Sandra Regina Rezende Garcia Anita Lilian Zuppo Abed 2015 Sumário 1. Introdução 3 2. O “Programa de Avaliação de Aprendizagens” 5 3. Devolutivas dos resultados 10 4. Apresentação e análise preliminar dos resultados dos alunos 13 5. Apresentação e análise dos resultados dos professores e gestores 15 5.1 Motivação para a prática docente 15 5.2 Estratégias didáticas 19 5.3 Competências profissionais do professor 22 5.4 Competências profissionais do gestor 25 5.5 Resolução Colaborativa de Problemas (professores) 26 5.6 Percepção de impactos do Programa MenteInovadora 27 6. Continuidade dos Estudos 30 7. Considerações finais 32 2 “O essencial em avaliação é resgatar os valores que nos tornam humanos.” Jussara Hoffmann 1. Introdução O “Programa de Avaliação de Aprendizagens”, realizado em 2014, é resultado de uma parceria entre a “Comunidade Internacional de Cooperação em Educação – Mind Group”, que congrega altos dirigentes da Educação no Brasil e no mundo, a empresa “Mind Lab do Brasil”, que desenvolve e implementa o Programa MenteInovadora, e em escolas das redes públicas e privadas de várias regiões do Brasil. A Metodologia que compõe o Programa MenteInovadora tem como objetivo preparar as crianças e jovens para as demandas do século XXI, realizando um trabalho pedagógico focado no desenvolvimento das habilidades sociais, emocionais e éticas, além das cognitivas. Nesse sentido, os cursos são preparados e organizados considerando as faixas etárias dos estudantes, priorizando habilidades que entendemos serem essenciais para prepará-los como sujeitos responsáveis e autores do seu próprio projeto de vida. A Metodologia do Programa MenteInovadora está ancorada em três pilares: a utilização de “Jogos de Raciocínio” como recursos mediadores no processo ensino-aprendizagem; os “Métodos Metacognitivos”, ferramentas criadas pela Mind Lab com o objetivo de colaborar na organização interna dos pensamentos e das ações; e a ênfase no “Professor Mediador”, considerado como protagonista essencial na gestão da cena pedagógica. O Estudo realizado com os estudantes, professores e gestores teve como objetivo investigar as habilidades socioemocionais (motivação e estratégias de aprendizagem) e Resolução Colaborativa de Problemas, além do nível de desenvolvimento em Matemática dos alunos, tanto do ponto de vista do raciocínio lógico como lógico-quantitativo, com o intuito de perceber inter-relações entre as habilidades socioemocionais e a proficiência em Matemática e dimensionar os impactos da utilização da Metodologia MenteInovadora no desenvolvimento dos estudantes. Para os professores, foram aplicados instrumentos de autopercepção de suas competências profissionais, suas habilidades socioemocionais (motivação e estratégias de ensinoaprendizagem) e de Resolução Colaborativa de Problemas. Os questionários objetivaram o levantamento dados sobre como os professores, das escolas públicas e privadas, percebem a sua própria preparação para o contexto educacional atual, em que o trabalho com foco no desenvolvimento de habilidades e competências (tais como trabalhar em equipe, tomar decisões, selecionar e processar informações e lidar com as emoções) permeia as reflexões de forma significativa. A esse respeito, podemos citar alguns movimentos fortes para a inserção das habilidades socioemocionais nos currículos das escolas, tanto no âmbito das políticas públicas, coordenadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), como no âmbito de instituições não governamentais, como a OECD (Organisation for Economic Co-operation and 3 Development - Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico) e o Instituto Ayrton Senna. Para os gestores, foram aplicados instrumentos de autopercepção de suas competências profissionais (liderança, gestão de recursos, gestão curricular e de clima institucional), também com o objetivo de levantar dados sobre a sua visão em relação aos quesitos necessários para exercerem as suas próprias funções. O questionário incluiu também itens sobre a sua percepção em relação aos professores, aos alunos, às relações com a família e, como dados complementares, sobre as contribuições da Metodologia no ambiente escola. Além disso, o Estudo de 2014 teve como objetivo de correlacionar a autopercepção dos professores, gestores e alunos, procurando compreender de que forma estes resultados se entrelaçam e impactam no desempenho escolar dos estudantes. As lideranças das escolas participantes da pesquisa receberam códigos de acesso online aos resultados obtidos nos instrumentos de avaliação, organizados por alunos (sintético e ampliado), turmas, escolas e Unidades Federativas, no caso da rede pública. Dois aspectos caracterizam o Estudo como uma pesquisa-ação: Reuniões presenciais com as equipes gestoras das Secretarias de Educação e das escolas participantes, para apoio à leitura dos dados dos relatórios consolidados da primeira aplicação (rede, escola e turma) e, posteriormente, dos relatórios comparativos entre as duas avaliações. Nessas reuniões, os dados foram apresentados e refletidos, possibilitando ampliar a compreensão sobre a realidade vivida e as diretrizes para o aprimoramento dos planejamentos pedagógicos. Disponibilização de relatórios individualizados para os alunos, com apresentação dos resultados obtidos e recomendações de possíveis caminhos para desenvolver os aspectos mensurados. Neste artigo, é realizado um recorte com foco nos resultados dos professores e gestores. É apresentada, de maneira sintética, a estrutura do Programa de Avaliação, a participação das escolas e algumas referências sobre os dados obtidos nas avaliações dos alunos, que é aprofundada no artigo completo sobre o “Programa de Avaliação de Aprendizagens”. Os dados coletados por meio dos instrumentos dos professores e dos gestores são explorados e discutidos, sugerindo possibilidades de leituras e recomendações para o planejamento escolar. Para finalizar, é apresentada uma pequena amostra de exploração dos dados relacionando os resultados dos alunos e dos professores, que está detalhada no artigo sobre os resultados gerais do Estudo, além de uma proposta de continuidade das pesquisas. 