A CLÍNICA DA TRANSIOCIONALIDADE: UM ESTUDO COM ADOLESCENTES EM REGIME DE SEMILIBERDADE NA CIDADE DE LONDRINA – PR Ana Paula L Janene1; Keila Fernanda Bastos de Oliveira2; Josiani Santos Martins3; Henrique Siena Zanon4; Lincoln S Borges5; Marina Thays de Godoy Canuto Lemos6; Mérylin Janazze Garcia7; Natalia Zanuto de Oliveira8; Thanializ Belizario Mastelani9 Patrícia Castelo Branco10 Silvia do Carmo Pattarelli11 RESUMO: O presente estudo faz parte do projeto: “A subjetivação do adolescente contemporâneo: a clínica psicanalítica diferenciada”, que conta com o apoio financeiro da Fundação Araucária – PR. Busca estudar o fenômeno da adolescência na sociedade contemporânea, a partir do referencial teórico da Psicanálise, especialmente Freud e Winnicott. O trabalho é realizado na Casa Semi-liberdade na cidade de Londrina e o publico atendido são os adolescentes em conflito com a lei no cumprimento de medida sócio-educativa. A medida sócio-educativa de semi-liberdade funciona em um espaço físico que segue um modelo de moradia, sendo uma “liberdade” limitada e não possui prazo determinado, a medida visa respeitar o desenvolvimento do jovem e garantir-lhes proteção. O projeto propõe entender de que forma estes adolescentes constroem sua subjetividade, bem como seu crescimento psíquico e possibilita o desenvolvimento de um espaço onde é possível trabalhar utilizando os conceitos da teoria winnicottiana PALAVRAS-CHAVE: adolescência, subjetividade, clínica da transicionalidade, semi-liberdade. O projeto utiliza como referencial teórico a Psicanálise, especialmente Winnicott, que contribui com alguns conceitos utilizados nos atendimentos ao adolescente em conflito com a lei, como a clinica da transicionalidade. Considera-se esta como uma clinica 1 Discente da UniFil – [email protected] Discente da UniFil – [email protected] 3 Discente da UniFil – [email protected] 4 Discente e bolsista IC/ Fundação Araucária da UniFil - [email protected] 5 Discente da UniFil – [email protected] 6 Discente da UniFil – [email protected] 7 Discente da UniFil – [email protected] 8 Discente da UniFil – [email protected] 9 Discente da UniFil – [email protected] 10 Orientadora - Mestre e Docente do Centro Universitário Filadélfia - UniFil 2 11 Orientadora – Psicóloga, Mestre e Docente do Centro Universitário Filadélfia - UniFil diferenciada pelo fato de não ser os adolescentes que procuram o tratamento psicoterápico e sim nós que disponibilizamos o atendimento a eles, ou seja, vamos até o paciente. A Teoria psicanalítica afirma que a adolescência é um período normal do desenvolvimento, sendo marcado por conflitos internos e de sofrimento devido as mudanças físicas, sociais e psicológicas, pois por ser um processo psicossocial gera diferentes características que dependem do ambiente que o adolescente se desenvolve. Destaca também o conflito com os pais que geram dificuldades para o adolescente o que torna um aspecto importante desta carga emocional. A organização Mundial da saúde considera a adolescência como constituída em duas fases: de 10 a 16 anos e dos 16 aos 20 anos. Porém em geral a adolescência é dividida em três etapas: adolescência inicial (dos 10 aos 14 anos); adolescência média (dos 14 aos 17 anos) e por fim a terceira que é a adolescência final ( dos 17 aos 20 anos). A palavra “Adolescência” tem origem duplamente etimológica, designam do latim ad (a, para) e olescer (crescer), o que significa a condição ou processo de crescimento, onde o jovem esta apto a crescer. Também designa da “adolescer”, que tem origem da palavra adoecer. Assim, observa-se que é necessário nessa fase uma aptidão para crescer, no sentido físico e psicológico e para adoecer, em termos de sofrimento psíquico, por conseqüência das mudanças biológicas e mentais dessa fase do desenvolvimento. Portanto, é possível caracterizar a adolescência da seguinte maneira: redefinição da imagem corporal, culminação do processo de separação/individuação e substituição do vinculo de dependência simbiótica com os pais, elaboração de lutos referentes a perda da infância, estabelecimento de uma escala de valores morais, busca de identificações nos grupos de iguais, estabelecimento de uma padrão de luta ou fuga no relacionamento com a próxima geração, aceitação dos ritos de iniciação como adulto, assunção das funções os papéis sexuais. Segundo Outeiral (2003, pg. 7): [...] Vive o adolescente, neste momento evolutivo, a perda de seu corpo infantil, com uma mente ainda infantil e com um corpo que vai se fazendo inexoravelmente adulto, que ele teme, desconhece e deseja, provavelmente, que ele percebe aos poucos diferente do que idealizava ter quando adulto. Assim, querendo ou não, o adolescente é levado a habitar um novo corpo