Para a reabilitação da Igreja de Santo António
e Capela das Onze Mil Virgens do convento franciscano
de Alcácer do Sal
Luís Marino Ucha
Alcácer do Sal, a norte, na margem direita do Sado, detém uma posição privilegiada na Província (Região) do Alentejo, havendo registo da sua ocupação desde
a Idade do Ferro e aludida como importante porto a partir do período fenício.
Crucial entrada portuária para a província do Alentejo, vem a desempenhar especial importância na comunicação com Évora, sobretudo no séc.
XVI, em que esta cidade é a segunda capital do reino, estabelecendo-se a
ligação entre as duas capitais por via marítima, através de Alcácer do Sal.
Nesse século é referenciada a extração de sal e de madeira de pinheiro manso para a construção naval, como de grande relevância económica, sendo o
Sado navegável até Porto do Rei, a 50km da foz.
O porto de Alcácer do Sal mantém uma relativa atividade até ao início do
séc. XX, só retirada pela introdução do comboio e a melhoria das ligações por
via terrestre.
O Convento
Fundado em 1524 por D. Violante Henriques (Alcáçovas), mãe de D. Pedro de
Mascarenhas, o convento franciscano – com a igreja de Santo António – localiza-se
no limite urbano de Alcácer do Sal, nas imediações do denominado Rossio Alto.
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A julgar pelo que permanece edificado do convento, e não havendo vestígios ou notícia de terem ocorrido demolições, deduz-se à partida um programa reduzido, sustentados na inserção topográfica deste. Após a extinção da
ordem, o convento serviu de unidade fabril, encontrando-se hoje em relativo
estado de abandono.
A Igreja de Santo António
A igreja do convento (c.1528) ergue-se para panteão da família Mascarenhas, na sequência da morte, à entrada da barra da Vila Nova (Portimão) em
1522, de D. Nuno Mascarenhas (n.1496), segundo filho da fundadora.
A julgar pela importância que a família, ao tempo, detinha a Sul do Tejo, é
certo que a igreja, se deve ao risco de conceituado mestre.
O portal, que dá acesso à nave da igreja, abre-se numa esquadria de calcário
marcadamente renascentista e italianizado.
A igreja de nave retangular – correspondendo a largura a um terço do comprimento total, cabendo dois terços à nave, onde se acolhe a capela das Onze Mil
Virgens que segue esta modulação, e à capela-mor o restante terço – ampla e de
vincada proporcionalidade, segundo gramática renascentista, vocacionada para a
preleção, bem ao agrado das congregações franciscanas. As capelas laterais nas
extremidades disporiam-se em simetria axial, guarnecidas por arcos de lioz e brecha da Arrábida, mediadas por púlpito com as mesmas silharias que se repetem
no arco triunfal, bem como no túmulo da capela-mor. A capela lateral da cabeceira, do lado do evangelho, esteve dedicada aos Santos Reis Magos – apesar de
uma onírica percepção da capela do Palazzo Medici-Riccardi em Florença – de
imediato veio à lembrança a tabua, que aqui esteve, e hoje se encontra na igreja
matriz de Santa Maria do Castelo, de boa qualidade pictórica, pintada por Simão
Rodrigues( séc. XVI) retratando a adoração dos Reis Magos.
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Para a reabilitação da Igreja de Santo António e Capela das Onze Mil Virgens do convento franciscano de Alcácer do Sal
A esteira da nave está resolvida numa abobadilha de arco de volta perfeita,
método construtivo que é retomado na capela-mor, onde se encontra, entre
outros, o túmulo do descendente da fundadora. Esta esteira poderá ter sido
reconstruída, posteriormente, quando da inserção da capela tumular de D. Pedro de Mascarenhas, ou das Onze Mil Virgens, uma vez que, construtivamente, se verificou a sobreposição da nova construção sobre a parede sul da igreja
– o que teria implicado uma demolição integral dessa parede para dar lugar
à fachada interior da capela, que se abre para a igreja – com o consequente
derrube da esteira primitiva ou à, eventual, substituição de uma estrutura de
madeira segundo a técnica de cobertura de igrejas franciscanas.
Nesta igreja foram ainda instituídas capelas funerárias doutras famílias, o
que certamente contribuiu para a valorização patrimonial desta e possivelmente do convento.
