Valoração ambiental da qualidade do ar como ferramenta na gestão de saúde pública: estudo de caso com os controladores de tráfego. Autores: Luís Fernando Amato Lourenço 1 - [email protected], Fernando Rodrigues da Silva 1 - [email protected], Paulo Hilário Nascimento Saldiva 2 - [email protected], Ubiratan De Paula Santos 3 - [email protected], Simone Georges El Khouri Miraglia 2 - [email protected] Instituição: 1 Centro Universitário Senac, 2 Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental – FMUSP, 3 Instituto de Coração (InCor) - Hospital das Clínicas da FMUSP Correspondências: +55 11 8899-7388. [email protected] Palavras chave: São Paulo, poluição atmosférica, disposição a pagar, impactos socioambientais. Título abreviado: Valoração ambiental da poluição atmosférica ABSTRACT The deleterious effects of air pollution to human’s health are widely reported in the international literature. In the lasts decades many epidemiological and experimental studies have demonstrated significant associations between health indicators and air pollutants, representing an externality imposed on society that can be expressed in economic values. In large urban cities, emissions are mainly attributed to mobile sources. The traffic controllers conduct the monitoring of the mobility of the vehicle fleet and are exposed to the main air pollutants. This study aims to evaluate the changes in the welfare of the traffic controllers, assessing their perception towards the environmental problem resulting from atmospheric emissions and their occupational exposure. Estimating the cost of the deleterious effects of environmental changes becomes an important tool to establish priorities for actions to prevent diseases and public health management. The contingent valuation method was adopted for this 1 analysis, because it allows the creation of a hypothetical scenario for the absence of a market that attributed values to public goods such as air. The preliminary results indicate an average willingness to pay of R$ 33,02 per individual. RESUMO Os efeitos deletérios da poluição atmosférica associados à saúde humana são amplamente publicados na literatura internacional. Nas últimas décadas inúmeros estudos epidemiológicos e experimentais demonstraram associações significativas entre indicadores de saúde e poluentes atmosféricos, representando uma externalidade imposta à sociedade, podendo ser expressa em valores econômicos. Nos grandes centros urbanos as emissões são atribuídas principalmente às fontes móveis. Os controladores de tráfego realizam o monitoramento da mobilidade da frota veicular e estão expostos aos poluentes atmosféricos. O estudo possui o objetivo de avaliar as mudanças no bem estar dos controladores de tráfego, analisando a sua percepção perante o problema ambiental das emissões atmosféricas e da sua exposição ocupacional. Estimar o custo dos efeitos deletérios das mudanças ambientais se torna uma importante ferramenta no estabelecimento de prioridades para ações que previnam doenças e no gerenciamento da saúde pública. O método de valoração contingente foi adotado para esta análise, pois permite a criação de um cenário hipotético para a ausência de um mercado que atribua valores a bens públicos como o ar. Os resultados preliminares da presente pesquisa indicam uma disposição média a pagar de R$ 33,02 por indivíduo. 1. INTRODUÇÃO 1.1 Poluição atmosférica e saúde pública Poluente atmosférico é definido como a introdução de qualquer forma de matéria ou energia responsável pela degradação da qualidade do ar resultante de atividades 2 antrópicas ou naturais, em concentrações nocivas ou ofensivas à saúde humana, passíveis de danos aos recursos naturais interferindo no legitimo uso do meio ambiente (OMS, 2006). A relação entre poluição atmosférica e os problemas relacionados à saúde e outras externalidades datam do século XIII, no reinado de Edward I (1272-1307), onde o uso do carvão mineral foi banido de Londres. O seu sucessor, Edward II (1307-1327), condenou à tortura quem utilizasse esse carvão. Richard II (1377-1399) adotou uma postura mais moderada restringindo a sua utilização através da taxação pelo uso (Spengler & Wilson, 1996). Estes fatos podem ser considerados como intervenções históricas na adoção de políticas públicas para o controle de emissões de poluentes. No início do século XX, três episódios (Vale do Meuse – Bélgica (1930); Donora - Pensilvânia – EUA (1948); e Londres – Inglaterra (1952 e 1962)) em que grandes emissões de poluentes combinados a fatores climatológicos e geomorfológicos, ocasionaram o aumento do número de morbidades e mortalidades na região. Estes acontecimentos favoreceram o aumento de estudos epidemiológicos e experimentais demonstrando associações significativas entre indicadores de saúde e poluentes atmosféricos. Baseados nos achados decorrentes, vários países estabeleceram padrões de qualidade limitando a concentração máxima de um poluente, propiciando uma margem de segurança relativa à população (Miraglia, 1997; Cançado, 2006). Inúmeros estudos têm encontrado associações significantes entre diferentes níveis de concentrações de poluentes atmosféricos atribuídos às fontes móveis e uma série de efeitos reativos na saúde que vão desde adoecimentos por causas específicas, malformações congênitas, até a mortalidade na população. A tabela 1 exemplifica os principais desfechos clínicos relacionadas à poluição do ar evidenciados na literatura: Tabela 1. Inserir tabela 1 3 Estudo Área; População Poluente Metodologia Efeitos Comentários Conceição et al. (2001) São Paulo, Brasil; Idosos > 65 anos SO2, CO, MP10 , O3 Modelo Aditi vo Generalizado Poisso n Mortalidade por doenças respiratórias RRSO2: 1,13; RR CO : 1,15 ; RRMP10 : 1,07) Suglia et al. (2008) Boston, USA; Mulheres Urba nas (n=272) b lack carbon Bourcier e t al. (2003) Paris, França; Pacientes atendid os (n=30 883) NO, NO2, O3, SO2 , MP1 0 Regressão Logistica Uni e multivariada considerando fatores climáti cos e sazonalidade Medeiros; Gouveia (2005) São Paulo, Brasil ; Nascidos vivos (n=311.735) O3,SO2,NO2, PM 10,CO Regressão linear e logística (univa riada e multivari ada) Regressão Log-linear Multipla considerando variáveis sócioRedução no VEF 1 e CVF e conómicas, tabagismo, ti po de fon te e exposição VEF 1: -1.1% (IC: –2.5% - 0.3%); CVF: -0.6% (IC: –1.9% -0.6%). Aumento na incidência de conjuti vite Problemas ofta lmológicos RRN O2 : 1.51 (IC: 1.1 7 - 1.96), desconfoto e irritação ocu lar Baixo pesso ao nascer Exposição materna ao CO, MP1 0 e NO2 d urante o primeiro trimestre de gravidez Laden et al. (2006) Sei s Cidades, USA; Adultos (n=8.000) MP2,5 Modelo de regressão Cox O aumento da mortalidade com o incremento de 10µg/m³ de MP2,5 (RR:1.16, Mortalidade e Patologias IC:1.07-1.26), Câncer de Pulmão (RR:1.27, Cardioresp iratórias IC: 0.96-1.69) e Mortalidade p or doenças cardiovasculares (RR:1,28, IC: 0,96-1,69) Finkelstein et al (2004) Ontaro, Canadá; Adultos (n=550.000) MP1 0, MP2 ,5 Modelo de regressão Cox Re dução na expectati va de vida 2.5 anos (IC: 0.2 - 4.8). Hoek at al. (2002) Netherlands, Holanda; Adulto s de 55-69 anos (n=5.000) Fumaça preta e NO2 Modelo de regressão Cox Mortalidade por doenças cardiovasculares RR: 1,95 (IC: 1,09-3,52). Fonte: elaborado pelo autor Legenda: VEF1 – Volume expiratório forçado no primeiro segundo; CVF – Capacidade vital forçada; RR – Risco relativo; IC – Intervalo de Confiança; MP10 e MP2,5 – Material Particulado de diâmetro menor que 10µm e 2,5µm, respectivamente; SO2 – Dióxido de Enxofre; NO e NO2 – Óxido de Nitrogênio e Dióxido de Nitrogênio, respectivamente; CO – Óxido de Carbono. 1.2 Valoração econômica ambiental e poluição atmosférica A poluição atmosférica representa um custo externo imposto à sociedade o que pode ser expresso em perdas econômicas relacionadas a doenças crônicas e agudas (Miraglia, 2002), absenteísmos (Ostro, 1982), oxidação de metais e deterioração de materiais, conforme relatado em 1966 por Delberg C. Ogden no artigo “Analise Econômica da Poluição do Ar”. Dentre os métodos de valoração mais utilizados na avaliação de efeitos da poluição atmosférica destacam-se: a perda de produtividade (referente aos custos 4 associados à produção sacrificada decorrente dos danos ambientais), (Ostro, 1982), os custos médicos (consideram a perda de valores econômicos decorrentes das externalidades ambientais negativas referentes à morbidade/mortalidade tais como internações, medicamentos e tratamentos), (Miraglia, 2002), o método de preço hedônico (avaliam, por exemplo, as diferenças de valor imobiliário entre uma área poluída e uma não poluída, indicando pela sua diferença, os danos evitados a uma determinada população), (Anderson & Crocker, 1971) e a valoração contingente, método adotado neste estudo (Mitchell & Carson, 1989). O método de valoração contingente (MVC) consiste na criação de um cenário hipotético pela ausência de um mercado que atribua valores a bens públicos como o ar. Esta metodologia permite que os benefícios obtidos pela melhoria da qualidade do ar sejam expressos em valores monetários, possibilitando uma comparação aos investimentos necessários e permitindo alocar com maior eficiência os recursos que impactam a saúde pública. Por meio de entrevista é apresentada cuidadosamente uma situação hipotética ao entrevistado, devendo ser a mais próxima possível de um mercado real. É fundamental o fornecimento do nível de provisão do bem, os possíveis substitutos, a estrutura institucional específica sob a qual o bem estaria disponível e o meio de pagamento (MITCHELL & CARSON, 1989). Suscitando a disposição a pagar ou a aceitar do entrevistado é possível estimar as preferências de um grupo ou população mediante a um bem, pelos valores atribuídos. 1.3 A região do estudo A área de abrangência do estudo é a região do município de São Paulo. A importância da escolha de São Paulo se deve ao fato de ser uma das maiores cidades do 5 mundo, com população estimada em cerca de 10.886.518 habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2007). A região conta com uma frota registrada de aproximadamente 7,3 milhões de veículos, sendo 6,0 milhões de veículos do ciclo Otto (gasolina e álcool), 430 mil veículos a diesel e 870 mil motos, frota esta que representa cerca de 1/5 do total nacional. Esta frota de veículos é responsável por cerca de 97% das emissões de monóxido de carbono (CO), 97% de hidrocarbonetos (HC), 96% de óxidos de nitrogênio (NOX), 40% de Material Particulado (MP) e 35% de óxidos de enxofre (SOX) (CETESB, 2007). Os parâmetros meteorológicos exercem influências diretas na concentração dos poluentes em sinergia com outros fatores, em particular a intensidade das emissões e a reatividade química da atmosfera (Yahyaoui, 2004). Devido às suas características geográficas, a região de São Paulo é sujeita a freqüentes inversões térmicas (Miraglia, 1997). O período de inverno desfavorece a dispersão dos poluentes, sendo considerado o período mais crítico do ano. Os níveis médios de concentração de poluentes em São Paulo ultrapassam os limites máximos estabelecidos pela legislação e são comparáveis ou piores que os observados em áreas urbanas de outros países, inclusive de países desenvolvidos. Esse fato é agravado pelo aumento do uso de carros nas viagens motorizadas dentro da região metropolitana de São Paulo (32 % em 1967 enquanto que em 1995 a participação chegou a 45 % das viagens), e acentuado pela estabilização econômica a partir de 1994 que favoreceu a aquisição e o uso de veículos automotores (Miraglia, 1997). A tabela 2 apresenta os níveis médios de concentração dos principais poluentes na cidade de São Paulo no ano de 2007, comparados aos níveis estabelecidos pela legislação nacional (Resolução CONAMA Nº 03 de 28/06/90) e pelas diretrizes 6 recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Como podem ser observados, os índices de concentrações de poluentes (excetuando o SO2) no município, bem como as medidas regulamentárias no país ultrapassam os valores sugeridos pela OMS: Tabela 2. Inserir tabela 2 Poluentes Amostragem São Paulo - 2007 (µg/m³) CONAMA 003/90 (µg/m³) OMS (µg/m³) MP 10 NO2 SO2 MMA 40,88 50 20 MMA 58,40 100 40 MD 9 100 20 O3 - 272,11* 160* 100** Fontes: CETESB (2008) e OMS (2006) Legenda: MMA = Média Aritmética Anual, MAD = Média Aritmética Diária (24 horas) * Máxima em 1 hora e ** Máxima em 8 horas 1.4 Os controladores de tráfego Os controladores de tráfego são profissionais que fiscalizam e monitoram o trânsito veicular na cidade de São Paulo. Estes profissionais atuam em regiões de elevados índices de congestionamentos veiculares, estando expostos diretamente a poluentes de propriedades tóxicas, mutagênicas e carcinogênicas que variam conforme suas propriedades químico-físicas (HEI, 2009). A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), na cidade de São Paulo, conta atualmente com cerca de 1300 fiscais (CET, 2008), que além de multar veículos infratores, trabalham com a remoção de veículos quebrados e outros obstáculos que impeçam o fluxo nas principais vias da metrópole. No estudo realizado por Santos et al (2004), em um grupo de 43 controladores de tráfego, que não apresentavam problemas de saúde específicos, funcionários da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), demonstrou que os poluentes atmosféricos podem afetar o sistema cardiovascular, incluindo a pressão arterial e 7 variabilidade na freqüência cardíaca. Cerca de 30% dos funcionários, não fumantes, apresentaram inflamação nos brônquios e redução da capacidade pulmonar, mesmos sintomas dos fumantes. 