,24 0,00 1,00 0,50 0,00 0,00 1,00 1,00 0,10 0,75 0,75 2 8,56 1061,20 1,00 1,00 1,00 0,00 0,00 1,00 1,00 0,15 0,75 1,00 3 1,27 3383,56 1,00 1,00 0,50 0,75 0,00 1,00 1,00 0,10 0,75 0,50 Fonte: Dados da pesquisa. 208 Tabela 3C – Indicadores originais transformados dos SAF de Una, Bahia, por dimensão e por critério, 2008 Dimensão: AMBIENTAL SAF IAP - Produtividade IAE – Estabilidade IAI - Eqüidade I AA – Autonomia IAR – Resiliência 1 1 2 3 4 5 6 1 1 2 3 4 5 1 2 1 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00 4,25 4,00 4,99 5,00 4,15 5,00 4,99 4,00 2 4,00 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00 4,25 4,20 4,98 4,00 4,60 5,00 4,98 4,00 3 4,20 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00 4,75 5,00 4,90 5,00 4,13 5,00 4,40 4,00 Dimensão: ECONÔMICA SAF I E P - Produtividade I E E IEI - Eqüidade – Estabilidade IER - Resiliência IEA - Autonomia 1 1 2 3 1 2 1 1 2 3 1 4,94 4,50 5,00 4,00 4,25 4,25 4,26 4,70 4,20 4,00 2 4,00 4,40 5,00 4,00 4,25 4,25 5,00 4,08 4,80 5,00 3 5,00 4,60 5,00 4,00 4,75 4,50 4,00 5,00 4,40 4,00 Dimensão: SOCIAL SAF ISP - Produtividade ISE – Estabilidade ISI - Eqüidade ISR - Resiliência ISA - Autonomia 1 2 1 2 3 4 1 1 2 1 2 3 1 4,00 4,00 4,00 5,00 4,50 4,00 4,00 5,00 5,00 4,10 4,75 4,75 2 5,00 4,03 5,00 5,00 5,00 4,00 4,00 5,00 5,00 4,15 4,75 5,00 3 4,00 5,00 5,00 5,00 4,50 4,75 4,00 5,00 5,00 4,10 4,75 4,50 Fonte: Dados da pesquisa. 209 Tabela 4C - Tipo e quantidade de aspectos indicados pelos especialistas como melhores indicadores da sustentabilidade dos SAF do Sul da Bahia, por dimensão, categoria e elemento, 2007 Dimensão/Categorias/Elementos/Aspectos AMBIENTAIS Recursos endógenos Água 1.Estado(condição) 2.Precipitação 3.Contaminantes(aplicação) 4.Conservação(prática/estado) Solo 5.Conservação 6.Microclima 7.Qualidade química 8.Qualidade biológica 9.Qualidade física 10.Contaminantes Luz 11.Radiação Flora 12.Reprodução 13.Diversidade 14.Cadeia trófica 15.Espécies raras 16.Alteração de habitats 17.Dinâmica 18.Pragas e doenças 19.Estrutura 20.Mutualismo Fauna 21.Reprodução 22.Diversidade 23.Cadeia trófica (predadores) 24.Espécies raras 25.Vida silvestre (abrigo) 26.Parasitos e doenças 27.Contaminantes 28.Estrutura Ar 29.Estado 30.Microclima Recursos Energéticos 31.Consumo Áreas únicas 32.Área de proteção Operação do sistema Manejo técnico 33.Resíduos 34.Uso de recursos naturais não-renováveis 35.Matéria orgânica 36.Práticas culturais Quantidade de indicações 197 131 18 5 2 4 7 28 7 3 3 6 4 5 4 4 37 1 7 3 4 4 5 4 4 5 24 3 4 2 1 4 5 3 2 7 2 5 7 7 6 6 31 23 4 3 6 6 210 Tabela 4C - Continuação Dimensão/Categorias/Elementos/Aspectos 37.Colheita e manejo florestal Rendimento técnico 38.Vegetais cultivados 39.Animais manejados Recursos exógenos Água 40.Estado(condição) Solo 41.Conservação Flora 42.Espécies raras 43.Alteração de habitats Fauna 44.Cadeia trófica 45.Alteração de habitats Ar 46.Estado Áreas únicas 47.