OPINIÃO
OPINIÃO
Jesus, modelo de
animação vocacional
O
Filho de Deus nos deu uma grande certeza: sempre estará no meio
de nós. Este encontro com o Ressuscitado não acontece no túmulo, mas na
caminhada da vida, na caminhada da Igreja. A história dos discípulos de Emaús (cf.
Lc 24,13-35) nos aponta Jesus como modelo de animador vocacional, mostrando
como acontece este encontro na vida.
Ele desperta os vocacionados. Jesus aproxima-se da realidade dos vocacionados, os
quais iam para Emaús fugindo da tragédia
de Jerusalém. Jesus faz o caminho com
eles. Mistura-se, encarna-se, coloca-se no
meio sem fazer barulho. Provoca, desperta, toma iniciativa. Jesus acolhe a reação
dos vocacionados com interesse e atenção.
“O que foi?” Sente a dor dos discípulos,
sente a dor dos vocacionados. Ele escuta,
deixa falar, silencia para ouvir, deixa a pessoa ser, dá atenção à história pessoal dos
vocacionados.
Ele ajuda a discernir a vocação. Jesus
mostra as possíveis ilusões, as falsas expectativas; aponta para a verdade que liberta, propõe o que deve ser, chama para a
realidade; fala claro, não negocia o inegociável. Seu verbo é transitivo direto: “Como
vocês dois têm a cabeça dura! Não conseguem entender certas coisas!” Ele catequiza, põe os vocacionados em contato com
a Palavra que chama. Respeita as etapas
do discernimento.
Ele cultiva o germe da vocação. Jesus cria
gosto, amor, paixão, educa o querer e o desejo, presta atenção às reais necessidades
dos vocacionados: “Fica conosco...”. No ca-
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nov/09
minho já despertou alguma coisa boa no
coração dos dois; faz do acompanhamento
vocacional um processo pedagógico que
encanta. Fica com eles. Partilha a própria
vida, a própria experiência: “Entrou para
ficar...”. O que fica para sempre é a experiência de vida; oferece algo concreto que
vai permanecer para sempre.
Ele acompanha o processo vocacional.
Jesus “sentou-se à mesa”. Isso é próprio
do ser que é livre, aquele que quer dar
atenção ao outro: dedica-se, não anda correndo, dá prioridade, deixa as suas coisas
para permanecer com os vocacionados, faz
refeição, reza com os vocacionados, tem
paciência, sabe esperar o momento certo.
Mas também sabe retirar-se: “desapareceu da frente deles”. Isso significa que o
animador e a animadora vocacional não
devem ser “muleta” ou “cadeira de rodas”,
nem tampouco “colo” para os vocacionados. Precisamos promover vocações “adultas”, responsáveis e livres.
Ele capacita os discípulos. Faz deles vocacionados com visão crítica, com maturidade, com a capacidade de caminharem
com os próprios pés, responsáveis: “os
olhos dos discípulos se abriram...”. Transforma-os em vocacionados animados, entusiasmados, fascinados: “Não estava ardendo o nosso coração?”. Deixa-os com
disposição, com prontidão, corajosos, com
vontade, com garra: “Na mesma hora, eles
se levantaram...”. Ajuda-os a inserir-se na
comunidade: “...voltaram a Jerusalém...”.
Sandro Luiz Cuesta
Cristão Leigo, animador vocacional
1
EDITORIAL
E
NESTA EDIÇÃO
sta edição chega com um questionamento sério, embora para alguns
a resposta seja muito evidente e rápida, negando ou simplesmente tentando
justificar uma frequência de atitudes do dia
a dia que demonstra uma outra resposta.
O estudo “Consciência Negra: até que ponto?” vem para nos conscientizar ainda
mais sobre a real situação de discriminação e preconceitos presentes em nossa sociedade, especielmente em relação aos afrodescendentes. Vigiar nossas ações e as de
nossos mais próximos, mostrando as situações de discriminação e preconceito, é
uma forma de superar o problema cada vez
mais e colaborar para a inclusão social.
Outro destaque é o início de uma série
de artigos de Amedeo Cencini sobre os animadores da juventude, também chamados,
no Brasil, de assessores ou líderes (cf. seção
“Animação Vocacional”). Cencini, no artigo desta edição, justifica o uso do termo
“animador” para aqueles que têm este desafio de acompanhar a formação dos jovens.
Na “entrevista” deste mês fomos conversar com o primeiro religioso irmão a se
tornar presidente na história da CLAR
(Confederação Latino-americana e Caribenha de Religiosos e Religiosas), Ir. Paulo Petry. Vale a pena conferir!
Entrevista
Vocação à vida religiosa
Estudo
Consciência Negra: até que ponto?
Lançada em maio de 1982, a revista Rogate tem
registro de matrícula em São Paulo, 01/10/87,
no Livro B de Matrículas do 1º Cartório de Registros de Títulos e Documentos, sob o nº
98.906, nos termos dos artigos 8º e 9º da Lei
Federal nº 5.250, de 1967. A revista é de propriedade dos Rogacionistas do Coração de Jesus, em colaboração com as revistas: Rogate
Ergo e MondoVoc (ltália), Vocations and
Prayer (EUA) e Rogate Ergo (Filipinas).
2
Os artigos assinados não expressam,
necessariamente, a opinião da Revista
11
Especial
No caminho do “discipulado
missionário” - 3ª parte
16
Animação Vocacional
Procura-se desesperadamente
animadores da juventude
18
Informação
21
Leitor
23
Mística da Vocação
São Gaspar, de seu coração
acendeu uma luz para o Brasil
24
ENCARTES
A Turma do Triguito
Celebração Vocacional
O Advento nos transforma
Capa: No primeiro plano, jovens participantes de curso
em São Paulo (SP); ao fundo, jovens de Guarapuava
(PR) em Curso de Dinâmica para Líderes - CDL (cf.
www.ccj.org.br). Ser animador da juventude é um
desafio (ver seção “Animação Vocacional”).
DIRETOR DE REDAÇÃO
SEDE CENTRAL/CONTATOS
Juarez Albino Destro
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EDITOR
Ano XXVIII - nº 277
Novembro de 2009
03
Jefferson Silveira
COLABORADORES
Armando Del Mercato (capa),
Guido Mottinelli (Animação Vocacional),
Osmar Koxne (Triguito) e Patrício Sciadini
CONSELHO EDITORIAL
Izabel Bitencourt Pereira, Dárcio Alves da
Silva, Dilson Brito da Rocha, Maria da Cruz
Santos, Cláudio Feres e Therezinha Brito Feres
JORNALISTA RESPONSÁVEL
Ângelo Ademir Mezzari - Mtb 21.175 DRT/SP
IMPRESSÃO
Gráfica e Editora Linarth Ltda - Curitiba (PR)
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Nacional: 50 reais (10 edições ao ano)
Exterior: África, Ásia e Oceania - 50 dólares
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Europa - 50 euros
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Depósito Bancário - Banco Bradesco, agência
117-1, conta número 92.423-7, Centro Rogate
do Brasil (CNPJ: 83.660.225/0004-44). Neste
caso, enviar o comprovante por fax, correio
ou e-mail, com nomeRogate
e endereço
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nov/09
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ENTREVISTA
ENTREVISTA
Vocação à vida religiosa
Vice-presidente da CRB e provincial de sua congregação,
o Lassalista Paulo Petry é o novo presidente da CLAR,
primeiro religioso irmão a ser eleito para esta missão
em 50 anos de história da entidade
Fotos: Arquivo Pessoal
N
o final do mês de julho,
em Bogotá, Colômbia,
foi realizada a 17ª Assembleia Geral Eletiva da
Confederação Latino-americana e Caribenha de Religiosos
e Religiosas (CLAR), e o Congresso da Vida Religiosa e Teologia Latino-americana, em
comemoração ao jubileu de 50
anos da entidade. Na ocasião
foi eleito para a presidência o
Lassalista Paulo Petry, primeiro religioso
irmão a se tornar presidente na história
da CLAR.
Oitavo filho de uma família de nove irmãos, Paulo Petry nasceu no dia 1º de julho de 1958, em Arroio do Meio (RS), mas
dois anos depois mudou-se com a família
para Itapiranga (SC), divisa com a Argentina. Como o próprio Ir. Paulo afirma, “a
semente vocacional, depositada pelo Senhor da Vida, foi cultivada em minha família por todo um ambiente fraterno, de serviço e oração”. Aos 11 anos entrou no seminário dos Padres Jesuítas, mas aos 16,
após um processo de discernimento, deixou o seminário. Aos 20 anos ingressou
no Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs – Irmãos Lassalistas –, em Curitiba
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(PR), onde professou em 1980,
emitindo votos perpétuos em
1988, na cidade de Araruama
(RJ). Por um ano estudou em
Roma, Itália, a espiritualidade,
a pedagogia, a história e o
carisma do fundador de sua
congregação, São João Batista
de La Salle, Patrono Universal dos Educadores.
Ir. Paulo Petry formou-se
em Ciências Religiosas, Pedagogia e Teologia. Fez pós-graduação em
Comunicação Social, mestrado em Filosofia e doutorado em Ciências. Atuou por vários anos na pastoral da juventude e pastoral vocacional, coordenando estas pastorais na própria Província. Está no segundo
período como superior provincial da Província Lassalista de São Paulo, e é também
vice-presidente da Conferência dos Religiosos e Religiosas do Brasil (CRB). Entre suas inúmeras atribuições e viagens,
Ir. Paulo Petry concedeu esta entrevista à
revista Rogate.
