Cadernos de Letras da UFF – Dossiê: Linguagem, usos e ensino no 43, p. 153-163, 2011
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Modelos de estruturação do artigo
científico: retrato e discussão a partir de
instruções aos autores da Scielo Brasil
Rodrigo Moura Lima de Aragão
Resumo: Com base na análise de 197 instruções aos
autores de periódicos da Scientific Electronic Library
Online do Brasil (SciELO Brasil), compõe-se neste trabalho um retrato dos modelos de estruturação para artigos
científicos presentes em publicações brasileiras. Ainda,
discutem-se a universalidade, o predomínio e o alcance
dos modelos para artigos científicos e apontam-se implicações do trabalho para o ensino da escrita científica.
Palavras-chave: escrita científica; estrutura de
artigos científicos; IMRD.
Introdução
A
partir do trabalho pioneiro de Swales,1,2 a estrutura e os componentes
das seções do artigo científico passaram a receber atenção crescente de
pesquisadores preocupados com o uso e o ensino de línguas para fins
específicos.3,4,5,6,7 Embora o foco nos elementos que constituem as seções do
1
2
3
4
5
6
7
SWALES, John M. Aspects of article introductions. Birmingham: The University of Aston, 1981.
SWALES, John M. Genre analysis: English in academic and research settings. Cambridge:
Cambridge University Press, 1990.
CROOKES, Graham. “Towards a validated analysis of scientific text structure”. Applied
Linguistics, 7: p. 57-70, 1986.
HOLMES, Richard. “Genre analysis, and the social sciences: An investigation of the structure
of research article discussion sections in three disciplines”. English for Specific Purposes, 16:
p. 321-337, 1997.
ANTHONY, Laurence. “Writing research article introductions in software engineering: How accurate is a standard model?” IEEE Transactions on Professional Communication, 42: p. 38-46, 1999.
SAMRAJ, Betty. “Introduction in research articles: Variations across disciplines”. English for
Specific Purposes, 21: p. 1-17, 2002.
OZTURK, Ismet. “The textual organisation of research article introductions in applied linguistics: Variability within a single discipline”. English for Specific Purposes, 26: p. 25-38, 2007.
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Aragão, Rodrigo Moura Lima de. Modelos de estruturação do artigo científico:
retrato e discussão a partir de instruções aos autores da Scielo Brasil
artigo científico e em sua disposição contribua para uma compreensão mais
apurada dos paradigmas de composição escrita em voga, um aspecto relevante
dos artigos científicos é relegado a segundo plano quando o olhar mantém-se
fixo nas partes: o todo. Ainda que seja inegável o avanço do conhecimento sobre
a estrutura e os componentes das várias seções do artigo científico, o mesmo
não se pode dizer a respeito da estrutura geral desse tipo de produção escrita.
Ao passo que, no estudo de Hill, Soppelsa e West,8 houve já a constatação de
uma variante do padrão Introdução-Métodos-Resultados-Discussão, desde
então são escassos os trabalhos que apresentam evidências que indiquem um
predomínio desse modelo ou que apontem a existência de outros modelos de
estruturação para artigos científicos.
Este trabalho desenvolve-se na direção dessa lacuna e tem como objetivos principais: 1) compor um retrato dos modelos para a estruturação de artigos científicos que circulam em periódicos científicos brasileiros; 2) discutir, a
partir desse retrato, a universalidade, o predomínio e o alcance dos modelos de
estruturação dos artigos científicos. Para tanto, elege-se como via a análise de
instruções aos autores (normas de submissão), material que explicita os modelos recomendados ou exigidos pelas publicações para artigos científicos. Mais
especificamente, o foco desta investigação recai sobre instruções aos autores
de revistas da Scientific Electronic Library Online do Brasil (SciELO Brasil),9
biblioteca eletrônica gratuita de destaque nos meios acadêmico e científico.
O curso subsequente deste trabalho é como se segue: primeiro, detalham-se o corpus escolhido e os procedimentos de pesquisa realizados; em seguida, apresentam-se os achados do estudo, isto é, os modelos identificados
nas instruções aos autores e sua incidência nesse material; depois, procede-se
à discussão da universalidade, do predomínio e do alcance dos modelos de
estruturação dos artigos científicos, a partir dos achados expostos; por último,
assinalam-se implicações da pesquisa para o ensino da escrita científica, motivação maior das investigações que têm como alvo textos científicos.