4 2. O “Programa de Avaliação de Aprendizagens” O Programa de Avaliação de Aprendizagens foi realizado entre os meses de março e dezembro de 2014, contando com a participação de várias instituições de ensino da rede pública e privada, localizadas em 12 unidades federativas do Brasil (Alagoas, Bahia, Brasília, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe), como mostra a tabela abaixo: Segmento 5º/6º anos Ensino Médio Total Públicas 64 14 78 Privadas 94 14 108 Total 158 28 186 Tabela 1: Instituições de ensino participantes do estudo “Programa de Avaliação” Para os alunos, foi utilizada a metodologia de pré-teste, intervenção e pós-teste. Um primeiro grupo de escolas respondeu à primeira fase da avaliação em março/abril e o segundo grupo, em julho/agosto; os alunos dos 2 grupos de escolas realizaram a segunda aplicação em novembro/dezembro. Cerca de 15.000 alunos participaram das avaliações, porém segundo os critérios de pesquisa pré-estabelecidos, condizentes com os objetivos do estudo (os impactos produzidos pela Metodologia e suas contribuições no desenvolvimento das habilidades socioemocionais e na proficiência em Matemática), foram considerados na apresentação dos resultados somente os resultados daqueles que completaram, na primeira avaliação e na segunda avaliação, os dois instrumentos (Avaliação de Matemática e Questionário sobre Habilidades Socioemocionais). A tabela abaixo expressa o total de alunos que concluíram as duas avaliações (Matemática e Habilidades Socioemocionais) do Programa de Avaliação: Segmento 5º/6º anos Ensino Médio Total Públicas 2724 3026 5750 Privadas 4513 665 5178 Total 7237 3691 10928 Tabela 2: Quantitativo de alunos que concluíram as 2 avaliações do estudo “Programa de Avaliação de Aprendizagens” Com o objetivo de mensurar alguns aspectos importantes no desenvolvimento de habilidades dos estudantes, foram elaborados instrumentos de avaliação de Matemática tomando como base os conteúdos e descritores praticados no país (Prova Brasil, para 5º/6º anos, e ENEM, para o Ensino Médio). Em relação à mensuração das habilidades socioemocionais de motivação e estratégias de aprendizagem, os instrumentos foram baseados em avaliações consagradas no meio acadêmico, ampliadas pela Mind Lab. Para a elaboração dos itens situacionais de avaliação de habilidade de resolução colaborativa de problemas, foram adotadas referências discutidas atualmente no mundo, que constam da matriz para 2015 do “PISA” (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), avaliação trienal realizada pela OECD. O processo de aplicação das avaliações, totalmente realizadas por computador, ficou a cargo da “Empresa Brasileira de Avaliações Educacionais – Primeira Escolha”, estruturando-se nos mais rigorosos padrões internacionais de avaliação. 5 Os construtos avaliados no Programa de Avaliação foram: Figura 1: Construtos avaliados A avaliação de Matemática constou de itens de raciocínio lógico-quantitativo (com base nas matrizes do Saeb e do ENEM) e de raciocínio lógico, avaliando as habilidades cognitivas de análise, síntese e inferência. A avaliação de habilidades socioemocionais constou de itens de motivação e de estratégias de aprendizagem e situações-problema de resolução individual ou colaborativa. No instrumento direcionado aos adolescentes do Ensino Médio de resolução de problemas, foram utilizadas, em algumas questões, situações do cotidiano do mundo do trabalho, no qual este jovem está ou em breve estará inserido. Em cada situação-problema, o aluno deveria escolher entre quatro alternativas de resposta, que representam o cruzamento entre baixa e alta prioridade para os processos colaborativos de trabalho em equipe e os processos individuais de resolução de problemas, como mostra o quadro abaixo: Tabela 3: Parâmetros das alternativas nos itens situacionais sobre Resolução Colaborativa de Problemas Os itens situacionais contemplam cada uma das categorias expressas na matriz de habilidades para Resolução Colaborativa de Problemas do PISA 2015, ampliada com a linha “E”, que se refere ao posicionamento pessoal em relação ao grupo. 6 Tabela 4: Matriz de referência PISA-Mind Lab para Resolução Colaborativa de Problemas Utilizando a TRI (Teoria de Resposta ao Item), foram construídos blocos de avaliação para balanceamento de modelos, equivalentes em termos de nível de dificuldade. Cada modelo de prova foi formado agrupando-se dois blocos, conforme mostra a figura abaixo: Figura 2: Modelos de balanceamento das avaliações No momento do cadastramento dos alunos no sistema, eles foram distribuídos aleatoriamente em quatro grupos, que foram associados previamente a dois modelos de avaliação, um para a 1ª aplicação e outro para a 2ª aplicação. A tabela abaixo ilustra essa associação: Tabela 5: Distribuição dos alunos nos grupos 7 Os instrumentos de avaliação foram validados estatisticamente na aplicação realizada em março de 2014 com 600 alunos de Ensino Médio e 2400 alunos de 5º/6º ano. 1 Os resultados foram distribuídos em uma curva como a expressa abaixo, simbolizando-se a posição do resultado na curva por meio de cores, permitindo situar os escores individuais no conjunto de resultados. 0F Figura 3: Curva de referência de distribuição de resultados Os professores envolvidos no Programa de Avaliação de Aprendizagens responderam, no período correspondente ao pós-teste dos alunos, a questionários pautados nas competências exigidas para um professor, segundo documentos oficiais do MEC, além de itens sobre as suas próprias habilidades socioemocionais e de resolução colaborativa de problemas, utilizando-se descritores que viabilizaram o cruzamento de informações entre os resultados obtidos pelos professores, gestores e alunos. Figura 4: Competências dos professores Os gestores responderam, também, no mesmo período dos professores, a questionário em que foram consideradas competências relacionadas às suas próprias tarefas enquanto dirigentes e orientadores do processo educacional na escola, além de itens sobre a sua 1 No site www.mindlab.com.br estão disponíveis os artigos da primeira fase de aplicação e dos estudos anteriores, realizados sobre a Metodologia MenteInovadora. 8 percepção acerca das competências profissionais e habilidades socioemocionais dos seus professores (motivação e estratégias de ensino-aprendizagem) e sobre os impactos da utilização da Metodologia no ambiente-escola (em si mesmos, nos professores, nos alunos e nas famílias). Figura 5: Competências dos gestores Sintetizando: Sujeitos Alunos Professores Gestores Instrumentos de avaliação - Matemática: raciocínio lógico e lógico-quantitativo - Habilidades socioemocionais: motivação e estratégias de aprendizagem (autopercepção) - Resolução colaborativa de problemas (itens situacionais) - Competências do professor - Habilidades socioemocionais: motivação e estratégias de ensino-aprendizagem (autopercepção) - Resolução colaborativa de problemas (itens situacionais) - Competências do gestor - Habilidades socioemocionais dos professores - Impactos da Metodologia MenteInovadora na escola Aplicações Pré-teste e pós-teste Pós-teste Pós-teste Tabela 6: Síntese do escopo do Estudo 9 3. Devolutivas dos resultados Todos os dados coletados nos instrumentos respondidos pelos alunos foram disponibilizados, no sistema, para as Secretarias de Educação e equipes técnicas, bem como para os diretores de cada uma das escolas participantes, na forma de relatórios por aluno, por turma, por escola e da rede, como mostra a tabela abaixo: Relatórios Consolidado da Rede Consolidado da Escola Consolidado de cada Turma Resumido do Aluno Detalhado do Aluno (com recomendações) Ilustrado do Aluno Público Alvo Secretaria de Educação