UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DA CAPACIDADE EMPREENDEDORA AOS ACTIVOS INTANGÍVEIS NO PROCESSO DE CRIAÇÃO DE EMPRESAS DO CONHECIMENTO por Pedro Jorge Martins Borges de Almeida (Licenciado) Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia e Gestão da Tecnologia Orientador: Doutor Rui Miguel Loureiro Nobre Baptista Co-orientador: Doutor Pedro Filipe Teixeira da Conceição Júri: Presidente: Doutor Manuel Frederico Tojal de Valsassina Heitor Vogais: Doutor Avelino Miguel da Mota Pina e Cunha Doutor Rui Miguel Loureiro Nobre Baptista Doutor Pedro Filipe Teixeira da Conceição Lisboa, Março de 2003 UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DA CAPACIDADE EMPREENDEDORA AOS ACTIVOS INTANGÍVEIS NO PROCESSO DE CRIAÇÃO DE EMPRESAS DO CONHECIMENTO por Pedro Jorge Martins Borges de Almeida (Licenciado) Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia e Gestão da Tecnologia Orientador: Doutor Rui Miguel Loureiro Nobre Baptista Co-orientador: Doutor Pedro Filipe Teixeira da Conceição Júri: Presidente: Doutor Manuel Frederico Tojal de Valsassina Heitor Vogais: Doutor Avelino Miguel da Mota Pina e Cunha Doutor Rui Miguel Loureiro Nobre Baptista Doutor Pedro Filipe Teixeira da Conceição Lisboa, Março de 2003 À São À Nani e ao Diogo À Carla e à Vera - i- RESUMO As empresas do conhecimento apresentam características distintivas em relação ao conjunto da generalidade das empresas dado que parte significativa do seu valor corresponde a activos intangíveis. Emergindo um standard taxonómico para os activos intangíveis, em termos da avaliação as metodologias existentes não têm, na sua maior parte, aplicação na fase emergente das empresas do conhecimento, o que coloca sérios entraves a uma interacção profícua entre empreendedores e investidores ou financiadores. Uma vez que, até ao momento da constituição da empresa, a realidade que existe é a do empreendedor, estabelece-se uma ligação conceptual entre a capacidade empreendedora e a geração dos activos intangíveis. Esta relação é validada através de uma análise empírica, em que a capacidade empreendedora é medida segundo um conjunto de indicadores já validado por investigação anterior desenvolvida pelo CPIN, 1 e os activos intangíveis são medidos indirectamente através de um indicador de desempenho das empresas, a variação da produtividade, concluindo-se pela verificação empírica da existência de uma relação entre a primeira e a segunda, com relevância para as aptidões pessoais dos empreendedores. Com base na confirmação desta relação, é possível aprofundar a investigação e desenvolver metodologias habilitando à avaliação das empresas do conhecimento na sua fase emergente. Palavras chave: Empreendedor; Capacidade empreendedora; Empresa do conhecimento; Activos intangíveis; Empresa emergente; Avaliação. 1 Centro Promotor de Inovação e Negócios - i - ABSTRACT The knowledge-based firms present distinctive characteristics when compared to the generality of the firms, once a significant part of their value corresponds to intangible assets. Although a standard is emerging in taxonomic terms, the existing evaluation methodologies of the intangible assets are not, in their majority, applicable to the emergent phase of the knowledge-based firms, which creates serious impediments to a dynamic interaction between entrepreneurs and investors or financers. Once until the start-up moment the existing reality is the entrepreneur, a conceptual relationship is established between the entrepreneurial skills and the generation of intangible assets. This is then validated by an empiric research, where the entrepreneurial skills are measured through a series of indicators validated by previous research developed by CPIN2 and the intangible assets are indirectly measured through a performance indicator, the variation of the firm’s productivity, and the outcome is that there is empiric evidence of the existence of a relationship between the first and the second, with particular relevance for the personal skills of the entrepreneurs. Based on this relation, the deepening of the research and the design of methodologies leading to the evaluation of the intangible assets in emerging knowledge-based firms is possible. Keywords: Entrepreneur; Entrepreneurial skills; Knowledge-based firm; Intangible assets; Emerging firm; Assessment. 2 Centro Promotor de Inovação e Negócios - ii - AGRADECIMENTOS Por muito que uma dissertação de mestrado seja um trabalho eminentemente individual, o mesmo nunca é realizado fora de um contexto pessoal e social e dificilmente é conseguido sem um conjunto de apoios, incentivos e manifestações de solidariedade. São pois devidos agradecimentos a todos aqueles que, directa ou indirectamente, consciente ou inconscientemente, próxima ou remotamente contribuíram para a realização deste trabalho. Uma primeira palavra vai para o Corpo Docente do mestrado de Engenharia e Gestão da Tecnologia do IST, o qual me permitiu o grato prazer de regressar à minha escola passados que foram mais de vinte anos da minha licenciatura em engenharia. Com estilos diferentes, reavivaram em mim o gosto pela aprendizagem e a satisfação da aquisição e estruturação de conhecimentos. De todos os Docentes do Mestrado, devo salientar o Prof. Manuel Heitor, a quem agradeço a sua crítica exigente, mas sempre construtiva. Agradeço ainda aos meus Orientadores de mestrado, os Profs. Rui Baptista e Pedro Conceição, os quais, mesmo que distantes nos últimos tempos, foram sempre concisos e extremamente pragmáticos nas suas opiniões, sugestões e conselhos. Agradeço também a todos os meus colegas de mestrado, com quem tive muita satisfação em conviver e trabalhar, fazendo votos para que os laços de amizade perdurem para além do tempo efémero das actividades que motivaram o nosso encontro. Devo ainda agradecer aos meus colegas de trabalho no CPIN, de quem sempre recebi estímulo e úteis sugestões, com um incontornável relevo para a Sónia Palma, Investigadora no CPIN até Maio de 2002, e cujo trabalho em muito contribuiu para facilitar a elaboração desta dissertação. Um reconhecimento especial deve ser dirigido ao José Rui Felizardo, que me desafiou inicialmente para esta tarefa e nunca me regateou a sua solidariedade ao longo de vários anos. O agradecimento final vai naturalmente para a minha Família, que suportou muitas horas de isolamento da minha parte e sofreu as consequências das minhas limitações de disponibilidade sem que em algum momento tivesse deixado de me dar todo o seu apoio e estímulo para levar esta nau a bom porto. A todos bem haja. Espero não desmerecer a confiança que em mim depositaram. Pedro Lisboa, Agosto de 2002. - iii - ÍNDICE Resumo ............................................................................................................. I Abstract............................................................................................................ ii Agradecimentos............................................................................................... iii Índice ............................................................................................................... 1 Lista de Figuras................................................................................................. 3 Lista de Tabelas ................................................................................................ 6 Capítulo 1 - Introdução..................................................................................... 8 A - Temática e interesse da investigação....................................................... 8 B - Objectivos da investigação..................................................................... 8 C - Interesse da investigação e do seu tema.................................................. 9 D - Organização do documento ................................................................ 10 Capítulo 2 - Enquadramento Teórico .............................................................. 12 A - Activos Intangíveis.............................................................................. 12 O que são........................................................................................... 12 A importância dos activos intangíveis .................................................. 15 As Características Económicas dos Activos Intangíveis........................ 20 B - Taxonomia dos Activos Intangíveis ..................................................... 22 As propostas dos Autores ................................................................... 22 Um Standard emergente...................................................................... 28 Taxonomia e comportamento económico............................................ 30 C - Medição dos Activos Intangíveis.......................................................... 40 D - Os Activos Intangíveis e as Empresas do Conhecimento Emergentes.. 50 O que são Empresas do Conhecimento Emergentes............................ 50 A Adequação dos Modelos de Medição e Avaliação dos Activos Intangíveis no caso das Empresas do Conhecimento Emergentes............................... 53 E - As Empresas do Conhecimento Emergentes: O Fenómeno do Empreendedorismo .................................................................................. 61 Os Conceitos de Empreendedorismo e de Inovação............................ 61 Factores de envolvente que fomentam o empreendedorismo............... 64 As características do empreendedor..................................................... 67 O processo de criação de uma empresa ............................................... 72 Capítulo 3 - Estado Actual da Investigação Empírica ....................................... 75 A - O Estudo Skills – 1ª. Fase................................................................... 75 Aspectos gerais ................................................................................... 75 B - O Estudo Skills – 2ª. Fase................................................................... 78 Objectivos do estudo .......................................................................... 78 Universo do estudo............................................................................. 80 Enviesamentos e obstáculos à pesquisa................................................ 81 Capacidades Instrumentais.................................................................. 81 Análise dos dados ............................................................................... 82 C - Resumo das conclusões da investigação anterior .................................. 85 Capítulo 4 - Da Capacidade Empreendedora aos Activos Intangíveis............... 87 A - A questão dos indicadores................................................................... 87 Classificação de indicadores e tipologia de activos................................ 87 - 1 - Interdependência ................................................................................ 88 B - A capacidade empreendedora na origem dos activos intangíveis ........... 92 Capítulo 5 - Metodologia de Investigação........................................................ 96 A - Estratégia de investigação.................................................................... 96 B - Apresentação da metodologia.............................................................. 97 C - Caracterização da amostra.................................................................. 109 Características gerais.......................................................................... 109 Indicadores de desempenho das empresas que apresentaram contas... 114 D - Escolha das variáveis......................................................................... 123 Variáveis independentes.................................................................... 123 Variáveis dependentes ....................................................................... 127 E - Estabelecimento das Hipóteses de Investigação................................. 129 F - Discussão dos riscos de enviesamento da análise................................ 130 Risco associado à constituição da amostra.......................................... 130 Risco associado à natureza das respostas............................................ 131 Risco associado à exclusão de variáveis relevantes.............................. 131 Risco de endogeneidade.................................................................... 132 Aspectos associados às inferências..................................................... 132 Capítulo 6 - Apresentação dos Resultados...................................................... 134 A - Análises efectuadas............................................................................ 134 B - Apresentação dos resultados .............................................................. 134 Primeira regressão – Hipótese 1 / 8 observações ............................... 134 Segunda regressão – Hipótese 2 / 8 observações ............................... 136 Terceira regressão – Hipótese 1 / 7 observações................................ 139 Quarta regressão – Hipótese 2 / 7 observações.................................. 140 Capítulo 7 - Conclusão e Implicações ............................................................ 145 A - Conclusão......................................................................................... 145 Apresentação da principal conclusão................................................. 145 Discussão do significado da conclusão............................................... 145 Aprofundamento da conclusão.......................................................... 147 B - Implicações....................................................................................... 150 Capítulo 8 - Investigação futura..................................................................... 154 A - Em virtude das limitações da presente investigação............................ 154 B - No sentido do avanço no conhecimento............................................ 154 Anexo - Questionário aos Empreendedores................................................. A - 1 Referências ........................................................................................................ I - 2 - LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Rácio médio “Market-to-Book” das empresas integradas no índice S&P 500 [adaptada de Lev (2000)] ......................................................................................... 15 Figura 2 – O balanço de uma Organização do Conhecimento, neste caso o balanço da Morgan & Banks em 31 de Março de 1996 [adaptado de Sveiby (1997)]................... 19 Figura 3 – As características económicas determinantes dos Activos Intangíveis [Lev (2000)].................................................................................................................... 22 Figura 4 – Quatro categorias do pessoal das Organizações do Conhecimento [Sveiby (1994)].................................................................................................................... 24 Figura 5 – Taxonomia dos activos de uma empresa, segundo o HLEG Group [Eustace (2000)].................................................................................................................... 24 Figura 6 – Abordagem dos Activos Intangíveis proposta por Kaplan & Norton (1996), referido em Sveiby (1998)........................................................................................ 25 Figura 7 – Classificação dos Activos intangíveis [Lev (2000)]................................................ 25 Figura 8 – Taxonomia dos activos intangíveis [Sveiby (1998)]............................................... 25 Figura 9 – Taxonomia dos activos intangíveis, segundo Edvinsson e Malone (1997) [in Edvinsson e Richtner (1999)].................................................................................. 26 Figura 10 – Taxonomia dos activos intangíveis, segundo Warschat et al (1999)..................... 26 Figura 11 – As interacções entre as diferentes categorias de Capital Intelectual, segundo Warschat et al (1999)............................................................................................... 26 Figura 12 – Taxonomia dos Activos Intangíveis, segundo The Technology Broker (1997)..................................................................................................................... 27 Figura 13 – Proposta de Standard para a categorização dos Activos Intangíveis .................... 29 Figura 14 – Diferenças no comportamento económico dos Activos Tangíveis e das quarto categorias de Activos Intangíveis .................................................................. 37 Figura 15 – Posicionamento dos Activos Tangíveis e das quarto categorias de Activos Intangíveis segundo as variáveis da Não Rivalidade e da Excludabilidade.................. 38 Figura 16 – Posicionamento dos Activos Tangíveis e das quarto categorias de Activos Intangíveis segundo as variáveis da facilidade de Transacção e da Ausência de Risco ...................................................................................................................... 39 Figura 17 – Posicionamento dos Activos tangíveis das quarto categorias de Activos Intangíveis segundo a variável dos Efeitos de Rede .................................................. 39 Figura 18 – Posicionamento de 19 métodos de avaliação de activos intangíveis [adaptado de Sveiby (2001)]..................................................................................... 47 Figura 19 – Classificação das empresas não industriais em função da sua adaptação ao mercado [Sveiby (1994)].......................................................................................... 50 Figura 20 - Modelo conceptual sobre o empreendedorismo e o crescimento económico [adaptado de Gonçalves (2000)]............................................................................... 61 Figura 21 – Forças motrizes do empreendedorismo [adaptado de Gonçalves (2000)]............ 63 Figura 22 – Factores sociais e da envolvente que afectam o empreendedorismo [adaptado de Gonçalves (2000)]............................................................................... 65 Figura 23 – O processo empreendedor e os principais factores sociais e da envolvente que o influenciam [adaptado de Gonçalves (2000)]................................................... 66 Figura 24 – Um modelo de vida de desenvolvimento empreendedor [adaptado de Gonçalves (2000)]................................................................................................... 70 - 3 - Figura 25 – Aprendizagem experimental [adaptado de Gonçalves (2000)]............................. 70 Figura 26 – A dinâmica de valorização dos indivíduos [adaptado de Gonçalves (2000)]......... 72 Figura 27 – Processo de criação de uma empresa [adaptado de Gonçalves (2000)]................ 73 Figura 28 - Capacidade empreendedora na óptica Skills, segundo CPIN (1999) ................... 76 Figura 29 – Relação entre os indicadores das capacidades instrumentais dos empreendedores e os activos intangíveis das empresas emergentes........................... 92 Figura 30 – Relação entre os indicadores das capacidades pessoais dos empreendedores e os activos intangíveis das empresas emergentes..................................................... 93 Figura 31 – Relação entre os indicadores das capacidades técnicas dos empreendedores e os activos intangíveis das empresas emergentes..................................................... 93 Figura 32 – Relação entre os indicadores das capacidades de gestão dos empreendedores e os activos intangíveis das empresas emergentes........................... 94 Figura 33 – Relação entre as dimensões de análise da capacidade empreendedora e os activos intangíveis das empresas emergentes............................................................ 95 Figura 34 – Questionário electrónico – Exemplo de parcial de écran da secção de autoavaliação............................................................................................................... 105 Figura 35 – Questionário electrónico – Écran final com instrução de envio automático das respostas para o CPIN .................................................................................... 106 Figura 36 – Processo metodológico da investigação empírica............................................. 109 Figura 37 – Distribuição geográfica dos empreendedores inquiridos................................... 110 Figura 38 – Distribuição geográfica dos empreendedores respondentes.............................. 110 Figura 39 – Distribuição das empresas dos empreendedores respondentes por áreas de actividade económica ............................................................................................ 111 Figura 40 – Evolução do número médio de sócios activos ................................................. 111 Figura 41 – Distribuição do número de sócios activos das empresas................................... 112 Figura 42 – Distribuição da amostra segundo a detenção de propriedade intelectual – toda a amostra....................................................................................................... 112 Figura 43 – Distribuição da amostra segundo a detenção dos vários tipos de propriedade intelectual – toda a amostra ................................................................ 113 Figura 44 – Distribuição da amostra segundo a detenção de propriedade intelectual – empresas que apresentaram contas ........................................................................ 113 Figura 45 – Distribuição da amostra segundo a detenção dos vários tipos de propriedade intelectual – empresas que apresentaram contas.................................. 114 Figura 46 – Evolução do VAB e da respectiva taxa de variação.......................................... 115 Figura 47 – Comparação entre a evolução do VAB e a respectiva taxa de variação.............. 115 Figura 48 – Evolução da Produtividade e da respectiva taxa de variação............................. 116 Figura 49 – Empresa H – Evolução dos principais indicadores económico-financeiros e das respectivas taxas de variação......................................................................... 117 Figura 50 – Comparação entre a evolução da Produtividade e a respectiva taxa de variação................................................................................................................ 117 Figura 51 – Empresa F – Evolução dos principais indicadores económico-financeiros e das respectivas taxas de variação............................................................................ 119 Figura 52 – Relação entre idades das empresas e os respectivos indicadores VAB e Produtividade........................................................................................................ 120 Figura 53 – Evolução dos valores absolutos da Variação do VAB e da Variação da Produtividade........................................................................................................ 121 Figura 54 – Evolução dos valores absolutos da Variação da Produtividade, sem a empresa H ............................................................................................................ 121 - 4 - Figura 55 – Comparação entre variações absolutas e taxas de variação da Produtividade..... 122 Figura 56 – Valores médios da variação da Produtividade .................................................. 123 Figura 57 – Distribuição das classificações dos indicadores da capacidade empreendedora – respostas originais...................................................................... 124 Figura 58 – Distribuição das classificações dos indicadores da capacidade empreendedora – após classificação das respostas.................................................. 125 Figura 59 – Distribuição geográfica dos empreendedores A a G......................................... 139 Figura 60 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 7 observações – Posicionamento face aos valores esperados..................................................................................... 142 Figura 61 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 7 observações – Linhas correspondentes a cada uma das variáveis independentes ....................................... 143 Figura 62 – Taxas de variação e variações médias da Produtividade, sem a empresa H........ 146 Figura 63 – Comparação entre variações absolutas e taxas de variação da Produtividade, sem a empresa H (escalas logarítmicas; As empresas com valores negativos não são apresentadas)................................................................. 147 Figura 64 – Relação entre as capacidades pessoais e os activos intangíveis das empresas emergentes............................................................................................................ 148 Figura 65 – O processo de geração dos activos intangíveis nas empresas do conhecimento....................................................................................................... 150 - 5 - LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Diferenças entre Informação e Conhecimento, segundo Miller (2000) ................. 14 Tabela 2 – Comparação de propostas taxonómicas para a classificação dos Activos Intangíveis [Sveiby (1998)]....................................................................................... 28 Tabela 3 – Comparação entre o Standard Emergente de Sveiby (1998) e a proposta de categorização dos Activos Intangíveis...................................................................... 29 Tabela 4 – Diferentes comportamentos económicos das várias categorias de Activos Intangíveis (escalas de 0 a 10, correspondendo à inexistência da característica e 10 ao máximo da sua expressão. As características estão apresentadas por forma a que a maiores valores corresponda sempre um maior potencial de indução de valor.).................................................................................................... 30 Tabela 5 – Métodos para avaliação dos activos intangíveis [Sveiby (2001)]............................ 45 Tabela 6 – Adição dos modelos de Lev (2000) e de Warschat, Wagner e Hauss (1999) à tabela de Sveiby (2001) dos métodos para avaliação dos activos intangíveis............... 46 Tabela 7 – Oportunidades e riscos associados à medição do capital intelectual, segundo Warschat et al (1999)............................................................................................... 49 Tabela 8 – Simplificação classificativa para a aferição da adequabilidade dos métodos de avaliação dos activos intangíveis às empresas do conhecimento emergentes ......... 57 Tabela 9 – Adequabilidade dos métodos de avaliação da Propriedade Intelectual em empresas do conhecimento emergentes ................................................................... 58 Tabela 10 – Adequabilidade dos métodos de avaliação dos Activos de Mercado em empresas do conhecimento emergentes ................................................................... 58 Tabela 11 – Adequabilidade dos métodos de avaliação dos Activos de Infrastrutura em empresas do conhecimento emergentes ................................................................... 59 Tabela 12 – Adequabilidade dos métodos de avaliação dos Activos Humanos em empresas do conhecimento emergentes ................................................................... 59 Tabela 13 – Estudo Skills (1ª. Fase) – Tipificação dos promotores por factores ................... 77 Tabela 14 – Estudo Skills (2ª. Fase) – Quadro de análise da variável “Capacidades Instrumentais”........................................................................................................ 79 Tabela 15 – Estudo Skills (2ª. Fase) – Relacionamento interpessoal..................................... 83 Tabela 16 – Estudo Skills (2ª. Fase) – Conclusão sobre o Relacionamento Interpessoal ....... 84 Tabela 17 – Estudo Skills (2ª. Fase) – Liderança.................................................................. 84 Tabela 18 – Estudo Skills (2ª. Fase) – Conclusão sobre a Liderança..................................... 85 Tabela 19 – Estudo Skills – Resumo das conclusões globais............................................... 86 Tabela 20 – Correlações entre os indicadores das capacidades instrumentais......................... 88 Tabela 21 – Correlações entre os indicadores das capacidades pessoais................................. 89 Tabela 22 – Correlações entre os indicadores das capacidades técnicas................................. 89 Tabela 23 – Correlações entre os indicadores das capacidades de gestão............................... 90 Tabela 24 – Correlações mais significativas entre os indicadores da capacidade empreendedora ....................................................................................................... 91 Tabela 25 – Dimensões da capacidade empreendedora que mais influenciam a génese dos activos intangíveis das empresas do conhecimento (análise tentativa)................. 95 Tabela 26 – Grandes variáveis e respectivas dimensões de análise da capacidade empreendedora ....................................................................................................... 98 Tabela 27 – Estudo Skills – Indicadores da capacidade empreendedora............................ 124 - 6 - Tabela 28 – Atribuição de classificações às respostas ao inquérito....................................... 125 Tabela 29 –Indicadores da capacidade empreendedora que passaram no teste T................. 126 Tabela 30 – Variáveis independentes – Classificação dos empreendedores segundo as 4 grandes variáveis da capacidade empreendedora (escala de –1 a 3).......................... 127 Tabela 31 – Variáveis dependentes – Valores assumidos pelas empresas segundo os 2 indicadores de desempenho escolhidos.................................................................. 129 Tabela 32 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 8 observações – Variáveis................. 135 Tabela 33 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 8 observações – Anova.................... 135 Tabela 34 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 8 observações – Coeficientes............ 136 Tabela 35 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 8 observações – Variáveis................. 136 Tabela 36 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 8 observações – Sumário do modelo ................................................................................................................. 137 Tabela 37 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 8 observações – Anova.................... 137 Tabela 38 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 /8 observações – Coeficientes............. 137 Tabela 39 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 7 observações – Variáveis................. 139 Tabela 40 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 7 observações – Sumário do modelo ................................................................................................................. 140 Tabela 41 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 7 observações – Anova.................... 140 Tabela 42 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 7 observações – Coeficientes............ 140 Tabela 43 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 7 observações – Variáveis................. 141 Tabela 44 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 7 observações – Sumário do modelo ................................................................................................................. 141 Tabela 45 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 7 observações – Anova.................... 141 Tabela 46 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 /7 observações – Coeficientes............. 142 Tabela 47 – Indicadores das aptidões pessoais ................................................................... 149 - 7 - CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO A - TEMÁTICA E INTERESSE DA INVESTIGAÇÃO A presente dissertação aborda o tema do empreendedorismo do conhecimento, numa dupla vertente: • O fenómeno do empreendedorismo em si mesmo, em particular no que respeita à capacidade empreendedora dos indivíduos criadores de empresas do conhecimento, e • O valor das empresas do conhecimento na sua fase emergente, associado à identificação e à avaliação dos seus activos intangíveis. A análise e o estabelecimento de ligações, se possível relações causais, entre o processo individual de criação de uma empresa do conhecimento e os activos intangíveis associados ao ente colectivo que é a empresa do conhecimento constituem o desafio motivador deste trabalho. A passagem da esfera individual para a esfera do colectivo e do organizacional é um fenómeno muito complexo e pouco estudado ao nível dos trabalhos académicos. No entanto, uma melhor compreensão deste processo pode permitir a aproximação entre a academia e o mundo empresarial, bem como um melhor nível de acompanhamento e apoio aos empreendedores do conhecimento, e ainda uma maior capacidade de adequação de expectativas de promotores de empresas do conhecimento e potenciais investidores, tudo isto para benefício do conhecimento em geral e da competitividade das economias em particular. B - OBJECTIVOS DA INVESTIGAÇÃO A investigação desenvolvida tem como principal objectivo o estabelecimento de relações do tipo causal entre a manifestação da capacidade empreendedora em indivíduos criadores de empresas do conhecimento e a existência, ou a importância, dos activos intangíveis nas empresas do conhecimento por aqueles criadas e geridas, durante a sua fase emergente. Em termos genéricos, procura avançar-se no conhecimento de quais os indicadores, ou as dimensões, da capacidade empreendedora dos empreendedores que poderão influenciar mais fortemente a emergência dos diversos tipos de activos intangíveis nos primeiros tempos de existência de uma empresa do conhecimento. O estabelecimento da plausibilidade da existência de relações causais entre a manifestação da capacidade empreendedora e a existência, ou a importância, dos - 8 - activos intangíveis nas empresas do conhecimento permitirá a abordagem destas, quer em termos de política quer nas perspectivas da prestação de serviços especializados e de investimento, através do enfoque nas características dos seus criadores e gestores, habilitando designadamente ao desenho de acções formativas e ao estabelecimento de metodologias específicas de avaliação mais adequadas às características específicas da fase emergente das empresas do conhecimento. Existe literatura, quer de origem académica quer proveniente da actividade de consultoria, sobre a temática da classificação e da avaliação dos activos intangíveis das empresas, nomeadamente as que podem ser classificadas como empresas do conhecimento. Existem igualmente diversos métodos e metodologias para efectuar essa mesma avaliação. Existem ainda trabalhos vários versando o tema do empreendedorismo, tendo o CPIN – Centro Promotor de Inovação e Negócios, de que o autor da presente dissertação é director geral desde o final de 1999, vindo a desenvolver intenso trabalho de investigação sobre o tema concreto da avaliação da capacidade empreendedora. O estabelecimento de relações entre estes dois aspectos do empreendedorismo do conhecimento, bem como sobre as formas de avaliar os activos intangíveis das empresas do conhecimento nos seus primeiros tempos de vida, não são no entanto objecto usual da literatura, podendo mesmo afirmar-se que existe um relativo vazio de conhecimento, pelo menos traduzido de forma explícita, sobre o processo de passagem da esfera pessoal para a esfera colectiva e organizacional, que se opera sempre que um indivíduo, ou um conjunto de indivíduos, decidem pôr em marcha um novo projecto empresarial. C - INTERESSE DA INVESTIGAÇÃO E DO SEU TEMA A questão abordada pela presente investigação, bem como as conclusões que da mesma resultam, são relevantes: • Em termos académicos, designadamente porque: o Constitui um contributo para as ciências económicas e sociais; o Representa um avanço no domínio da gestão do conhecimento e, em particular, da tecnologia; o Poderá abrir o caminho para a realização de estudos futuros, tanto em termos de análises sectoriais mais finas como de trabalhos contemplando amostras mais alargadas, e ainda no desenho de metodologias para a avaliação de activos intangíveis em empresas do conhecimento emergentes.3 3 Esta é alias uma das linhas de investigação mais comummente indicadas na literatura. A este respeito, veja-se por exemplo Eustace (1999), páginas 44-45. - 9 - • Em termos práticos, designadamente porque: o A crescente relevância das empresas do conhecimento nas economias e nas políticas de desenvolvimento determina a necessidade de prestar maior atenção aos seus aspectos específicos e às mudanças que a consideração dos activos intangíveis induz nas estratégias empresariais, contabilísticas e de investimento; o A volatilidade dos mercados de investimento nas empresas de grande intensidade tecnológica, e a insegurança à mesma associada, determinam o interesse no aprofundamento do conhecimento sobre o processo de geração e consolidação dos activos intangíveis nas empresas do conhecimento; o A melhor compreensão do processo de passagem da esfera individual para a esfera colectiva e organizacional permitirá o desenho de instrumentos e ferramentas dirigidos à supressão de lacunas detectadas ao nível da capacidade empreendedora dos indivíduos, contribuindo assim para aumentar o seu potencial de sucesso e a futura valorização dos activos intangíveis das empresas por eles criadas o que, por seu turno, induzirá efeitos benéficos na competitividade das empresas e no desempenho económico em geral; o Os baixos níveis de competências normalmente encontrados nos empreendedores do conhecimento nos domínios ligados aos aspectos económico, financeiro e de gestão abre espaço para a criação e a aplicação de ferramentas que permitam prestar assistência e intermediar processos de financiamento e investimento em empresas do conhecimento emergentes; o Um melhor conhecimento mútuo e um maior nível de interacção entre os diversos agentes financeiros e os empreendedores do conhecimento facilitarão a criação e a sustentação de redes de capital, as quais podem ser consideradas como instrumentos de alavancagem para o potencial de sucesso do empreendedorismo do conhecimento. D - ORGANIZAÇÃO DO DOCUMENTO Este documento de dissertação encontra-se estruturado da seguinte forma: Após a presente parte introdutória, procede-se ao enquadramento teórico do tema objecto de investigação, começando pela abordagem aos activos intangíveis: Definição, sua importância e aspectos relacionados com as respectivas características económicas. Ainda no tratamento do tema dos activos intangíveis, aborda-se a sua taxonomia e a relação entre esta e o comportamento económico dos intangíveis, após o que se entra na questão da medição dos activos intangíveis e, de seguida, nos aspectos particulares dos mesmos no caso das empresas do conhecimento emergentes, o que envolve uma análise do fenómeno do empreendedorismo. - 10 - Feita a abordagem teórica, o documento apresenta o estado actual da investigação teórica e empírica desenvolvida pelo CPIN no domínio da caracterização da capacidade empreendedora e sua avaliação, a qual serve de base, em conjunto com a abordagem teórica aos activos intangíveis, para as análises subsequentes. A parte seguinte da dissertação procura estabelecer uma ligação entre a capacidade empreendedora dos indivíduos e os activos intangíveis das empresas do conhecimento na sua fase emergente. Na ausência de referências versando concretamente este aspecto do empreendedorismo e, em simultâneo, do tema dos activos intangíveis, a análise efectuada nesta parte do trabalho assume características mais prospectivas, reflectindo a opinião do autor, embora baseando-se quer nos conhecimentos recolhidos para a elaboração deste documento quer os que resultam da sua própria prática profissional. O documento aborda em seguida o trabalho empírico desenvolvido para procurar responder à questão subjacente ao tema desta dissertação, isto é, qual a relação entre a capacidade empreendedora dos indivíduos e os activos intangíveis das empresas do conhecimento emergentes por aqueles criadas, quer em termos da sua própria existência quer do respectivo valor, utilizando-se como medida o desempenho das referidas empresas, assumindo-se que este se encontra intimamente ligado aos activos intangíveis na fase emergente das empresas do conhecimento. Apresenta-se a metodologia utilizada na investigação, bem como a estratégia à mesma subjacente, após o que se procede à caracterização da amostra utilizada para a análise empírica. Em seguida, apresenta-se e justifica-se a escolha das variáveis utilizadas na análise empírica, após o que se formalizam as Hipóteses de investigação. Efectua-se depois a discussão dos principais riscos de enviesamento associados à análise efectuada, após o que se apresentam os resultados da mesma. Passa-se então à discussão dos resultados obtidos e traçam-se conclusões em resultado de todo o processo de investigação realizado, após o que se apontam possíveis caminhos de investigação futura. O documento termina, naturalmente, com as referências bibliográficas utilizadas na investigação. - 11 - CAPÍTULO 2 - ENQUADRAMENTO TEÓRICO A - ACTIVOS INTANGÍVEIS O que são O Dicionário On-line de Língua Portuguesa Porto Editora (2000) define: • “ACTIVO” de uma empresa como “todos os valores que uma empresa possui ou tem a receber”; • “INTANGÍVEL” como sendo algo “que não é tangível, (...), inatingível, inapalpável” (por contraposição, “TANGÍVEL” é definido como algo “que se pode tanger, tocar ou apalpar, sensível, palpável”). A partir destes sinónimos, poderemos definir “activo intangível” de uma empresa como todo e qualquer valor que esta possui e que não se pode tocar, atingir ou apalpar. Esta definição, embora simplista e não técnica, traduz bem as características distintivas fundamentais que distinguem os activos intangíveis de uma empresa dos seus restantes valores. Estes últimos podem normalmente ser divididos em activos físicos (corpóreos) e financeiros (incorpóreos), figurando de forma explícita nos balanços das empresas e organizações, de acordo com os Planos de Contabilidade em uso na generalidade dos países do mundo. Edvinsson e Arne (1999) definem “activo intangível” (ou “activo oculto”) como “Um activo que não é visível num balanço contabilístico tradicional mas que apesar disso acrescenta valor à empresa. O capital intelectual contém activos intangíveis”4 Lev (2000) refere que um activo representa um direito a receber benefícios futuros, correspondendo os activos intangíveis aqueles direitos (a receber benefícios futuros) que não têm uma expressão física (um terreno, um edifício ou um equipamento) ou financeira (uma acção ou uma obrigação). Sendo relativamente fácil de excluir um determinado activo da categoria dos activos intangíveis (bastando para tal utilizar o critério acima indicado), menos fácil será caracterizar em concreto, e de forma universalmente indiscutível, os activos intangíveis. Exemplos podem no entanto ser dados de activos intangíveis, como sejam marcas registadas, patentes, uma forma organizacional única ou ainda uma base de dados de clientes. 4 Tradução livre. - 12 - Segundo Eustace (2000), no relatório do HLEG - European High Level Expert Group on the Intangible Economy, 5 persistem ainda grandes áreas de ambiguidade relativamente ao enquadramento conceptual dos activos intangíveis. Uma das razões apontadas para tal nível de indefinição reside nas diferentes perspectivas dos diversos grupos de interesse (por exemplo, os que tratam dos aspectos contabilísticos e os que lidam com medição da riqueza e do bem-estar dos países). Vários autores assimilam a expressão “activos intangíveis” a outras designações. Para além da equivalência já referenciada de Edvinsson e Arne (1999) à expressão “activos ocultos”, Lev (2000), por seu turno, referencia os termos “knowledge assets” (activos do conhecimento), utilizado sobretudo por economistas, “intellectual capital” (capital intelectual),6 ao qual recorrem as literaturas jurídica e de gestão, ou mesmo apenas “intangibles” (intangíveis), no jargão contabilístico. Esta equivalência releva um dos elementos essenciais dos activos intangíveis: A sua íntima ligação ao uso do intelecto, materializado através do conhecimento. O conceito de “conhecer” conduz a ideias como “saber”, “avaliar” e “distinguir”. 