Rogate: A 17ª Assembleia Geral Eletiva
da CLAR e o Congresso da Vida Religiosa e
Teologia Latino-americana (19 a 27 de junho de 2009) foram dois momentos fortes
3
ENTREVISTA
este ano para a Vida Religiosa Consagrada
(VRC). Qual a importância de eventos como
estes para a caminhada da VRC na América Latina e no Caribe?
Ir. Paulo Petry: O Congresso Teológico, comemorativo dos 50 anos da CLAR,
foi um momento privilegiado de encontro
com a Palavra de Deus e com a realidade
latino-americana. O encontro com a Palavra deu-se de modo especial através das
celebrações, dos momentos litúrgicos e
da Eucaristia. Os mais de 800 participantes, religiosos e religiosas da América
Latina e do Caribe, bem como de outros
continentes, puderam, por outro lado, ter
um contato com a realidade continental
por meio da reflexão conduzida por diversos teólogos e teólogas de renome, e também do contato com outros religiosos e
religiosas presentes. Eventos como a 17ª
Assembleia Geral Eletiva da CLAR, dentro da qual se celebrou o congresso, ajudam a VRC a refletir a própria história, a
buscar caminhos para manter a fidelidade criativa ao evangelho e aos diferentes
carismas, a se organizar para melhor assumir sua missão na Igreja e no mundo, e
a fortalecer os laços que constroem a fraternidade. Através destes tipos de eventos, a CLAR ressalta a sintonia que deve
existir na Igreja, Povo de Deus, Comunhão. Busca também a unidade na pluralidade dos carismas que nasceram a partir dos diversos fundadores e fundadoras,
em diferentes épocas e lugares, e que tanto enriquecem a Igreja. Sendo assim, as
assembleias, os congressos e seminários
promovidos pela CLAR e pela CRB procuram contribuir para o crescimento, a
formação continuada e o revigoramento
dos religiosos e religiosas, e solidificar
seu envolvimento e compromisso com o
projeto do Reino de Deus.
4
Rogate: Como se organiza institucionalmente a Vida Religiosa Consagrada na
América Latina e no Caribe?
Ir. Paulo Petry: Com sede em Bogotá,
Colômbia, a CLAR é um organismo internacional de direito pontifício, erigido pela
Santa Sé no dia 2 de março de 1959. Relaciona-se com ela através da Congregação para
os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica. A CLAR tem
como objetivo a animação e coordenação das
Conferências Nacionais de Superiores e
Superioras Maiores da América Latina e do
Caribe, presentes em 22 países. A CRB, que
integra a CLAR, tem a sua sede em Brasília
(DF). É possível conhecê-la pelo site
(www.crbnacional.org.br). A CLAR é integrada por cerca de 140 mil religiosos e religiosas da América Latina e do Caribe, organizados em congregações, ordens, institutos e associações. No Brasil, entre religiosos e religiosas, passamos de trinta mil
pessoas.
Rogate: Na Assembleia Eletiva da
CLAR, o senhor foi eleito presidente da entidade. Como recebeu a notícia e o que espera desta nova missão?
Ir. Paulo Petry: Destaco inicialmente
que nos 50 anos de existência da CLAR
pela primeira vez é eleito um religioso irmão. Antes apenas religiosos presbíteros
e religiosas haviam sido presidentes. No
dia 27 de junho de 2009, o presidente anterior da CLAR, Pe. Ignácio Madeira, Salvatoriano, transmitiu-me o cargo, e neste
mesmo dia assumi a presidência. Recebi
esta nova missão com um misto de alegria
e preocupação, mas com a certeza de que
o mesmo Deus que me chama é o mesmo
que me dá a graça e os dons necessários
para animar, coordenar e representar a
VRC da América Latina e do Caribe. ColoRogate 277
nov/09
ENTREVISTA
co-me na disposição de servir da melhor
forma possível o povo de Deus e a VRC,
de proclamar a beleza e o valor da consagração total ao Senhor, o Deus da Vida, e
de convocar a VRC do continente para ser
hoje e sempre um testemunho místico/
profético dos valores do Reino, em defesa da vida.
Rogate: Na atual gestão da CRB nacional o senhor é o 1º vice-presidente da entidade. Como conciliar as missões de provincial de sua congregação, vice-presidente da
CRB e presidente da CLAR?
Ir. Paulo Petry: Sou provincial da Província Lassalista de São Paulo até 2011. Sou
vice-presidente da CRB até
julho de 2010, e presidente
da CLAR até 2012. É possível conciliar estas missões,
pois a diretoria da CRB nacional é composta por presidente e mais um grupo de
dez religiosos e religiosas,
sendo todos, por estatuto,
provinciais ou superiores gerais. A atual
presidente é a Ir. Márian Ambrósio, da Divina Providência, e é o único membro da
diretoria nacional que vive na sede da CRB,
em Brasília, com dedicação exclusiva. Os
outros membros da diretoria se reúnem
umas cinco vezes ao ano para rever, avaliar, animar, coordenar e projetar a VRC no
Brasil. Para ser presidente da CLAR, também por estatuto aprovado pela Igreja, é
necessário que ao ser eleito e assumir esta
missão o religioso ou a religiosa seja provincial ou superior ou superiora geral. Assim se explica que uma mesma pessoa assuma três funções tão exigentes. Como
provincial, sou assessorado pelo conselho
provincial, um grupo de irmãos que, em
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reuniões periódicas, auxilia a governar a
Província. Como presidente da CLAR
tampouco estou só. A entidade é presidida
por um grupo humano e pluricultural, que
representa a todos os religiosos e religiosas da Amérca Latina e do Caribe por mandato da Assembleia Geral. Assim, junto
comigo, assumem a presidência da CLAR
quatro vice-presidentes e um secretário
geral. Este último vive em Bogotá, é de
dedicação exclusiva, e com uma equipe
realiza todos os trabalhos práticos do dia a
dia. Para o período de 2009-2012, além de
mim, a presidência da CLAR
conta com a presença de Ir.
Mercedes Casas, superiora
geral das Missionárias Filhas
do Espírito Santo, México;
Pe. Juan Pablo Zabala Torres,
provincial dos Salesianos,
Bolívia; Ir. Rosa Lenis Gutiérrez, superiora geral das Filhas da Alta Graça, República Dominicana; Ir. Ángel
Medina, provincial dos Irmãos Maristas, Paraguai; e
Pe. Gabriel Naranjo (secretário geral), exprovincial dos Vicentinos, Colômbia.
Rogate: Acredita que a união entre
CLAR e CRB pode ser ainda maior a partir
de agora?
Ir. Paulo Petry: Observando os recentes passos de ambas instituições eclesiais,
vejo que é uma relação de ‘entre-ajuda’,
de um mútuo animar-se, de uma busca de
objetivos comuns e de desafios parecidos
que se apresentam. Afinal, como religiosos e religiosas brasileiros, os desafios que
enfrentamos são parecidos com os dos
outros países do continente: a intercongregacionalidade; novas gerações na vida consagrada, aspectos de seu processo forma5
ENTREVISTA
tivo inicial e permanente; necessidade de
construir redes afetivas e efetivas como,
por exemplo, o diálogo intra e extra eclesial para a comunhão; novos paradigmas;
antigas e novas pobrezas; novas culturas
juvenis; aspectos ecológicos; questões
ecumênicas, interreligiosas e interculturais; complexidade da violência e do crime
organizado; efeitos devastadores dos modelos econômicos vigentes; novas configurações políticas na América Latina e no
Caribe; mundo global digital. Em tudo isto,
a CLAR e a CRB buscam somar forças, e é
de supor que estejamos muito unidos em
defesa da vida, dom precioso que recebemos do Criador. Desde a minha eleição
como presidente da CLAR, esteve muito
presente em todo o processo a presidente
da CRB nacional, Ir. Márian, e dela ganhei
valioso incentivo. Os outros membros da
diretoria da CRB motivaram-me, e recebi
inúmeras manifestações de apoio por parte de religiosos e religiosas de todo Brasil. Minha gratidão a todos, na esperança
de que juntos possamos fazer e proclamar
as maravilhas que o Senhor deseja realizar através dos seus servos e servas neste imenso continente.
Rogate: Qual o panorama do campo de
atuação dos religiosos e religiosas?
Ir. Paulo Petry: No momento o destaque maior no continente pertence às mulheres consagradas, religiosas, que em
geral estão inseridas nas realidades mais
sofridas do nosso povo: hospitais, escolas,
creches, asilos, periferias, regiões de conflito, luta pelos direitos humanos, luta contra o tráfico de seres humanos, defesa dos
migrantes, luta pela terra, pela moradia,
por melhores condições de vida, e discussão das questões de gênero... Algumas religiosas, como também irmãos e presbíte6
ros religiosos, vivem sob contínua ameaça
de morte, por causa de seu testemunho e
defesa da vida.
Rogate: É uma vocação ao serviço...
Ir. Paulo Petry: Deixando de lado números, estatísticas e quantidades, poderíamos abordar o panorama a partir do que
somos “Vida Religiosa Latino-americana
e Caribenha”, ou seja, a partir de como nos
vemos, expressamos, sentimos e vivemos.
Somos pessoas, homens e mulheres, que
se consagram ao Deus da Vida, o único
Absoluto de nosso existir. Podemos dizer
também que alimentamos uma espiritualidade integradora da vida. Buscamos aprimorar e revitalizar a formação para a VRC.