A igreja foi sendo alvo de obras de beneficiação ao longo do tempo, culminando no revestimento azulejar da nave com albarradas da segunda metade do XVIII. Revestimento que continua na da capela-mor, historiado, com
passagens da vida de Santo António, atribuíveis à primeira metade daquele
século, e de muito boa fabrica, tal como o retábulo em talha policromada
que se remete para o mesmo período; vincando-se a qualidade do programa
decorativo de toda a igreja. Regista-se, porém, um debilitadíssimo estado de
conservação da talha do retábulo e a requerer urgente intervenção, contrariamente a todo o conjunto azulejar que se apresenta num excelente estado de
conservação, apesar das vicissitudes a que o edifício esteve sujeito.
A galilé – de construção posterior, a que se sobrepõe um piso que permitiu
dotar a igreja de um coro alto e que se estende à capela tumular – veio, no
seu conjunto, estabelecer um volume compacto, que se antepõe aos templos,
abrindo-se em arcaria ao nível térreo e ao nível superior, a poente, dispunham-se quatro vãos, três dos quais entaipados no início do séc. XX. Apesar
deste alçado apresentar marcas do estilo chão, no interior da arcaria sente-se
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uma suave atmosfera italianizada. Concetualmente, esta galilé apresenta semelhanças com a existente na frente da capela do convento de Bom Jesus de
Valverde e que por intuito se deduz, em ambos os casos, que se impõem aos
templos pelo caráter sincrético que a estes estaria imputado.
O Mecenas
D. Pedro de Mascarenhas (?-1556), terceiro filho de D. Fernão Martins de
Mascarenhas (Senhor do Lavre e Estepa, Alcaide-Mor de Montemor-o-Novo e Alcácer do Sal, entre outras honrarias e comendas) e de sua mulher D.
Violante Henriques, da família dos Henriques, Senhores das Alcáçovas. Com
avançada idade e no final da vida, D. Pedro de Mascarenhas foi nomeado 6.º
Vice Rei da Índia, cargo que, por morte, ocupou por breves meses.
A sua origem proporcionou-lhe relevantes cargos em cortes europeias, destacando-se o de embaixador de D. João III em Roma, onde intercede junto
do Papa pela instalação da Companhia de Jesus em Portugal. Navegador e
diplomata, D. Pedro de Mascarenhas oriundo de uma nobreza nova, tendo
privado com imperadores, reis e papas, deixou nesta capela mais que a sua
intermediação com o Divino, o testemunho tipicamente humanista de passar
à eternidade através de um monumento votivo em sua glorificação.
O Arquiteto
O risco da Capela das Onze Mil Virgens está atribuído a António Rodrigues
(1520 – 1590), mestre das obras militares e das fortificações reais, durante cerca
de vinte e cinco anos, possivelmente oriundo de Alcácer do Sal, ou dos seus arredores. António Rodrigues lecionou na Escola do Moços Fidalgos, do Paço da Ri532
Para a reabilitação da Igreja de Santo António e Capela das Onze Mil Virgens do convento franciscano de Alcácer do Sal
beira, escola fundada pelo insigne matemático Pedro Nunes (1502-1578), natural
de Alcácer do Sal e, por certo, tradutor do Tratado de Vitrúvio, para D. João III.
A António Rodrigues atribuem-se os manuscritos (incompletos) de estudos
de arquitetura, geometria e matemática, visando edições, em 1576 e 1579,
respectivamente; se concretizadas, essas edições permanecem desconhecidas,
restando-nos unicamente os manuscritos que levaram à atribuição da Capela
das Onze Mil Virgens à sua autoria.
É consentânea a passagem do presumível autor da capela tumular de D.
Pedro pelas praças portuguesas do norte de África, no exercício das suas funções como responsável pelas obras do reino, praças por onde passou o fundador da capela, bem como seu irmão D. Nuno de Mascarenhas.
Refere-se a passagem de António Rodrigues pelas obras do claustro do convento de Cristo de Tomar, na época de Diogo Torralva, o que apesar das diferenças de programas, segundo uma análise abstrata, se considera um semelhante resultado concetual, não podendo deixar de se registar algumas coincidências
gramaticais, entre a capela tumular de Alcácer do Sal e aquele claustro.
A atribuição da capela tumular a António Rodrigues, não surge diretamente
documentada, é deduzida dos manuscritos referidos e do traçado da igreja de
Santa Maria da Graça, Sé de Setúbal (1570), cuja autoria se considera fidedigna, derivando-se pelo carácter erudito da sua obra escrita para a composição
do traçado da Capela das Onze Mil Virgens. Pela semelhança, de linguagem,
com a Sé de Setúbal atribui-se a este arquiteto a igreja matriz de Fronteira, o
que se nos afigura provável.
