Atividades grupais em saúde coletiva
ATIVID
ADES GRUP
AIS EM SAÚDE
TIVIDADES
RUPAIS
COLETIV
A: CARA
CTERÍSTIC
AS,
OLETIVA
ARACTERÍSTIC
CTERÍSTICAS
POSSIBILIDADES E LIMITES
GROUP ACTIVITIES IN PUBLIC HEAL
TH:
EALTH
CHARACTERISTICS, SCOPE AND
LIMIT
ATIONS
LIMITA
Ana Lúcia Alves Carneiro da Silva*
Denize Bouttelet Munari**
Flavia Valério de Lima***
Weder de Oliveira Silva****
RESUMO: No cotidiano do trabalho em Saúde Coletiva, a utilização do grupo como estratégia de
assistência é alternativa para desenvolvimento de atividades educativas. Embora tais atividades sejam
muito utilizadas, nem sempre os profissionais detêm domínio dessa tecnologia. Foi objetivo neste estudo, analisar características do funcionamento dos grupos nesse contexto e verificar a percepção dos
coordenadores quanto ao seu alcance e limitações. Pesquisa de abordagem qualitativa, realizada em
unidade básica de saúde em Goiânia (GO) - Brasil, cujos dados foram coletados em dezembro/2000,
com coordenadores de grupos, através de entrevistas semi-estruturadas, observação sistematiza e diário
de campo. A análise revelou as categorias: Eu planejo da seguinte forma e Compreendendo esse processo que mostram pouca utilização do potencial dos grupos para a efetividade do trabalho em função das
limitações dos profissionais. Apesar das dificuldades, o trabalho é visto pelos coordenadores como
instrumento para melhoria da qualidade de vida da comunidade por estimular o autocuidado.
Palavras-chave: Educação em saúde; enfermagem; grupo; saúde coletiva.
ABSTRACT
ABSTRACT:: In public health daily practice, the group is a strategy to be used as an alternative for
educational activities. Although such activities are frequently used, sometimes the professionals don’t
have great skill on its technology. The purpose of this study was to analyze the group process in the public
health context and to verify the coordinators perception about its scope and its limitations. This research
has a qualitative approach and was accomplished in a Basic Health Unit at Goiania (GO). Data were
collected in December / 2000, by the use of semi-structured interviews of the group coordinators,
controlled observations and field diary filling. The analysis showed categories such as When planning, I
drift in the following way and Understanding this process, which show little use of the groups potential for
an effective work, because of limitations of the professionals. In spite of their difficulties, the coordinators
understand that kind of work as an instrument for improvement of community life quality and for stimulating
self care.
Keywords: Health education; nursing; group; public health.
INTRODUÇÃO
N
o cotidiano do trabalho em Saúde Coletiva a utilização do grupo como estratégia de assistência tem se constituído em uma alternativa
para o desenvolvimento de atividades
educativas. Embora tais atividades sejam muito
utilizadas, nem sempre os profissionais de saúde
detém o domínio dessa tecnologia, embora consideremos fundamental esse conhecimento para
a efetividade das ações propostas através dessa
modalidade de assistência.
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Nossa preocupação com essa temática foi
gerada a partir da experiência no desempenho da
assistência em saúde coletiva, quando percebemos que o grupo era utilizado com uma
estruturação pouco adequada ou pouco explorada em todo o seu potencial e também em função
dos estudos desenvolvidos pelos pesquisadores do
Núcleo de Estudos e Pesquisa em Saúde Integral
da Faculdade de Enfermagem da Universidade
Federal de Goiás (UFG), que tem estudado o gru-
Silva ALAC, Munari DB, Lima FV, Silva WO
po como estratégia de intervenção em saúde.
Ao buscarmos o aprimoramento da tecnologia
do grupo como objeto de investigação, observamos
que as atividades que acontecem no âmbito da
saúde coletiva apresentam algumas dificuldades
quanto à sua estruturação, onde nem sempre são
observadas as necessidades que o grupo assistido
apresenta, bem como sua coordenação depende
muito da disponibilidade do profissional para ser
mais ou menos efetiva.
Para este trabalho, dirigimos nosso olhar para
os grupos desenvolvidos sob o enfoque operativo
e consideramos o que propõe Munari1 para a classificação dos grupos desenvolvidos por enfermeiros, embora a coordenação dos grupos não se restrinja a esse profissional.
