A POLÍTICA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL E SUA IMPLEMENTAÇÃO NO TERRITÓRIO RURAL OESTE1 Rosana Maria Badalotti 2, Joarina da Cunha 3 RESUMO: A problemática desta pesquisa objetivou analisar o processo de implementação da Política Nacional de Desenvolvimento Territorial proposta pelo MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) e a SDT (Secretaria de Desenvolvimento Territorial) para os territórios rurais no Brasil. A área de referência para esta pesquisa corresponde ao território rural denominado Oeste, espaço pertencente à Região Oeste de Santa Catarina e composto por 24 municípios. Este paper possui como fundamento metodológico a pesquisa qualitativa, na medida em que procuramos priorizar as representações dos agentes institucionais envolvidos com a política. No processo de implementação do território Oeste foi possível identificar a participação de diferentes agentes sociais envolvidos com a agricultura familiar de diferentes segmentos e com propostas e objetivos minimamente semelhantes. Os projetos aprovados pelo território entre 2005 e 2008 foram executados em sua maioria (72 projetos) pelas prefeituras municipais (21 prefeituras) e pela Associação dos Pequenos Agricultores do Oeste Catarinense (APACO) (7 projetos), envolvendo os seguintes eixos estratégicos: - Desenvolvimento das Cadeias Produtivas Alternativas (com ênfase à cadeia do leite); - Comercialização; - Educação no campo; - Meio Ambiente. PALAVRAS-CHAVE: políticas públicas; desenvolvimento rural; oeste catarinense. INTRODUÇÃO: A problemática desta pesquisa pretendeu analisar o processo de implementação da Política Nacional de Desenvolvimento Territorial proposta pelo MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) e a SDT (Secretaria de Desenvolvimento Territorial) para os territórios rurais no Brasil. O universo desta pesquisa foi definido a partir do ordenamento territorial estabelecido pelo MDA/SDT, a partir do qual se delimitou o Território Oeste, espaço pertencente à Região Oeste de Santa Catarina e composto por 24 municípios. Neste sentido, a pesquisa buscou mapear os municípios, instituições e ações/projetos envolvidos por esta política na área de abrangência citada. Visando atingir os objetivos propostos, privilegiamos uma abordagem macro, na medida em que a mesma abrange o universo apenas dos implementadores da política investigada. Um dos principais objetivos desta política é sugerir uma nova maneira de “conceber e de implementar políticas públicas que enfatizem o 'desenvolvimento rural sustentável' ”(SDT/MDA, 2005 (a), p.6). Neste sentido, a concepção de ordenamento territorial diz respeito a um processo a ser construído e constituído nos Planos Territoriais de Desenvolvimento Rural Sustentável (PTDRS), entendido como “um conjunto organizado de diretrizes, estratégias e compromissos relativos às ações que serão realizadas no futuro visando ao desenvolvimento sustentável nos territórios (...)” (idem, p. 10) Os espaços de atuação de processos sociais e políticas públicas não se restringem somente ao Estado, se estendendo para outras esferas sociais não-governamentais, como é o caso dos movimentos sociais, ONGs, sindicatos, cooperativas, associações, etc. 1 Esta pesquisa esteve articulada a um Projeto Integrado de longa duração que reuniu dez doutores e oito bolsistas da UNOCHAPECÓ (Universidade Comunitária da Região de Chapecó) em três linhas de pesquisa do Projeto intitulado “Políticas Públicas e Cidadania”, projeto este aprovado no Edital 005/REITORIA/2007 e finalizado em março de 2009. O presente paper é resultado de um dos projetos da linha “Territorialidade e Redes Sociais”. 2 Professora Doutora da Área de Ciências Humanas e Jurídicas da Universidade Comunitária da Região de Chapecó – UNOCHAPECÓ. E-mail: [email protected] 3 Acadêmica do Curso de Serviço Social da Universidade Comunitária da Região de Chapecó – UNOCHAPECÓ, bolsista da pesquisa. E-mail: joarina @unochapeco.edu.br Para situar o papel da Política Nacional de Desenvolvimento Territorial, compartilhamos do pressuposto de Andion (2007, p.97-8) de que o Desenvolvimento Territorial deve ser compreendido como integrador de duas dimensões analíticas interdependentes: a dimensão empírica e a dimensão normativa. A dimensão empírica pressupõe a análise do desenvolvimento territorial enquanto processo e de que maneira ele é colocado em