2. METODOLOGIA 2.1 Modelo empírico para o cálculo do ônus da poluição atmosférica O cálculo do ônus (o) da poluição atmosférica utilizando a metodologia de valoração ambiental pode ser expresso pela a função (1): y O (DAPp , DAPo , CS) = ∑ DAPp + DAPo + CS (1) i=1 Onde, DAPp = valor monetário atribuído pelos indivíduos impactados em decorrência aos danos associados à poluição do ar (grupo mais suscetível4 incluindo idosos, crianças e trabalhadores expostos constantemente aos poluentes atmosféricos), DAPo = valor monetário atribuído pelo restante da população, CS = custos sociais, y = números dos intervalos referentes às respostas das DAPs e i = um dos intervalos referentes às respostas das DAPs. As variáveis DAPp e DAPo são representadas por meio de uma expressão (v) equivalente a função de utilidade pela melhora da qualidade do ar (2), (Silva, 2005): DAPx = v (j, k; s) + εj ; j = 0, 1 (2) Sendo, j = variável dicotômica das DAPs (0 = a não disposição a pagar e 1 = a disposição a pagar), k = renda individual, s = atributos socioeconômicos individuais (escolaridade, renda, entre outros), εj = erro probabilístico. Os custos sociais podem ser estimados pela expressão: CS = ∑Ci + Cp + Ca + Cb + Cm (3) Onde, Ci = custos relacionados a internações, Cp = custos resultantes da perda de produtividade decorrentes de morte prematura ou anos vividos com incapacidades, Ca = 8 custos resultantes de absenteísmos, Cb = custos provenientes com a perda de bem estar e Cm = custos com medicamentos. Os resultados obtidos por Miraglia (1997; 2002) avaliando o impacto da poluição do ar sobre a população do Município de São Paulo concluiu que pelo menos 28.212 anos de vida são perdidos e vividos com incapacidades anualmente, considerando crianças e idosos, representados monetariamente por US$ 3,222,676. Os custos hospitalares devidos a doenças respiratórias totalizam US$ 251.646 demonstrando a importância econômica dos custos sociais na gestão de saúde pública. 2.2 Elaboração do questionário A elaboração do questionário seguiu as recomendações da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) (Arrow, 1993; Carson, 1995) para a validação do estudo, pois este se fundamenta nas premissas originadas de debates interdisciplinares sobre as questões metodológicas do método, sendo capaz de atribuir valores econômicos a bens públicos e reduzindo vieses inerentes. O questionário final foi dividido em três partes: (1) Características socioeconômicas dos entrevistados; (2) percepção individual perante o problema ambiental; (3) a avaliação da disposição a pagar (DAP). A valoração dos efeitos da poluição atmosférica foi complementada por meio do levantamento de custos sociais associados à morbi-mortalidade, com intuído de avaliar o ônus total desta variável ambiental. O entrevistado foi indagado acerca dos gastos médios com consultas médicas, internações, remédios e tratamentos associados a doenças cardiorrespiratórias e oftalmológicas, faltas ao trabalho e perda de bem estar, sendo diretamente associados à poluição do ar (Miraglia, 2002; Ostro, 1982). Foram conduzidos dois pré-testes, totalizando 34 entrevistas, objetivando avaliar a preparação e elucidação do cenário hipotético adotado para o estudo. Baseado nas 9 especificações de Arrow et al (1993) as entrevistas foram realizadas pessoalmente sendo preferível a abordagens por telefone, email ou internet. A questão estruturada para a aplicação da disposição a pagar após a apresentação de um texto informativo foi: “Você estaria disposto a contribuir para melhorar a qualidade do ar e diminuir os impactos negativos ocasionados pela poluição do ar com o valor de R$ 50,00 por ano?” 2.3 Análises Estatísticas As análises estatísticas dos resultados obtidos no pré-teste utilizaram o software SPSS versão 15. O modelo de regressão linear múltipla (MRLM) foi escolhido testando a correlação de dados das variáveis, escolaridade (e) e salário (s) para o cálculo da DAP individual média da amostra (4). Na tabela 3 são apresentados os coeficientes de correlação de Pearson e na tabela 4 os coeficientes estimados de regressão linear