Categoria 1: Trabalhos Científicos
ESTRATEGIAS INVASIVAS DO SABIÁ (Mimosa caesalpinifolia)
José Beethoven Figueiredo Barbosa1
Denysson Amorim da Silva2
Raimeyre Nobre Dias3
Classificação botânica
Nome Científico: Mimosa caesalpinifolia
Reino:Plantae
Phylum:Magnoliophyta
Classe:Magnoliopsida
Ordem:Fabales
Família:Mimosaceae
Mimosa caesalpinifolia Benth..
Discrição da planta
O Sabiá (Mimosa caesalpinifolia, Benth) é considerada uma das árvores mais representativas
da fisionomia nordestina da caatinga, e já desperta interesse de estudos desde os primeiros
estudiosos da dinâmica vegetação do semi-árido. Braga (1953), descreve-a como uma planta
característica das matas xerófilas do Ceará, onde existe em predominância e de larga ocorrência,
indo desde o litoral, serras, sertão e vales, o que não ocorre em mesma escala nos demais
Estados Nordestinos.
Planta rústica, possui folhas compostas com folíolos eclípticos. Flora somente após o término das
águas, antecipando-se a esta a emissão de novos ramos. As flores brancas abundantes e em
capítulos contem muito néctar, revelando valor apícola. O fruto é do tipo legume é teniado, preso
por dois cordéis fibrosos que se fecham do pecíolo até a ponta da vagem, encerrando em cada
segmento uma semente pequena e leve, tanto que 12 mil sementes pesam um quilograma e
representa uma das espécies mais promissoras como combustível, porque detém rápido
crescimento. A extração de estacas e lenhas se dá aos quatro anos de idade (TIGRE, 1964).
Cada inflorescência apresenta 188 flores e em média 6 delas atingem estágio de fruto. A duração
do ciclo floral é de 9 dias, o fruto apresenta em média 8,55 cm de comprimento por 1 cm de
largura com 6,91 septos por lomento (BARBOSA et al. 1995).
A propagação por semente tem baixo percentual de germinação, em torno de 40%, revelando o
efeito de uma dormência física situada no tegumento. Dentre alguns tratamentos testados no
sentido de elevar a germinação destacaram-se a escarificação química com ácido sulfúrico
concentrado durante 5 minutos, resultando em um percentual de germinação de 80% em dez
dias. A escarificação mecânica, a 100rpm, forneceu um percentual de 80% no mesmo prazo de
dias. O melhor resultado obtido foi a escarificação manual (lixa atritando sobre a semente),
obtendo um percentual de 81%. (BARBOSA et al., 1989).
Discrição processo de invasão
Introdução:
As primeiras plantas foram introduzidas no Estado de Roraima durante a instalação de um
bosque-pomar nas dependências da Escola Agrotécnica, em 1988. Aproximadamente 10 mudas
foram plantadas em conjunto com outras arbóreas, como Tamarindos, Mangueiras, Cajueiros e
Coqueiros. Ao decurso de 10 anos, a maioria da área do pomar estava dominada pelo Sabiá,
restando poucas fruteiras na periferia da pequena “mata” formada.
Atualmente a área possui ambiente de floresta onde outrora era uma savana com pequenos
elementos arbóreos, e onde anualmente se registrava a ocorrência de incêndio. As novas áreas
colonizadas pela invasora também sofreram com a ocorrência de fogo, mas o Sabiá se mostrou
resistente a este impacto. Observa-se que ao atingir determinado tamanho, as ilhas de matas de
Sabiá não permitem mais a penetração do fogo no seu interior. Anualmente, nos meses de menor
pluviosidade, é comum a ocorrência de incêndios de origem antrópica em toda a savana
roraimense, especialmente nas proximidades dos centros urbanos.