7 De facto, em termos de gestão empresarial (e das organizações em geral), a informação, por si só, tem um valor muito baixo, tendendo mesmo a transformar-se numa “commodity”. 8 Já o conhecimento corresponde à essência de todos os valores intangíveis de uma empresa, de uma organização ou mesmo de um indivíduo. David Skyrme (1994, p. única) afirma: “Ao contrário da informação, o conhecimento é menos tangível e depende da capacidade humana de percepção e consciencialização. Existem vários tipos de conhecimento – ‘conhecer’ um facto é ligeiramente diferente de ‘informação’, mas ‘conhecer’ uma habilidade, ou ‘conhecer’ que algo poderá afectar as condições do mercado, é algo que, apesar das tentativas dos engenheiros do conhecimento para codificar este tipo de conhecimento, possui uma importante dimensão humana”. 9 Barabba e Zaltman (1990)10 propuseram uma hierarquia que se inicia nos “dados” (números, palavras), a mais baixa categoria, passando por “informação” (frases, composições), “inteligência” (regras), “conhecimento” (combinação dos níveis inferiores) e culminando na “sabedoria” (combinação de bases de conhecimento). Como é natural, ao nível mais elevado da hierarquia correspondem uma maior escassez e um maior valor específico. 5 O HLEG foi composto por Patrízio Bianchi, Lawrence J. Cohen, Leif Edvinsson, Reinhold Enqvist, Simon Fidler, Baruch Lev, Kurt P. Ramin, Thomas E. Volmann e Stefano Zambon. 6 De notar que Edvinsson e Arne (1999) referem, na sua definição de “activo intangível” já referida, que “o capital intelectual contém activos intangíveis” o que, não sendo contraditório com a equivalência feita por Lev, não deixa de não ser exactamente a mesma coisa. 7 Dicionário On-line de Língua Portuguesa Porto Editora (2000) 8 Shapiro e Varian (1999) 9 Tradução livre. 10 Citado por Sveiby (1994) - 13 - Ashleigh Brilliant11 ilustra, a este propósito: “Sei que você acredita ter compreendido o que pensa que eu disse – mas não tenho a certeza de que o que você ouviu seja realmente o que eu quis dizer!” 12 Concordantemente, Nonaka and Takeuchi13 referem: “ … informação é um fluxo de mensagens, enquanto que o conhecimento resulta desse mesmo fluxo de informação, ancorado nas convicções e nos comprometimentos do seu detentor. Isto ... enfatiza o facto de o conhecimento se encontrar relacionado de forma essencial com a acção humana”.14 Miller (2000) sintetiza a diferença entre informação e conhecimento da seguinte forma: Informação Conhecimento Estática Dinâmico Independente dos indivíduos Dependente dos indivíduos Explícita Tácito Digital Analógico Facilmente duplicável Tem de ser gerado Facilmente difundível Difundível essencialmente por contacto ponto a ponto Sem significado intrínseco Significado tem de ser atribuído pessoalmente Tabela 1 – Diferenças entre Informação e Conhecimento, segundo Miller (2000) Sumariando, os activos intangíveis de uma empresa correspondem aos seus valores não palpáveis que conferem direito a receber benefícios futuros e que se encontram intimamente associados ao conhecimento, decorrente da acção humana e do uso da inteligência à mesma inerente. O conhecimento, por sua vez, corresponde ao significado que cada indivíduo atribui à informação de que dispõe, encontrando-se o seu valor associado à capacidade de agir que o mesmo lhe confere. A informação, em si mesma, não possui valor intrínseco não correspondendo, portanto, a um activo intangível. 11 Citado por Miller (2000) 12 Tradução livre. 13 Citados por Miller (2000), sem indicação de página. 14 Tradução livre. - 14 - A importância dos activos intangíveis Lev (2000, p. 14) refere: Numa recente audição da Comissão do senado para as actividades bancária, imobiliária e urbanística, dedicada à “Adaptação do Modelo de apresentação de informação financeira ao Século XXI”, 15 cada um dos cinco peritos que testemunharam referiu, em primeiro lugar, as ineficiências da informação constante dos relatórios financeiros para o crescimento dos activos intangíveis e o tratamento inadequado destes activos pelo sistema contabilístico tradicional. Foi argumentado que os activos intangíveis ultrapassam os tangíveis na maior parte das empresas comerciais, tanto em valor como em contribuição para o crescimento, embora sejam rotineiramente classificados como despesas nos relatórios financeiros e, como tal, permaneçam ausentes dos balanços das empresas. Este tratamento assimétrico, de capitalizar (considerar como activos) os investimentos físicos e financeiros, enquanto se consideram como despesas os intangíveis, conduz ao enviesamento dos relatórios referentes ao desempenho e ao valor das empresas.”16 O rácio “Market-to-Book” (M/B)17 é referido frequentemente como constituindo um bom indicador da importância crescente dos activos intangíveis no valor das empresas, em particular a partir do início da era dos computadores pessoais. 7 6 5 4 3 2 1 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 0 Figura 1 - Rácio médio “Market-to-Book” das empresas integradas no índice S&P 500 [adaptada de Lev (2000)] 15 . A audição teve lugar em 19 de Julho de 2000. Os peritos ouvidos foram (por ordem alfabética): Robert Elliott (KPMG), Baruch Lev (New York University), Steve Samek (Arthur Andersen), Peter Wallison (American Enterprise Institute), e Michael Young (Willkie Farr & Gallagher). 16 Tradução livre. 17 Relação entre a capitalização bolsista de uma empresa (o valor que lhe é atribuído pelo mercado, resultante do produto entre a cotação das respectivas acções em bolsa e o número de acções representativas da totalidade do capital social), e o seu valor constante do respectivo balanço. - 15 - Sendo inegável que as empresas sempre detiveram activos intangíveis (basta atentar na definição encontrada anteriormente), a subida desenfreada que se verifica no rácio M/B desde o início da década de oitenta18 resulta de uma conjugação única de factores, associados às características da chamada nova economia:1920 • A intensificação da concorrência nos mercados, induzida pelos fenómenos da globalização dos negócios e da desregulação em sectores económicos chave (por exemplo telecomunicações, electricidade, transportes e serviços financeiros); • O advento das tecnologias de informação (TI), cujo expoente máximo, e mais recente, se encontra materializado na Internet Shapiro e Varian (1999) referem que a dependência das TI nos sistemas conduz a que as empresas têm não só de atender aos seus concorrentes mas igualmente aos seus colaboradores. Referem ainda os mesmos Autores que aspectos como a cooperação e a compatibilidade passaram a ser aspectos essenciais nas decisões de gestão. As características da envolvente (externa e interna) das organizações conduzem a que o conhecimento tenha ganho um valor estratégico acrescido, o que se reflecte nos valores atingidos pelo rácio M/B.21 A importância da gestão das relações (clientes, fornecedores, colaboradores, parceiros), bem como a interdisciplinaridade e a crescente complexidade tecnológica (mais tecnologias em cada produto e mais produtos a partir de cada tecnologia) conferem ao conhecimento, e à sua gestão, um papel primordial na gestão empresarial. Shapiro e Varian (1999) defendem que a principal mudança que diferencia a nova economia é o facto de esta ser conduzida pelas economias, ou externalidades, de rede, enquanto que a velha economia é conduzida pelas economias de escala. As economias de rede são caracterizadas pela existência de feedbacks positivos, os quais conduzem a situações do tipo “os fortes ficam cada vez mais fortes” e “os fracos ficam cada vez mais fracos”, ou seja, à emergência de monopólios. 18 As quebras bolsistas ocorridas desde meados de 2000, primeiro nas cotações das empresas comummente designadas por TMT (Tecnológicas, Media e Telecomunicações) e depois na generalidade dos mercados, induziram uma desvalorização do índice S&P 500, entre Março de 2000 e Junho de 2002, de cerca de 35%. Esta quebra, embora muito significativa, não invalida o raciocínio apresentado. Na falta de dados recentes do rácio M/B relativamente ao índice S&P500, admitindo que os activos tangíveis das empresas cotadas terão subido (novos investimentos – depreciação) em média, neste período, entre 5% e 10%, o rácio M/B em meados de 2002 para o índice S&P500 será ainda de aproximadamente 3.5 a 3.8, ou seja, o valor de 1997/1998. Para uma análise mais completa da evolução do índice S&P 500 consultar http://www.spglobal.com. 19 Lev (2000) 20 Amaral e Pedro (2002) confirmam a evolução indicada por Lev mostrando que, entre 1991 e 1999, o rácio médio M/B da BVLP se multiplicou por um factor de 3. Uma actualização do rácio para meados de 2002, seguindo os mesmos critérios, conduziria a um valor, para as empresas cotadas na bolsa portuguesa, na ordem de 2 a 2.2 vezes o de 1991 o que, representando um desempenho inferior, ainda assim é consistente com o observado e estimado para o índice S&P500. 21 Lev (2000), citando Hall (2000), refere que, mesmo descontando o facto de os balanços das empresas evidenciarem os custos históricos, a substituição destes pelos custos de substituição (dos activos tangíveis constantes dos balanços) conduziria a um valor dos activos intangíveis cerca de três vezes superior ao dos activos físicos. - 16 - No entanto, Shapiro e Varian argumentam que os monopólios da nova economia tendem a ser de menor duração, assistindo-se a uma constante luta pelo domínio do mercado e a uma rápida obsolescência das tecnologias, substituídas por novas vagas de tecnologias superiores. Estes dois Autores caracterizam melhor as externalidades de rede, induzidas pela existência de feedbacks positivos, como correspondendo a economias de escala do lado da procura, enquanto que as economias de escala clássicas da era industrial (a velha economia) poderão ser caracterizadas como economias de escala do lado da oferta. Summers (2000) afirmou sobre a nova economia: “Os produtos são avaliados cada vez mais pelo conhecimento nos mesmos incorporado e menos pelo sua constituição material.22 Num mundo baseado na informação, a maioria dos bens que são produzidos terá características semelhantes às dos fármacos, livros ou discos, ao envolverem avultados custos fixos e muito menores custos marginais. E num mundo assim os efeitos de rede manifestar-se-ão muito mais. Pense-se num aparelho de fax isolado; é um bocado de metal que pode bem ser mais útil para segurar uma porta. Agora pense-se em 100.000 aparelhos de fax, isso representa 10 mil milhões de possíveis ligações.” 23 Aquilo que é importante reter das diferenças entre nova e velha economia é essencialmente a importância das dinâmicas de rede, sejam estas reais ou virtuais (como por exemplo a rede dos utilizadores de software Microsoft). Em tudo o mais a nova economia rege-se pelos mesmos princípios da velha. 24 E nem sequer as dinâmicas de rede são algo de verdadeiramente novo. Existem diversos casos de redes na velha economia, como por exemplo as redes de fornecimento de energia eléctrica, gás ou água, bem como as redes de transportes. E as já referidas dinâmicas de rede também estão ali presentes. O surgimento da informação como elemento com relevância económica25 conferiu às redes uma nova importância, porquanto permitiu o aparecimento explosivo de redes já não suportadas numa infra-estrutura física. Hoje as redes sustentam-se essencialmente em informação e conhecimento, sendo cada vez menos importante o suporte físico que permite a existência dos respectivos fluxos, crescentemente mais pesados e mais rápidos. Não será talvez por acaso que assistimos actualmente a uma convergência de interesses entre tecnologias de informação, 22 Citação de Alan Greenspan, Presidente da Federal Reserve dos EUA. 23 Tradução livre. 24 Como se verá mais adiante, as diferenças que caracterizam o comportamento económico dos activos intangíveis, nos quais a chamada “nova economia” se sustenta, vão para além da manifestação das externalidades de rede (Lev [2000]), embora estas se encontrem quase omnipresentemente associadas aqueles. 25 Aliás, como se viu, do conhecimento associado ao seu uso real ou potencial. - 17 - comunicações e produção de conteúdos: São os ingredientes necessários para sustentar e desenvolver o conhecimento em que se concentra cada vez mais o valor da actividade económica, e a Internet veio dar-lhes o espaço adequado para a sua implantação e expansão. A relevância do conhecimento e o seu crescente valor económico são pois os elementos que conferem às redes a importância que adquiriram na nova economia. Estas alterações conduzem obrigatoriamente à necessidade de adopção de novos paradigmas, designadamente em termos de mercado e de modelos organizacionais. Skyrme (1997a) sistematiza as principais razões pelas quais o valor do conhecimento (ou seja, os activos intangíveis) se tornaram tão importantes para a economia nos últimos anos: “O nível de interesse tem vindo a crescer nos tempos mais recentes. [...] A nossa análise indicia três razões26 para que o nível de interesse tenha crescido tanto nos últimos anos: • As iniciativas existentes são de alcance limitado – A Gestão da Qualidade Total (TQM), a Reengenharia dos Processos de Negócio (BPR) e iniciativas similares ajudaram as organizações a conseguir ganhos de eficiência naquilo que fazem. Mas quantas dessas iniciativas conseguiram verdadeiramente retirar o máximo do talento de uma empresa e ajudá-la a diferenciar-se no mercado? • O conhecimento pode induzir um acréscimo dos preços no mercado – O conhecimento aplicado pode desenvolver o valor (e assim o preço) de produtos e serviços. Exemplos são a ‘broca inteligente’, que aprende a extrair mais petróleo do furo, e a cadeia de hotéis que conhece as preferências pessoais e lhes concedem um serviço personalizado. • Prevenção de erros custosos – Ao reterem conhecimento as organizações emagrecem ou reestruturam-se, as organizações conseguem evitar erros custosos ou ‘reinventar a roda’. • Partilha de boas práticas – As empresas poupam milhões por ano ao extraírem conhecimento dos melhores, aplicando-o em situações similares noutro local. • Inovação bem sucedida – As empresas, ao aplicarem métodos de gestão do conhecimento, descobriram que os seus desenvolvimentos, tais como a Internet, tornam a ‘cidade global’ ainda mais pequena. Estes e outros benefícios, tais como o serviço ao cliente melhorado, a resolução mais rápida de problemas e uma mais célere adaptação às mutações do mercado, resultaram de um enfoque no conhecimento da organização”. 27 Sveiby (1997) distingue a s partes “visível” e “invisível” do balanço de uma Organização do Conhecimento, 28 referindo que a parte tangível/visível corresponde ao balanço 26 Skyrme refere, no texto, três razões mas apresenta de facto cinco. Por fidelidade de reprodução, não se corrigiu o lapso do texto na tradução. 27 Tradução livre. - 18 - anual “normal” da organização, evidenciando os activos tangíveis e a forma como os mesmos são financiados. Activos tangíveis Financiamento Visível Disponibilidades Dívidas de curto prazo Créditos sobre terceiros Dívidas de médio e longo prazo Activos físicos (equipamentos e espaços) Capital social visível Estrutura externa Capital social (financiamento dos Accionistas) invisível Estrutura interna Competências do pessoal Obrigações Activos intangíveis Financiamento Invisível Figura 2 – O balanço de uma Organização do Conhecimento, neste caso o balanço da Morgan & Banks em 31 de Março de 1996 [adaptado de Sveiby (1997)] Sveiby refere que: • Os activos intangíveis não são muito líquidos e, ao contrário dos activos fixos, são ao mesmo tempo detidos e não detidos pela organização. O modelo de simulação considera três tipos de activos intangíveis: A Estrutura externa, a Estrutura interna e a Competência do pessoal. • A contrapartida dos activos intangíveis do lado do financiamento é, em grande parte, constituída por Capital social29 invisível. Uma vez que a banca não se mostra disponível a financiar investimentos em activos intangíveis, a maior parte do desenvolvimento do negócio é auto-financiada. • Existem poucas máquinas para além dos empregados, o pessoal chave. Os engenheiros investigadores, os programadores e os consultores são as “máquinas” de uma Organização do Conhecimento. Os colaboradores constituem portanto a Competência para resolver problemas. 28 Este Autor concentra-se essencialmente em organizações de serviços. Numa Organizações do Conhecimento com componente industrial o balanço seria diferente, existindo mais componentes tangíveis. No entanto, a base do raciocínio de Sveiby seria igualmente válida. 29 Ou seja, financiamento dos Accionistas. - 19 - • A Competência do pessoal não é evidentemente propriedade da organização, uma vez que o pessoal é constituído por membros voluntários da mesma. No entanto, existe um laço de lealdade entre o pessoal e a organização, criado pela ética e pela cultura, que age como uma “cola”. A competência, portanto, também tem um valor para a organização, mesmo não sendo por si detida no sentido comum. • Esta obrigação não é registada nos livros mas não deixa de ser uma certa espécie de Obrigação. Poderá ser assimilada à obrigação inerente a um contrato de aluguer. Esta obrigação não paga é igualmente parte do financiamento invisível. As Características Económicas dos Activos Intangíveis30 Segundo Lev (2000), os activos intangíveis apresentam características económicas específicas, que ditam a sua diferenciação fundamental relativamente aos activos tangíveis e contribuem para a dificuldade na sua adequada contabilização. As características económicas distintivas dos activos intangíveis são: • A não rivalidade, 31 ou seja, o facto de que um determinado uso de um activo intangível não impede, ou prejudica, a concorrência de outros usos. Lev exemplifica com o Web Site da Amazon.com, cuja utilização pelo cliente A não impede, ou prejudica, a sua utilização em simultâneo pelo cliente B. Lev refere que a característica de não rivalidade representa um importante indutor de valor dos activos intangíveis, indicando que este potencial de geração de valor, várias vezes referenciado como escalabilidade dos intangíveis, se encontra limitado apenas pela dimensão do mercado. Comenta-se no entanto que a utilização de muitos activos intangíveis, designadamente o apontado por Lev como exemplo, pode estar limitada abaixo da dimensão do mercado, devido a limitações de acesso – neste caso por exemplo de largura de banda ou de capacidade de processamento, como ficou claramente demonstrado em ataques ocorridos em 2000 a diversos portais Web norte-americanos – sendo certo que estas limitações poderão estar normalmente associadas ao grau de rivalidade inerente aos activos tangíveis que constituem plataformas tecnológicas para a utilização dos activos intangíveis, e não a estes últimos em si mesmos... Ao contrário, os activos tangíveis apresentam a característica da rivalidade, a qual conduz ao impedimento da ocorrência de usos concorrentes do mesmo activo, o que restringe significativamente a sua escalabilidade. Os benefícios crescentes que caracterizam alguns intangíveis potenciam ainda mais a sua escalabilidade • Os efeitos de rede são, segundo Lev, um cunho das indústrias32 de tecnologias de informação avançadas. Apesar de as externalidades de rede existirem em várias 30 Este ponto é essencialmente baseado em Lev (2000). 31 “Nonrivalry” em inglês. 32 O termo “indústria” é aqui entendido no sentido lato. - 20 - indústrias envolvendo activos tangíveis significativos, aquelas tornam-se proeminentes em sectores tecnológicos e de base científica, devido às mudanças fundamentais na natureza das corporações – menos dependentes da integração vertical, mas mais dependentes das redes de competências (empregados, clientes, fornecedores...) – e às quebras dramáticas dos custos das comunicações (o que facilita o “networking”). Lev refere ainda que as redes são cada vez mais caracterizadas por intangíveis relacionados com os produtos (produtos/serviços únicos, protegidos por propriedade intelectual) no seu núcleo , e intangíveis associados às alianças na sua periferia. Lev salienta que os efeitos de rede, consequentemente, são frequentemente indissociáveis dos activos intangíveis. Comenta-se a este propósito, concordantemente, que, encontrando-se os activos intangíveis indelevelmente associados ao conhecimento, e correspondendo este por sua vez, como se referiu anteriormente, ao significado que cada indivíduo atribui à informação de que dispõe, encontrando-se o seu valor associado à capacidade de agir que o mesmo lhe confere, facilmente se compreenderá o carácter quase universal dos efeitos de rede nos activos intangíveis. • A excludabilidade parcial33 e o efeito de espalhamento, 34 nos quais os intangíveis diferem dos activos físicos e financeiros, devido à dificuldade dos detentores dos intangíveis em excluir terceiros do pleno usufruto dos seus investimentos. Lev salienta que os não proprietários raramente podem ser impedidos por completo da partilha dos benefícios dos intangíveis. Esta não excludabilidade, mesmo quando parcial, conduz à ocorrência de efeitos de espalhamento, ou seja, benefícios para os não proprietários, e incapacidade do exercício de controle efectivo, no sentido legal do termo, sobre a maioria dos intangíveis. Esta incapacidade, por sua vez, induz desafios únicos e significativos para a gestão e a elaboração de relatórios relativos aos activos intangíveis, o que conduz à ocorrência de uma constante tensão entre o potencial de criação de valor deste tipo de activos (escalabilidade) e a dificuldade em não defraudar expectativas quanto à total apropriação dos respectivos benefícios. • O risco intrínseco aos intangíveis, decorrente do facto de, geralmente, o investimento neste tipo de activos ser intenso nas fases iniciais (de descoberta) do processo de inovação. Lev realça que é nestas fases que o risco inerente a o sucesso tecnológico e comercial das inovações é mais elevado. Consequentemente, o nível de risco associado aos intangíveis é, normalmente, bastante superior ao associado à maioria dos activos físicos ou financeiros. 33 O termo “excludabilidade” não consta do Dicionário On-line da Língua Portuguesa (2000), utilizado como referência neste trabalho. No entanto, entendeu-se dever traduzir o termo “excludability” desta forma, uma vez que o termo “excluir” provém, segundo a mesma referência, do termo latino “excludâre”. 34 “Spillovers” em inglês. - 21 - • A dificuldade de transacção dos activos intangíveis decorre designadamente da nebulosidade dos direitos legais de propriedade, da dificuldade de previsão contratual abrangente de todas as eventualidades e da estrutura de custos dos intangíveis (elevados custos afundados e custos marginais negligenciáveis), o que conduz à volatilidade dos preços. Lev referencia que, em conformidade, não existem actualmente mercados organizados activos para os intangíveis, embora tal possa vir a modificar-se com o advento das trocas através da Internet (o que virá a requerer mecanismos facilitadores específicos, tais como sistemas de avaliação e securização). As trocas privadas de intangíveis sob a forma de licenças e alianças proliferam, na opinião de Lev, embora não proporcionem a informação essencial para a medição e a avaliação dos intangíveis. Lev apresenta, de forma esquemática, o conjunto de características económicas determinantes dos activos intangíveis, através da seguinte ilustração: Indutores de Valor Inibidores de Valor Excludabilidade Parcial • Espalhamento • Direitos de Propriedades Difusos • Benefícios Privados vs. Sociais Escalabilidade • Não Rivalidade • Benefícios Crescentes Risco Intrínseco vs. Efeitos de Rede • Feedback positivo • Externalidades de Rede • Estabelecimento de Standards • Custos Afundados • Destruição Criativa • Partilha do Risco Transacção Difícil • Problemas Contratuais • Custos Marginais reduzidos • Informação Assimétrica , Figura 3 – As características económicas determinantes dos Activos Intangíveis [Lev (2000)] B - TAXONOMIA DOS ACTIVOS INTANGÍVEIS As propostas dos Autores A crescente importância dos activos intangíveis nas empresas e na economia em geral, que ganhou incomportável relevância desde o início da década de 1980, levou a que consultores e académicos começassem a debruçar-se sobre o tema da sua classificação, em particular na perspectiva da respectiva avaliação. - 22 - Skyrme (1997b) evidencia esta necessidade, afirmando: “Verifica-se um criticismo crescente relativamente aos balanços por estes não terem em conta esses factores intangíveis que determinam em grande medida o valor de uma empresa e as suas perspectivas de crescimento. Os activos ‘não reportados’ correspondem em média a várias vezes os tangíveis. Em Junho de 1997, o rácio M/B relativo à totalidade das empresas listadas no Dow Jones Industrial era de 5,3, enquanto que em muitas empresas intensivas em conhecimento (por exemplo Microsoft, companhias farmacêuticas), chegava a ultrapassar a dezena. As empresas que estão a começar a medir estes activos intangíveis enumeram várias razões para o fazer: • Reflecte com mais verdade o valor real da empresa • As exigências são crescentes para a efectiva governância dos intangíveis, sendo já evidente a necessidade de prestação de informação relativa aos aspectos sociais e ambientais. • ‘O que pode ser medido pode ser gerido’ – de onde um enfoque na protecção e no crescimento dos activos que reflectem valor • Sustenta um objectivo da corporação para o aumento do valor para os accionistas • Permite a prestação de informações mais úteis para os investidores existentes e potenciais. Verifica-se pois um interesse crescente em relação à forma como as empresas medem os seus activos intangíveis, incluindo os activos intelectuais. Enquanto que a classe dos contabilistas ainda discute a forma como esses activos deveriam ser reportados, existe um conjunto de empresas pioneiras que já desenvolveram formas apropriadas de os medir e usam-nas na sua definição de objectivos e nas práticas de gestão”.35 Karl-Erik Sveiby terá sido um dos primeiros Autores a debruçar-se sobre este problema,36 revelando inclusivamente como “descobriu” a “Organização do Conhecimento”, 37 através do relato de situações em que se viu envolvido e que o levaram a questionar as suas convicções, de tal modo que afirma: “Portanto, quando eu cheguei fui atingido por um rude choque cultural. Nada do que tinha aprendido na universidade, ou durante os meus seis anos como gestor na Unilever, me tinham preparado para uma situação como esta”.38 A frase contida no excerto de Skyrme (1997b), acima, "O que pode ser medido pode ser gerido", resume bem a necessidade que desde o primeiro momento foi sentida de classificar e medir – para poder gerir – os activos intangíveis nas organizações e, em particular, nas empresas. 35 Tradução livre. 36 Skyrme (1999). 37 Sveiby (1994). 38 Tradução livre. - 23 - No percurso do conhecimento para chegar à capacidade de determinar o valor dos activos intangíveis das organizações, o caminho passa por conseguir uma classificação para os mesmos, ou seja, chegar a uma taxonomia. Um primeiro passo nesse sentido pode ser encontrado em Sveiby (1994), que apresenta uma classificação sintética do pessoal numa Organização do Conhecimento: Conhecimento Profissional + - Os Profissionais O Líder O Pessoal Administrativo e Contabilístico O Gestor + Conhecimento Organizacional Figura 4 – Quatro categorias do pessoal das Organizações do Conhecimento [Sveiby (1994)] Eustace (2000) apresenta uma visão mais completa dos activos de uma empresa, separando os activos intangíveis em dois grandes grupos: ACTIVOS TANGÍVEIS Activos físicos Imóveis Equipamento Existências Outros Activos financeiros Disponibilidades Créditos – clientes, hipotecas, cartões de crédito, etc. Investimentos Garantias BENS INTANGÍVEIS Contratos de fornecimento Licenças Quotas Franquias COMPETÊNCIAS INTANGÍVEIS Competências intangíveis Competências de inovação Competências estruturais Competências de mercado Recursos humanos Mercadorias intangíveis Obras protegidas por direitos de autor ou patentes Outros direitos de Propriedade intelectual Marcas registadas Design e know-how Segredos comerciais Figura 5 – Taxonomia dos activos de uma empresa, segundo o HLEG Group [Eustace (2000)] • Os “bens intangíveis”, constituídos pelo conjunto de activos intangíveis sobre os quais a empresa detém indiscutíveis direitos de propriedade; - 24 - • As “competências intangíveis”, constituídas pelos activos intangíveis sobre os quais a empresa não detém direitos proprietários indiscutíveis. Kaplan & Norton (1996)39 sugere uma abordagem de análise dos activos intangíveis segundo vários enfoques, conforme se evidencia na Figura 6: Quadro de equilíbrios dos Activos Intangíveis Abordagem Financeira Abordagem do Cliente Abordagem do Processo Abordagem da Aprendizagem Figura 6 – Abordagem dos Activos Intangíveis proposta por Kaplan & Norton (1996), referido em Sveiby (1998) Lev (2000) classifica os factores que, induzidos pela intensificação da competição, determinam as mudanças corporativas fundamentais: Competição Acrescida Induzida por Globalização, Desregulação, Mudança Tecnológica Mudança Corporativa Fundamental Ênfase em Inovação, Desverticalização, Uso Intensivo das TI Intangíveis Relacionados com a Inovação Intangíveis dos Recursos Humanos Intangíveis Organizacionais Figura 7 – Classificação dos Activos intangíveis [Lev (2000)] Sveiby (1998) apresenta igualmente a sua proposta de taxonomia dos activos intangíveis das empresas, assentando a mesma na divisão em activos relativos à estrutura externa, à estrutura interna e às competências dos indivíduos. Activos da Organização Activos tangíveis Activos intangíveis Relativos à Estrutura Externa Relativos à Estrutura Interna Relativos às Competências dos Indivíduos Figura 8 – Taxonomia dos activos intangíveis [Sveiby (1998)] De notar que, nesta proposta de Sveiby, a questão dos direitos proprietários não surge em primeiro plano. Na linha da proposta de Sveiby, mas de uma forma mais elaborada, Edvinsson e Malone (1997) sugerem a seguinte taxonomia: 39 Referido em Sveiby (1998) - 25 - Activos da organização Activos tangíveis Capital intelectual Capital humano Capital estrutural Base de mercado Capital organizacional Capital de processo Capital de inovação Figura 9 – Taxonomia dos activos intangíveis, segundo Edvinsson e Malone (1997) [in Edvinsson e Richtner (1999)] Warschat et al (1999) sugerem uma taxonomia não muito distante das anteriores: Capital Intelectual Capital Humano - Competências - Atitudes - Liderança e desenvolvimento Capital Organizacional - Processos Infrastrutura Cultura Gestão Capital de Mercado Capital de Inovação - Rel. c/ clientes - Rel. C/ forneced. - Compet. De merc. - Outras relações - Desenvolv. de processos - Prod./Serviços - Tecnologias Figura 10 – Taxonomia dos activos intangíveis, segundo Warschat et al (1999) Os mesmos Autores procuram evidenciar como os vários tipos de activos intangíveis se articulam e interagem, de uma forma dinâmica, no processo de geração de valor de uma empresa: Capital Organizacional Ca pita l de Ino vaç ão Ca pita l de M erc ado Capital Humano Ca pita l de Me rca do Capital Humano Capital Organizacional Figura 11 – As interacções entre as diferentes categorias de Capital Intelectual, segundo Warschat et al (1999) - 26 - A taxonomia de activos intangíveis proposta pelo Technology Broker segue também uma via não muito distante: Activos Intangíveis Activos de Infrastrutura - Filosofia de gestão Cultura corporativa Proc. de gestão Proc. de negócio Impacto dos sist. de informação - Relações externas - Networking - Cumprimento de standards Activos de Mercado - Marcas Posicionamento Base de clientes Nome da empresa Canais distrib. Acordos e licenças Contratos Propriedade Intelectual - Patentes Direitos de Autor Direitos de design Segredos comerc. Activos Humanos - Inteligência Conhecimento Hab. Literárias Capacidades Espírito empreendedor - Espírito de equipa - Sociabilidade Figura 12 – Taxonomia dos Activos Intangíveis, segundo The Technology Broker (1997) Vários outros Autores têm apresentado as suas próprias sugestões de taxonomia de activos intangíveis. No entanto, as diferentes propostas não correspondem a divergências de fundo, ou contradições significativas, entre as várias classificações. Bontis (2000) refere, a este propósito, que muitos modelos possuem construções similares, diferindo mais nas designações do que nas suas essências. Como exemplo, Bontis refere as designações “Capital Humano” (Skandia Navigator, de Edvinsson e Malone), “Activos Humanos” (Technology Broker) e “Competência do Pessoal” (Sveiby), as quais reflectem de facto a mesma realidade. Bontis refere ainda que estas diferentes denominações para conceptualizações similares podem conter aspectos positivos e negativos: Do lado positivo, demonstram uma convergência dos quadros de análise e o enfoque em conceitos importantes, que demonstram consistência sob as várias perspectivas. Do lado negativo, Bontis salienta que este campo de estudo se encontra ainda numa fase embrionária, o que leva a que nenhum Autor se disponha a abdicar da sua própria nomenclatura, a favor de uma consolidação do conjunto. Bontis sugere que uma mudança para melhor poderá ocorrer à medida que a necessidade de medições mais generalizadamente válidas emerja, sendo importante que, a prazo não muito longo, se possa desenvolver uma plataforma de definições comummente aceites e generalizadamente utilizável. É entretanto já possível estabelecer as principais linhas-força seguidas, de uma forma ou de outra, pela generalidade da bibliografia consultada, como se faz de seguida. - 27 - Um Standard emergente Sveiby (1998) procedeu a uma comparação das taxonomias propostas por si próprio, por Kaplan & Norton e pelo Skandia Navigator, 40 tendo construído a seguinte tabela comparativa: Sveiby Kaplan & Norton Edvinsson & Malone Estrutura Interna Perspectiva dos Processos Internos Capital Organizacional Estrutura Externa Perspectiva dos Clientes Capital do Mercado Competências do Pessoal Perspectiva da Aprendizagem e Crescimento Capital Humano Tabela 2 – Comparação de propostas taxonómicas para a classificação dos Activos Intangíveis [Sveiby (1998)] A partir desta comparação, e realçando o facto de terem surgido propostas com similitudes simultaneamente em dois pontos diferentes do Globo (a proposta de Kaplan & Norton proveio dos EUA, enquanto que a proposta de Edvinsson e Malone é originária da Suécia), Sveiby conclui pela possível emergência de um Standard, avançando com a proposta de categorização dos activos intangíveis em três grupos: • Externos à organização • Internos à organização (mas externos aos empregados individualmente) • Individuais (Internos aos empregados individualmente) A proposta de Sveiby não integra no entanto várias outras classificações sugeridas. Diversos Autores propõem uma divisão em quatro categorias, e não três, como por exemplo Warschat et al (1999) e The Technology Broker (1997). Os próprios Edvinsson e Malone, na realidade, dividem o Capital Organizacional em capital de Processo e capital de Inovação. O HLEG Group [Eustace (2000)], dividindo aparentemente os Activos intangíveis em apenas dois grupos (os “bens” e as competências), na realidade integra na categoria das competências quatro diferentes tipos de activos intangíveis os quais se cruzam com as três categorias defendidas por Sveiby. Uma tentativa de consolidação das várias propostas taxonómicas apresentadas deverá antes conduzir a uma sistematização em quatro categorias, na linha das classificações sugeridas por Warschat et al (1999) e pelo Technology Broker (1997). 40 Esta última coincidente com a atribuída neste trabalho a Edvinsson e Malone (1997) [in Edvinsson e Richtner (1999)], o primeiro dos quais apresentou a sua proposta taxonómica num suplemento ao relatório anual do Skandia Group, tendo-lhe dado o nome de “Skandia Navigator”. - 28 - Assim, propõe-se a seguinte categorização: Activos Intangíveis Propriedade Intelectual - Patentes Direitos de Autor Direitos de design Segredos comerciais - Desenvolvimento de processos - Produtos e serviços - Tecnologias Activos de Mercado Activos de Infrastrutura - Marcas Posicionamento Base de clientes Nome da empresa Canais de distrib. Acordos e licenças Contratos Relações com a envolvente - Parcerias - Filosofia de gestão Cultura corporativa Proc. de gestão Proc. de negócio Impacto dos sist. de informação - Relações externas - Networking - Cumprimento de standards Activos Humanos - Inteligência Liderança Conhecimento Capacidades Competências Atitudes Espírito de iniciativa - Espírito de equipa - Sociabilidade Figura 13 – Proposta de Standard para a categorização dos Activos Intangíveis A proposta taxonómica de síntese que aqui se defende é, no entanto, coerente com o Standard sugerido por Sveiby (1998). Na verdade, a grande diferença reside precisamente no aspecto que foi já atrás destacado na característica do modelo de Edvinsson e Malone, que subdivide o Capital Organizacional em capital de Processo e Capital de Inovação. Esta mesma divisão é referida também por Skyrme (1997b). É pois possível construir um quadro comparativo, como segue: Categorização dos Activos Intangíveis Standard Emergente de Sveiby (1998) Proposta Externos à organização Activos de Mercado Internos à organização (mas externos aos empregados individualmente) Propriedade Intelectual Individuais (Internos aos empregados individualmente) Activos de Infrastrutura Activos Humanos Tabela 3 – Comparação entre o Standard Emergente de Sveiby (1998) e a proposta de categorização dos Activos Intangíveis A autonomização da Propriedade Intelectual [os “bens” intangíveis, segundo Eustace (2000)] é importante face à diferente característica destes activos intangíveis relativamente aos restantes, a qual se revela designadamente pelos diferentes graus de apropriabilidade e excludabilidade o que, conforme se analisará mais adiante neste trabalho, assume importância fundamental no caso das empresas emergentes. Valerá a pena agora regressar à questão das características económicas dos activos intangíveis, focada anteriormente, para uma análise diferenciada em função da categorização proposta. - 29 - Taxonomia e comportamento económico Tendo proposto quatro categorias fundamentais de activos intangíveis – Propriedade Intelectual, Activos de Mercado, Activos de Infrastrutura e Activos Humanos – e tendo-se concluído pela existência de cinco características fundamentais do seu comportamento económico – não rivalidade/escalabilidade, efeitos de rede (indutores de valor), excludabilidade parcial, risco intrínseco e dificuldade de transacção (inibidores de valor) – importará fazer uma breve análise das consequências que tem, ao nível do comportamento económico, a categorização proposta. Para o efeito, dever-se-á antes de mais discutir em que grau as diferentes características de comportamento económico identificadas anteriormente se manifestam em cada uma das categorias dos activos intangíveis propostas. Seguidamente, poder-se-á proceder a algumas análises comparativas inter categorias e entre estas e os activos tangíveis. A Tabela 4 apresenta uma proposta dos diferentes posicionamentos, em termos de comportamento económico, e segundo as variáveis indicadas por Lev (2000), das quatro categorias de Activos Intangíveis sugeridas, conforme apresentado naFigura 13: Não Efeitos de Excluda- Ausência de Risco Facilidade de Rivalidade rede bilidade Intrínseco transacção Tangíveis 0 2 10 8 10 Propriedade Intelectual 8 8 7 3 7 Activos de Mercado 7 6 4 5 4 Activos de Infrastrutura 8 7 3 4 2 Activos Humanos 6 9 5 4 5 Tabela 4 – Diferentes comportamentos económicos das várias categorias de Activos Intangíveis (escalas de 0 a 10, correspondendo à inexistência da característica e 10 ao máximo da sua expressão. As características estão apresentadas por forma a que a maiores valores corresponda sempre um maior potencial de indução de valor.) A análise que se efectua de seguida recorrerá ao agrupamento dos comportamentos económicos em: • Rivalidade e Excludabilidade • Risco Intrínseco e Facilidade de Transacção • Efeitos de Rede - 30 - Este agrupamento resulta da natureza própria dos comportamentos tomados para análise e das suas inter-relações. A rivalidade e a excludabilidade podem, de alguma forma, considerar-se interligadas: Sendo possível excluir facilmente terceiros do usufruto de um determinado activo, tem-se alguma capacidade de controle sobre o grau de rivalidade do mesmo activo. Do mesmo modo, um activo com um elevado risco intrínseco apresentará provavelmente maior dificuldade na sua transacção, bem como maior volatilidade no respectivo valor. As relações inversas também se verificarão em muitos casos. No que respeita aos efeitos de rede, os mesmos verificam-se nos activos intangíveis mas igualmente em alguns activos tangíveis embora, para efeitos da presente análise tenham sido tomados os activos tangíveis “típicos”, os quais normalmente não se encontram associados a elevados níveis de investimento inicial com características, mais ou menos evidentes, de investimentos afundados. Por este motivo, a análise desta variável é feita de forma isolada. Os activos tangíveis possuem uma rivalidade e uma excludabilidade máximas. De facto, tipicamente, por um lado, o facto de um activo tangível, seja ele financeiro ou material, estar a ser utilizado por um utilizador, ou por um conjunto limitado de utilizadores, impede o seu uso simultâneo por qualquer outro e, por outro, o detentor proprietário desse activo pode excluir terceiros da sua utilização. Em consequência da característica de rivalidade máxima, os activos tangíveis não possuem a característica da escalabilidade, isto é, não se verifica a ocorrência de benefícios crescentes. Um automóvel, um edifício, um equipamento fabril, um depósito a prazo ou um título de capital de uma empresa não induzem benefícios crescentes para o seu detentor. Os benefícios resultantes da detenção de um activo tangível variarão com o tempo, em função das condições do mercado e do seu próprio estado de conservação e utilização (em particular no caso dos activos físicos), mas não crescem pelo simples facto de que a sua utilização se encontra limitada pelas suas próprias características intrínsecas, e não apenas pela dimensão do mercado. A este propósito, Grossman e Helpman (1994, pp. 23-44) referem: “O conhecimento é cumulativo, com cada ideia a ser construída sobre a anterior, enquanto que as máquinas se deterioram e têm de ser substituídas. Neste sentido, cada dólar orientado para o conhecimento induz um progresso de produtividade na margem, enquanto que cerca de três quartos do investimento privado em maquinaria e equipamento se destina apenas a substituir a depreciação.”41 Os activos intangíveis apresentam, como foi realçado anteriormente, comportamentos de não rivalidade/escalabilidade e não excludabilidade parcial. No entanto, e aliás na linha das razões que levaram à propositura da autonomização da Propriedade intelectual relativamente aos outros Activos de Estrutura, considera-se que a Propriedade Intelectual, nas suas várias formas, apresenta um nível de excludabilidade superior aos dos restantes activos intangíveis. Aliás, concordantemente, Eustace (1999) apelida-os de “Bens” Intangíveis. A existência de um sistema, mesmo que 41 Tradução livre. - 31 - imperfeito, de registo de patentes, direitos de autor e outras expressões da Propriedade Intelectual conferem aos seus detentores a possibilidade de agirem judicialmente contra quem pretenda deles usufruir sem autorização. O facto de estes sistemas estarem, pelo menos actualmente, ainda longe de uma eficácia semelhante à que ocorre no caso dos activos tangíveis leva, no entanto, a não atribuir à Propriedade Intelectual uma classificação máxima. No entanto, a Propriedade Intelectual apresenta elevado nível de não rivalidade e de escalabilidade. Claramente, a utilização de uma patente por um indivíduo de modo algum impede outro de a utilizar e, por outro lado, é comum assistir-se à construção de patentes sobre os resultados de patentes anteriores, provenientes dos mesmos detentores ou de terceiros, como é referido na citação anterior de Grossman e Helpman. Todos os restantes activos intangíveis apresentam igualmente elevados níveis de não rivalidade e de escalabilidade. Considera-se no entanto que estes níveis serão eventualmente um pouco inferiores aos apresentados para a Propriedade Intelectual em dois casos: • Relativamente aos Activos de Mercado (marcas, posicionamento, bases de clientes, canais de distribuição, contratos, relações com a envolvente, parcerias...), a escalabilidade terá menor expressão, porquanto se torna mais difícil de construir novos blocos de conhecimento (ou seja, mais capital intelectual) em cima do conhecimento existente, desde logo pelo menor nível de codificação de alguns destes activos e porque intervém, neste caso, uma relação com terceiros, cuja efectividade e cujo potencial de crescimento (pelo efeito de escalabilidade) depende igualmente destes e não apenas da empresa detentora dos activos. • No caso dos Activos Humanos considera-se que a diferença poderá ser ainda um pouco mais expressiva, uma vez que estes activos dependem, ainda mais do que os de Mercado, de terceiros e que a característica de não rivalidade (ou seja, a não limitação do uso do activo senão pelo limite do próprio mercado) assume uma menor expressão. Na realidade, se os Activos Humanos (inteligência, liderança, conhecimento, capacidades, competências, atitudes, sociabilidade...) são claramente intangíveis, a verdade é que se expressam através de instrumentos bem tangíveis, que são pessoas físicas. Em termos de excludabilidade, e pelas mesmas razões, considera-se que, de todos os Activos Intangíveis, é a Propriedade Intelectual que mais se aproxima do comportamento dos activos tangíveis, colocando-se todos os restantes a uma distância considerável. Aqui, sobretudo pela já referida expressão física do Capital Humano, considera-se que esta categoria de activos intangíveis apresenta níveis médios de excludabilidade, enquanto que os Activos de Mercado e os de Infrastrutura apresentam claramente (estes últimos com maior expressão ainda) a característica da excludabilidade parcial. Lev (2000, p. 55) refere: - 32 - “A excludabilidade parcial (direitos de propriedade difusos) característica da maioria dos investimentos intangíveis cria desafios de gestão únicos e consideráveis. A plena exploração do potencial de uma máquina é uma tarefa realizável do ponto de vista da engenharia. Mas conseguir o pleno uso do conhecimento tácito residente nos cérebros dos empregados é muito mais difícil. Apenas quando este conhecimento é codificado (em manuais ou programas de inteligência artificial), e sistematicamente partilhado com os outros empregados, é que o seu valor pode ser plenamente explorado, em benefício da empresa. Contudo, desenvolver um tal sistema de codificação e partilha de informação representa um desafio de grande dimensão.”4243 Em termos de risco intrínseco, considera-se antes de mais que não existem situações de “risco zero” na actividade empresarial. Por esta razão não se atribui a classificação 10 aos activos tangíveis. No entanto, é bem claro que estes possuem um risco intrínseco muito inferior ao dos activos intangíveis. Shapiro e Varian (1999, p. 21) referem: “A componente dominante dos custos fixos associados à produção de informação possui características de custos afundados, ou seja, custos que não são recuperáveis em caso de suspensão da produção. Quando se investe num novo edifício para escritórios e se decide que afinal o mesmo não é necessário, consegue-se recuperar parte dos custos incorridos através da venda d o imóvel. Mas se um filme que se está a produzir não chega ao seu termo, então o seu guião não terá qualquer valor significativo de revenda. Se um CD é um fracasso, acaba numa pilha de “monos” a $4.95 ou a $25 a meia dúzia. Os custos afundados têm normalmente de ser pagos à cabeça, antes mesmo de se iniciar a produção.”44 Estas mesmas observações, segundo Lev (2000), são aplicáveis igualmente a muitos outros intangíveis, tais como a I&D e o investimento em marcas ou em Capital Humano. Lev salienta ainda, apresentando alguns casos concretos, que estudos empíricos permitem evidenciar a assimetria inerente ao processo de inovação: Enquanto que uns – poucos – produtos/processos são “blockbusters”, os restantes (a grande maioria) são completos fracassos. Aqui reside o risco inerente ao processo de criatividade e inovação e do investimento em intangíveis ao mesmo subjacente. De todos os activos intangíveis, considera-se que aquele que apresenta um grau de risco intrínseco mais elevado é a Propriedade Intelectual. Muitas das patentes registadas são resultado de investigação fundamental, a qual apresenta o risco mais elevado de não vir a beneficiar de valorização de mercado. 