A VIDA E O COTIDIANO DA MISSIONÁRIA NORTE-AMERICANA PROFESSORA MAYE BELL TAYLOR NO EDUCANDÁRIO AMERICANA MARIA DE LOURDES PORFÍRIO RAMOS TRINDADE DOS ANJOS UFS Este texto tem como objetivo reconstituir traços da educadora e missionária batista norte - americana Maye Bell Taylor que dedicou parte da sua vida a educação batista em Aracaju, no período de (1955-1959; 1960-1963); Este estudo tem como fontes principais as atas da Associação de pais e Mestres, “Síntese do trabalho batista em Aracaju”, fotografias, relatórios, jornal, e-mails, livros, monografias, dissertações, teses e depoimentos de ex-alunos, ex-professoras e ex-diretoras. Esses documentos revelam a importância dessa mulher como divulgadora do modelo de educação que desenvolveu em Macéio, Recife e Aracaju. No Brasil atuou como vice-diretora da Escola de Trabalhadoras Cristãs (SEC), em Recife, diretora do internato feminino do colégio Batista Alagoano, em Macéio. Em Aracaju, foi diretora do Educandário Americano Batista (EAB) e diretora fundadora do Centro Batista da Amizade. Na sua gestão podem ser vistas, a cultura escolar que foi aplicada, e o trabalho social que desenvolveu entre os mais pobres através dos anos. Por cultura escolar entende-se Um conjunto de normas que definem os saberes a ensinar e as condutas a inculcar e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses saberes a ensinar e as condutas a inculcar e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses saberes e a incorporação desses comportamentos, saberes e práticas estão ordenados de acordo com as finalidades que podem variar segundo as épocas, as finalidades religiosas, sociopolíticas ou simplesmente de socialização. Normas e práticas não podem ser analisadas sem se levar em conta o corpo profissional, os agentes que são obrigados a obedecer a essas normas e, portanto, a pôr em obra os dispositivos pedagógicos encarregados de facilitar a sua aplicação, a saber, os professores.1 O interesse em estudar a trajetória dessa professora/missionária, está interligado a um projeto maior que foi estudar a educação batista em Sergipe. O Educandário Americano Batista (EAB) foi fundado no dia 15 de novembro de 1951, pelos professores Manoel Simeão Silva, Josué Costa, Hilda Sobral de Faria, Benjamita Santos Silva, Ruth Cunha Amaral e Maria de Lourdes Oliveira. Durante a sua trajetória, o Instituto Pan-Americano de Ensino (IPAE), foi renomeado diversas vezes por conta de determinação da legislação ou das reformas promovidas nos âmbitos estadual e federal. Em 1953, tendo como diretora a missionária batista norteamericana Linnie Winona Treadwell, recebeu o nome de Educandário Americano Batista (EAB). No dia 21 de outubro de 1961, foi inaugurado o novo edifício da escola. O prédio, com dois pavilhões, seis salas de aula, biblioteca, auditório, dois escritórios, quatro banheiros, cozinha, terraço e sala de vigia.2 O texto que ora escrevo sobre Maye Bell Taylor será usado como um documento que expressa testemunho vivo das ações executadas por ela, os valores que foram repassados e que aos poucos vai delineando sua própria história. No repertório das suas memórias são reveladas suas experiências, seu modo de ser, de viver, suas preferências, sentimentos, e a sociedade e grupo social que viveu. Sabendo que, esses modos de ser e de viver são peças que compõem as histórias de vida destas mulheres, professoras, alunas e que, seguramente, têm muitos traços em comum com outras histórias de vida de outras mulheres, alunas ou professoras. Por meio do recurso aos relatos autobiográficos, cada uma destas histórias pode desvelar para trazer à luz uma trajetória que começa na infância, passa pela adolescência e juventude e chega à idade adulta, e onde influências variadas tiveram e ainda têm lugar. Família, escola são os espaços onde se educa e se constrói a mulher e, mais adiante, a professora. 