Nas atividades cotidianas do trabalho em
Saúde Coletiva, a utilização do grupo como estratégia de assistência tem sido amplamente empregada, principalmente nos Programas de Saúde Integral para doenças crônicas (hipertensão,
diabetes, obesidade), grupos de risco (DST e
AIDS) e grupos de gestantes e crianças.
Em se tratando desses programas, o Ministério da Saúde do Brasil2 aponta diretrizes quanto
aos aspectos técnicos estruturais necessários para
a implantação de atividades de natureza grupal,
embora não seja destacado nas orientações dos
programas a importância de capacitação do profissional para lidar com essa tecnologia.
A experiência e os desafios da utilização do
grupo no âmbito da comunidade é ainda assunto
pouco explorado e, por esse motivo, consideramos
fundamental estudarmos aqueles grupos de menor
complexidade na sua abordagem, o que não significa diminuir os cuidados para que eles sejam mais
eficientes e efetivos. Tal trabalho exige do coordenador igual empenho no estabelecimento do setting
grupal, de condições e recursos para seu melhor
desempenho, bem como de seu próprio preparo para
exercer a tarefa de coordenador do grupo3,4,5.
O trabalho com grupos exige do coordenador um preparo e habilidades particulares, uma
vez que ele deve estar envolvido com a atividade
desde a sua concepção até a avaliação, que deve
contar com a participação dos membros do grupo
em uma situação de parceria, inclusive contando
com apoio da instituição onde é realizado. S’ant
Anna e Ferriani6 pontuam algumas dificuldades
relacionadas à falta de credibilidade e apoio de
alguns profissionais frente a esse tipo de ativida-
de ao discutirem um trabalho realizado em uma unidade básica de saúde.
Assim, traçamos como objetivo nesta investigação analisar as características do funcionamento dos
grupos na assistência em saúde coletiva, partindo da
percepção dos coordenadores envolvidos nessa tarefa
quanto ao seu alcance e suas limitações.
METODOLOGIA
Traçamos o desenho metodológico deste es-
tudo, tendo como base a pesquisa qualitativa, uma
vez que essa nos apresenta condições para trabalhar o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, aprofundandose assim no mundo dos significados das ações e
relações humanas7.
Ao nos propormos discutir aspectos da utilização de grupos na assistência em Saúde Coletiva,
sob a ótica da equipe de coordenadores que trabalha com grupos, não pretendemos estabelecer estratégias ou regras de como trabalhar com grupos,
mas ampliar o conhecimento e a discussão sobre o
tema, objetivando contribuir para uma melhor utilização das atividades grupais nessa área.
O estudo foi desenvolvido em um Centro de
Atendimento Integrado à Saúde-Escola, localizado na periferia de Goiânia/Goiás, em dezembro
de 2000. Nesse local, existem grupos que estão
inseridos nos Programas de Hipertensão e Diabetes, Gestantes, Planejamento Familiar, do Leite e
no Serviço de Odontologia. Tais Programas atendem uma clientela diversificada. Os coordenadores desses grupos, sujeitos desta pesquisa, compreendem um total de cinco profissionais (uma
enfermeira, uma técnica de enfermagem, uma
assistente social, um psicólogo e uma odontóloga).
Para realizarmos a coleta de dados, utilizamos a observação sistematizada de 15 encontros
dos diversos grupos existentes na unidade e, para
a abordagem dos coordenadores, utilizamos uma
entrevista semi-estruturada que foi gravada e,
posteriormente, transcrita.
Os dados foram submetidos a análise temática,
de acordo com Bardin8, o que nos permitiu o estabelecimento de duas categorias: eu planejo da seguinte forma e compreendendo esse processo.
Todo o trabalho foi desenvolvido garantindo
os critérios da Resolução 196/96, do Conselho
Nacional de Saúde, que regulamenta as normas
de pesquisa com seres humanos, sendo que a
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pesquisa foi aprovada pela Comissão de Ética em
Pesquisa Médica Humana e Animal do Hospital
das Clínicas da Universidade Federal de Goiás.
RESUL
TADOS
ESULT
E
DISCUSSÃO
A observação dos grupos e o contato com os
seus coordenadores nos permitiram identificar algumas características presentes nesse tipo de serviço, mostrando o grande desafio que é
implementar esse tipo de atividade. A seguir apresentamos e discutimos os aspectos relevantes presentes nas categorias identificadas a partir da análise dos dados.