45 Mesmo a outros níveis de registo de propriedade intelectual, existem muitas situações que não chegam a ver a luz do dia (ou que, vendo-a, não obtêm o sucesso esperado) em termos de mercado. 42 Tradução livre. 43 . Lev comenta que um sistema de informação deste tipo – Eureka – foi desenvolvido pela Xerox para uso dos seus 25.000 técnicos, sendo no entanto um caso ainda raro. 44 Tradução livre. 45 Lev (2000). - 33 - Todavia, considera-se que as diferenças entre os vários activos intangíveis neste domínio se situam numa faixa estreita. Os Activos de Mercado são colocados na fronteira superior desta faixa de variação (ou seja, apresentam menor risco) porque neste caso o risco se encontra mais disperso, sendo portanto, naturalmente, menos agudo. As tendências do mercado, as relações das empresas com os seus mercados, as bases de clientes e a envolvente em geral não se encontram sujeitas à imprevisibilidade de forma tão evidente como os activos associados à própria empresa ou aos seus recursos humanos. A dificuldade de transacção é, para efeitos desta análise, considerada como referência nula para os activos tangíveis. Tal não significa que tal facilidade seja absoluta neste caso, mas antes que se toma a transaccionabilidade destes activos como referência de comparação, ou como benchmark, relativamente ao qual os vários activos intangíveis serão comparados. Griliches (1995, p. 77) refere: “Uma unidade de um equipamento pode ser vendida e revendida ao preço de Mercado. O resultado dos investimentos em investigação e desenvolvimento são em larga medida impossíveis de ser vendidos directamente... a falta de medidas directas dos “outputs” da investigação e desenvolvimento induz um nível inescapável de inexactidão e aleatoriedade na nossa formulação.”46 Lev (2000, p. 65) afirma: “A ausência de mercados organizados para os intangíveis tem sérias consequências..47 Por exemplo, a medição e a avaliação dos intangíveis (patentes, marcas...) encontra-se limitada pela ausência de referências de comparação, designadamente preços de activos em transacções semelhantes. Nas mentes de algumas pessoas, a inexistência de tais referências desqualifica os investimentos intangíveis para a sua consideração nas contas tanto empresariais como nacionais.”48 Teece (1998, p. 275) salienta: “A impossibilidade de estabelecer compromissos concretos em termos da especificação detalhada do produto final, incorporando a mais avançada tecnologia, numa actividade sujeita a desenvolvimentos tecnológicos rápidos, é inerente à própria actividade. Esta impossibilidade de definir à partida, de forma concreta e específica, as características finais de um produto é precisamente o aspecto que torna impossível a existência de concursos competitivos em certas actividades.”49 Lev (2000) referencia que a estrutura de custos de muitos intangíveis relacionados com as tecnologias de informação, as quais são caracterizadas por avultados, e muitas das 46 Tradução livre. 47 Lev comenta o seu ênfase nos mercados organizados porque, em princípio, existem mercados sempre que uma troca comercial se efectua. Neste sentido, quando a empresa A licencia uma patente à firma B, existe um mercado. O que distingue os intangíveis da maioria dos restantes activos é a ausência de trocas activas e organizadas com numerosos participantes e formação transparente de preços (isto é, como sucede nas transacções de títulos e de mercadorias). 48 Tradução livre. 49 Tradução livre. - 34 - vezes afundados, investimentos iniciais, e custos marginais (tendendo para o zero) de produção, mina ainda mais a operacionalização de um sistema convencional de preços para este tipo de produtos, referenciando seguidamente a demonstração que Shapiro e Varian (1999, pp. 19-20) fazem deste atributo dos intangíveis ligados às tecnologias da informação com o caso da Encyclopedia Britannica: “Há alguns anos, uma colecção encadernada com trinta e dois volumes da Enciclopédia Britânica custava $1,600... Em 1992 a Microsoft decidiu entrar no negócio das enciclopédias... [criando] um CD com alguns sons e animações e um interface amigável para o utilizador e colocou-o no mercado a $49.95... A Britânica começou a ver o seu mercado esboroar-se... O primeiro movimento da empresa foi oferecer acesso on-line a livrarias a um preço anual de $2,000... Mas a Britânica continuou a perder quota de mercado... Em 1996 a empresa ofereceu uma versão CD por $200... Actualmente, a Britânica vende um CD por $89.99 que possui o mesmo conteúdo que os trinta e dois volumes da versão impressa que, recentemente, vendia por $1,600.”50 Lev (2000) salienta ainda que a imprecisão muitas vezes existente relativamente aos direitos de propriedade sobre os activos intangíveis contraria igualmente o estabelecimento de mercados e de sistemas de transacção organizados. Os problemas respeitantes à propriedade do capital Humano resultante do investimento das empresas em formação, ou a distinção entre a propriedade da empresa sobre uma marca e a parte da mesma que pertence ao seu fundador (por exemplo a Microsoft e Bill Gates) dificultam a transaccionabilidade dos intangíveis. De todos os activos intangíveis, aquele que claramente menos sofre da dificuldade de transacção é a Propriedade Intelectual. Mais uma vez, a sua característica de activo codificado e sujeito a regras e sistemas legais de propriedade (embora imperfeitos, bastando verificar o número de acções judiciais relacionadas com a excludabilidade da propriedade intelectual) fazem com que esta categoria de intangíveis se aproxime sensivelmente, mas obviamente não de forma perfeita, do comportamento económico dos activos tangíveis. Os Activos Humanos surgem na posição seguinte, mas sensivelmente inferior, em termos de facilidade de transacção. Também neste caso, por um lado, a já referida expressão através de pessoas físicas e, por outro, a possibilidade de estabelecer contratualmente sistemas de protecção da propriedade dos activos humanos51 permitem que se faça uma distinção, pela positiva, deste tipo de activos intangíveis face aos Activos de Mercado e de Infrastrutura.52 50 Tradução livre. 51 Entenda-se: Não propriedade das pessoas em si mesmas! 52 Podem ser dados dois exemplos evidentes da possibilidade, aqui referida, de estabelecimento de preços de mercado para os activos humanos (de novo, no sentido específico aqui tratado): O primeiro é o dos direitos de passe detidos pelos Clubes desportivos sobre a transferência dos seus jogadores antes do fim dos respectivos contratos, os quais são estabelecidos imediatamente no próprio contrato de trabalho, e o segundo é a prática, cada vez mais frequente, do estabelecimento de compromissos de permanência, durante um período pré determinado de tempo, dos anteriores donos de empresas de base tecnológica em operações de fusões e aquisições, assegurando deste modo o não esvaziamento dos activos humanos da empresa imediatamente a seguir à operação e dando tempo a que os mesmos sejam, pelo menos em parte, incorporados nos seus Activos de Infrastrutura. - 35 - Por razões associadas às características relacionais e de relativa externalidade associadas aos Activos de mercado, classifica-se em seguida este tipo de activos intangíveis. Já o caso dos Activos de Infrastrutura, neste aspecto, surgem em posição bastante desfavorável, uma vez que é extremamente difícil estabelecer direitos de propriedade – e como tal transaccionar, de forma transparente, o capital organizacional de uma empresa. Relembre-se que, nesta categoria, se incluem activos como a filosofia de gestão, a cultura corporativa ou o impacto dos sistemas de informação, tudo aspectos extremamente difíceis de avaliar e sobretudo de transaccionar. Aliás, não será por acaso que a classificação desta categoria de activos é igualmente a mais desfavorável quando vista sob o ponto de vista da excludabilidade. No domínio dos efeitos de rede, não se classifica em zero o comportamento dos activos tangíveis porque, como se afirmou, existem situações em que estes activos igualmente beneficiam deste tipo de efeitos. Não é, no entanto, o comportamento típico dos tangíveis clássicos. Os efeitos de rede associados aos intangíveis e, muito em particular, aqueles ligados à informação são sobejamente conhecidos: Os casos das redes virtuais constituídas pelos utilizadores de um sistema operativo Windows ou do sistema de vídeo VHS, ou ainda do sistema de telefonia móvel GSM, são citados invariavelmente por toda a literatura. O estabelecimento de standards e de compatibilidade é, neste contexto, um elemento fundamental da potenciação das externalidades de rede [Shapiro e Varian (1999)]. Lev (2000) refere que os efeitos de rede são prevalecentes nos mercados da informática, das telecomunicações e da electrónica de consumo, afirmando ainda que, similarmente, mas induzidos de forma “informacional”, os efeitos de rede se fazem sentir também, por exemplo, nos mercados farmacêuticos, quando o uso de um determinado medicamento por outros médicos influencia as percepções de cada um (médico) sobre a respectiva eficácia, segurança e aceitação pelos doentes.53 A existência de efeitos de rede favorece o estabelecimento de alianças e colaborações. Shapiro e Varian (1999, pp. 201-202) referem, a este propósito: “Uma aliança constituída por um grupo de empresas com o propósito expresso de promover uma tecnologia ou um standard específicos... uma aliança construída como uma teia em torno de um patrocinador, um actor central que recolhe royalties dos outros [ou disponibiliza a tecnologia gratuitamente aos membros da aliança mas não aos outros], preserva direitos proprietários sobre componentes chave da rede e ou mantém o controle sobre a evolução da tecnologia.”54 53 Neste aspecto, a velha frase “os meus clientes são os meus melhores vendedores” assume características semelhantes. No entanto, é preciso notar que os benefícios para cada utilizador do uso do mesmo activo tangível por outros utilizadores é nulo ou apenas marginal: No caso de um equipamento, por exemplo, podem esperar-se benefícios marginais induzidos por um uso generalizado do mesmo manifestados, por um lado, como sendo um sinal da sua fiabilidade, bem como podendo levar a assistência a ser mais rápida, mais barata e mais bem equipada mas, em contrapartida, poderá representar maior risco de congestionamento das redes de assistência ou o risco de rotura de stocks de peças de substituição. 54 Tradução livre. - 36 - A Propriedade Intelectual e os Activos Humanos, face ao exposto, surgem com uma classificação próxima da máxima no que respeita aos efeitos de rede. O estabelecimento de alianças, consórcios, equipas e círculos informais, bem como todos os meios associados ao uso da Internet que permitem a interacção entre seres inteligentes potenciam esta característica. Precisamente o acréscimo do potencial gerado pela extrema facilitação do estabelecimento de redes informais e/ou virtuais leva a classificar os Activos Humanos num nível ainda superior ao da Propriedade Intelectual. Seguidamente, classificam-se os Activos de Infrastrutura, dada a facilidade de, através de fusões e aquisições, consórcios ou outras formas de alianças e parcerias, serem difundidos muitos dos activos contidos nesta categoria, gerando dinâmicas de feedback positivo. Por último, mas ainda do lado positivo e portanto muito distantes do posicionamento dos activos físicos e financeiros, situam-se os Activos de Mercado. Mais uma vez as características destes activos, já referenciadas anteriormente, limitam este potencial. Por outro lado, as empresas tenderão, por razões concorrenciais, a não divulgar facilmente várias informações vitais associadas a este tipo de activos. Em presença destas classificações das várias categorias de activos intangíveis, e da sua comparação com o comportamento económico dos activos tangíveis, é agora possível traçar quadros mais abrangentes de comparação. A Figura 14 ilustra as diferentes classificações atribuídas às quatro categorias de Activos intangíveis, segundo as cinco variáveis comportamentais de Lev (2000). Indução de valor Não Rivalidade 10 Inibição de valor 5 Facilidade de transacção Efeitos de rede 0 Ausência de Risco Intrínseco Excludabilidade Tangíveis Propriedade Intelectual Activos de Infrastrutura Activos Humanos Activos de Mercado Figura 14 – Diferenças no comportamento económico dos Activos Tangíveis e das quarto categorias de Activos Intangíveis - 37 - Da análise da figura resulta claro o comportamento assimétrico típico da generalidade dos activos tangíveis. Verifica-se igualmente que o intangível com um comportamento mais equilibrado é a Propriedade Intelectual. Com comportamentos menos simétricos surgem os Activos de mercado e o Capital Humano e, como comportamento mais assimétrico – e relativamente inverso ao dos tangíveis – surgem os Activos de Infrastrutura. A posição “confortável” da Propriedade Intelectual decorre naturalmente da conjugação das suas características específicas, que potenciam o efeito de dois dos indutores de valor (codificação e formalização, sistemas de registo legal, comunidades de trabalho) e minimizam a influência dos seus inibidores (níveis relativos de excludabilidade e transaccionabilidade), não se classificando tão favoravelmente apenas na variável do risco inerente. Esta conjugação de factores será provavelmente a principal razão pela qual é precisamente sobre a Propriedade intelectual que versa a maior parte da literatura sobre activos intangíveis. Lev (2000) refere que, uma vez que os investimentos em I&D correspondem ao o único intangível de primeira grandeza sobre o qual as empresas cotadas fornecem informação específica, muita da investigação empírica relativa aos intangíveis incide naturalmente sobre a Propriedade intelectual. De facto, a Propriedade intelectual pode ser, de algum modo, colocada “à parte” no universo dos Activos Intangíveis, e por isso se propõe a sua autonomização relativamente aos restantes Activos de Infrastrutura. 10 Indução de valor Excludabilidade Tangíveis Propriedade Intelectual Activos de Mercado 5 Activos de Infrastrutura Activos Humanos Inibição de valor 0 0 5 10 Não Rivalidade Figura 15 – Posicionamento dos Activos Tangíveis e das quarto categorias de Activos Intangíveis segundo as variáveis da Não Rivalidade e da Excludabilidade Este carácter particular pode ser realçado através da Figura 15, em que se cruzam as dimensões da não rivalidade e da excludabilidade. A Propriedade Intelectual é, das quatro categorias de activos intangíveis, aquela que mais se aproxima do comportamento dos activos tangíveis os quais surgem extremamente bem posicionados segundo a dimensão da excludabilidade e com a pior classificação segundo a da não rivalidade. Note-se no entanto que a propriedade Intelectual surge em oposição aos activos tangíveis no que respeita à rivalidade e são, de longe, os únicos - 38 - que se posicionam claramente no quadrante da indução de valor . Os restantes activos intangíveis surgem num conjunto posicionado menos favoravelmente. 10 Indução de valor Ausência de Risco Tangíveis Propriedade Intelectual 5 Activos de Mercado Activos de Infrastrutura Activos Humanos Inibição de valor 0 0 5 facilidade de transacção 10 Figura 16 – Posicionamento dos Activos Tangíveis e das quarto categorias de Activos Intangíveis segundo as variáveis da facilidade de Transacção e da Ausência de Risco Analogamente, mostra-se na Figura 16 uma análise semelhante, mas agora em função das variáveis da ausência de risco e da facilidade de transacção. De novo a Propriedade Intelectual se aproxima mais dos activos tangíveis (embora, segundo a variável da ausência de risco, se posicione de forma contrária), surgindo de novo as restantes três categorias agrupadas, e de novo com os Activos de Infrastrutura menos bem colocados, em oposição aos activos tangíveis. Aqui são os activos tangíveis aqueles que se posicionam no quadrante da indução de valor, surgindo os Activos de Infrastrutura posicionados no quadrante da inibição de valor. 10 Indução de valor 5 Inibição de valor 0 Tangíveis Propriedade Intelectual Activos de Mercado Activos de Infrastrutura Activos Humanos Figura 17 – Posicionamento dos Activos tangíveis das quarto categorias de Activos Intangíveis segundo a variável dos Efeitos de Rede Por último, a Figura 17 apresenta o posicionamento das mesmas categorias segundo a variável dos efeitos de rede. Aqui o comportamento da propriedade intelectual afasta- 39 - se do dos activos tangíveis. Sendo os Activos de mercado os que apresentam uma posição menos favorável, todos os activos intangíveis se demarcam claramente do posicionamento extremamente desfavorável dos activos tangíveis, os quais surgem claramente posicionados do lado da inibição de valor. Da análise efectuada resulta claro que, das quatro categorias de activos intangíveis, a Propriedade Intelectual é aquela sobre a qual mais capacidade existe de gestão e avaliação efectivas. As restantes categorias, talvez com destaque para os Activos de Infrastrutura, serão porventura mais difíceis de tratar nestes domínios. C - MEDIÇÃO DOS ACTIVOS INTANGÍVEIS Como se referiu anteriormente, a taxonomização dos activos intangíveis não é senão um passo no percurso para a sua avaliação, a qual tem evidente interesse económico, face à crescente importância (para não dizer prevalência) dos activos intangíveis sobre os tangíveis na atribuição de valor de mercado às empresas, muito em particular as de base tecnológica. Vários Autores têm vindo a apresentar, e a procurar sistematizar, os métodos existentes para a medição (e a avaliação) dos activos intangíveis. Skyrme (1997b) refere: “A medição do capital intelectual é ainda algo de relativamente novo, existindo apenas uma mão cheia de empresas pioneiras a utilizar este tipo de medições em larga escala. A nossa investigação identificou um conjunto de passos que estas companhias percorrem até conseguirem obter benefícios visíveis desta política: • Desenvolvimento de maiores reconhecimento e compreensão do papel do conhecimento e da natureza do capital intelectual. • Criação de uma linguagem comum mais largamente difundida no próprio espaço interno da empresa, como por exemplo a utilização de termos tais como ‘capital humano’. • Identificação de indicadores convenientes e apropriados. • Desenvolvimento de um modelo de medição que integre estes indicadores num quadro coerente. • Introdução de sistemas de medida, incluindo o processos de acompanhamento de gestão que orientam e premeiam os gestores. • Utilização objectiva de consultores imparciais e de auditorias para a implementação de aspectos chave do processo de medida. A experiência sugere que uma corrida para os detalhes da medição antes de se compreenderem alguns aspectos fundamentais é contraprodutiva. Um dos peritos mais eminentes que entrevistámos - 40 - colocou esta questão de forma sucinta: «São necessários bons modelos mentais antes de se poderem desenvolver bons modelos de gestão»”.55 Skyrme discute as características dos quadros de classificações,56 referindo em concreto os métodos denominados “The Balanced Score-card”, desenvolvido por Kaplan e Norton, e “Economic Value Added (EVA)”, de Stern Stewart. O primeiro método encontra-se desenhado para chamar a atenção do gestor para os factores que ajudam à estratégia do negócio, adicionando aos indicadores financeiros medidas para clientes, processos internos e inovação. O segundo método relaciona-se com o retorno do capital investido, podendo ser associado ao mesmo uma outra medida, designada por “Valor Acrescentado de Mercado”. Segundo Skyrme, vários autores criticam os dois métodos referidos por resultarem em medidas estáticas, não apoiando os decisores na identificação das relações causa - efeito subjacentes, enumerando um conjunto de outros métodos com significado: • O “Skandia Navigator” (uma espécie de “balanced score-card) e o seu modelo subjacente de criação de valor; 57 • O “Intangible Assets Monitor”, de Karl-Erik Sveiby, o qual divide os activos intangíveis em estrutura externa, estrutura interna e competências dos recursos humanos;58 • O “Intellectual Capital Index”, de Intellectual Capital Services; • A Metodologia “Inclusive Value”, de Philip M’Pherson, a qual combina hierarquias de valor financeiras e não financeiras; e • O “Information Health Index”, do Programa KPMG/IMPACT, o qual se concentra essencialmente num importante requisito prévio à medição dos activos intangíveis – boas práticas de informação de gestão: Os processos de identificação, protecção e exploração da informação, assim como a sua governância. Bontis (2000) apresenta igualmente um trabalho resultante da compilação e análise crítica de diversos métodos para a avaliação dos activos intangíveis. Neste trabalho, Bontis lista e descreve criticamente dez diferentes métodos, nos quais inclui a maior parte (mas não todos) os identificados por Skyrme. Num trabalho mais recente, Sveiby (2001), como resultado de uma investigação que levou a cabo para apurar o estado-da-arte na medição dos activos intangíveis, encontrou dezassete métodos de avaliação, os quais sistematiza nos seguintes grupos: 55 Tradução livre. 56 “Scorecards” e “Scoreboards” são os termos normalmente utilizados na literatura, originalmente em inglês, que se traduziram aqui por “quadros de classificações”, sendo indistintamente utilizada, noutros locais do trabalho, a expressão “quadros de equilíbrios”. 57 O “Skandia Navigator”, como foi já referido neste trabalho, suporta-se na taxonomia defendida por Leif Edvinsson, igualmente apresentada e discutida anteriormente. 58 A taxonomia defendida por Sveiby foi também já apresentada e discutida neste trabalho. - 41 - • Métodos Directos de Capital Intelectual (DIC): Estimam o valor financeiro dos activos intangíveis através da identificação dos seus vários componentes. Uma vez identificado, cada componente pode ser directamente avaliado, seja individualmente seja através de um coeficiente permitindo a sua agregação; • Métodos de Capitalização do Mercado (MCM): Calculam a diferença entre a capitalização de mercado de uma empresa e o conjunto dos valores de balanço dos seus accionistas, assimilando esta diferença ao valor dos activos intangíveis da empresa;59 • Métodos de Retorno dos Activos (ROA): Os resultados antes de impostos médios de uma empresa durante um certo período de tempo são divididos pelos activos tangíveis médios da empresa durante o mesmo período. O resultado é o conhecido indicador ROA (Returns on Assets), o qual é então comparado com os valores médios do sector. A diferença é multiplicada pelos activos tangíveis médios da empresa para calcular os benefícios médios atribuíveis aos activos intangíveis. Dividindo os ganhos acima da média pelo custo médio do capital da empresa, ou por uma taxa de juro, pode derivar-se uma estimativa dos seus activos intangíveis; • Métodos de Quadros de Classificações (SC): Os vários componentes dos activos intangíveis são identificados, sendo aos mesmos associados indicadores e índices, os quais são apresentados em quadros de classificações ou gráficos. Os métodos SC são semelhantes aos métodos DIC, excepto no facto de não ser feita uma estimativa do valor financeiro dos activos intangíveis. Pode ser então produzido, ou não, um índice composto. Sveiby, numa análise comparativa, refere que os métodos que permitem uma avaliação financeira, como os ROA ou MCM, são particularmente úteis para operações de fusões e aquisições e para avaliações para o mercado de capitais. Podem ainda ser utilizados para fazer comparações entre empresas do mesmo sector e para ilustrar o valor financeiro dos activos intangíveis, o que tende a prender a atenção dos directores executivos. Uma outra vantagem referida por Sveiby é o facto de estas formas de medição se sustentarem numa linguagem amigável para os contabilistas. Em contrapartida, este tipo de métodos apresenta limitações resultantes precisamente da estrita tradução financeira dos intangíveis, podendo ser portanto superficiais. Os métodos ROA são muito sensíveis aos pressupostos sobre taxas de juro e os métodos que apenas analisam aspectos organizacionais apenas são úteis ao nível das Administrações das empresas. Alguns não têm qualquer interesse para organizações sem fins lucrativos ou para departamentos cujo desempenho não possa ser adequadamente traduzido de uma forma estritamente financeira, o que sucede em particular com os métodos MCM. 59 Estes métodos podem associar-se ao rácio “Market-to-Book” (M/B) apresentado anteriormente. De facto, o valor dos activos intangíveis (AI) será, segundo estes métodos: AI = AC * (M/B – 1), em que AC corresponde ao Activo Contabilístico (ou seja, o valor “Book” da empresa). - 42 - Os métodos DIC e SC são, segundo Sveiby, os que permitem traçar um quadro mais abrangente da saúde de uma organização, podendo ser aplicados a qualquer tipo, ou nível, de organização. As medições são feitas mais próximo dos factos concretos e o respectivo reporte pode portanto ser mais rápido e eficaz. Pela sua natureza, são igualmente eficazes no caso das organizações sem fins lucrativos, bem como em departamentos internos ou mesmo em organizações do sector público. As desvantagens deste tipo de indicadores prendem-se com o seu carácter contextual e com a necessidade de adaptação em concreto a cada organização, o que torna as comparações muito difíceis. A sua aceitação pelos gestores e profissionais habituados a expressar tudo em termos financeiros é menor, não só pela sua natureza não financeira como pela sua ainda relativa novidade. Um outro possível problema poderá provir da grande quantidade de dados que podem envolver, tornando o tratamento e, sobretudo, a comunicação mais difíceis. Sveiby afirma, resumindo: “Nenhum método é verdadeiramente universal; Tem de se seleccionar o método em função dos objectivos, das situações e das audiências.”60 A investigação conduzida por Sveiby conduziu ao seguinte quadro comparativo: Nome Principal Proponente Brooking (1996) Categoria DIC CitationWeighted Patents Bontis (1996) DIC Inclusive Valuation Methodology (IVM) McPherson (1998) DIC The Value Explorer™ Andriessen e Tiessen (2000) DIC Technology Broker 60 Descrição Análise da resposta da empresa a 20 questões sobre quatro componentes principais dos activos intangíveis. Cálculo do factor tecnológico da empresa com base nas patentes desenvolvidas. Activos intangíveis medidos a partir do impacte dos esforços de investigação num conjunto de índices (por exemplo nº. de patentes, relação custo/benefício das patentes). Usa hierarquias de indicadores ponderados que são combinados. Foca valores relativos. O Valor Acrescentado Combinado (CVA) corresponde ao Valor Acrescentado Monetário adicionado do Valor Acrescentado Intangível. Metodologia contabilística para calcular e afectar o valor de 5 tipos de activos intangíveis: Activos & dotações; capacidades & conhecimento tácito; Valores e normas colectivos; Tecnologia e conhecimento explícito; Processos primários e de gestão. Tradução livre. - 43 - Intellectual Asset Valuation Tobin’s q Sullivan (2000) DIC Stewart (1997) Bontis (1999) MCM Investor assigned market value (IAMV™) Standfield (1998) MCM Market-to-Book Value Stewart (1997) Luthy (1998) MCM Economic Value Stewart (1997) Added (EVA™) ROA Human Resource Costing & Accounting (HRCA) Calculated Intangible Value Johansson (1996) ROA Stewart (1997) Luthy (1998) ROA Knowledge Lev (1999) Capital Earnings Value Added Pulic (1997) Intellectual Coefficient (VAIC™) Skandia Navigator™ Edvinsson e Malone (1997) ROA ROA SC Metodologia para avaliar o valor da Propriedade Intelectual. “q” representa o rácio entre a capitalização bolsista da empresa e o custo de substituição dos seus activos. As variações de “q” correspondem a uma medida da efectividade do desempenho dos activos intangíveis da empresa. Assume que o Valor Real da Empresa (CTV) é a sua capitalização bolsista, separando o Capital tangível (TC) e dividindo o seu Capital não Tangível em Capital Intelectual Realizado (Realized IC), Erosão do Capital Intelectual (IC Erosion) e Vantagem Competitiva Sustentável (SCA). Assim, CTV = TC + (Realized IC + IC Erosion + SCA). O valor do capital intelectual é assimilado à diferença entre a capitalização bolsista e o valor contabilístico da empresa. Calculado através do ajustamento do lucro declarado pela empresa relacionado com os seus activos intangíveis. Mudanças no EVA dão indicações sobre a produtividade do capital intelectual da empresa. O capital intelectual é medido através da divisão do cálculo da contribuição dos activos humanos para os benefícios da empresa pela capitalização das despesas salariais. Calcula o benefício atribuível aos activos tangíveis e determina a proporção destes nos benefícios totais, atribuindo a diferença aos activos intangíveis. Calculado como sendo a parte dos ganhos não atribuível aos activos contabilísticos. Mede o valor e a eficiência com que o capital intelectual e o capital investido criam valor com base na relação entre três componentes principais: Capital investido, capital humano e capital estrutural. O capital intelectual é medido através da análise de um máximo de 164 indicadores (91 de base intelectual e 73 tradicionais), cobrindo cinco componentes: Financeira, clientes, processos, renovação e desenvolvimento e humano. - 44 - IC-Index™ Roos, Roos, Dragonetti e Edvinsson (1997) SC Intangible Asset Monitor Sveiby (1997) SC Balanced Score Card Kaplan e Norton (1992) SC Consolida todos os indicadores representativos de propriedades e componentes intelectuais num índice único. As variações do índice são então relacionadas com as variações do valore de mercado da empresa. Os gestores da organização seleccionam os indicadores a utilizar, a partir dos objectivos estratégicos, para medir quatro componentes principais dos activos intangíveis: Crescimento, renovação, eficiência e estabilidade. O desempenho da empresa é medido através de indicadores cobrindo quatro perspectivas principais: Financeira, clientes, processos internos e aprendizagem. Os indicadores são baseados nos objectivos estratégicos da empresa. Tabela 5 – Métodos para avaliação dos activos intangíveis [Sveiby (2001)] Acrescentam-se ainda aos resultados da investigação conduzida por Sveiby, acima reproduzidos, dois outros métodos não listados, o primeiro dos quais é o “Value Chain Scoreboard”, apresentado por Baruch Lev,61 e o segundo corresponde ao método “Magic”, apresentado por Warschat, Wagner e Hauss.6263 Estes dois métodos são seguidamente apresentados no formato seguido por Sveiby (2001) na sua tabela, podendo passar a constituir os seus décimo oitavo e décimo nono elementos: 61 Lev (2000). 62 Warschat et al. (1999). O projecto foi ainda apresentado, na conferência IST 1999, por Lauri Haapanen (1999). 63 Num interessante e muito recente trabalho, Amaral e Pedro (2002) listam nada menos do que 25 métodos diferentes de medir – e avaliar – os activos intangíveis nas empresas, dividindo-os em 3 categorias de Modelos Globais e outras tantas de Modelos Parciais. Uma vez que, no que respeita aos Modelos Globais, a listagem e a categorização não parecem ser mais substantivas, ou mais completas, do que as propostas por Sveiby (2001), e completadas nesta dissertação, preferiu-se optar pela classificação proposta por Sveiby (2001), completando-a no necessário. Amaral e Pedro (2002) sugerem por sua vez um novo método, que designam por “MPM – Modelo de Performance e Mercado”, o qual resulta da conjugação de dois outros métodos e se aplica unicamente a empresas cotadas em bolsa. - 45 - Value Chain Scoreboard™ Baruch Lev (2000) SC Magic Warschat, Wagner e Hauss SC A medição do desempenho da empresa é feita através de indicadores respeitantes a três componentes principais: Descoberta/Aprendizagem (renovação interna, conhecimento adquirido, networking), Implementação (propriedade intelectual, exequibilidade tecnológica, clientes, empregados) e Comercialização (“top line”, “bottom line” e opções de crescimento). Integra elementos de prospectiva. Construção de um “road map” a partir da identificação dos factores críticos associados à estratégia para o capital intelectual, focando quatro componentes essenciais: Capital humano, capital organizacional, capital de mercado e capital de inovação. Integra elementos de prospectiva. Tabela 6 – Adição dos modelos de Lev (2000) e de Warschat, Wagner e Hauss (1999) à tabela de Sveiby (2001) dos métodos para avaliação dos activos intangíveis Sveiby sistematiza a análise apresentada anteriormente, de forma gráfica, através de uma representação segundo quatro quadrantes, resultantes do cruzamento de dois vectores de classificação: • Existência, ou não, de avaliação financeira • Análise apenas ao nível organizacional ou identificação de componentes Reproduz-se, de forma adaptada, a representação gráfica de Sveiby (2001), na qual se introduziram os dois métodos adicionais caracterizados acima: - 46 - Market to Book Value Apenas nível organizacional Tobin’s q EVA VAC Calculated Intangible Value Knowledge Capital Earnings Tipos de métodos MCM IAMV ROA IC Index Identificação de componentes Citationwheighed Patents Skandia Navigator Balanced Scorecard Value Chain Scoreboard Inclusive Valuation Methodology Intangible Assets Monitor Magic Technology Broker Sem valorização financeira HRCA DIC The Value Explorer SC Intellectual Asset Valuation Com valorização financeira Figura 18 – Posicionamento de 19 métodos de avaliação de activos intangíveis [adaptado de Sveiby (2001)] Da análise da representação gráfica (adaptada) de Sveiby (2001) podem tirar-se algumas conclusões: • Os métodos MCM e ROA, na sua quase totalidade, apenas abordam a empresa no seu nível organizacional; • A maioria (na verdade, a quase totalidade) dos métodos DIC situa-se no quadrante referente aos métodos permitindo avaliação financeira e recorrendo à identificação de componentes; • A totalidade dos métodos SC situa-se no quadrante [identificação de componentes x sem avaliação financeira]. O posicionamento dos métodos MCM e ROA resulta naturalmente da sua maior proximidade da “linguagem” contabilística normal. As diferenças e as semelhanças entre os métodos DIC e SC surgem, por outro lado, bem evidenciadas nos seus respectivos posicionamentos no gráfico. Aparentemente, os métodos DIC congregariam o melhor de dois mundos. No entanto, as evidências não demonstram que sejam preferidos relativamente aos restantes na prática dos Gestores do Conhecimento (CKO – Chief Knowledge Officers). A maioria dos Autores, nas suas publicações mais recentes, refere frequentemente o “Intangible Asset Monitor”, de Karl-Erik Sveiby, e o “Skandia Navigator”, de Edvinsson e Malone, ambos métodos do tipo SC. A proposta recente de Baruch Lev, o “Value - 47 - Chain Scoreboard™”, situa-se igualmente no espaço dos restantes métodos SC (embora introduza algumas avaliações financeiras), e este aspecto é particularmente relevante quando o mesmo Autor tinha apresentado, em 1999, ou seja, apenas um ano antes, um método do tipo ROA. Posicionamento semelhante assume o método “Magic”, de Warschat et al. (1999). As razões para esta tendência poderão radicar-se nos seus aspectos mais positivos referenciados por Sveiby (2001), que poderão resumir-se através de termos como abrangência, universalidade e adaptabilidade. Por outro lado, as flutuações dos mercados de capitais desde meados do ano 2000, com as quedas abruptas e por vezes dramáticas sentidas nas empresas da economia digital64, poderão levar os gestores a concentrar-se em indicadores que não se encontrem tão expostos à instabilidade reinante. A este propósito, Lev e Demers (2001) referem que, no período pós crise65 do mercado das empresas Internet e, em particular, das empresas B2C, 66 que os investidores adoptaram uma atitude mais céptica relativamente aos investimentos em intangíveis e nas despesas agressivas das empresas Internet. Na falta de resultados financeiros com significado efectivo, os investidores continuam a confiar mais em indicadores de medição de tráfego na “Web”. 67 Não se pode no entanto afirmar que exista neste momento um tipo dominante de método de avaliação dos activos intangíveis. Bontis (2000) refere que os esforços desenvolvidos para criar sistemas contabilísticos e de custos para os recursos humanos não têm conseguido abranger a totalidade dos tipos de activos intangíveis que podem existir, assim como também não têm sido particularmente úteis como sistemas de monitorização dos progressos diários dos negócios. Estas tentativas têm tendido para a adopção de uma perspectiva industrial (no seu sentido estrito, de “manufactura”). Bontis lembra ainda que as empresas de serviços representam actualmente dois terços do emprego no mundo industrializado. Ainda mais importante é o facto de a geração de riqueza protagonizada pelas empresas intensivas em conhecimento ultrapassar já, na maioria das economias globalizadas, a que é conseguida pelas empresas industriais. É de notar também que os dois métodos adicionados à tabela de Sveiby (2001), o Value Chain Scoreboard, de Lev (2000) e o Magic, de Warschat et al. (1999), sendo do tipo SC, possuem duas características evolutivas relativamente aos restantes modelos do mesmo tipo: 64 Mais recentemente, a crise nos mercados bolsistas estendeu-se a todos os sectores, face ao clima económico negativo verificado ao nível global em 2002. 65 O termo usado pelos Autores, “shakeout”, poderá ser traduzido como “abanão”. No entanto, preferiu-se a utilização de um termo mais clássico, até porque o fenómeno reúne de facto todas as condições para ser apelidado de crise bolsista (embora com particular relevância num sector tecnológico concreto). 66 O termo “B2C” é comummente utilizado para designar os negócios “Business-to-Consumer”, ou seja, os negócios Internet que se dedicam à venda de produtos e/ou serviços on-line a consumidores privados. 67 “Web” é aplicado, neste contexto, como abreviatura de “World Wide Web”, a rede (teia) que ganhou rápida expressão global com a popularização da Internet. - 48 - • Integram alguns elementos permitindo avaliação financeira (a par com indicadores não financeiros, que são maioritários), indo ao encontro da possibilidade de realização de avaliações conjugadas financeiras (tipo DIS) e não financeiras (tipo SC); • Integram ainda elementos de prospectiva, para além dos elementos factuais e/ou históricos característicos de todos os restantes modelos. Warschat et al. (1999) enumeram, de forma resumida, as oportunidades e os riscos associados à medição do capital intelectual, conforme seguidamente se lista: Oportunidades Riscos Produtividade crescente A partilha de conhecimento carece de treino Concorrência crescente Ansiedade e falta de confiança dos empregados Utilização de potenciais de desenvolvimento Exploração do trabalho Melhor planeamento estratégico Demasiado esforço associado ao desenvolvimento e à implementação de um sistema de medição Eficácia e efectividade optimizadas Possível falta de objectividade em termos de escalas de medida Melhor utilização dos recursos Motivação para os empregados Tabela 7 – Oportunidades e riscos associados à medição do capital intelectual, segundo Warschat et al (1999) Bontis (2000), face às incertezas, às fragilidades e à falta de universalidade dos métodos existentes para a medição e a avaliação dos activos intangíveis das organizações, coloca na agenda da investigação a necessidade da realização de estudos capazes de validar – ou não – em mais larga escala (no tempo, no espaço e nos sectores de actividade) a efectiva relação entre os valores obtidos nos processos de avaliação dos activos intangíveis e o efectivo desempenho das organizações. - 49 - D - OS ACTIVOS INTANGÍVEIS E AS EMPRESAS DO CONHECIMENTO EMERGENTES O que são Empresas do Conhecimento Emergentes "87 por cento das empresas, independentemente do respectivo sector, acreditam que são empresas do conhecimento."68 Sveiby (1994) define “Organização do conhecimento” como um subgrupo do sector dos serviços, graduando-o desde a empresa “clássica” de serviços, que equipara, em termos de lógica e prática organizacionais, às empresas industriais, até à organização do conhecimento. Baixa Adaptação ao mercado Empresa de serviços •Grande •Produtiva •Hierárquica •Mão de obra intensiva •Baixo nível de formação •Economias de escala Alta Organização do conhecimento •Pequena •Criativa •“Ad-hocrática” •Intensiva em conhecimento •Alto nível de formação • Sem economias de escala na produção •Economias de âmbito nos activos intangíveis Figura 19 – Classificação das empresas não industriais em função da sua adaptação ao mercado [Sveiby (1994)] Poucos Autores defenderão ainda, actualmente, a dicotomia entre indústria e serviços, apesar de ser comum ainda considerar o sector industrial, num sentido estrito, como aquele que reúne as empresas de “manufactura”. No entanto, a abordagem de Sveiby permite uma primeira visualização do problema, a partir da qual poderão ser feitos avanços no sentido de uma definição mais concreta, abrangente e universal. De acordo com a visão de Sveiby à altura, nas organizações do conhecimento o “serviço” emerge como um processo contínuo de resolução de problemas entre os clientes e as equipas de peritos. Estas terão, portanto, de tratar os seus clientes de uma forma individual, sendo a organização que se adapta ao seu mercado e não o inverso. Neste quadro, a “química” entre os clientes e as equipas da organização é um factor importante. 