3 A formação da mulher foi relegada ao segundo plano por alguns séculos. Mas com o advento da República a mulher conquistou o direito de receber uma educação formal para atender as necessidades exigidas pela sociedade emergente. Nesse ínterim passou a ser preparada, para levantar outros vôos, conquistar outros espaços e se afastar um pouco das lides domésticas conforme explica Freitas. O início da República aponta para a necessidade da educação da mulher, vinculando-a à modernização da sociedade, à higienização da família e à formação dos futuros cidadãos. Novas exigências são colocadas para as mulheres, que desde jovens devem ser preparadas para assumir o papel de educadora no lar. Os discursos liberais insistiam na escolarização primária da mulher e valorizavam como campo de atuação feminina, o espaço doméstico. 4 A partir do século XIX a mulher passou a ser beneficiada com o acesso à educação, à alfabetização oportunizando uma maior reflexão sobre sua vida, seu papel como mulher na sociedade, rompendo com o silêncio e passando a compartilhar com outros, seus projetos e suas memórias. Mesmo existindo resistência a mulher compreendeu que adentrando a escola já é uma grande conquista porque. A escola não cumpre apenas a função de conseguir a ‘distinção’ – no sentido duplo do termo – das classes cultivadas. A cultura que ela transmite separa os que recebem do restante da sociedade mediante um conjunto de diferenças sistemáticas: aqueles que possuem ‘como cultura’ (...) a cultura erudita veiculada pela escola dispõe de um sistema de categorias de percepção de linguagem, de pensamento e de apreciação, que os distingue daqueles que só tiveram acesso á aprendizagem veiculada pelas obrigações de um ofício ou a que lhes foi transmitida pelos contatos sociais com seus semelhantes. 5 A direção do EAB foi ocupada pelas seguintes missionárias batistas norteamericanas nos seguintes períodos: A missionária Linnie Winona Treadwell (19521955), Maye Bell Taylor (1955-1959: 1960-1963); Freda Lee Trott (1959; 1964-1966); e Clara Lynn Williams (1966-1972), portanto, com a sua administração encerra-se a gestão das missionárias batistas norte-americanas. O grupo de Missionários enviados pela Junta de Richmond organizaram no Brasil além de igrejas, Seminários, Casa Batista da Amizade e escolas. A instituição educacional dos batistas que teve mais destaque no período pesquisado foi o Educandário Americano Batista. No entanto, outras escolas batistas, foram organizadas como as anexas ao lado das igrejas, eram portadoras dos mesmos objetivos que ao passar do tempo iam “moldando almas, formando gerações de pessoas propagadoras do seu modelo educacional”.6 MAYE BELL TAYLOR A segunda missionária a assumir a direção do EAB foi Maye Bell Taylor. Nasceu na cidade de Eldorado, no Texas, no dia 4 de maio de 1905. Seus pais Dr. E Sr. L.F.Taylor. Seu pai era médico e clinicou, dentre outras cidades, em Haskell e Texas. Pertencia a uma família de sete irmãos. Maye Bell Taylor cresceu numa família numa família cristã. 2 Sentindo-se chamada para desenvolver um trabalho missionário, foi preparar-se melhor no Seminário de Southem no Estado do Kentucky, onde recebeu o diploma de Mestre em Educação Religiosa, no ano de 1936. Após sua formatura no Seminário, pretendia vir imediatamente para o Brasil, mas a Junta de Richmond não concordou e explicou que naquele momento a Junta estava canalizando os recursos financeiros para a reconstrução de um hospital na China. Maye Bell Taylor, enquanto aguardava sua nomeação para o campo missionário, exerceu o magistério em uma escola pública do Texas nos anos de 1929 a 1934 e 1936 e 1938. Sua vinda ao Brasil só aconteceu no mês de setembro de 1938. Antes mesmo de preparar-se e dedicar-se inteiramente a missões mundiais, Maye Bell Taylor formou-se pela Universidade de Baylor, e posteriormente na Universidade de Hardin-Simmons onde concluiu o curso de Bacharel em Arte, no ano de 1929. Foi designada para exercer a obra missionária no dia 10 de fevereiro de 1938 pela Foreign Mission Board (Junta de Richmond). Chegando ao Brasil foi para o Rio de Janeiro com a finalidade de estudar a Língua Portuguesa, entre 1938 e 1939. Em Recife, assumiu o cargo