Eu Planejo da Seguinte F
orma
Forma
Essa categoria revela as características observadas nos grupos sendo que, quanto ao objetivo das atividades, verificamos que todas desenvolvidas naquela Unidade, em todos os grupos
possuem um caráter informativo, sendo basicamente realizado através de palestras, sem uma participação ativa dos membros do grupo:
O objetivo é estar trazendo o grupo para estar discutindo e passando algumas informações que o Ministério da
Saúde coloca que este trabalho seja feito.(E1)
O trabalho é desenvolvido de acordo com um
cronograma anual ou semestral, preestabelecido
pela equipe de coordenadores, sendo que o contrato entre os membros dos grupos (coordenadores
e participantes) é firmado de forma vertical, ou seja,
os coordenadores estabelecem as atividades que
serão realizadas durante o período sem a contribuição dos participantes dos grupos:
Nósfazemosumcronogramaduranteosemestretodode
palestrasqueépreviamentedefinido,issonãomuda.(E1)
As reuniões mantêm um padrão de distribuição de tarefas entre os coordenadores, quando é o caso, e as mudanças se restringem ao tema
que será abordado e ao palestrante que falará
naquele dia:
Como são quatro reuniões, para não ficar chato e
repetitivo, eu procuro na primeira reunião apresentar o
grupo, falar como funciona, como selecionamos o paciente, como ele tem que se portar aqui, sobre a freqüência, de não estar faltando sem justificativa. (E4)
Observamos que o grupo funciona de modo
formal, centrado na figura do coordenador, que
determina o rumo que o grupo deve seguir e ofe-
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rece poucas oportunidades para que ele se manifeste. Segundo as informações obtidas durante as entrevistas e também durante nossas observações,
verificamos que o auditório é o local onde são
realizadas quase todas as reuniões dos grupos, espaço que não favorece condições muito adequadas ao trabalho grupal. Sabemos que a questão
do conforto e adequação das condições físicas é
indispensável ao bom andamento desse tipo de
atividade. Loomis9 ressalta que o ambiente físico
deverá facilitar ao invés de constranger o funcionamento do grupo.
A utilização de recursos para o desenvolvimento dos grupos, além de ser escassa, é pouco
explorada. Os conteúdos das reuniões parecem
não despertar o interesse dos participantes, os recursos disponíveis parecem antigos e não parecem integrados com a atividade. Percebemos que
há melhor elaboração dos recursos a serem utilizados nos grupos quando há a participação de estagiários durante o trabalho dos grupos.
O trabalho em equipe é destacado pelos sujeitos como sendo algo positivo no planejamento
e desenvolvimento das atividades grupais, sendo
que cada grupo conta com a participação, na equipe de coordenadores, de profissionais específicos
de cada área. Apenas o Serviço Social tem uma
participação direta ou indireta em todos os grupos (cadastramento, seleção dos participantes e/
ou coordenação das reuniões).
Observamos, na percepção de um dos entrevistados, que o trabalho em equipe poderia ser
mais produtivo se não fosse tão fragmentado:
Se tivéssemos a formação de uma equipe de uma forma
mais coesa, mais consistente isso daria um outro
resultado.(E5)
Isso corrobora os apontamentos de
Moscovici10 que considera a equipe como um grupo que compreende seus objetivos e está mobilizado para alcançá-los, de forma conjunta e compartilhada.
Pudemos apreender nas falas dos sujeitos que
eles possuem pouco preparo específico para a coordenação de grupos. A maioria entende o grupo
como um agrupamento de pessoas e a dinâmica
do grupo apenas como um conjunto de técnicas
utilizadas para descontração ou como estratégia
de repasse de temas preestabelecidos. Exemplo de
um depoimento:
o objetivo é estar passando informação, porque a gente
achaquetrabalharnoindividualnãoproduztantoquan-
Silva ALAC, Munari DB, Lima FV, Silva WO
to se trabalhar no coletivo. Precisamos dividir o grupo
que estava muito grande, mesmo assim, estava sendo
impossível dar alguma dinâmica pra eles. (E1)
É importante considerarmos aqui as diferenças existentes entre técnica e dinâmica de grupo. As técnicas ou estratégias de abordagem de
grupo se referem ao conjunto de procedimentos e
estratégias que fundamentam a tarefa, são úteis
na medida em que respeitam as pessoas e são colocadas a seu serviço5. A dinâmica, por sua vez,
constitui o movimento interno e externo do grupo e, neste contexto, significa mais que um simples agregado de pessoas trabalhando junto, pois
possui identidade própria, se fundamenta em regras e formas de funcionamento que só fazem sentido para aquele grupo específico e naquele determinado momento.