68 Business Intelligence/Ernst &Young Survey, 1997, citado em http://www.entovation.com/backgrnd/practice.htm - 50 - Sveiby refere que a lógica do negócio de uma organização do conhecimento depende de como os seus gestores vêem os seus activos, as suas pessoas chave e os seus clientes, como os atraem e como adequam as capacidades da organização para a resolução de problemas às necessidades dos clientes. Burton-Jones (1999) salienta que as mesmas forças tecno-económicas que determinam a externalização, por parte das empresas, de funções e processos não essenciais, são igualmente responsáveis por um movimento paralelo de internalização, isto é, refinamento e concentração das funções essenciais dentro das empresas. Este Autor apresenta um modelo para a transformação de uma empresa tradicional numa empresa do conhecimento, o “Knowledge Growth Model”, composto por seis estádios, o qual lhe permite classificar as empresas, num determinado momento, no seu processo em direcção à empresa do conhecimento: • Estádio 1 Reconhecimento do Conhecimento: Criação da consciência da importância do conhecimento como factor de produção. • Estádio 2 Organização do Conhecimento Redução das camadas de gestão intermédias, acompanhada por progressiva externalização de funções não essenciais e internalização das funções essenciais. • Estádio 3 Networking do Conhecimento Difusão dos processos de decisão e uso crescente de equipas multifuncionais. Aumento da homogeneidade das capacidades do pessoal e maior enfoque em processos associados à criatividade e à inovação. • Estádio 4 Recompensa do Conhecimento Realinhamento dos sistemas de incentivos e recompensas em função das renovações estruturais e do enfoque no conhecimento. • Estádio 5 Desenvolvimento do Conhecimento Aumento do investimento em I&D e formação. Refinamento dos laços intrínsecos à empresa entre os seus produtos e a sua base de conhecimento. Desenvolvimento dos laços externos com fornecedores, clientes e outros parceiros de negócio, designadamente nos domínios do processo produtivo, da formação e do desenvolvimento de produto. 69 69 Este estádio aproxima-se do conceito de “Gestão da Cadeia de Valor”, cada vez mais vulgarizado em sectores capital e tecnológico intensivos, como por exemplo os sectores automóvel e aeronáutico, mas igualmente em expansão em outros sectores mais tradicionais (veja-se por exemplo o “Clube de Produtores” da Sonae Distribuição). - 51 - • Estádio 6 Empresa do Conhecimento A empresa é agora uma organização centrada no conhecimento. A gestão do conhecimento e a gestão do negócio fundiram-se. As estratégias de crescimento e de competitividade são baseadas no conhecimento. Kogut e Zander (1996) e Grant (1996) sugerem que a noção de empresa baseada no conhecimento é mais bem compreendida quando se perspectiva aquela como uma comunidade social. Nas empresas do conhecimento, a partilha da identidade reduz os custos de comunicação e minimiza as necessidades de estabelecimento de regras de coordenação, aumentando assim a propensão para a aprendizagem. Não será por acaso que começou a vulgarizar-se o termo “Learning Organization”, precisamente em associação com a emergência do conceito de empresa do conhecimento70. Staples et al. (2000) afirmam que caracterizar um dos tipos de produto da empresa como “capital intelectual” ajuda à definição de Empresa do Conhecimento. Spender (1996) aponta quarto características que descrevem uma empresa como exercendo uma actividade baseada no conhecimento: Flexibilidade interpretativa (selecção estratégica de actividades), gestão das fronteiras (onde a empresa começa e acaba, na sua relação com a sua envolvente e os seus concorrentes), identificação das influências institucionais (a que compromisso entre as pressões internas e externas a empresa deve responder), e distinção entre condições sistémicas e individuais (conhecimento público vs. conhecimento privado, quais são os fluxos de conhecimento da empresa). Nurmi (1998) introduz o conceito de conhecimento “Know-why” (em contraponto com o “Know-how” para definir um negócio do conhecimento, considerando que o conhecimento “Know-why” da empresa se encontra incorporado nos seus produtos e serviços, dando como exemplo o facto de um CD-ROM ser mais do que um simples produto físico. Assim, Nurmi afirma que as empresas do conhecimento são menos capital-intensivas que as empresas industriais (no sentido estrito, ou seja, da manufactura) e mais intensivas em aprendizagem que as outras empresas de serviços. Resumindo, a definição de “Empresa do Conhecimento” adoptada por Staples et al. (2000, p. 5)71 pode ser aceite no quadro do presente trabalho, reproduzindo-se de seguida: “A nossa abordagem vai no sentido de tratar as empresas do conhecimento como organizações que criam e adquirem, manipulam, integram ou de qualquer outra forma empregam, transferem e difundem conhecimento como aspecto substancial das suas operações. Acreditamos que esta abordagem enfatiza as capacidades chave de conhecimento da empresa, as quais combina para criar o capital intelectual em que se escora a criação de valor.”72 70 É oportuno referir, neste contexto, que Augusto Mateus, em diversas intervenções públicas, tem afirmado que a competitividade se mede pela capacidade de aprender mais depressa do que os concorrentes. 71 De onde aliás foram retiradas algumas das referências utilizadas neste ponto. 72 Tradução livre. - 52 - Esta definição de empresa do conhecimento ultrapassa, e abrange, a mais comum definição de Empresa de Base Tecnológica a qual, aliás, se torna por vezes difícil de estabelecer com exactidão, dado o facto de muitas empresas comummente aceites como sendo de base tecnológica não passarem de meras utilizadoras (por vezes sem quaisquer factores verdadeiramente distintivos em termos de posicionamento competitivo) de tecnologias plenamente disponíveis no mercado. A este propósito, a página de entrada do sítio Web do Queen’s Centre for KnowledgeBased Enterprises, do Queen’s School of Business, esclarece: “As empresas do conhecimento (EC) são organizações que geram valor como produto directo do conhecimento. Para estas organizações, conhecimento e informação – não apenas científicos, mas igualmente notícias, aconselhamento, entretenimento e comunicação – tornaram-se as matérias primas fundamentais e os seus mais importantes produtos e serviços. Muito simplesmente, conhecimento é o que compram e vendem. É fácil encarar empresas de consultoria, agências de publicidade, universidades e empresas de relações públicas como exemplos de EC. O que já não é tão imediatamente óbvio é a extensão em que cada empresa tem vindo a aumentar o seu enfoque no conhecimento como fonte emergente de valor. A definição de EC tem de ser entendida como sendo uma questão de grau – o grau até onde a riqueza é criada como resultado directo do conhecimento dentro de cada organização. Ou seja, todas as organizações são EC... até certo ponto.”73 Toma-se portanto a seguinte definição de “Empresas do Conhecimento”: “Empresas do Conhecimento” são as organizações que criam ou adquirem, manipulam, integram ou, de qualquer outro modo, empregam, transferem e difundem conhecimento como uma parte substancial das sua actividade. Por outro lado, consideram-se “Empresas Emergentes” aquelas que, estando estabelecidas comercialmente (ou seja, encontrando-se legalmente constituídas, em actividade comercial e colocando no mercado produtos e/ou serviços), se encontram nos primeiros anos da sua actividade74 e ainda não foram objecto de uma IPO.75 A Adequação dos Modelos de Medição e Avaliação dos Activos Intangíveis no caso das Empresas do Conhecimento Emergentes As empresas do conhecimento emergentes possuem características específicas, decorrentes da sua juventude. Estas características determinam condicionamentos próprios para a prática da medição e da avaliação dos seus activos intangíveis. Retomando a classificação feita por Karl-Erik Sveiby,76 descrita anteriormente, os métodos de capitalização do mercado (MCM) são impraticáveis em empresas não 73 Tradução livre. 74 Para efeitos práticos do estudo empírico analisado mais adiante neste trabalho, considerar-se-ão idades entre 3 a 6 anos. 75 “Initial Public Offer”, ou seja, operação inicial de dispersão de capital em bolsa (as operações IPO envolvem normalmente uma parte minoritária do capital da empresa). 76 Sveiby (2001). - 53 - cotadas em bolsa. Por outro lado, os métodos de retorno dos activos (ROA), não sendo teoricamente impossíveis de utilizar, são-no de facto na prática. As principais razões para tal impraticabilidade são as seguintes: • Os métodos ROA utilizam os resultados da empresa durante um determinado período. Este facto encerra dois problemas no caso das empresas do conhecimento emergentes, o primeiro dos quais é o reduzido tempo de existência destas empresas, correspondendo o segundo ao difícil relacionamento entre os resultados de uma empresa deste tipo, nos seus primeiros anos, e os seus efectivos desempenho ou valor. • A comparação do ROA médio da empresa com a média do sector será virtualmente impossível: Fazendo-se relativamente ao sector como um todo, a empresa emergente sai sistematicamente prejudicada dada a fraca expressão dos seus resultados na sua fase emergente; por outro lado, o ROA médio das empresas de sectores também eles próprios emergentes ou em forte mutação, mesmo que seja possível de determinar, carece de significado, dada a provável variância dos valores e a diversidade de aspectos distintivos das empresas medidas nesta fase inicial da sua existência. Os métodos directos de capital intelectual (DIC), sendo também possíveis de aplicar em teoria, debatem-se na prática com problemas semelhantes aos dos métodos ROA: A estimativa do valor financeiro dos activos intangíveis (mesmo que através dos seus componentes) carece, na maioria dos casos, de valores de referência no mercado para poder gozar de alguma credibilidade. Lembre-se que o problema da não existência de mercados organizados para os intangíveis é um dos problemas inerentes a todos eles, pelo que mais o será numa fase inicial da empresa, em que o risco associado aos mesmos é muito mais elevado. Das quatro categorias de activos intangíveis detidos por uma empresa do conhecimento emergente, a propriedade intelectual será provavelmente a única que poderá ser medida através dos métodos DIC. No entanto, na sua fase emergente, muitas das empresas poderão não deter ainda activos deste tipo em dimensão significativa, o que não quer dizer que tenham obrigatoriamente pouco valor. A detenção de propriedade intelectual significativa poderá não fazer parte da estratégia da empresa ou, fazendo-o, poderá ainda não existir, embora possa haver elevado potencial da sua detenção futura, em função de processos de I&D em fase terminal do seu percurso. Restam portanto os métodos do tipo SC, ou seja, de quadros de classificações. Estes métodos poderão de facto ser utilizados no caso das empresas do conhecimento emergentes. No entanto, mesmo este tipo de métodos apresenta algumas dificuldades de aplicação nas empresas emergentes. Recordem-se as observações feitas por Sveiby a este respeito, destacando-se a complexidade intrínseca, a grande quantidade de dados que podem envolver e a especificidade inerente ao exercício referente a cada empresa. A realização de medições e avaliações com recurso aos métodos do tipo SC pode envolver, pois, dificuldades significativas para a maioria das empresas do conhecimento - 54 - emergentes. Uma das vias para obviar a este problema poderá ser a selecção de uma bateria de indicadores bastante limitada. Esta via pode ser adequada nalguns casos, designadamente em empresas que, apesar da sua ainda pequena idade, possuam já alguma dimensão crítica e/ou complexidade estrutural. No entanto, estas empresas serão certamente uma pequena minoria para idades até aos seis anos e praticamente não existirão em idades ao redor dos 3 ou 4 anos. A selecção de indicadores, de entre um conjunto muito vasto que cada método prevê, faz parte dos próprios métodos SC. No entanto, a necessidade de limitar o número de indicadores para conseguir lidar com o próprio método no caso de uma empresa do conhecimento emergente encerra alguns riscos, por poder implicar o afastamento de aspectos relevantes do seu capital intelectual. A maioria – se não todos – os métodos SC envolve a selecção dos indicadores a utilizar em função da estratégia da empresa. Esta tarefa será mais facilmente realizável em empresas mais consolidadas do que em empresas emergentes, nas quais não só a estratégia pode mudar rapidamente, de forma por vezes dramática, como muitas vezes nem sequer existe de uma forma explícita e formalizada. Nestes casos, podem ocorrer escolhas aleatórias e inadequadas de indicadores, o que invalidará ou, pelo menos, tornará desinteressante a análise a efectuar. O facto de o método ter de ser adaptado especificamente ao caso de cada empresa torna igualmente difícil a utilidade dos resultados da sua aplicação para terceiros à própria empresa. Os elevados factores de risco associados às empresas emergentes fazem com que um método de avaliação que não produza resultados facilmente comparáveis tenha pouca utilidade para quem não conhece de perto a realidade da empresa, como será por exemplo o caso de potenciais investidores. Este inconveniente pode ser minorado se a empresa produzir séries temporais dos indicadores e da avaliação, o que permitirá aquilatar a sua evolução. No entanto, esta possibilidade nem sempre é real, não só porque, de novo, se coloca a questão do horizonte temporal limitado, como acresce a possibilidade de, dadas as rápidas mutações a que a empresa pode estar sujeita nesta fase inicial, o conjunto de indicadores seleccionado inicialmente já não se adequar a dois ou mais anos de distância. Sem se entrar numa análise em detalhe de cada um dos 6 métodos SC identificados anteriormente, até porque não se dispõe de dados suficientes sobre os aspectos de pormenor dos mesmos,77 procede-se de seguida a uma abordagem dos vários activos integrados em cada uma das quatro categorias de activos intangíveis, procurando-se determinar até que ponto cada tipo de activo é passível de identificação e mensuração numa empresa do conhecimento emergente. Para a análise que se segue ter-se-á de caracterizar melhor uma empresa do conhecimento emergente, introduzindo um conjunto de simplificações que permita 77 Estes métodos são, na sua totalidade, objecto de exploração comercial pelos seus detentores, possuindo alguns mesmo marca registada. A disponibilização de detalhes que permitam compreender a respectiva operacionalização não é pois possível. - 55 - avaliar da possibilidade/probabilidade da manifestação de cada tipo de intangível e da intensidade com que o mesmo se manifestará numa empresa típica reunindo as condições simplificadoras introduzidas.78 Admitir-se-á portanto que uma empresa do conhecimento, numa fase emergente: • Apenas conta com os seus sócios fundadores (os empreendedores originais da empresa) ou, caso possua mais colaboradores, não possui uma estrutura organizada de forma explícita e formal; • Ainda não possui um mercado estabilizado nem uma gama de produtos/serviços consagrados no mercado; • Podendo embora já efectuar vendas, o que significa que fornece produtos e/ou vende serviços, ainda não tem completamente desenvolvido (ou seja, pronto para entrar em fase de plena comercialização) os produtos/serviços fundamentais em termos da sua estratégia de desenvolvimento. Este conjunto de características simplificadoras, não se verificando em todas as empresas do conhecimento emergentes, corresponde no entanto, e uma forma geral, ao que de facto ocorre numa fase inicial da vida deste tipo de empresas. O longo processo de desenvolvimento dos produtos/serviços associados ao conhecimento, envolvendo custos (muitas vezes com a característica de custos afundados) significativos, não permite normalmente às empresas do conhecimento apresentar, numa fase inicial da sua vida, um posicionamento de mercado semelhante ao que, tipicamente, ocorrerá em empresas do conhecimento com mais idade.79 A apreciação, que se segue, da possibilidade de medição e avaliação dos activos intangíveis nas empresa do conhecimento emergentes obedece a uma simplificação classificativa, a qual procura permitir a análise da adequabilidade dos métodos segundo dois parâmetros: • A Probabilidade de manifestação, ou seja, a probabilidade de a empresa deter activos de um determinado tipo e, detendo-os, a probabilidade de os mesmos serem identificáveis; • O Grau de mensurabilidade, isto é, para os tipos de activos intangíveis que se manifestam na empresa (existem e são identificáveis), a facilidade com que os mesmos podem ser medidos, segundo as regras genéricas de medição dos métodos SC existentes. 78 Na análise empírica que integra este trabalho as empresas consideradas obedecem obrigatoriamente à caracterização feita anteriormente na página 53, podendo as suas características não coincidir com as simplificações aqui propostas. 79 Excepto nos casos em que a criação da empresa surja apenas numa fase em que os produtos/serviços estratégicos se encontrem já em condições de entrar em comercialização. Este tipo de situação não será, no entanto, o mais frequente. - 56 - A classificação é feita na perspectiva da comparação entre as empresas do conhecimento emergentes e as empresas do conhecimento já implantadas no mercado, designadamente nos casos em que as mesmas já se encontram cotadas no mercado de capitais ou, de alguma forma, já disponibilizam alguma informação ao público sobre o seu funcionamento. A comparação é ainda efectuada dentro do mesmo sector (por exemplo, a existência de patentes, e a sua importância para o negócio, não se distribuem uniformemente por todos os sectores tecnológicos e/ou de actividade mas, dentro de um determinado sector – como seja o da biotecnologia – é muito importante tanto para empresas emergentes como para empresas mais consagradas). Parâmetros Grau PMA Probabilidade de manifestação ì - Elevada è - Média î - Baixa GM Grau de mensurabilidade ì - Elevado è - Médio î - Baixo Tabela 8 – Simplificação classificativa para a aferição da adequabilidade dos métodos de avaliação dos activos intangíveis às empresas do conhecimento emergentes A notação de “Elevado” corresponde à similitude de situação com uma empresa não emergente; A notação de “Médio” corresponde a uma situação inferior à que se verificará normalmente numa empresa estabelecida mas, ainda assim, passível de detecção, identificação e eventual tratamento através dos métodos de medição existentes; A notação de “Baixo” corresponde a uma provável impossibilidade, ou grande dificuldade, de manifestação e/ou de mensuração. Os vários tipos de activos intangíveis identificados anteriormente são classificados de seguida segundo os dois parâmetros acima indicados: - 57 - Categoria: Propriedade Intelectual Tipo PMA GM Patentes î ì Direitos de Autor î ì Direitos de Design î ì Segredos Comerciais î è Desenvolvimento de Processos è è Produtos e Serviços è è Tecnologias è è Totais 0 3 4 3 î Médias 4 0 è Tabela 9 – Adequabilidade dos métodos de avaliação da Propriedade Intelectual em empresas do conhecimento emergentes Categoria: Activos de Mercado Tipo PMA GM Marcas î Posicionamento î Base de Clientes î î Nome da Empresa î î Canais de Distribuição î î Acordos e Licenças î è Contratos î è Relações com a Envolvente î î Parcerias î î Totais Médias 0 0 î 9 ì è 1 3 î Tabela 10 – Adequabilidade dos métodos de avaliação dos Activos de Mercado em empresas do conhecimento emergentes - 58 - 5 Categoria: Activos de Infrastrutura Tipo PMA GM Filosofia de Gestão î î Cultura Corporativa î î Processos de Gestão î î Processos de Negócio î î Impacto dos Sistemas de Informação î è Relações Externas è î Networking è î Cumprimento de Standards è Totais 0 3 è 5 0 î Médias 2 6 î Tabela 11 – Adequabilidade dos métodos de avaliação dos Activos de Infrastrutura em empresas do conhecimento emergentes Categoria: Activos Humanos Tipo PMA GM Inteligência ì ì Liderança ì ì Conhecimento ì ì Capacidades ì ì Competências ì ì Atitudes ì ì Espírito de Iniciativa ì ì Espírito de Equipa ì ì Sociabilidade ì ì Totais Médias 9 0 ì 0 9 0 0 ì Tabela 12 – Adequabilidade dos métodos de avaliação dos Activos Humanos em empresas do conhecimento emergentes Da análise acima – necessariamente simplista e redutora – ressaltam dois aspectos essenciais: - 59 - • Apenas no caso dos Activos Humanos é possível identificar e medir eficazmente80 os activos intangíveis de uma empresa do conhecimento emergente; • Das restantes três categorias de activos intangíveis (Propriedade Intelectual, Activos de mercado e Activos de Infrastrutura), apenas os activos associados à Propriedade Intelectual, quando se manifestam numa empresa do conhecimento emergente, serão susceptíveis de medição e aferição através dos métodos existentes. Estas conclusões de alguma maneira correspondem ao senso comum: Numa fase emergente, é nas capacidades dos empreendedores (Activos Humanos) que se concentram os principais activos de uma empresa do conhecimento, já que esta, por um lado, não dispõe de activos tangíveis significativos e, por outro, não possui ainda nem estrutura nem implantação no mercado capazes de se constituir como factores determinantes do seu valor real e potencial. No que respeita à propriedade Intelectual, quando a mesma existe e é estratégica para a empresa, como sucede tipicamente em casos como a química, a medicina, a farmacologia ou a biotecnologia (patentes) e no software ou na produção de conteúdos (direitos de autor), a sua medição é possível, sendo igualmente viável – embora com limitações – a determinação do respectivo valor. Tal acontece devido, como anteriormente foi evidenciado, ao facto de a Propriedade Intelectual possuir um comportamento económico específico, o qual contém diversos elementos indutores de valor (codificação do conhecimento, sistemas legais de registo, menor dificuldade de transacção). Em resumo, apenas os métodos de medição e avaliação dos activos intangíveis do tipo SC (scorecard, ou quadro de classificações) são aplicáveis, mas com grandes limitações, no caso das empresas do conhecimento emergentes. A natureza emergente das empresas permite medir activos associados à Propriedade Intelectual, os quais no entanto não se manifestam de forma significativa e determinante em muitas das empresas do conhecimento, e faz dos Activos Humanos, ou seja, da Capacidade Empreendedora (uma vez que nela se concentram os Activos Humanos nesta fase) o terreno de eleição para a análise de valor, actual e potencial, deste tipo de empresas. Uma vez que os métodos SC existentes olham para os Activos Humanos na perspectiva das grandes organizações (Karl-Erik Sveiby fala, por exemplo, em “competências do pessoal” na sua análise do balanço invisível das empresas do conhecimento),81 e sendo esta categoria de activos intangíveis aquela que, de uma forma universal, mais determinante é para a determinação do valor actual e da possibilidade de desempenho futuro, faz todo o sentido olhar para a Capacidade Empreendedora dos promotores das empresas do conhecimento emergentes de uma forma específica, construindo formas de análise e uma metodologia de aferição específicas. 80 Tão eficazmente quanto em empresas do conhecimento não emergentes. 81 Sveiby (1997). - 60 - E - AS EMPRESAS DO CONHECIMENTO EMERGENTES: O FENÓMENO DO EMPREENDEDORISMO 82 Os Conceitos de Empreendedorismo e de Inovação Foi Schumpeter quem pela primeira vez, na primeira metade do século XX, referiu o empreendedorismo como um instrumento de transformação económica83, ao criar novos negócios, introduzindo e comercializando inovação. 84 Esta ideia foi depois alargada por diversos autores ao crescimento económico dos países menos desenvolvidos. A Figura 20 procura evidenciar a relação de causa e efeito entre o crescimento económico e o empreendedorismo, bem como as diferentes interacções que, de um ponto de vista genérico, são necessárias à promoção do empreendedorismo. Oportunidades para o empreendedorismo Enquadramento das condições nacionais gerais •Existência •Percepção •Abertura •Governo •Mercados financeiros •Tecnologia e I&D •Infra-estruturas •Capacidade de gestão •Mercado de trabalho •Instituições Dinâmicas empresariais (empresas e emprego) •Nascimentos •Expansão •Declínio •Mortes Capacidade empreendedora Contexto social, cultural e político •Capacidades •Motivação Enquadramento das condições para o empreendedorismo •Financeiras •Políticas públicas •Programas governamentais •Educação e formação •Transferência de I&D •Infra-estrutura comercial e legal •Abertura do mercado interno •Acesso a infra-estruturas físicas •Normas sociais e culturais Crescimento económico (PIB e emprego) Fonte: Zacharakis, Reynolds & Bygrave (1999) Figura 20 - Modelo conceptual sobre o empreendedorismo e o crescimento económico [adaptado de Gonçalves (2000)] Nos anos 70 surgem pela primeira vez a experiência e a educação como dois factores importantes no desenvolvimento da capacidade empreendedora, o que contribuiu para a evolução do pensamento, no sentido de se deixar de considerar o empreendedorismo como algo de exclusivamente inato, como tal eminentemente determinístico e estático. 82 Este Subcapítulo, no que respeita ao empreendedorismo, é essencialmente baseado em Gonçalves (2000) e em partes de trabalhos anteriores realizados pelo CPIN – Centro Promotor de Inovação e Negócios, Instituição de que o autor deste documento é Director Geral, bem como na investigação por este efectuada, designadamente em termos bibliográficos. 83 Em economias industrializadas, de Mercado. 84 Schumpeter (1934). - 61 - Para além da economia, outras áreas de investigação contribuíram para o desenvolvimento do empreendedorismo. Em relação à área comportamental realça-se Max Weber, que identificou os empreendedores como indivíduos inovadores e independentes que, enquanto líderes de negócios, exercem uma autoridade formal.85 No entanto, foi McClelland (1987) que desenvolveu a contribuição das ciências comportamentais para o empreendedorismo, as quais identificaram as características pessoais do empreendedor. Os primeiros estudos sobre o empreendedor centraram-se na personalidade e no factor cultural, enquanto determinantes do comportamento empreendedor, de onde surgiram características como a necessidade de reconhecimento, a propensão ao risco, o autocontrolo, a tolerância, a ambiguidade e o desejo de independência. Peter Drucker (1985a), no entanto, refuta as características intrínsecas ao empreendedor, afirmando que o que é comum ao empreendedorismo é a procura sistemática da inovação, sendo esta a função específica do mesmo, seja numa empresa já existente, criando uma nova empresa ou mesmo numa instituição pública. É através da inovação que o empreendedor cria ou recria novas formas de utilização dos disponíveis e geralmente escassos, com vista a criar um potencial que gere riqueza. É então reconhecida a necessidade de realizar a análise do comportamento empreendedor, tendo em consideração a envolvente social, política, cultural, económica, infra-estrutural ou de novas oportunidade de mercado, porque cada um destes aspectos pode, de per si, influenciar a criação de novas empresas. Actualmente, tem-se voltado a estudar os traços de personalidade dos empreendedores, devidamente enquadrados num determinado contexto. Os factores de envolvente são muito importantes mas não criam empresas. Para tal, torna-se indispensável uma pessoa que, conjugando a oportunidade e acreditando na inovação, tem a motivação para levar o processo até ao fim. Ao nível individual, a investigação centra-se hoje no potencial empreendedor de um indivíduo face a uma oportunidade de negócio. Assim, a investigação tem-se desenvolvido para o estudo das competências e capacidades necessárias para que uma pessoa seja um empreendedor, bem como para os métodos de aprendizagem individuais e da organização requeridos para a mudança. O empreendedorismo deve ser visto, assim, enquanto um processo dinâmico, que tem inerente a concepção, percepção e realização de uma oportunidades de negócio. Verificou-se, ao longo da última década, uma significativa expansão do conceito de empreendedorismo, já que, numa fase inicial, o mesmo se centrou nas características pessoais do empreendedor/empresário, incorporando posteriormente o “empreendedorismo por conta de outrem86”, o “empreendedorismo internacional”, as 85 Segundo Filion (1997). 86 No léxico inglês “Intrapreneurship”. - 62 - alternativas de carreira e o ambiente para a promoção do empreendedorismo, o que permitiu ter uma visão mais alargada e complexa do estudo deste fenómeno. As definições de empreendedorismo variam conforme a especialização de cada abordagem. Os economistas tendem a concordar que os empreendedores estão associados com a inovação, permitindo o desenvolvimento. Os investigadores das ciências comportamentais salientam como características a criatividade, persistência, controlo e liderança. Por outro lado, os engenheiros consideram os empreendedores como bons distribuidores e coordenadores de recursos. E, por último, os financeiros definem os empreendedores como pessoas capazes de medir e assumir o risco. Um conceito de empreendedorismo que permita o enquadramento das suas diversas perspectivas pode ser encontrado na definição proposta pela Comissão Europeia (1998): “Um processo dinâmico a partir do qual indivíduos identificam sistematicamente oportunidades económicas, e respondem, desenvolvendo, produzindo e vendendo bens e serviços. Este processo requer qualidades, como a autoconfiança, capacidade para assumir riscos e sentido de envolvimento pessoal.” Através desta definição, depreende-se que pode haver empreendedorismo sem o acto de criação de uma nova empresa. No entanto, no que diz respeito aos indivíduos que criam uma empresa, não restam dúvidas de que estes são empreendedores. Refira-se que um empreendedor, ao criar uma empresa, ao ser inovador numa actividade ou inovador numa estratégia empresarial, tem sempre subjacente a percepção de uma oportunidade e a vontade de fazer algo, com o objectivo de obter uma vantagem competitiva, utilizando para tal os recursos disponíveis, tomando sempre em consideração uma envolvente incerta, tal como se pode observar na Figura 21. Oportunidade Empreendedor Ajustamentos e lacunas Incerteza da Recursos envolvente Fonte: Bygrave, W. (1995) Figura 21 – Forças motrizes do empreendedorismo [adaptado de Gonçalves (2000)] O conceito de inovação tem igualmente evoluído ao longo dos tempos. Sem necessidade de demasiado recuo no tempo, recordar-se-á o Livro Verde para a - 63 - Inovação da Comissão Europeia (1995), no qual inovação é entendida como a “Produção, assimilação e exploração bem sucedidas de uma novidade”. Durante bastante tempo, inovação e invento foram conceitos largamente confundidos, o que de alguma forma contrariava a ideia de Schumpeter (1934), ligada a um processo de inovação essencialmente incremental. Mais tarde, e face à crescente necessidade de explicar processos competitivos e comportamentos empresariais cada vez mais complexos, os quais dificilmente podem ser explicados por via de um processo linear de inovação, surgiram conceitos de inovação associados ao produto, ao processo ou à comercialização. No entanto, todas estas evoluções continuaram a enfermar de uma visão centrada na oferta, a qual actualmente se revela completamente desajustada dos mecanismos de mercado que conduzem e condicionam as dinâmicas de competitividade. Impôs-se então o modelo não linear, interactivo, de inovação87, o qual integra tanto acções (e interacções) “demand-pull” como “technology-push”, tendo colocado em xeque noções de inovação exclusivamente ligadas à oferta. Pedro Conceição e Manuel Heitor apresentaram recentemente88 um conceito mais abrangente e actualizado de inovação, que é o de “criação de valor em contexto de mudança”. Este conceito integra o objecto da inovação – a criação de valor – independentemente do processo e posiciona-o no actual contexto de forte mutação das dinâmicas sociais, económicas e empresariais. O que é importante reter é que empreendedorismo e inovação são indissociáveis. Augusto Mateus (2000) associa o empreendedor à ideia de “saber fazer fazer”, a qual envolve a noção de que o empreendedor tem de ser ao mesmo tempo um inovador com iniciativa (saber fazer) e um líder (saber fazer com que outros façam). Factores de envolvente que fomentam o empreendedorismo A dinâmica do empreendedorismo é influenciada pelas alterações das condições na envolvente, tais como as recessões económicas, o forte crescimento económico, as disrupções tecnológicas, as mudanças organizacionais e as reestruturações sectoriais, sendo também importante a existência de um ambiente propício e facilitador em termos económicos e políticos. Nesta linha de ideia, Drucker (1985b) identificou a inovação como o motor de desenvolvimento do empreendedorismo, afirmando que aquela surge devido a um conjunto de factores, nomeadamente a ocorrência de factos não esperados, incongruências, necessidades de processos, alterações industriais e de mercado, 87 O processo interactivo de inovação, denominado “chain-linked model”, foi desenvolvido por Stephen Kline e Nathan Rosenberg em 1986. Myers e Rosenbloom (1996) propuseram um modelo baseado no “chain-linked model”, que denominaram de “total process model”, no qual incorporaram elementos como conhecimento tácito, plataformas tecnológicas e comunidades de práticas. 88 Conceição e Heitor (2000). - 64 - alterações demográficas, alterações de percepção e desenvolvimento de novos conhecimentos. Existe, assim, um largo conjunto de factores na envolvente que fomentam o empreendedorismo, como sejam o sistema de apoio social e familiar, as fontes de financiamento, os trabalhadores, os clientes, os fornecedores, a comunidade local, as agências públicas ou a envolvente cultural, política e económica. Figura 22 – Factores sociais e da envolvente que afectam o empreendedorismo [adaptado de Gonçalves (2000)] A Figura 22, apesar de permitir visualizar a complexidade da envolvente ao empreendedor, apresenta-se estática, já que se limita a apresentar os “stakeholders”. Torna-se portanto útil evidenciar uma perspectiva dinâmica, mais próxima da realidade, o que pode ser efectuado através da Figura 23. - 65 - Intenção Iniciação Desenvolvimento Resultados •Background do empreendedor •Comunidade local •Envolvente cultural, política e económica •Apoio familiar e social •Fontes de financiamento •Agências públicas • Trabalhadores • Clientes • Fornecedores Ideias Sucesso inicial Pré-intenção Descontinuação ou falhanço T e m p o Fonte: Bloodgood, J., Sapienza, H. e Carsrud, A. (1995) Figura 23 – O processo empreendedor e os principais factores sociais e da envolvente que o influenciam [adaptado de Gonçalves (2000)] Um aspecto principal nesta teia de relacionamentos que envolvem o empreendedor é a confiança existente no sistema económico. Considerando que o processo de avaliação da oportunidade por parte do potencial empreendedor se baseia fundamentalmente em expectativas, o nível de confiança deste é central no desenvolvimento e maturação da oportunidade, possibilitando uma maior fundamentação das expectativas e, assim, permitindo a minimização do risco. Este mesmo aspecto da confiança é realçado por Tavares (2000), o qual afirma que a confiança é muitas vezes escolhida como um indicador de capital social. O Autor refere: 89 “Um estudo conduzido no princípio da década de 9090 coloca Portugal em posição desfavorável num conjunto de países, de acordo com a percepção dos seus cidadãos quanto ao nível interno de confiança. Apenas uma pequena percentagem superior a 20 por cento dos inquiridos em Portugal respondeu que confia na maioria da população, enquanto nos países nórdicos este número era superior a 50%.” Um outro elemento relevante na envolvente, encontra-se ligado com o “factor cultural”. A envolvente social e cultural do empreendedor é muito importante, já que a demonstração de um comportamento empreendedor por parte de um indivíduo ou de 89 Tavares (2000, pp. 128-129). 90 World Values Survey, indicando a percentagem das pessoas que responderam afirmativamente à pergunta: “Em termos gerais, diria que se deve confiar na maioria das pessoas?” - 66 - um grupo de indivíduos é um fenómeno social. Os comportamentos ou competências dos empreendedores definem-se, sem dúvida, pela referência indirecta a outro indivíduo, grupo, sociedade ou cultura em sentido mais amplo. O “factor cultural”, apesar de se encontrar presente nos estudos sobre o empreendedorismo, tem sido por vezes esquecido na aplicação prática desses trabalhos. Recorde-se que a larga maioria da investigação se tem efectuado nos EUA, sendo aplicada em políticas económicas noutros países, sem a necessária adaptação a este factor, o que é decisivo. De facto existem diferenças culturais que impedem a extensão dos modelos americanos a outros países. O peso do “factor cultural” foi identificado por McClelland (1961), segundo o qual, seja inata ou adquirida, a capacidade empreendedora depende do contexto social. Afirmou ainda que a capacidade para realizar iniciativas económicas depende da sociedade e da cultura a que pertence. Recentemente, tem-se identificado uma interdependência mais estreita entre o empreendedorismo e a envolvente social, sendo o primeiro dependente da segunda. A actividade económica em geral, e o empreendedorismo em particular, fazem parte de estruturas sócio-culturais, sendo o empreendedorismo a nível local estimulado por um contexto favorável. Segundo Poutsma (1997), este último aspecto deve-se designadamente a factores como: • Existência de micro e pequenas empresas na comunidade, as quais criam e dinamizam redes de cooperação informal. A cooperação é facilitada a nível local, porque há uma partilha de valores sociais e culturais; • Estrutura económica baseada em empresas familiares, que espontaneamente regulam o mercado e a vida social; • “Empreendedores comunitários” que dinamizam a identidade local e regional, elevando o papel social do empreendedor. Refira-se ainda um outro aspecto cultural, materializado nas atitudes relativamente ao fracasso empresarial. É que em muitas culturas, como a portuguesa e em muito do espaço Europeu em geral, o seu valor enquanto aprendizagem não é reconhecido, como acontece na realidade norte americana, o que pode ser inibidor da emergência do empreendedorismo, alterando, por um lado, a percepção do risco e, por outro lado, enviesando o papel do empreendedor na sociedade. Este factor foi reconhecido pela Comissão Europeia (1998), a qual afirma: “Existe na Europa um sério estigma social em relação à falência. Nos EUA, as leis da falência permitem ao empreendedor que falhou recomeçar rapidamente e o falhanço é visto como parte do processo de aprendizagem. Na Europa, quem falha é visto como um incapaz, sendo extremamente dificultado o acesso a financiamento para uma nova empresa.” As características do empreendedor O estudo do empreendedorismo iniciou-se com a procura das características psicológicas distintivas do empreendedor, visando a definição do seu perfil psicológico. - 67 - Deste trabalho resultou um conjunto de características que podem ser normalmente identificadas nos empreendedores, como sendo a determinação, o optimismo, a independência, a vontade de enfrentar desafios e a vontade de correr riscos. Alguns autores sustentam que essas características, apesar de importantes, não são determinantes, já que podem ser alteradas ou ultrapassadas através da experiência e da educação/formação, ou até na interacção com outras pessoas, a quem se podem vir a associar. Aliás, o empreendedor raramente inicia uma empresa sozinho, sendo mais comum uma equipa de empreendedores a iniciarem uma nova empresa.91 Drucker (1985b) sustenta que existem muitos casos em que os empreendedores não possuem essas características e, apesar disso, criaram as suas empresas e muitas delas com sucesso. Surge pois a necessidade de reequacionar o conceito, tendo surgido a definição de empreendedor potencial, já que é reconhecido na literatura que nem todos os indivíduos podem ser empreendedores. Shapero (1981) introduziu esta noção, considerando que o potencial emerge quando um indivíduo consegue percepcionar uma oportunidade, reconhecendo-a como pessoalmente viável. Quando um indivíduo tem capacidade empreendedora, ou seja, tem competência, capacidade e vontade, pode-se desenrolar a oportunidade de criação de uma nova empresa. É no entanto difícil, do ponto de vista psicológico, separar um empreendedor de um não empreendedor, 92 surgindo assim a necessidade de percepcionar intenções, atitudes e motivações, como forma de identificar o empreendedor potencial. E é igualmente indispensável que esse potencial seja avaliado à luz da oportunidade em causa. Segundo Reitan (1997), há muitos indivíduos com intenções, competências e capacidades, e que até vivem num ambiente propício ao empreendedorismo, mas nunca criarão uma empresa, porque não reconhecem uma oportunidade viável face às suas competências e capacidades. Conclui-se, assim, que há um conjunto de competências, normalmente relacionadas com os empreendedores, que importa desenvolver. McClelland (1987) identificou um conjunto de competências evidenciadas pelos empreendedores e que contribuíam para o sucesso da iniciativa empresarial, a saber: • Proactividade (os empreendedores demonstram uma maior iniciativa e assertividade); • Orientação por objectivos (os empreendedores identificam uma oportunidade e procuram alcançá-la, são orientados pela eficiência, preocupam-se com a qualidade do trabalho, planeiam sistematicamente e monitorizam o trabalho); • Respeito pelos outros (os empreendedores demonstram um sentimento de obrigação perante o cumprimento de um trabalho e reconhecem a importância das relações de trabalho, realçando ainda a importância da satisfação do cliente). 91 Gartner et al (1994). 92 Reitan (1997). - 68 - Mas, na realidade, não basta deter características empreendedoras, apesar de estas serem importantes. Há um momento no qual o empreendedor decide iniciar um novo negócio e esse é um dos aspectos fundamentais no estudo do empreendedorismo. Torna-se assim necessário perceber o processo de decisão do empreendedor, incluindo as motivações e os factores que o levaram a tomar essa decisão. Os estudos realizados sobre o processo de decisão93 dizem-nos que o empreendedor decide com base em expectativas, mais do que com base em factos reais. Este factor é ainda mais evidente quando se trata de uma inovação, onde muitas vezes é difícil definir o mercado e efectuar estimativas razoáveis para a evolução da empresa a criar. É aqui que a comunidade pode ter um papel muito relevante, ao criar expectativas positivas e incentivando o empreendedorismo, através da redução das barreiras de entrada tangíveis (por exemplo facilitando o acesso a financiamento), ou intangíveis (por exemplo valorizando o papel social do empreendedor ou valorizando a importância da mudança). Num estudo realizado na Austrália por Mazzarol et al (1998), foram identificados 6 factores de motivação para a criação de uma empresa, partindo de um conjunto mais alargado de variáveis: • Investimento: Necessidade de um emprego, desejo de investir poupanças, desejo de receber lucros pelo mérito e necessidade de criar riqueza; • Criatividade: Desejo de aproveitar talentos, de ter um emprego interessante, desejo de criar alguma coisa / realização de um sonho; • Autonomia: Desejo de trabalhar num local que se escolheu, desejo de ter um horário à escolha e desejo de ser o seu próprio patrão; • Status: Seguir o exemplo de outra pessoa, desejo de reconhecimento social e desejo de seguir a tradição familiar; • Oportunidade de mercado: Desejo de aproveitar uma oportunidade de mercado e a antecipação de factores económicos positivos; • Dinheiro: Manter o rendimento e ganhar mais dinheiro. É necessário ter em mente que há apenas um conjunto de características mutáveis, que dizem respeito a capacidades, competências e relacionamentos, e é sobre estas que se pode actuar individualmente.94 Para alterar a personalidade e as motivações são necessárias alterações profundas, nomeadamente culturais, o que obriga a uma actuação sistémica e global, principalmente no sistema de educação, designadamente ao nível do ensino obrigatório. 