Direção/Coordenação Pedagógica Coordenação Pedagógica/Professores Professores Professores/Alunos Alunos/Famílias Tabela 7: Tipos de relatório e público alvo Vale ressaltar que os resultados de uma pesquisa devem ser lidos considerando possíveis influências de variáveis na aplicação dos instrumentos, algumas previsíveis e outras não. No caso do presente Estudo, é preciso levar em conta, por exemplo, que as duas aplicações ocorreram em diferentes épocas do ano. É razoável supor que na segunda aplicação os estudantes já estivessem muito cansados ou “em ritmo de férias”, o que talvez tenha influenciado o engajamento no processo de avaliação e prejudicado o desempenho. Os relatórios consolidados (rede, escola e turma) objetivaram construir métricas sobre as características socioemocionais e o desempenho em Matemática dos diferentes grupos de alunos, levantando dados e informações que podem subsidiar os planejamentos pedagógicos com base em um olhar diagnóstico, ou seja, no levantamento de necessidades e identificação de potencialidades. Cada um desses relatórios permite realizar diferentes leituras, de acordo com as necessidades de cada instituição participante, que poderão colaborar com os planejamentos pedagógicos em diferentes instâncias. Uma leitura “global” permite uma visualização das necessidades que devem ser focadas no macro planejamento; a leitura “horizontal” possibilita a visualização da distribuição dos sujeitos em cada construto, dentro do contexto pesquisado; por fim, a leitura “vertical” apresenta dados do momento da aplicação que revelam diferentes graus de prioridades, que podem ajudar a determinar ações a curto, médio e longo prazo. Dessa forma, os relatórios podem ser pensados como recurso mediador entre o atual (como está), o ideal (aonde se quer chegar) e o real (o que fazer). O entendimento do “todo” auxilia no planejamento do trabalho pedagógico, pois permite conhecer melhor o grupo de alunos e pensar em ações coletivas. Relatório consolidado da rede. Para as Equipes Técnicas das Secretarias de Educação, a “leitura global” do consolidado da rede (que pode ser considerada como uma fotografia dos alunos da rede no momento) em relação ao desempenho em Matemática e ao desenvolvimento das habilidades socioemocionais (estratégias de aprendizagem e a resolução colaborativa de problemas) pode subsidiar a identificação das competências e habilidades que 10 devem ser focadas no macro planejamento das futuras ações (planejamento da rede), bem como na identificação de demandas particulares de cada escola, para planejamento de ações pontuais, específicas para atender as necessidades das diferentes realidades, uma vez que a amostragem contempla um número significativo de alunos. Além disso, a leitura global dos resultados de todas as escolas pode ajudar a identificar iniciativas exitosas em algumas delas, que podem servir como modelo e inspiração para outras escolas, tendo em vista que a Metodologia do Programa tem, na essência de sua proposta, três pilares que podem contribuir no trabalho pedagógico da escola por meio do aprimoramento da mediação do professor, do uso dos jogos como recursos potencializadores do desenvolvimento de habilidades e da construção e aplicação dos Métodos Metacognitivos como organizadores dos pensamentos e das ações. Relatório consolidado das escolas. Para as equipes técnicas de cada unidade escolar, a “leitura global” dos relatórios da escola possibilita a identificação das competências e habilidades que devem ser focadas no macro planejamento da escola. Uma “leitura horizontal” permite a visualização detalhada de como os alunos estão distribuídos na curva de resultados em cada um dos indicadores: Matemática: raciocínio lógico e raciocínio lógico-quantitativo Raciocínio lógico: análise, síntese e inferência Motivação: ansiedade, valor intrínseco e autoeficácia Estratégias de aprendizagem: autorregulação, planejamento, estratégias de estudo e execução Resolução colaborativa de problemas Esse detalhamento permite à equipe técnica da escola (coordenadores e orientadores) uma maior clareza da realidade vivida na instituição e do trabalho que pode ser realizado para a melhoria dessas métricas. A análise crítica do planejamento de Matemática, à luz dos dados coletados neste estudo, possibilita tanto a otimização do uso dos recursos e ferramentas disponibilizados pela parceria com a Mind Lab, como também a inserção de novas práticas que contemplem as necessidades específicas identificadas. O detalhamento do resultado em raciocínio lógico permite saber quais habilidades cognitivas (que antecedem a construção dos conceitos) devem ser mais focadas para alavancar a aprendizagem, na Matemática e em outras áreas do conhecimento. A “leitura vertical” dos dados, ou seja, o entendimento dos resultados em cada uma das faixas de desempenho (vermelha, amarela e verde) ajuda a determinar as prioridades e selecionar as ações pedagógicas para serem implementadas no curto espaço de tempo. Além disso, a "leitura individualizada” de cada uma das turmas de alunos permite um planejamento mais personalizado diante das evidências detectadas. Vale ressaltar que a “leitura global” da escola e da rede, em sintonia com os resultados da pesquisa com os professores e com os gestores, também possibilita, às equipes técnicas, realizar, com a equipe de professores, reuniões de reflexões e de tomada de consciência sobre importância do desenvolvimento de habilidades e de suas implicações na proficiência em Matemática, em outras áreas do conhecimento e nas atitudes dos estudantes. 11 Relatório consolidado por turmas. Os relatórios por turma possibilitam, ao professor, ter uma leitura do seu grupo de estudantes, ou seja, como eles estão nesse momento (fotografia – tomada de consciência). A “leitura horizontal” fornece dados para a adequação dos planejamentos pedagógicos, enquanto a “leitura vertical” facilita a identificação das prioridades e organização de ações de curto prazo. Relatório resumido do aluno. Os relatórios resumidos dos alunos possibilitam, ao professor, conhecer as necessidades específicas de cada um dos estudantes, para traçar ações pontuais que permitam colaborar no desenvolvimento desses alunos. Relatório individual de cada aluno. Nos relatórios detalhados dos alunos, além dos resultados propriamente ditos, há recomendações personalizadas para que cada aluno possa ser autor do seu próprio processo de aprendizagem. O relatório auxilia o aluno a tomar consciência de como está no momento, fornecendo um retorno imediato e sugestões de caminhos para a melhoria. Para os alunos participantes do Programa MenteInovadora, em cada construto avaliado são indicadas ferramentas concretas, pontuais, lúdicas e prazerosas para o seu desenvolvimento pessoal - os recursos da Metodologia, Métodos Metacognitivos e estratégias exploradas nos jogos de raciocínio e nas transcendências para as situações do cotidiano, uma vez que evidências em estudos anteriores demonstram o impacto do uso desses recursos na proficiência em Matemática e no desenvolvimento de habilidades cognitivas, socioemocionais e éticas. O comparativo entre as duas aplicações permite identificar os resultados que avançaram e aqueles que merecem atenção. Os grupos que obtiveram avanços mais significativos podem ser estudados para que se identifiquem as boas práticas que podem ser reproduzidas em outros contextos. Sabemos que neste intervalo entre as duas aplicações (de 7 meses ou de 3 meses, dependendo do grupo), os resultados podem apresentar diferenças aparentemente pequenas, mas sabemos também que podem indicar tendências a serem observadas. O volume de dados coletados é muito rico, o que vai permitir leituras mais profundas, apresentadas em um relatório analítico final. Este artigo apresenta uma análise inicial de alguns aspectos, com foco nos resultados dos professores e gestores. 