Na fala dos entrevistados, a base para o desenvolvimento da atividade fundamenta-se nos aspectos técnicos e no preparo do conteúdo a ser repassado ao grupo. Segundo os coordenadores, ter o domínio da palavra e de alguns recursos didáticos é suficiente para o bom desenvolvimento da tarefa.
Não podemos desconsiderar a importância
da capacidade técnica e de conteúdo para a realização dessas atividades, pois, segundo Mailhiot11,
a integração do grupo e sua eficácia dependem
da competência de seus componentes em relação
à atividade a realizar.
No entanto, possuir conhecimentos em dinâmica de grupo é um dos pré-requisitos para o
profissional que trabalha nessa perspectiva. No
preparo do coordenador, um outro aspecto fundamental é o preparo teórico/emocional que o possibilita apreender as nuanças da relação humana
e aproveitar o valor terapêutico do grupo12,13.
Os entrevistados referem que o investimento
nessa área se restringiu ao preparo técnico para trabalhar com os Programas em que os grupos estão
inseridos. Esta preocupação com o conteúdo fica
evidenciada ao analisarmos os vários manuais dos
Programas editados pelo Ministério da Saúde, pois
neles não há nada de especifico de como formar e
manter um grupo. Munari1 refere que eles, na maioria das vezes, são as únicas referências dos profissionais designados para o trabalho com os grupos.
A fala de um entrevistado, pela formação em
psicologia, ao contrário das demais, destaca a
importância do preparo do coordenador para estar desempenhando bem esta função, colocando
que é necessário se investir nesse preparo.
É precisoinvestir no conhecimento do coordenador, enquanto indivíduo para trabalhar em grupo. Seria importantequeelefossemembrodeumgrupoenquantocliente pra vivenciar esse processo.(E5)
Compreendendo esse Processo
Nessa categoria, buscamos compreender os aspectos da dinâmica dos grupos vistos sob a perspectiva dos coordenadores, embora o termo dinâmica
seja entendido pela maioria dos entrevistados como
técnicas e/ou palestras.
Um dos aspectos presente nessas falas é quanto
à forma de compreender o que se passa no grupo, ou
seja, o modo como os coordenadores fazem a leitura
do grupo:
Esse trabalho junto com eles é importante, muitas vezes um palestrante fala de um jeito, mas no fundo o
auditório, os pacientes estão tendo dificuldades em
assimilar aquilo que ele está falando. (E3)
Se não houver muito jogo de cintura e muita flexibilidade você se perde ali dentro. Conhecendo a realidade do grupo é interessante tocar para trabalhar essa
questão no contexto emocional, focar um pouco mais
a história do grupo.(E5)
A capacidade de agir de acordo com o movimento do grupo está intimamente ligada ao preparo
do coordenador em entender e trabalhar com a dinâmica grupal. Andaló13 ressalta que a condução do
grupo exige do coordenador conhecimento dos processos grupais e da dinâmica de grupo. Essa leitura
pode levar o coordenador a ter certa flexibilidade
no preparo das reuniões, mesmo quando convida um
palestrante, tendo sensibilidade de considerar as
necessidades do grupo e o enquadre específico para
a atividade.
O que percebemos a esse respeito é que o grupo não é acompanhado em seu movimento, o que
pode ser observado na fala dos próprios entrevistados:
De vez em quando, precisa estar mudando o jeito das
reuniões para ver se elas participam mais. (E2)
Mesmo que eu tenha tema específico, as situações emocionais são inerentes ao grupo. (E5)
Sabemos que a disponibilidade do coordenador para o trabalho com grupos é de fundamental importância e pode influenciar positiva ou
negativamente em vários aspectos do desenvolvimento desta atividade13. É visível em algumas falas que muitas vezes eles ingressam nesse trabalho
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porque lhes foi delegada essa função por determinação superior e não por seu próprio desejo ou
habilidade:
Eu gostava mais de trabalhar em outra atividade, mas
a diretora me passou para o pré-natal para dar mais
apoio. Assim não fui eu quem quis, foi passado e eu
comecei.(E2)
Um fator observado como dificultador do trabalho são as interferências externas durante as
reuniões, por outros pacientes que procuram atendimento do profissional que está na coordenação,
por ser ele o único disponível para resolver determinados tipos de problemas.