8
9
HILL, Susan S.; SOPPELSA, Betty F.; WEST, Gregory K. “Teaching ESL students to read
and write experimental-research papers”. TESOL Quarterly, 16: p. 333-347, 1982.
FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA DO ESTADO DE SÃO PAULO; CENTRO
LATINO-AMERICANO E DO CARIBE DE INFORMAÇÕES EM CIÊNCIAS DA
SAÚDE. Scientific Electronic Library Online. http://www.scielo.br, 10/2/2011.
Cadernos de Letras da UFF – Dossiê: Linguagem, usos e ensino no 43, p. 153-163, 2011
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Detalhamento do corpus e dos procedimentos de pesquisa
A análise efetuada neste trabalho teve como objeto instruções aos autores, seção presente na maioria dos periódicos científicos na qual constam
tanto informações fundamentais das revistas, como escopo temático e política
editorial, quanto informações a respeito dos tipos de produção escrita aceitos
para publicação, inclusive seus modos de organização, isto é, seus modelos de
estruturação. Nesta pesquisa, foram consideradas as instruções aos autores de
todas as publicações correntes da SciELO Brasil à época do início da coleta
de dados (julho de 2009), o que corresponde a um total de 197 instruções de
revistas científicas brasileiras relacionadas a diferentes áreas do conhecimento
nessa biblioteca eletrônica (Tabela 1).
Tabela 1 – Distribuição das instruções aos autores segundo as áreas do
conhecimento das publicações na SciELO Brasil.
Área(s)
Instruções aos Autores
n
(%)
Ciências Agrárias
20
10,15
Engenharias
4
2,03
Linguística, Letras e Artes
3
1,52
Ciências Sociais Aplicadas
16
8,12
Ciências Biológicas
14
7,11
Ciências Exatas e da Terra
11
5,58
Ciências da Saúde
58
29,44
Ciências Humanas
48
24,37
Duas ou Mais Áreas
23
11,68
Total
197
100
Quanto aos procedimentos de pesquisa, este trabalho foi desenvolvido em
três estágios. O primeiro compreendeu a composição de um banco de dados
eletrônico com as instruções aos autores dos títulos correntes da SciELO Brasil
e, ainda, uma análise preliminar dessas instruções quanto à recomendação ou
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Aragão, Rodrigo Moura Lima de. Modelos de estruturação do artigo científico:
retrato e discussão a partir de instruções aos autores da Scielo Brasil
exigência de modelos de estruturação para artigos científicos. O segundo estágio compreendeu uma nova e mais cuidadosa análise das instruções aos autores
armazenadas, a fim de concluir a verificação dos modelos recomendados ou
exigidos pelos periódicos. Por último, o terceiro estágio compreendeu o agrupamento dos modelos identificados e a análise do conjunto dos resultados
obtidos na pesquisa. Estruturas ligeiramente distintas do padrão Introdução-Métodos-Resultados-Discussão não foram interpretadas como modelos diferentes, mas como variantes desse modelo que expressam também sua incidência. Na exposição dos achados e na discussão que se faz a partir deles,
no entanto, elas são discriminadas, pois assim é possível conhecer e debater
melhor aspectos do referido modelo.
Modelos identificados e sua incidência no corpus
Foram identificados dois modelos nas instruções aos autores analisadas:
o modelo Introdução-Métodos-Resultados-Discussão (IMRD) e o modelo
Introdução- Desenvolvimento-Conclusão (IDC).10
Como indicado na seção anterior, encontraram-se variantes do primeiro
modelo, mas não do segundo. Essas variantes podem ser reunidas em três grupos, conforme sua relação com a matriz IMRD. O primeiro grupo compreende variantes que, embora sejam constituídas das mesmas seções da matriz,
possuem alguma diferença terminológica (no Quadro 1, grupo I). O segundo
grupo compreende variantes que contêm as quatro seções da matriz mais uma
ou mais seções diferentes (grupo II). O terceiro e último grupo compreende
variantes que, além de possuírem alguma diferença terminológica, apresentam
uma seção adicional quanto à matriz (grupo III).
10
Em revisão bibliográfica sobre a estrutura dos textos acadêmicos (FELTRIM, Valéria Delisandra. Um levantamento bibliográfico sobre a estruturação de textos acadêmicos. Maringá:
Fundação Universidade Estadual de Maringá, 2007. p. 2. http://www.din.uem.br/pos-graduacao/mestrado-em-ciencia-da- computacao/arquivos/formularios/EscritaAcademica.
pdf.pdf, 6/3/2011), o modelo IMRD aparece como um desdobramento do IDC. No corpus
analisado, contudo, não foram encontrados indícios dessa relação, de modo que os dois
modelos são tratados como coisas distintas neste trabalho.