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1
- Doutor em Silvicultura Prof. Adjunto do curso de Agronomia da Universidade Federal de Roraima – e-mail:
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– Graduando do curso de Agronomia da Universidade Federal de Roraima – e-mail: [email protected]
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- Graduando do curso de Agronomia da Universidade Federal de Roraima – e-mail: [email protected]
Contexto
A dormência é o fenômeno pelo qual as sementes de determinada espécie, mesmo sendo viáveis
e tendo todas as condições ambientais para tanto, não germinam. O fenômeno da dormência é
tido como um recurso pelo qual a natureza distribui a germinação no tempo (FOWLER e
BIANCHETTI, 2000; FOWLER e MARTINS, 2001). A via de propagação preferencial do Sabiá é por
sementes. No entanto estas apresentam dormência e, por ocasião da dispersão natural, ocorrem
grandes perdas devido à disseminação dos craspédios, designados por pequenos segmentos
unisseminados, os quais formam a vagem (ALVES et. al., 2004).
Também, Veasey et. al. (2000) relataram que a dormência de sementes é um fator importante na
dinâmica de populações naturais e está relacionada à adaptação dos indivíduos a ambientes
heterogêneos. Esses autores acrescentaram que essa variabilidade presente na natureza é
importante para a própria sobrevivência dessas populações. De acordo com Bewley e Black
(1985), a dormência garante que a germinação das sementes e, conseqüentemente, o
desenvolvimento das plântulas, ocorram na época e local mais adequado. Assim, o sucesso de
uma invasora também pode ser viabilizado pela ocorrência da dormência em sementes, que trará
mais oportunidades de sucesso de instalação dos primeiros indivíduos fixos ao substrato.
Outra característica importante é o grau de agressividade que estes indivíduos podem
desenvolver. No caso do Sabiá, a presença de acúleos é um forte armamento para dominação do
espaço, como mencionado por TIGRE (1968), que o descreve como uma árvore raramente de
porte simples, pois suas brotações do tronco e da raiz dão-lhe aspecto de planta de hábito
gregário, porém, sua copa é espalhada e pouco densa. A espécie ainda é considerada pioneira por
Lorenzi (1992), provavelmente devido à característica da copa rala possibilita a ocorrência de
auto-regeneração nas proximidades das matrizes, formando matas puras, o que pode ser
classificado como um comportamento de espécie dos primeiros estágios da formação arbórea.
Nestes termos, o trabalho foi desenvolvido para investigar a estratégia de regeneração da
espécie, tanto na colonização de novas áreas, quanto na auto-regeneração.
Área de invasão:
A partir das árvores plantadas no pomar foram sendo contaminadas áreas adjacentes,
obedecendo ao gradiente de declividade do terreno que se localiza nas proximidades (800 metros)
da calha do rio Cauamé.
Ainda se registra a ocorrência de cercas-vivas no distrito, onde está localizado o pomar, cujas
sementes foram obtidas destas matrizes, como de resto outras cercas-vivas observadas na cidade
de Boa Vista Roraima. A região onde estão localizadas as matrizes e onde se realizou este
trabalho é considerada como Savana Parque.
Resultados
Foram analisados os dados referentes às unidades de colonização de Sabiá, isto é, as ilhas de
árvores compostas unicamente de Sabiás. Para efeito de análise, foram coletados dados de 10
unidades (ilhas) de cada um dos seguintes tamanhos: ilhas pequenas e ilhas grandes. As ilhas
pequenas possuem no máximo dois indivíduos adultos capazes de produzirem descendentes, e
área máxima de 121 m2. As ilhas de tamanho grande contêm no máximo 123 indivíduos adultos
capazes de produzirem descendentes, e área máxima de 2426 m2. Foram observados dados
referentes as matrizes que compõem as ilhas (altura total, área da copa) e dados a respeito da
regeneração na área de projeção da copa e fora dela (número de indivíduos, altura da
regeneração e sua distância até o início da projeção da copa).