prática por meio de ações territoriais. A dimensão normativa percebe o DT como uma finalidade a ser alcançada. As duas dimensões são perpassadas pela atuação de determinados agentes sociais, por exemplo, as ONGs. A atuação de movimentos sociais rurais a partir dos anos 80 e das ONGs a partir dos anos 90 caracterizam os espaços de institucionalidade e ações coletivas voltadas para a busca de alternativas na agricultura familiar da região. Neste paper cabe destacar o papel desempenhado pela APACO (Associação dos Pequenos Agricultores do Oeste Catarinense), ONG regional de assessoria a grupos de cooperação agrícolas na região oeste de Santa Catarina, criada em novembro de 1989, com sede no município de Chapecó (SC). 4 A APACO tem atuado desde a sua criação com programas e projetos voltados para a viabilização da agricultura familiar, mais particularmente, para aqueles agricultores organizados em grupos de cooperação agrícola. Os programas e projetos da Associação foram se constituindo historicamente de acordo com as parcerias estabelecidas com uma rede de ONGs (em âmbito regional, nacional e internacional), entidades financiadoras internacionais, com prefeituras, sindicatos, cooperativas familiares, fóruns, universidades e parcerias governamentais. (BADALOTTI, 2003, 2005) Um dos programas ao qual a associação está vinculada desde 2004 é a Política Nacional de Desenvolvimento Territorial, na qual atua como entidade executora e articuladora das ações propostas para o território Oeste. METODOLOGIA: Este paper possui como fundamento metodológico a pesquisa qualitativa, na medida em que procuramos priorizar as representações dos agentes institucionais envolvidos com a política. Os discursos e as representações construídas sobre determinadas realidades pelos sujeitos sociais não são destituídas de interesses e objetivos determinados. Podemos afirmar, portanto, que em contextos de pesquisa onde co-existem diferentes interesses, muitas vezes conflitantes, existirão também diferentes representações sobre a realidade. Para responder aos objetivos propostos utilizamos a perspectiva metodológica sugerida por Bourdieu (1996 (a), 1996 (b)) que enfatiza as relações entre objetivismo e subjetivismo, pensamento e realidade, ideologia e vida material, enquanto dualidades que têm marcado a análise das “representações sociais” e a multiplicidade de significados e interpretações advindos desta perspectiva. Segundo Minayo (1995, p. 89), nas Ciências Sociais as representações sociais “são definidas como categorias de pensamento que expressam a realidade, explicam-na, justificando-a ou questionando-a”. Do ponto de vista teórico-metodológico, esta perspectiva permite perceber a relação entre os discursos e as ações dos agentes sociais envolvidos com a problemática. O tratamento da territorialidade a partir da concepção dos agentes permite uma análise sobre os diferentes interesses, conflitos, jogos e perspectivas. Por outro lado, além de levar em conta as contribuições de Bourdieu na análise da relação entre objetividade e subjetividade, utilizaremos também a perspectiva interpretativista de Geertz (1989). Partimos do pressuposto de que tanto os discursos dos entrevistados, bem como os documentos analisados constituem representações do (s) contextos (s) em que os agentes sociais fazem parte. Portanto, as representações sociais significam determinados pontos de vista, interpretações e interesses que se manifestam individualmente e coletivamente. Para atender a investigação proposta foram utilizados os seguintes instrumentos e técnicas: Pesquisa Documental; - Pesquisa Bibliográfica; - Entrevistas. Na abordagem de campo optamos pela utilização das técnicas de entrevista como recurso para a análise das representações/discursos. De acordo com Gil (1999, p. 119) a entrevista informal, pretende a obtenção de uma visão geral do problema sendo recomendada nos estudos exploratórios, que visam abordar realidades pouco conhecidas e oferecer uma visão aproximativa do problema. Neste tipo de entrevista recorre-se a informantes-chaves, especialistas no tema em 4 Sobre a APACO, ver BADALOTTI (2003, 2005) e ANDION (2007). assunto e líderes formais e informais. As entrevistas focalizadas constituem um momento após a entrevista informal em que se pretende focar um ou mais temas do problema investigado. RESULTADOS E DISCUSSÃO: O Território do Oeste catarinense está