Cadernos de Letras da UFF – Dossiê: Linguagem, usos e ensino no 43, p. 153-163, 2011
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Grupo
Variantes
Introdução-Material-e-Métodos-Resultados-e-Discussão
Introdução-Pacientes-e-Métodos-Resultados-e-Discussão
I. Diferenças
Terminológicas Introdução-Casuística-e-Métodos-Resultados-Discussão
Introdução-e-Objetivo-Método-Resultados-Discussão
Introdução-Métodos-Resultados-Discussão-Conclusões
Introdução-Métodos-Resultados-Discussão-e-Considerações-Finais
II. Diferenças
Introdução-Objetivos-Revisão-da-Literatura-MétodosSecionais
Resultados-Discussão- Conclusões
Introdução-Material-e-Métodos-Resultados-Discussão-eConclusões
III. Diferenças
Introdução-Experimental-Resultados-e-Discussão-Conclusões
Terminológicas e Introdução-Casuística-Resultados-Discussão-Conclusão
Secionais
Introdução-com-Revisão-de-Literatura-Material-e-MétodosResultados-e-Discussão- Conclusão
Quadro 1. Variantes do modelo IMRD.
No modelo IMRD e em parte de suas variantes, são admitidas por muitas publicações fusões nas seções finais. No IMRD, admite-se fusão nas seções
de resultados e de discussão, compondo a seção “Resultados e Discussão”.
Ainda, nas variantes que incluem uma seção para conclusões, admitem-se três
configurações que contêm fusões: 1) “Resultados”, “Discussão” e “Conclusões” em uma única seção; 2) “Resultados” e “Discussão” em uma só seção e
“Conclusões” à parte; 3) a seção “Resultados” separada e as seções “Discussão” e “Conclusões” juntas. Ademais, na terceira variante do segundo grupo,
Introdução-Objetivos-Revisão-da-Literatura-Métodos-Resultados-Discussão-Conclusões, admite-se a inclusão da revisão bibliográfica na introdução, ou
seja, outro tipo de fusão é aceito.
No que se refere à incidência geral dos modelos identificados, 103 das
197 instruções aos autores analisadas (52,28%) apresentam, na descrição da
estrutura do artigo científico, apenas o modelo IMRD ou uma de suas variantes, 1 delas (0,5% do total) apresenta somente o modelo IDC e 2 (1,01%)
apresentam ambos os modelos, IMRD e IDC. O total de instruções aos autores
que indicam o IMRD é, assim, igual a 105 (53,29% do corpus), e o total de
instruções que indicam o IDC, equivalente a 3 (1,52%).
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Aragão, Rodrigo Moura Lima de. Modelos de estruturação do artigo científico:
retrato e discussão a partir de instruções aos autores da Scielo Brasil
Deslocando agora a exposição para a incidência dos modelos nas diferentes áreas do conhecimento na SciELO Brasil, verificou-se neste trabalho que,
enquanto o modelo IDC aparece nas instruções aos autores de um número
bastante reduzido de publicações de um pequeno número de áreas na SciELO
Brasil (Tabela 2), o modelo IMRD, ou uma de suas variantes, está presente
nas instruções aos autores de um grande número de publicações de diferentes
áreas nessa biblioteca eletrônica (Tabela 3).
Tabela 2 – Instruções aos autores que apresentam o modelo IDC por áreas do
conhecimento (números absolutos e sua proporção quanto aos totais das áreas).
Área(s)
Instruções aos Autores
n
nIDC
(nIDC/n) · 100
Ciências Agrárias
Engenharias
Linguística, Letras e Artes
Ciências Sociais Aplicadas
Ciências Biológicas
Ciências Exatas e da Terra
Ciências da Saúde
Ciências Humanas
Duas ou Mais Áreas
20
4
3
16
14
11
58
48
23
0
0
0
12,5
0
0
0
2,08
0
0
0
0
2
0
0
0
1
0
Tabela 3 – Instruções aos autores que apresentam o modelo IMRD, ou uma
de suas variantes, por áreas do conhecimento (números absolutos e sua
proporção quanto aos totais das áreas).
