Por que estamos aqui? Jorge Luiz Souto Maior Porque não concordamos com a posição assumida pela atual Direção da Universidade de levar adiante, a ferro e fogo, uma política de intolerância frente às manifestações críticas contrárias ao seu projeto de implementar, na Universidade, um ensino voltado à lógica de mercado, alimentando uma lógica autoritária, ainda que baseada na defesa da ordem jurídica. Um argumento de legalidade que, ao mesmo tempo, não se preocupa em respeitar a Constituição, por exemplo, no que tange à obrigação efetuar contratações de pessoas para a realização de serviço unicamente por intermédio de concurso público e à eliminação das fundações privadas que atuam com a marca da USP, para angariar ganhos à satisfação de interesses particulares. De fato, o argumento da legalidade, sempre trazido pela Administração, serve apenas para obscurecer as questões de fundo pertinentes aos destinos da Universidade e à falência dos canais democráticos de discussão, sendo certo que os resultados das experiências vivenciadas na USP tendem a ultrapassar os limites de seus muros. Fragilizar o Sintusp, dispensando seu principal dirigente e ameaçando todos os demais diretores do sindicato com o mesmo destino, faz parte de um modo gestão que procura ser exemplo de relações de trabalho. A Direção da Universidade diz que se vale do dever imposto por normas e princípios voltados à Administração Pública, mas da forma como quer ver a questão não sobra qualquer espaço para uma autêntica ação sindical, que, como se sabe, é normalmente marcada pelo exercício do direito de greve, assegurado constitucionalmente como direito fundamental, e que traz consigo, naturalmente, ações e embates. Parte importante dessa estratégia foi a dispensa, na calada da noite, de 270 servidores aposentados e o incremento do processo, cada vez mais intenso, da terceirização, que gerou, inclusive, um desfecho dramático para os trabalhadores terceirizados da Universidade em meados do ano passado. A política de intolerância, na seqüência, sob o pretexto da segurança, provocou a concretização de um Convênio com a Polícia Militar, para que esta passasse a atuar ostensivamente no Campus, sendo que o Convênio prevê, inclusive, a formação de um banco de dados para trocas de informações recíprocas acerca das ocorrências verificadas, o que, se pode ter um fim meramente organizacional, pode servir à lógica policialesca que, de fato, acabou se institucionalizando por intermédio de um fatídico serviço de espionagem. Uma intolerância que, também, não permitindo o necessário esgotamento das vias negociais, essencial, sobretudo, em se tratando de uma instituição educacional, acabou gerando duas ações policiais de grande porte no âmbito da Universidade para a solução de conflitos com seus próprios estudantes, que acabaram sendo tratados como criminosos, o que, persistindo sem o necessário controle da Administração, acabou 1 provocando agressões explícitas, diretas e indiretas, a estudantes nestas e em outras operações. Uma intolerância que, presentemente, está buscando, na via judicial, a imputação criminal de todos os diretores da Associação de Professores da USP (ADUSP) em razão de manifestações postas em um panfleto. Uma intolerância, por fim, que, não encontrando mais limites, ameaça a todos com novos processos, atingindo o ápice da lógica autoritária: o medo generalizado! Estamos aqui, então, por quê? Para, praticando o valor essencial da convivência humana, que é a solidariedade, dizer, de forma aberta, clara e inequívoca, que não concordamos com tudo isso e para exercer o nosso direito de reivindicar: 1) a readmissão do Brandão; 2) a readmissão dos aposentados, que assim o queiram e que tenham direito a tanto; 3) o cancelamento do Convênio com a Polícia Militar; 4) a eliminação de todos os processos administrativos, frutos de perseguição política, contra alunos e servidores; 5) o respeito à Constituição com fim da terceirização e a realização de concurso público para as contratações de pessoal; 6) a realocação dos desalojados do CRUSP; 7) a apuração do atentado sofrido pela sede do sindicato dos servidores – o Sintusp; 8) a retirada do processo contra os membros da diretoria da ADUSP; 9) a convocação imediata de uma estatuinte, para a institucionalização de procedimentos verdadeiramente democráticos na Universidade, iniciando-se pela eleição democrática para Reitor, com participação de alunos, servidores e professores, sem distinções, e atingindo a construção de um projeto de uma Universidade verdadeiramente pública, com o fim do Vestibular, a eliminação das Fundações privadas que atuam com a marca da USP ou se valem de sua estrutura; 10) a derrubada de todos os muros que separam a Universidade da sociedade, física e abstratamente, a fim de possibilitar uma maior compreensão acerca dos movimentos sociais, estimulando, financiando e institucionalizando estudos a partir dos anseios, das necessidades e das angústias das pessoas menos favorecidas da sociedade; 11) a instauração de uma comissão da verdade, para apuração de todos os fatos que envolvem, histórica e presentemente, agressões a Direitos Humanos no âmbito da Universidade. E é sintomático que essa lista de reivindicações só vai aumentando... No presente momento, o mais importante talvez seja dizer que, sendo instrumento do silêncio e o do comodismo, legitimando a lógica autoritária, é óbvio que o MEDO não pode ter morada em uma Universidade Pública, ainda mais dentro do contexto jurídico de um Estado Democrático de Direito Social. Por isso, é dever de todos aqueles que se integram, ou não, a essa Instituição deixar consignado que NÃO PASSARÁ a regra do NÃO FALARÁS! São Paulo, 15 de março de 2012. 2