12 4. Apresentação e análise preliminar dos resultados dos alunos Como o objetivo deste artigo é explorar os resultados dos professores e gestores, será apresentada uma síntese de algumas tendências verificadas na avaliação dos estudantes2. Confirmando os resultados de pesquisas anteriores, foi verificado impacto positivo na proficiência em Matemática dos alunos, tanto no raciocínio lógico-quantitativo como no raciocínio lógico, com destaque nas habilidades de análise e inferência. Esses dados podem indicar direções para repensar os conteúdos dos planejamentos da área de Matemática por meio da inserção um trabalho focado no desenvolvimento do raciocínio lógico, que pode potencializar não só a aprendizagem na Matemática, como também reverberar em todos os componentes curriculares. Destacamos duas correlações estatisticamente socioemocionais e a proficiência em Matemática: significativas entre as habilidades Observou-se uma correlação negativa entre os níveis de ansiedade e a proficiência em Matemática, ou seja, quanto maior o nível de ansiedade em relação às avaliações, pior foi o desempenho no instrumento de avaliação de Matemática, tanto no raciocínio lógico quanto no lógico-matemático. Foi verificada uma correlação positiva entre a habilidade de resolver problemas de maneira colaborativa e a proficiência em Matemática. Esses resultados corroboram a tendência atual, na Educação, de investir no desenvolvimento das habilidades socioemocionais como caminho para o potencializar a aprendizagem. Em relação à motivação, avanços significativos foram observados nos aspectos da ansiedade, valor intrínseco e autoeficácia, mesmo entre os alunos que vivenciaram a Metodologia por apenas três meses. Levanta-se a hipótese de que o Método do Semáforo, explorado nas aulas, tenha colaborado efetivamente no controle da impulsividade e da ansiedade dos alunos. A ênfase dada, em todas as aulas do Programa, a reflexões sobre a importância do significado dos conhecimentos nos permite inferir a Metodologia tenha sido responsável pelo aumento do valor intrínseco. Por fim, os sentimentos de competência, autonomia e responsabilidade pelas próprias ações, vivenciados pelos alunos durante os jogos, especialmente após estudar e aplicar métodos e estratégias que aprimoram o seu jogar, provavelmente tenham relação direta com o aumento da autoconfiança e da autoeficácia. Nas estratégias de aprendizagem, destaca-se sensível melhora na autorregulação, o que pode estar relacionado aos Métodos3 do Semáforo (regulador das ações e reações diante da vida) e do Detetive (atitude investigativa), que instrumentalizam o aluno com recursos internos que possibilitam maior autoria dos próprios processos. Na Resolução Colaborativa de Problemas, observou-se um aumento no percentual de respostas que integram a resolução de problemas e o trabalho em equipe, ou seja, que expressam ações de resolução colaborativa de problemas. Acreditamos que o desenvolvimento das habilidades sociais, que dependem das relações com os outros, e das 2 3 Ver artigo completo sobre os resultados do Estudo no site www.mindlab.com.br Conheça mais sobre os métodos metacognitivos da Metodologia no site www.mindlab.com.br 13 competências atitudinais envolvidas na resolução colaborativa de problemas precisa ser incorporado na prática do dia a dia, uma vez que resolver problemas em grupo está localizado no campo das competências atitudinais, sendo um desenvolvimento processual. São necessários novos estudos para aprofundar a compreensão sobre esse processo. Algumas escolas tiveram resultados muito discrepantes em relação à média, o que nos leva a supor que os impactos, maiores ou menores, dependem muito da qualidade do trabalho pedagógico que está sendo realizado em cada instituição. Professores motivados e engajados, apoiados por gestores que assumam o seu papel de líderes dos processos e sejam parceiros dos docentes no planejamento e na execução das ações, são essenciais ao sucesso de qualquer projeto dentro da escola. Nesse sentido, é fundamental procurar compreender melhor os professores e os gestores responsáveis pela Educação das nossas crianças e jovens. Esse é o grande motivo que nos leva à elaboração do presente artigo com foco nos educadores. 14 5. Apresentação e análise dos resultados dos professores e gestores Sabemos da importância, na Educação, de professores motivados e conscientes do seu papel no processo de ensinar e de aprender, que estejam comprometidos com a construção do conhecimento, que revistam as suas práticas pedagógicas de ações impregnadas de significado e de intencionalidade para o desenvolvimento de competências e habilidades dos seus alunos. Na atualidade, as teorias de ensino e de aprendizagem focam cada vez mais o papel do professor como mediador das relações dos alunos com o conhecimento. Não mais um “dador de aulas”, o professor é visto como o grande maestro da cena pedagógica: com suas ações intencionais, organiza as situações de ensino-aprendizagem de modo a engajar os alunos no processo de construção do conhecimento e de desenvolvimento de suas habilidades cognitivas, sociais, emocionais e éticas. Vários estudos mostram que o aumento na motivação dos professores em ensinar repercute positivamente na motivação dos alunos em aprender. Nesse sentido, cabe às equipes diretivas um movimento bastante intenso de resgate da paixão, do encantamento que levou esse profissional a escolher ser professor. O objetivo deste artigo é levantar dados sobre como nossos professores estão em relação a alguns aspectos extremamente relevantes para uma pratica pedagógica consistente e motivadora, refletindo-se sobre como é possível contribuir para mudar os aspectos que se mostraram mais prejudicados. Comparativos entre os resultados dos professores da área pública e privada permitirão lançar algumas hipóteses e indicar alguns possíveis caminhos. Além disso, os relatórios disponibilizados (relacionados no capítulo 3) e as reuniões de apoio à sua leitura e interpretação poderão contribuir efetivamente com as escolas na sua busca incessante de aprimoramento do relevante serviço que prestam à sociedade. É esse o sentido da modalidade de pesquisa-ação: aproximar os estudos à realidade vivida, focando não só a construção do conhecimento como também o seu papel como agente de mudança social. Acreditamos que a percepção dos gestores pode revelar aquilo que eles presenciam, ou seja, o planejamento retratado na prática da sala de aula e nas relações entre os professores e os alunos. Na leitura dos resultados, o cruzamento da autopercepção dos professores e da visão expressa nos resultados dos gestores pode provocar reflexões importantes. 