Instruções aos Autores
Área(s)
(nIMRD/n) · 100
n
nIMRD
Ciências Agrárias
20
19
95
Engenharias
4
0
0
Linguística, Letras e Artes
3
0
0
Ciências Sociais Aplicadas
16
1
6,25
Ciências Biológicas
14
13
92,86
Ciências Exatas e da Terra
11
5
45,45
Ciências da Saúde
58
51
87,93
Ciências Humanas
48
6
12,5
Duas ou Mais Áreas
23
10
43,48
Cadernos de Letras da UFF – Dossiê: Linguagem, usos e ensino no 43, p. 153-163, 2011
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Da universalidade ao (frágil) predomínio do IMRD
Na literatura que aborda o artigo científico, há muitas vezes a tendência de
assumir o IMRD, ou uma de suas variantes, como estrutura universal para esse
tipo de produção escrita. Em alguns trabalhos, observa-se isso de modo explícito
nas alegações dos autores, como são os casos das obras de Day e de Miranda e
Gusmão, nas quais se encontram as seguintes afirmações: “O formato IMRD,
que veio se desenvolvendo lentamente desde a segunda metade do século XIX,
tornou-se agora de uso quase universal nos periódicos de pesquisa” (tradução
nossa);11,12 “Esta estrutura [uma variante do IMRD], em geral, pode ser aplicada
a qualquer área do conhecimento, desde que os artigos tenham como base uma
pesquisa de campo”.13 Em outros trabalhos, a universalidade do IMRD, ou de
alguma variante sua, subjaz a exposição sobre o artigo científico, pois apenas
suas seções são consideradas – nota-se isso, por exemplo, em Swales.14
Embora os resultados obtidos neste trabalho apontem o predomínio do
IMRD, eles não corroboram a universalidade posta explícita ou implicitamente na literatura. Por um lado, mais da metade das instruções aos autores
estudadas (105 ou 53,29% do total) apresenta o IMRD, ou seja, há a preponderância, numericamente frágil, desse modelo; por outro, quase metade
do corpus (92 instruções ou 46,7% do total) não exige, nem recomenda o
IMRD. Sua universalidade parece, pois, um mito. Sob uma perspectiva geral,
há indícios do predomínio desse modelo nas publicações científicas. Todavia,
não existem vestígios de universalidade.
Além disso, cabe notar que o predomínio apontado pelos achados compreende certa tensão entre a fixação em um modelo e a liberdade que é necessária
para a escrita, o que inclui a científica. Confrontando-se as variantes identificadas
do IMRD (Quadro 1) com resultados de pesquisas anteriores acerca do artigo
11
12
13
14
DAY, Robert A. How to write and publish a scientific paper. 5th ed. Phoenix: Oryx Press,
1998. p. 7.
Passagem original: “The IMRAD format, which had been slowly progressing since the latter part
of the nineteenth century, now came into almost universal use in research journals”. Note-se que,
em língua inglesa, o modelo IMRD é chamado às vezes de “IMRAD” – a letra “A” representa a conjunção inglesa and, presente em “Introduction-Methods-Results-And-Discussion”.
MIRANDA, José Luís Carneiro de; GUSMÃO, Heloísa Rios. Artigo científico: estrutura e
redação. Niterói: Intertexto, 2000. p. 12.
SWALES, op. cit.
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Aragão, Rodrigo Moura Lima de. Modelos de estruturação do artigo científico:
retrato e discussão a partir de instruções aos autores da Scielo Brasil
científico e com textos de natureza prescritiva que tratam desse tipo de produção,
constata-se que parte das variantes surge aparentemente de um movimento de
ênfase ou expansão de elementos nativos das seções da matriz do IMRD. Dá-se
ênfase ao objetivo, elemento próprio da introdução,15,16,17,18 e compõe-se a variante Introdução-e-Objetivo-Métodos-Resultados-Discussão. Expandem-se as
conclusões, naturais da discussão,19,20,21 e obtém-se a variante Introdução-Métodos-Resultados-Discussão-Conclusões. Expandem-se os objetivos e a revisão da
literatura, nativos da introdução,22,23,24,25 e as conclusões, próprias da discussão,
e obtém-se a variante Introdução-Objetivos-Revisão-da-Literatura-Métodos-Resultados-Discussão-Conclusões. Esse movimento de ênfase e expansão opõe-se à
rigidez do modelo; é um sinal de que há, sob a preponderância do IMRD, um
esforço para ajustá-lo segundo as necessidades de escrita detectadas pelas revistas.