de vice-diretora da Escola de Trabalhadoras Cristãs.7 Entre 1948 e 1953 Maye Bell Taylor assumiu a direção da ETC. Em Macéio, foi diretora do Internato Feminino do Colégio Batista Alagoano; em Aracaju foi diretora do EAB nos anos de 1955 a 1965. Maye Bell Taylor foi membro efetivo da Primeira Igreja Batista de Aracaju e dedicou-se ao ensino da Palavra de Deus na Escola Bíblica Dominical (EBD) como professora, onde desenvolvia um ministério de visitação constante aos seus alunos. Por treze anos, foi líder Estadual das Mensageiras do Rei.8 Além de educadora, atuou na evangelização e se dedicou ao Serviço Social, sendo fundadora da Casa Batista da Amizade. Taylor abriu as portas de sua casa para receber pastores, personalidades e amigos; entre estes, o jovem Albano Franco e o radialista Silva Lima, ambos com o objetivo de aprimorar conversação e pronúncia da língua inglesa. O primeiro chegou a Senador da República e Governador do Estado de Sergipe.9 O nome de Maye Bell Taylor foi dado à biblioteca do EAB na gestão do Pastor Israel Pimentel e também à antiga Rua A, onde está localizado atualmente o Colégio Americano Batista, por sugestão do Pastor Waldemar Quirino dos Santos, que recebeu apoio do então prefeito José Carlos Teixeira, amigo pessoal da missionária. Sua aposentadoria ocorreu em 31 de maio de 1973. Taylor era uma mulher que tinha convicção no que pronunciava, e após ter tomado uma decisão, dificilmente retirava o que havia dito. Era uma pessoa que sabia fazer amigos. Conforme Clara Lynn Williams, “Dona Maye Bell Taylor sabia fazer amigos e amava muito os brasileiros” 10 MAYE BELL TAYLOR EDUCACIONAL E SOCIAL IMPLANTOU EM ARACAJU PROJETOS: No ano de 1964, Maye Bell Taylor comunicou à Junta Estadual o seu desejo de começar a desenvolver um trabalho social entre os pobres. Pensando assim foi que 3 nasceu a idéias de construir um Centro de Amizade em um dos locais mais pobres da cidade. A princípio o trabalho começou em uma casa alugada na Rua de Muribeca, nº, 18, no bairro Santo Antônio, em Aracaju. A ação social no início era tímida, com uma pequena equipe de funcionárias: Ivalcene da Silva Carneiro, Laurita Santana Santos, Lourdes Tavares e o atendimento de médicos voluntários. Logo os membros das Igrejas Batistas da capital deram sua cooperação como professores voluntários. Durante sete anos esses serviços foram prestados à comunidade. No ano de 1969, foi inaugurado um majestoso edifício localizado na Rua João Andrade, 766. O objetivo da Casa Batista da Amizade (CBA), conforme Léa Marques Paiva11 “era trabalhar o homem como um todo, integral; ou seja, desenvolver um trabalho holístico”. Laurita Santana Santos explicou12 que para atender às necessidades na área educacional foi implantado o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) que funcionava à noite com duas classes para jovens e adultos, com o intuito de ensiná-los a ler e a escrever, sendo ministrado por uma professora que era remunerada pela Casa Batista da Amizade, com verbas vindas da Missão Batista no Norte do Brasil.13 A Casa Batista da Amizade prestou à população serviço em quatro áreas distintas: religiosa, educacional, social e saúde. Conforme confirmou Laurita Santana Santos, Na área religiosa existiam as aulas bíblicas que funcionavam com professores voluntários. A diretora da CBA, Maye Bell Taylor, mantinha o compromisso com esses professores de buscá-los e levá-los na sua própria residência. No início tinha aula pela manhã e à tarde: primários (crianças de oito anos), juniores (nove a doze anos), adolescentes, jovens e senhoras. A aula sempre começava com uma devocional (leitura da bíblia, cânticos e oração). Depois da lição, passava-se para a segunda parte, onde os alunos faziam trabalhos manuais, colagem, trabalho com madeira, vidro e gesso, as mulheres aprendiam a costurar, pintar em tecido, em madeira e garrafa. Era uma riqueza de material. Muito interessante. Dona Maye Bell Taylor, trazia dos Estados Unidos muitas revistas, com muitas idéias. Eu aproveitava, escolhia o material ia