Ambiente Urbano e Saúde – um estudo sobre a relação teoria e prática
no contexto da gestão de políticas públicas de saúde da família no município de
Colinas do Tocantins
O presente estudo aborda a temática ambiente urbano e as relações socioambientais nas
situações de saúde, visto que a produção de doenças relacionadas com o ambiente urbano
tem indícios nos aspectos sociais, como nível de escolaridade, renda, habitação, e
principalmente nas condições de saneamento básico. Partindo da hipótese de que o estudo
das condições ambientais, condições de vida e indicadores do perfil epidemológico podem
contribuir para a prevenção de doenças evitáveis que acometem a população atendida pela
Unidade de Saúde da Família “Gérson de Oliveira”, na cidade de Colinas do Tocantins – TO,
foram construídos os objetivos da presente pesquisa, quais sejam: analisar a situação de
saúde da população atendida pela USF Gérson de Oliveira, à luz das condições
socioambientais; descrever as condições ambientais do bairro; levantar dados das condições
de vida dos moradores; levantar dados do perfil epidemológico da referida população;
evidenciar as relações entre condições ambientais, condições de vida e indicadores de perfil
epidemológico; e, propor estratégias de gestão em saúde pública com foco em problemas
ambientais e abordagem participativa capaz de envolver a população.
Para a realização do estudo optou-se pela pesquisa com abordagem qualitativa/quantitativa.
Foram utilizados como procedimentos: grupo focal com os profissionais da saúde que
atendem na Unidade de Saúde da Família - Gérson de Oliveira, observações direitas,
entrevistas semi – estruturadas e construção de Mapa Falante com a população atendida. O
desenvolvimento da pesquisa, a análise dos resultados e as conclusões foram construídos a
partir do reconhecimento da relevância das dinâmicas sociais, econômicas e culturais
desenvolvidas pelos diversos atores envolvidos no processo de urbanização do ambiente,
afim de entendermos a complexidade do ambiente, não apenas na concepção de natureza,
ecossistema, mas nas relações de espaços organizados por ações antrópicas. Para Reigota
o meio ambiente caracteriza-se como:
Lugar determinado ou percebido, onde os elementos naturais e sociais
estão em relações dinâmicas e em interação. Essas relações implicam
um processo de criação cultural e tecnológica e processos históricos e
sociais de transformação no meio social e construído.(2002, p.14.)
Utilizou-se também para a análise dos resultados da pesquisa a concepção de Lefebvre
(1999,p.112) sobre ambiente urbano, segundo o qual “o urbano é como uma forma pura: o
ponto de encontro, o lugar de uma reunião, a simultaneidade”. Forma essa que não tem
nenhum conteúdo específico, mas tudo a ela vem e nela vive, é uma abstração concreta,
vinculada à prática. Lefebvre acrescenta que o urbano é acumulativo de todos os conteúdos,
seres da natureza, resultados da indústria, técnicas e riquezas, obras da cultura como modo
de viver, situações, variações ou rupturas do cotidiano. Assim, o urbano torna-se uma forma
viva que é construída através das relações sociais e das organizações de trabalho em que a
cultura determina o modo de vida das pessoas. Neste panorama encontra – se as relações
entre ambiente e saúde, pois se o urbano é construindo nas contradições e nas rupturas do
cotidiano, entende-se, desse modo, que as concepções de saúde estão intrinsecamente
ligadas a esse cotidiano. Barcellos et al (2002, p. 130) reforça esse entendimento. Segundo
este autor, “se a doença é uma manifestação do indivíduo, a situação de saúde é uma
manifestação do lugar”.
Lévi – Strauss (1963) citado por Minayo (2006, p.195) coloca que:
Uma representação específica tão forte na cultura como a
saúde/doença manifesta, vigorosamente, concepções da sociedade
como um todo. Cada sociedade tem um discurso sobre saúde/doença e
sobre o corpo, que corresponde à coerência ou às contradições de sua
visão de mundo e de sua organização social. Dessa forma, além de ser
capaz de criar explicações peculiares sobre o fenômeno do
adoecimento e da morte, as categorias saúde/doença devem ser
consideradas janelas abertas para compreensão das relações entre
indivíduos e a sociedade e entre as instituições e seus mecanismos de
direção e controle.
Os resultados da pesquisa apontaram como questões a serem consideradas, ao se pensar o
binômio saúde x ambiente: a ausência de um planejamento de ações de formação que
envolva a comunidade local, nos diversos setores do município de Colinas do Tocantins; a
constatação de que as políticas públicas de saúde e ambientais no município estão longe de
atingirem os objetivos de construção de ambientes sustentáveis; e que, as relações políticopartidárias no município prejudicam a efetivação de políticas públicas concretas. Assim, com
base nos documentos que orientam a política nacional de promoção da saúde e a política
nacional do meio ambiente, bem como em todo referencial teórico utilizado para o
desenvolvimento da pesquisa foram sugeridas recomendações de gestão ambiental para o
trabalho de gestão estratégica de Saúde da Família em Colinas do Tocantins, a exemplo da
criação de um Núcleo de Formação continuada para os profissionais da Rede Municipal de
Saúde, com foco nas dimensões educacionais e ambientais; do fortalecimento da Vigilância
Ambiental e Gestão Ambiental e; por fim, da elaboração da Agenda 21 Local.
Referências Bibliográficas
BECKER, Daniel, et al. Empowernet e avaliação participativa em um programa de
desenvolvimento local e promoção da saúde. Ciência & Saúde Coletiva, 9 (3):655 –
667,2004.
LEFF, Enrique. Aventuras da epistemologia Ambiental: da articulação das ciências ao dialogo
de saberes. Trad. Gloria Maria Vargas. Rio de Janeiro: Garamond, 2004. (Idéias
Sustentáveis).
MINAYO, Maria Cecília de Souza(Org.). Saúde e Ambiente Sustentável: Estreitando nós. Rio
de janeiro: Editora Fiocruz, 2002.
MINAYO, Maria Cecília deSouza. Contribuição da Antropologia para pensar e fazer saúde. In:
SOUSA, Gastão Wagner de et al. Tratado de Saúde Coletiva. São Paulo: Hucitec; Rio de
Janeiro: Ed. Fiocruz, 2006.
REIGOTA, Marcos. Meio Ambiente e Representação Social. 5ª ed. São Paulo, Cortez, 2002.
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CAPITULO IV – RESULTADOS E DISCUSSÃO