Ainda, outro sinal desse esforço são as possibilidades de fusão em seções tanto
do IMRD como de parte de suas variantes, que se opõem igualmente à rigidez
do modelo. Admitindo-se fusões, acaba-se por conferir flexibilidade ao IMRD.
Em suma, não há indícios de universalidade, somente do predomínio do
IMRD nas publicações científicas. Esse predomínio, contudo, é frágil se observado o total de instruções aos autores que recomendam ou exigem o IMRD
(trata-se de um número apenas sensivelmente maior que metade do corpus
analisado) e possui certa debilidade se considerada a tensão existente entre a
fixidez do modelo e a liberdade necessária para a escrita. No que diz respeito a
um escopo mais restrito, isto é, ao âmbito de áreas do conhecimento específicas, entretanto, o quadro é diferente, como será visto na próxima seção.
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
SWALES, op. cit., p. 159-160.
ANTHONY, op. cit., p. 40-41.
INTERNATIONAL COMMITTEE OF MEDICAL JOURNAL EDITORS. Uniform
Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals. http://www.icmje.org/urm_
main.html, 25/10/2010.
AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION. Publication manual of the American Psychological Association. 7th ed. Washington: American Psychological Association, 2009. p. 27.
NWOGU, K. N. “The medical research paper: Structure and functions”. English for Specific
Purposes, 16: 119-138, 1997. p. 133-134.
INTERNATIONAL COMMITTEE OF MEDICAL JOURNAL EDITORS, op. cit.
AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, op. cit., p. 35.
SWALES, op. cit., p. 141-160.
ANTHONY, op. cit., p. 40-41.
INTERNATIONAL COMMITTEE OF MEDICAL JOURNAL EDITORS, op. cit.
AMERICAN PSYCHOLOGICAL ASSOCIATION, op. cit., p. 27-28.
Cadernos de Letras da UFF – Dossiê: Linguagem, usos e ensino no 43, p. 153-163, 2011
161
Alcance e predomínio dos modelos identificados em áreas do
conhecimento específicas
O modelo IDC foi identificado em um número bastante reduzido de
instruções aos autores de revistas das Ciências Sociais Aplicadas e das Ciências
Humanas (Tabela 2). Parece, assim, muito distante de uma posição hegemônica ou preponderante em qualquer uma das duas áreas. Por não se tratar de
estrutura encontrada com facilidade em artigos científicos – ao menos não
com as seções “Introdução”, “Desenvolvimento” e “Conclusão” –, supõe-se
que sua indicação possa ser menos uma exigência das publicações quanto ao
formato dos artigos científicos e mais um alinhamento das revistas às normas
da Associação Brasileira de Normas Técnicas,26 nas quais o IDC é apresentado.
O modelo IMRD, por seu turno, possui alcance significativamente
maior. Verificou-se sua incidência em diferentes proporções nas Ciências Sociais Aplicadas, nas Ciências Humanas, nas Ciências Exatas e da Terra, nas Ciências da Saúde, nas Ciências Biológicas e nas Ciências Agrárias (Tabela 3).
Com isso, tem-se um retrato de sua presença nas diferentes áreas do conhecimento que difere daqueles expostos na literatura,27,28 uma vez que se constitui a partir de achados de pesquisa, e não de leituras e experiências pessoais
relacionadas com a escrita científica. Além disso, os resultados obtidos nesta
pesquisa revelam o predomínio, numericamente robusto, do IMRD nas Ciências Agrárias, nas Ciências Biológicas e nas Ciências da Saúde. Esse predomínio pode ser interpretado como consequência de um provável alinhamento
entre as publicações brasileiras dessas áreas e os ditames de associações e comitês
internacionais de peso, que geralmente indicam o IMRD para artigos científicos
– a exemplo do International Committee of Medical Journal Editors.29 Outra
leitura possível é a de que esse predomínio seja o sinal de um grau elevado de
26
27
28
29
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6022: Informação e documentação – Artigo em publicação periódica científica impressa – Apresentação. Rio de
Janeiro, 2003. 5 p. p. 3-4.
ABRAHAMSOHN, Paulo. Redação científica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. p. 5.
VARTTALA, Teppo. Hedging in scientifically oriented discourse: Exploring variation according to discipline and intended audience. 2001. 321 f. Tese (Doutorado em Filologia Inglesa)
– University of Tampere, Tampere [Finlândia], 2001. p. 66. http://acta.uta.fi/english/teos.
php?id=5718, 7/3/2011.
INTERNATIONAL COMMITTEE OF MEDICAL JOURNAL EDITORS, op. cit.