Por outro lado, apesar de os sujeitos colocarem que não possuem muita disponibilidade para
esse trabalho, em alguns momentos suas falas demonstram um sentimento de prazer por estarem
atuando nessas atividades, por exemplo:
Eufaçoporqueeutambémgostodegestante,gostomuito
das pacientes (E2), depois que faz a palestra, aí surge
um tanto de perguntas e a gente está ali é pra isso, pra
está esclarecendo mesmo. (E1)
Em certo sentido, parece que os coordenadores reconhecem que para melhor efetividade
do trabalho de grupo é preciso envolvimento do
coordenador, tanto quanto dos membros do grupo. Além da disponibilidade do profissional em
estar trabalhando, a disponibilidade do cliente em
participar de um grupo também é de fundamental importância para o sucesso do grupo.
Em todos os grupos percebemos que a participação é sempre vinculada à distribuição de
medicamentos para os hipertensos, de kits de enxoval para as gestantes, de anticoncepcional e
preservativos no Planejamento Familiar, de leite
e da inclusão no tratamento dentário no grupo
de Odontologia. Nesse aspecto, vale considerar
que a obrigação em participar pode consistir em
um fator de desinteresse se a pessoa não compreende o valor do trabalho ou não é motivada9.
Apesar disso, observamos que boa parte dos
clientes mostra disponibilidade em estar participando dos grupos, assim como as falas dos entrevistados também confirmam nossas impressões:
também destaca esse problema:
No início é muito difícil, porque às vezes você pega um
grupo que é ótimo, parece que ele também estimula a
gente, perguntam, querem saber mais. Mas quando
você pega aquele grupo fraquinho você fica até mais
desmotivada, você não prepara nada. (E2)
A seleção dos membros do grupo e a adequação de atividades devem se constituir em um dos critérios para a estruturação do grupo, tendo em vista o
que nos alerta Mailhiot11 a respeito desse aspecto. O
autor descreve como inaptos situacionais aqueles
membros que não se integram ao trabalho porque a
tarefa e a estrutura do grupo não lhe são atrativas ou
o clima existente no grupo os inibem.
A disponibilidade para o trabalho tanto do
coordenador quanto dos membros do grupo é um
fator que favorece, entre outros aspectos, a criação do vínculo entre eles dentro do grupo e este é
um elemento que facilita muito o trabalho do coordenador4.
Esse aspecto é bastante marcado na fala de alguns coordenadores como um fator facilitador de
desenvolvimento desse trabalho:
A empatia é importante porque quando eles não têm
uma empatia com você não adianta porque, eles são
como as crianças se eles não gostam de você, não te
aceitam. Não adianta, e se tentar é em vão.(E3)
O vínculo entre os membros também é valorizado na fala dos coordenadores. A troca de experiência existente dentro do grupo é apontada
como fator muito positivo:
O grupo dá a oportunidade de espelho para o cliente, dá
oportunidadedelevivenciarahistóriadeleapartirdahistóriadooutro,eleenriquecesuaelaboraçãodecrescimento
psíquicoesocial. (E5)
A avaliação desse trabalho é realizada através
do feedback que recebem dos próprios clientes.
A gente sempre tem que estar avaliando e o grupo mais
do que ninguém é quem pode estar mostrando isso pra
gente. (E1)
Por outro lado, um dos entrevistados tem
uma visão diferente ao falar sobre os resultados
alcançados:
Um ponto favorável é que elas quase não faltam estão
semprepresente.Nuncafaltaramtodasasgestantespara
que precisássemos agendar outra reunião. (E2)
Eu acho que eles têm resultados parciais eles não atendem ao que poderiam, eles não dão resultados que poderiam dar. (E5)
Por outro lado, observamos algumas reuniões
em que era visível a dificuldade dos participantes em
permanecerem atentos. A fala de um coordenador
Percebemos pelas falas que, de um modo geral, não existem mecanismos formais de avaliação
nem sua sistematização. Segundo Munari e
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Silva ALAC, Munari DB, Lima FV, Silva WO
Rodrigues (p.88)4
a avaliação do grupo deve ser considerada partindo de parâmetros que visualizem no mínimo a manutenção dos objetivos do grupo, o aprendizado dos
seus participantes e a mudança do comportamento inicial.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A
o iniciarmos este trabalho, inúmeras eram
as nossas dúvidas e questionamentos acerca da
condução de grupos em Saúde Coletiva, e estudando especificamente alguns grupos dentro de
uma Unidade Básica de Saúde, obtivemos ao final deste estudo algumas respostas que permitiram avançar na compreensão dessa tecnologia e
melhor dimensionar seu planejamento no âmbito
da Saúde Coletiva.