Área de proteção SOCIAIS Operação do sistema 48.Saúde e nutrição 49.Satisfação 50.Eqüidade 51.Empregos 52.Educação 53.Saber cultural 54.Habitação e saneamento básico 55.Perspectivas ECONÔMICOS Operação do sistema Manejo e rendimento socioeconômico 56.Agregação de valor 57.Produtividade 58.Administração 59.Economia de recursos 60.Relações de propriedade 61.Análise econômica 62.Diversificação da produção 63.Reprodução social simples 64.Participação em associações/cooperativas Operação de sistemas exógenos Manejo e rendimento socioeconômico 65.Comercialização 66.Agregação de valor 67.Disponibilidade de crédito 68.Infra-estrutura rural Total Fonte: Dados da pesquisa. Quantidade de indicações 4 8 6 2 35 6 6 6 6 7 3 4 7 3 4 3 3 6 6 39 39 7 6 6 3 3 7 3 4 67 43 43 5 5 4 7 2 3 6 4 7 24 24 7 6 5 6 303 211 Tabela 5C – Indicadores agregados dos SAF de Una, Bahia, por dimensão e por critério, 2008 DIMENSÃO AMBIENTAL Produtividade Estabilidade Eqüidade Resiliência Autonomia UPA SAF I A P I A E I A I I A R I A A 1 SAF 1 (Cupuaçuzeiro x Seringueira) 5,00 5,00 4,25 4,58 4,44 2 SAF 2 (Cacaueiro x Açaizeiro x Seringueira) 4,00 5,00 4,25 4,52 4,44 3 SAF 3 (Cacaueiro x Seringueira) 4,20 5,00 4,75 4,78 4,19 DIMENSÃO ECONÔMICA UPA SAF Produtividade Estabilidade Eqüidade Resiliência Autonomia I E P I E E I E I I E R I E A 1 SAF 1 (Cupuaçuzeiro x Seringueira) 4,94 4,46 4,25 4,26 4,28 2 SAF 2 (Cacaueiro x Açaizeiro x Seringueira) 4,00 4,43 4,25 5,00 4,59 3 SAF 3 (Cacaueiro x Seringueira) 5,00 4,50 4,62 4,00 4,43 DIMENSÃO SOCIAL UPA SAF Produtividade Estabilidade Eqüidade Resiliência Autonomia I S P I S E I S I I S R I S A 1 SAF 1 (Cupuaçuzeiro x Seringueira) 4,00 4,34 4,00 5,00 4,51 2 SAF 2 (Cacaueiro x Açaizeiro x Seringueira) 4,46 4,71 4,00 5,00 4,60 3 SAF 3 (Cacaueiro x Seringueira) 4,45 4,80 4,00 5,00 4,43 Fonte: Dados da pesquisa. 212 APÊNDICE D 213 Quadro 1D - Uniformização dos aspectos identificados nos resultados das questões 5ª, 6ª e 7ª das entrevistas com especialistas Aspectos identificados nas questões 5ª e 7ª não uniformizados Aspectos identificados nas questões 5ª e 7ª uniformizados com a 6ª questão Conhecimento técnico (Social)¹ 53.Saber cultural¹ Preço/mercado (Econômica)² 65.Comercialização² 66.Agregação de valor² Gerenciamento (Econômica) 58.Administração Suporte e influência de instituições técnicas (Econômica) Suporte e influência de instituições técnicas (Econômica) Disponibilidade de mão-de-obra (Econômica) Disponibilidade de mão-de-obra (Econômica) Crédito (Econômica) 67.Disponibilidade de crédito Diversidade de produtos/componentes econômicos (Econômica) 62.Diversificação da produção Escassez de agroindústria/agregação de valor (Econômica) 56.Agregação de valor Condições dos Recursos Hídricos (Ambiental)³ 1.Estado(condição) da água³ Consumo de madeira (Ambiental) 31.Consumo dos recursos energéticos Custo/benefício da produção/ dependência de insumos externos (Econômica) 61.Análise econômica Dificuldades p/ reprodução social (Social) 63.Reprodução social simples Barreira cultural (Social) Barreira cultural (Social) Eficiência no uso do manejo (Econômica) 59.Economia de recursos Presença de sistemas/ações associativistas/cooperativistas (Econômica) 64.Participação em associações/cooperativas Conectividade entre os fragmentos (Ambiental) 32.