5.1 Motivação para a prática docente No construto “Motivação para a Prática Docente”, foram avaliados os seguintes aspectos: Ansiedade em relação a avaliações. O professor também pode ficar ansioso em relação às suas atividades docentes, em situações que possa se sentir avaliado. Quanto maior a ansiedade, mais dificuldade a pessoa tem em lidar com o emocional, ou seja, essa é uma habilidade que deve ser lida “invertida”. Portanto, quanto mais alto o valor nessa escala, menor o nível de ansiedade em relação a avaliações que o professor declarou em suas respostas. 15 Valor intrínseco. Habilidade de engajamento na tarefa docente como um fim em si mesmo. Autoeficácia. Habilidade de autoavaliação; reconhecimento e confiança nas condições pessoais para promover a aprendizagem dos alunos. O gráfico abaixo mostra um consolidado nos três construtos avaliados: Gráfico 1: Resultados dos professores – Motivação para a Prática Docente Os resultados da Motivação para a Prática Docente mostram um grande contingente de professores que não estão se sentindo tão motivados com sua profissão, tanto na área pública (36% na faixa vermelha) como na área privada (16 % na faixa vermelha). É possível observar uma diferença significativa entre os professores das instituições públicas e privadas: os dados revelam um grau de motivação bem menor nos professores da rede pública (apenas 27% de professores na faixa verde), quando comparados com os da rede privada (42%), o que remete a reflexões sobre a necessidade de políticas públicas voltadas ao engajamento e satisfação dos professores com a sua escolha profissional. Dentre outras medidas, como melhores salários e planos de carreira bem estruturados, a continuidade e fortalecimento nos processos de formação dos professores configura-se como uma possibilidade concreta de alavancar a motivação dos professores. Nesse sentido, a Formação Continuada e em Serviço do Programa MenteInovadora proporciona, às escolas, um espaço de aprofundamento e troca de saberes, entre os professores, tanto teóricos quanto práticos, em torno das habilidades necessárias à construção dos conhecimentos presentes nos diferentes componentes curriculares e ao desenvolvimento integral dos estudantes. A necessidade de investimento na formação dos professores é corroborada pelos resultados obtidos em cada um dos três componentes da motivação para a prática docente focados neste Estudo: ansiedade em relação às avaliações, valor intrínseco e autoeficácia. 16 Gráfico 2: Resultados dos professores – Ansiedade em relação às Avaliações, Valor Intrínseco e Autoeficácia Observando os resultados, verifica-se a mesma tendência dos professores se perceberem mais bem preparados nas instituições da rede privada. No quesito “Ansiedade”, os resultados são mais próximos, sugerindo que os professores, de maneira geral, precisam desenvolver suas habilidades emocionais para lidar melhor com os desafios inerentes à tarefa docente. Portanto, é necessário que as escolas invistam no desenvolvimento socioemocional dos seus professores, para que possam “mover a curva” cada vez mais para a “faixa verde” (os 30% melhores resultados). É preciso cuidar especialmente dos docentes que se encontram mais 17 fragilizados (na faixa vermelha, dos 30% piores resultados) em relação a esse aspecto emocional tão imprescindível em qualquer relação humana: lidar com a ansiedade. Nos quesitos “Valor Intrínseco” e “Autoeficácia”, os dados sugerem a urgência de se trabalhar, nas escolas públicas, o importante papel do docente na formação das próximas gerações (valor intrínseco) e o fortalecimento da autoconfiança do professor por meio de melhor preparo pessoal e profissional (autoeficácia). Embora nas escolas privadas esses itens tenham revelado resultados mais positivos, o investimento na formação dos professores é necessário para atender aos docentes nas faixas vermelha e amarela que, juntos, estão em torno de 60%. Identificar essas necessidades nos professores implica em desenvolver, nos gestores, um “olhar de quem cuida”, uma vez que são eles os responsáveis por liderar os processos que ocorrem na escola, gerenciar os recursos não só materiais como também humanos e cuidar do clima e da convivência institucional. Nesse sentido, cabe conhecer qual é a sua leitura sobre seus docentes, como enxergam as necessidades básicas dos seus professores, para que seja possível promover um olhar mais cuidadoso e ações mais focadas nessas necessidades. Analisando os dados dos questionários dos gestores, é interessante notar que sua percepção sobre a motivação dos professores não é totalmente condizente com os resultados de autopercepção. Gráfico 3: Percepção dos gestores em relação aos seus professores – Ansiedade em relação às Avaliações, Valor Intrínseco e Autoeficácia Em oposição aos dados revelados nos questionários de autopercepção dos docentes, no quesito “ansiedade” foi verificada a maior diferença entre instituições públicas (5,2) e privadas (6,5), e este foi o aspecto que recebeu a menor pontuação. Esses dados sugerem que a ansiedade vivida pelos professores não está sendo percebida pelos gestores, especialmente na área pública, onde talvez a questão da estabilidade no emprego encubra a ansiedade vivida pelos docentes. Nos aspectos “valor intrínseco” e “autoeficácia”, tanto no âmbito público como no privado, as médias giram em torno de 7,0 (sete), indicando uma valorização positiva similar nas duas 18 instâncias, por parte dos gestores, em relação à competência docente (autoeficácia) e ao valor atribuído ao seu papel como professor (valor intrínseco). Entretanto, se a meta da Educação é a melhoria constante do ser humano, todas as médias podem ser melhoradas por meio da formação continuada dos professores, com os objetivos já citados anteriormente. 