para a cidade e comprava. O aluno não pagava nada. Eu comprava o tecido, tinta, pincel, gesso, o que fosse; eu fazia o modelo para cada classe, e quando a professora chegava eu explicava. Muitas vezes ia na classe, orientava e eles faziam. Cada semana tinha uma coisa. Eu era a responsável. Na CBA, tinha uma clínica, que mantinha alguns remédios que eram doados à população pelo governo estadual. No entanto, a Casa Batista da Amizade era sustentada pela Missão Batista do Norte. Essa verba que a Missão enviava servia para salário dos funcionários e outras despesas da clínica como: remédios, pagamento da enfermeira, exames, entre outros. Além dessas ações o CBA, prestava socorro a quem necessitasse levando ao hospital, e do hospital para casa. Tinha também à noite da família; era às quartas-feiras, na qual toda família se reunia. Nessas noites tinham a pregação do evangelho, mas também tinha palestras com médico, advogado e nutricionista. Os temas eram escolhidos de acordo com a necessidade do aluno. Para tratar da higiene e saúde se convidava um médico, para orientar sobre como aproveitar os alimentos e fazer uma comida mais nutritiva, se convidava uma nutricionista.14 O projeto Saúde era abrangente para todos os necessitados da comunidade. Existia uma clínica onde se fazia consultas; quando o caso não se resolvia via CBA o médico encaminhava para o Hospital Cirurgia. Maye Bell dava muita assistência aos doentes. Quando era preciso levava no hospital, ia buscá-lo, visitava. Levava remédio para o enfermo na sua própria casa. E aquelas pessoas que estavam impossibilitadas de saírem a enfermeira da CBA, ia até lá para aplicar injeções. Os remédios vinham do programa do governo, e eram repassados para as pessoas que necessitassem daqueles medicamentos. 4 Os exames eram pagos pela CBA, e os médicos prestavam serviços voluntários. Outro benefício prestado por esta instituição era a distribuição de alimentos vindos do governo como: leite, óleo, fubá de milho, que eram distribuídos para as pessoas pobres.15 Várias atividades eram desenvolvidas com a finalidade de atender àquelas pessoas mais necessitadas que buscavam esses serviços. O interesse de Taylor não estava voltado apenas para a escola e para o Centro de Amizade; ela se preocupava também com o trabalho da denominação batista, conforme o depoimento da redação do Jornal Batista Sergipano (1972): O interesse dela não foi só nas escolas ou no Centro de Amizade. Ela leva a sua ajuda aos orfanatos, faz visitas aos membros da sua classe da Escola Bíblica Dominical, às suas amigas do Asilo, ajudou algumas moças a estudar no SEC, (Seminário de Educadoras Cristãs) trabalhou com Mensageiras do Rei,16 organização que liderou por treze anos cooperando ainda com o trabalho da Primeira Igreja Batista, da qual é membro.17 Maye Bell Taylor chegou a Aracaju em 1955. Assumiu a direção do EAB após o retorno de Winona Treadwell aos Estados Unidos, em março de 1957. Durante sua gestão, Maye Bell Taylor participou de diversas reuniões defendendo a necessidade de construção de uma sede própria para o EAB, como foi visto anteriormente. Nos relatórios que ela apresentava era mostrado aumento da matrícula e a satisfação dos pais com a formação oferecida pelo EAB. Como pode ser observado no registro a seguir: Os últimos dias de fevereiro foram cheios, com a procura dos pais para matricularem seus filhos. Algumas mães manifestavam ansiedade com a volta às aulas, são as que têm filhos pequenos, e que nunca foram à escola. Já antevêem o sofrimento, por deixarem a família e começarão uma nova fase, que á a vida estudantil. A mãe de um aluno opinou sobre essa situação e dizia da sua satisfação por ter matriculado seu filho nessa instituição. ‘Estou muito contente e ansiosa pelo retorno das aulas, e exclamou vocês são inteligentes e a escola está progredindo muito’.18 No ato da sua organização, a escola foi pensada e prepara para atender aos filhos da elite da cidade de Aracaju. No entanto, um contingente de alunos pobres recorreram à instituição e todos foram