inserido na região da AMOSC (Associação dos Municípios do Oeste Catarinense) e AMNOROESTE (Associação dos Municípios do Noroeste Catarinense), que compreende as Secretarias Regionais de Chapecó e São Lourenço do Oeste, assim organizadas pelo governo do Estado de Santa Catarina. O público majoritário deste território são os agricultores familiares. Os municípios que compõem o referido território são: Águas Frias, Campo Erê, Caxambu do Sul, Chapecó, Coronel Freitas, Cordilheira Alta, Coronel Martins, Formosa do Sul, Galvão, Guatambu, Irati, Jardinópolis, Jupiá, Nova Erechim, Nova Itaberaba, Novo Horizonte, Planalto Alegre, Quilombo, Santiago do Sul, São Bernardino, São Lourenço do Oeste, Serra Alta, Sul Brasil e União do Oeste. Além disso, estão participando das atividades territoriais os municípios de Águas de Chapecó, São Carlos e Pinhalzinho e Saudades. Os municípios de Galvão, Jupiá e Coronel Martins entenderam que melhor seria participar do território Meio Oeste Contestado, devido a sua localização. (APACO, Diagnóstico do Território Oeste de Santa Catarina, 2005 a). A transformação de produtos da agricultura familiar também está organizada em cooperativas de comercialização familiar presente em pelo menos 10 municípios, o que tem viabilizado a sua legalização do ponto de visto fiscal/tributário. Muitas agroindústrias estão ligadas a Unidade Central das Agroindústrias Familiares do Oeste de Santa Catarina (UCAF), criada em 1999 e representada pela marca Sabor Colonial. (idem, ibidem) A produção agroecológica também tem uma expressão no território através da organização de cinco núcleos da Rede Ecovida de Certificação Participativa. Estes núcleos possuem toda uma dinâmica própria de articulação microregional com atuação em São Lourenço do Oeste, Pinhalzinho, Chapecó, Coronel Martins e Quilombo. (idem, ibidem) Atualmente o território Oeste possui uma série de agentes sociais e ações envolvidas nas diversas redes de articulação, como agroindústrias familiares, turismo rural, agroecologia, movimentos sociais, cooperativismo de crédito, artesanato, conservação de recursos naturais, etc. Os movimentos sociais atuantes no território Oeste são os Sindicatos de Trabalhadores Rurais filiados a FETAESC (Federação dos Trabalhadores da Agricultura de Santa Catarina), os Sindicatos da Agricultura Familiar federados na FETRAF-SUL (Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar da Região Sul), a Associação do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA) representados nacionalmente pela Associação Nacional dos Pequenos Agricultores (ANPA), o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). (APACO, 2006 b e c) Identificamos um número de 63 entidades envolvidas com as atividades do território, entre as quais podemos destacar ONGs, Fóruns, Movimentos sociais, Associações de Municípios, Associações de Agricultores, Cooperativas de produção, comercialização e de crédito, Casas Familiares Rurais, Sindicatos, Prefeituras Municipais, Rede de Certificação, Entidade de pesquisa e extensão rural (EPAGRI) e Universidade Comunitária da Região de Chapecó (UNOCHAPECÓ). De acordo com entrevista exploratória 5 realizada com o articulador territorial representante da APACO, as negociações a respeito da escolha da entidade executora responsável pela implementação da política de desenvolvimento territorial rural no referido território iniciou logo após a definição dos territórios pelo MDA/SDT em 2004. Esta negociação perpassa interesses e um jogo de forças já constituído na região entre entidades e agentes sociais envolvidos historicamente com projetos de viabilização da agricultura familiar. A argumentação do coordenador sobre os critérios que influenciam na escolha da entidade executora pode ser interpretada a partir do que alguns autores têm definido como “capital cultural ou social”. (HIGGINS, 2005) Segundo o coordenador da APACO, a entidade possui um acúmulo de experiências na área da assessoria, elaboração de projetos e capacitações voltadas para a 5 Entrevista realizada na sede da APACO na cidade de Chapecó no dia 23 de abril de 2008. agricultura familiar, acúmulo este que determinou a escolha da entidade como executora e articuladora das ações para a constituição do Território Oeste. As ações para o Território Oeste foram planejadas e definidas a partir de espaços denominados de Oficinas, onde participaram os