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Aragão, Rodrigo Moura Lima de. Modelos de estruturação do artigo científico:
retrato e discussão a partir de instruções aos autores da Scielo Brasil
industrialização da produção científica das três áreas. Isso porque a adesão ao
IMRD contribui para essa industrialização ao tornar o processo de composição escrita similar àquele efetuado em uma linha de produção: os autores
ocupam-se apenas com colocar peças específicas (métodos, resultados, etc.)
na estrutura IMRD, que desliza pela linha de montagem das universidades e
institutos de pesquisa. A adesão ao IMRD confere, assim, rapidez à elaboração dos artigos científicos, dá a estes uniformidade, facilitando e agilizando
o trabalho de editores e avaliadores; consequentemente, diminui o período
de gestação das publicações científicas e favorece uma produção em massa,
industrial. Dessa forma, o predomínio localizado do IMRD parece expor uma
divisa entre áreas do conhecimento com produção científica industrializada,
como as Ciências Biológicas e as Ciências da Saúde, e áreas com produção
científica artesanal, como as Ciências Humanas, as Letras e as Artes.
Implicações para o ensino da escrita científica
O ensino da escrita científica dá sentido à maior parte dos estudos que
giram em torno dos textos científicos, de modo que, para encerrar este trabalho,
é fundamental fazer a ponte entre os achados reunidos, as discussões realizadas e
esse ensino. Aqui, serão consideradas duas facetas do ensino da escrita científica:
a do ensino generalista, isto é, que tem como público estudantes e pesquisadores
de diferentes áreas e disciplinas; e a do ensino especializado, ou seja, que tem
como público estudantes e pesquisadores de uma área ou disciplina particular.
Quanto ao ensino generalista, alerta-se para a necessidade de não limitá-lo
a um único modelo para a estruturação de artigos científicos. Aparentemente,
não existe a universalidade que justificaria essa restrição; parece haver apenas o
predomínio do IMRD, que, sob uma perspectiva ampla, mostra-se frágil. Tendo
em vista estudantes e pesquisadores de áreas e disciplinas diversas, entende-se
que o ensino deva se ater menos a modelos e mais a fundamentos que contribuam para que os aprendizes elaborem textos capazes de circular em seus campos
de estudo, independentemente da forma. “Que fundamentos seriam esses?” é
uma pergunta para a qual este trabalho não traz respostas, no entanto, tem-se a
hipótese de que eles estejam relacionados diretamente com o modus operandi das
ciências. Identificá-los exigiria, então, uma abordagem investigativa que articulasse aspectos dos artigos científicos com os modos de fazer ciência.
Cadernos de Letras da UFF – Dossiê: Linguagem, usos e ensino no 43, p. 153-163, 2011
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Já no que diz respeito ao ensino especializado, os modelos de estruturação para artigos científicos podem ou devem assumir posição central, dependendo da área do conhecimento em foco. Modelos parecem desempenhar
papel relevante em áreas de produção científica industrializada e, por isso,
acredita-se que devam ser priorizados no ensino da escrita científica que se
dá no âmbito dessas áreas. Por outro lado, sua função nas áreas de produção científica artesanal é, avalia-se, de menor importância – podem, inclusive,
constituir obstáculo sério para o pesquisador inventivo no trabalho com a
substância dos textos. Logo, entende-se que, no ensino da escrita científica
relativo a essas áreas, os modelos devam ocupar posição periférica ou mesmo
ser ignorados. Enfim, conclui-se que é fundamental ao professor engajado no
ensino especializado da escrita científica deter-se sobre as especificidades (da
escrita) da área do conhecimento ou disciplina à qual pertence o seu público
discente. Compreender essas especificidades é o que lhe proporcionará meios
de estabelecer de maneira não arbitrária a relação entre a escrita científica e os
modelos de estruturação no ensino, inclusive no que se refere à tensão entre a
fixidez dos modelos e a liberdade que toda escrita requer.
Abstract: Based upon an analysis of 197 instructions to authors of journals from Scientific Electronic
Library Online of Brazil (SciELO Brazil), we draw in
this work a portrait of the structuring models for scientific articles found in Brazilian journals. Also, we discuss
the universality, the predominance, and the range of the
models for scientific articles, and we point out implications of the work for the teaching of scientific writing.
Keywords: scientific writing; structure of scientific
articles; IMRD.
Recebido em: 13/03/2011
Aprovado em: 16/06/2011
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