A TABELA 01 contêm dados referentes às médias observadas para a regeneração de ilhas
pequenas e grandes. O número de indivíduos observados nas ilhas grandes foi superior em
66,72% em relação às ilhas pequenas. Este resultado condiz com o observado, pois as ilhas
maiores possuem maior número de matrizes e estas têm copas mais desenvolvidas (692,01 m2) e
maior número de matrizes (69,75% a mais) que nas ilhas pequenas.
Em relação à altura das plantas da regeneração (plântulas e mudas), observou-se valores
numéricos equivalentes para ilhas pequenas (38,01 cm) e ilhas grandes (37,01cm). Associando-se
aos dados de valores mínimos e máximos, depreende-se que as ilhas grandes produzem um
contingente de mudas de pequeno porte, talvez provenientes de sementes do mesmo ano que
não apresentem dormência. Por outro lado, estima-se que a ocorrência de mudas com até 98,20
cm nas ilhas pequenas sejam provenientes de anos anteriores. Assim, existe uma diferença no
mecanismo de sobrevivência da regeneração desta espécie: em ilhas pequenas forma-se um
banco de plântulas permanentes com amplas chances de recrutamento destes indivíduos,
enquanto que nas ilhas grandes ocorre a formação de banco de plântulas temporário, que se
renova a cada safra de sementes. E neste caso, a regeneração só será recrutada para os
indivíduos que se distanciaram das matrizes para germinar.
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TABELA 01 - Número de indivíduos da regeneração, suas alturas e
área da copa das matrizes em áreas invadidas pelo
Sabiá (Mimosa caesalpinifolia) em 2005
. Medidas de
posição
Média
Mediana
Maior Valor
Menor Valor
Nº indivíduos
Peq*
Gde**
43,5 130,70
33,28% 100%
33 128,50
199
148
79
2
Ht (cm)
Área Copa (m2)
Peq
Gde
Peq
Gde
38,01
37,01
77,64 692,01
100% 97,14% 11,21% 100%
30,96
36,46
85,52 343,98
98,20
56,75
121
2426
11,33
19,71
6,08 124,63
* Peq: ilhas homogêneas de Sabiá de tamanho pequeno
**Gde: ilhas homogêneas de Sabiá de tamanho grande
Na TABELA 02 o número máximo de matrizes observado para ilhas pequenas foi apenas de dois
elementos. Porém estes foram capazes de produzir área de copa com até 121 m2. Em ilhas
grandes é possível observar até 123 indivíduos com 2426 se m2. A altura média destas árvores é
o dobro em ilhas grandes em relação a ilhas pequenas. Estes dados são indicativos de que a ilha
pequena aumenta de tamanho vertical e horizontal a partir de indivíduos de gerações posteriores,
especialmente considerando o hábito plagiotrópico da planta.
A distância média da regeneração das ilhas pequenas que ocorre fora da projeção da copa foi de
5,94 m. A maior distância verificada foi de 9 m, e a menor de 3 m. Esses indivíduos isolados
contribuem para o aumento em tamanho da ilha, pois criam condições para o desenvolvimento de
semelhantes ao seu entorno.
TABELA 02 - Número e altura de matrizes, distância e altura da
regeneração até a projeção da copa em áreas
invadidas pelo Sabiá (Mimosa caesalpiniifolia) em
2005
Medidas
posição
de matrizes/ilha
Média
Mediana
Maior Valor
Menor Valor
Peq* Gde*
1,2 31,3
1 11,5
123
2
4
1
Hmatrizes (m)
Ht (cm)
Peq* Gde*
3,43 6,20
3,25 5,75
5,20
10
2,0
4
Peq
135,26
160
200
35
Distância
Copa(m)
Peq
5,94
5,20
9
3
* Peq: ilhas homogêneas de Sabiá de tamanho pequeno
grande
**Gde: ilhas homogêneas de Sabiá de tamanho
Conclusões
A par dos resultados apresentados e dos indicativos da literatura científica a esse respeito,
conclui-se que o Sabiá assume um comportamento de planta invasora nas condições estudadas,
pois foi introduzida pelo homem em um ambiente distinto daquele de sua ocorrência natural, e
conseguiu estabelecer descendentes e auto regenerar-se. O comportamento invasor pode ser
registrado através da formação de pequenas e grandes ilhas de plantas que se distribuem
perifericamente ao local onde se situam as primeiras matrizes introduzidas.