atendidos. Nenhuma criança era dispensada de pagar uma taxa irrisória, por menor que fosse inclusive para que todos pudessem valorizar e sentir mais interesse, conforme determina Taylor. Nós temos muitas crianças pobres em nossa escola, mas não é permitido ninguém freqüentar a escola sem que os pais deles/delas, pague uma taxa muito pequena (algumas vezes dez ou vinte centavos por mês). Eu tinha socorrido a várias famílias que não podem pagar esta pequena taxa. Os pais e as crianças mostram mais interesse na escola que estuda quando eles pagam a taxa. Todas as crianças recebem leite livre, oferecido pelo Departamento de Educação (leite em pó da América), isso foi uma grande bênção para os pais e crianças, muitos ganharam peso e foram ficando mais fortes [...].19 A presença da associação de pais e mestres no cotidiano do EAB foi de muita importância, passando, inclusive, a fazer parte do programa curricular dessa instituição, 5 influenciando assim na sua proposta pedagógica, ao mesmo tempo em que os pais adquiriram uma consciência de que eles seriam responsáveis pelo desempenho, sucesso ou insucesso que viesse. A programação de cada mês era cautelosamente elaborada, os elementos básicos eram abordados com a intenção de relembrar, que se os valores eram repassados e assimilados conseqüentemente seria favorecida a formação de um caráter sadio, equilibrado, que iria acompanhar a criança desde a infância até a “idade feliz” (velhice, como explica Taylor: Os pais e mestres faziam parte da Associação dos professores e mantinham uma programação extensa, e eram convidados durante todo o ano. Pastores, médicos, enfermeiros apresentavam mensagens inspiradoras. Eram exibidos filmes sobre a saúde, religião e patriotismo. Essa Associação tem um fundo destinado a ajudar as crianças pobres, compra de livros e uniformes. Na festa do dia das mães, elas trouxeram frutas, sucos e biscoitos. Venderam tudo para ajudar a este fundo. Eu estou contente com essa forma de cooperação. Há um espírito bom entre os pais, eles querem ter freqüentemente estas reuniões no próximo ano. Este é um modo maravilhoso para adquirir melhores entendimentos entre pais e professoras. [...]20 Com a intenção de facilitar o ensino-aprendizagem, foi criada a bandinha rítmica. “Ah Tinha a “bandinha rítmica”. Eu tocava na bandinha, instrumentos simples mas era bem legal. [...] a gente se apresentava nas festas, nas lecções. Nas lecções todo dia tinha uma devocional, antes de começar cantava um corinho, orava e lia a bíblia.”21 O Educandário Americano Batista era destacado pelas festas. No tempo de dona Maye Bell ela fazia as alegorias das fitas, apresentavam as danças. Era Maye Bell quem ensinava. Lá nos Estados Unidos eles trabalhavam muito com essas coisas. Nas escolas tinham aquelas torcidas organizadas. Ela 22 trouxe esse jogo para aqui. Era muito bonita. O que deixa transparecer nesses e outros depoimentos é que as festas não eram feitas aleatoriamente; existiam objetivos traçados. Cada data trabalhada servia para serem ensinadas algumas lições ou valores como; o amor à família, o cuidado que se devia ter com a natureza (as árvores e os animais), o respeito pela equipe diretiva, professoras e funcionários valorização do folclore e da cultura brasileira além de imprimir nos alunos e visitantes uma boa impressão, ao assistir àquele espetáculo que era preparado já com essa finalidade. As práticas escolares que foram implantadas no EAB, contribuíram para criar a imagem de uma escola de excelente padrão educacional e ao mesmo tempo se constituíam em um convite para que a população tomasse conhecimento do que estava sendo desenvolvido na instituição. O currículo oficial estabelecido pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB /4024/61 era seguido na íntegra para que o aluno não fosse prejudicado. Era feito o calendário de festas e as datas cívicas, folclóricas ou pedagógicas, eram comemoradas, como relata Taylor: Como a maioria das escolas no Brasil celebra suas férias do segundo semestre em junho, como no São