Avaliação da Vulnerabilidade Socioambiental no Município de São Paulo às
Enchentes e Deslizamentos e Propostas de Medidas de Adaptação
A discussão sobre os riscos torna-se cada vez mais rotineira. Diante da ocorrência
e divulgação frequentes de crises e catástrofes que envolvem diferentes situações
extremas, percebe-se que, de fato, vivemos em uma sociedade de risco, conceito este
definido por Beck (1992).
Entendidos como construção social, os riscos relacionam-se à vulnerabilidade
socioeconômica e ambiental. Esta, por sua vez, refere-se à capacidade de adaptação de
determinados grupos sociais frente a eventos adversos (GARCÍA-TORNEL, 1997). Em
que pese a relevância de outros fatores importantes, percebe-se que os contextos
vulneráveis concentram-se principalmente em áreas de maior pobreza, carentes de
recursos e serviços que possam diminuir sua fragilidade socioambiental nos momentos de
crise.
No ambiente urbano tal situação se agrava muito, pois o próprio adensamento já
amplia as condições de riscos socioambientais diversos como, por exemplo, a poluição,
ou a dificuldade de oferta de serviços a toda a população. Somando-se a tal contexto, há
antigos problemas urbanos que se intensificam, como a especulação imobiliária que
produz grandes vazios urbanos, além da concentração fundiária (CARLOS, 2001).
Aprofunda-se, segundo Santos (1994), cada vez mais a produção desigual do
espaço urbano. A população brasileira em geral torna-se cada dia mais urbana, contudo
sob padrões incrivelmente desiguais de qualidade de vida. As habitações subnormais,
como favelas e cortiços, se estendem por grandes áreas, sobretudo na periferia, com
infra-estrutura precária. São em geral lugares preteridos pela especulação imobiliária,
como encostas íngremes e fundos de vale.
Nos últimos anos, observa-se a ampliação do número de eventos que envolvem
situações de risco nas cidades, relacionados, sobretudo, às enchentes e deslizamentos.
Também se verifica que as áreas de menor resiliência frente aos extremos de
pluviosidade são justamente as mais frágeis em termos socioeconômicos, que abrigam a
população de baixa renda ou sem renda para pagar pelo aluguel de uma moradia. Para
eles, viver em áreas de risco não é uma opção, mas a alternativa possível (RIBEIRO,
2008).
Tendo conhecimento de que o ambiente urbano, pela densidade de sua ocupação
e concentração de atividades, induz mudanças climáticas importantes na microescala e,
ainda que existam muitas incertezas quanto às afirmações do Painel Intergovernamental
sobre Mudança do Clima (IPCC) no que se refere aos cenários de aumento de
precipitações no centro-sul do Brasil, estima-se um aumento da temperatura e da
intensidade de precipitação nesta região, ainda que volume das chuvas seja avaliado
atualmente como o mesmo das décadas anteriores. Isto é, o mesmo volume de água se
precipita de modo mais intenso que antes, por meio de fortes chuvas que chegam a
atingir mais de 150 mm em poucas horas!
Verifica-se, então, a necessidade do desenvolvimento de estudos de adaptação, de
vulnerabilidade e de risco socioambiental em cidades. Nesta pesquisa, escolheu-se o
município de São Paulo, maior metrópole brasileira e, portanto, o maior desafio ao
desenvolvimento de políticas públicas eficazes sobre o tema. O zoneamento e o
estabelecimento de níveis de vulnerabilidade tornam-se vitais para a definição da
ocupação das chamadas “áreas de risco”, no sentido da verificação de prioridade no
tocante aos planos de ação emergenciais, bem como na análise e gestão do risco de
maneira integrada e preventiva.
Objetivo
Este trabalho visa apresentar elementos que caracterizam a vulnerabilidade
socioambiental da população de renda mais baixa do município de São Paulo, associada
aos riscos de inundações e escorregamentos de encostas. Por vulnerabilidade entendese um conjunto de fatores que levam à condição de risco um conjunto populacional. No
caso de São Paulo, a ocupação de áreas de encostas íngremes e de várzeas foi
considerada como central na definição da vulnerabilidade socioambiental.
Metodologia
Foram utilizadas variáveis socioeconômicas e ambientais disponíveis em materiais
documentais e bancos de dados já existentes. Também foram realizados trabalhos de
campo para observação direta, de forma a fazer um estudo qualitativo sobre os fatores de
vulnerabilidade.
Resultados parciais
Os resultados até o momento permitem associar áreas de elevada declividade e de
expansão natural dos cursos de água como as principais fontes de risco socioambiental.
As áreas preteridas pela reprodução do capital imobiliário acabam ocupadas pela
população mais pobre, que se sujeita a escorregamentos e alagamentos.
Conclusão parcial
A realização de um diagnóstico espacializado das áreas de risco do município de
São Paulo favorece o desenvolvimento de políticas públicas de redução das
vulnerabilidades locais aos impactos dos eventos de crise.
Referências bibliográficas
BECK, U. La sociedad del riesgo: hacia una nueva modernidad. Barcelona: Paidós, 1992,
(1986), 393p.
CARLOS, A. F. A. O Espaço Urbano: Novos Escritos sobre a Cidade. São Paulo: Labur
Edições, 2007, 123p.
GARCÍA- TORNEL, F. C. Algunas Cuestiones Sobre Geografía de los Riesgos. Scripta
Nova: Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. Universidad de Barcelona.
n.10, Nov./1997.
RIBEIRO, W. C. Impacto das mudanças climáticas em cidades no Brasil. Parcerias
estratégicas, CGEE, n. 27, 2008.
SANTOS, M. A urbanização brasileira. São Paulo: Edusp, 1993, 176p.
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Carolina Gamba