Apresentamos a VRC hoje como um serviço a favor da vida, como uma alternativa
válida para as mudanças sociais e culturais
necessárias aos diferentes povos da América Latina e do Caribe. Por isso a CLAR,
bem como as Conferências Nacionais de
Religiosos e Religiosas, incentivam para
além da formação religiosa, também a formação para o diálogo, a consciência crítica, a solidariedade, a justiça, a defesa da
vida e do meio ambiente. A CLAR promove congressos, retiros, encontros, cursos
e seminários para a vida religiosa. Estes
têm sido de grande proveito, motivando a
um testemunho místico-profético ante os
desafios do mundo atual. Além da formação e da reflexão oferecidas nestes diversos encontros, a CLAR forma e informa
on line, através do site (www.clar.org).
Rogate: Há uma ampla produção de
subsídios para a VRC?
Ir. Paulo Petry: Com a Equipe de Teólogos e Teólogas, que assessora a presidência, a CLAR tem produzido vários subsídios que vêm enriquecendo a VRC e que
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ENTREVISTA
contribuem muito para uma teologia de
rosto latino-americano e caribenho. Destaco aqui o Projeto “Seguir Jesus”, com a
Leitura Orante da Bíblia. Sem querer ser
exaustivo, refiro-me também aos boletins,
aos impressos e à revista da CLAR, com
quatro edições anuais. Estes materiais impressos vêm informando e formando religiosos e religiosas do nosso continente, podendo ser mais bem conhecidos e adquiridos por intermédio do site.
Rogate: Em setembro de 2010, a Igreja
do Brasil celebra o 3º Congresso Vocacional.
E em fevereiro de 2011 será realizado, na
Costa Rica, o 2º Congresso Vocacional Latino-americano. É um sinal de que o tema
vocações tem merecido uma especial atenção na Igreja da América Latina? Qual sua
expectativa em relação a estes eventos?
Ir. Paulo Petry: Cada congresso é oportunidade ímpar que impulsiona, motiva e
desperta as pessoas envolvidas para um
compromisso maior com a construção do
Reino de Deus. Tal como os congressos,
também os encontros vocacionais promovidos por dioceses, paróquias e congregações, buscam oferecer à juventude meios
para melhor discernir os caminhos do Senhor. O despertar vocacional e o acompanhamento dos vocacionados e vocacionadas
é uma ação pastoral constante da Igreja.
Afinal, é um mandato do próprio Filho de
Deus, que primeiramente convocou seus
discípulos, depois os enviou e finalmente
mandou que fizessem de todos os povos
discípulos seus (cf. Mt 28,19). Portanto, se
a CLAR e a CRB quiserem ser fiéis ao mandato de Jesus Cristo, a pastoral vocacional
deve fazer parte da vida de cada religioso e
religiosa em particular, ser prioridade em
todos os institutos religiosos, e deve ser
uma ação contínua e organizada da Igreja.
Rogate 277
nov/09
Os jovens e as jovens têm o direito de conhecer mais e melhor os diversos carismas
e os modos distintos de seguir e servir o
Deus da Vida. Daí a importância de congressos como estes que vamos promover em
2010, no Brasil, e em 2011, na Costa Rica.
Os congressos que vamos celebrar proximamente no Brasil e na Costa Rica nos dizem, sim, que a animação vocacional é necessária, importante e um modo de revelar
aos jovens toda riqueza de caminhos possíveis quando se deseja dar a resposta positiva ao chamado de Deus.
Rogate: E na sua vocação, em especial,
o que o motivou a seguir a VRC e que caminhos trilhou até se tornar um irmão
Lassalista?
Ir. Paulo Petry: O que está no coração da criança e do adolescente nem sempre é fácil de decifrar. No entanto, voltando o olhar para o meu passado, posso afirmar que tanto a vocação quanto a vida de
fé em mim foram alimentadas desde a mais
tenra idade. Primeiro meus pais me inseriram no corpo da Igreja através do sacramento do Batismo. Tive a graça de nascer
em uma família que fez questão de cultivar a vida de fé, a fraternidade, a harmonia, a alegria e tantos outros valores humanos e cristãos. Juntos brincávamos, juntos passeávamos e juntos cultivávamos a
pequena roça, na Linha Ervalzinho, no
município de Itapiranga, extremo oeste
catarinense. Portanto, juntos assumíamos
o compromisso de nos sustentarmos, de
cuidarmos um do outro... Todos os dias,
no final da jornada, rezávamos o terço, primeiro no colo dos pais, quando muito pequenos, e logo, já maiorzinhos, todos ajoelhados ao redor da mesa, antes do jantar.
Quando eu digo todos, quero dizer meus
pais, minhas cinco irmãs e meus dois ir7
ENTREVISTA
mãos (a primeira irmã faleceu com poucos
dias de vida, portanto não a conhecemos).
Após esta oração diária, enquanto se preparava o jantar, juntos cantávamos alguns
cânticos religiosos, normalmente um à nossa querida mãe, Maria, e outras tantas canções populares. Com isto, e com a missa ou
o culto dominical na comunidade, creio que
as sementes lançadas em meu coração infantil foram sendo regadas, puderam brotar
e dar frutos. Poderíamos dizer que tive a
graça de receber desde pequeno estas sementes da vida espiritual, sementes de vida
fraterna e de compromisso
com o outro.
Rogate: Por que optou
pela Congregação dos Irmãos das Escolas Cristãs?
Ir. Paulo Petry: Ao entrar em contato com os irmãos Lassalistas, a vida comunitária e a vida de oração deles me encantaram.
É claro que esta foi a motivação imediata ao conhecer
a congregação, quando tinha 18 anos. No entanto,
como já disse anteriormente, as sementes estavam lançadas desde minha infância. Deus tem os seus meios e modos de
chamar, e ele mesmo nos dá a graça de
ouvir este chamado. As lições aprendidas
em casa, na escola e na catequese conduziram-me a optar pela vida religiosa. Minha primeira inspiração foi seguir o sacerdócio, já que esta era a única forma que
conhecia de me consagrar ao projeto de
Deus. Vivi uma rica e maravilhosa experiência como seminarista, durante cinco
anos, no seminário menor dos Padres Jesuítas, em Salvador do Sul (RS) e em
Florianópolis (SC). Contudo, auxiliado pe8
los padres orientadores, discerni que esta
não era minha vocação. Retirei-me do seminário aos 16 anos e fui acolhido outra
vez por minha família, com muita alegria e
compreensão. Enquanto concluía o Ensino Médio, sem perder jamais o contato com
a vida eclesial, sem esmorecer em minha
fé ainda incipiente, continuei participando
do grupo de jovens, em Itapiranga. Aos 18
anos fui convocado pelo exército brasileiro e passei por Curitiba rumo a Brasília,
onde prestei o serviço militar. Eis que de
passagem pela capital paranaense, por intermédio de um colega de
infância que era noviço na
época, conheci os irmãos
Lassalistas, e de imediato
me encantei com o modo
como viviam em comunidade. Juntos rezavam e estudavam, juntos praticavam
esportes e lazer, e juntos
assumiam a missão de educar e evangelizar. A vida de
oração, a vida em comunidade e o compromisso com
a educação, eis algumas
provocações que me fizeram escolher este modo de seguir Jesus
Cristo Mestre.
Rogate: Curioso a nomenclatura da
congregação: Irmãos das Escolas Cristãs!
Ir. Paulo Petry: A sigla que identifica
a nossa congregação é “FSC”, vem do latim, Fratres Scholarum Christianarum, que
foi traduzido ao português como Irmãos
das Escolas Cristãs. Instituto dos Irmãos
das Escolas Cristãs é o nome oficial da congregação. Irmãos Lassalistas é o nome
popular que nos foi dado por causa de São
João Batista de La Salle, nosso Santo Fundador e Patrono Universal dos EducadoRogate 277
nov/09
res. Nosso Instituto está presente em mais
de 80 países. Apesar de termos sido fundados na França, a sede central da congregação encontra-se atualmente na Itália, em
Roma. O Instituto está organizado em cinco grandes regiões – África; Ásia/Oceania;
América do Norte; América Latina; Europa –, e dentro destas regiões, em Províncias. No Brasil, através das duas Províncias,
a de Porto Alegre e a de São Paulo, estamos presentes nos estados do Amazonas,
Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraná, Rio
de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa
Catarina, São Paulo, Tocantins e no Distrito Federal (www.lasalle.com.br). Atuamos
desde a Educação Infantil até o Ensino Superior. Desenvolvemos também o nosso trabalho e cultivamos nosso carisma através
de obras de assistência social e do trabalho
missionário no Piauí, em Sergipe, e há 16
anos também em Moçambique, África.
Rogate: Fale-nos um pouco da responsabilidade de ser provincial.
Ir. Paulo Petry: É uma responsabilidade para a qual se requer alguns dons e
graças, que só mesmo o Senhor pode conceder. Digo isto porque coordenar, orientar e animar pessoas, comunidades e processos exige bastante daquele que assume esta missão. Lidar com pessoas, com
gostos, culturas e formação distintas, exige do provincial “a ternura da mãe e a firmeza do pai”, como diria nosso santo fundador. Hoje, o que se espera e exige de
cada religioso e de cada religiosa, de modo
especial de quem está à frente de uma instituição, são os dons da compaixão, do entendimento, da sabedoria, do acolhimento
e da abertura ao outro. Conviver em comunidade só é possível com a graça de
Deus e com o empenho, a dedicação e a
vontade de cada consagrado e consagrada
Rogate 277
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de doar a própria vida ao serviço do Reino,
associando-se a outras pessoas que aspiram ao mesmo ideal, assumindo a missão
na perspectiva das primeiras comunidades
cristãs, nas quais os cristãos juntos rezavam, trabalhavam e partiam o pão. Olhando para aquelas comunidades, os pagãos
confessavam: “vede como eles se amam”.