e a experimentar uma nova mente. Frente a esta transformação, desejada por um lado e por outro vivida como uma ameaça e uma invasão, o adolescente busca um refugio regressivo em seu mundo interno, dentro de si mesmo [...] A cliníca da Transicionalidade, é um conceito criado por D. W Winnicott, em seus estudos a partir de suas experiências com bebês no Paddington Green Children’s Hospital e no Queen’s Hospital for Children ao longo de quadro décadas. Onde observou mais de 60.000 bebês, crianças, mães, pais e avós. A partir, destes estudos ele descreveu um certo padrão de comportamento infantil, onde o bebê estende sua mão para uma espátula, e se vê num dilema de segura-la ou colocá-la na boca, com essa experiência é colocada em pratica um dos seus conceitos de “período de hesitação”, ou seja, um espaço em que o bebê ele percebe o objeto, e pensa o que fará com ele, percebe que pode manipulá-lo e está separado dele. Este conceito de “período de hesitação” se tornou importante para a psicanálise, pois é o momento em que o paciente está em busca de uma intimidade na situação analítica, onde aos poucos fará a sua primeira contribuição verbal ou gestual. É no “espaço transicional” que ocorre este período, e por conseqüência, como no jogo do rabisco; outro conceito criado por Winnicott; que irá desabrochar um gesto criativo, que será o rabisco. Também será neste espaço transicional que irá ocorrer as outras formas de intervenções como, utilizados no projeto, os jogos de entretenimentos, desenhos e os diálogos, onde de forma verbal e não verbal os adolescentes (pacientes), irão expor seus conteúdos e regredir para as fases primitivas na tentativa de “corrigir” as falhas em sua constituição como sujeito. Devido às mudanças no desenvolvimento emocional desses adolescentes através da psicanalise e em especial da teoria Winnicottiana, o estudo visa compreender a subjetividade dos jovens em conflito com a lei, a reestruturação e elaboração dos conteúdos psíquicos, realidade atual e historia de vida. Com a análise da eficácia do atendimento com intervenções breves em ambiente facilitador iremos proporcionar um espaço em que o adolescente possa se sentir disponível em obter um crescimento pessoal. Através dos encontros semanais com duração de 1h e 30 min, é possível aprender e ouvir a historia de cada adolescente em conflito com a lei e suas dificuldades, sendo trabalhados através de atividades lúdicas, diálogos, esporte, filmes e jogos de entretenimento. As conversas são sugeridas pelos adolescentes com temas relacionados à suas vivências e realidade atual. O estudo esta em andamento e por isso não possui resultados conclusivos, porém é possível observar algumas características, como por exemplo, a participação de alguns adolescentes nas atividades propostas. Também o vinculo terapêutico estabelecido entre os jovens e estagiários que possibilita um dialogo onde possam contar sobre suas experiências com drogas e a criminalidade, o que aprendem com elas e quais reflexões fazem a partir dessas vivências. Também nessas oficinas de diálogos há aqueles adolescentes que possuem dificuldades em estabelecer uma relação terapêutica com os estagiários, alguns não se disponibilizam a falar sobre o tema e preferem ouvir o que o colega tem a dizer, em alguns momentos concordam somente, ou dão risada, mas não falam sobre sua experiência pessoal. A oficina que os jovens mais gostam são as de jogos de entretenimento, como o “UNO” e o futsal. Percebe-se que ao jogar “UNO” estabelecem uma rivalidade com os estagiários, ou seja, se unem para ganharem e fazem o possível para que os estagiários percam as partidas. No futsal geralmente todos participam, escolhem seus times através das identificações e de quem acham que jogam melhor, os educadores da casa se disponibilizam a jogar e os estagiários também. Geralmente optam pelo futsal e ao fim das partidas jogam Basquete Ainda, a instituição disponibilizou um estudo de caso mensal entre equipe técnica da casa semi-liberdade e os estagiários. Nessas reuniões são apresentados todos os adolescentes que cumprem a medida sócio educativa de semi-liberdade, sua historia de vida e qual seu desempenho durante a permanência na casa. Portanto, é importante constatar que a medida sócio-educativa de semi-liberdade favorece a realização da pesquisa, pois possibilita a reprodução de um ambiente terapêutico e com isso a aproximação e reinserção dos adolescentes nas práticas sociais. REFERÊNCIAS OUTEIRAL, J. Adolescer: estudos revisados sobre adolescência. Rio de Janeiro: Revinter. 2003. WINNICOTT, D.W. Da Pediatria a Psicanálise: obras escolhidas. Rio de Janeiro: Imago, 2000. WINNICOTT, D.W. Privação e Delinquência. 3. ed., São Paulo: Martins fontes, 1999.