Apesar da diferença de programas, entre a capela tumular e a igreja de Santa Maria da Graça, a Sé de Setúbal apresenta-nos um traçado sem maior relevância para a sua conceção estrutural, o que seria elementar. A Sé, segundo
esta abordagem, revela uma linguagem quase castrense, segundo uma resolução arcaizante, nas suas três naves, de prática ancestral e então a cair em desuso – ressalva-se o facto de, anos antes, se terem iniciado as construções das
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Igrejas de Santo Antão em Évora e da Sé de Portalegre e que possivelmente
marcaram a conceção da Sé de Setúbal – em detrimento da percetividade espacial absoluta, já dominante, e bem patente na capela tumular.
A obra
No Alentejo, persistem alguns dos melhores exemplares da arquitectura do
“movimento” renascentista, apesar de, concretamente, em Évora – segunda
capital do reino no século XVI – terem ocorrido inúmeras demolições, sobretudo, no final do século XIX e principio do XX, de conventos, mas também
de palácios, que hoje nos trariam um grande contributo para um melhor entendimento deste período, dos quais destacamos: o Palácio-Convento de S.
Francisco; Convento do Paraíso; o Castelo Novo erigido por D. Manuel I.
A Capela das Onze Mil Virgens, durante um período, teve o culto dedicado a
Nossa Senhora da Conceição, culto da devoção franciscana, em suposto detrimento
da atual invocação, apesar da lápide de fundação da capela não referir qualquer orago. Franciscanos e, posteriormente, jesuítas dedicaram culto às Onze Mil Virgens.
A invocação das Onze Mil Virgens surge justificada na lendária presença
de uma madeixa de cabelo de Santa Responsa, companheira de Santa Úrsula e
uma das onze, ou onze mil virgens, relíquia adquirida por D. Pedro de Mascarenhas quando da sua passagem pela corte de Carlos V (1500-1558).
A lenda das Onze Mil Virgens, saída das brumas da mítica anglo-saxónica,
fixa-se no final da idade média ao lendário português, sendo uma invocação
recorrente durante o século XVI. As relíquias, incríveis, adquiridas pelo patrono nas suas deambulações pelo mundo, tais como: um pêlo da barba de Cristo;
uma gota de leite da Virgem e cabelos de Santa Responsa e, a se dizer que estariam nesta capela, perspetivam algum diletantismo místico, com resposta na
turbulência intelectual do tempo e da sua dialética.
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Para a reabilitação da Igreja de Santo António e Capela das Onze Mil Virgens do convento franciscano de Alcácer do Sal
Enquanto orago de capela tumular demonstra o desejo de uma voluptuosa
eternidade, à maneira do paraíso preconizado pelo islão, caso tenha sido determinado pelo seu patrono.
Temos notícia que em 1554 a capela das Onze Mil Virgens se encontraria em
obras, ano que corresponde à partida de D. Pedro de Mascarenhas para a India,
na qualidade de vice-rei, o que poderá indiciar, desde logo, o caráter glorificador
desta capela. Após um interregno, são de novo mencionados trabalhos na capela
no decurso do ano de 1565 para a presumível construção da galilé. Contudo, é
incerto que o programa previsto para a capela tenha sido integralmente concluído no interior, dado que o pano interno da fachada não apresenta acabamento a
mármore, dando sequência à restante linguagem do interior, facto para o qual não
encontramos razão, atendendo toda a qualidade do programa patente, pelo que o
revestimento a azulejos enxaquetados se afigura como um recurso para colmatar a eventual inconclusão desta. O revestimento a azulejos na capela encontra
correspondência no introduzido na igreja do Convento de Jesus de Setúbal – no
tempo em que este convento foi alvo de uma vasta campanha de obras – onde foi
aplicado este padrão e segundo documentação, intervenção levada a cabo pelo
arquiteto a quem é atribuída a Capela das Onze Mil Virgens, no ano de 1583.
Estamos certos que o autor, além do domínio dos tratados e seus modelos,
dispunha igualmente do domínio da técnica construtiva, a julgar pelo resultado produzido na construção da cúpula de “alabastro” que, apesar de reduzida,
revela uma precisa execução estereotómica.
Igualmente, ao autor não seriam alheias as práticas que vinham sendo seguidas na península apenina, da transfiguração de edifícios, igrejas ou palácios, dando-lhes a feição moderna: ao Romano.