representantes do Núcleo Dirigente e Técnico. A composição destes núcleos tem como representantes entidades governamentais e não-governamentais da região. A composição dos núcleos constitui uma espécie de colegiado comum a todos os territórios e que são chamados de Colegiados de Desenvolvimento Territorial (CODETER's), espaços de participação de agentes governamentais e não-governamentais para as decisões e deliberações das ações dos territórios. (APACO, 2005 b) De acordo com análise documental foi possível identificar diferentes momentos de planejamento e elaboração que constituem etapas ou ciclos de gestão do território oeste a partir do ano de 2005. Entre as temáticas das oficinas podemos destacar: Gestão e Planejamento do território Oeste Catarinense; Estudo propositivo de Dinamização das economias do Território Oeste, Planificação e Gestão do Território Oeste, Gestão e Elaboração do Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável (PTDRS) do Território Oeste, Gestão Social dos Territórios Rurais – Análise e Definição dos Instrumentos de Gestão Social. (APACO, 2005 b; 2006 a) Conforme enfatizado anteriormente, as oficinas constituem espaços de planejamento, proposição e avaliação de projetos e ações para o território. Estes espaços de discussão seguem critérios temáticos e conceituais definidos a priori chamados de eixos estratégicos. Cada eixo estratégico está subdividido por linhas de ação orientadas por determinadas metas e seus respectivos projetos. Os eixos estratégicos para as ações a serem realizadas no território foram os seguintes: Desenvolvimento das Cadeias Produtivas Alternativas (com ênfase à cadeia do leite); Comercialização; - Educação no campo; - Meio Ambiente. (APACO, 2007) As cadeias produtivas escolhidas como potenciais para o desenvolvimento do território além da cadeia do leite foram às cadeias do mel, a florestal, a do frango caipira, a da fruticultura e horticultura e a da agroindustrialização. De uma maneira geral as linhas de ação que orientaram as cadeias produtivas foram: - Realização de um diagnóstico do território, com ênfase às cadeias produtivas existentes; - Análise do diagnóstico; - Planejamento a partir do diagnóstico; Estabelecimento de metas em nível territorial; - Disponibilização de assistência técnica voltada à realidade; - Estudo da viabilidade dos projetos; - Monitoramento e avaliação dos projetos entre outras. (idem, ibidem) Para a definição das prioridades, elaboração, escolha e trâmite legal dos projetos, os territórios se guiam pelas orientações institucionais do MDA. O documento do MDA/SDT entitulado, Orientações para a indicação, elaboração e trâmite de projetos territoriais em 2007 e 2008, têm como objetivo apresentar informações sobre os procedimentos e prazos relativos à indicação, por parte dos colegiados territoriais, dos projetos prioritários, e os que devem ser observados pelas demais instâncias que participam da implementação do Programa de Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais. Como orientações gerais, o documento define critérios obrigatórios e sugestão de critérios para a indicação e priorização de projetos territoriais, que deverão ser seguidos pelos colegiados territoriais. (idem, p. 1-2). Como critérios obrigatórios devem ser observados: - Os projetos devem estar vinculados aos eixos temáticos ou aglutinadores dos Planos Territoriais de Desenvolvimento Rural Sustentável – PTDRS; - Os projetos devem ter caráter de integração territorial ou intermunicipal; - Os projetos devem atender o público beneficiário das ações do MDA (agricultores (as) familiares, assentados (as) da Reforma Agrária, quilombolas, indígenas, pescadores (as) artesanais e extrativistas); - Para os projetos de empreendimentos econômicos e/ou sociais, deve-se indicar a forma de gestão que inclua a participação do colegiado territorial e público beneficiário; - Os projetos de agroindústrias têm de ser destinados a grupos com maior dificuldade de acesso ao crédito como de jovens, mulheres, quilombolas, ribeirinhos, pescadores artesanais, extrativistas e indígenas, e a agricultores (as) familiares que se enquadrem no Grupo B do PRONAF e; - No caso de municípios/territórios que apresentam baixo dinamismo econômico, os projetos agroindustriais podem também contemplar agricultores (as) familiares que se enquadrem no Grupo C do PRONAF. Em relação aos projetos apoiados