USUÁRIO DIABÉTICO ATENDIDO NA UNIDADE DE SAÚDE APÓS AMPUTAÇÃO
DE MEMBRO INFERIOR
Introdução: As complicações do Diabetes Mellitus são consideradas problemas de saúde pública de
alta prevalência no Brasil. Fatores como baixa escolaridade, renda inferior a um salário mínimo,
neuropatia, vasculopatia, e não adesão ao tratamento estão fortemente associadas à amputação dos
membros inferiores(1). A atenção básica, por ser a porta de entrada dos usuários no sistema de saúde e
por acompanhá-los após intervenções de alta complexidade é responsável por desenvolver estratégias
de cuidado às pessoas de forma ampliada e resolutiva. Para isso, é necessário que os profissionais
trabalhem em conjunto e busquem alternativas para conseguir dar resolutividade às necessidades de
saúde e fortaleçam vínculo com os usuários (2). É um trabalho que necessita de habilidades técnicas
associadas às tecnologias leves, a fim de produzir cuidado que envolva o usuário de forma a promover
o máximo de participação do mesmo no processo terapêutico (3). A enfermagem, enquanto integrante da
equipe de saúde e na sua especificidade realiza cuidados que alcançam as dimensões biológicas,
psicológicas, sociais, entre outras. Objetivo: relatar a experiência do cuidado na atenção básica a um
usuário diabético e anêmico após amputação de segmento distal de membro inferior por mal perfurante
e sua vinculação com a equipe de saúde. Descrição metodológica: trata-se de um relato de experiência
sobre o trabalho realizado numa unidade básica de saúde (UBS) no cuidado a um paciente diabético e
anêmico. As fotos tiveram a autorização por escrito do usuário. Caso: homem, 42 anos, solteiro,
morando com a mãe, diabético e que não aderia ao tratamento. Perfurou o pé com um prego em casa,
durante a atividade laboral. Não deu importância ao ferimento por não se sentir incomodado com a
lesão. Procurou atendimento especializado quando a mesma infectou. A avaliação médica constatou
necrose avançada e o tratamento foi cirúrgico. Foi realizada a amputação do terço distal do pé direito.
Na internação foi descoberta anemia severa, quando foi iniciado o tratamento adequado. Após a alta
hospitalar foi encaminhado à UBS para acompanhamento. Na primeira consulta de enfermagem, foi
realizada uma avaliação abrangente que contemplou o máximo de informações sobre o contexto do
usuário até a chegada dele na UBS. A lesão pós-amputação tinha grande quantidade de esfacelo, tecido
de granulação, pouca fibrina e sinais de infecção (Imagem A). O plano de cuidados incluiu a avaliação
do usuário a cada três dias com realização de curativo, e orientações sobre a terapêutica para diabetes e
anemia. Resultados: Para os cuidados de enfermagem com o membro amputado, optou-se por uma
cobertura de hidrocolóide associado à placa de prata. A escolha destas coberturas deu-se com base no
material disponível na UBS, no histórico do usuário e nas evidências científicas, uma vez que o
hidrocolóide tem função de estimular a angiogênese e o desbridamento autolítico. É indicado para
feridas abertas e não infectadas, com leve a moderada exsudação para acelerar o processo de
granulação dos tecidos. A placa de prata diminui a colonização bacteriana e controla a infecção(4,5). Em
trinta e cinco dias de acompanhamento e cuidado já havia tecido de granulação viável para a
cicatrização (Imagem B). A partir desse momento o tratamento continuou com placa de prata e o
hidrocolóide foi substituído por ácidos graxos essenciais até o fechamento da lesão, que aconteceu
quarenta e cinco dias depois (Imagem C). O óleo vegetal composto por ácido linoleico, ácido caprílico,
ácido cáprico, vitamina A, E e lecitina de soja, promove a quimiotaxia e a angiogênese, proporciona
nutrição celular local, além de manter o meio úmido e acelerar o processo de granulação tecidual(4,5).
Para a adesão do usuário à sua condição de saúde foi realizado um trabalho em equipe com a
participação da nutricionista, enfermeira e médico, que buscaram atender as necessidades expressadas
pelo paciente estimulando-o ao tratamento da diabetes e ao controle da anemia. Cada momento de
encontro era aproveitado para ouvir as necessidades do usuário e realizar orientações. O controle do
diabetes e o fim da anemia associados ao cuidado à lesão promoveram o fechamento da ferida em
menos de três meses. A equipe de enfermagem por realizar cuidados a cada três dias proporcionou a
construção do vínculo do usuário com a UBS e auxílio no autocuidado. Ao perceber a melhora
significativa da lesão, o usuário passou a entender e aceitar melhor o tratamento e também a confiar na
equipe. Considerações finais: Cuidar com integralidade envolve saberes e práticas que, baseados nas
tecnologias leves e duras contribuem para a melhora da saúde das pessoas. Uma lesão no corpo, em
muitos casos, é acompanhada de outras que são invisíveis (desinformação, medo, desânimo com a
possibilidade de cura, desconhecimento sobre o trabalho da equipe de saúde) e que só podem ser
acessadas quando há relação de cuidado e confiança. Para isso, é necessária uma visão ampliada, escuta
criteriosa, aproveitando ao máximo os momentos de encontro para que usuários e trabalhadores da
saúde visualizem e construam juntos o processo de cuidado. Destaca-se neste trabalho a importância do
trabalho multiprofissional no âmbito da atenção básica, que entendemos ter sido fundamental para o
fechamento da lesão, controle do diabetes e da anemia. Para a enfermagem, o cuidado à pele deste
usuário envolveu a criação e fortalecimento de vínculo além da utilização das coberturas adequadas e
curativos.
Descritores: Atenção Primária. Cicatrização. Enfermagem
Eixo I – cuidados com a pele no âmbito da atenção básica.
Imagem A
Imagem B
Imagem C
Referências
1. Santos ICRV, Sobreira CMM, Nunes ENS, Morais MCA. Prevalência e fatores associados a
amputações por pé diabético. Ciência & Saúde Coletiva, 18(10):3007-3014, 2013. Disponível
em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232013001000025
2. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Política Nacional de Atenção Básica / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2012. Disponível em:
http://dab.saude.gov.br/portaldab/pnab.php
3. Merhy EE, Franco TB. Por uma Composição Técnica do Trabalho Centrada nas Tecnologias
Leves e no Campo Relacional in Saúde em Debate, Ano XXVII, v.27, N. 65, Rio de Janeiro,
Set/Dez de 2003. Disponível em:
http://www.professores.uff.br/tuliofranco/textos/composicao_tecnica_do_trabalho_emerson_me
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4. Oda RM, Salotti SRA, Guimarães HCQCP. Manual de normas, rotinas e técnicas de
curativos.1.ed. Bauru: Centro de Estudos Dr. Reynaldo Quagliato, 2004. Disponível em:
http://hansen.bvs.ilsl.br/textoc/livros/ODA_ROSELI/PDF/manual_rotinas%20.pdf
5. Franco D, Gonçalves LF. Feridas Cutâneas: A Escolha do Curativo Adequado. Rev. Col. Bras.
Cir. vol.35 no.3 Rio de Janeiro May/June 2008. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-69912008000300013&script=sci_arttext
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