Área de proteção Especulação imobiliária de terras (Econômica) Especulação imobiliária de terras (Econômica) Conscientização ambiental do produtor (Social) Conscientização ambiental do produtor (Social) Limitações legislativas para explotação de espécies florestais (Econômica) Limitações legislativas para explotação de espécies florestais (Econômica) Qualidade de vida (Social) Qualidade de vida (Social) Fonte: Dados da pesquisa. Nota: Relacionam-se aqui apenas os aspectos que não são comuns entre as Tabelas 16 e 4C. (1) Embora o termo “conhecimento técnico” seja comumente empregado em referência a conhecimentos adquiridos formalmente (relacionados ao nível de instrução), os especialistas referiam-se fundamentalmente ao conhecimento dos proprietários e, ou administradores das propriedades quanto ao manejo de agroflorestas. Nesse sentido, embasando-se na literatura consultada sobre SAF, na uniformização entendeu-se que esse conhecimento sobre o manejo de SAF está mais estreitamente relacionado à categoria “saber cultural” – que é adquirido por processos de observação e experimentação realizados pelos agricultores, sendo discutidos e transmitidos entre os membros das comunidades agrícolas e suas gerações –, do que à categoria “educação”. (2) Os depoimentos agrupados na classe “preço/mercado” que correspondiam à valorização dos produtos das UPA com SAF por meio dos preços, foram integrados à classe “agregação de valor” da categoria de sistemas exógenos; aqueles relativos ao processo e, ou estrutura de comercialização foram integrados à classe “comercialização”. 214 (3) As condições e os impactos nos recursos hídricos mencionados pelos especialistas referiam-se àqueles identificados dentro da propriedade dos agricultores, daí a escolha pela categoria “estado (condição)” da água dentro do sistema. 215 APÊNDICE E 216 Figura 1E – Represa (à esquerda) e hidrelétrica (à direita) da UPA 2. Fonte: Dados da pesquisa. 217 Figura 2E – Sistema de geração de energia da hidrelétrica da UPA 2. Fonte: Dados da pesquisa. 218 APÊNDICE F 219 Una Figura 1F – Cobertura vegetal do Estado da Bahia. Fonte: SEI (2007b). Disponível em: www.sei.ba.gov.br. 220 Una Figura 2F – Relevo do Estado da Bahia. Fonte: SEI (2007b). Disponível em: www.sei.ba.gov.br. 221 Una Figura 3F – Tipos de solos existentes no Estado da Bahia. Fonte: SEI (2007b). Disponível em: www.sei.ba.gov.br. 222 Una Figura 4F – Aptidão agrícola das terras do Estado da Bahia. Fonte: SEI (2007b). Disponível em: www.sei.ba.gov.br. P289 Passos, Helga Dulce Bispo. Indicadores de sustentabilidade: uma discussão teórico-metodológica aplicada a sistemas agroflorestais no Sul da Bahia/ Helga Dulce Bispo Passos . – Ilhéus, BA: UESC/PRODEMA, 2008. xvii, 222 f. Orientadora: Mônica de Moura Pires. Co-orientador: Jaênes Miranda Alves. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de Santa Cruz. Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Inclui bibliografia e apêndice. 1. Desenvolvimento sustentável. 2. Ecologia agrícola. 3. Agrossilvicultura – Bahia. 4. Mata atlântica – Conservação. 5. Economia ambiental. I. Título. CDD 363.7