Eis aí o desafio de cada congregação, de
cada comunidade e também o desafio do
provincial: “apresentar ao mundo comunidades de consagrados e consagradas, testemunhas do amor universal, sinais do reino, comunidades místicas e proféticas”.
Rogate: A Congregação Lassalista tem
como missão educar a infância e a juventude. Quais os maiores desafios deste trabalho?
Ir. Paulo Petry: Em parte, os grandes
desafios se apresentam devido às mudanças cada vez mais vertiginosas que o mundo vive. Com estas mudanças, tanto profissionais leigos e leigas, quanto religiosos
e religiosas, precisam atualizar-se constantemente, acompanhar o avanço das tecnologias da informação e comunicação, sem
deixar de lado a atualização pedagógica. Por
outro lado, temos o desafio de integrar os
critérios evangélicos e profissionais na
gestão das obras para garantir seu caráter
cristão. Diante do mundo em constante
transformação, que relativiza valores, relações e processos, outro desafio é a formação para os valores, para a justiça social
e a sensibilidade com o mundo dos pobres.
Destacaria, ainda, como muito importante, a valorização da dimensão fraterna das
comunidades, para que sejam lugar de acolhida, valorização recíproca e celebração da
vida. A escola não é apenas um lugar onde
professores e alunos se encontram. A escola, pelo menos a escola católica, é, ou
deveria ser, um lugar onde os filhos e as
9
ENTREVISTA
filhas do Deus da Vida se encontram para
juntos crescerem nas diversas dimensões
constitutivas do ser humano. Em um mundo secularizado, continuar formando filhos
e filhas de Deus, com respeito, na justiça
e para a verdade, permanece sendo um
grande desafio, e um chamado para muitos, embora poucos sejam os escolhidos,
para se consagrarem como religiosos e
religiosas.
especial. Recebeu o chamado do Senhor
para contatar Saulo, o homem que Deus
escolheu para levar o evangelho aos gentios. Inspirado por Ananias, e por outras pessoas que na Sagrada Escritura aparecem
como intermediadores vocacionais, podemos dizer que o animador, animadora e
acompanhante vocacional continuam sendo de grande importância na Igreja e para a
juventude de hoje. A animação e o acompanhamento vocacional são instrumentos priRogate: Atualmente, o que anima os
vilegiados para ajudar os jovens no seu disvocacionados e vocacionadas? E como o sercernimento. É evidente que será necessáviço de animação vocacional
rio contar com os dons e as
pode melhor auxiliar no disgraças de Deus para realizar
cernimento vocacional da jubem esta missão tão importanDespertar
ventude?
te e de tão grande urgência.
no jovem a
Ir. Paulo Petry: Identifivontade de
caremos o que anima vocacioRogate: Para finalizar,
seguir o
nados e vocacionadas se souque mensagem deixa aos aniMestre Jesus
bermos nos aproximar deles e
madores?
escutá-los atentamente. Com
Ir. Paulo Petry: Vale a
é uma missão
certeza anseiam por uma vida
pena entregar-se ao Senhor da
reservada
digna, uma busca da vontade
Vida. Se ele nos chama a ser
para poucos
do Senhor em suas vidas, algo
animadores, animadoras vocaque dê sentido ao próprio exiscionais, resta-nos elevar as
tir, enfim, algo pelo que valha
mãos para o céu e agradecer
a pena viver. Assim, o serviço de animação
tão grande graça que nos concede. Despervocacional pode auxiliar no discernimento
tar no jovem e na jovem a vontade de sevocacional se souber fazer-se próximo ao
guir o Mestre Jesus, orientá-los em sua
jovem. Hoje, para ajudar a juventude a disbusca e acompanhá-los em seu discernicernir a própria vocação, tal como acontemento vocacional, é uma missão reservada
ceu com muitos personagens bíblicos, a
para poucos, e que, para bem realizar sua
intermediação se faz muito necessária.
missão, precisam entregar a própria vida nas
Como podemos ver no capítulo nove dos
mãos da Providência. A todos os animadoAtos dos Apóstolos, Saulo, que veio a ser
res sérios e dedicados cabe aqui um agraPaulo, contou com a acolhida e orientação
decimento, que nem sempre é dado no temde Ananias. Este ajudou o perseguidor dos
po devido, e dizer que esta é uma missão
cristãos a conhecer e, depois, a obedecer e
que exige esmero, carinho e abertura à ação
seguir Jesus Cristo, convertendo-o no grando Espírito. A animação vocacional é uma
de apóstolo dos gentios. Ananias, poderíanecessidade na Igreja, de modo especial junmos dizer, foi um excelente animador voto às juventudes atuais em busca da verdacacional. A ele foi confiada uma missão toda
de, do belo e do bem.
10
Rogate 277
nov/09
ESTUDO
ESTUDO
Consciência Negra:
até que ponto?
Ao homenagear Zumbi no dia de sua morte, 20 de novembro,
busca-se homenagear todo povo negro, que ainda clama por
igualdade e respeito à sua dignidade
H
á 38 anos celebra-se em 20 de novembro o Dia Nacional da Consciência Negra. É uma homenagem
a Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares,
morto neste dia, no ano de 1695. Zumbi é
considerado o grande líder deste quilombo, localizado no estado de Alagoas, e que
na época era a maior e mais importante
comunidade de escravos, com população
estimada em mais de
30 mil pessoas. O quilombo foi fundado na
Serra da Barriga (AL),
onde os escravos se
refugiavam. Naquele
tempo os negros serviam para fazer os trabalhos pesados que o
homem branco não realizava. Os escravos
não tinham condições
dignas de vida, eram
maltratados, apanhavam, ficavam amarrados dia e noite em troncos, eram castigados, ficavam sem água e sem comida, suas
casas eram as senzalas, onde dormiam no
chão de terra batida.
Em 1971, quase trezentos anos após a
morte de Zumbi, a data de 20 de novembro foi celebrada pela primeira vez no Bra-
Rogate 277
nov/09
sil para resgatar a figura deste herói nacional. Segundo a Secretaria de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR),
do Governo Federal, a ideia se espalhou
por outros movimentos sociais de luta contra a discriminação racial e, no final dos
anos 1970, já aparecia como proposta nacional do Movimento Negro Unificado.
Além de lembrar Zumbi, o Dia da Consciência Negra também
Foto: Arquivo Rogate
é marcado pela luta
contra o preconceito
racial. Outros temas
igualmente são refletidos na oportunidade,
casos da situação do
negro no mercado de
trabalho, a discriminação política, moda e
beleza negra, questões
étnicas. E são homenageados os afrodescendentes que se destacaram na construção
de uma sociedade mais justa. Nos diversos eventos realizados pelo país, é enfatizada a questão do respeito à pessoa humana e se busca conscientizar a população
sobre a importância da raça negra e de sua
cultura na formação do povo brasileiro.
O presidente da Fundação Cultural Pal11
ESTUDO
mares, Ubiratan Castro de Araújo, explica
que, para o Brasil, o dia 20 de novembro
reafirma o valor das várias culturas africanas que foram transportadas para nosso
país por aqueles que vieram como escravos. “Em Palmares, durante 100 anos,
construiu-se uma sociedade alternativa.
Um projeto de Brasil que era outro que não
o do escravismo colonial, onde todos aqueles que vieram da África, e que fugiram da
escravidão, acharam refúgio dentro da tradição africana, organizados em trabalho livre e igual”, enfatiza Ubiratan.
Segundo Ubiratan, muitos negros têm
a “cabeça feita” pelo racismo e fogem da
identificação com a raça. Eles receiam serem vistos como inferiores e alegam que
são moreninhos, escurinhos, ao invés de
se assumirem como negros. “É uma situação no mínimo inocente. O importante é
que todos nós tenhamos consciência do
que somos”, afirma Ubiratan.
Feriado, por quê?
No estado de São Paulo, o deputado
estadual Amarildo Cruz (PT) apresentou,
na sessão ordinária do dia 24 de setembro
de 2009, o projeto que institui o feriado
estadual no dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra. O deputado
destacou que a data já é feriado municipal
em 400 municípios e dois estados brasileiros, Rio de Janeiro e Mato Grosso. “Apesar de se tratar de questão polêmica, a criação de feriados é uma forma de reviver e
divulgar uma história de lutas que compõe
a própria história do Brasil”, justificou-se
o deputado.
Amarildo Cruz destacou, ainda, que a
proposta tem o objetivo de promover a “divulgação da cultura e da história do negro,
através de ações coordenadas e permanentes que também terão por objetivo comba12
ter a discriminação racial”. De acordo com
o deputado, Zumbi dos Palmares integra a
galeria dos heróis da Pátria ao lado de Joaquim José da Silva Xavier (Tiradentes) e
José Bonifácio de Andrade Silva.
No início de seu mandato, em 10 de
novembro de 2003, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, aprovou a inclusão do
Dia Nacional da Consciência Negra no calendário escolar e tornou obrigatório o
ensino da história afro-brasileira nas escolas.