entre os anos de 2005 e 2008, identificamos projetos ligados à reestruturação da cadeia do leite e outras cadeias produtivas (leite, mel e beneficiamento de grãos), apoio a comercialização, apoio a entidades como UCAF e Casa Familiar, apoio à produção orgânica, à pesca artesanal, apoio à agroindustrialização (abate de animais), apoio à educação no campo, apoio para infra-estrutura em diferentes setores (informática, produção, comercialização e educação). Os projetos aprovados pelo território neste período foram executados em sua maioria (72 projetos) pelas prefeituras municipais (21 prefeituras) e pela APACO (7 projetos). A partir da definição dos eixos estratégicos/ diretrizes e linhas de ação são elaborados os projetos específicos e as metas a serem atingidas. As potencialidades e limitações (pontos fortes e fracos) são indicadores que permitem diagnosticar as particularidades de cada território. Outra etapa do processo de desenvolvimento territorial rural é o monitoramento e avaliação dos projetos territoriais. De acordo com documento da APACO (2006 (d)), o monitoramento é “um procedimento sistemático empregado para comprovar o processo de execução de um programa ou projeto; identificar debilidades e avanços e recomendar medidas corretivas”. Já a avaliação é, “uma apreciação objetiva sobre o desenho, a execução, a eficiência e a efetividade dos resultados de um programa ou projeto”. As informações obtidas no monitoramento realizado em 2006 apontam para pontos de avanços e estrangulamento na implementação da política de desenvolvimento territorial rural sustentável no referido território. (idem, ibidem) Em relação aos avanços podemos destacar: - democratização na aplicação dos recursos; agilidade na execução dos empreendimentos; - diminuição na pressão e controle exercido pelas administrações municipais sobre os recursos; - incorporação da política de DST pelos diferentes atores sociais; - criação de leis municipais que normatizam o uso dos equipamentos coletivos entre os empreendimentos. Em relação aos estrangulamentos: - falta de vontade política de alguns municípios para dar encaminhamentos aos projetos criando burocracia e empecilhos; - pressão política no sentido de beneficiar determinados grupos em detrimento de outros; - propostas buscam beneficiar grupos de famílias de forma isolada sem articulação territorial; - prefeituras e o poder público distanciados da discussão territorial; - desvio de finalidades em alguns municípios que não seguem as determinações do MDA/SDT e as deliberações do Território. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Esta pesquisa buscou compreender e descrever aspectos que caracterizam o processo de implementação da política de desenvolvimento territorial rural no território Oeste, entre os quais buscamos destacar os princípios norteadores que caracterizam a referida política nacional e seu rebatimento em um território específico. Este rebatimento evidenciou-se na forma de execução da política, bem como nos resultados da mesma através das ações e projetos desenvolvidos no território, demonstrando que o contexto histórico de organização política de diferentes agentes sociais na região constitui um fator relevante para a aprovação por parte do MDA dos projetos propostos. Por outro lado, observamos que a gestão desta política no território Oeste depende de particularidades políticas e ideológicas que se evidenciam em torno das formas organizativas e institucionais da sociedade civil nesta região e que são justificadas como fundamentais nos processos participativos e democráticos que envolvem diferentes agentes sociais na construção e execução de programas alternativos de desenvolvimento. No processo de implementação da referida política no território Oeste foi possível identificar a participação de diferentes agentes sociais envolvidos com a agricultura familiar de diferentes segmentos e com propostas e objetivos minimamente semelhantes. A partir de verificações realizadas em pesquisas anteriores foi possível constatar que estes agentes em algumas situações formam uma Rede de agentes sociais não-governamentais e governamentais na região Oeste. A discussão sobre desenvolvimento rural sustentável e agroecologia na Região Oeste é fruto principalmente de discussões realizadas entre técnicos, movimentos sociais, ONGs, grupos de agricultores e diferentes agentes sociais ligados