A descoberta, no século XV do tratado de Vitrúvio na Suíça, consubstancia
o furor classicizante, sobretudo naquela península, onde, por ancestralidade,
estavam criadas as condições para a sua difusão, com consequente repercussão na Europa do tempo.
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Apesar da descoberta daquele tratado ter contribuído para um melhor
entendimento da arquitetura do período romano, o seu conteúdo revelou
incipientes resultados para a prática construtiva, segundo Bruno Zevi, produzindo maiores efeitos ao nível da interpretação e adaptação estilística.
Não se tendo registado uma alteração da igreja existente – de Santo António – em conceito programático, no que concerne à sobreposição construtiva, estabeleceu-se analogia com a intervenção na igreja de S. Francisco em
Rimini, da autoria de Leon Batista Alberti (1404-1472), para o panteão de
Sigismondo Malatesta (1416-1468), pelo programa, pela natureza da intervenção e da leitura do traçado para a capela das Onze Mil Virgens.
A transfiguração da igreja franciscana de Rimini, apesar da permanência
estrutural do edifício base – atitude que hoje denominaríamos de pastiche, à
época enquadrava base nos conceitos filosóficos, vigentes, da mimesis – da
vetusta igreja franciscana, para eternizar os membros da corte Malatesta,
resulta, idêntica à que se verificou no interior igreja de Santo António, em
que a linguagem nova se sobrepôs à anterior, aqui, com uma efetiva intrusão
estrutural, apesar das diferenças de escala das intervenções.
Do programa previsto para o panteão dos Malatesta, fazia igualmente
parte a construção de uma cúpula, segundo o modelo do Panteão de Roma
e a ser erigida sobre uma nova capela-mor, que recriava o mausoléu de
Teodorico Raveno – rei do período godo, mecenas da basílica de São Vital,
em Ravena, e exemplo de planta centralizada, tal como o panteão romano
– através de ampliação a partir do final da nave da velha igreja franciscana.
O panteão dos Malatesta ficou aquém da proposta pela, alegada, falta de
materiais que à época se fazia sentir na península apenina, e coincidindo
com a morte do seu patrono. Ao facto daquele panteão ter ficado inacabado,
não deverá ser alheio o confronto entre as propostas de Alberti – exímio em
idênticas transfigurações e metodologia que aplicou noutros templos – e a
base estrutural da velha igreja pelas, eventuais, incompatibilidades grama536
Para a reabilitação da Igreja de Santo António e Capela das Onze Mil Virgens do convento franciscano de Alcácer do Sal
ticais geradas. O panteão de D. Pedro de Mascarenhas teve outra sorte, foi
concluído e coroado com sua resplandecente e translúcida cúpula.
A cúpula simboliza o Divino, no Panteão de Roma, lar dos deuses. A cúpula
da capela das Onze Mil Virgens é uma reprodução, em escala simplificada, da
matriz do templo romano.
O Panteão de Roma é determinante para a arquitetura do renascimento, não
só pelo modelo hemisférico da sua cúpula, bem como para o reavivar da planta
centralizada, concetualmente transposta com mestria, em obras de Bramante e
Brunelleschi, e referências maiores da arquitetura daquele período, com um posterior reflexo em Portugal, patente na capela de Santo Amaro em Lisboa; Bom
Jesus de Valverde em Évora e na capela das Domínicas em Elvas, entre outras...
No Renascimento a cúpula assinala a transcendência divina na terra, simbologia até então vinculada à agulha – na torre ou sobre o transepto – das catedrais góticas e erigida em função do Divino, no infinito. Agora a Divindade
passa a mais terrena e contida na Cúpula. Acentua-se a introdução de cúpulas,
neste período, como elemento referência; potencialmente segundo o arco do
hemisférico do Panteão de Roma, ainda que esta, do ponto de vista construtivo tenha uma resolução técnica menor, dado resultar maioritariamente da
massa parietal donde se desenvolve.
Santa Maria Del Fiore – o Duomo (1420-1434) – fugindo aquele padrão,
ganha em resolução construtiva e imponência. Hagia Sophia: outra das referências, semiesférica, e percetível; o Domo da Rocha outro magnífico exemplo segundo um hábil sistema construtivo. À época, a grande cúpula prevista
para São Pedro, ainda não se encontrava concluída (1590-2) e gerava debate.