93 Krueger (1997). 94 Bird (1993). - 69 - Genética Contexto familiar Experiência adulta História da vida Experiência actual Qualidades visíveis e mutáveis • Competências • Capacidades • Relacionamentos Estruturas e escolhas profundas • Personalidade • Motivações Potencial comportamento empreendedor • Começar • Persistir • Vencer Fonte: Bird, B. (1993) Figura 24 – Um modelo de vida de desenvolvimento empreendedor [adaptado de Gonçalves (2000)] Nota-se a existência de um consenso generalizado (se bem que não demonstrado entre gestores e investigadores), de que a experiência profissional passada é um indicador mais fiável do que a educação. A opinião geral é de que “a escola da vida” prepara melhor os indivíduos do que a escola ou a universidade. Um outro aspecto a evidenciar é o de haver fortes indícios de que, quando iniciam as suas empresas, os indivíduos apresentam uma elevada insatisfação no emprego ou actividade que tenham tido anteriormente.95 O processo de aprendizagem através da experiência é contínuo e incremental, conforme se pode ver na Figura 25. O indivíduo começa por observar e reflectir sobre a envolvente, identificando oportunidades, que conceptualiza de forma abstracta. Caso entenda viável, experimenta e adquire experiência, que lhe permitirá observar e reflectir sobre novas realidades, e assim sucessivamente. Experiência concreta Experimentação activa Observação reflectiva Conceptualização abstracta Fonte: Bird, B. (1993) Figura 25 – Aprendizagem experimental [adaptado de Gonçalves (2000)] 95 Bird (1993. - 70 - Este processo de aprendizagem deve ter presente um processo de valorização do empreendedor, sendo este um agente que interage com a sociedade. De acordo com Felizardo (1997), a dinâmica de valorização passa por 3 estádios: • O aprender (saber): É o primeiro estádio através do qual se transforma informação em conhecimento. Nesta fase, é particularmente relevante o ensino formal, desde o primário ao universitário; • O apreender (saber fazer): É a segunda etapa de valorização, transformando conhecimento em competências, envolvendo a aplicação dos conhecimentos em novas situações, normalmente associado a interacções com a envolvente, de onde se obtém feedback; • O empreender (fazer com saber): É o terceiro estádio, que corresponde à transformação das competências em capacidades, isto é, o fazer com saber, que possibilita ao indivíduo fazer acontecer ou, integrando a noção de liderança, e como definiu Mateus (2000), “saber fazer fazer”. À medida que o indivíduo apreende, necessita de nova aprendizagem e à medida que empreende, necessita não só da aprendizagem, mas igualmente da apreensão, valorizando-se assim em contínuo e com reciprocidade, conforme se pode observar na Figura 26. Evidenciam-se, assim, necessidades de formação nos 3 estádios, sendo no primeiro associada ao “learning-by-learning”, ou seja, a esquemas tradicionais de formação (marketing, finanças, etc...) e, no segundo e terceiro estádios, associada ao “learning-bydoing” e ao “learning-by-interacting”, ou seja, a esquemas mais avançados de formação, designadamente a tutoria (em especial no apoio à elaboração de planos de negócio), e o apadrinhamento e a “formação on the job”, permitindo ao indivíduo ultrapassar constrangimentos pessoais, facilitando assim o processo do empreendedorismo. 96 96 O CPIN e o IST – Instituto Superior Técnico, desenvolveram entre 1998 e 2000 o Programa IMPACT, de formação em Comercialização de Ciência e Tecnologia e Internacionalização, dirigido a empreendedores de base tecnológica, em parceria com o Instituto IC2 – Innovation, Creativity & Capital da Universidade do Texas, em Austin, e com o apoio do Ministério da Economia, através de alguns dos seus Organismos, e do PEDIP II. Este Programa foi concebido com base no processo dinâmico de valorização dos indivíduos aqui referido. Mais informações sobre esta iniciativa podem ser encontradas em http://in3.dem.ist.utl.pt/adv/impact/. - 71 - Figura 26 – A dinâmica de valorização dos indivíduos [adaptado de Gonçalves (2000)] Pode acrescentar-se ainda um quarto tipo de aprendizagem, relacionado com a dinâmica de competitividade em que o empreendedor necessariamente se envolve, que pode ser designada por “learning-by-comparing”, e que se materializa através do benchmarking. Esta forma de aprendizagem manifestar-se-á crescentemente em estádios posteriores à criação da empresa.97 Em relação às características socio-biológicas, considera-se que o género, religião ou grupo étnico, quando conduzem à dificuldade na inserção no mercado de trabalho, acabam por determinar, por vezes, uma carreira empreendedora. Paradoxalmente, as desvantagens no mercado de trabalho podem potenciar o empreendedorismo, sendo este uma das poucas vias para a obtenção de sucesso económico. 98 Um outro elemento que explica o comportamento empreendedor é a socialização do indivíduo, nomeadamente a presença de empreendedores na família [Mathews e Moser (1996)], bem como a insegurança na juventude, criando ambição, resistência à autoridade e uma tendência para correr riscos [Kets de Vries (1977)], fomentando-se assim o empreendedorismo. O processo de criação de uma empresa Na Figura 27 pode observar-se que existem 4 grandes fases no processo de criação de uma empresa: (1) “A ideia”, ou seja, a identificação da oportunidade económica; (2) Decisão de avançar; (3) Implementação; e (4) Crescimento. 97 Para um melhor aprofundamento do estudo sobre as dinâmicas de aprendizagem, tanto ao nível dos indivíduos como sobretudo ao das organizações, pode ser consultado Videira (2001). 98 Dyer (1997). - 72 - PESSOAL PESSOAL SOCIOLÓGICO PESSOAL ORGANIZACIONAL •Sucesso •Controlo •Ambiguidade •Risco •Valores •Educação •Experiência •Risco •Insatisfação no emprego •Perda de emprego •Educação •Idade •Sexo •Envolvimento •Redes •Equipas •Pais •Família •Papel na sociedade •Empresário •Líder •Gestor •Envolvimento •Visão •Equipa •Estratégia •Estrutura •Cultura •Produto Inovação: A ideia Decisão de avançar Implementação ENVOLVENTE ENVOLVENTE •Oportunidade •Papel na sociedade •Criatividade •Concorrência •Recursos •Incubação •Legislação •Políticas públicas Crescimento ENVOLVENTE •Concorrência •Clientes •Fornecedores •Investidores e Banca •Legislação •Recursos •Políticas públicas Fonte: Bygrave (1995) Figura 27 – Processo de criação de uma empresa [adaptado de Gonçalves (2000)] O esquema apresentado constitui em si mesmo uma representação simplificada pelo seu próprio Autor, já que cada uma das fases é em si um processo, verificando-se muitas vezes interacções e retrocessos, ou seja, um empreendedor pode estar na fase da decisão de avançar e, tendo em conta a análise que efectua, pode voltar à fase da ideia, e assim sucessivamente. A complexidade das interacções não se encontra no reflectida no referido esquema para não o tornar ininteligível. A fase inicial do processo de criação de empresas – o reconhecimento da oportunidade – é um dos aspectos do empreendedorismo mais críticos, sendo talvez um dos processos mais complexos de estudar, porque só pode ser identificado quando já aconteceu, sendo por vezes difícil precisar quando. Se levarmos em conta a racionalidade limitada proposta por Simon (1976), as redes sociais do empreendedor podem expandir as fronteiras das suas capacidades, o que o pode levar a identificar novas ideias e ao reconhecimento de novas oportunidades, minimizando ainda o risco. Aliás, é frequente que as redes sociais sejam mesmo responsáveis pelo aparecimento da ideia.99 Assim que o empreendedor esteja convencido de que o negócio tem potencialidades e existe viabilidade pessoal, surge a decisão de avançar. Nesta fase, o empreendedor “negoceia” com as suas redes sociais e, em particular, com a família e amigos, a mudança de estado (principalmente quando se trata da primeira vez), sendo fundamentais para esse processo de negociação os factores exógenos (insatisfação, 99 Singh et al (1999). - 73 - perda de emprego, motivação, grau de envolvimento e risco), os factores intrínsecos (educação, idade e sexo), e os factores da envolvente (concorrência, recursos disponíveis, política governamental, legislação e incubação). É talvez na negociação com as redes sociais que mais se faz sentir o peso cultural no empreendedorismo. Se a cultura for favorável, o empreendedor será incentivado a avançar mas, se não o for, rapidamente serão evidenciadas um conjunto de dificuldades e de avisos que, num ápice, o levarão a desistir ou a atrasar o processo de criação da nova empresa. Após a decisão de avançar, inicia-se o processo de implementação, onde surgem novas características pessoais necessárias ao empreendedor, tais como a liderança, a visão e a capacidade de mobilizar recursos. Depois de criada a empresa, é fundamental o seu crescimento, sem o qual não estará terminado o processo. Nesta fase emerge a importância de uma nova dimensão – a organizacional – que, em conjunto com a pessoal e a envolvente, será determinante para a sustentabilidade do negócio. O processo da criação da empresa, da ideia ao crescimento, é dinâmico, sendo constituído por fases de avanço e recuo, integrando dúvidas e de alterações e, muitas vezes, avança devido a acontecimentos pontuais e exógenos. A evolução deste processo é influenciada por um sistema de variáveis que interagem entre si e influenciam o resultado final [Russel (1997)]. Por outro lado, é raro a ideia original manter-se constante ao longo do tempo, sem sofrer quaisquer alterações ao longo do processo. Esta perspectiva é sustentada, por exemplo, por Drucker (1985a), o qual constatou que quando uma nova empresa tem sucesso, muitas vezes tal não acontece no mercado-alvo original, nem com os produtos ou serviços originais. Em consequência, a maioria dos empreendedores não tem sucesso com a realização da sua ideia original. Este facto justifica-se pela evolução dinâmica do negócio (antes e após a criação da empresa). - 74 - CAPÍTULO 3 - ESTADO ACTUAL DA INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA100 A - O ESTUDO SKILLS – 1ª. FASE101 Aspectos gerais O projecto Skills teve por objectivo identificar e estudar os principais factores que caracterizam a manifestação da capacidade empreendedora por parte dos indivíduos. Isto, no sentido de se identificarem padrões de comportamento comuns aos indivíduos empreendedores, enquadrados na envolvente portuguesa, de modo que fosse possível o desenvolvimento de estratégias para um apoio capaz de suprir as aptidões em falta, nomeadamente através da formação. Os objectivos pretendidos com o Projecto Skills foram os seguintes: • Testar, validar e operacionalizar uma metodologia de detecção e análise de competências e aptidões pessoais de empreendedores; • Identificar as variáveis determinantes a considerar na detecção, análise e avaliação de empreendedores; • Apurar a base de conhecimento específica que deve sustentar as competências e qualificações dos empreendedores; • Definir os traços marcantes do perfil do empreendedor, aos níveis técnico, psicológico e comportamental, sócio-cultural e instrumental, que caracterizam os empreendedores dinâmicos; • Reconhecer a importância e proporcionar uma reflexão sobre a base de conhecimento de competências e aptidões dos empreendedores, por forma a constituir-se como ponto de referência em organismos envolvidos na formação profissional e criação de emprego. 100 O estado actual da investigação corresponde ao resultado do trabalho de investigação desenvolvido pelo CPIN – Centro Promotor de Inovação e Negócios, entidade de que o autor é Director Geral, em duas fases (a primeira em 1998 e 1999 e a segunda entre Março de 2000 e Fevereiro de 2001), no quadro do desenvolvimento da Metodologia Skills de avaliação da capacidade empreendedora. Este trabalho não foi desenvolvido, de forma directa e específica, pelo autor, embora tenha naturalmente beneficiado da sua intervenção, como gestor, a partir do último trimestre de 1999, da entidade que o promoveu e como orientador da segunda fase do trabalho de investigação, que correspondeu à análise das competências instrumentais dos empreendedores. 101 Corresponde ao trabalho realizado pelo CPIN em 1998 e 1999, no âmbito do projecto “Estudo de Investigação Skills ”, integrado no Programa “Pessoa”, gerido pelo IEFP – Instituto do Emprego e Formação Profissional. - 75 - Um importante factor crítico de sucesso num processo de criação de uma empresa inovadora resulta da articulação entre o binómio indivíduo/ideia. De qualquer forma, este não pode ser considerado como único critério de sucesso nesta fase inicial. Muitas vezes uma boa ideia de negócio não se traduz na criação de uma empresa de sucesso. É difícil, do ponto de vista psicológico, separar um empreendedor de um não empreendedor, surgindo assim a necessidade de percepcionar comportamentos, capacidades e motivações, como forma de identificar o empreendedor potencial. Por outro lado, é indispensável que esse potencial seja avaliado à luz da oportunidade em causa – é desta constatação que surge o conceito de capacidade empreendedora na óptica do projecto Skills: Traduz-se no conjunto de capacidades (Sociais, Técnicas, e Instrumentais), as quais interagem entre si, e que são inatas ao indivíduo empreendedor e/ou adquiridas pelo mesmo (através do processo de valorização do indivíduo), tornando-o capaz de criar e desenvolver ideias que se materializam em novos processos e produtos, isto é, em inovações. Assim, o empreendedor utiliza a sua capacidade para identificar oportunidades de mercado e mobilizar os recursos necessários – humanos, físicos e financeiros –, com vista à valorização comercial de uma ideia enquanto negócio. Figura 28 - Capacidade empreendedora na óptica Skills, segundo CPIN (1999) Desta forma, a manifestação da capacidade empreendedora resulta de uma constante interligação entre os três níveis de capacidades descritos, num complexo e constante processo de interacção sistémico, onde os inputs provenientes da envolvente são constantemente reorganizados por mecanismos de feedback, no sentido da produção de outputs, por parte do indivíduo, capazes de produzir influências positivas nos vários agentes envolvidos. - 76 - As quatro dimensões de análise consideradas, e as respectivas variáveis, que foram analisadas em conjunto, são: a) Saber Fazer Formação Base; Experiência Profissional; Conhecimento Técnico; Experiência Empresarial; Conhecimento do Sector. b) Imagem Apresentação; Discurso; Comunicabilidade. c) Características Pessoais Maturidade; Potencial Criativo; Atitude Inovadora; Espírito de Iniciativa; Capacidade de Afirmação Pessoal; Definição e Clareza de Objectivos; Capacidade de Quantificação de Riscos; Capacidade para Arriscar; Capacidade de Auto-análise; Idade; Sentido de Oportunidade. d) Factores Motivacionais Focalização no Assunto; Grau de Maturidade da Ideia; Disponibilidade / Compromisso; Determinação; Energia Pessoal; Envolvimento; Motivação para a Ideia; Grau de Apropriabilidade. Com base nestas variáveis e consequentes notações, foi avaliado o potencial empreendedor, na medida em que se pretendeu detectar as principais carências dos indivíduos, no que concerne ao desenvolvimento da sua ideia de negócio. Cruzando técnicas de análise de clusters com análise factorial de componentes principais, foi possível tipificar os grupos de promotores, conforme se pode observar na Tabela 13. Mean Grupo Total Promotor/Meio 1 -1,21 2 0,39 3 1,39 4 -1,36 5 -0,76 6 -0,55 Promotor/Ideia 0,35 -0,21 1,17 1,07 0,19 -0,66 0,00 Promotor/Mercado Promotor/Conhecimento -0,44 -0,31 0,00 0,05 -2,51 0,78 -0,08 -0,74 1,93 -0,32 0,93 2,16 0,00 0,00 Capacidade para arriscar Outras 1,42 -0,71 -0,05 0,16 -0,49 -0,56 -0,49 1,07 -2,27 -0,45 0,86 -2,70 0,00 0,00 Tabela 13 – Estudo Skills (1ª. Fase) – Tipificação dos promotores por factores - 77 - 0,00 A interpretação do quadro anterior é a seguinte: • Tipo 1 (representam cerca de 13% da amostra): Têm capacidade para arriscar e alguma afinidade com a ideia, mas apresentam debilidades ao nível da interacção com o meio e nas características não classificadas (idade e potencial criativo); • Tipo 2 (representam cerca de 69% da amostra): Próximos da média em todos os factores, destacando-se ligeiramente pela positiva a interacção com o meio e pela negativa a afinidade com a ideia; • Tipo 3 (representam cerca de 3% da amostra): Apresentam uma elevada interacção com o meio e afinidade com a ideia, não apresentando, principalmente, conhecimento do mercado, capacidade para arriscar e as características não classificadas (idade e potencial criativo); • Tipo 4 (representam cerca de 7% da amostra): Apresentam uma elevada afinidade com a ideia e com as características não classificadas (idade e potencial criativo), mas falta-lhes interacção com o meio e conhecimento, apresentando características de idealistas; • Tipo 5 (representam cerca de 5% da amostra): Apresentam conhecimento do mercado mas não têm capacidade para arriscar nem uma correcta interacção com o meio; • Tipo 6 (representam cerca de 3% da amostra): Têm um forte conhecimento e capacidade para arriscar mas não apresentam as características não classificadas (idade e potencial criativo), afinidade com a ideia e interacção com o meio. B - O ESTUDO SKILLS – 2ª. FASE102 Objectivos do estudo Tendo em consideração os resultados da primeira fase do estudo Skills, foram definidos 2 objectivos para o desenvolvimento da sua segunda fase, a saber: • Identificar as Capacidades Instrumentais essenciais à capacidade empreendedora do indivíduo que cria empresas; • Valorizar as Capacidades Instrumentais identificadas nos potenciais empreendedores, através dos empreendedores de sucesso já em actividade. Com estes dois objectivos pretendeu-se seleccionar as capacidades instrumentais mais importantes para o sucesso dos empreendedores. Deste modo, será possível partir 102 Corresponde ao trabalho realizado pelo CPIN entre Março de 2000 e Fevereiro de 2001, no âmbito de um projecto Voluntarista do PEDIP II e da parceria estratégica estabelecida entre o CPIN e o Taguspark. - 78 - para a confirmação efectiva da relação existente, que se pretende evidenciar, entre as capacidades empreendedoras e, em particular, as capacidades instrumentais (ou seja, a capacidade de fazer fazer ou de fazer acontecer) e o efectivo desempenho das empresas do conhecimento emergentes. Adicionalmente, futuros trabalhos poder-se-ão focalizar nas capacidades que realmente interessam, por forma a detectar as lacunas que potenciais empreendedores apresentam (com base nas capacidades que já foram identificadas como essenciais ao empreendedor), no sentido de construir mecanismos de apoio específicos para colmatar essas carências, aumentando assim a eficácia dos apoios a prestar. Na realidade, os resultados deste trabalho poderão ser aplicados no âmbito da assessoria aos potenciais empreendedores do conhecimento, já que se poderão detectar as suas lacunas, no que respeita às Capacidades Instrumentais (as Capacidades Sociais e Técnicas já são detectadas, com base no Projecto Skills – 1ª. Fase), por forma a actuar sobre elas, através de, por exemplo, um processo de formação. Face ao descrito, foi desenhado um quadro de análise, no sentido de se estruturar de uma forma exaustiva as variáveis a incorporar na técnica de análise utilizada neste trabalho – Inquérito por questionário auto-administrado. Tabela 14 – Estudo Skills (2ª. Fase) – Quadro de análise da variável “Capacidades Instrumentais” - 79 - Universo do estudo Conforme já referido, o estudo teve dois momentos fundamentais: • A identificação dos indicadores de avaliação das capacidades instrumentais, que foi efectuada com base em todos os promotores que recorreram à Incubadora de Ideias do Taguspark entre Abril e Julho de 2000 (cujos resultados estão expressos no quadro de análise apresentado na Tabela 14); • A valorização dos indicadores de avaliação das capacidades instrumentais, que foi efectuada através de um inquérito por questionário auto-administrado entregue directamente. Neste sentido, toda a análise desta segunda fase do estudo Skills incidiu sobre este último ponto, já que o primeiro serviu apenas para a concepção do quadro de análise, que enquadra toda a pesquisa. Assim, a definição e selecção do universo de estudo (valorização dos indicadores) obedeceu aos seguintes critérios: • Iniciativa pessoal no lançamento de um negócio com características lucrativas – este primeiro critério requereu que a participação no estudo fosse apenas de sócios fundadores de um negócio, tendo de responder ao Inquérito somente um deles, caso existisse mais do que um; • Os empreendedores inquiridos teriam de ser proprietários de uma empresa de base tecnológica,103 uma vez que os resultados seriam para aplicar nos clientes do CPIN; • O terceiro critério prendeu-se essencialmente com o facto de os respondentes terem iniciado a sua actividade empresarial há pelo menos um ano, de modo a que se pudesse averiguar o nível de sucesso do seu negócio; • O quarto e último critério exigia que as empresas estivessem instaladas no Taguspark, atendendo ao facto de que o Parque é um espaço privilegiado no que respeita à concentração de empresas de base tecnológica.104 Tendo em conta estes critérios, procedeu-se à selecção dos empreendedores a inquirir, pelo que se solicitou o apoio do Taguspark. O universo foi contabilizado num total de 62 empresas, tendo respondido ao questionário 21 empresas, o que representa 34% do universo inquirido. Tendo em consideração a dimensão do universo, não se efectuou a técnica de amostragem, já que era possível estudá-lo no seu todo. Refira-se que as razões invocadas para a não resposta por parte dos inquiridos prenderam-se essencialmente com questões de ausência do país, falta de tempo e o excesso de questionários a que têm de responder. 103 Este aspecto representa uma redução do âmbito global da Tese objecto da presente dissertação, constituindo uma parte apenas do universo mais geral das empresas do conhecimento, as quais foram já caracterizadas anteriormente. Esta limitação justificou-se no quadro de actuação do CPIN, da sua parceria com o Taguspark e do projecto Voluntarista em que a segunda fase do estudo Skills foi integrada. 104 O que, por seu turno, introduz riscos de enviesamento da análise, devido ao facto de as empresas instaladas no Taguspark não constituírem uma amostra representativa das empresas de base tecnológica nacionais. - 80 - Enviesamentos e obstáculos à pesquisa A pesquisa efectuada apresentou dois tipos diferentes de enviesamentos/obstáculos, que obrigam a uma não extrapolação directa dos resultados, a saber: • O primeiro decorre do próprio desenho da pesquisa, e que já era conhecido à partida. É que a técnica indicada para um estudo desta natureza é um painel, com um número fixo de empreendedores a entrarem de início, sendo acompanhados ao longo do tempo, por um período mínimo de 2 anos. No entanto, uma vez que não haviam sido efectuados trabalhos anteriores para desenhar o quadro de análise, terse-ia de despender cerca de 1 ano, tempo este que foi poupado pela presente pesquisa – daí que se tenha considerado a mesma oportuna – sendo este trabalho um pré-teste; • O segundo decorre da ausência de respostas, apesar de uma taxa muito elevada de respostas (superior a 30%). Este aspecto pode ser explicado por diversos factores, como sejam o facto de o questionário ter sido enviado no verão (por motivos dos timings do próprio programa Voluntarista no qual o trabalho se inseriu), a dificuldade de acesso a estes empreendedores, porque são muito ocupados e recebem muitos questionários, e a falta de trabalhos de investigação dentro dos objectivos do estudo. Saliente-se ainda que os inquiridos invocaram também o facto de que não receberam o E -mail que lhes era destinado, por problemas no seu server, ou porque as suas empresas só possuem um único endereço de E-mail e, sendo das mensagens recepcionadas por outras pessoas, que não os responsáveis da empresa, as quais podem não reconhecer no assunto o relevo que, eventualmente, os empreendedores reconheceriam. Capacidades Instrumentais As Capacidades Instrumentais, que já tinham sido detectadas como parte essencial da Capacidade Empreendedora juntamente com as Capacidades Sociais e Técnicas, não foram integradas no estudo Skills, uma vez que se demonstrou não ser possível efectuar um estudo dinâmico. Em boa verdade, o estudo destas Capacidades requer um período de tempo alargado, para que as mesmas posam ser detectadas. Neste contexto, o CPIN achou por bem aprofundar este trabalho através da valorização dessas mesmas capacidades entretanto detectadas, procurando desta maneira colmatar a lacuna deixada na metodologia Skills, no sentido de se poder avaliar a capacidade empreendedora no seu todo, por forma a poder actuar mais eficazmente no apoio aos potenciais empreendedores. Assim, foram identificadas, como Competências Instrumentais a Liderança e o Relacionamento Interpessoal. Verificou-se ainda que se trata de dimensões compósitas que se subdividem, a saber: - 81 - a) Relacionamento Interpessoal: Capacidade de escutar e adquirir informação; Amabilidade; Necessidade de filiação; Capacidade para lidar com as pessoas; Atitude afável para com as pessoas; Respeito pelos outros; Comunicabilidade; Sentido de obrigação para com os outros; Reconhecimento da importância das relações humanas. b) Liderança: Capacidade de negociação; Capacidade de decisão; Capacidade de persuasão; Capacidade de gerir conflitos; Responsabilidade; Visão; Capacidade de organizar; Capacidade de coordenar; Capacidade para incutir os seus valores na empresa; Formador de equipas; Formador de heróis; Capacidade de dominar as situações (locus of control); Capacidade de criar um ambiente inovativo e criativo. Apesar da identificação destas competências, verificou-se um problema na sua valorização, já que a mesma deveria ser efectuada comparativamente ao sucesso empresarial, e nomeadamente, na busca de correlações entre as competências e o sucesso, e tal não é possível nos potenciais empreendedores já que, nestes, ainda não é possível medir a variável dependente – o sucesso empresarial. Este trabalho foi efectuado junto dos empreendedores que já criaram uma empresa e que tiveram sucesso (tendo-se seleccionado, como universo, as empresas de base tecnológica instaladas no Taguspark), por forma a que se pudesse criar um quadro de referência mais completo, o qual permitiria, mais tarde, o posicionamento dos empreendedores que são acompanhados na actividade corrente do CPIN. O objectivo, a ser cumprido, passaria pela identificação de quais as variáveis que os empreendedores de sucesso mais valorizam, ou seja, aquelas que na opinião deles mais contribuíram para o sucesso da sua iniciativa empresarial, de entre as competências manifestadas pelo conjunto dos empreendedores que foram acompanhados no âmbito do acompanhamento de empreendedores que se candidataram à Incubadora de Ideias do Taguspark, no sentido de se efectuar uma ligação entre estas e o sucesso empresarial. Para tal, foi efectuado um inquérito por questionário auto-administrado entregue directamente ao universo de estudo – empresas de base tecnológica instaladas no Taguspark –, por forma a verificar se existe uma relação entre as competências identificadas e o sucesso empresarial. Análise dos dados Esta análise foi efectuada com base nos 21 indivíduos que responderam ao questionário (empreendedores originais de empresas de base tecnológica). A análise foi subdividida em 4 grandes áreas, a saber: • Características gerais da empresa; - 82 - • Características gerais dos empreendedores; • Relacionamento interpessoal; • Liderança. A breve descrição que se segue centra-se apenas nas duas últimas áreas, uma vez que são estas as que mais interessam a esta dissertação: a) Relacionamento interpessoal O tratamento das respostas permitiu condensar as mesmas no seguinte quadro: N Capacidade de escutar e adquirir informação Comunicabilidade Sentido de obrigação com os outros Capacidade para lidar com as pessoas Respeito pelos outros Reconhecimento da importância das relações humanas Atitude afável com as pessoas Amabilidade Necessidade de filiação Valid N (listwise) 18 18 18 18 18 18 18 18 18 18 Minimum 3,29 3,60 3,40 3,00 3,00 2,82 2,86 2,71 2,50 Maximum 4,86 4,80 4,40 4,88 4,83 4,55 4,71 4,57 4,50 Mean 4,0714 4,0556 3,8944 3,8750 3,7454 3,6465 3,5952 3,5476 3,4352 Std. Deviation ,3928 ,3807 ,2999 ,3613 ,4147 ,4028 ,4906 ,5462 ,5427 Tabela 15 – Estudo Skills (2ª. Fase) – Relacionamento interpessoal Os dois aspectos mais marcantes nos empreendedores são a sua capacidade de escutar e adquirir informação e a comunicabilidade, ambos com um elevado nível de concordância, sendo a necessidade de filiação a variável que se aproxima mais do nível de indiferença. Apesar de, em termos médios, o nível de concordância ser sempre positivo (ou seja superior a 3, que é o nível de indiferença), verifica-se que o desvio padrão é superior nas variáveis com menor nível, o que se observa aliás pelas diferenças entre o valor mínimo e o valor máximo observado. Significa isto, tomando como exemplo a necessidade de filiação, que, como o desvio padrão é de 0.54, há opiniões muito divergentes em relação à média (aliás a diferença entre o valor mínimo e o máximo é de 2), o que indicia a existência de indivíduos ou grupos que se afastam dos restantes. Neste sentido importava estudar a existência de grupos nas respostas, o que foi efectuado através da análise de clusters, posteriormente validada pela análise discriminante. Da análise estatística efectuada resultou que os aspectos mais importantes que os empreendedores de base tecnológica devem manifestar em relação ao relacionamento interpessoal, são os que se apresentam no esquema seguinte. - 83 - Tabela 16 – Estudo Skills (2ª. Fase) – Conclusão sobre o Relacionamento Interpessoal b) Liderança O tratamento das respostas permitiu condensar as mesmas no seguinte quadro: N Capacidade de decisão Capacidade para assumir responsabilidades Visão Capacidade de negociação Capacidade para criar um ambiente criativo e inovador Capacidade de comunicação Capacidade de gerir conflitos Capacidade para formar uma equipa Capacidade de persuasão Capacidade para dominar as situações Capacidade de coordenar Capacidade de organizar Capacidade de incutir os seus valores na empresa Capacidade para formar líderes na empresa Valid N (listwise) 18 18 18 18 18 18 18 18 18 18 17 18 18 18 17 Minimum 4 4 4 3 4 4 4 3 3 3 3 3 2 1 Maximum 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 Mean 4,78 4,72 4,67 4,56 4,50 4,50 4,50 4,44 4,39 4,33 4,29 4,22 4,11 3,78 Std. Deviation ,43 ,46 ,49 ,62 ,51 ,51 ,51 ,62 ,61 ,59 ,77 ,65 ,83 1,06 Tabela 17 – Estudo Skills (2ª. Fase) – Liderança Um primeiro aspecto a destacar é a elevada concordância com todas as variáveis consideradas para a liderança, o que aliás não é de estranhar. Apesar disso verificam-se algumas diferenças, destacando-se a capacidade de decisão, a capacidade para assumir responsabilidades, a visão e a capacidade de negociação, sendo os valores menos significativos a capacidade para formar líderes na empresa, a capacidade de incutir os seus valores na empresa e a capacidade de organizar. Foi igualmente, neste caso, estudada a existência de grupos nas respostas, o que foi efectuado através da análise de clusters, posteriormente validada pela análise discriminante. A análise estatística permitiu concluir que os aspectos mais importantes que os empreendedores de base tecnológica devem manifestar em relação à liderança são os que se apresentam no esquema seguinte. - 84 - Tabela 18 – Estudo Skills (2ª. Fase) – Conclusão sobre a Liderança C - RESUMO DAS CONCLUSÕES DA INVESTIGAÇÃO ANTERIOR O trabalho de investigação desenvolvido pelo CPIN entre 1998 e o primeiro trimestre de 2001, não tendo atingido a totalidade dos objectivos inicialmente traçados, produziu no entanto resultados significativos os quais, dentro da hierarquização que foi possível efectuar, permitiram considerar apenas os indicadores mais decisivos dentro de cada dimensão e variável, podendo ser resumidos no quadro da Tabela 19 o qual, na realidade, constitui o ponto de partida da presente investigação. - 85 - Capacidade Empreendedora Variáveis Dimensões Indicadores 1. Capacidade de escutar e adquirir informação 2. Comunicabilidade 3. Sentido de obrigação com os outros Capacidades instrumentais 4. Capacidade de decisão Liderança 5. Capacidade para identificar novas oportunidades de negócio (Visão) 6. Capacidade para assumir responsabilidades/compromissos 7. Perseverança 8. Capacidade para arriscar 9. Espírito de iniciativa 10. Potencial criativo Capacidades pessoais Comportamental 11. Capacidade para inovar 12. Capacidade de partilha 13. Auto-motivação 14. Capacidade para trabalhar 15. Formação base relacionada com a actividade Conhecimento técnico 16. Domínio do processo de inovação Capacidades técnicas 17. Conhecimento do Sector 18. Experiência Empresarial Experiência 19. Experiência Profissional 20. Capacidade para percepcionar as motivações dos clientes Marketing 21. Capacidade de medir o grau de satisfação dos clientes 22. Capacidade para negociar financiamentos Finanças 23. Capacidade para montar um sistema de controlo de gestão Capacidades de gestão 24. Capacidade para motivar os colaboradores Recursos Humanos 25. Capacidade para avaliar colaboradores 26. Capacidade para contratar empregados 27. Capacidade para conceber a estratégia da empresa Estratégia 28. Capacidade para implementar a estratégia definida Relacionamento Interpessoal Aceleradores ou redutores da manifestação da Capacidade Empreendedora Variáveis Indicadores Disponibilidade 1. Dedicação à nova empresa 2. Valorização pela família da iniciativa de criar uma empresa Envolvente Sócio cultural 3. Há disposição pelo cônjuge/família relativamente ao esforço que envolve uma empresa Envolvente Económica Envolvente Política 4. Mercado em expansão 5. Existência de nichos de mercado inexplorados 6. Nível de inovação do produto elevado 7. Há uma grande necessidade do produto 8. Facilidade de identificar os clientes 9. Existência de clientes interessados no produto 10. Facilidade em obter o financiamento para os capitais próprios 11. Disponibilidade de capital de familiares/amigos 12. Acesso facilitado ao crédito Bancário 13. Facilidade de financiamento por operações de capital de risco 14. Existência de incentivos que se adaptem à actividade da empresa 15. Desburocratização que facilite o início de novos negócios 16. Apoio a nível de políticas públicas na elaboração do plano de negócios 17. Apoio de agências públicas Principais motivações para a criação da empresa Possibilidade de desenvolver um trabalho criativo Poder ser inovador Possibilidade de ser independente Ter liberdade no desenvolvimento do seu trabalho Necessidade de controlar o seu próprio destino Poder acompanhar o desenvolvimento tecnológico Poder continuar a aprender Aproveitar uma oportunidade de mercado Aproveitar o valor da ideia Necessidade de realização pessoal Desejo de enfrentar desafios Tabela 19 – Estudo Skills – Resumo das conclusões globais - 86 - CAPÍTULO 4 - DA CAPACIDADE EMPREENDEDORA AOS ACTIVOS INTANGÍVEIS A - A QUESTÃO DOS INDICADORES Classificação de indicadores e tipologia de activos Na ausência de literatura relacionando a capacidade empreendedora dos criadores de empresas do conhecimento com os activos intangíveis das mesmas, excepto no que toca a questões e considerações de ordem geral e/ou resultantes da aplicação do senso comum, a análise que aqui se efectua tem um carácter eminentemente tentativo, procurando tirar ilações dos aspectos teóricos e conceptuais associados à análise dos activos intangíveis e das conclusões do trabalho de investigação desenvolvido pelo CPIN em relação à avaliação da capacidade empreendedora. Importa desde logo ter bem presente que, do lado dos activos intangíveis, se chegou a uma proposta de taxonomia, a qual agrupa os diferentes tipos de activos intangíveis em quatro categorias: Propriedade intelectual, activos de mercado, activos de Infrastrutura e activos humanos. Em contrapartida, do lado da avaliação da capacidade empreendedora, dispõe-se de um conjunto de 28 indicadores, os quais se encontram agrupados em 9 dimensões de análise e, a um nível superior, em 4 grandes variáveis: Capacidades instrumentais, capacidades pessoais, capacidades técnicas e capacidades de gestão. Existe pois uma diferença fundamental entre uma série de activos, cada um com o seu próprio valor, e um conjunto de indicadores, os quais antes de mais facilitam a operacionalização de uma metodologia de medição da capacidade empreendedora dos indivíduos. Uma outra grande barreira à transposição do salto entre a capacidade empreendedora dos indivíduos e os activos intangíveis das organizações reside precisamente em que a primeira se concentra num indivíduo, ou num normalmente reduzido conjunto de indivíduos (os criadores de uma empresa do conhecimento), enquanto que os segundos respeitam às organizações criadas e geradas pelos mesmos indivíduos. E acresce ainda que os activos intangíveis possuem comportamentos económicos específicos, sendo de realçar a sua excludabilidade parcial e os direitos de propriedade normalmente difusos que aos mesmos se encontram associados. Deve por exemplo referir-se que, enquanto que os activos de infrastrutura são mais facilmente apropriáveis pelas organizações, os activos humanos são sobretudo pertença dos indivíduos que se encontram ligados às organizações (e que já não serão normalmente apenas os seus fundadores) embora, como se defendeu, existam condições para que as organizações consigam apropriar-se parcialmente dos referidos activos. - 87 - Interdependência Uma outra limitação relevante a um exercício de estabelecimento de uma ligação do tipo causal e temporalmente sequencial entre a capacidade empreendedora dos promotores de empresas do conhecimento e os activos intangíveis das mesmas é o facto de existir interdependência entre os diversos elementos. No caso da capacidade empreendedora, a interdependência entre os respectivos indicadores é uma conclusão assumida da investigação até ao momento desenvolvida pelo CPIN. Esta interdependência existe tanto dentro de cada grande variável e dimensão de análise como entre estas. No entanto, o grau de interdependência não é tão grande que seja possível estabelecer relações biunívocas entre variáveis, de modo a reduzir o seu número. Um teste à existência de correlações entre os diversos indicadores da capacidade empreendedora, ao nível de cada uma das quatro grandes variáveis de análise, no caso da amostra dos empreendedores do conhecimento utilizada na presente investigação105 produziu os seguintes resultados: Correlations Capacidade de escutar e adquirir informação Pearson Correlation Comunicabilidade Sig. (2-tailed) N Pearson Correlation Sentido de obrigação com os outros Sig. (2-tailed) N Pearson Correlation Sig. (2-tailed) Capacida de de escutar e adquirir informaçã o 1,000 , N Capacidade de decisão Pearson Correlation Cap. para identif. novas oport. negócio (visão) Sig. (2-tailed) N Pearson Correlation Sig. (2-tailed) Cap. para assumir responsabil/compromis sos N Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Capacida de de decisão ,015 ,956 Cap. para identif. novas oport. negócio (visão) ,168 ,519 Cap. para assumir responsa bil/compr omissos -,261 ,311 17 ,135 ,605 17 17 ,045 ,864 17 17 ,113 ,666 17 17 -,153 ,557 17 1,000 , ,562* ,019 ,193 ,458 Comunic abilidade ,095 ,718 Sentido de obrigação com os outros -,254 ,324 17 ,095 ,718 17 17 1,000 , 17 -,254 ,324 ,135 ,605 17 ,727** ,001 17 17 17 17 17 ,015 ,956 17 ,045 ,864 17 ,562 * ,019 17 1,000 , 17 ,209 ,420 17 ,391 ,121 17 ,168 ,519 17 -,261 ,113 ,666 17 -,153 ,193 ,458 17 ,727 ** ,209 ,420 17 ,391 1,000 , 17 ,079 ,079 ,763 17 1,000 ,311 17 ,557 17 ,001 17 ,121 17 ,763 17 , 17 *. Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed). **. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed). Tabela 20 – Correlações entre os indicadores das capacidades instrumentais 105 A amostra utilizada neste teste é a que compreende a totalidade dos empreendedores que responderam ao questionário, independentemente de terem ou não fornecido os dados económico-financeiros das suas empresas. A caracterização da amostra é efectuada mais adiante, na página 109 deste documento. - 88 - Correlations Perseverança Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Capacidade para arriscar Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Espírito de iniciativa Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Potencial criativo Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Capacidade para inovar Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Capacidade de partilha Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Auto-motivação Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Capacidade para Pearson Correlation trabalhar Sig. (2-tailed) N Persever ança 1,000 , 17 ,308 ,230 17 ,561* ,019 17 ,292 ,255 17 ,556* ,020 17 ,528* ,029 17 ,675** ,003 17 ,411 ,101 17 Capacida de para arriscar ,308 ,230 17 1,000 , 17 -,208 ,423 17 -,035 ,893 17 ,060 ,820 17 ,185 ,478 17 ,029 ,913 17 ,113 ,665 17 Capacida Capacida Capacida Espírito de Potencial de para de de Auto-moti de para iniciativa criativo inovar partilha vação trabalhar ,561* ,292 ,556* ,528* ,675** ,411 ,019 ,255 ,020 ,029 ,003 ,101 17 17 17 17 17 17 -,208 -,035 ,060 ,185 ,029 ,113 ,423 ,893 ,820 ,478 ,913 ,665 17 17 17 17 17 17 1,000 ,084 ,261 ,365 ,895** ,205 , ,748 ,311 ,150 ,000 ,430 17 17 17 17 17 17 ,084 1,000 ,749** ,537* ,293 ,342 ,748 , ,001 ,026 ,253 ,179 17 17 17 17 17 17 ,261 ,749** 1,000 ,604* ,409 ,413 ,311 ,001 , ,010 ,103 ,099 17 17 17 17 17 17 ,365 ,537* ,604* 1,000 ,450 ,444 ,150 ,026 ,010 , ,070 ,074 17 17 17 17 17 17 ,895** ,293 ,409 ,450 1,000 ,232 ,000 ,253 ,103 ,070 , ,369 17 17 17 17 17 17 ,205 ,342 ,413 ,444 ,232 1,000 ,430 ,179 ,099 ,074 ,369 , 17 17 17 17 17 17 *. Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed). **. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed). Tabela 21 – Correlações entre os indicadores das capacidades pessoais Correlations Formação Domínio de base do relaciona processo Conheci da com a de mento do actividade inovação sector Formação de base Pearson Correlation 1,000 ,734** ,064 relacionada com a Sig. (2-tailed) , ,001 ,806 actividade N 17 17 17 Domínio do processo de Pearson Correlation ,734** 1,000 ,038 inovação Sig. (2-tailed) ,001 , ,883 N 17 17 17 Conhecimento do sector Pearson Correlation ,064 ,038 1,000 Sig. (2-tailed) ,806 ,883 , N 17 17 17 Experiência profissional Pearson Correlation -,149 -,186 ,020 Sig. (2-tailed) ,569 ,475 ,938 N 17 17 17 Experiênc ia profission al -,149 ,569 17 -,186 ,475 17 ,020 ,938 17 1,000 , 17 **. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed). Tabela 22 – Correlações entre os indicadores das capacidades técnicas - 89 - Correlations Cap. para percepcionar as mitivações dos clientes Cap. para medir o grau de satisfação dos clientes Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Pearson Correlation Sig. (2-tailed) Cap. para percepcio nar as mitivaçõe s dos clientes 1,000 , 17 ,478 N Cap. para medir o grau de satisfação dos clientes ,478 ,052 17 1,000 Capacida de para negociar financiam entos ,133 ,612 17 -,089 Cap. para montar um sistema de controlo de gestão ,116 ,659 17 ,064 Capacidad e para motivar os colaborado res ,000 1,000 17 -,418 Capacida de para avaliar colaborad ores ,422 ,092 17 -,264 Capacida de para contratar emprega dos ,399 ,112 17 -,038 Capacidad e para conceber a estratégia da empresa ,000 1,000 17 ,073 ,052 , ,733 ,807 ,095 ,305 ,883 ,781 17 17 17 17 17 17 17 17 -,089 ,733 1,000 , ,227 ,380 ,248 ,338 ,195 ,454 ,367 ,148 ,007 17 Capacidade para negociar financiamentos Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N ,133 ,612 17 17 17 17 17 17 Cap. para montar um sistema de controlo de gestão Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N Pearson Correlation Sig. (2-tailed) N ,116 ,659 17 ,000 1,000 17 ,422 ,092 17 ,399 ,064 ,807 17 -,418 ,095 17 -,264 ,305 17 -,038 ,227 ,380 17 ,248 ,338 17 ,195 ,454 17 ,367 1,000 , 17 ,216 ,405 17 ,128 ,625 17 ,098 ,216 ,405 17 1,000 , 17 ,216 ,404 17 ,608** ,128 ,625 17 ,216 ,404 17 1,000 , 17 ,187 ,098 ,709 17 ,608** ,010 17 ,187 ,473 17 1,000 ,208 ,423 17 ,274 ,287 17 ,147 ,573 17 ,245 ,029 ,912 17 ,073 ,781 17 ,116 ,656 17 ,451 ,709 17 ,208 ,423 17 ,029 ,912 17 ,010 17 ,274 ,287 17 ,073 ,781 17 ,473 17 ,147 ,573 17 ,116 ,656 17 , 17 ,245 ,344 17 ,451 ,069 17 ,344 17 1,000 , 17 ,432 ,083 17 ,069 17 ,432 ,083 17 1,000 , 17 Capacidade para motivar os colaboradores Capacidade para avaliar colaboradores Capacidade para contratar empregados Capacidade para conceber a estratégia da empresa Capacidade para implementar a estratégia definida ,112 17 ,000 1,000 17 ,507* ,038 17 ,883 17 ,073 ,781 17 ,625** ,007 17 ,148 17 ,689** ,002 17 ,275 ,285 17 17 17 17 ,689** ,002 Capacida de para implemen tar a estratégia definida ,507* ,038 17 ,625** ,275 ,285 *. Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed). **. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed). Tabela 23 – Correlações entre os indicadores das capacidades de gestão Dos resultados apresentados anteriormente, verifica-se existirem diversas correlações entre os vários indicadores da capacidade empreendedora, dentro de cada uma das quatro grandes variáveis de análise. Procedeu-se ainda a teste análogo abrangendo todos os indicadores, independentemente do seu agrupamento, tendo-se constatado que, existindo correlações inter grandes variáveis de análise, as mesmas não assumem relevância tão elevada quanto as mais significativas ao nível intra grandes variáveis de análise. Tal constatação sustenta a adequação do agrupamento dos indicadores efectuada pelo CPIN no âmbito do estudo Skills da capacidade empreendedora. - 90 - As correlações mais importantes (significativas ao nível 0.01) são as seguintes: Grande variável de análise Capacidades instrumentais Capacidades pessoais Capacidades técnicas Capacidades de gestão Indicador 1 Indicador 2 Sentido de obrigação com os outros Capacidade para inovar Potencial criativo Perseverança Auto-motivação Espírito de iniciativa Formação de base Domínio do processo de relacionada com a inovação actividade Capacidade para contratar Capacidade para motivar os empregados colaboradores Capacidade para conceber Capacidade para negociar a estratégia da empresa financiamentos Capacidade para Capacidade para medir o implementar a estratégia grau de satisfação dos da empresa clientes Capacidade de decisão Correlação de Pearson 0.727 0.749 0.675 0.895 0.734 0.608 0.689 0.625 Tabela 24 – Correlações mais significativas entre os indicadores da capacidade empreendedora No caso dos activos intangíveis, o respectivo grau de interdependência será eventualmente menor entre os vários activos, sendo mesmo bastante reduzido quando analisado entre activos pertencentes a grupos taxonómicos distintos. No entanto, o senso comum não deixará de levar à consideração da existência de interdependência entre, por exemplo, activos como as marcas, o posicionamento e o nome da empresa, entre a filosofia de gestão e a cultura corporativa, entre as relações externas e o networking, entre a inteligência, o conhecimento e as competências ou entre a liderança e as atitudes. A existência de correlações entre os vários indicadores da capacidade empreendedora, por um lado, e os diversos activos intangíveis, por outro, dificulta o estabelecimento de relações específicas entre cada um dos indicadores da capacidade empreendedora e os activos intangíveis que originam. Cada indicador da capacidade empreendedora está na origem de vários activos intangíveis e cada activo intangível não é originado por apenas um indicador da capacidade empreendedora em concreto. O mais que se conseguirá estabelecer, ao tentar ligar a capacidade empreendedora dos indivíduos com os activos intangíveis das empresas do conhecimento pelos mesmos criadas e geridas na sua fase emergente serão relações difusas, de contornos pouco definidos e, sobretudo, tendências gerais e relações grupais. - 91 - B - A CAPACIDADE EMPREENDEDORA NA ORIGEM DOS ACTIVOS INTANGÍVEIS Feitas as ressalvas anteriores, apresenta-se de seguida uma tentativa de estabelecimento das principais relações entre os indicadores da capacidade empreendedora dos empreendedores do conhecimento e os activos intangíveis das empresas do conhecimento pelos mesmos criadas e geridas, na sua fase emergente. Para se conseguir legibilidade, a proposta que se segue encontra-se dividida segundo as quatro grandes variáveis de análise da capacidade empreendedora. Activos intangíveis Indicadores Variáveis Capacidade empreendedora Vari áveis Dimensões 1. Inteligência 2. Liderança 3. Conhecimento 4. Capacidades Activos humanos 5. Atitudes 6. Espírito de iniciativa 7. Espírito de equipa 8. Sociabilidade 9. Patentes 10. Direitos de autor 11. Direitos de design Propriedade intelectual 12. Segredos comerciais 13. Desenvolvimento de processos 14. Produtos e serviços 15. Tecnologias 16. Marcas 17. Posicionamento 18. Bases de clientes 19. Nome da empresa 20. Canais de distribuição Activos de mercado 21. Acordos e licenças 22. Contratos 23. Relações com a envolvente 24. Parcerias 25. Filosofia de gestão 26. Cultura corporativa 27. Processos de gestão 28. Processos de negócio Activos de infrastrutura 29. Impacto dos sistemas de informação 30. Relações externas 31. Networking 32. Cumprimento dos standards Indicadores 1. Capacidade de escutar e adquirir informação Relacionamento Interpessoal 2. Comunicabilidade 3. Sentido de obrigaç ão com os outros Capacidades instrumentais 4. Capacidade de decis ã o Lideranç a 5. Capacidade para identificar novas oportunidades de negó cio (Visão) 6. Capacidade para assumir responsabilidades/compromissos Figura 29 – Relação entre os indicadores das capacidades instrumentais dos empreendedores e os activos intangíveis das empresas emergentes A Figura 29 sugere que as capacidades instrumentais dos indivíduos são mais importantes para a geração de activos de mercado e de infrastrutura, sendo ainda relevantes para a geração de activos humanos. Os indicadores dentro da dimensão “liderança” apresentam esta diferença de relevância mais acentuadamente do que os associados ao “relacionamento interpessoal”. - 92 - Capacidade empreendedora Variáveis Dimens ões Activos intangíveis Indicadores Variáveis 1. Inteligência 2. Liderança 3. Conhecimento 4. Capacidades Activos humanos 5. Atitudes 6. Espírito de iniciativa 7. Espírito de equipa 8. Sociabilidade 9. Patentes 10. Direitos de autor 11. Direitos de design Propriedade intelectual 12. Segredos comerciais 13. Desenvolvimento de processos 14. Produtos e serviços 15. Tecnologias 16. Marcas 17. Posicionamento 18. Bases de clientes 19. Nome da empresa Activos de mercado 20. Canais de distribuição 21. Acordos e licenças 22. Contratos 23. Relações com a envolvente 24. Parcerias 25. Filosofia de gestã o 26. Cultura corporativa 27. Processos de gestão 28. Processos de negó cio Activos de infrastrutura 29. Impacto dos sistemas de informação 30. Relações externas 31. Networking 32. Cumprimento dos standards Indicadores 7. Perseveran ça 8. Capacidade para arriscar 9. Espírito de iniciativa 10. Potencial criativo Capacidades pessoais Comportamental 11. Capacidade para inovar 12. Capacidade de partilha 13. Auto -motivação 14. Capacidade para trabalhar Figura 30 – Relação entre os indicadores das capacidades pessoais dos empreendedores e os activos intangíveis das empresas emergentes A Figura 30 sugere que as capacidades pessoais dos indivíduos são importantes para a geração da generalidade dos activos intangíveis, incluindo a propriedade intelectual. Activos intangíveis Indicadores Variáveis Capacidade empreendedora Variávei s Dimensões 1. Inteligência 2. Liderança 3. Conhecimento 4. Capacidades Activos humanos 5. Atitudes 6. Espírito de iniciativa 7. Espírito de equipa 8. Sociabilidade 9. Patentes 1 0. Direitos de autor 1 1. Direitos de design Propriedade intelectual 1 2. Segredos comerciais 1 3. Desenvolvimento de processos 1 4. Produtos e serviços 1 5. Tecnologias 1 6. Marcas 1 7. Posicionamento 1 8. Bases de clientes 1 9. Nome da empresa Activos de mercado 2 0. Canais de distribuição 2 1. Acordos e licenças 2 2. Contratos 2 3. Relações com a envolvente 2 4. Parcerias 2 5. Filosofia de gestão 2 6. Cultura corporativa 2 7. Processos de gestão 2 8. Processos de negócio Activos de infrastrutura 2 9. Impacto dos sistemas de informaçã o 3 0. Relações externas 3 1. Networking 3 2. Cumprimento dos standards Indicadores 15. Formação base relacionada com a actividade Conhecimen to técnico Capacidad es técnicas 16. Domínio do processo de inovação 17. Conhecimento do Sector 18. Experiência Empresarial Experiência 19. Experiência Profissional Figura 31 – Relação entre os indicadores das capacidades técnicas dos empreendedores e os activos intangíveis das empresas emergentes - 93 - A Figura 31 sugere que as capacidades técnicas dos indivíduos são importantes para a geração de todos activos intangíveis, com excepção dos activos humanos. Convém relembrar que os activos humanos de uma organização são aqueles que respeitam às características do conjunto dos seus colaboradores, nos níveis individuais e colectivo, sendo portanto natural que as capacidades técnicas dos criadores das empresas do conhecimento tenham uma influência relativamente reduzida na geração dos activos humanos das empresas por eles criadas. Capacidade empreendedora Variávei s Dimens õ es Activos intangíveis Indicadores Variáveis 1. Inteligência 2. Liderança 3. Conhecimento 4. Capacidades Activos humanos 5. Atitudes 6. Espírito de iniciativa 7. Espírito de equipa 8. Sociabilidade 9. Patentes 1 0. Direitos de autor 1 1. Direitos de design Propriedade intelectual 1 2. Segredos comerciais 1 3. Desenvolvimento de processos 1 4. Produtos e serviços 1 5. Tecnologias 1 6. Marcas 1 7. Posicionamento 1 8. Bases de clientes 1 9. Nome da empresa Activos de mercado 2 0. Canais de distribuição 2 1. Acordos e licenças 2 2. Contratos 2 3. Relações com a envolvente 2 4. Parcerias 2 5. Filosofia de gestão 2 6. Cultura corporativa 2 7. Processos de gestão 2 8. Processos de negócio Activos de infrastrutura 2 9. Impacto dos sistemas de informaçã o 3 0. Relações externas 3 1. Networking 3 2. Cumprimento dos standards Indicadores 20. Capacidade para percepcionar as motivações dos clientes Marketing 21. Capacidade de medir o grau de satisfação dos clientes 22. Capacidade para negociar financiamentos Finan ça s 23. Capacidade para montar um sistema de controlo de gestão Capacidad es de gestão 24. Capacidade para motivar os colaboradores Recursos Humanos 25. Capacidade para avaliar colaboradores 26. Capacidade para contratar empregados 27. Capacidade para conceber a estrat égia da empresa Estrat égia 28. Capacidade para implementar a estrat égia definida Figura 32 – Relação entre os indicadores das capacidades de gestão dos empreendedores e os activos intangíveis das empresas emergentes A Figura 32 sugere que as capacidades de gestão dos indivíduos são importantes para a geração de todos activos intangíveis, com excepção da propriedade intelectual. Destacam-se as fortes ligações entre a capacidade para contratar empregados e os activos humanos das empresas (trata-se aqui de uma ligação exclusiva, isto é, este indicador não surge ligado à génese de qualquer outro activo) e entre os indicadores ligados às “finanças” e à “estratégia” e os activos de infrastrutura e de mercado. A análise tentativa feita acima que, relembra-se, não se encontra sustentada em bases de conhecimento concretas associadas à literatura consultada, poderá então ser resumida no seguinte quadro: - 94 - Aptidões Instrumentais Aptidões Pessoais Aptidões Técnicas Relacionamento Interpessoal Liderança Comportamentos Propriedade intelectual Conhecimento técnico Activos de mercado Experiência Marketing Aptidões de Gestão Activos humanos Recursos Humanos Activos de infrastrutura Finanças Estratégia Figura 33 – Relação entre as dimensões de análise da capacidade empreendedora e os activos intangíveis das empresas emergentes De acordo com a análise tentativa efectuada poderá assim dizer-se que, de entre as várias dimensões de análise da capacidade empreendedora, as que mais influenciam a geração dos activos intangíveis das empresas do conhecimento emergentes serão: Relacionamento interpessoal Liderança Activos humanos Aptidões comportamentais Aptidões de gestão de recursos humanos Aptidões de gestão financeira Aptidões de gestão estratégica Aptidões comportamentais Propriedade intelectual Conhecimento técnico Experiência Activos de mercado Todas, excepto aptidões de gestão de recursos humanos Activos de infrastrutura Todas, excepto aptidões de gestão de recursos humanos Tabela 25 – Dimensões da capacidade empreendedora que mais influenciam a génese dos activos intangíveis das empresas do conhecimento (análise tentativa) - 95 - CAPÍTULO 5 - METODOLOGIA DE INVES TIGAÇÃO A - ESTRATÉGIA DE INVESTIGAÇÃO Como ficou evidenciado anteriormente, o trabalho de investigação desenvolvido pelo CPIN até Fevereiro de 2001 não atingiu plenamente os seus objectivos, designadamente no que respeita a dois aspectos fundamentais: • Hierarquização dos indicadores da capacidade empreendedora, dentro de cada dimensão e variável de análise; • Estabelecimento de relação entre a capacidade empreendedora, ou alguns dos seus indicadores, e o desempenho das empresas de base tecnológica emergente. Esta situação induziu constrangimentos no trabalho de investigação anteriormente planeado, tendo o mesmo tido de ser adaptado, no sentido de acomodar as insuficiências verificadas as quais, na verdade, motivaram a necessidade de um recuo no ponto de partida do trabalho de investigação.. Tornava-se assim necessário proceder por forma a obter resultados que permitissem, numa sequenciação lógica: • Hierarquizar os indicadores relevantes; • Escolher as variáveis independentes da investigação, de entre os indicadores mais significativos; • Testar as Hipóteses de investigação. Por outro lado, o CPIN prosseguiu o seu trabalho de investigação no domínio do aprofundamento do estudo da capacidade empreendedora, o qual continuou a ser protagonizado pela investigadora que havia já assegurado a maior parte do trabalho anterior, em particular a segunda fase do “Skills”. Foi assim possível desenvolver a investigação de uma forma conjunta entre o autor desta dissertação e a Investigadora que, no CPIN, foi, em particular a partir do início de 2000 e até Maio de 2002, a responsável pela investigação do CPIN no domínio da avaliação da capacidade empreendedora, bem como pela aplicação prática da metodologia criada, a Metodologia “Skills”, junto dos empreendedores de base tecnológica apoiados pelo CPIN, designadamente no quadro da sua parceria estratégica com o Taguspark. A Investigadora do CPIN concentrou-se no aprofundamento da metodologia “Skills” e o autor desta dissertação concentrou-se no estudo dos activos intangíveis e na relação - 96 - entre a manifestação de capacidade empreendedora, o desempenho das empresas do conhecimento emergentes e a valorização dos seus activos intangíveis. Foi assim efectuada a seguinte repartição de tarefas: • Investigadora do CPIN: Nova revisão de literatura sobre o empreendedorismo e o estudo da capacidade empreendedora; Preparação do conteúdo de novo questionário, na parte destinada à obtenção da hierarquização dos indicadores da capacidade empreendedora; Envio dos questionários por E-mail e respectivo seguimento; Recolha e sistematização das respostas; Colaboração na análise e interpretação das respostas, na parte aos indicadores da capacidade empreendedora. • Autor da dissertação: Pesquisa bibliográfica sobre activos intangíveis, sua classificação e respectiva avaliação; Preparação do conteúdo de novo questionário, na parte destinada à relação entre os indicadores da capacidade empreendedora e o desempenho das empresas; Desenho e realização final do questionário em Ms. Excel; Detecção e selecção da amostra (em adição à anteriormente utilizada pelo CPIN); Estabelecimento de contacto e relação com as entidades parceiras para interacção com os empreendedores com os quais o CPIN não tem relacionamento directo; Contacto seleccionado com alguns empreendedores; Tratamento dos dados; Análise e interpretação das respostas, na parte referente à hierarquização dos indicadores da capacidade empreendedora e consequente selecção final dos indicadores; Estabelecimento de conclusões, no que respeita à relação entre os indicadores da capacidade empreendedora e o desempenho das empresas. B - APRESENTAÇÃO DA METODOLOGIA Para o prosseguimento da investigação adoptou-se uma metodologia coerente com a que vinha sendo seguida pelo CPIN, a qual consistiu em: • Desenho do quadro de análise O quadro de análise da investigação foi desenhado a partir dos resultados da investigação anterior do CPIN, no quadro do Estudo Skills e, em particular, dos indicadores da manifestação da capacidade empreendedora, os quais se agrupam em 9 dimensões de análise e, de forma mais agregada, em 4 grandes variáveis: - 97 - Aptidões Técnicas Conhecimento técnico Experiência Aptidões Pessoais Comportamentos Relacionamento Interpessoal Aptidões Instrumentais Liderança Marketing Aptidões de Recursos Humanos Gestão Finanças Estratégia Tabela 26 – Grandes variáveis e respectivas dimensões de análise da capacidade empreendedora A análise procura estabelecer relações causais entre a capacidade empreendedora dos indivíduos e o desempenho das empresas do conhecimento por estes criadas, durante a sua fase emergente. As inferências a estabelecer poderão permitir avanços no conhecimento da forma como a capacidade empreendedora se encontra na génese dos activos intangíveis das empresas do conhecimento, uma vez que, como ficou evidenciado na análise teórica, o mercado valoriza estes activos nas transacções relacionadas com o investimento, e designadamente a participação no capital, em empresas do conhecimento, apesar de os dados contabilísticos não reflectirem adequadamente o valor dos activos intangíveis das empresas. Assim sendo, o quadro de análise assenta na aferição da capacidade empreendedora de um conjunto de indivíduos compondo uma amostra, assim como na medição do desempenho das empresas do conhecimento pelos mesmos criadas e geridas, ainda numa fase emergente,106 procurando-se, através da aplicação de técnicas de análise estatística, estabelecer relações causais entre a primeira (capacidade empreendedora) e o segundo (desempenho da empresa). • Estabelecimento da técnica de pesquisa Em coerência com a prática anterior do CPIN, designadamente na segunda fase do estudo “Skills” e uma vez que se procurava agora, num primeiro nível de análise, chegar às conclusões que integravam já os objectivos do referido estudo, considerou-se como mais conveniente apostar de novo numa pesquisa quantitativa, através de questionário auto-administrado, a remeter aos empreendedores do conhecimento constituintes do universo do estudo. A análise das respostas é efectuada por recurso a métodos estatísticos, tendo-se estabelecido inicialmente como preferência de método, para o tratamento de primeiro nível (da responsabilidade da Investigadora do CPIN), a análise de clusters, validada por uma análise discriminante, no sentido de estabelecer grupos com características idênticas em termos dos indicadores da capacidade empreendedora. 106 A definição de “Empresa do conhecimento emergente” é feita mais adiante neste trabalho. - 98 - No que respeita ao teste das hipóteses, isto é, à validação de relações entre as classificações dos empreendedores segundo os indicadores da capacidade empreendedora seleccionados como variáveis independentes e o efectivo desempenho das empresas do conhecimento emergentes (da responsabilidade do autor do presente documento), e por se tratar do teste de relações causais, entendeu-se por conveniente recorrer às técnicas de regressão linear. Para apoio a todo o tratamento estatístico recorrer-se-ia ao software “SPSS 9.0 for Windows”, aliás já utilizado (embora numa versão anterior) nas duas fases já decorridas do estudo “Skills”. • Definição e selecção do universo do estudo A unidade de investigação é o Empreendedor individual, criador e gestor directo de uma empresa do conhecimento. A consideração do empreendedor individual, e não da empresa, decorre do facto de as variáveis independentes a utilizar no teste das hipóteses (tratamento de segundo nível dos dados recolhidos) serem indicadores da capacidade empreendedora, logo associados aos indivíduos. As variáveis dependentes correspondem, essas sim, a indicadores do desempenho das empresas do conhecimento criadas e geridas pelos indivíduos que constituem o universo do estudo. Para esta investigação transitou, desde logo, o universo utilizado no estudo anterior (2ª. Fase do estudo “Skills”), definido de acordo com os seguintes critérios: o Iniciativa pessoal no lançamento de uma empresa – este primeiro critério requereu que a participação no estudo fosse apenas de sócios fundadores de um negócio, tendo de responder ao Inquérito somente um deles, caso existisse mais do que um; o Os empreendedores inquiridos teriam de ser proprietários de uma empresa de base tecnológica,107 uma vez que os resultados seriam para aplicar aos clientes do CPIN; o O terceiro critério prendeu-se essencialmente com o facto de os respondentes terem iniciado a sua actividade empresarial há pelo menos um ano; o O quarto e último critério exigia que as empresas estivessem instaladas no Taguspark, atendendo ao facto de que o Parque é um espaço privilegiado no que respeita à concentração de empresas de base tecnológica.108 107 Este aspecto representa uma redução do âmbito global da Tese objecto da presente dissertação, constituindo uma parte apenas do universo mais geral das empresas do conhecimento, as quais foram já caracterizadas anteriormente. Esta limitação justificou-se no quadro de actuação do CPIN, da sua parceria com o Taguspark e do projecto Voluntarista em que a segunda fase do estudo Skills foi integrada. 108 O que, por seu turno, introduziu riscos de enviesamento da análise, devido ao facto de as empresas instaladas no Taguspark não constituírem uma amostra representativa das empresas de base tecnológica nacionais. - 99 - Da aplicação destes critérios ao conjunto das empresas de base tecnológica residentes no Taguspark, bem como a algumas outras, não residentes, com as quais o CPIN mantinha ou tinha mantido relações, resultou um universo contabilizado num total de 62 empreendedores de base tecnológica. Tendo em atenção o facto de que, na presente investigação, se pretendeu, por um lado, estender a análise a outros empreendedores do conhecimento (considerandose que os empreendedores de base tecnológica são um caso particular daqueles), e tentando-se obviar aos riscos de enviesamento decorrentes do facto de a quase totalidade do universo transitado do estudo “Skills” corresponder a empreendedores de empresas residentes no Taguspark, procurou-se alargar o universo ao outros empreendedores, tendo-se para tal utilizado os seguintes critérios: o Empreendedores (Promotores) de Empresas do Conhecimento109 em actividade, com um mínimo de 3 e um máximo de 10 anos de actividade (constituição entre 1991 e 1998, inclusive), não sujeitas a qualquer operação de “Trade Sale”110, Fusão, Aquisição ou “IPO”111, e com envolvimento activo actual na gestão da empresa (apenas um empreendedor por empresa). o Empreendedores (Promotores) de Empresas do Conhecimento cuja actividade tenha terminado no decurso dos primeiros 10 anos de actividade, e com envolvimento na gestão da empresa até ao fim da mesma (apenas um empreendedor por empresa). A escolha de empresas com um mínimo de três e um máximo de dez anos justificou-se pelas seguintes razões: o Mínimo de três anos: Pretendeu-se garantir a possibilidade de estabelecer séries temporais para os indicadores de desempenho (mínimo 3 pontos) pois, caso tal não fosse conseguido, seria extremamente difícil avaliar o desempenho a partir apenas de indicadores absolutos, dada a extrema variedade que os mesmos podem tomar neste tipo de empresas, sem que tal permita retirar qualquer ilação quanto ao seu desempenho. o Máximo de dez anos: O enfoque do estudo em empresas emergentes, resultante da análise teórica desenvolvida anteriormente, obriga a limitar superiormente a idade das empresas. O limite poderia ter sido estabelecido noutro patamar (por exemplo os cinco ou seis anos), mais consentâneo com um estrito conceito de “Empresa Emergente”. No entanto, considerou-se o patamar dos dez anos 109 Empresa do Conhecimento: “Organização que cria ou adquire, manipula, integra ou de qualquer outra forma emprega, transfere ou difunde conhecimento como um aspecto substancial das suas operações.” [Staples et al (2000)]. As Empresas de Base Tecnológica são um tipo específico de Empresas do Conhecimento, distinguível pela natureza científica ou tecnológica do conhecimento criado e/ou utilizado. 110 Operação de venda de parte significativa, mas não necessariamente maioritária, do capital social da empresa, designadamente associada a operação de saída de investidor de risco. 111 Initial Public Offer – Operação de entrada em bolsa, com dispersão de parte do capital social, não necessariamente maioritária. - 100 - como aceitável, em termos da conciliação da definição de “Empresa Emergente” com a maior abrangência possível do universo a considerar, embora se tenha limitado o universo às empresas onde não tenham ocorrido operações significativas sobre o respectivo capital social, significando estas limitações que os decisores iniciais ainda mantêm influência decisiva na gestão da empresa. A utilização destes critérios para a definição do universo da presente investigação representa, por um lado, um alargamento relativamente aos critérios caracterizadores do universo trazido da anterior investigação do CPIN (abrangendo agora outros empreendedores do conhecimento, para além dos de base tecnológica), mas por outro lado uma restrição (ao definir um horizonte temporal de vida das empresas do conhecimento entre três e dez anos). Tal deveria ter conduzido à validação dos elementos constituintes do universo transitado (62 empreendedores de base tecnológica), à luz dos novos critérios. No entanto, esta operação não foi efectuada uma vez que, para a análise primária (a hierarquização dos indicadores da capacidade empreendedora), a restrição referente ao período de existência das empresas não era importante. Trabalhou-se assim, na verdade, com dois universos: o Um, mais alargado, para a análise de primeiro nível, do interesse directo do CPIN e da responsabilidade da sua Investigadora; o Outro, mais restrito, para a análise de segundo nível, de interesse directo para a Tese de Mestrado e da responsabilidade do autor da presente dissertação. Esta opção foi deliberada pela equipa de investigação (o autor deste documento e a Investigadora do CPIN), uma vez que, para o primeiro nível de análise, a possibilidade de contar com um universo mais alargado e, em consequência, com um maior número de respostas permitiria um trabalho mais fiável ao nível do tratamento dos dados. No sentido de alargar o universo do estudo, quer em termos de empreendedores do conhecimento sem ser de base tecnológica, quer em termos da localização geográfica, foi, por um lado, adicionado um conjunto de empreendedores com os quais o CPIN veio entretanto a ter contacto, tendo ainda sido a entidades nacionais, com as quais o CPIN mantém relações profissionais privilegiadas, que colaborassem na identificação e selecção de um conjunto de empreendedores do conhecimento mais alargado. As entidades contactadas foram: o AIMinho – Associação Industrial do Minho / IDITE Minho / BIC Minho (Braga) Esta entidade (ou este grupo de entidades) identificou um Cluster associado às Tecnologias de Informação na região de Braga. - 101 - o NET (BIC do Porto) Este EC-BIC (European Community Business & Innovation Centre) exerce a sua actividade essencialmente na Área Metropolitana do Porto e na Região Norte e é, para além do CPIN, o EC-BIC nacional com mais competências na área do empreendedorismo de base tecnológica. Desenvolveu iniciativas designadamente no campo dos Spin-Off académicos e leva a efeito, anualmente, um dos mais conseguidos concursos de ideias ao nível nacional. Ao nível das incubadoras nacionais, é aquela com a qual o CPIN mantém maior cooperação. o Grupunave –Universidade de Aveiro Incubadora associada à Universidade de Aveiro, com competências no domínio do empreendedorismo do conhecimento. o CPINAL – BIC Algarve-Huelva EC-BIC de que o aluno foi Director Geral entre Junho de 1995 e Agosto de 1999. Tem apoiado a criação de empresas algumas empresas do conhecimento, nem todas necessariamente de base tecnológica. o CEIM – BIC Madeira / Madeira Tecnopólo Entidades associadas com competências regionais na área do empreendedorismo e com alguns casos interessantes no domínio do empreendedorismo do conhecimento. Foi solicitado a estas entidades que apoiassem a selecção de empreendedores do conhecimento, tanto de empresas emergentes existentes como de empresas emergentes já descontinuadas (para tentar obter alguns casos de insucesso), com base nos critérios de selecção apontados anteriormente. As duas primeiras entidades contactadas (AIMinho / IDITE Minho / BIC Minho e NET) identificaram conjuntos de empreendedores do conhecimento potencialmente disponíveis para colaborar no estudo, tendo dos mesmos enviado os contactos para o CPIN. O universo global de estudo (ou seja, o mais abrangente, a utilizar na análise de primeiro nível), ficou assim constituído por um total de 99 empreendedores do conhecimento, repartidos da seguinte forma: o Ligados ao CPIN e/ou ao Taguspark: 72 empreendedores; o Indicados pela AIMinho / IDITE Minho / BIC Minho: 16 empreendedores; o Indicados pela NET: 11 empreendedores. - 102 - O universo assim constituído apresentava desde logo duas características limitadoras da abrangência do estudo: o Não existem no universo casos de insucesso, o que apenas permitirá, no limite, concluir sobre eventuais relações entre as classificações dos empreendedores segundo os indicadores da capacidade empreendedora seleccionados e o grau de sucesso dos seus negócios (mas não sobre o sucesso ou a sua ausência); o São poucos os casos de empreendedores do conhecimento sem ser de base tecnológica (Todos os ligados ao CPIN e/ou ao Taguspark o são, assim como a totalidade dos indicados pela AIMinho / IDITE Minho / BIC Minho, existindo apenas alguns casos que não são de base tecnológica no conjunto de empreendedores indicado pela NET). A discussão das fronteiras da investigação será, no entanto, tratada mais em pormenor adiante neste trabalho. • Desenho, elaboração e teste operacional do questionário O desenho do questionário a enviar a todos os elementos constituintes do universo do estudo teve em atenção a sua dupla função, isto é, por um lado permitir uma análise primária, para obter a hierarquização dos indicadores da capacidade empreendedora e, por outro lado, habilitar ao teste da existência de relacionamento entre a classificação dos empreendedores segundo os indicadores mais relevantes, seleccionados como variáveis independentes, e o desempenho económicofinanceiro das empresas do conhecimento emergentes por eles criadas e geridas. O questionário foi assim desenhado de acordo com o seguinte guião: o Nota introdutória; o Caracterização geral da empresa; o Dados económico-financeiros da empresa (exercícios de 1998, 1999 e 2000); o Dados gerais do empreendedor; o Questões de auto-avaliação do empreendedor. Do mesmo modo que havia sido feito anteriormente, as questões de auto-avaliação do empreendedor (as únicas não factuais do questionário) foram elaboradas por forma a, quando possível, não facilitarem escolhas com base em critérios de “certo/errado” ou “socialmente aceitável/inaceitável”. O questionário foi inicialmente elaborado em Ms. Word, para envio por fax ou pelo correio ou para ser eventualmente utilizado em entrevistas pessoais, tendo sido seguidamente elaborada uma versão integralmente digital, a qual foi realizada em Ms. Excel (e não Ms. Access, como no caso da segunda fase do estudo “Skills”, por - 103 - se ter verificado que nem todos os potenciais respondentes possuíam o software necessário à sua utilização). A versão digital, enviada por E-mail a todos os elementos do universo do estudo, foi elaborada com o recurso a Macros para navegação, procurando apostar num design atraente e amigável, de utilização intuitiva, permitindo o reenvio por E -mail para o CPIN pela simples pressão num botão. O questionário em formato de texto é apresentado em anexo à presente dissertação. A título ilustrativo, apresentam-se alguns dos écrans da versão digital do mesmo questionário: - 104 - Assinale as suas respostas colocando um "X" no quadrado correspondente à sua opção para cada pergunta 1 Concorda em absoluto com a resposta à esquerda 2 Concorda largamente com a resposta à esquerda 3 Concorda parcialmente com a resposta à esquerda 4 A sua opinião é indiferente em relação à resposta à esquerda ou à direita 5 Concorda parcialmente com a resposta à direita 6 Concorda largamente com a resposta à direita 7 Concorda em absoluto com a resposta à direita 1º. Grupo de respostas: Factor muito negativo. 2º. Grupo de respostas: Nada relevante 1 2 3 4 5 6 7 Factor muito positivo Importância decisiva Dados do Empreendedor (2) 1º. Grupo de respostas Dos seguintes aspectos, qual a relevância que lhes atribui, relativamente ao seu contributo para que conseguisse criar a sua empresa: Funcionaram como um entrave. Se tivessem existido tinha sido muito positivo Valorização pela família da iniciativa de criar uma empresa Apoio do cônjuge/família relativamente ao esforço que envolve a actividade de uma empresa L O mercado estava em expansão Existência de nichos de mercado inexplorados L Nível de inovação do produto elevado L Elevada necessidade do produto Facilidade de identificar os clientes Existência de clientes interessados no produto Facilidade em obter o financiamento para os capitais próprios Disponibilidade de capital de familiares/amigos L L Acesso facilitado ao crédito Bancário Facilidade de financiamento por operações de capital de risco Existência de incentivos públicos que se adaptem à actividade da empresa Desburocratização que facilitava o início de novos negócios L L 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 Contribuíram significativamente para que criasse a empresa mais rapidamente Figura 34 – Questionário electrónico – Exemplo de parcial de écran da secção de auto-avaliação - 105 - J J J J J J J Chegou ao fim do questionário. Por favor verifique se respondeu a todas as questões! Em breve receberá informação sobre os resultados agregados deste trabalho de investigação. Muito obrigado pela sua colaboração! O CPIN assume um compromisso estrito de confidencialidade às respostas que lhe são remetidas, não podendo ser identificadas. No entanto, caso o estudo venha a ser publicado, poderemos fazer menção à sua empresa, e até mesmo ao seu nome, como forma de agradecimento pela sua participação no estudo. Reiteramos no entanto que as suas respostas não vão ser identificadas, sendo apenas mencionada a sua participação, caso a tal nos autorize. A sua autorização efectuar-se-á através da colocação de um "X" na casa correspondente, na casa imediatamente abaixo. Autorizo a menção da minha participação e do nome da minha empresa, nas condições acima indicadas. Para enviar a sua resposta automaticamente para o CPIN, por favor clique no respectivo Logotipo: Enviar para o CPIN Figura 35 – Questionário electrónico – Écran final com instrução de envio automático das respostas para o CPIN O questionário em formato electrónico foi sujeito a testes de operacionalidade, tanto por parte da própria equipa do CPIN como por parte de alguns elementos externos à Organização. Das experiências efectuadas, e descontando a eventual necessidade de tempo adicional para a recolha dos dados económico-financeiros da empresa, o tempo típico de resposta ao questionário foi confirmado na casa dos 15 minutos. • Operacionalização do questionário O questionário foi enviado por E-mail, no mês de Julho de 2001, para os 99 indivíduos constituintes do universo do estudo. A mensagem continha um texto de convite à resposta e o questionário propriamente dito, em versão Ms. Excel, para resposta electrónica, e em versão Adobe Acrobat Reader (ficheiro .pdf), para impressão e preenchimento manual. Seguidamente, estabeleceu-se um processo de monitorização da recepção da mensagem por parte dos respectivos destinatários, através de tentativas de contacto - 106 - telefónico. Muitas destas tentativas não lograram o contacto directo com o destinatário, embora tenham permitido, em alguns casos, o redireccionamento da mensagem para outros endereços de correio electrónico e mesmo, nalguns casos, para novos destinatários dentro da mesma empresa do conhecimento, por se ter verificado que o novo destinatário tinha de facto sido o promotor ou um dos copromotores originais da empresa. Foram ainda efectuadas duas novas insistências por correio electrónico, uma ainda no mês de Julho de 2001 e uma outra no início de Agosto seguinte. Nestas insistências enviaram-se novas mensagens incentivando à resposta, tendo-se remetido de novo os questionários, nos dois formatos já anteriormente enviados. Durante os meses de Julho, Agosto e Setembro de 2001, e apesar de se tratar de período de férias, tanto a Investigadora do CPIN como o autor deste documento fizeram diversos telefonemas, procurando atrair a resposta de um número tão grande quanto possível de empreendedores. Já em Outubro de 2001, o autor da presente dissertação desenvolveu uma nova insistência junto dos seus colegas do BIC Minho e da NET, no sentido de procurar obter uma maior adesão dos empreendedores pelos mesmos indicados. Em Novembro de 2001 o autor deste documento desenvolveu iniciativa idêntica junto do Taguspark e de algumas das empresas no mesmo residentes, com as quais o CPIN mantém relações mais frequentes. • Recolha de respostas Foi recolhido, até 13 de Novembro de 2001, um total de 17 respostas, cuja quase totalidade foi remetida por correio electrónico, tendo sido usado o questionário electrónico, em Ms. Excel. • Análise e interpretação das respostas Aquando da elaboração do questionário, foi preparada uma tabela permitindo descodificar as respostas às questões de auto-avaliação, transpondo-as para classificações segundo os diversos indicadores da capacidade empreendedora. Assim, o primeiro trabalho de análise consiste na construção de uma tabela de observações relativamente à análise primária, a qual, basicamente, resulta na classificação de cada empreendedor segundo cada um dos indicadores da capacidade empreendedora. Sendo o objectivo da presente investigação testar a existência de relações causais entre um conjunto de indicadores da capacidade empreendedora (variáveis independentes) e o desempenho das empresas do conhecimento emergentes (variável dependente), consideraram-se apenas os 28 indicadores da capacidade empreendedora listados anteriormente.112 A não consideração dos ores/redutores da manifestação da 112 Ver o ponto “Resumo das conclusões da investigação anterior”, na página 85. - 107 - capacidade empreendedora prende-se com o facto de serem factores da envolvente e o afastamento das motivações para a criação da empresa justifica-se por estarem, pelo menos em parte, relacionados com factores conjunturais. O segundo trabalho de análise consiste na construção de indicadores do desempenho empresarial e respectiva discussão, com base nos dados económicofinanceiros recolhidos (sendo neste caso a amostra constituída apenas pelos promotores de empresas com pelo menos 3 e no máximo 10 anos de actividade que tenham fornecido os respectivos elementos económico-financeiros referentes aos exercícios de 1998, 1999 e 2000). • Tratamento de primeiro nível das respostas – Hierarquização dos indicadores da capacidade empreendedora Seguidamente, procede-se à análise estatística propriamente dita dos dados. Inicialmente, esta análise foi planeada com o recurso à análise de clusters e sua validação através de uma análise discriminante. No entanto, o facto de o número de observações conseguido ter sido inferior ao esperado (apenas 17, contra um número ideal entre 30 e 40) obrigou à opção por uma análise estatística mais simples, com base apenas nas médias, medianas e desvios-padrão (ou variâncias). • Selecção dos indicadores da capacidade empreendedora a considerar como variáveis independentes Da análise estatística efectuada resulta a eleição de um conjunto de indicadores da capacidade empreendedora considerados mais relevantes pelos empreendedores do conhecimento. Estes indicadores são organizados de acordo com as respectivas dimensões e variáveis de análise, por forma a construir o conjunto das variáveis independentes da investigação (análise secundária). Nesta selecção existem cuidados a ter, por forma a garantir um adequado compromisso entre um número não excessivo de variáveis independentes e a sua suficiente abrangência (em termos da sua distribuição pelas várias dimensões e variáveis de análise). Assim, e dependendo do significado estatístico de cada um dos resultados, importa seleccionar os que o têm em maior grau, mas evitando a concentração dos indicadores apenas numa ou duas variáveis de análise. Sendo irrealista cobrir a totalidade das dimensões/análises possíveis, cujo número total é de 9 (considerando aqui apenas as relativas à capacidade empreendedora), importa garantir o máximo possível de abrangência segundo as quatro variáveis existentes (capacidades instrumentais, pessoais, técnicas e de gestão). • Tratamento de segundo nível das respostas – Teste das Hipóteses Seleccionadas as variáveis independentes, é possível proceder ao teste das hipóteses, ao qual corresponde o segundo nível de análise da presente investigação. - 108 - Para o efeito recorre-se a técnicas de regressão linear, a aplicar às 8 observações que permitem testar a relação com as variáveis dependentes (indicadores de desempenho das empresas do conhecimento emergentes). • Conclusões A última etapa da metodologia tem naturalmente a ver com a retirada de conclusões da análise efectuada e indicações para prosseguimento do estudo do tema. Aqui, e sobretudo face ao reduzido número de observações disponível, tanto para a análise primária (17 observações) como sobretudo para a secundária (8 observações), importa discutir o significado das conclusões, desde logo em função da representatividade das amostras utilizadas. O processo metodológico pode pois ser esquematizado como segue: Alargamento geográfico Formato texto Envio Desenho Análise e tratamento das respostas Tratamento de 1º. nível Tabela de observações (análise primária) Indicadores de desempenho (análise secundária) Hierarquização dos indicadores da capacidade empreendedora Selecção de variáveis independentes Formato electrónico Tratamento de 2º. nível Teste das hipóteses Conclusões, discussão e investigação futura Desenho e elaboração do Questionário Estrutura Questões Alargamento empr. Conhecim. Recolha de respostas 37 empr. Novas entr. Desenho do quadro de análise Definição do universo do estudo Acompanhamento e monitorização 62 empr. Univ. anter. Teste operacional Resultados da Investigação anterior Figura 36 – Processo metodológico da investigação empírica C - CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA Características gerais Dos 99 empreendedores do conhecimento inquiridos, responderam 17 ao questionário, o que representa uma taxa global de resposta de 17%. Destes, apenas 8 - 109 - (8%) apresentaram elementos contabilísticos permitindo a utilização de indicadores de desempenho económico-financeiro. A distribuição geográfica dos empreendedores inquiridos é a seguinte: 0% 16% Grande Lisboa 11% Grande Porto Minho Outras 73% Figura 37 – Distribuição geográfica dos empreendedores inquiridos A distribuição geográfica dos empreendedores respondentes é a seguinte: Toda a amostra Empresas que apresentaram contas 24% 38% 47% Grande Lisboa Grande Lisboa Grande Porto 49% Minho Grande Porto Minho 29% 13% Figura 38 – Distribuição geográfica dos empreendedores respondentes Verifica-se que, apesar do desequilíbrio geográfico existente no universo da investigação, a amostra utilizada observa uma relação mais equilibrada ao nível da distribuição geográfica, sobretudo no que respeita à totalidade da amostra. No caso do conjunto dos empreendedores que remeteram as contas das suas empresas, a zona do Grande Porto aparece com uma representação abaixo do que seria desejável. As empresas dos empreendedores respondentes pertencem a domínios de actividade essencialmente de base tecnológica, predominando largamente as CAE 72 (35%) e 74 (47%). No caso das 8 empresas que apresentaram contas, a distribuição faz-se por apenas três códigos CAE de dois dígitos: 72 (49%), 74 (38%) e 51 (13%) - 110 - Distibuição por CAE de toda a amostra 92 6% 38 6% Distibuição por CAE das empresas que apresentaram contas 51 13% 51 6% 74 38% 72 35% 74 47% 72 49% Figura 39 – Distribuição das empresas dos empreendedores respondentes por áreas de actividade económica Em termos médios, o número de sócios activos das empresas do conhecimento cujos promotores originais foram inquiridos varia entre um e quatro. 