Estatuto da Igualdade Racial
Uma das mais recentes conquistas foi
a aprovação na Câmara dos Deputados, no
último dia 09 de setembro, do Estatuto da
Igualdade Racial, depois de uma tramitação
de quase dez anos. Na prática, o estatuto
abre mais espaços institucionais para os
negros. Ainda assim, a aprovação ocorreu
a partir de um acordo com a bancada
ruralista. Para destravar a proposta, o deputado federal Antônio Roberto (PV-MG),
relator do projeto, aceitou excluir do texto final um artigo que tratava da regularização de terras para remanescentes de
quilombos.
Com o acordo sobre a questão dos quilombos, a bancada ruralista aceitou apoiar
a votação do estatuto em caráter terminativo. Ou seja, permite sua ida direta para o
Senado, sem necessidade de aprovação
pelo plenário da Câmara.
Pelas regras do estatuto, os partidos
políticos passam a ser obrigados a destinar aos negros 10% de suas vagas para
candidaturas nas eleições. Também passa
a exigir do Sistema Público de Saúde que
se especialize em doenças mais características da raça negra, como a anemia
falciforme (uma doença hereditária que
causa a má-formação das hemácias, as
Rogate 277
nov/09
Carta às Comunidades
Quilombolas do Brasil
ESTUDO
Ilustrações: Osmar Koxne
N
quais assumem forma semelhante a foices
- de onde vem o nome da doença).
Na Educação, passa a ser obrigatória a
inclusão no currículo do ensino fundamental aulas sobre história geral da África e do
negro no Brasil. Outra novidade é o incentivo fiscal que o governo poderá dar para
empresas com mais de 20 funcionários e
que decidirem contratar pelo menos 20%
de negros. “Esse estatuto é como um bico
de arado. Ele não é um ponto de chegada.
É um ponto de partida”, garantiu o relator,
que é branco.
O negro e a formação religiosa
Em nossa realidade é muito difícil falar
sobre racismo e sobre preconceito. Para
que a discussão possa fluir, devemos assumir que trazemos o racismo e o preconceito enraizados dentro de nós. Mesmo
quando falamos: “eu não sou racista, não
tenho preconceitos”, não estamos livres de
algum tipo de preconceito. Estas questões
estão no imaginário, no dia a dia, e nem
sempre nos damos conta disso.
O racismo é sempre violento, mas hoje
se apresenta em muitas situações de forma disfarçada, velada. Devemos lembrar
que existe também o racismo cordial, onde
o negro é aceito desde que não se proponha a assumir o lugar que até hoje pertence ao branco. O medo de ser discriminado
Rogate 277
nov/09
ós, bispos, presbíteros e diáconos negros, reunidos na 21ª Assembleia Nacional, na cidade de Registro (SP), de 27 a
31 de julho de 2009, região abençoada por
Olorum (Criador de todas as coisas), por ser
a maior concentração de quilombos do estado de São Paulo, estamos solidários com a
luta dos quilombolas, razão pela qual trabalhamos o tema: “Quilombos, terra de Deus”.
Partindo das Leis ainda no período do
império brasileiro (1831: Anti-tráfico Negreiro; 1850: Terras; 1871: Ventre Livre; 1885:
Sexagenário; 1888: Áurea), constatamos
que histórica e politicamente o povo negro
nunca foi considerado digno neste país. Tais
leis não o protegia. Somente um século
depois, na Constituição de 1988, a nossa
Lei Magna reconhece o direito aos remanescentes de quilombos a regulamentarem
suas terras. Mas bem sabemos que isso não
acontece sem muita luta e histórica resistência [...]. Também sabemos das dificuldades múltiplas que os quilombolas enfrentam
no Brasil para terem suas terras tituladas.
Dentre os empecilhos, além da lentidão do
poder público para tal, existem os interesses espúrios dos políticos, do agronegócio,
das barragens etc.
No caso do Vale do Ribeira, em se tratando da luta contra as barragens pelos seus
67 quilombos, é fato que, sendo construídas
como o previsto, desaparecerão a maioria
desses quilombos, a reserva da Mata Atlântica do estado, as milenares cavernas, além
das místicas tradições desses povos [...].
Como ministros ordenados, carregando
o Axé da nossa negritude, nos comprometemos a sermos mais destemidamente aliados a estas e outras lutas concretas dos
mais pobres e excluídos do nosso tempo, a
exemplo de tantos profetas bíblicos e contemporâneos e, indiscutivelmente, de Jesus
de Nazaré. Que nossa Mãe Negra Mariama
interceda por nós, continue encorajando
todas as lutas proféticas de nossos quilombolas, desde o Vale do Ribeira.
Salve Zumbi! Axé!
13
Grupos vinculados à pastoral
afro-brasileira
ESTUDO
• Agentes de Pastoral Negros (APNs).
Associação cultural formada por pessoas de
diferentes comunidades de fé. Anuncia e
denuncia qualquer forma de racismo e preconceito, busca políticas públicas e ações
afirmativas que garantam à população negra o acesso aos direitos e à cidadania. Tem
26 anos de história.
• Grupo de Religiosos e Religiosas Negros e Indígenas (GRENI). Organização ligada à vida da Igreja, atuando junto à Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB). O
grupo enriquece a mística e espiritualidade
da vida religiosa com os elementos próprios das tradições dos povos indígenas e africanos.
• Instituto Mariama. Trata-se de uma articulação de bispos, presbíteros e diáconos negros, iniciada em 1988. Entre as
suas finalidades, colabora na formação dos
agentes de pastoral negros, em especial
dos bispos, presbíteros e diáconos negros
católicos do Brasil, para que sejam solidários, possam estar presentes em meio à
população mais fragilizada, contribuindo
para a formação integral de crianças, jovens e adultos.
• Grupo Atabaque, Cultura Negra e Teologia. É formado por teólogos e intelectuais
que se propõem refletir as questões da
negritude ligadas à teologia. Ecumênico, o
grupo tem prestado uma significativa contribuição em termos de reflexão da cultura
negra na sua relação com a teologia.
• Congresso Nacional das Entidades
Negras Católicas (CONENC). É realizado a
cada dois anos, envolvendo representantes
dos Regionais da CNBB. Em 2007 o congresso aconteceu em Salvador (BA) e abordou o tema: “Pastoral afro-brasileira: identidade e missão”. Neste ano, o CONENC, em
sua sexta edição, foi realizado em São Luís
(MA), nos dias 08 a 11 de julho, e apresentou o tema: “Refletindo o Rosto Negro da
Igreja: de Medellín a Aparecida”.
14
e rejeitado leva o negro a perder sua identidade. Devemos nos conscientizar de que
tanto o racismo como o preconceito é uma
construção social, fruto da ação dos homens ao longo da história da humanidade.
Portanto, se eles foram construídos, da
mesma forma podem ser desconstruídos.
Na medida em que vamos refazendo o nosso imaginário, passamos a ver o diferente
não como inferior, mas como filho do mesmo Pai. Se compreendemos o racismo
como construção, muitas vezes ideológica, podemos afirmar que ainda existe racismo em nossa sociedade.
A superação do preconceito
Nasci no interior da região sul do estado da Bahia, passei a minha infância e adolescência morando em grandes fazendas de
cacau, onde brancos e negros conviviam
tranquilamente, sem consciência da existência do preconceito. Entretanto, quando
passei a morar na cidade para poder estudar, deparei-me com a questão do preconceito e da discriminação. Algumas vezes
isso ocorreu de maneira contundente, outras, de forma mais disfarçada. Quando faltavam poucos meses para ingressar no
seminário foi que eu me dei conta da situação, em uma conversa com o meu pároco. Devido ao fato de estar ingressando em
Rogate 277
nov/09
ESTUDO
uma congregação de origem italiana, e da
ferência Nacional dos Bispos do Brasil
necessidade de ter a formação na região
(CNBB). É um serviço que atende os afrosul e sudeste do Brasil, ele conversou co-brasileiros que vivem a sua fé em comumigo me alertando sobre os preconceitos
nhão com o compromisso cristão.
que eu poderia vir a enfrentar, tanto denEsta pastoral busca ser o espaço de ação
tro da vida religiosa como na sociedade em
e conscientização da Igreja e da sociedade
geral. A fala do padre me fez pensar muipara a realidade da população afro-brasito, porém, mesmo diante das incertezas,
leira, reafirmando o compromisso de prodei continuidade ao projeto com o objetivo
mover os direitos fundamentais de cidade me tornar religioso. No decorrer do prodania para todos, sobretudo para aqueles
cesso formativo, e mesmo deque vivem à margem da socipois de me tornar religioso e
edade em virtude da sua cor
padre, já vivi situações de preou etnia (cf. Documento de
O preconceito
conceito e de racismo, mas
Aparecida, 96).
é muito difícil
nunca me deixei vencer ou
O secretariado de pastoral
de
ser
superaperder a autoestima devido a
afro-brasileira é uma instância
do, porque
estas questões.
de articulação e ação, possibiindependenteO preconceito é muito dilitando o funcionamento da
fícil de ser superado, porque
rede entre todos os Regionais
mente da
independentemente da cor da
da CNBB. Está vinculado ao
cor da pele
pele da pessoa, se branca ou
Secretariado de Pastoral Afroda
pessoa,
negra, ele é algo construído.
americana (SEPAFRO) e ao
se branca
Para superá-lo deve haver a
Conselho Episcopal Latinoconsciência, como já dito anamericano (CELAM).
ou negra,
teriormente, de que todos os
A pastoral afro-brasileira
ele é algo
seres humanos e toda a criaatua como instância de refleconstruído
ção é obra de um mesmo
xão e articulação na animação
Deus, que é Pai de todos. Didos grupos negros católicos
ante de situações concretas de
existentes e no incentivo
preconceitos, às vezes sutis, as pessoas depara o surgimento de novos grupos que
vem reagir, mostrando o problema e indibuscam sua identidade e espaço na Igrecando a ação incorreta do preconceituoso.
ja. Atua também na animação pastoral em
Na medida em que vamos nos relacionanmeio às comunidades negras, reafirmando, convivendo e tratando da questão com
do valores e somando-se no compromisabertura, é possível superar o preconceito
so com o Reino de Deus, e no apoio às
e a discriminação. Na Igreja do Brasil há
iniciativas contra o racismo, a discrimium trabalho vigoroso da pastoral afro-branação e a exclusão de negros e negras,
sileira, que merece ser estudado.
posturas em defesa do seu patrimônio cultural e religioso (cf. Documento de Santo
Pastoral afro-brasileira
Domingo, 249).