O trabalho de observação nos proporcionou
um foco privilegiado que associado com os conhecimentos adquiridos com as leituras sobre o
assunto e as entrevistas, nos abriu a visão para
observar pequenos detalhes que foram de grande
importância para chegarmos à essência deste trabalho.
As reuniões dos grupos são planejadas pela
equipe multidisciplinar, mas na maioria das reuniões a estratégia de abordagem do grupo é a palestra que pouco possibilita a interação do grupo
com o profissional coordenador. Como não existe
o preparo específico para a abordagem de cada grupo em particular, os coordenadores mantêm o
mesmo padrão de funcionamento em todos os grupos, apesar das diferenças da clientela e freqüência das atividades.
A dinâmica de funcionamento desses grupos
não é utilizada pelos coordenadores como forma
de enriquecer as vivências dos grupos. Isso acontece em função da inexistência de um
enquadramento específico para cada grupo, bem
como da exploração da potencialidade presente
na dinâmica grupal, até pela limitação de compreensão do que venha ser essa dinâmica pelos próprios coordenadores. Assim, a prática é
direcionada pelos erros e acertos adquiridos no
dia-a-dia do trabalho com esses grupos.
A pouca disponibilidade dos profissionais, devido à grande demanda e exigências do serviço, associada aos problemas burocráticos da instituição,
faz com que esse trabalho não revele toda a
potencialidade de assistência que o grupo poderia
oferecer para a clientela atendida.
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas para
a manutenção dos grupos, eles são vistos pelos coordenadores como importante instrumento para a
melhoria da qualidade de vida dos membros dos grupos, pois oferecem a possibilidade de um atendimento por uma equipe multidisciplinar que oferece melhores condições para que o próprio usuário aprenda
a cuidar de sua saúde.
Concluímos que dentro da Saúde Coletiva, assim como em outras áreas da assistência em saúde, o
trabalho grupal merece investimento no que diz respeito aos aspectos que se relacionam com o estabelecimento do seu enquadramento, infraestrutura
para sua realização, suporte teórico e técnico aos profissionais.
Compreendemos que o grupo como recurso
para a assistência em saúde coletiva é um meio
de possibilitar mudanças no modo como o ser humano compreende e se responsabiliza por sua saúde, de melhorar sua qualidade de vida e de ampliar a efetividade das relações entre os usuários
e a instituição. Isso nos indica que o domínio dessa
tecnologia é fundamental e a capacitação de profissionais para tanto é urgente.
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CARA
CTERÍSTIC
AS, POSIBILID
ADES Y LÍMITES
ARACTERÍSTIC
CTERÍSTICAS
POSIBILIDADES
RESUMEN: En el cotidiano del trabajo en salud colectiva, la utilización del grupo como estrategia de
atención es alternativa para desarrollo de actividades educativas. Aunque tales actividades sean muy
utilizadas, ni siempre los profesionales detienen dominio de esa tecnologia. El objetivo de este estudio
fue analizar las características del funcionamiento de eses grupos y verificar la percepción de los
coordinadores en relación con su alcance y limitaciones. Investigación de abordaje cualitativo, realizada
en unidad basica de salud/Goiânia(GO) - Brasil, cuyos datos fueron recolectados en diciembre/2000 con
los coordinadores de grupos, a través de entrevistas semi-estructuradas, observación sistematizada y
diario de campo. El análisis revelou categorías: Yo planeo de la siguiente forma y Comprendiendo ese
proceso que revelan poca utilización del potencial de grupos para la efectividad del trabajo en función
de las limitaciones de los profesionales. Apesar de las dificultades encontradas, el trabajo es visto por los
coordinadores como instrumento para el mejoramiento de la calidad de vida de la comunidad ya que
eso estimula el autocuidado.
Palabras clave: Educación en salud; enfermería; grupo; salud colectiva.
Recebido em: 25.07.2002
Aprovado em: 12.02.2003
Notas
*Programa de Saúde da Família/Município de Senador Canedo-GO
**Faculdade de Enfermagem/Universidade Federal de Goiás
***Programa Saúde da Família/Município de Mairipotaba- GO
****Programa Saúde da Família/Município de Planaltina de Goiás- GO
*****
Agradecimentos ao CNPq, pelo financiamento dessa pesquisa e ao Núcleo de Estudos e Pesquisas em Saúde Integral da Faculdade de
Enfermagem/UFG.
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