à agricultura familiar, composição social de agentes denominadas como Rede de Viabilização da Agricultura Familiar.6 A análise demonstra que esta rede tem passado por re-composições e novas configurações em função dos projetos e programas atuais. A relação da APACO, por exemplo, em sua relação com as instâncias governamentais também têm variado de acordo com as afinidades políticas e ideológicas. O papel ocupado pela APACO enquanto articuladora do território Oeste está 6 Termo utilizado por Badalotti (2003, 2005) a partir de estudos desenvolvidos principalmente por Scherer-Warren. relacionado à história e representatividade desta entidade na região. Os interesses do MDA convergiram àqueles da APACO e outros agentes com proximidade às questões relacionadas à agricultura familiar, principal agente beneficiário desta política. Foi possível identificar também que esta rede é um espaço destinado às negociações, proposições de projetos, avaliação da política e definição de interesses diversos relacionados ao processo de desenvolvimento territorial no universo investigado. Constatamos que existem direcionamentos metodológicos, teóricos e técnicos por parte do MDA e SDT para a execução da política nos territórios e que este processo constitui, portanto, uma arena de interesses, jogos de poder, mas também de desejos, afinidades e compartilhamentos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDION, Carolina. Atuação das ONGs nas dinâmicas de desenvolvimento territorial sustentável no meio rural de Santa Catarina: Os casos da APACO, do Centro Vianei de Educação Popular e da AGRECO. (Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas). UFSC, 2007 (Tese de Doutorado) APACO. Diagnóstico do Território Oeste de Santa Catarina. Chapecó, junho de 2005 (a). APACO. Gestão e Planejamento do Território Oeste Catarinense. Chapecó, julho de 2005 (b). APACO. Estudo Propositivo “Dinamização das Economias do Território Oeste”. Chapecó, setembro de 2005 (c). APACO. Planificação e Gestão do Território Oeste. Chapecó, fevereiro de 2006 (a). APACO. Plano de Desenvolvimento Territorial do Oeste Catarinense. Chapecó, abril de 2006 (b). APACO. Gestão e Elaboração do Plano Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável (PTDRS) do Território Oeste. Chapecó, maio de 2006 (c). APACO. Gestão Social dos Territórios Rurais – Análise e Definição dos Instrumentos de Gestão Social. Chapecó, novembro de 2006 (d). APACO. Plano de Desenvolvimento territorial do Oeste Catarinense. Projeto: Apoio a organização de agricultores familiares em cadeias produtivas (produção, agroindustrialização e comercialização) - Ênfase: Cadeia do leite, Agroindustrialização Familiar, Comercialização, Agroecologia e Atividades Educativas. Território Oeste, Chapecó, julho de 2007. BADALOTTI, Rosana M. A cooperação agrícola e a agroecologia como base para a viabilização da agricultura familiar no Oeste Catarinense: o papel da APACO (Associação dos Pequenos Agricultores do Oeste Catarinense) e demais agentes sociais. (Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas). UFSC, 2003 (Tese de Doutorado) BADALOTTI, R.M; REIS, M.J. Representações dos Agricultores Familiares sobre Programas de Cooperação Agrícola e Agroecologia. In: Guivant, J. S; Scheibe, L. F; Assmann, S. J. Desenvolvimento e conflitos no ambiente rural. Florianópolis: Editora Insular, 2005. pp. 123-160 BRASIL, Secretaria de Desenvolvimento Territorial – SDT/MDA. Referências para uma estratégia de Desenvolvimento Rural Sustentável no Brasil. Brasília: SDT/MDA, março de 2005 (a). BOURDIEU, Pierre. A força da representação. In: A economia das trocas linguísticas: o que falar quer dizer. São Paulo: EDUSP, 1996 (a). _____________. Razões práticas sobre a teoria da ação. Campinas: Editora Papirus, 1996 (b). FAVERO, Celso A; GRAMACHO, Zoraide da Silva. O Desenvolvimento Territorial Rural e a Universidade. In: Revista Informe Gepec. Vol.08, n.2, jul./dez., 2004. pp.1-18 GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Guanabara/Koogan, 1989. GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. HIGGINS, Silvio Salej. Fundamentos Teóricos do Capital Social. Chapecó: Editora Argos, 2005. MINAYO, Maria Cecília de Souza. O conceito de representações sociais dentro da sociologia clássica. In: GUARESCHI, Pedrinho; JOYCHELOVITCH, Sandra (org.). Textos em Representações Sociais. Petrópolis: Vozes, 1995.