A pastoral afro-brasileira está ligada à
Comissão Episcopal Pastoral para o ServiAntônio Raimundo Pereira de Jesus
ço da Caridade, da Justiça e da Paz, da ConReligioso Rogacionista e sacerdote
Rogate 277
nov/09
15
ESPECIAL
ESPECIAL
No caminho do
“discipulado missionário”
- parte 3 -
C
omo nas edições anteriores (cf.
Rogate 275, set/09, p. 13-17; 276,
out/09, p. 14-17), prosseguimos na
apresentação do documento intitulado “No
caminho do discipulado missionário”, elaborado pela Comissão Episcopal Pastoral
para os Ministérios Ordenados e a Vida
Consagrada, da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CMOVC-CNBB). Nesta
terceira parte o tema é “Chamados para a
vivência em comunhão”. Na edição de dezembro a Rogate destaca a conclusão do
documento, que oferece a indicação dos
eixos fundamentais do serviço de animação vocacional.
Chamados para a vivência
em comunhão
“Vinde e Vede” (Jo 1,39)
30. No trabalho de formação dos seus
discípulos, Jesus lhes mostra como é fundamental a vivência em comunhão com ele
e também entre eles. Aquele que diz: “sem
mim, nada podeis fazer” (Jo 15,5) é o mesmo que adverte: “Entre vós não deve ser
assim. Quem quiser ser o maior entre vós
seja aquele que vos serve, e quem quiser
ser o primeiro entre vós seja o escravo de
todos. Pois o Filho do Homem não veio para
ser servido, mas para servir e dar a vida
em resgate por muitos” (Mc 10,43-45). Ele
constitui doze e os envia em missão.
31. Após a sua ressurreição, Jesus continua saindo ao encontro dos discípulos
16
para consagrá-los na comunidade e como
comunidade.
32. A comunidade formada por Jesus
Cristo passa a ter uma ligação tão forte com
ele que, como afirma São Paulo, vai fazer
parte do seu Corpo. São muitos os membros, mas um só corpo, um só Espírito que
age nos membros para que seja edificado
o Corpo de Cristo. A imagem do corpo,
mostrando a pluralidade, pede necessariamente a complementaridade de seus membros. É o Espírito de Deus que vai suscitando essa variedade de dons, carismas e
ministérios a fim de que seja vivenciada
como fraternidade e não na competitividade. O outro não é um rival. A graça de Deus
vai agindo na vida de cada pessoa para que
possa acolher o outro como discípulo de
Jesus Cristo e membro da comunidade dos
seguidores e testemunhas do Ressuscitado. Cultivando a graça da complementaridade, descobre-se a novidade que o Espírito de Deus vai suscitando!
33. Uma das marcas do mundo atual é a
subjetividade, que se expressa através do
destaque à pessoa em sua dignidade, em
suas potencialidades e valores, bem como
o subjetivismo, que coloca, de tal modo, a
própria pessoa no centro e relativiza todo
o resto. Então, o trabalho de evangelização precisa levar em conta essa realidade
para que possa ajudar as pessoas a realizarem o encontro pessoal com Jesus Cristo
e a assumirem a necessária dimensão eclesial que nasce desse encontro. Assim, o
Rogate 277
nov/09
ESPECIAL
discípulo, a discípula, descobre o sentido
da pertença à comunidade e vai aprendendo a alimentar aí a fé que passa a iluminar
e guiar sua vida na família, na comunidade
e na sociedade.
34. “A vida em comunidade é essencial
à vocação cristã. O discipulado e a missão
sempre supõem a pertença a uma comunidade. Deus não quis salvar-nos isoladamente, mas formando um Povo. Este é um aspecto que distingue a experiência da vocação cristã de um simples sentimento religioso individual. Por isso, a experiência de fé
é sempre vivida em uma Igreja Particular” (DA - Documento de Aparecida - 164).
Então, é como membro dessa Igreja Particular, participando da vida em comunidade, organizada também como rede de comunidades, que o cristão é chamado a viver como discípulo missionário, discípula
missionária. Essa participação fortalece a
experiência de que “a comunhão e a
missão estão profundamente unidas
entre si [...]. A comunhão é missionária e a missão é para a comunhão” (Christifideles laici, 32).
35. Como é grande, ainda
hoje, a responsabilidade de todos os evangelizadores e evangelizadoras,
pois, no processo da educação na fé, torna-se necessário colaborar para o nascimento, o fortalecimento e a dinamização
das comunidades. Se estas não existem,
de que adianta proclamar que “a vida em
comunidade é essencial à vocação cristã”?
Este é um dos grandes desafios para o trabalho de evangelização, especialmente na
realidade das grandes cidades!
36. Se há uma relação muito estreita
entre vocação cristã e vida em comunidade, não será menos forte e exigente para o
ministério ordenado a vivência da dimensão comunitária. Eis o que dizem as DireRogate 277
nov/09
trizes Gerais da Ação Evangelizadora da
Igreja no Brasil: “O ministério ordenado
necessita recuperar sua vivência colegial.
O Concílio Vaticano II redescobriu a natureza comunitária do ministério ordenado.
Essa ‘comunhão ministerial’ deve ser
vivenciada, afetiva e efetivamente, em todos os graus do ministério: na colegialidade
episcopal e na corresponsabilidade presbiteral no interior de cada Igreja Particular. A forma individualista do exercício do
ministério ordenado, além de ser uma traição à sua própria essência, é um dos principais entraves à realização de uma Igreja toda ela responsável pela missão”
(DGAE 1999-2002, n. 327).
37. “O presbítero é, antes de
tudo, membro de um presbitério e somente em comunhão
com ele pode exercer sua tarefa específica. Ao presbitério
como um todo, presidido pelo
bispo, e não aos presbíteros separadamente, é confiado o pastoreio
da Igreja Particular. Isso não isenta ninguém de sua responsabilidade pessoal. A
ação pastoral do presbitério deve ser vivida como expressão de solidariedade fraterna, na qual todos se sentem corresponsáveis pela tarefa comum e, ainda mais, pela
vida e ministério de cada um dos irmãos
presbíteros. ‘O ministério ordenado tem
uma radical forma comunitária e pode ser
assumido apenas como obra coletiva’ (Pastores dabo vobis, 17)” (DGAE, n. 328).
38. Neste ponto encontramos vários
indicativos para a formação dos cristãos
leigos e leigas e dos futuros ministros ordenados.
Continua na próxima edição
CMOVC-CNBB
17
ANIMAÇÃO VOCACIONAL
VOCACIONAL
Procura-se desesperadamente
animadores da juventude
Deve-se, antes de tudo, observar a identidade
do animador no âmbito da fé e no aspecto psicopedagógico
F
igura essencial na caminhada do jovem, animadores e animadoras da
juventude são protagonistas da fascinante tarefa de gerar novas vocações,
conscientes de que fazer animação é desejar a felicidade do jovem. Para tanto, devem ter um grande coração e uma ternura
sem limites.
Animador, vida de cão?
Este era o título - lembro-me muito
bem - de um artigo publicado há muitos
anos em uma revista para jovens. Eram
tempos onde certa estrutura ousada de
juventude começava a mostrar sua inconsistência, substituída por uma acentuada
intolerância em relação ao mundo dos jovens, e a alguns dos seus excessos.
Hoje talvez estejamos recuperando
uma visão objetiva da realidade, na qual
também o animador da juventude pode
colher com maior verdade o sentido da sua
presença entre os jovens, evitando dois extremos. Em primeiro lugar, a ênfase otimista e um tanto banal do educador feliz,
com violão a tiracolo, e na busca desesperada de algo diferente e original para afirmar-se nos jovens e com os jovens, perfeitamente em sintonia com o grupo, e
sempre pronto para acompanhar a última
moda da juventude, uma mistura entre um
DJ e um monitor de parques turísticos...
18
Deve-se, entretanto, evitar o outro extremo, do animador da juventude sério
demais e quase deprimido, talvez como
consequência de mais uma desilusão, e
com a sensação de que a vida do animador
é uma “vida de cão” (versão moderna da
antiga expressão, em língua latina, damnatos ad pueros). Não quero dizer que este
animador vocacional desaprove tudo, mas
já se acostumou a ter uma atitude quase
hostil diante da geração jovem (“no meu
tempo não era assim...”; “são todos apagados e vazios...”; “não há nada a se fazer...”). Ou se fecha em um pequeno grupo, o dos mais fiéis (“quem me ama, que
me siga...”), poucos, no entanto bons, às
vezes também eles muito sérios e, talvez,
deprimidos.