João as escolas comemoram com programas e festas, nós decidimos ter nosso programa neste momento. Era um sucesso tudo muito colorido; os alunos vestidos com suas fantasias de 6 fazenda. O auditório pequeno era abarrotado com os pais e amigos. Quase foram feitos vinte dólares que compraram vários pares de sapatos e uniformes. [...]23 O calendário das atividades era planejado nas reuniões mensais da APM, de forma que cada mês destacava-se uma data: cultural, cívica, comemorativa, entre outras. A festa junina tinha boa aceitação tanto pela direção como pelos pais, que se empenhavam em angariar dinheiro para a “caixa beneficente”. A festa de São João era bonita. A profª Helena Teles escolhia os alunos que mais de destacavam, todos se trajavam de matutos, colocavam as músicas de Luiz Gonzaga. Nesta festa tinha barraca e cada barraca tinha um nome, vendia salgadinhos, comidas típicas [...]24 As festas juninas eram bastante valorizadas pelas missionárias batistas norteamericanas, que encontravam nesses momentos uma forma de ensinar o folclore brasileiro e a cultura do Nordeste. Provavelmente, tinham conhecimento do real significado da festa; no entanto, nada conseguiu ofuscar aquelas comemorações. Enquanto estiveram como diretoras, ou exercendo outras atividades como missionárias, permaneceram firmes aos seus ideais, sem declinarem para a secularização muito menos para aculturação. Por outro lado os brasileiros, concordando ou não, permitiam que essa prática fosse realizada na escola em toda gestão norte-americana, deixando de existir quando a instituição passou a ser dirigida por brasileiros. As festas eram comemoradas com muito entusiasmo. Na programação da festa Junina, que recebeu o nome de “Tarde Folclórica”, podia ser visto; quadrilha, roda sertaneja, esquete, coroação da rainha, casamento caipira, venda de doces cuja renda era revertida para a “caixa beneficente”. Na festa dos pais e das mães tinha muita música, dramatizações, apoteose, jogral e poesia. Após vários anos de dedicação à obra de evangelização, da ação social e educacional, Taylor voltou para seu país já aposentada, o que ocorreu no dia 31 de maio de 1973. Provavelmente viveu mais doze anos de sua existência ao lado de sua família, usufruindo da sua companhia, e compartilhando suas experiências vivenciadas no Brasil, principalmente, em Pernambuco e Sergipe. Trabalhou durante trinta e cinco anos. Faleceu no dia 6 de junho de 1985, no Texas. CONCLUSÃO Na sua gestão no EAB apresentou um plano de ação que auxiliou no bom desempenho da instituição. A Associação de Pais e Mestres se envolveu na parte pedagógica, espiritual e social, oferecendo bolsas de estudos e outros incentivos. segundo Silva, [...] o programa de bolsas, atendendo alunos cujas famílias não podiam arcar com os custos das mensalidades, sempre foi prática dos colégios. Nos vários relatórios anuais prestados á Convenção Batista Brasileira, pode-se 25 comprovar a ênfase neste sentido. NOTAS 7 1 JULIA, Dominique apud SOUZA, Rosa Fátima de. Um itinerário de pesquisa sobre a cultura escolar. In: CUNHA, Marcus Vinicius (org). Ideário e Imagem da Educação Escolar. São Paulo: Editora Autores ASSOCIAADOS, 2000. P. 3-27 p. 4 2 WILLIAMS, Clara Lynn. Síntese do trabalho batista em Sergipe (1913-1971). Aracaju: 1971. p. 16. 3 CATANI, Denice et alli. Docência, memória e gênero. Estudos sobre formação. São Paulo: Escrituras Editora, 1997 4 FREITAS, Anamaria Gonçalves Bueno de. Educação, trabalho e ação política: sergipanos no início do século XX. Campinas: UNICAMP. 2003. p.35 (Tese de Doutorado). 5 BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. Introdução, organização e seleção Sérgio Miceli. São Paulo: Perspectiva, 1974 apud Freitas, Anamaria Gonçalves Bueno de. Op. Cit. p. 35. 6 VILLAS-BÔAS Ester F. A influência da pedagogia norte-americana em Sergipe e na Bahia: reflexões iniciais. Revista Brasileira de História da Educação. Jul/Dez, nº 2. Campinas: Editores Autores Associados. 2001. p.9-38. 