5.2 Estratégias didáticas No construto “Estratégias didáticas”, foram avaliados os seguintes aspectos: Autorregulação. Habilidade de tomar consciência do próprio funcionamento diante da tarefa docente, para administrar o tempo e os recursos pessoais da melhor maneira possível para atingir os objetivos. Planejamento. Habilidade de antecipar possibilidades de caminhos para a execução da tarefa docente, reconhecendo prioridades e organizando sequências de ações para atingir os objetivos. Estratégias de ensino-aprendizagem. Habilidade de reconhecer e utilizar maneiras organizadas e eficientes de se atingir os objetivos pedagógicos. Execução. Habilidade de atuar de maneira organizada, sistemática e eficiente, otimizando a utilização dos recursos internos e externos para atingir os objetivos pedagógicos. O gráfico abaixo mostra um consolidado dos quatro aspectos mensurados. Nota-se a mesma tendência de autopercepção mais positiva nos professores da rede privada, quando comparada aos professores da rede pública. Gráfico 4: Resultados dos professores – Estratégias Didáticas Comparando-se os resultados em cada um dos aspectos avaliados, é possível perceber que os resultados, nas escolas públicas, nos aspectos “planejamento”, “estratégias de ensino- 19 aprendizagem” e “execução” ficaram bastante próximos da curva de referência, sugerindo um trabalho eficiente no apoio à prática docente nessas instituições. 20 Gráfico 5: Resultados dos professores – Autorregulação, Planejamento, Estratégias de Ensino-aprendizagem e Execução Essa autopercepção positiva é corroborada pelos resultados dos gestores, pois as médias em todos os aspectos das estratégias dos professores giraram em torno de 7,0 (sete). É interessante notar que a autopercepção bastante positiva dos professores da rede privada não foi percebida da mesma maneira pelos gestores. Gráfico 6: Percepção dos gestores em relação aos seus professores – Estratégias didáticas Os resultados da “autorregulação” merecem destaque. Embora no olhar dos gestores as médias tenham ficado próximas a 7,0 (sete), como nos demais quesitos, na autopercepção dos professores, os resultados mostram um grande percentual de professores na faixa verde, tanto nas escolas públicas (46%) quanto nas privadas (57%). Professores e gestores responderam ao instrumento de avaliação apenas na segunda fase de aplicação, depois da utilização da Metodologia MenteInovadora nas escolas, de modo que os resultados apresentados expressam o posicionamento desses profissionais após terem tido a oportunidade de vivenciar o processo de formação inicial e continuada e acompanhar a implementação do Programa nas escolas. Portanto, é razoável supor que os resultados positivos talvez tenham sido influenciados por alguns recursos explorados no processo de 21 formação do professor e nas aulas do Programa, como por exemplo a utilização do Método do Semáforo, método metacognitivo que foca o desenvolvimento da habilidade de autorregulação do comportamento. No mesmo sentido, o estudo dos critérios de mediação (Garcia e Meier), conjunto de ações intencionais que contribuem no desenvolvimento da prática mediadora do professor, e em especialmente o critério da “Regulação e Controle do Comportamento”, pode ter potencializado a formação do professor no que diz respeito à autorregulação. O método da Árvore do Pensamento, além dos critérios de mediação “Planejamento e busca por objetivos” e “Escolha pela alternativa positiva”, entre outros, podem ter colaborado para fortalecer ainda mais a organização interna necessária à obtenção de sucesso nas tarefas. 5.3 Competências profissionais do professor O levantamento de dados sobre as competências profissionais dos professores teve, como um de seus principais objetivos, trazer à sua própria consciência como eles se percebem em relação aos aspectos inerentes à função do “ser professor”. Partimos da hipótese de que a ação de responder ao questionário pode provocar sentimentos e reflexões importantes para o autoconhecimento. Sabemos que as mudanças mais significativas na vida vêm “de dentro para fora”, portanto o primeiro passo para mudar é ter consciência do funcionamento dos seus processos internos. Nos itens sobre competências profissionais do professor foram avaliados os seguintes aspectos: Conhecimento pedagógico (nível conceitual). Domínio e fluência dos conteúdos a serem ensinados; habilidade de explorar os conteúdos, por meio de situaçõesproblema, partido dos conhecimentos prévios dos alunos, articulando com outras áreas do saber e promovendo a transposição para contextos diversos. Fazer pedagógico (nível procedimental). Estratégias e atividades diversificadas para atingir os objetivos de aprendizagem; utilização de novas mídias e tecnologias. Relação Professor-aluno (nível atitudinal). Construção de um bom vínculo com os alunos; respeito e valorização das diferenças pessoais; incentivo ao crescimento dos alunos; incentivo ao diálogo e desenvolvimento da consciência crítica. Desenvolvimento Profissional (formação continuada). Compromisso em criar práticas pedagógicas significativas; manter-se atualizado em Educação; desenvolver projetos de estudos autônomos. Os gráficos abaixo mostram os resultados dos professores da área pública e da área privada nos quatro construtos avaliados: 22 23 Gráfico 7: Resultados dos professores – competências para a docência Os resultados dos aspectos pesquisados referentes às competências profissionais dos professores revelam a tendência similar à obtida nos quesito analisados anteriormente: os professores da rede pública estão mais próximos da referência, enquanto que os professores da rede privada têm uma autopercepção mais positiva de si mesmos. É interessante notar que a maior diferença entre os resultados está no nível procedimental, item em que os professores da rede pública se sentem mais prejudicados (38% na faixa vermelha, contra apenas 14% na área privada). Podemos levantar a hipótese de que o maior número de alunos em sala e possíveis deficiências de materiais e equipamentos de suporte estejam dificultando o “fazer pedagógico” dos docentes da rede pública. Um dado que merece atenção em relação ao fazer pedagógico diz respeito à formação profissional: os professores da rede pública possuem um alto nível de formação: 64% com título de especialização, 6% com Mestrado/Doutourado, porcentagens superiores aos professores da rede privada (55% e 5%, respectivamente). O grande desafio, portanto, é fazer chegar, aos estudantes, os saberes construídos ao longo da formação acadêmica. Gráfico 8: Titulação dos professores 24 Embora o gráfico da relação professor-aluno não seja o mais crítico, nos preocupa o fato de termos 19% dos professores da área privada e 32% dos professores da área pública que reconhecem suas dificuldades de relacionamento com os alunos. Como afirmado anteriormente, as mais recentes teorias de ensino-aprendizagem ressaltam a importância da mediação da aprendizagem e da construção de um vínculo favorável entre os atores da cena pedagógica, sem o qual o processo educacional pode ficar prejudicado. Portanto, podemos refletir sobre a necessidade de implementar ações que provocam uma aproximação entre os sujeitos da relação: o professor e seus alunos. 