No Duomo, de Florença, Brunelleschi põe em prática um engenhoso sistema, apoiado em técnicas das alvenarias romanas, para a construção da cúpula
– dupla e a permitir o acesso ao lanternim – estruturada em arcos quebrados
de matriz gótica, permitindo a máxima assunção do seu volume, com o resultante triunfo plástico: marco maior da arquitectura do renascimento.
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A Cúpula é mágica. A sua resolução, algo empírica, ganha um sistema
construtivo mais eficiente, neste período, com o contributo de mestres vindos
do Império Bizantino para a península apenina.
Filósofos, cientistas e matemáticos daquele império, encontram naquela
península receção auspiciosa. Num tempo em que se pretendeu fundir o culto
Romano com o culto Bizantino sob a mesma Cúpula. Tema que esteve em
especial debate no Concilio de Florença (1439), e a que não são alheios os
patrocínios de Cosimo de Medicis, Il Vecchio, Galeazzo Sforza e Sigismondo Malatesta. Retratados no cortejo dos Reis Magos da capela do Palazzo
Medici-Riccardi, a que aludimos, sugestionados, pela leitura deste período e
da sua dialética, onde o neoplatonismo se revelava especialmente florescente,
sobretudo naquela península, apesar da sua ancestralidade e essência permanecerem vivas no Império Bizantino, donde os Reis Magos procedem, para
imprimir ao presépio a transcendência.
Se a arquitectura tem um lado solar, glorioso e visível, tem outro lunar e
obscuro determinado pelas leis da física: dos dois nasce a obra.
A capela tumular de D. Pedro de Mascarenhas abre-se na essência estrutural
dum pórtico, ao comprimento da nave da igreja de Santo António, contígua,
impondo-se a esta rasgando-a impetuosamente a conquistar unidade espacial.
Destaca-se na capela o módulo da sua conceção, sob rigorosa formulação numérica, com base num quadrado que se repete e regula a sua planta, no pleno
domínio da métrica espacial. De um e mais dois quadrados, justapostos: o três
e o terreno. No quadrado, da capela-tumular, inscreve-se o circulo (o principio e o fim) da cúpula translúcida, assente em trompas, triangulares – o mítico
triângulo – que unem o quadrado terreno e a divino esférico.
No chão, em campa rasa, D. Pedro de Mascarenhas sob a sua cúpula e junto
a Deus. No seu entorno a etérea arcaria de mármore rosado de Estremoz é
contida por uma aquosa cortina: surge a luz.
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A intervenção
Para a elaboração deste nosso estudo, partimos do rigoroso levantamento
da autoria do Arqt.º Nuno Teixeira Lopes – indispensável suporte à primeira
fase da proposta da autoria da Arqt.ª Ana Luísa Matos – que se revela fulcral
para a interpretação deste edifício, como de qualquer outro, que se pretenda
estudar com rigor.
Nesta fase, a proposta dirige-se à da reabilitação do telhado, à analise mineralógica da cúpula com vista à sua limpeza. Segue-se a introdução de uma
área de receção para acolher os visitantes, com a consequente presença dum
funcionário que faça a vigilância e preste apoio, bem como dotar o imóvel
com instalações sanitárias.
É intuito, através de visitas e da realização dos proventos das cerimónias
fúnebres, suportar a longa campanha de obras de reabilitação que o edifício
requer, a iniciar pelas coberturas, com a consequente limpeza da cúpula da
capela da Onze Mil Virgens e, paulatinamente, levar essa campanha a todo o
edifício. A reabilitação do retábulo de talha é urgente por se apresentar muito degradado, com a inevitável reposição de elementos, sobretudo ao nível
do tímpano, e segundo os critérios de conservação hoje estabelecidos. Se a
resolução da questão relativa à área destinada à receção surgiu naturalmente
com a sua instalação na pequena sacristia contígua à capela tumular, já a
introdução de instalações sanitárias resultou mais complicada pela falta de
espaço; o vão da escada de acesso ao coro alto da igreja, conseguiu responder
às limitações espaciais e às impostas pelo valor patrimonial do monumento.
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FIGURA 1
Portal da Igreja de Santo António.
FIGURA 2
Nave da Igreja de Santo António.
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FIGURA 3
Vista da Capela das Onze Mil Virgens.
FIGURA 4
Lápide de fundação da Capela das Onze Mil Virgens.
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FIGURA 5
Nave da Capela das Onze Mil Virgens.
FIGURA 6
Altar da Capela das Onze Mil Virgens.
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FIGURA 7
Cúpula da Capela das Onze Mil Virgens.
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