Conclui-se também que a estratégia de regeneração inclui a formação de banco de plântulas
temporário em ilhas grandes e de banco de plântulas permanentes para ilhas pequenas,
considerando-a como uma espécie pioneira e heliófita. Apesar disto, a copa pouco densa favorece
a ocorrência de auto regeneração, havendo recrutamento daquelas plântulas que germinam
abaixo das projeções das copas. O crescimento das ilhas pequenas também ocorre por
incorporação de recrutas nascidos fora da projeção da copa. As ilhas grandes crescem
preferencialmente pela incorporação de pequenas ilhas.
A dormência das sementes é forte aliada da espécie para sua manutenção no ambiente como
invasora, vez que resiste a períodos secos e ao fogo, além de fornecer uma taxa de indivíduos
viáveis a cada safra, pois é de média intensidade.
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Recomendações
Recomenda-se o desenvolvimento de pesquisas no controle da expansão natural da espécie a fim
de ser comparado com trabalhos idênticos em áreas onde a espécie é considerada exótica ou
invasora.
Recomenda-se ainda o controle rígido em locais onde a espécie foi introduzida, pois em um prazo
inferior a dez anos ela assumiu porte florestal em extensas áreas e provavelmente já houve
contaminação de novas áreas com sementes.
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Referências
ALVES, E. U.; SADER,R.; BRUNO, R. DE L. A.; ALVES, A. U. Dormência e desenvolvimento de
sementes de sabiá (Mimosa caesalpiniifolia Benth.) Rev. Árvore v.28 n.5 Viçosa set./out. 2004.
BARBOSA , J. B. F.; LIMA, A. C. S.; PONTES FILHO, R. A. P.NASCIMENTO. Quebra de dormência de
sementes de Sabiá (Mimosa caesalpiniifolia Benth.). Encontro Universitário de Iniciação a
Pesquisa, n°8, p.046. Fortaleza, 1989.
BARBOSA , J. B. F.; NASCIMENTO, J. F.; CAVALCANTE, J. L. R. Ensayos sobre la maturacion
fisiológica de semillas de Mimosa caesalpiniifolia Benth. Congreso Venezolano de Botanica, nº
13, p.85, Ciudad Bolívar, 1995.
BASKIN, J.M.; BASKIN, C.C. The annual dormancy cycle in buried weed seeds: a continuum.
BioScience, v.35, p.492-498, 1985.
BEWLEY, J.D.; BLACK, M. Seeds: physiology of development and germination. New York: Plenum
Press, 1985. 367p.
BRAGA, R. Plantas do Nordeste, Especialmente do Ceará. Fortaleza,Imprensa Oficial, 1953.
423p.
FOWLER, J.A.P.; BIANCHETTI, A. Dormência em sementes florestais. Colombo: EMBRAPA
Florestas, 2000. 27p. (Documentos, 40).
FOWLER, J.A.P.; MARTINS, E.G. Coleta de sementes. In: Manejo de sementes de espécies
florestais, Colombo: EMBRAPA Florestas, 2001. p.9-13. (Documentos, 58).
LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas
do Brasil. 3.ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2000. v.1. 351p.
TIGRE, C. B. Guia para o reflorestamento do Polígono das secas. Fortaleza, DNOCS,1964.
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TIGRE, C. B. Silvicultura para Matas Xerófitas: Sabiá. Fortaleza, DNOCS, 1968. 151 a 154 p.
VEASEY, E.A.; FREITAS, J.C.T.; SCHAMMASS, E.A. Variabilidade da dormência de sementes entre e
dentro de espécies de Sesbania. Scientia Agrícola, v.57, n.2, p.299-304, 2000.
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