5.4 Competências profissionais do gestor O levantamento de dados sobre as competências profissionais dos gestores também objetivou trazer à sua consciência a autopercepção em relação a aspectos inerentes às suas funções como líderes dos processos que ocorrem na escola. Foram avaliados os seguintes aspectos: Liderança. Habilidade de orientar a comunidade escolar para alcançar as metas da escola. Gestão curricular. Habilidade de assegurar uma boa implementação do Projeto Pedagógico da escola Gestão de recursos. Habilidade de administrar os recursos humanos e financeiros necessários para atingir as metas da escola. Gestão do clima organizacional. Habilidade de criar um clima interpessoal adequado para atingir os objetivos da escola. O gráfico abaixo mostra os resultados dos gestores da área pública e da área privada nos quatro construtos avaliados: Gráfico 9: Resultados dos gestores – competências para a gestão Nos resultados obtidos nos questionários sobre as premissas do gestor, observa-se que a maior dificuldade apontada foi na gestão dos recursos, talvez por uma falta de autonomia das equipes diretivas nas escolas. 25 Os dados mostram que os aspectos da liderança e do clima estão com notas bastante altas, mas ainda é preciso pensar em como melhorar as questões que fazem parte do quesito “gerenciamento dos processos de aprendizagem” da escola. Algumas ações poderiam ser ampliadas, como por exemplo: ficar mais perto do corpo docente; acompanhar os planejamentos pedagógicos e as atividades conectadas a eles; auxiliar o professor na seleção de práticas educacionais mais significativas para atingir os objetivos propostos; preparar reuniões de monitoramento da execução do planejamento, contribuindo efetivamente na construção de condições propícias para a execução. “Estar junto com o professor, não só perto”. Essas reflexões são coerentes com o que foi discutido anteriormente em relação ao cuidado que as equipes diretivas devem ter em relação ao atendimento às necessidades dos professores. Nesse sentido, a leitura e análise dos relatórios consolidados da escola podem trazer subsídios para que juntos, gestores e professores, busquem alternativas para os aprimoramentos desejados. 5.5 Resolução Colaborativa de Problemas No Estudo de 2014, os gestores não responderam aos itens situacionais de resolução colaborativa de problemas, pois o foco escolhido foi na autopercepção em relação às competências para a gestão e na sua visão, enquanto equipe diretiva, em relação ao contexto escolar.4 Como já afirmamos anteriormente, há uma tendência mundial de inserção do tema do trabalho em equipe visando à resolução de problemas, o que justifica pesquisarmos essa habilidade nos professores: como eles poderão desenvolvê-la nos alunos se não desenvolverem em si mesmos? Foram criadas situações-problema relacionadas ao dia a dia do professor, baseadas também na matriz de referência do PISA 2015, apresentada no capítulo 2. Para cada situação, o professor deveria escolher uma entre quatro opções de ação, cada uma delas refletindo um dos quadrantes abaixo, que foram representados, nos gráficos, por diferentes cores. Baixa prioridade para aos processos colaborativos Alta prioridade aos processos colaborativos Baixa prioridade aos processos individuais RP‐ TE‐ RP‐ TE+ Alta prioridade aos processos individuais RP+ TE‐ RP+ TE+ Tabela 8: Parâmetros das alternativas nos itens situacionais sobre Resolução Colaborativa de Problemas, com as respectivas cores de referência 4 A Resolução Colaborativa de Problemas será incluída, para os gestores, na continuidade dos Estudos. 26 Observando o gráfico abaixo, nota-se que cerca de 50 % escolheram as respostas de RP+TE+, um resultado que indica uma tendência, nos professores, de atuarem de maneira colaborativa para a resolução de problemas. Gráfico 10: Resultados dos professores – Resolução Colaborativa de Problemas Mais uma vez, esse resultado pode ter sido influenciado pela implantação da Metodologia do Programa MenteInovadora, pois o processo de formação dos professores é vivencial, eles experimentam situações, configuradas pelos jogos, que os obrigam a lidar com situações concretas que exigem a solução colaborativa de problemas. Os encontros de formação continuada estruturam-se como momentos para compartilhar conhecimentos e boas práticas, promovendo a integração das experiências vividas entre os professores na resolução dos problemas enfrentados no dia a dia das aulas. Embora todos os professores tenham obtido resultados bastante próximos à referência, demonstrando boas habilidades para resolver problemas em equipe (maioria das respostas na faixa verde, com qualidade RP+TE+), é preciso investir no desenvolvimento contínuo de todos os envolvidos com a Educação para que o trabalho em equipe e a solução de problemas pautem, cada vez mais, as atitudes das pessoas na sociedade atual e futura, uma vez que no gráfico acima, no universo pesquisado, temos ainda cerca de 10% das respostas na faixa vermelha, com baixar prioridade para resolver problemas e trabalhar em equipe. 5.6 Percepção de impactos do Programa MenteInovadora A pesquisa de percepção dos professores e dos gestores não utilizou a abordagem de pré-teste e pós-teste, pois neste estudo o objetivo não foi coletar dados quantitativos para dimensionar o impacto da Metodologia na prática pedagógica5. A principal intenção foi investigar, junto aos sujeitos do processo, suas percepções sobre si mesmos e levantar hipóteses sobre possíveis contribuições do Programa no processo ensino-aprendizagem e seus efeitos no ambiente 5 Será um dos focos na continuidade dos Estudos. 27 escola. Por esse motivo, apenas os gestores responderam ao questionário de percepção sobre os impactos da Metodologia. Salientamos que um dos pilares da Metodologia é o professor mediador: todo o processo de formação inicial e continuada salientou o papel do docente como mediador na relação ensinoaprendizagem, o que pode ter provocado reflexões significativas acerca do seu papel na aprendizagem dos alunos e nas suas competências como professor. Essa hipótese se confirma pelos depoimentos dos professores, nas reuniões de formação, acerca das contribuições da Metodologia no que se refere à aprendizagem e à melhoria das relações com os alunos. Os resultados obtidos no questionário dos gestores corroboram essa hipótese, pois revelam a atribuição de alto valor à contribuição da Metodologia MenteInovadora em aspectos relacionados ao desenvolvimento das habilidades dos alunos, à formação do professores, à concretização do projeto pedagógico e às relações entre gestão/docentes e escola/família, entre outros, como mostram os gráficos abaixo: 28 Gráfico 11: Percepção dos gestores em relação à contribuição do Programa MenteInovadora 29 6. Continuidade dos Estudos Com o objetivo de aprofundar os dados e informações obtidos no “Programa de Avaliação de Aprendizagens” realizado em 2014, será realizada uma nova fase da pesquisa por meio da aplicação dos instrumentos de avaliação, em escolas selecionadas, em março/agosto (1ª aplicação) e outubro/novembro (2ª