7 A Training School foi fundado em 1917, na cidade de Recife - Pe e sua primeira diretora interina foi Graça Taylor. O objetivo dessa escola era instruir professoras e futuras esposas de pastores. A primeira aluna matriculada foi Josefa da Silva Lima, de Manaus. Além dela, a escola recebeu Anísia Duclerc, Rosália Munguba, Rosa Gomes, estas três de Rio - Largo, Alagoas. Escola de Trabalhadoras Cristãs (ETC), instituição que tem a incumbência de preparar moças vocacionadas para o trabalho religioso. Conforme explica Mein (1966), a escola recebeu este nome por falta de um termo adequado; os missionários tinham se referido à Escola pelo título de Training School, mas Gilberto Freyre sugeriu o nome da Escola de Trabalhadoras Cristãs, cuja sigla seria ETC. Com os tocantes apelos da diretora da união Geral de Senhora, D. Kate White, eram freqüentes propagandas no jornal; publicavam-se artigos e editoriais sobre a Escola, e num dos números aparece uma longa entrevista com a nova diretora que pormenorizadamente história os acontecimentos em relação à instituição até setembro de 1919. Em cada número de “Mensagem” aparece um anúncio bem destacado: “Escola de trabalhadoras Cristãs. Uma escola baptista para a preparação de moças crentes para trabalharem nas escolas anexas e nas igrejas. Aceita somente moças crentes de 15 anos em diante e recomendadas pelas Egrejas. A escola é sustentada pelas Egrejas Baptistas do Norte do Brasil”. MEIN, Mildred Cox. Casa Formosa: Jubileu de Ouro do Seminário de Educadoras Cristãs (1917-1967). Recife: JUERP, 1966. p. 24-25. Mas por conta das reformas promovidas em nível federal, em 1953, que dá reconhecimento aos cursos oferecidos pelos Seminários Maiores. Em 1958 houve uma organização dos cursos e currículos, e em 1959, os cursos Pedagógico e Religioso, bem como o curso de Bacharel, passaram a ser ministrados em quatro anos. As áreas de especialização do curso de Bacharel eram Educação Religiosa, Música Sacra e Serviço Social Religioso. Os cursos Pedagógico e Religioso visam ao preparo de professoras para as escola batistas, especialmente professoras missionárias. Ibidem. Idem p.p.92-93. “Diversas mudanças ocorreram nesta instituição religiosa, agora com novos cursos com a finalidade de preparar melhor os alunos que procura. ANDRADE, Elza Sant’ Anna do Valle. CIEM e SEC oferecem preparo excelente em Educação Religiosa e Missões. In Revista Visão Missionária. Abril/junho. Rio de Janeiro: 2005. p. 57. 8 Cf. p. 54 9 Informações concedidas pela pesquisadora e Jornalista Sandra Natividade, 4/3/2005. 10 Idem. 2005 11 Léa Marques Paiva, é ex-aluna do SEC, tem o curso de Serviço Social pela UFS, foi a 1ª diretora brasileira no período de 1994-1998, mas desenvolveu outras atividades como Assistente Social, desde o ano de 1973. Entrevista concedida à autora em 18/1/2006, Recife-PE. 12 Laurita Santana Santana Santos, funcionária do Centro Batista da Amizade (que depois recebeu o nome de Casa Batista da Amizade), no período de 1965-1998. Informações concedidas em entrevistas á autora em 28/3/2006. 13 A North Brazil Mission, (A Missão Batista do Norte do Brasil) e a Foreign Mission Board (Junta de Missões Estrangeiras of the Southern Baptist Convention (Convenção Batista do Sul) dividiu o pais em três missões. Missão Equatorial (na parte do norte) e a Missão Batista do Norte (que é composta pelos Estados da Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Corrente no Piauí) e os outros Estados faziam parte da Missão Batista do Brasil). Até o ano de 1997 a missão mantinha um escritório em Recife, no edifício Batista, que agora está localizado em Brasília. (Informações concedidas pela missionária Clara Lynn Williams, enviada por e-mail em 14/5/2006. A Missão Batista do Norte do Brasil era uma entidade composta por missionários batistas norte-americanos enviados pela Junta de Richmond dos batistas dos Estados Unidos da América do Norte, e que aqui no Brasil coordena, na região norte do país (com sua sede na cidade de Recife), as seguintes atividades: locação de missionário enviados por aquela Junta, o sustento deles, as