e respectivos erros padrão. Tabela 3 - Coeficientes de correlação de Pearson para as variáveis do modelo. Inserir tabela 3 Escolaridade Variáveis Escolaridade Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Salario Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N DAP_Valor Salário DAP_Valor 1 ,471(**) 0,005 0,333 0,054 34 34 34 ,471(**) 0,005 1 ,481(**) 0,004 34 34 34 0,333 0,054 34 ,481(**) 0,004 34 1 34 **. Correlação é significante em 0.01 level (2-tailed). Tabela 4 – Coeficientes estimados de regressão linear e respectivos erros padrão para o modelo de regressão linear. Inserir tabela 4 Variável Indenpendente Constante Escolaridade Salário *Variável dependente DAP_valor DAPi = C + βe + βs Coeficiente Erro Padrão 3,466 4,518 21,739 15,434 5,802 9,235 (4) 10 DAPi = 3,466 + 4,518*e + 21,739*s DAPi = R$ 33,02 3. RESULTADOS Inicialmente verificou-se o formato aberto da questão avaliativa da DAP como melhor opção, porém a aplicação dos pré-testes mostrou a necessidade de revisão desta abordagem, pois havia dificuldades de compreensão do método pelo entrevistado e, portanto, a atribuição de um valor incoerente para o cenário apresentado. Este fato pode estar associado ao caráter público do bem ambiental analisado, pois ao contrário da água, solo ou biodiversidade, o ar por ser invisível e não ter restrição de acesso ao uso dificulta a percepção da sua escassez. A presença deste viés induzia os entrevistados a questionarem a necessidade de atribuir valores econômicos para respirar, ao invés de avaliar o beneficio marginal associado à redução da morbi-mortalidade e o aumento da qualidade de vida decorrente de um ar mais limpo. A partir desta evidência verificou-se que o formato mais apropriado seria com valores fechados (closed-ended format) e lances crescentes ou decrescentes, denominado na literatura como referendum (Carson, 1995), com intuito de disponibilizar um parâmetro que situasse a avaliação econômica do bem ambiental pelo entrevistado. Este resultado ratifica as especificações da NOAA, que indica o método como o mais adequado, e alinha-se a metodologia utilizada por outras pesquisas realizadas no Brasil (Silva, 2005) e no mundo (Rozan, 2001). O tempo estimado para a aplicação do questionário constitui uma variável a ser considerada. Wang et al (2006), consideraram como tempo ideal estimado a variação de 15 a 20 minutos, evitando assim, aborrecimentos do entrevistado para pesquisas longas 11 ou a falta de tempo em entrevistas curtas para a reflexão acerca do questionado. Nos pré-testes o tempo médio de respostas por questionário foi de 12 minutos. Outro aspecto levantado foi o grau de entendimento sobre as questões levantadas. Considerando a amostra levantada nos pré-testes, 100% dos entrevistados consideraram a pesquisa como “de fácil compreensão”. O valor obtido com a aplicação do teste piloto foi de R$ 33,02 por entrevistado. 4. CONCLUSÕES Os entrevistados possuem uma adequada percepção da problemática da poluição atmosférica em São Paulo, evidenciada pela sua disposição a pagar pela melhoria da qualidade do ar e pelos inconvenientes causados por esta externalidade ambiental. A valoração ambiental da qualidade do ar em São Paulo será obtida a partir da aplicação do referido questionário ajustado a partir do pré-teste aos 1300 controladores de tráfego que trabalham na Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET). Estes resultados servirão de importante subsídio no estabelecimento de políticas públicas visando à melhoria da saúde publica da população do município de São Paulo, justificando os investimentos que se farão necessários para alcançar estes objetivos. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDERSON, Robert J. Jr., e CROCKER, Thomas D. Air Pollution and Residential Property Values. Urban Studies 8, 1971. p.171-80. ARROW, Kenneth et al. Report of the NOAA Panel on Contingent Valuation. Washington D.C: NOAA, 1993. BOURCIER, Tristan et al. Decreased Corneal Sensitivity in Patients with Dry Eye. Investigative Ophthalmology and Visual Science, n. 46, p.2341-2345, 2005. CANÇADO, José Eduardo Delfini et al. Repercussões clínicas da exposição à poluição atmosférica. Jornal Brasileiro de Pneumologia, São Paulo, 2006. p. S23-S29. 12 CARSON, Richard T. et al. Referendum Design and Contingent Valuation: The NOAA Panel. Washington D.: Resources For The Future, 1995. 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