Animador, escolha
de quem acredita
No lugar dos dois extremos reafirmamos que a missão do animador é, e deve
ser, uma escolha clara e coerente com a
própria fé. Ao nos referirmos ao animador
da juventude, este pode ser um padre - pároco ou vigário, capelão ou que recebe o
cargo do bispo ou do próprio pároco -, mas
pode ser também o animador leigo ou a animadora leiga, mais ou menos jovem, que
recebe esta missão do responsável da paróquia ou da comunidade. Pode ser, ainda,
Rogate 277
nov/09
ANIMAÇÃO VOCACIONAL
sistir. Não deve se tornar um animador,
porque seria um perfeito desanimador.
Animador, mistério (grande) e
ministério (humilde)
O conceito de animação é bastante recente na pedagogia moderna: refere-se à
ideia de algo que está presente na pessoa
em formação, mas que foi um pouco... deixado de lado, e então precisa ser retomado, aprofundado, redescoberto, colocado ao
centro da atenção. Assim surgiu o animador vocacional, que não é o autor do projeto vocacional do jovem, mas simplesmente aquele que o ajuda a descobri-lo; assim
nasceu o animador da juventude, que não
é aquele que forma, mas que se põe ao lado
do jovem para ajudá-lo a deixar-se educar
pelo Pai.
É um ponto importante para bem entender o grande mistério da animação e o
extremamente humilde ministério do animador, tanto capaz de sacudir e remover, provocando com energia e criatividade, quanto de ser sempre livre, de modo a não atrair
os jovens a si, de não se colocar jamais ao
centro, mas sim motivar os jovens a encontrar o centro deles mesmos. Para tanto, o animador e a animadora
não devem ter objetivos interesseiros, próprios ou
em vista da instituição
Foto: Anderson Luiz Alves
qualquer pessoa adulta na fé e que vive em
contato com jovens na comunidade, ou que
tenha responsabilidades educacionais, caso
dos professores.
De toda forma, esta missão não deve
ser fruto de uma obediência cega, mas sim
de uma escolha pessoal, aceitação livre e
responsável, que corresponde a uma convicção bem clara e enraizada na fé. Convicção de que este seja um ministério tão
estratégico que resulta hoje decisivo, uma
mediação preciosa na atualidade, um verdadeiro serviço que necessita de uma
imensa capacidade do dom de si, uma ação
pedagógica que não pode ser confiada à improvisação, e que, ao mesmo tempo, precisa de grande criatividade e intuição espiritual. Afinal, a pessoa deve acreditar
naquilo que faz.
Assim como deve acreditar nos jovens,
isto é, estimá-los, amá-los singelamente, saber adaptar-se ao passo deles, deve também precedê-los quando for necessário para
provocá-los a caminhar, não se deixar levar
pelo jeito de ser dos jovens, procurando
imitá-los, mas ser tão apaixonado a tal ponto de enamorá-los de tudo o que é bom, belo
e verdadeiro. Deve procurar entendê-los
além de suas manias e contradições,
no entanto também sacudi-los em sua
mediocridade e pobreza de desejos,
para reavivar aquela procura de autenticidade que mora na parte
mais íntima deles e eles próprios não sabem.
Se alguém acredita
pouco neste ministério,
ou no universo da juventude, é encarecidamente convidado a deO animador deve acreditar
nos jovens, amá-los...
Rogate 277
nov/09
19
O ministério da assessoria
na evangelização dos jovens
O
documento 85 da CNBB (Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil), sobre
a “Evangelização da Juventude; desafios e
perspectivas pastorais”, de 2007, apresenta oito linhas de ação para responder aos
anseios da juventude, às necessidades da
Igreja e aos sinais dos tempos. Dentre elas
está o “ministério da assessoria” (6ª linha).
As outras são: formação, espiritualidade,
pedagogia, missão, acompanhamento, diálogo fé e razão, direito à vida. O documento
utiliza o termo “assessor da juventude”, já
em uso nas bases e nas organizações eclesiais em nosso País (pastoral da juventude,
por exemplo), ao invés do termo “animador
da juventude”, como faz Amedeo Cencini.
Sem avaliar qual o termo seria mais correto
utilizar, vale a pena citar alguns trechos do
documento da CNBB ao tratar do assunto,
pois revela o grande desafio de se ter pessoas comprometidas com a causa:
“A dificuldade principal para evangelizar
as novas gerações é a falta de pessoas com
perfil adequado para este ministério. Fazse necessário, para tal, o preparo de pessoas que tenham clareza do projeto pastoral e da metodologia para chegar aos jovens
e envolvê-los num processo de educação
na fé. Chama atenção a ausência de padres que abracem um trabalho de acompanhamento sistemático dos jovens. Os religiosos e leigos também estão muito distantes. Existem muitos jovens adultos que podem cumprir este papel de acompanhamento. Há, no entanto, necessidade de resgatar no coração de todos a paixão pela juventude. Os que têm possibilidade de promover o ministério da assessoria não devem poupar esforços para fazê-lo. Quando
falamos de ministério, falamos de serviço,
e todo serviço exige vocação. A assessoria
aos jovens, de forma pessoal ou grupal,
além de ser uma função, é um verdadeiro
ministério, uma vocação. O assessor é chamado por Deus para cumprir esta missão
na Igreja, da qual recebe o envio.”
(n. 205-206)
20
VOCACIONAL
(como, por exemplo, formar um belo grupo para a paróquia, numeroso e vivaz, capaz de animar muitas atividades, de tornar a missa festiva, e, talvez, gerar algumas vocações para o seminário ou casa de
formação...).
Não quero dizer que nem se possa pensar nestes aspectos, somente afirmo que
isso não pode ser a finalidade prioritária
da animação. Pelo contrário, o objetivo
prioritário da animação é o jovem, sua vida,
sua felicidade, o mistério da sua vocação
“escondida com Cristo em Deus”, e não a
promoção do líder ou o funcionamento da
pastoral ou a solução da crise vocacional.
O jovem de hoje percebe imediatamente a transparência dos objetivos de quem
o dirige. Isso porque não aguenta mais sentir-se enganado e usado por agentes e
mercadores que o exploram para seus interesses pessoais. Fazer-se animador da
juventude significa ter bons e largos ombros (para enfrentar fracassos e desilusões)
e um grande coração (capaz de se apaixonar pela missão e fazer apaixonar), aliado
ao conhecimento, humilde e agradecido, de
fazer algo fora do comum e misterioso: gerar um jovem à fé, à responsabilidade vocacional, à vida plena! Quando isso acontece, o inteligente animador da juventude
fica contente e agradece. Entretanto, se
por vários motivos isso não acontece, também não entra em desespero, nem culpa a
missão de ser animador, mas tenta novamente. Ele sabe que pode contar com um
Outro mais forte do que ele...
Em todo caso, não comete a injustiça
de abandonar quem não seria mais “interessante” do ponto de vista vocacional.
Amedeo Cencini
Religioso Canossiano e sacerdote
Trad. Guido Mottinelli
Religioso Rogacionista e sacerdote
Rogate 277
nov/09
IN FORMAÇÃO
IN FORMAÇÃO
Como superar uma espiritualidade
“sem alma”?
Divulgação
Este é o objetivo do livro sobre
“Espiritualidade pastoral”, de Salvador
Fuentes, sacerdote mexicano
E
Divulgação
laborado num formato dinâmico e didático, favorecendo o
estudo também em equipes, o livro “Espiritualidade pastoral; como superar uma pastoral sem alma?”, de Salvador
Valadez Fuentes, lançado por Paulinas Editora, em 2008, é um
ótimo subsídio para a formação de agentes pastorais, incluindo
Páginas: 232
quem trabalha na animação vocacional. O autor é presbítero da
Formato: 14 x 21 cm
diocese de Tuxla, em Chiapas (México), Doutor em Teologia PasPreço: R$ 24,70
toral e professor na Pontifícia Universidade do México. Colabora
Pedidos:
no Instituto Teológico Pastoral para a América Latina (ITEPAL),
www.paulinas.com.br
em Bogotá, na Colômbia, e no Instituto Pastoral do Sudeste
Tel.: 0800 7010081
(SEPI), em Miami, nos Estados Unidos. Escrito em sete partes,
o livro apresenta desde os pressupostos da espiritualidade pastoral, passando por Jesus, o Bom Pastor, considerado fonte desta espiritualidade, até chegar no concreto, com os dinamismos para “encarnar” tal espiritualidade no dia a dia.
Trata-se de “uma proposta e um estímulo”, conforme descreve o autor.
A fé dos cristãos
R
econhecido no mundo inteiro por seus inúmeros livros,
Anselm Grün, monge beneditino da Alemanha, na obra
“A fé dos cristãos”, procura estimular os seguidores de Jesus Cristo na busca de sua identidade, ajudando no processo de discernimento das dúvidas mais frequentes. Lançado
neste ano pela Editora Vozes, o livro aborda a relação do
fiel com Deus, a encarnação em Jesus Cristo, sua morte e
ressurreição, além de outras temáticas essenciais, tais como,
ética, sacramentos, espiritualidade e diálogo inter-religioso.
O livro tem 184 páginas (13,5 x 21 cm) e custa R$ 25,00.