aplicação) de 2015. O desenho geral do Estudo será bastante similar, mas com algumas ampliações relevantes para a obtenção de dados que possam aprofundar os aspectos estudados, a saber: Alunos, avaliação de Matemática: os resultados dos aspectos lógico-quantitativos serão apresentados considerando-se os temas da Prova Brasil (6º ano) e as competências do ENEM (Ensino Médio). Temas da Prova Brasil (6º ano) o Tema I: Espaço e Forma o Tema II: Grandezas e Medidas o Tema III: Números e Operações/Álgebras e Funções o Tema IV: Tratamento da Informação Competências de área do ENEM (Ensino Médio) o Área 1 - Construir significados para os números naturais, inteiros, racionais e reais. o Área 2 - Utilizar o conhecimento geométrico para realizar a leitura e a representação da realidade e agir sobre ela. o Área 3 - Construir noções de grandezas e medidas para a compreensão da realidade e a solução de problemas do cotidiano. o Área 4 - Construir noções de variação de grandezas para a compreensão da realidade e a solução de problemas do cotidiano. o Área 5 - Modelar e resolver problemas que envolvem variáveis socioeconômicas ou técnico-científicas, usando representações algébricas. o Área 6 - Interpretar informações de natureza científica e social obtidas da leitura de gráficos e tabelas, realizando previsão de tendência, extrapolação, interpolação e interpretação. o Área 7 - Compreender o caráter aleatório e não-determinístico dos fenômenos naturais e sociais e utilizar instrumentos adequados para medidas, determinação de amostras e cálculos de probabilidade para interpretar informações de variáveis apresentadas em uma distribuição estatística. Professores e gestores: aplicação de instrumentos investigativos em março e em novembro, utilizando a metodologia de pré-teste – intervenção – pós-teste. Professores: inclusão de itens relacionados à percepção dos impactos da Metodologia do Programa MenteInovadora. Gestores: inclusão de itens sobre a “motivação para a prática da gestão” (ansiedade em relação à tarefa; valor intrínseco; autoeficácia) e sobre a percepção acerca das habilidades de resolução colaborativa de problema dos seus professores. Essa proposta de um estudo longitudinal permitirá a coleta de mais dados de cada um dos aspectos levantados neste estudo de 2014, bem como a possibilidade de verificar os impactos 30 dos cursos do Programa MenteInovadora no avanço do desenvolvimento das habilidades socioemocionais e da proficiência em Matemática dos alunos, na formação continuada e em serviço dos professores e no apoio às equipes gestoras das instituições de ensino. 31 7. Considerações finais Exploramos, neste artigo, alguns resultados obtidos na Plataforma de Avaliações de Aprendizagens, voltando o olhar e a atenção para os professores e gestores. O volume de dados gerados no Programa de Avaliação de Aprendizagens é bastante significativo, contribuindo com informações concretas para múltiplas leituras e análises que podem colaborar nos planejamentos pedagógicos e na estruturação de ações significativas para alavancar ainda mais o nível de ensino nas escolas participantes. No artigo completo sobre o Estudo, os resultados dos alunos são analisados de maneira detalhada, cruzando-se dados entre os diferentes construtos avaliados, especialmente as inter-relações entre aspectos socioemocionais e o desempenho em Matemática. São analisadas também algumas conexões interessantes entre os resultados dos alunos e dos professores, no que se refere às habilidades socioemocionais e resolução colaborativa de problemas. Apresentamos a seguir a grade de análise utilizada e alguns exemplos. Em cada um dos construtos avaliados nas habilidades socioemocionais, as relações entre os resultados obtidos nos questionários dos alunos e nos instrumentos investigativos dos professores podem ser lidos por meio de quatro quadrantes de referência, como mostra a figura abaixo: Figura 6: Cruzamento dos resultados obtidos pelos professores e pelos alunos Para ilustrar, vamos analisar três habilidades socioemocionais em que os resultados hipotéticos expressam diferentes quadrantes: “autorregulação”; “estratégias de ensinoaprendizagem” (professores) e “de estudo” (alunos); “planejamento”. Autorregulação No exemplo abaixo, os dados mostram alto desenvolvimento da habilidade nos professores, mas não nos alunos. 32 Alunos Professores Gráfico 12: Resultados para autorregulação – alunos e professores (2ª fase de aplicação) A autopercepção dos alunos nessa habilidade não condiz com a autopercepção dos professores nesse mesmo construto, o que nos permite inferir que a prática pedagógica do professor não está sendo eficiente para que o aluno o tome como modelo e reproduza a experiência de autorregulação. Ou seja, a competência pessoal do professor no que se refere a tomar consciência do próprio funcionamento, diante da tarefa docente, para administrar o tempo e os recursos pessoais da melhor maneira possível para atingir os objetivos, não reverberou nos resultados dos alunos, portanto é necessário um investimento nas habilidades de mediação do professor com foco no desenvolvimento de seus alunos. Estratégias de ensino-aprendizagem x Estratégias de aprendizagem Neste outro exemplo hipotético, foram correlacionados os resultados no construto “estratégias de ensino-aprendizagem”, no professor, com as “estratégias de estudo” no aluno. Alunos Professores Gráfico 12: Resultados para estratégias de ensino e de estudo – alunos e professores (2ª fase de aplicação) Podemos perceber, ao contrário do observado no exemplo anterior, resultados bastante próximos entre alunos e professores. Neste caso, o fortalecimento das habilidades dos professores provavelmente reverberaria no desenvolvimento dos alunos. Planejamento No próximo exemplo, percebe-se uma evolução nos alunos, entre as duas aplicações, que os coloca em um patamar sensivelmente superior de desenvolvimento quando comparados aos professores. Alunos – 1ª aplicação Alunos – 2ª aplicação Professores Figura 24: Resultados para planejamento – alunos (1ª e 2ª fases de aplicação) e professores (2ª fase de aplicação) Inter-relacionar os resultados de professores e alunos permite visualizar o quanto o professor consegue colocar em prática, na sua mediação, as suas habilidades pessoais com o objetivo de promovê-las em seus alunos. Essa análise amplia a compreensão da realidade vivida nas relações professor-aluno, colaborando, assim, com a equipe gestora da rede e de cada escola 33 na elaboração de planos de ação especificamente delineadas para atender às demandas identificadas, como sugerido abaixo: Figura 7: Recomendações em relação ao cruzamento dos resultados obtidos pelos professores e pelos alunos Esperamos que todas as análises aqui realizadas, e outras tantas que ainda podem ser construídas, tragam luzes que colaborem e orientem as ações daqueles que são os grandes responsáveis pela construção da Humanidade do Século XXI. 34