transferências de um Estado para outro, e administra a comissão predial Batista, com 8 sede também em Recife, e que funciona como uma espécie de Banco, emprestando dinheiro às igrejas para construção de templos anexos para Educação Religiosa, casas pastorais, e mobiliários para os templos, desde que sejam filiados às Convenções Batistas Brasileiras e Estaduais na região e tenham conta e saldo médio em depósito, obedecendo às normativas estipuladas pela mesma Comissão. A Comissão predial Batista conta com a participação de brasileiros, representantes dos Campos da sua jurisdição, que são eleitos por ela, com mandatos de três anos para as suas reuniões trimestrais. (Informações concedidas à autora pelo Pr. Waldemar Quirino dos Santos em 6/5/2006). 14 Informações concedidas pela ex-funcionária Laurita Santana Santos, em 28/3/2006. 15 Informações concedidas por Laurita Santana Santos em 28/3/2006. 16 Uma organização missionária que recebe meninas de 9 a 16 anos com o propósito de estudar missões. 17 TAYLOR, Maye Bell. Jornal ‘O Batista Sergipano’, Ano XXVI, Nov. de 1972, nº 3. 18 Informações contidas em um livro de registros. Acervo: Colégio Americano Batista. 19 Trecho retirado do relatório anual 1956-1957, enviado para a Junta de Richmond, por Maye Bell Taylor. Acervo: Colégio Americano Batista. 20 Trecho retirado de um livro de registros. Acervo: Arquivo do Colégio Americano Batista. 21 Dayse Oliveira Garcia, ex-aluna. Entrevista concedida em 22 de abril de 2005. 22 Ivalcene Carneiro Fraga, ex-professora. Entrevista concedida em 18/4/2005. 23 Trecho do relatório anual emitido à Junta do EAB, aos missionários norte-americanos no ano de 1953. Acervo do Colégio Americano Batista. 24 Carlos Henrique dos Santos, ex-funcionário que atuou no período de 1955 a 1990. Entrevista concedida em 11/12/2004. 25 SILVA, Cleni da. . Educação Batista: Análise histórica de sua implantação no Brasil. Rio de Janeiro. JUERP, 2004. P. 79 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ANDRADE, Elza Sant’Anna do Valle. CIEM e SEC oferecem preparo excelente em educação religiosa e Missões. In: Revista Visão Missionária. Abril/junho. Rio de Janeiro: 2005. p. 57. BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. Introdução, organização e seleção Sérgio Miceli. São Paulo: Perspectiva, 1974. CATANI, Denice et alli. Docência, memória e gênero. Estudos sobre formação. São Paulo: Escrituras. Editora, 1979. CUNHA, Marcus Vinicius (org). Ideário e Imagens da Educação Escolar. São Paulo: Editora Autores Associados, 2000. p. 3-27. p. 4 FREITAS, Anamaria Gonçalves Bueno de. Educação, trabalho e ação política: sergipanas no início do século XX. Campinas: UNICAMP. 2003. p.35. (Tese de Doutorado). MEIN, Mildred Cox. 1966. Casa Formosa. Jubileu de Ouro do Seminário de Educadoras Cristãs (1917-1967). Recife: JUERP, 1966. p.24-25. SILVA, Cleni da. Educação Batista: Análise histórica de sua implantação no Brasil. Rio de Janeiro: JUERP, 2004. p. 79. TAYLOR, Maye Bell. Jornal ‘Batista Sergipano’, Ano XXVI, Nov. de 1972, nº 3. VILLAS-BÔAS, Ester F. A. influência da pedagogia norte-americana em Sergipe e na Bahia: reflexões iniciais. Revista Brasileira de História da Educação. Jul/Dez, nº 2. Campinas: Editores Associados. 2001.p.9-38. WILLIAMS, Clara Lynn. Síntese do trabalho batista em Sergipe (1913-1971). Aracaju; 1971. p.16. FONTES DOCUMENTOS 9 Colégio americano batista. Ata da fundação do instituto Pan-Americano de Ensino. 15 de novembro de 1951. Arquivo do Colégio Americano Batista. Sandra Natividade, documento enviado em 4/3/2006. ENTREVISTAS Carlos Henrique dos Santos, ex-funcionário no período de 1955 a 1990. Entrevista concedida em 11/12/2004. Dayse Oliveira Garcia, ex-aluna. Entrevista concedida em 22 de abril de 2005. Ivalcene Carneiro Fraga, ex-professora. Entrevista concedida em 18/01/2006 em RecifePE. Laurita Santana Santos, ex-funcionária do Centro Batista da Amizade no período de 1965-1998. Entrevista concedida à autora em 28/3/2006. E-MAIL WILLIAMS, Clara Lynn. E-mail enviado no dia 14/5/2006 10