5 4 3 2 1 0 1997 1998 Todas as empresas 1999 2000 Empresas com contas Figura 40 – Evolução do número médio de sócios activos A Figura 40 mostra que o número médio de sócios activos tende a crescer com a idade das empresas. As diferenças entre as linhas correspondentes à totalidade da amostra e à parte desta que apresentou dados contabilísticos poderão ser explicadas, por um lado, por uma idade média superior no caso das empresas que apresentaram contas e pela pequena dimensão da respectiva amostra. - 111 - Toda a amostra Empresas que apresentaram contas 9 5 8 4 7 6 1997 5 1998 4 1999 2000 3 2 1997 3 1998 1999 2 2000 1 1 0 0 0 1-2 3-5 6 - 10 + 10 0 1-2 3-5 6 - 10 + 10 Figura 41 – Distribuição do número de sócios activos das empresas No que respeita à detenção de Propriedade Intelectual (uma das categorias de activos intangíveis considerada na análise teórica), existe um número significativo de empresas que possuem pelo menos um tipo de activos desta natureza: Propriedade Intelectual em geral Sim 41% Não 59% Figura 42 – Distribuição da amostra segundo a detenção de propriedade intelectual – toda a amostra - 112 - Propriedade Intelectual Registo de patentes Propriedade Intelectual Direitos de autor Sim 18% Sim 18% Não 82% Não 82% Propriedade Intelectual Registo de marcas Propriedade Intelectual Contratos de licença Sim 6% Sim 6% Não 94% Não 94% Figura 43 – Distribuição da amostra segundo a detenção dos vários tipos de propriedade intelectual – toda a amostra 41% das empresas constituintes da amostra detém propriedade intelectual, sendo que o tipo de propriedade intelectual mais comum é o registo de patentes e de direitos de autor. A mesma análise, aplicada agora às 8 empresas que apresentaram contas, e sobre as quais foi efectuada a análise empírica, conduz aos seguintes resultados: Propriedade Intelectual em geral Não 43% Sim 57% Figura 44 – Distribuição da amostra segundo a detenção de propriedade intelectual – empresas que apresentaram contas - 113 - Propriedade Intelectual Direitos de autor Propriedade Intelectual Registo de patentes Sim 14% Sim 43% Não 57% Não 86% Propriedade Intelectual Contratos de licença Propriedade Intelectual Registo de marcas Sim 0% Sim 14% Não 86% Não 100% Figura 45 – Distribuição da amostra segundo a detenção dos vários tipos de propriedade intelectual – empresas que apresentaram contas Os gráficos da Figura 44 e da Figura 45 mostram que, no caso das empresas que apresentaram contas, é maioritário o número das que detêm pelo menos um tipo de activo dentro da categoria da propriedade intelectual, sendo que quase todas as empresas detendo propriedade intelectual possuem direitos de autor devidamente registados, o que certamente resultará do facto de existir uma certa concentração em empresas dedicadas à produção de software. No caso das empresas que apresentaram contas, nenhuma delas possui marca registada, sendo uma pequena minoria as que detêm patentes ou contratos de licença. Quer no caso da totalidade da amostra quer no das empresas que apresentaram contas, é uma larga maioria o número de empresas que, detendo algum activo dentro da categoria da propriedade intelectual, possui apenas um tipo destes activos. Indicadores de desempenho das empresas que apresentaram contas As 8 empresas que apresentaram contas evidenciam evoluções bastante díspares do VAB: - 114 - Evolução da taxa de variação do VAB Evolução do VAB 500% 2,500,000 400% 2,000,000 A A B 1,500,000 B 300% C EUR C D 1,000,000 D 200% E E F F 500,000 G 100% G H H 0% 0 1998 1999 1999/1998 2000 2000/1999 -100% -500,000 Figura 46 – Evolução do VAB e da respectiva taxa de variação Existe na amostra uma empresa de dimensão claramente superior às restantes (VAB acima de 1.5 mEUR113 contra restantes entre 0 e 500 kEUR114). Algumas (poucas) empresas apresentam evoluções negativas do VAB, com um caso de evolução fortemente negativa de 1999 para 2000, havendo várias que reduzem a sua performance positiva de evolução de um ano para o outro. VAB - taxa de variação do VAB (1998 - 2000) variação do VAB 1999/1998 2000/1999 500% 400% 300% 200% 100% 0% 1,000 10,000 100,000 1,000,000 10,000,000 -100% VAB 1999 - 2000 (EUR) A B C D E F G H Figura 47 – Comparação entre a evolução do VAB e a respectiva taxa de variação Pela Figura 47 pode verificar-se que, apesar da diversidade de situações apresentada, parece existir uma relação, de sentido inverso, entre a dimensão da empresa e a respectiva taxa de variação. De notar que a escala do VAB é logarítmica, permitindo visualizar melhor os casos de menor dimensão. 113 mEUR = Milhões de Euro. 114 kEUR = Milhares de Euro. - 115 - O caso da empresa F merece atenção especial, porquanto se trata da situação de forte redução do VAB no período (neste caso o ponto mais à esquerda corresponde à observação mais recente, ou seja, a evolução é da direita para a esquerda, ao contrário do que se observa nas restantes empresas). De referir ainda os casos das empresas A e B as quais, partindo de VAB muito semelhantes, apresentam evoluções contraditórias, embora ambas positivas. No que respeita à produtividade, os gráficos respeitantes à sua evolução e à evolução da respectiva variação, apresentados na Figura 48, apresentam uma configuração semelhante, em termos gerais, com a verificada para o VAB. Podem no entanto verificar-se algumas diferenças, a mais evidente das quais será porventura o facto de existir um maior número de empresas com uma variação negativa da produtividade, o que poderá ser um sinal de que as mesmas se encontram em processo de “engordamento”, sendo crescente o número de trabalhadores não directamente contribuintes para o processo produtivo. Evolução da taxa de variação da produtividade Evolução da Produtividade 500% 90,000 80,000 EUR/RH 400% 70,000 A 60,000 B 50,000 C D 40,000 A B 300% C D 200% E E 30,000 F 20,000 G 10,000 H F 100% H 0% 1999/1998 0 -10,000 G 1998 1999 2000 2000/1999 -100% Figura 48 – Evolução da Produtividade e da respectiva taxa de variação Caso interessante é, aliás, o da empresa H que, recorde-se, é a que possui uma dimensão claramente superior às restantes. Sucede que esta empresa apresenta, em 1998, uma produtividade também claramente superior às das restantes, mas a evolução deste indicador nos dois anos seguintes denota uma degradação muito significativa, de tal modo que, em 2000, a sua produtividade já se posiciona ao nível do conjunto da amostra, embora ainda no seu extremo superior. Por ser um caso com várias dissemelhanças em relação às outras empresas, apresentam-se de seguida mais elementos sobre a empresa H: - 116 - Empresa H - Evolução dos indicadores 4,000,000 100% 3,500,000 50% 3,000,000 0% 2,500,000 -50% 2,000,000 -100% Empresa H - Evolução das taxas de variação dos indicadores 60% 40% VAB 20% VAB EUR PRODUT PROV RCP (%) 1,500,000 -150% 1,000,000 -200% 500,000 -250% 0 -300% 1998 1999 PRODUT 0% 1999/1998 2000/1999 RCP PROV -20% -40% 2000 -60% Figura 49 – Empresa H – Evolução dos principais indicadores económico-financeiros e das respectivas taxas de variação A Figura 49 apresenta a evolução do VAB, da Produtividade, dos Proveitos e da Rentabilidade dos Capitais Próprios da empresa H entre 1998 e 2000, assim como a evolução das respectivas taxas de variação. Enquanto que o VAB evoluiu, no período em análise, de uma forma favorável (ou seja, cresceu tanto em valor absoluto como em termos da taxa de crescimento), os Proveitos apenas cresceram em valor absoluto, tendo a respectiva taxa de variação, embora positiva, decrescido significativamente. Os dois restantes indicadores apresentam taxas de variação negativas, embora em ambos os casos numa evolução decrescente. Temos assim que quer a Rentabilidade dos capitais Próprios quer a Produtividade se degradaram no período em análise. Importa ainda referenciar que a empresa H é, de toda a amostra, uma das que apresentam maior idade, tendo sido fundada em 1993, assim como maior número de empregados. Mesmo ao nível do número de sócios activos, esta empresa apresenta uma evolução significativa, tendo passado de 2 em 1997, 1998 e 1999 para 14 em 2000. Produtividade - Taxa de variação da produtividade (1998 - 2000) Taxa de variação da produtividade 1999/1998 - 2000/1999 500% 400% 300% 200% 100% 0% 1,000 10,000 100,000 -100% Produtividade 1999 - 2000 (EUR/RH) A B C D E F G H Figura 50 – Comparação entre a evolução da Produtividade e a respectiva taxa de variação - 117 - Regressando à amostra das 8 empresas que apresentaram contas, e tendo presente a Figura 50, na qual, à semelhança do que foi analisado para o VAB, se comparam as evoluções da Produtividade e das respectivas taxas de variação, desde logo se pode verificar que existe uma aparente relação, de sentido inverso, entre a produtividade e a respectiva taxa de variação (de notar que a escala da produtividade é logarítmica). Releva-se o facto de 3 empresas apresentarem taxas de variação da produtividade negativa e de que outras 3 evidenciam uma evolução positiva das respectivas taxas de variação, elas mesmas também positivas. Confrontando agora os dois gráficos, o relativo ao VAB e o respeitante à Produtividade, são de salientar os seguintes aspectos: • Duas empresas (A e B) apresentam uma evolução coincidente do VAB e da Produtividade, o que se justifica por terem variado apenas marginalmente o número de efectivos durante o período. No entanto, enquanto que os valores de VAB em 1999 são quase idênticos, na ordem dos 10,000 Euro, as respectivas variações (1999/1998) são muito díspares: A empresa A situa-se quase nos 500% enquanto que a empresa B se posiciona abaixo dos 10%. Os VAB das duas empresas são próximos ainda em 2000 (a empresa A na ordem dos 13,000 Euro e a empresa B cerca de 15,000 Euro), o que significa que as variações dos VAB de 1999 para 2000 são próximas. Na verdade, a empresa B evidencia uma variação de produtividade um pouco maior do que a empresa A (cerca de 290% contra aproximadamente 230%), o que quer dizer que a empresa B evoluiu de modo muito mais favorável (aumento do VAB e da respectiva taxa de variação) do que a empresa A (aumento do VAB mas diminuição da respectiva taxa de variação). • Duas outras empresas (F e H) evidenciam significativas perdas de produtividade durante o triénio 1998-2000 (os dados das empresas que apresentam variações da produtividade negativas devem ser lidos da direita para a esquerda). Sobre a empresa H foram já tecidos comentários anteriormente. O caso da empresa F corresponde a uma situação de forte degradação dos respectivos indicadores, porquanto não é só a produtividade que desce fortemente, a mesma tendência verifica-se igualmente na evolução do VAB. Apresentam-se em seguida os principais indicadores económico-financeiros desta empresa: - 118 - Empresa F - Evolução de indicadores 140,000 100% 120,000 50% 1200% 1000% 0% 100,000 -50% EUR Empresa F - Evolução das taxas de variação dos indicadores VAB 800% VAB PRODUT 80,000 -100% 60,000 PROV RCP (%) 40,000 600% -150% 400% -200% 200% 20,000 -250% 0 -300% PRODUT RCP PROV 0% 1998 1999 2000 1999/1998 2000/1999 -200% Figura 51 – Empresa F – Evolução dos principais indicadores económico-financeiros e das respectivas taxas de variação Nos gráficos da Figura 51 encontra-se bem evidenciada a degradação do VAB e da Produtividade desta empresa, em particular no ano de 2000. É, no entanto, verdadeiramente impressionante a evolução (positiva) dos proveitos da empresa e, sobretudo, da rentabilidade dos seus capitais próprios. Esta evolução contraditória pode sugerir que a empresa, durante o período em análise, terá modificado significativamente a sua estrutura de proveitos, com um muito maior peso de proveitos não directamente associados à sua actividade produtiva. • A empresa G apresenta uma diminuição da sua taxa de variação do VAB (embora sempre positiva), enquanto que evidencia uma evolução de sentido contrário da sua Produtividade. Ou seja, ambos os indicadores cresceram no período, tendo no entanto o VAB diminuído a sua taxa de variação, enquanto que na Produtividade se verificou uma aceleração do respectivo ritmo de variação. • As restantes empresas (C, D e E) ostentam variações semelhantes em ambos os indicadores, e dentro de uma gama de taxas menos impressionante do que as indicadas anteriormente. Refira-se apenas que a empresa D apresenta taxas de variação dos seus indicadores de desempenho negativas, embora muito próximas do zero. Da análise dos indicadores de desempenho que se consideram mais relevantes em empresas ainda não maduras (o VAB e a Produtividade e as respectivas taxas de variação), e face às grandes discrepâncias de comportamento evidenciadas, procurou-se desde logo encontrar hipóteses de explicação para as mesmas. Nesse sentido, relacionou-se a idade das empresas com os valores dos seus indicadores, tendo esta comparação resultado conforme seguidamente se mostra: - 119 - Relação idades / dimensões Relação idades / produtividade 10,000,000 Produtividade (EUR/RH) 100,000 VAB (EUR) 1,000,000 100,000 10,000 1,000 10,000 1,000 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 2 3 Idade (anos) A B C D E 4 5 6 7 8 9 Idade (anos) F G H A B C D E F G H Figura 52 – Relação entre idades das empresas e os respectivos indicadores VAB e Produtividade A Figura 52 coloca em evidência a possibilidade de alguma verosimilhança de um padrão relacional entre as idades das empresas e as respectivas dimensões, medidas pelo VAB, o qual consiste numa tendência de aumento da dimensão com a idade. Há no entanto que atentar que a banda de variação deste eventual padrão é extremamente larga (as escalas do VAB e da Produtividade são logarítmicas), abrangendo uma faixa dos 8 aos 70 kEUR aos 3 anos de idade e dos 900 kEUR aos 9mEUR aos 9 anos de idade. Já no caso da Produtividade será mais difícil estabelecer um padrão de relacionamento com a idade das empresas, mesmo que tão lato como o sugerido para o caso do VAB. De facto, apenas se poderá sugerir uma eventual tendência de aumento da produtividade com a idade das empresas embora, como já foi evidenciado, existem várias empresas em que tal evolução é de sentido inverso. Face a aparentes tendências de aumento do VAB e da Produtividade com a idade, por um lado, e de diminuição das taxas de variação destes indicadores com o aumento dos seus valores absolutos, por outro, tentou-se reduzir o efeito distorsor destas tendências pela eventual utilização de indicadores de desempenho mais sólidos, tendo em atenção a análise que se pretende efectuar. Para o efeito, consideraram-se, para além das taxas de variação, os valores absolutos das variações do VAB e da Produtividade, em séries temporais de dois pontos. Os dois novos indicadores são pois: • ∆VAB1999/1998 e ∆VAB2000/1999, e • ∆PROD1999/1998 e ∆PROD2000/1999. A amostra apresenta o seguinte comportamento, segundo estes novos indicadores: - 120 - Evolução da variação do VAB Evolução da variação da Produtividade 350,000 15,000 10,000 300,000 5,000 A 250,000 A 0 B C D 150,000 E F 100,000 G 50,000 -5,000 EUR/RH EUR 200,000 1999/1998 2000/1999 B C -10,000 D -15,000 E -20,000 F G -25,000 H H -30,000 0 1999/1998 2000/1999 -50,000 -35,000 -40,000 Figura 53 – Evolução dos valores absolutos da Variação do VAB e da Variação da Produtividade Os gráficos da Figura 53 colocam desde logo em evidência o já salientado comportamento diferenciado da empresa H em ambos os indicadores. No caso da variação da Produtividade, as restantes empresas parecem apresentar evoluções que, sendo diferentes, são já mais comparáveis, conforme se evidencia melhor no gráfico seguinte: Evolução da variação da Produtividade - sem empresa H 10,000 8,000 A 6,000 EUR/RH B C 4,000 D 2,000 E F 0 G 1999/1998 2000/1999 -2,000 -4,000 Figura 54 – Evolução dos valores absolutos da Variação da Produtividade, sem a empresa H Verifica-se pela Figura 54 que, com excepção da empresa H, toda a amostra se movimenta numa faixa de ? PROD que vai desde cerca de -3,000 EUR/RH até 7,000 EUR/RH. No entanto, apesar de a faixa ser relativamente estreita, os comportamentos das sete empresas consideradas são bastante diferenciados entre si, podendo-se agrupar as empresas em dois grupos, um que apresenta variações positivas da Produtividade e evoluções das mesmas igualmente positivas e um outro, composto - 121 - pelas empresas D e F, que apresenta valores negativos tanto para a variação da Produtividade como para a sua evolução. A Figura 55 mostra, de forma comparada, a evolução dos valores absolutos e das taxas das variações de produtividade das empresas da amostra, para os dois pontos da série temporal observada. Importa referir que os valores negativos (empresas D, F e H) devem ser lidos da direita para a esquerda e que a escala dos valores absolutos é linear, para permitir a visualização dos valores negativos. Produtividade - Variação absoluta e taxa de variação (1999/1998 - 2000/1999) 500% Taxas de variação 400% 300% 200% 100% 0% -40,000 -30,000 -20,000 -10,000 0 10,000 20,000 -100% Valor absoluto das variações (EUR/RH) A B C D E F G H Figura 55 – Comparação entre variações absolutas e taxas de variação da Produtividade Pela análise da Figura 56 pode verificar-se que os valores médios de ? PROD, para a amostra das 8 empresas que apresentaram contas, varia desde um mínimo de -27,000 EUR/RH, para a empresa H, até um máximo de 118,000 EUR/RH para a empresa E. Se não se considerar a empresa H o mínimo será de apenas -2,000 EUR/RH (empresas D e F). As empresas A, B e C apresentam valores muito próximos, entre os 2,000 EUR/RH e os 3,000 EUR/RH. - 122 - Variações médias da Produtividade 15,000 10,000 E 5,000 B A G C EUR/RH 0 -5,000 0 2 4 D 6 F 8 10 -10,000 -15,000 -20,000 -25,000 H -30,000 Empresas Figura 56 – Valores médios da variação da Produtividade D - ESCOLHA DAS VARIÁVEIS Variáveis independentes As variáveis independentes a utilizar na análise correspondem a indicadores da capacidade empreendedora dos promotores de empresas de base tecnológica que constituem a amostra daqueles que responderam ao questionário e forneceram elementos económico-financeiros das empresas do conhecimento por si criadas e geridas. Conforme se referiu anteriormente, a investigação levada a cabo pelo CPIN anteriormente à presente investigação conduziu à identificação de 28 indicadores da capacidade empreendedora, os quais são agrupados em 9 dimensões de análise que, por sua vez, se congregam em 4 grandes variáveis: - 123 - Capacidade Empreendedora Variáveis Dimensões Indicadores 1. Capacidade de escutar e adquirir informação 2. Comunicabilidade 3. Sentido de obrigação com os outros Capacidades instrumentais 4. Capacidade de decisão Liderança 5. Capacidade para identificar novas oportunidades de negócio (Visão) 6. Capacidade para assumir responsabilidades/compromissos 7. Perseverança 8. Capacidade para arriscar 9. Espírito de iniciativa 10. Potencial criativo Capacidades pessoais Comportamental 11. Capacidade para inovar 12. Capacidade de partilha 13. Auto-motivação 14. Capacidade para trabalhar 15. Formação base relacionada com a actividade Conhecimento técnico 16. Domínio do processo de inovação Capacidades técnicas 17. Conhecimento do Sector 18. Experiência Empresarial Experiência 19. Experiência Profissional 20. Capacidade para percepcionar as motivações dos clientes Marketing 21. Capacidade de medir o grau de satisfação dos clientes 22. Capacidade para negociar financiamentos Finanças 23. Capacidade para montar um sistema de controlo de gestão Capacidades de gestão 24. Capacidade para motivar os colaboradores Recursos Humanos 25. Capacidade para avaliar colaboradores 26. Capacidade para contratar empregados 27. Capacidade para conceber a estratégia da empresa Estratégia 28. Capacidade para implementar a estratégia definida Relacionamento Interpessoal Tabela 27 – Estudo Skills – Indicadores da capacidade empreendedora O tratamento das respostas ao questionário permitiu apurar que a distribuição das respostas segundo os vários indicadores segue um padrão concentrado nos valores mais positivos. Esta situação verifica-se tanto no caso da amostra total como considerando apenas os 8 empreendedores que apresentaram contas das suas empresas, como se pode verificar nos gráficos da Figura 57 (de notar que o questionário permitia respostas entre 1 e 7): Distribuição das classificações dos indicadores - amostra total Distribuição das classificações dos indicadores empreendedores que apresentaram contas 180 80 160 70 140 120 60 100 50 80 40 60 30 40 20 20 10 0 0 1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7 Figura 57 – Distribuição das classificações dos indicadores da capacidade empreendedora – respostas originais Face a esta distribuição, e sendo o valor de indiferença o 4, atribuiu-se a seguinte classificação às diferentes respostas: - 124 - Resposta original Classificação atribuída Interpretação 1 -1 Discordância / factor negativo 4 0 Indiferença 5 1 Alguma concordância / factor levemente positivo 6 2 Concordância / factor positivo 7 3 Total concordância / factor fortemente positivo 2 3 Tabela 28 – Atribuição de classificações às respostas ao inquérito O agrupamento das respostas desfavoráveis/negativas permitiu uma suavização da curva de distribuição das respostas, conforme seguidamente se evidencia: Distribuição das classificações dos indicadores - amostra total Distribuição das classificações dos indicadores empreendedores que apresentaram contas 160 80 140 70 120 60 100 50 80 40 60 30 40 20 20 10 0 0 -1 0 1 2 3 -1 0 1 2 3 Figura 58 – Distribuição das classificações dos indicadores da capacidade empreendedora – após classificação das respostas De notar que, dos 28 indicadores listados anteriormente, o indicador nº. 18 – “Experiência Empresarial”, não foi considerado para análise, porquanto as respectivas respostas não permitiam a sua agregação para os tratamentos que foram efectuados. Uma vez que era impossível utilizar os 27 indicadores individuais da capacidade empreendedora como variáveis independentes, tornou-se necessário proceder à construção destas, para o que se seguiu a seguinte metodologia: • Realização de testes T às respostas dadas pelos 8 empreendedores de cujas empresas do conhecimento de conhecem os respectivos desempenhos económicofinanceiros, por forma a afastar os indicadores cuja significância fosse igual ou superior a 5%; • Agrupamento dos indicadores retidos segundo cada uma das 4 grandes variáveis da capacidade empreendedora, através da construção das respectivas médias. Este - 125 - agrupamento considerou-se adequado, sem necessidade da realização de uma análise discriminante, porquanto o mesmo resulta já de uma análise de clusters, validada por análise discriminante, realizada no âmbito do processo de investigação associado ao estudo Skills. Da realização dos testes T, e por afastamento das variáveis com significância igual ou superior a 5%, resultou a seguinte selecção: Capacidade Empreendedora Variáveis Dimensões Indicadores Relacionamento Interpessoal Liderança 1. Capacidade de escutar e adquirir informação Capacidades instrumentais 3. Sentido de obrigação com os outros 6. Capacidade para assumir responsabilidades/compromissos 7. Perseverança 9. Espírito de iniciativa 10. Potencial criativo Capacidades pessoais Comportamental 11. Capacidade para inovar 13. Auto-motivação 14. Capacidade para trabalhar 15. Formação base relacionada com a actividade Capacidades técnicas Conhecimento técnico 16. Domínio do processo de inovação 17. Conhecimento do Sector 20. Capacidade para percepcionar as motivações dos clientes Marketing 21. Capacidade de medir o grau de satisfação dos clientes Finanças 23. Capacidade para montar um sistema de controlo de gestão Capacidades de gestão 24. Capacidade para motivar os colaboradores Recursos Humanos 26. Capacidade para contratar empregados Estratégia 28. Capacidade para implementar a estratégia definida Tabela 29 –Indicadores da capacidade empreendedora que passaram no teste T Fez-se então o agrupamento dos indicadores 1,3 e 6 segundo a variável “Capacidades instrumentais”, 7, 9, 10, 11, 13 e 14 segundo a variável “Capacidades pessoais”, 15, 16 e 17 segundo a variável “Capacidades técnicas” e 20, 21, 23, 24, 26 e 28 segundo a variável “capacidades de gestão”, sendo estas as variáveis independentes utilizadas na análise subsequente. Retêm-se pois para análise as seguintes Variáveis Independentes: • [CAP_INST] – Capacidades Instrumentais • [CAP_PESS] – Capacidades Pessoais • [CAP_TECN] – Capacidades Técnicas • [CAP_GEST] – Capacidades de Gestão A classificação dos 8 empreendedores segundo estas quatro variáveis resultou da seguinte forma: - 126 - CAP_INST CAP_PESS CAP_TECN CAP_GEST Empreendedores Capacidades Capacidades Capacidades Capacidades instrumentais pessoais técnicas de gestão A 1.67 1.33 1.00 2.17 B 1.67 0.17 0.00 1.50 C 1.33 0.83 1.67 0.83 D 1.67 1.33 2.00 2.00 E 2.67 1.67 0.33 1.17 F 1.67 0.50 1.67 0.50 G 1.67 2.00 1.67 2.17 2.33 1.50 2.33 1.83 H Tabela 30 – Variáveis independentes – Classificação dos empreendedores segundo as 4 grandes variáveis da capacidade empreendedora (escala de –1 a 3) Deve ressalvar-se, para salvaguarda do grau de validade das classificações insertas na Tabela 30, que a efectiva avaliação da capacidade empreendedora segundo a Metodologia Skills, desenvolvida e em aplicação pelo CPIN, não se resume à simples realização de um inquérito, mas envolve um processo bem mais complexo, no qual o preenchimento de um inquérito também se inclui. Esta classificação é pois uma simples aproximação, na base do processo de autoavaliação levado a efeito pelos empreendedores do conhecimento inquiridos, através da resposta ao questionário que lhes foi enviado. Variáveis dependentes A escolha de uma ou mais variáveis dependentes para medir indirectamente a geração de Activos Intangíveis nas empresas do conhecimento emergentes (no caso de ser mais de uma haverá uma Hipótese a validar por cada variável independente existente) teve em conta os seguintes critérios: • Serem indicadores do desempenho económico-financeiro das empresas do conhecimento criadas e geridas pelos empreendedores inquiridos Desde logo, as variáveis dependentes terão de traduzir o desempenho das empresas do conhecimento em causa, porquanto a, ou as, Hipóteses a testar estabelecem uma relação entre a capacidade empreendedora dos indivíduos e o desempenho das suas empresas. A retenção de indicadores económico-financeiros está associada a dois factos: o Outro tipo de indicadores de desempenho implicaria a medição de aspectos que, inevitavelmente, se encontrariam associados à avaliação de activos intangíveis das empresas o que, como foi já evidenciado na presente dissertação, não se - 127 - considera possível fazer, no caso de empresas do conhecimento emergentes, com base nos Métodos e metodologias de avaliação de activos intangíveis existentes no mercado e/ou citados na literatura. o Embora para os empreendedores e para outros actores a medição do desempenho possa ser efectuada segundo outros critérios, a verdade é que para quem investe nas empresas, sejam elas do conhecimento ou quaisquer outras, o fim último procurado é o retorno do investimento efectuado, e este poderá ser mais facilmente estimado a partir de indicadores económico-financeiros. • Estarem o mais possível adaptados à natureza, à volatilidade e à variabilidade inerente a empresas do conhecimento numa fase de grande mutação, seja pelos seus fortes crescimento ou decrescimento, seja pela repentina alteração de modelos de negócio e/ou objectivos estratégicos, seja pelas grandes alterações estruturais, e por vezes da própria matriz societária/accionista, decorrentes de compras, vendas, cisões, fusões e outras operações frequentes neste tipo de empresas e nesta fase das suas vidas. • Permitirem, tão eficazmente quanto possível, o afastamento de enviesamentos eventualmente decorrentes da reduzida dimensão da amostra disponível para análise. Em face destes critérios, rejeitaram-se liminarmente indicadores associados a volume de vendas, rentabilidade dos capitais próprios ou dos activos e resultados, porquanto todos eles não traduzem de forma fiel, por um lado, e pelo menos isoladamente, o desempenho de uma empresa e, por outro lado, não respeitam o segundo critério enunciado anteriormente. Do mesmo modo, um indicador associado apenas ao valor absoluto do VAB, o qual traduziria essencialmente a dimensão da empresa, seria demasiado sensível à idade das empresas, como ficou demonstrado antes, pelo que também não obedeceria ao segundo critério enunciado. Aliás, a caracterização da amostra feita anteriormente coloca em evidência igualmente a não observância do terceiro critério. Tendo em atenção a análise feita anteriormente à amostra e aos respectivos indicadores de desempenho, e uma vez que parece existir algum nível de correlação entre a idade das empresas e a gama de variação da respectiva produtividade (e mais ainda no caso do VAB), considera-se pertinente desenvolver a análise recorrendo a duas variáveis dependentes: • [T∆PROD] - Taxa de variação da Produtividade, correspondendo a mesma à média das duas observações da série temporal respeitante a cada empresa: T∆PRODi = (T∆PRODi(1999/1998) + T∆PRODi(2000/1999) )/2 em que i corresponde à identificação da empresa. • [∆PROD] – Valor absoluto da variação da Produtividade, correspondendo o mesmo à média das duas observações da série temporal respeitante a cada empresa: - 128 - ∆PRODi = (∆PRODi(1999/1998) + ∆PRODi(2000/1999) )/2 em que i corresponde à identificação da empresa. São os seguintes os valores que assumem as duas variáveis dependentes escolhidas, para as empresas criadas e geridas pelos 8 empreendedores da amostra: Empreendedores T?PRODi ? PRODi Taxa de variação da Produtividade Variação da Produtividade (valores absolutos) A 3.56 2,478 B 1.25 2,844 C .34 2,530 D -.09 -1,943 E .32 8,241 F -.33 -1,710 G .21 4,179 H -.40 -26,963 Tabela 31 – Variáveis dependentes – Valores assumidos pelas empresas segundo os 2 indicadores de desempenho escolhidos E - ESTABELECIMENTO DAS HIPÓTESES DE INVESTIGAÇÃO Definido o objectivo da investigação, estabelecida a estratégia, caracterizada a amostra e escolhidas as variáveis explicativas e dependentes, existem condições para expressar as Hipóteses de Investigação, o que se faz de seguida: • Hipótese 1 – Quanto maior é a capacidade empreendedora dos empreendedores do conhecimento, maior é o desempenho das empresas emergentes por aqueles criadas e geridas, em termos da taxa de variação das respectivas produtividades. A expressão matemática da Hipótese 1 assume a seguinte forma: T∆PRODi = C1 + α 1CAP_INSTi + β 1CAP_PESSi + γ1CAP_TECNi + δ 1CAP_GESTi + ε 1 • Hipótese 2 – Quanto maior é a capacidade empreendedora dos empreendedores do conhecimento, maior é o desempenho das empresas emergentes por aqueles criadas e geridas, em termos da variação do valor absoluto das respectivas produtividades. A expressão matemática da Hipótese 2 assume a seguinte forma: - 129 - ∆PRODi = C2 + α 2CAP_INSTi + β 2CAP_PESSi + γ2CAP_TECNi + δ 2CAP_GESTi + ε 2 F - DISCUSSÃO DOS RISCOS DE ENVIESAMENTO DA ANÁLISE Risco associado à constituição da amostra A amostra utilizada na investigação corresponde ao conjunto dos empreendedores que responderam ao questionário. Esta amostra tem duas dimensões: • A totalidade dos respondentes, para efeitos da análise e selecção dos indicadores da capacidade empreendedora e • O conjunto dos respondentes que apresentaram os elementos económicofinanceiros das suas empresas, para efeitos da análise de segundo nível, ou seja, para o teste das Hipóteses apresentadas anteriormente. Existem vários riscos de enviesamento associados à constituição da amostra (entendida aqui de uma forma global, referindo-se a ambas as suas dimensões): • A amostra não contém nenhum caso de insucesso, definindo-se este como a falência, ou a descontinuação do negócio devido à incapacidade de gerar actividade e/ou proveitos suficientes para a sua manutenção. Esta ausência implica que apenas se possa medir o grau de sucesso, e não a sua existência ou inexistência. O risco de enviesamento implícito é pois devido à existência de uma regra de selecção correlacionada com as variáveis dependentes (desempenho das empresas). Tal poderá atenuar as estimativas dos efeitos causais, em média. • Pela distribuição dos códigos CAE feita anteriormente, existe uma concentração em determinados sectores de actividade, o que significa que a amostra não é representativa do conjunto dos empreendedores do conhecimento nacionais. Aliás, o próprio universo de onde a amostra foi retirada já sofria do mesmo tipo de problema, embora em menor grau. Na prática, a amostra concentra-se em empreendedores de base tecnológica, nos sectores das tecnologias de informação (CAE 72 e 92) e ambiente (CAE 38, 51 e 74, incluindo aqui biotecnologia especializada em ambiente). • A selecção das observações não é aleatória. A selecção aleatória em investigações com valores pequenos de n pode induzir enviesamentos significativos. O questionário foi enviado para 99 empreendedores e apenas 17 respostas, ou 8 considerando as que contêm dados económico-financeiros, foram recebidas. Algumas das respostas são incompletas, pelo que a amostra padece de falta de consistência e de representatividade, mesmo reduzindo o âmbito da investigação aos empreendedores de base tecnológica dos sectores em que houve respostas. - 130 - Risco associado à natureza das respostas Existe o risco de as respostas a partir das quais são determinados os valores assumidos pelas variáveis explicativas corresponderem mais à expressão de impressões, ou “wishful thinkings”, dos empreendedores, e não à efectiva realidade das suas características. Tal pode induzir enviesamentos devido a desvios nos valores das variáveis independentes. Os empreendedores podem tender sistematicamente para provocar a sobrestimação, ou a subestimação, de uma ou mais das variáveis independentes, o que poderá provocar os seguintes efeitos na análise: • Os efeitos de sobrestimação e subestimação poderão compensar-se mutuamente ao nível de cada variável explicativa, e como tal não existir qualquer efeito para a análise, mas tal cenário é altamente improvável; • É possível que os enviesamentos causados pelas diferentes variáveis explicativas sejam de sentidos contrários, compensando-se em termos da análise global; • A sobrestimação em uma ou mais variáveis explicativas induzirá uma subestimação dos respectivos efeitos e vice-versa. Risco associado à exclusão de variáveis relevantes Existe o risco de o processo de escolha das variáveis ter excluído variáveis importantes, as quais podem ter influência significativa no desempenho das empresas do conhecimento emergentes. Desde logo, as variáveis independentes concentram-se na capacidade empreendedora dos indivíduos, quando o Estudo Skills apresenta outros factores que igualmente podem influenciar a efectiva capacidade de um empreendedor para criar uma empresa de sucesso. Lembre-se que foram afastados da análise: • Aceleradores ou redutores da manifestação da capacidade empreendedora: o Disponibilidade o Envolvente sócio cultural o Envolvente económica • Principais motivações para a criação da empresa Além disso, dos 28 indicadores da capacidade empreendedora constantes das conclusões do Estudo Skills, apenas foram retidos 18 para a construção das variáveis independentes, em virtude de um deles não apresentar uma estrutura de respostas consentânea com o tratamento realizado e os restantes 9 terem sido afastados pela - 131 - realização de testes T à respectiva significância. Assim, podem ter sido deixados de fora da análise aspectos importantes da manifestação da capacidade empreendedora. Do lado das variáveis dependentes, a medição do desempenho das empresas do conhecimento emergentes é efectuada através de dois indicadores associados à Produtividade das mesmas. A discussão que levou a esta escolha foi feita anteriormente, pelo que não se repete aqui. Teria no entanto sido interessante medir o desempenho através de outras variáveis, mesmo que permanecendo na esfera económico-financeira, como por exemplo indicadores associados ao quociente entre o VAB e o valor das remunerações pagas aos Recursos Humanos (RH) das empresas, o qual traduz o efeito multiplicador das mesmas. Este tipo de indicadores não foi utilizado porquanto não existem os dados referentes às remunerações dos RH para alguns dos casos da amostra. Teria igualmente sido útil medir adicionalmente o desempenho através de uma variável não pertencente à esfera económico-financeira. A razão para a não utilização de qualquer variável deste tipo prende-se com a dificuldade, já discutida, da medição do desempenho por esta via, face à constatação, feita nesta Dissertação, de que esta é precisamente uma das motivações para a realização da presente investigação. Risco de endogeneidade Não se considera que exista risco de endogeneidade na presente investigação, porquanto não parece ser razoável admitir que o desempenho das empresas do conhecimento possa influenciar a capacidade empreendedora dos seus promotores. Aspectos associados às inferências • As inferências que se procuram terão de gozar de homogeneidade. Em caso de não contraditação115 das Hipóteses, deverá existir evidência estatística de que duas observações com o mesmo valor para as variáveis explanatórias apresentarão valores similares para as variáveis dependentes. • Deverá verificar-se a independência condicional, o que se admite encontrar assegurado devido à consideração de que não existem problemas de endogeneidade, isto é, de que não existirá interdependência entre as variáveis independentes e dependentes. • As Hipóteses são contraditáveis, uma vez que é possível que os efeitos previstos das variáveis explicativas sobre as variáveis dependentes possam não ocorrer ou ser estatisticamente significativos. • As Hipóteses são internamente consistentes, uma vez que não se contradizem mutuamente. 115 Utiliza-se neste contexto o termo “contraditável” como tradução do termo inglês “falsifiable”. - 132 - • As variáveis dependentes foram escolhidas por forma a que eventuais enviesamentos devidos à selecção dificilmente ocorrerão e envolvendo medidas simples e exactas. • As variáveis escolhidas são concretas e bem definidas. • Embora concretas, as Hipóteses expressadas são tão abrangentes quanto possível, dentro das fronteiras da investigação. • Existe no entanto um risco não negligenciável associado às inferências: Sendo a unidade de observação o Empreendedor individual e encontrando-se as variáveis dependentes associadas ao desempenho das empresas constituídas, pode acontecer que a influência que se procura encontrar entre a Capacidade Empreendedora e o desempenho das empresas não se concentre no indivíduo que respondeu ao questionário. De facto, na maioria dos casos as empresas não são criadas por um Empreendedor isolado, mas antes por uma equipa de Empreendedores. Ora pode suceder que o Empreendedor que respondeu ao questionário não seja aquele que, de entre os criadores da empresa, mais influenciou o respectivo desempenho. Para obviar a este risco de enviesamento teria sido necessário obter respostas de todos os criadores de cada empresa, e não de apenas um Empreendedor por empresa, buscando-se para cada empresa os valores médios para as variáveis explicativas das respectivas equipas de Empreendedores. A opção por esta via teria, no entanto, reduzido a amostra conseguida, já de si exígua, a zero ou quase zero observações, o que teria inviabilizado a análise. - 133 - CAPÍTULO 6 - APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS A - ANÁLISES EFECTUADAS As análises efectuadas à amostra visaram a validação das hipóteses de investigação apresentadas anteriormente: T∆PRODi = C1 + α 1CAP_INSTi + β 1CAP_PESSi + γ1CAP_TECNi + δ 1CAP_GESTi + ε 1 e ∆PRODi = C2 + α 2CAP_INSTi + β 2CAP_PESSi + γ2CAP_TECNi + δ 2CAP_GESTi + ε 2 Efectuaram-se regressões lineares com recurso ao SPSS 9.0, B - APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Primeira regressão – Hipótese 1 / 8 observações A primeira regressão linear visou o teste da Hipótese 1 (variável dependente: Taxa de variação da Produtividade), para o conjunto dos 8 empreendedores que apresentaram as contas das suas empresas. O resultado da regressão foi o seguinte: - 134 - b Variables Entered/Removed Model 1 Variables Entered Capacidad es de gestão, Capacidad es instrument ais, Capacidad es técnicas, Capacidad es a pessoais Variables Removed Method . Enter a. All requested variables entered. b. Dependent Variable: Taxa de variação da Produtividade Tabela 32 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 8 observações – Variáveis Model Summaryb Model 1 Adjusted R Square -.051 R R Square .741a .549 Std. Error of the Estimate 1.3304 a. Predictors: (Constant), Capacidades de gestão, Capacidades instrumentais, Capacidades técnicas, Capacidades pessoais b. Dependent Variable: Taxa de variação da Produtividade ANOVAb Model 1 Regression Residual Total Sum of Squares 6.476 5.310 11.786 df 4 3 7 Mean Square 1.619 1.770 F .915 Sig. .552a a. Predictors: (Constant), Capacidades de gestão, Capacidades instrumentais, Capacidades técnicas, Capacidades pessoais b. Dependent Variable: Taxa de variação da Produtividade Tabela 33 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 8 observações – Anova - 135 - a Coefficients Unstandardized Coefficients Model 1 (Constant) Capacidades instrumentais Capacidades pessoais Capacidades técnicas Capacidades de gestão B 2.385 Std. Error 3.131 -1.082 1.495 6.080E-02 1.343 -.971 .943 .727 1.046 Standardi zed Coefficien ts Beta .762 Sig. .502 -.724 .521 .029 .045 .967 -.612 .461 -1.336 .901 .274 .434 -.364 t a. Dependent Variable: Taxa de variação da Produtividade Tabela 34 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 8 observações – Coeficientes Pela análise dos resultados constata-se que a Hipótese 1 não pode ser validada, dado o nível da significância verificado (0.552), o qual é claramente superior a 0.05. Segunda regressão – Hipótese 2 / 8 observações A segunda regressão linear visou o teste da Hipótese 2 (variável dependente: Valor absoluto da variação da Produtividade), para o conjunto dos 8 empreendedores que apresentaram as contas das suas empresas. O resultado da regressão foi o seguinte: b Variables Entered/Removed Variables Variables Model Entered Removed Method 1 Capacidad es de gestão, Capacidad es instrument ais, . Enter Capacidad es técnicas, Capacidad es a pessoais a. All requested variables entered. b. Dependent Variable: Variação da Produtividade (valor absoluto) Tabela 35 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 8 observações – Variáveis - 136 - Model Summaryb Model 1 R .947a Adjusted R Square .760 R Square .897 Std. Error of the Estimate 5319.8877 a. Predictors: (Constant), Capacidades de gestão, Capacidades instrumentais, Capacidades técnicas, Capacidades pessoais b. Dependent Variable: Variação da Produtividade (valor absoluto) Tabela 36 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 8 observações – Sumário do modelo ANOVAb Model 1 Regression Residual Total Sum of Squares 7,4E+08 8,5E+07 8,3E+08 Mean Square 1,9E+08 2,8E+07 df 4 3 7 F 6.549 Sig. .077a a. Predictors: (Constant), Capacidades de gestão, Capacidades instrumentais, Capacidades técnicas, Capacidades pessoais b. Dependent Variable: Variação da Produtividade (valor absoluto) Tabela 37 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 8 observações – Anova a Coefficients Unstandardized Coefficients Model 1 (Constant) Capacidades instrumentais Capacidades pessoais Capacidades técnicas Capacidades de gestão B 51137.832 Std. Error 12519.150 Standardi zed Coefficien ts Beta t 4.085 Sig. .027 -21362,6 5977.945 -.858 -3.574 .037 16993.291 5368.280 .965 3.165 .051 -13833,0 -9596.797 2906.812 4184.042 -1.040 -.560 -4.759 -2.294 .018 .106 a. Dependent Variable: Variação da Produtividade (valor absoluto) Tabela 38 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 /8 observações – Coeficientes Pela análise dos resultados constata-se que a Hipótese 2 não pode igualmente ser validada, dado o nível da significância verificado (0.077), o qual é no entanto apenas ligeiramente superior a 0.05. Este facto levou à realização de uma segunda ronda de regressões lineares, utilizando como amostra apenas as sete primeiras observações da amostra utilizada nas duas primeiras regressões. A decisão de realização de novas regressões com o afastamento da amostra H justificase pelo facto, amplamente demonstrado aquando da caracterização da amostra, de a - 137 - empresa H ser claramente diferente das 7 restantes. Resumidamente, são as seguintes as grandes diferenças que sustentam a decisão de afastamento: • A empresa H possui uma dimensão, medida pelo VAB médio da série temporal considerada, de 