Pedidos:
www.vozes.com.br
E-mail: [email protected]
Rogate 277
nov/09
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IN FORMAÇÃO
Semana de Catequese
A 3ª Semana Brasileira de Catequese
foi realizada de 07 a 11 de outubro, em
Itaici, município de Indaiatuba (SP), com o
tema: “Iniciação à vida cristã”. Participaram 480 catequistas de todo o país. O evento fez parte da programação do Ano Catequético Nacional, que está refletindo o
tema: “Catequese, caminho para o discipulado”, e o lema: “Nosso coração arde
quando ele fala, explica as Escrituras e
parte o pão” (cf. Lc 24,13-35). A 1ª Semana Brasileira de Catequese foi realizada em
outubro de 1986, e teve como tema: “Catequese, fé e vida em comunidade”. Em
2001, a 2ª Semana de Catequese discutiu
o tema: “Com adultos, catequese adulta”.
Na mensagem enviada pelos participantes da 3ª Semana Brasileira de Catequese
estimulou-se os catequistas de todo o Brasil para que, em sua missão, formem “comunidades de discípulos missionários, a
partir do encontro pessoal com Jesus Cristo vivo”, tornando-as “instrumentos do
Reino, onde as pessoas façam a experiência de família, alicerçadas no ensinamento
dos apóstolos, na comunhão fraterna, no
partir do pão e na oração (cf. At 2,42)”.
Cinco novos santos da Igreja
No dia 11 de outubro, no Vaticano, o
papa Bento XVI canonizou cinco novos
santos católicos, em celebração realizada
na Basílica de São Pedro. São eles: o polonês Zygmunt Szczesny Felinski (18221895), fundador da Congregação das Irmãs
Franciscanas da Família de Maria; a francesa Joana Maria da Cruz (1792-1879),
fundadora da Congregação das Irmãzinhas
dos Pobres; o padre belga Damião de
Veuster (1840-1889), que dedicou sua vida
à assistência de pessoas com hanseníase;
e os espanhóis Rafael Arnaiz Baron (191122
1938), religioso da ordem trapista, e Francisco Coll y Guitart (1812-1875), fundador
da Congregação das Irmãs Dominicanas da
Anunciação de Nossa Senhora.
Sínodo dos Bispos da África
A 2ª Assembleia Especial para a África
foi realizada de 04 a 25 de outubro de 2009,
no Vaticano, com o tema: “A Igreja na África a serviço da reconciliação da justiça e da
paz. ‘Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz
do mundo’ (Mt 5,13.14)”. A 1ª Assembleia
foi realizada em 1994, de onde surgiu, em
1995, a Exortação Pós-sinodal Ecclesia in
Africa. Na América já se realizou assembleia
semelhante, em 1997, levando à Exortação
Ecclesia in America, de 1999.
Leste 2 projeta Congresso
Os coordenadores do serviço de animação vocacional do Espírito Santo e de Minas Gerais, Regional Leste 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),
programaram a realização de um Congresso Vocacional para os dias 30 de julho a 1º
de agosto de 2010, um mês antes da realização do 3º Congresso Vocacional do Brasil, marcado para setembro, em Itaici, município de Indaiatuba (SP). O Congresso do
Regional Leste 2 terá três fases. A primeira, utilizando o método “ver, julgar, agir”,
envolverá todas as dioceses do Regional em
resposta a um questionário sobre a realidade vocacional (até maio de 2010), na leitura
orante do texto bíblico iluminador do congresso nacional (até junho) e na compilação
dos resultados a serem apresentados na segunda fase, que é justamente a realização
do Congresso Regional. A terceira fase antecede o Congresso Nacional, momento em
que se compilará os resultados para levar
ao evento de Itaici, em setembro.
Rogate 277
nov/09
LEITOR
LEITOR
Ano Sacerdotal
Estamos celebrando o Ano Sacerdotal
e nada mais justo que homenagear os nossos irmãos sacerdotes, missionários de
Jesus Cristo, que de diversas maneiras levam a Palavra de Deus a tantos irmãos e
irmãs. Na diversidade dos carismas, todos
nos conduzem a Cristo através dos sacramentos e de seus exemplos. A nossa homenagem a eles, com um pouco de humor.
Padres contra o desarmamento: os cartuxos; aqueles que não aumentam o salário: mínimos; que não passam frio: capuchinhos; que não têm muita estatura: frades menores; que têm as marcas de Cristo:
estigmatinos; que nos tiram do fundo do
poço: salvatorianos; que têm o dom da palavra: oratorianos; que não acreditam na
morte: ressurrecionistas; que insistem no
chamado: vocacionistas; que rezam sempre: rogacionistas; que não têm paróquias:
conventuais; que não deixam dúvidas:
claretianos; discípulos de São Pedro: xaverianos (têm as chaves); que usam bem o
martelo: pregadores; que não seguem a
moda: trapistas; que adoram gramática:
padres do verbo divino; que não são fracos:
montfortinos; que ajudam de verdade: servitas; aqueles que mais trabalham nos domingos: os dominicanos; padres que não
usam sapatos: carmelitas descalços; que não
são palmeirenses ou corinthianos ou santistas, são paulinos.
Parabéns a todos os sacerdotes.
José A. Castro
Alta Floresta (MT)
Rogate 277
nov/09
Agenda Vocacional
Adoro a agenda vocacional Caminhos.
Para mim é de grande utilidade. Todos estão de parabéns! E adoraria ser uma das
20 primeiras a enviar a frase de Gandhi
para ganhar o marca-páginas (cf. Caminhos
2010, p. 232-233).
Paula Neves Barcelos
Cabreúva (SP)
Fatos concretos
Na revista Rogate 274 (ago/09), Pe.
Ângelo Ademir Mezzari fez um estudo sobre os “Discípulos-missionários a serviço
das vocações” (p. 8-14), e foi apresentado
um estudo sobre o 18º Encontro Nacional
do Serviço de Animação Vocacional (p. 1517). Gostaria de parabenizá-los pelo conteúdo, que é muito bom, de grande ajuda.
No entanto, pensando em pessoas que estão iniciando a caminhada no SAV, gostaria
de sugerir que procurassem apresentar
mais fatos concretos, exemplos de pastoral vocacional, o que fazem, como se organizam. Isso ajudaria ainda mais aos que
estão começando, como eu, que recentemente fui convidada para coordenar a animação vocacional.
Maria Aparecida C. Pereira
Valença (RJ)
Nota:
Estaremos apresentando sua valiosa sugestão na próxima reunião de pauta.
As mensagens enviadas poderão ser
editadas pela equipe, favorecendo um
melhor entendimento de seu conteúdo.
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MÍSTICA DA VOCAÇÃO
MÍSTICA
São Gaspar, de seu coração
acendeu uma luz para o Brasil
S
ão Gaspar Bertoni nasceu em Verona, Itália, no dia 09 de outubro de
1777. Cresceu em um ambiente bastante hostil em que havia fome, miséria,
desemprego e a perda dos valores que dignificam a vida do ser humano. Ele sentiu o
chamado divino para ser, no meio do povo,
um sinal visível do amor gratuito de Deus.
Entrou para o seminário e foi ordenado em
1800. Seu objetivo principal era estar a serviço dos mais necessitados, dos doentes,
dos pobres e especialmente dos jovens. Seu
trabalho com a juventude era profundo, integral, e orgânico, o que lhe outorgou o reconhecimento de apóstolo da juventude.
Deus o chamou para uma grande obra:
a fundação, no dia 04 de novembro de 1816,
da Congregação dos Sagrados Estigmas de
Nosso Senhor Jesus Cristo. E com o seguinte carisma: ser missionário apostólico em
auxílio aos bispos. Os ministérios dessa
congregação são, atualmente, a educação
cristã da juventude, a pregação da Palavra
de Deus, a assistência aos eclesiásticos e
as missões populares. Seus membros devem se preparar da melhor maneira para
prestarem um bom e adequado serviço aos
sucessores dos Apóstolos.
São Gaspar, como fiel discípulo missionário de Jesus Cristo, tornou-se “sal da
terra e luz para o mundo” (cf. Mt 5,13-16).
Um exemplo a todos nós, também seguidores de Jesus. Como Bertoni, devemos
irradiar a luz que ilumina as pessoas e irradia boas obras.
Os estigmatinos no Brasil estão louvando a Trindade pelos cem anos de presença
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na terra de Santa Cruz. Celebrar o centenário é mais do que relembrar fatos antigos, é mais do que mergulhar em páginas
passadas e suscitar sentimentos de saudosismos. É, antes de tudo, projetar o futuro com a perspectiva da esperança e do
sopro do Espírito Santo que trouxe os pioneiros. O marco inicial do centenário será
no dia 02 de dezembro, com uma Celebração Eucarística na cidade de Tibagi, estado do Paraná, onde os primeiros missionários chegaram e se instalaram. O ano será
marcado, certamente, por diversos outros
eventos. Seu coroamento será em dezembro de 2010.
Tornar célebre este centenário da chegada e da presença estigmatina no Brasil é,
antes de tudo, um projeto e um desafio. Que
os estigmatinos ajudem no fortalecimento
da comunhão eclesial do Brasil. Na escuta
da Palavra de Deus e na percepção dos sinais dos tempos possam colocar-se a serviço do povo que clama por partilha e libertação, reavivando a missão evangelizadora.
Vale a pena recordar que foi das terras
brasileiras que brotaram os milagres que
levaram São Gaspar Bertoni às honras do
altar.
Que Deus continue abençoando os religiosos estigmatinos para que permaneçam fiéis à missão e aos ideais de santidade propostos por seu Fundador. Mais informações sobre São Gaspar, ou a congregação no Brasil, poderão ser acessadas em:
www.estigmatinos.com.br
Isaac Celestino de Assis
Noviço Estigmatino
Rogate 277
nov/09
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OPINIÃO - Revista Rogate