1.7 mEUR, contra uma média de 0.1 mEUR das sete restantes, sendo que a maior empresa destas sete ostenta um VAB médio de 0.4 mEUR. • Em termos de Recursos Humanos, igualmente existe uma diferença substancial: A empresa H apresenta um efectivo médio de 39 RH contra uma média das restantes sete empresas de apenas 8 e uma média de 15 da maior empresa de entre estas sete. • Encontrando-se as variáveis dependentes escolhidas associadas à variação da Produtividade das empresas, a empresa H, não sendo a única a apresentar variações negativas da Produtividade, evidencia um comportamento claramente distinto das restantes sete, com variações negativas muito significativas, quer em termos de valor quer em termos de taxa, ao mesmo tempo que parte, no primeiro ponto da série temporal considerada, de um valor da Produtividade muito díspar em relação às restantes. Uma vez que todas estas diferenças não podem ser atribuíveis apenas à idade da empresa (a empresa encontra-se no conjunto das mais antigas, mas não é sequer a mais antiga) ou ao seu sector de actividade, existem bons motivos para acreditar que o comportamento económico da empresa H, no que respeita aos indicadores associados à sua Produtividade, poderá estar associado a factores muito menos relacionados com a capacidade empreendedora dos seus promotores iniciais. Na verdade, a dimensão da empresa e o número dos seus efectivos indiciam claramente a existência de soluções organizacionais já muito afastadas daquelas em que a capacidade empreendedora dos seus promotores originais poderia ter uma influência predominante. Estaremos pois, possivelmente, perante um caso em que a aplicação das metodologias existentes para a avaliação dos activos intangíveis, designadamente as de tipo “Scorecard”, seria já possível e conduziria a resultados concretos válidos. Acresce ainda que a empresa H sofreu, durante o período em análise, uma variação muito substancial, para mais, do número dos seus sócios activos, o que poderá indiciar igualmente a ocorrência de alterações estruturais muito significativas. Entende-se pois ser razoável a realização de novas regressões para o conjunto das restantes sete empresas, isto é, das empresas A a G. Esta alteração na amostra conduz a nova distribuição geográfica das observações, que seguidamente se evidencia: - 138 - 29% Grande Lisboa Grande Porto 57% Minho 14% Figura 59 – Distribuição geográfica dos empreendedores A a G Terceira regressão – Hipótese 1 / 7 observações A terceira regressão linear visou o teste da Hipótese 1 (variável dependente: Taxa de variação da Produtividade), para o conjunto dos empreendedores A a G. O resultado da regressão foi o seguinte: Variables Entered/Removedb Model 1 Variables Entered Capacidad es de gestão, Capacidad es técnicas, Capacidad es instrument ais, Capacidad es a pessoais Variables Removed Method . Enter a. All requested variables entered. b. Dependent Variable: Taxa de variação da Produtividade Tabela 39 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 7 observações – Variáveis - 139 - Model Summaryb Model 1 R .718a Adjusted R Square -.452 R Square .516 Std. Error of the Estimate 1.6031 a. Predictors: (Constant), Capacidades de gestão, Capacidades técnicas, Capacidades instrumentais, Capacidades pessoais b. Dependent Variable: Taxa de variação da Produtividade Tabela 40 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 7 observações – Sumário do modelo ANOVAb Model 1 Regression Residual Total Sum of Squares 5.480 5.140 10.619 Mean Square 1.370 2.570 df 4 2 6 F .533 Sig. .734a a. Predictors: (Constant), Capacidades de gestão, Capacidades técnicas, Capacidades instrumentais, Capacidades pessoais b. Dependent Variable: Taxa de variação da Produtividade Tabela 41 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 7 observações – Anova a Coefficients Unstandardized Coefficients Model 1 (Constant) Capacidades instrumentais Capacidades pessoais B 3.949 Std. Error 7.148 -1.792 3.292 .471 2.270 Capacidades técnicas Capacidades de gestão -1.319 .684 1.608 1.613 Standardi zed Coefficien ts Beta t .552 Sig. .636 -.564 -.544 .641 .230 .208 .855 -.761 .345 -.820 .424 .498 .713 a. Dependent Variable: Taxa de variação da Produtividade Tabela 42 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 7 observações – Coeficientes Pela análise dos resultados constata-se que a Hipótese 1 não pode de novo ser validada, dado o nível da significância verificado (0.734), o qual é claramente superior a 0.05, sendo mesmo superior ao verificado na regressão efectuada com 8 observações. Quarta regressão – Hipótese 2 / 7 observações A quarta regressão linear visou o teste da Hipótese 2 (variável dependente: Valor absoluto da variação da Produtividade), para o conjunto dos empreendedores A a G. O resultado da regressão foi o seguinte: - 140 - b Variables Entered/Removed Variables Variables Model Entered Removed Method 1 Capacidad es de gestão, Capacidad es técnicas, Capacidad . Enter es instrument ais, Capacidad es a pessoais a. All requested variables entered. b. Dependent Variable: Variação da Produtividade (valor absoluto) Tabela 43 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 7 observações – Variáveis Model Summaryb Model 1 R .992a R Square .984 Adjusted R Square .953 Std. Error of the Estimate 755.2813 a. Predictors: (Constant), Capacidades de gestão, Capacidades técnicas, Capacidades instrumentais, Capacidades pessoais b. Dependent Variable: Variação da Produtividade (valor absoluto) Tabela 44 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 7 observações – Sumário do modelo ANOVAb Model 1 Regression Residual Total Sum of Squares 7,2E+07 1140900 7,3E+07 df 4 2 6 Mean Square 1,8E+07 570449,8 F 31.602 Sig. .031a a. Predictors: (Constant), Capacidades de gestão, Capacidades técnicas, Capacidades instrumentais, Capacidades pessoais b. Dependent Variable: Variação da Produtividade (valor absoluto) Tabela 45 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 7 observações – Anova - 141 - a Coefficients Standardi zed Coefficien ts Unstandardized Coefficients Model 1 (Constant) Capacidades instrumentais Capacidades pessoais Capacidades técnicas Capacidades de gestão B 16477.551 Std. Error 3367.573 -5631.980 1550.979 7898.658 1069.660 -6131.926 -3856.397 757.763 759.787 Beta t 4.893 Sig. .039 -3.631 .068 1.470 7.384 .018 -1.348 -.741 -8.092 -5.076 .015 .037 -.675 a. Dependent Variable: Variação da Produtividade (valor absoluto) Tabela 46 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 /7 observações – Coeficientes Pela análise dos resultados constata-se que a Hipótese 2 é agora sustentada pela evidência empírica, dado o nível da significância verificado (0.031), o qual é inferior a 0.05. Face à validação empírica da Hipótese 2, a qual sustenta que o desempenho das empresas do conhecimento emergentes, quando medido pelo valor absoluto da variação da respectiva Produtividade, é função da capacidade empreendedora dos respectivos empreendedores, considera-se conveniente visualizar em maior detalhe a relação existente, o que se faz de seguida de forma gráfica: Variação da Produtividade (valor absoluto) Scatterplot Dependent Variable: Variação da Produtividade (valor absoluto) 10000 E 8000 6000 G 4000 CB A 2000 0 F D -2000 -4000 -6000 -4000 -2000 0 2000 4000 6000 Regression Adjusted (Press) Predicted Value Figura 60 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 7 observações – Posicionamento face aos valores esperados Pela visualização da Figura 60 pode verificar-se que as observações se colocam na proximidade dos valores previstos, sendo as observações mais próximas dos valores dados pela regressão os das empresas A e G e o mais afastado o da empresa E. Parece ainda evidente que a regressão efectuada tende a subestimar os valores da variação da Produtividade. - 142 - Os gráficos da Figura 61 apresentam as linhas estimativas correspondentes à relação entre cada uma das variáveis independentes e os valores observados para a variável dependente. Variação da Produtividade (valor absoluto) Variação da Produtividade (valor absoluto) 10000 10000 8000 8000 6000 6000 4000 4000 2000 2000 0 0 -2000 Observed -4000 1,2 Linear 1,4 1,6 1,8 2,0 2,2 2,4 2,6 2,8 -2000 Capacidades instrumentais Variação da Produtividade (valor absoluto) 8000 8000 6000 6000 4000 4000 2000 2000 0 0 -2000 -2000 Observed Linear ,5 1,0 1,0 1,5 2,0 2,5 Variação da Produtividade (valor absoluto) 10000 0,0 Linear ,5 Capacidades pessoais 10000 -4000 -,5 Observed -4000 0,0 1,5 2,0 2,5 Observed -4000 0,0 Capacidades técnicas Linear ,5 1,0 1,5 2,0 2,5 Capacidades de gestão Figura 61 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 7 observações – Linhas correspondentes a cada uma das variáveis independentes Os gráficos da Figura 61 mostram a existência de uma relação bastante próxima entre as aptidões instrumentais dos empreendedores e o desempenho das suas empresas do conhecimento emergentes. Tal relação, embora menos consistente, e apresentando mesmo uma perturbação, abaixo do índice 1.8 das aptidões instrumentais, sugere que a capacidade para “fazer fazer”116, ou para “fazer acontecer”, é bastante determinante para o sucesso das empresas na sua fase inicial de existência. A variação da produtividade parece igualmente evidenciar uma relação positiva com as capacidades pessoais, embora a variância seja maior do que no caso das capacidades instrumentais. As capacidades técnicas dos empreendedores do conhecimento parecem ter uma influência negativa no desempenho das suas empresas durante a fase emergente, o que não deixa de ser um resultado surpreendente. O desempenho das empresas aparenta ainda ser relativamente indiferente às capacidades de gestão dos empreendedores, o que também é um resultado inesperado, 116 Mateus (2000). - 143 - sobretudo se se atentar a que significativa percentagem do esforço formativo dirigido a empreendedores se concentra precisamente no desenvolvimento deste tipo de capacidades. A relação entre as aptidões instrumentais e o desempenho das empresas do conhecimento na sua fase emergente é consistente com Lazear (2002), que mostra que a experiência profissional anterior é um dos mais importantes factores explicativos da propensão para iniciar um novo negócio. Por outro lado, a relação entre as aptidões pessoais e o desempenho das empresas do conhecimento na sua fase emergente é ainda consistente com Lazear (2002), que afirma que os empreendedores são “pau para toda a obra”, 117 apresentando evidência empírica de que os estudantes com classificações mais uniformes tendem mais a tornar-se empreendedores do que aqueles que se tornam muito especializados, os quais tenderão mais a vir a trabalhar por conta de outrem. O trabalho de Lazear (2002) vem assim, igualmente, dar alguma sustentação à aparente influência negativa das competências técnicas, e à aparente indiferença relativamente às capacidades de gestão, no desempenho das empresas do conhecimento emergentes. 117 “Jacks-of-all-trades”, no original em inglês [ Lazear (2002)]. - 144 - CAPÍTULO 7 - CONCLUSÃO E IMPLICAÇ ÕES A - CONCLUSÃO Apresentação da principal conclusão A análise empírica apresentada anteriormente sofre de grandes insuficiências, a principal das quais se encontra associada à muito reduzida dimensão da amostra utilizada para o efeito. As conclusões que se procuram expressar a seguir devem portanto ser vistas no quadro de um processo de investigação não terminado, assumindo assim características de conclusões preliminares, cujo principal valor será o de apontar caminhos para a investigação futura. Feita esta ressalva inicial, apresenta-se de seguida a principal conclusão que resulta do trabalho de investigação desenvolvido até ao momento: A evidência empírica sustenta a existência de uma relação entre a capacidade empreendedora dos indivíduos e o desempenho, na fase emergente, das empresas do conhecimento por aqueles criadas, sendo este medido pela variação absoluta da produtividade das mesmas. Discussão do significado da conclusão O facto de as regressões efectuadas em segundo lugar (com apenas 7 observações, por exclusão da empresa H) terem conduzido a resultados não condizentes (embora não obrigatoriamente contraditórios) leva-nos a olhar melhor para as diferenças entre as duas Hipóteses apresentadas ou, o que é o mesmo, procurar verificar até que ponto as duas variáveis dependentes escolhidas traduzem realidades diferentes e qual delas mais se aproxima daquilo que se pretendia medir: A geração de Activos Intangíveis nas empresas do conhecimento emergentes. Recorda-se que as duas variáveis dependentes utilizadas são: • [T∆PROD] - Taxa de variação da Produtividade, correspondendo a mesma à média das duas observações da série temporal respeitante a cada empresa: T∆PRODi = (T∆PRODi(1999/1998) + T∆PRODi(2000/1999) )/2 em que i corresponde à identificação da empresa. • [∆PROD] – Valor absoluto da variação da Produtividade, correspondendo o mesmo à média das duas observações da série temporal respeitante a cada empresa: - 145 - ∆PRODi = (∆PRODi(1999/1998) + ∆PRODi(2000/1999) )/2 em que i corresponde à identificação da empresa. A questão que importa assim discutir é: O que mede melhor o desempenho e a geração de Activos Intangíveis nas empresas do conhecimento emergentes: A taxa de variação da produtividade ou o valor dessa mesma variação? Taxas médias de variação da Produtividade - sem empresa H Variações médias da Produtividade - sem empresa H 10,000 400% 350% 6,000 250% EUR/RH Taxa de variação E 8,000 A 300% 200% 150% B G 4,000 B A 2,000 C 100% 50% C -50% 0 D 2 0 E 0% 4 -100% G 6 F 0 8 -2,000 2 4 6 D 8 F -4,000 Empresas Empresas Figura 62 – Taxas de variação e variações médias da Produtividade, sem a empresa H Pela Figura 62 pode verificar-se que a amostra utilizada apresenta uma distribuição mais uniforme segundo a variável “Variação da Produtividade” do que segundo a variável “Taxa de Variação da Produtividade”. Para que esta variável apresentasse uma distribuição mais uniforme seria necessário considerar a empresa A como “outlier”. No entanto, da análise feita anteriormente às empresas cujos dados foram utilizados no trabalho empírico, não resultam elementos que possam sustentar este tipo de consideração. Na verdade, será de alguma forma razoável aceitar que as taxas de variação da produtividade tenderão a decrescer com o crescimento da produtividade. É muito mais fácil obter uma taxa de variação de 100% quando a produtividade é, por exemplo, de 2.000 EUR/RH do que quando esta é de 8.000 EUR/RH. A observação cruzada das duas variáveis, em termos dos seus valores médios, é apresentada na Figura 63. Para melhor visualização utilizaram-se escalas logarítmicas em ambas as variáveis, o que obrigou a excluir do gráfico as situações em que surgiam valores negativos. Nota-se que as observações efectuadas, sendo embora em número diminuto (apenas 5) confirmam a afirmação feita anteriormente: As empresas com maiores níveis de produtividade média encontram-se entre aquelas em que este indicador menos cresceu em termos percentuais. Por outro lado, as maiores taxas de crescimento observam-se em empresas com níveis de produtividade média mais baixos (embora exista também um caso em que ambos os valores são baixos). - 146 - PRODUTIVIDADE e Var. PRODUTIVIDADE - Médias - sem empresa H Var. Méd. Produtividade 1000% 100% 10% 1,000 10,000 Produtividade Média (EUR/RH) Figura 63 – Comparação entre variações absolutas e taxas de variação da Produtividade, sem a empresa H (escalas logarítmicas; As empresas com valores negativos não são apresentadas) Será então legítimo admitir que a medição do desempenho das empresas do conhecimento emergentes se fará de forma mais eficaz através da observação das respectivas variações de produtividade do que pelas taxas em que esta varia. Sendo assim, fica então encontrada uma possível justificação para os diferentes resultados encontrados nas duas regressões efectuadas. Será, no entanto, necessário efectuar testes semelhantes com amostras mais vastas para sustentar de forma mais consistente esta suposição. Aprofundamento da conclusão Das quatro grandes variáveis da capacidade empreendedora, que constituem as variáveis independentes da análise empírica, não é possível confirmar a influência das capacidades instrumentais no desempenho das empresas, em virtude de o significado estatístico da regressão efectuada não ser, neste caso, superior a 5%. Das restantes três variáveis independentes, Capacidades Pessoais, Capacidades Técnicas e Capacidades de Gestão, a evidência empírica sugere que são as Capacidades Pessoais dos empreendedores que contribuem mais decisivamente para o desempenho das suas empresas. No caso das duas restantes variáveis a variância é muito grande, sendo que é sugerida uma relação de sentido inverso no caso das Capacidades Técnicas e uma quase indiferença no caso das capacidades de Gestão. - 147 - Activos humanos Aptidões Pessoais Comportamentos Propriedade intelectual Activos de mercado Activos de infrastrutura Figura 64 – Relação entre as capacidades pessoais e os activos intangíveis das empresas emergentes De acordo com a análise tentativa feita anteriormente, e conforme é colocado em evidência na Figura 64, as capacidades Pessoais contribuirão para a geração de todos os tipos de activos intangíveis nas empresas do conhecimento. Convém notar que, no Modelo apresentado na Figura 33, onde se procurou resumir a – Relação entre as dimensões de análise da capacidade empreendedora e os activos intangíveis das empresas emergentes, nenhuma outra grande variável da Capacidade Empreendedora contribui para a geração dos quatro tipos de activos intangíveis nas empresas. Face às análises teórica e tentativa feitas anteriormente, a constatação resultante da análise empírica118 é pois consistente com a racionalização efectuada, uma vez que só as capacidades Pessoais (e falamos aqui de questões sobretudo do foro comportamental) apresentam total abrangência na influência que têm na geração dos activos intangíveis das empresas. Confirma-se assim a validade das expressões comummente utilizadas por muitos investidores de risco, que afirmam que “a equipa é o mais importante”, ou que “é preferível um mau projecto com uma boa equipa a um bom projecto com uma má equipa”, verificando-se que este sentimento dos investidores, resultando do seu conhecimento empírico, assenta afinal numa realidade passível de validação científica. Importa ter-se presente que as notações dadas aos empreendedores segundo as quatro grandes variáveis da capacidade empreendedora sofrem, elas mesmas, de duas importantes limitações: Uma decorre do facto de não resultarem de um processo completo de avaliação da capacidade empreendedora, mas apenas da resposta a um inquérito de auto-avaliação; a outra resulta de não terem sido utilizados todos os indicadores que constituem o todo que é a capacidade empreendedora. Se a primeira limitação se encontra directamente associada à metodologia seguida nesta investigação, sendo portanto um factor característico da mesma, a segunda merece que, à luz dos resultados obtidos, se faça nova leitura, mais detalhados, dos principais factores que estarão na origem dos activos intangíveis das empresas do conhecimento. 118 Não sendo no entanto demais ressalvar a sua insuficiência. - 148 - Relembre-se então que as aptidões pessoais são compostas pelos seguintes indicadores: Variáveis Capacidades pessoais Dimensões Comportamental Indicadores 7. Perseverança 8. Capacidade para arriscar 9. Espírito de iniciativa 10. Potencial criativo 11. Capacidade para inovar 12. Capacidade de partilha 13. Auto-motivação 14. Capacidade para trabalhar Tabela 47 – Indicadores das aptidões pessoais Destes 8 indicadores, dois (capacidade para arriscar e capacidade de partilha) foram retirados da análise em resultado da realização dos testes T à significância das respostas recebidas, tendo portanto a classificação dos empreendedores sido efectuada apenas com base nos seis restantes. Recordando de novo a análise tentativa feita à génese dos activos intangíveis com base na capacidade empreendedora, e tendo presente em particular a Figura 30, a qual procura mostrar a relação entre os indicadores das capacidades pessoais dos empreendedores e os activos intangíveis das empresas do conhecimento emergentes, a subtracção dos dois indicadores das capacidades pessoais acima indicados traz como consequência uma diminuição da influência na génese dos activos de mercado e de infrastrutura. Teremos pois, como principal conclusão da análise empírica efectuada, que são as capacidades pessoais dos empreendedores aquelas que mais determinam o sucesso das empresas do conhecimento na sua fase emergente. Poderá complementarmente inferir-se que os activos intangíveis que sustentarão mais fortemente o crescimento do valor das empresas do conhecimento emergente se distribuem pelos quatro tipos taxonómicos, com algum ênfase nos activos humanos e na propriedade intelectual. Refira-se, a propósito desta inferência, que a mesma é confirmada por Minniti (2000), que demonstra existir evidência empírica de que o empreendedorismo tem uma natureza auto-sustentadora, devido a externalidades de rede não pecuniárias. Se se atentar na análise tentativa feita anteriormente119 acerca do comportamento económico de cada um dos tipos de activos intangíveis, verificar-se-á que são precisamente relativamente aos activos humanos que mais se fazem sentir os efeitos de rede, seguindo-se-lhes a propriedade intelectual. Ou seja, as externalidades de rede associadas ao fenómeno do empreendedorismo transferem-se para as organizações, na sua fase emergente, precisamente sobretudo através dos dois tipos de activos intangíveis acima identificados. 119 Ver a Figura 17 da pág. 39, onde se evidenciam os comportamentos dos diferentes tipos de activos intangíveis, segundo os Efeitos de Rede. - 149 - valor Tendo por base que o valor das empresas do conhecimento se encontra associado ao seu desempenho e admitindo que, em termos médios e globais, o mesmo valor, após a fase emergente das empresas, se encontra regularmente distribuído pelas quatro categorias taxonómicas dos activos intangíveis, será possível traçar um percurso tentativo para a geração dos activos intangíveis a partir da capacidade empreendedora dos promotores originais das empresas, como seguidamente se procura mostrar, de forma simplificada: Criação de Perspectiva sistémica Act. Act.infrastrutura infrastrutura Influência reduzida Eventual influência negativa? Act. Act.de demercado mercado Resultados inconclusivos Act. Act.infrastrutura infrastrutura Act. Act.de demercado mercado Act. Act.humanos humanos Cap. Cap.dedegestão gestão Cap. Cap.instrumentais instrumentais Cap. Cap.técnicas técnicas Act. Act.humanos humanos Cap. Cap.pessoais pessoais Prop Prop. . intelectual Prop. intelectual Prop Prop. . intelectual Prop. intelectual Prop Prop. . intelectual Prop. intelectual tempo Criação Fase emergente Fase pós-emergente Figura 65 – O processo de geração dos activos intangíveis nas empresas do conhecimento B - IMPLICAÇÕES A conclusão de que existe evidência empírica sustentando a existência uma relação causal entre a capacidade empreendedora dos indivíduos e o desempenho das empresas do conhecimento por aqueles criadas, na sua fase emergente, e de que são sobretudo as capacidades pessoais que mais contribuem para tal, e a inferência que, em conjugação com a análise teórica e tentativa efectuada, daqui se retira em termos da geração dos activos intangíveis nas empresas do conhecimento sugere um conjunto de implicações: • É nos indivíduos que se centra a capacidade para gerar valor nas sociedades e para renovar e regenerar os seus tecidos económicos. Tal implica uma forte aposta na educação e na formação, não só em termos formais mas igualmente no domínio do desenvolvimento de capacidades pessoais e sociais; - 150 - • A implementação de políticas científico-tecnológicas, para dar verdadeiros frutos ao nível da criação de um tecido empresarial de base de conhecimento competitivo, deve ser acompanhada de medidas de promoção e dinamização do espírito empreendedor, uma vez que parece ser ao nível das capacidades pessoais, isto é, dos aspectos comportamentais, que se encontra a principal génese da criação de valor nas empresas do conhecimento; • Sendo os aspectos comportamentais relevantes para a geração de valor nas empresas do conhecimento emergentes, todas as questões de cultura da sociedade em geral assumem importância acrescida no quadro de políticas de desenvolvimento económico e de competitividade. A atestar tal facto está a referência feita por Tavares (2000) sobre a questão da confiança,120 sendo clara a relação existente entre esta e o desenvolvimento sócio-económico das nações; • A integração da experiência profissional nos processos formativos, designadamente nos de cariz académico, poderá constituir um elemento importante para potenciar a emergência de uma maior propensão empreendedora, já que parece existir uma correlação positiva neste domínio, como resulta da análise empírica efectuada e do atestado por Lazear (2002). • As práticas formativas dirigidas aos empreendedores e destinadas a fomentar o empreendedorismo deverão caminhar para a diferenciação entre os vários estádios dos projectos de criação e desenvolvimento das empresas, assentando numa primeira fase nos aspectos comportamentais e, apenas mais tarde, em temas instrumentais e de gestão, acompanhando as transformações, em termos da estrutura de activos intangíveis, que se operam nas organizações à medida que estas se vão desenvolvendo; • O fomento do “networking” e de todo o tipo de práticas de cooperação, contribuindo para combater aspectos culturais demasiado individualistas, poderá contribuir para dinamizar o empreendedorismo; • Manifestando-se o espírito empreendedor em todos os aspectos da vida social e económica, desde os próprios indivíduos às grandes organizações, a aposta em processos e sistemas de valorização do indivíduo e da sua capacidade de empreender e inovar assumirá relevância para o desenvolvimento das sociedades; • O “clustering” parece surgir associado ao fenómeno do empreendedorismo, através da emergência de externalidades de rede, pelo que a dinamização de “clusters” empreendedores, designadamente em torno de Parques de Ciência e Tecnologia e de comunidades académicas, poderá contribuir para o sucesso de políticas direccionadas para a dinamização do empreendedorismo; • As metodologias existentes no mercado para avaliação dos activos intangíveis de empresas do conhecimento não são, na maioria dos casos, aplicáveis a empresas e 120 “Trust”, em inglês. - 151 - organizações na sua fase emergente, apenas tendo aplicabilidade quando os aspectos organizacionais e sistémicos ganham relevância. O desenho de metodologias específicas para a avaliação das empresas nesta fase específica do seu desenvolvimento deve assentar na base de partida das mesmas – os indivíduos – e na forma como estes conseguem transferir para as organizações, e nestas estruturar, as suas próprias capacidades pessoais. As implicações acima referenciadas permitem, complementarmente, listar um conjunto de novas implicações, mas agora na perspectiva da forma como se desenham as novas empresas do conhecimento e dos modelos de gestão e de negócio que, à luz do que atrás fica dito, poderão ajudar a maximizar o seu potencial de sucesso: • A elaboração do plano de negócios de uma empresa intensiva em conhecimento deverá, para ser mais credível, dar mais ênfase às capacidades da empresa para, sustentada nos seus factores competitivos específicos, gerar valor num contexto de mudança do que, como ocorre classicamente num plano de negócios de uma empresa industrial, à antecipação “determinística” dos seus primeiros anos de actividade. O facto de o sucesso das empresas do conhecimento emergentes poder depender, antes de mais, das competências pessoais/comportamentais dos seus empreendedores faz com que a forma como estes são capazes de as utilizar para gerar, e aumentar, os activos das suas empresas seja um elemento fundamental para avaliar o potencial de sucesso do negócio em perspectiva. • Na sua fase conceptual, a empresa do conhecimento é constituída pelos seus promotores individuais. Na sua fase nascente121, poderão juntar-se aos promotores individuais alguns elementos adicionais (técnicos, gestores, administrativos ou outros), tidos como necessários ao desenvolvimento do projecto dentro dos parâmetros que, em termos do seu desenho, forem tidos como indispensáveis face às necessidades detectadas. Será importante que, desde o início, se estabeleçam modelos de gestão que incorporem os factores mais importantes para o desenvolvimento dos activos humanos das empresas, como sejam a valorização dos indivíduos, a cooperação e o “networking”, a transparência de processos, a coresponsabilização, a partilha de informação e a confiança. A aposta na valorização destes factores conduzirá a que os indivíduos se envolvam mais no processo de construção da nova empresa e transfiram para esta, mais fácil e activamente, os seus próprios factores geradores de valor. Trata-se assim essencialmente de gerar no processo de construção da empresa um mecanismo de “feedback” positivo capaz de, ele mesmo, ser um elemento indutor de valor para a organização emergente. • Estando a cooperação, o “networking” e a “clusterização” associados ao fenómeno do empreendedorismo, os modelos de negócio das empresas do conhecimento deverão ter estes elementos em conta e incorporá-los como elementos valorizadores. Neste sentido, as próprias avaliação de uma empresa do conhecimento e da sua gestão, sobretudo na sua fase emergente, deverá ter estes aspectos presentes e, do mesmo modo, o aconselhamento a empreendedores 121 Entendendo-se aqui “fase nascente” de uma forma lata, isto é, abrangendo todo o processo de criação da empresa e do arranque da sua actividade. - 152 - deverá levá-los a compreender como devem lidar com necessidades contraditórias, como sejam a confidencialidade e o “segredo do negócio”, bem como a protecção da propriedade intelectual, por um lado, e a partilha de informação, o estabelecimento de redes de cooperação, o “networking” e a formação de redes de competências, capacitando-os a fazer os necessários “trade-off” e a encontrar as formas de “co-opetition” que melhor servirão os interesses estratégicos do negócio. • Face aos resultados da investigação efectuada, será possível sugerir que, na sua fase emergente, e no caso de empresas com mais de dois empreendedores, um modelo de negócio de uma empresa do conhecimento poderá ter mais potencial de sucesso se assentar numa estrutura matricial do que numa estrutura departamental típica. Assim, a definição das competências e capacidades dos indivíduos promotores do negócio, sustentada por exemplo numa avaliação séria das respectivas capacidades empreendedoras, poderá servir de base à definição das áreas de intervenção de cada indivíduo, na base de um processo de gestão e decisão cooperativo e incorporando os elementos valorizadores dos activos humanos já atrás mencionados. Existem, naturalmente, limitações à implementação deste tipo de modelos de gestão, as quais poderão ser igualmente objecto de análise na fase de avaliação da capacidade empreendedora e, eventualmente, de aperfeiçoamento em sede de acompanhamento tutorial ou de processo formativo específico. • Os modelos de negócio das empresas do conhecimento emergente deverão reflectir os tipos de intangíveis que, conforme os sectores de actividade e os domínios tecnológicos/do conhecimento mais relevantes em termos competitivos, mais relevantes sejam para garantir o sucesso do negócio. Esta necessidade de implementar modelos de negócio em função da natureza deste é uma verdade comummente reconhecida. Aquilo que decorre da investigação agora levado a cabo é que, estando a geração dos activos intangíveis das empresas do conhecimento emergentes intimamente associadas à capacidade empreendedora dos seus promotores iniciais, é possível recuar um passo para montante no processo empreendedor, no sentido de fazer reflectir nos Planos de Negócio, e nos modelos de negócio a implementar, as características dos empreendedores e, em particular, aquelas que mais influenciarão a geração dos activos intangíveis críticos para a empresa em criação. - 153 - CAPÍTULO 8 - INVESTIGAÇÃO FUTURA A - EM VIRTUDE DAS LIMITAÇÕES DA PRESENTE INVESTIGAÇÃO A investigação levada ao efeito até ao momento, e relatada nesta dissertação, sofre de um conjunto de insuficiências, as quais foram identificadas e discutidas ao longo do documento. Em consequência, sugerem-se em seguida as linhas de investigação futura que poderão colmatar os pontos fracos verificados, conduzindo a uma consolidação dos resultados até agora obtidos, seja no sentido da sua confirmação seja no da sua contestação ou reorientação: • Face à principal limitação da análise empírica efectuada, que se prende com a reduzida dimensão da amostra deverá ser efectuada a compensação desta limitação no futuro através da obtenção de uma amostra mais significativa ou, na falta de condições para tal, na realização do estudo de casos, tendo como base de partida as conclusões até ao momento já retiradas. • Uma vez que a classificação dos empreendedores, segundo os vários indicadores da capacidade empreendedora, foi efectuada apenas com base na resposta a um inquérito auto-administrado, tendo inclusivamente havido necessidade de eliminar da análise alguns dos indicadores, será conveniente realizar análise empíricas com base em efectivos e completos processos de avaliação da capacidade empreendedora, o que pressuporá a constituição de uma base bastante alargada de empreendedores sujeitos a tal processo e representativa em termos da criação de empresas do conhecimento em Portugal. B - NO SENTIDO DO AVANÇO NO CONHECIMENTO Outras linhas de investigação podem vir a ser desenvolvidas no futuro, preferencialmente após serem conseguidos avanços nos aspectos atrás mencionados, já não no sentido da colmatação das falhas detectadas mas tendo agora em vista o efectivo avanço no conhecimento no domínio da criação de valor nas empresas do conhecimento emergentes, o que se sugere de seguida: • Uma primeira linha de investigação futura poderá ir no sentido da especialização da investigação e do teste das conclusões de forma mais fina, controlando variáveis como a dimensão e a idade das empresas, o seu sector de actividade ou a sua especialização tecnológica. Aspectos associados à estratificação dos próprios empreendedores poderão igualmente revelar-se pertinentes. Análises explorando os componentes da capacidade empreendedora mais relevantes para a geração dos - 154 - activos intangíveis críticos em determinados sectores, ou domínios do conhecimento/tecnológicos, trarão esclarecimentos adicionais e permitirão robustecer futuras metodologias destinadas a avaliar o potencial de negócio das empresas do conhecimento emergentes em função da capacidade empreendedora dos seus promotores iniciais. • Como segunda linha de investigação, sugere-se a realização de trabalhos empíricos conducentes ao estabelecimento, de uma forma mais sustentada (lembrando-se que neste trabalho tal foi feito de forma tentativa), de aspectos como o diferente comportamento económico de cada categoria de activos intangíveis, assim como as correlações entre cada dimensão de análise da capacidade empreendedora e os vários tipos de activos intangíveis, a qual poderá enriquecer, de forma significativa, aspectos fundamentais do tema central tratado no presente trabalho. • Uma terceira linha de investigação a ensaiar poderá assentar na análise dos aspectos mais nebulosos das conclusões que foram retiradas: Se a análise empírica efectuada confirma a relação entre o desempenho das empresas de base tecnológica emergentes (uma vez que apenas empresas desta categoria foram analisadas) e a capacidade empreendedora, em particular no que respeita às aptidões pessoais, ou comportamentais, dos seus empreendedores, a eventual existência de uma relação de sentido inverso com as suas aptidões técnicas carece de uma verificação cuidada. Por outro lado, há que lembrar que não foi possível determinar a existência de relação com as aptidões instrumentais e que a análise apontou para uma relativa indiferença em relação às aptidões de gestão dos empreendedores. • A validação da métrica utilizada para avaliar o desempenho das empresas do conhecimento emergentes e o pressuposto, de que se partiu (embora se tenha desenvolvido alguma discussão à volta deste aspecto), de que a mesma se adequa como “proxy” dos respectivos activos intangíveis pode ser objecto de análise empírica, através por exemplo da aplicação, em diferentes momentos e no decurso de séries temporais mais longas, de metodologias de avaliação dos activos intangíveis já testadas no mercado. Esta será uma quarta pista para investigação que, a ser seguida, permitirá comparar desempenho económico com o valor dos activos intangíveis em empresas do conhecimento (não necessariamente emergentes). • Em todas as novas iniciativas de investigação a desenvolver poderá ainda vir a ser afinado o conceito de empresa do conhecimento emergente, designadamente no que respeita à sua idade e ainda quanto ao controle da influência de variáveis externas que possam conduzir ao afastamento, ou à diminuição, da influência dos promotores originais na condução dos seus negócios. • Outro aspecto a considerar será a construção de séries temporais mais alargadas, a qual possa permitir a realização de trabalhos que permitam análises evolutivas, e não apenas, como agora foi feito, uma análise estática de um valor médio e duas observações. • Importará ainda ter presente que, se será relativamente incontroverso que o valor de uma empresa do conhecimento se encontra essencialmente associado ao valor dos - 155 - seus activos intangíveis e que este, por seu turno, numa fase emergente da empresa, se encontra ligado ao seu desempenho, a redução da avaliação dos activos intangíveis a dimensões quantitativas e, sobretudo, meramente financeiras, deixará de fora aspectos importantes do processo de geração e consolidação da base de activos das empresas do conhecimento o que, em última instância, retirará solidez aos processos de análise que venham a ser efectuados. • Por último, o desenho e o teste no terreno de metodologias de avaliação dos activos intangíveis de empresas do conhecimento na sua fase emergente, com base nos conhecimentos já adquiridos e naqueles que venham a resultar das investigações futuras sugeridas, aproximando duas linhas de análise, a da avaliação da capacidade empreendedora e a da avaliação dos activos intangíveis de empresas já bastante estruturadas, poderá permitir a validação prática, por um processo de “learning-bydoing”, de toda a investigação já realizada e a desenvolver no futuro. - 156 - ANEXO – QUESTIONÁRIO AOS EMPREENDEDORES N OTA INTRODUTÓRIA A maioria das questões neste questionário, solicita-lhe que assinale uma cruz (X) ou que efectue um círculo em torno de um número ( 1 2 3 4 5 6 7 ). Relativamente a este último tipo de questões, encontra uma afirmação do lado esquerdo e outra do lado direito. A sua resposta significa: • Se assinalar 1 – Concorda em absoluto com a resposta à esquerda • Se assinalar 2 – Concorda largamente com a resposta à esquerda • Se assinalar 3 – Concorda parcialmente com a resposta à esquerda • Se assinalar 4 – A sua opinião é indiferente em relação à resposta à esquerda ou à direita • Se assinalar 5 – Concorda parcialmente com a resposta à direita • Se assinalar 6 – Concorda largamente com a resposta à direita • Se assinalar 7 – Concorda em absoluto com a resposta à direita Caracterização geral da empresa Qual a forma jurídica da sua empresa? Quotas Unipessoal Anónima Em comandita Outra Qual a CAE da sua empresa ? Em que área se insere a actividade da sua empresa (biotecnologia, multimédia, produção de software, ...) ? Qual o ano de fundação da empresa? - A-1 - Quantos postos de trabalho tem a sua empresa? 1997 1998 1999 2000 Nº de sócios activos Nº de trabalhadores A sua empresa, nos anos em causa, procedeu à protecção de propriedade intelectual relativamente a produtos, serviços ou processos? 1997 Sim 1998 Não Patentes Direitos de autor Outros (por favor especifique) - A-2 - Sim 1999 Não Sim 2000 Não Sim Não Dados económico-financeiros da Empresa (Em alternativa ao preenchimento deste quadro, solicita-se o envio de cópias dos Balanços e Demonstrações de Resultados ou das declarações de IRC Mod. 22 dos exercícios em causa) Valores em contos Conta POC Activo líquido total Capitais próprios Vendas 71 Prestações de serviços 72 Proveitos suplementares 73 Subsídios à exploração 74 Trabalhos para a própria empresa 75 Outros proveitos e ganhos operacionais 76 Proveitos e ganhos financeiros 78 Custo mercadorias vendidas e das matérias consumidas 61 Fornecimentos e serviços externos 62 Impostos 63 Custos com o pessoal 64 Outros custos e perdas operacionais 65 Amortizações 66 Provisões 67 Custos e perdas financeiras 68 Imposto sobre o rendimento 86 Resultados líquidos 88 - A-3 - 1997 1998 1999 B Dados do empreendedor Idade? anos Sexo? Masculino Feminino Estado civil ? Solteiro (a) Viúvo (a) Casado (a) Divorciado (a) Quais as suas habilitações literárias? Escolaridade Obrigatória Licenciatura Doutoramento Ensino Secundário Pós-graduação Outra Frequência Universitária Mestrado Quando tem que tomar decisões, normalmente prefere: Fazê-lo sozinho 1 2 3 4 5 6 7 Procurar o aconselhamento de outros As opiniões dos outros são muito importantes para si, já que lhe permitem adquirir informação e conhecimento? Normalmente não 1 2 3 4 5 6 7 Certamente que sim Fomenta o aparecimento de novas ideias e pontos de vista, mesmo que sejam contrários aos seus: Normalmente não 1 2 3 4 5 6 7 Certamente que sim 5 6 7 Certamente que sim 7 Efusivo. Normalmente é o centro das atenções Costuma discutir os seus erros com os outros: Normalmente não 1 2 3 4 O seu comportamento em eventos sociais costuma ser: Discreto. Tenta passar despercebido 1 2 3 4 5 6 Você intencionalmente tenta evitar situações em que tenha que conversar com pessoas que não conhece: Sempre. Só converso quando há necessidade. 1 2 3 4 5 6 7 Nunca. Eu gosto de estar sempre a conhecer pessoas novas Quando lhe dão a possibilidade de fazer uma apresentação para um público numeroso: Prefere sugerir outra pessoa, porque não gosta de fazer apresentações 1 2 3 4 - A-4 - 5 6 7 Aceita de imediato Normalmente consegue que os outros façam as coisas tão bem como você próprio o faria: Certamente que não 1 2 3 4 5 6 7 Claro que sim Mais orientado para as pessoas 1 2 3 4 5 6 7 Mais orientado para os objectivos Considera-se: Pensa que quando os outros têm problemas, então esses problemas também passam a ser seus: Certamente que não 1 2 3 4 5 6 7 Claro que sim Quando os seus colaboradores sentem dificuldades no trabalho, pensa que: É necessário firmeza para que se empenham em resolver os problemas 1 2 3 4 5 6 7 É necessária ajudá-las, e o melhor é ter uma atitude amigável 1 2 3 4 5 6 7 Absolutamente decidida 1 2 3 4 5 6 7 Tomar uma decisão, e se for errada resolver o problema Pensa que é uma pessoa: Que gosta de ponderar todos os prós e contras Pensa que é melhor: Reunir toda a informação necessária, mesmo que atrase a decisão Se fosse necessário, conseguia definir claramente o futuro do seu sector daqui a 5 anos: Certamente que não. Há demasiada incerteza 1 2 3 4 5 6 7 Claro que sim Se fosse necessário, conseguia definir claramente o futuro da sua empresa daqui a 5 anos: Certamente que não, depende de muitos factores 1 2 3 4 5 6 7 Claro que sim. Até está formalizada num documento de estratégia Considera que tem a capacidade para identificar alterações no padrão de consumo do mercado? Certamente que não, depende de muitos factores 1 2 3 4 5 6 7 Claro que sim. Até ao momento, considera que a estratégia da sua empresa tem sido: Acompanhar a concorrência nas inovações introduzidas 1 2 3 4 5 6 7 Introduzir inovações, antecipando as necessidades dos clientes antes dos outros Qual a importância que atribui ao cumprimento dos compromissos perante terceiros: Importante, desde que não surjam outras prioridades 1 2 3 4 5 6 7 Decisivo e à frente de tudo Quando faz uma promessa, que afinal não pode cumprir: “esquece-se” e espera que o outro esqueça também 1 2 3 4 5 6 7 Enfrenta a situação, por muito desagradável que seja 7 Um imperativo Para si, o cumprimento de prazos perante os clientes é: Uma referência. Se não for possível entregar paciência 1 2 3 4 - A-5 - 5 6 Você é uma pessoa que quando decide fazer alguma coisa, vai fazer e nada nem ninguém o pode parar? Certamente que não 1 2 3 4 5 6 7 Claro que sim Mesmo que as pessoas lhe digam que não é possível fazer uma determinada tarefa, mesmo assim continua para se certificar por si próprio? Certamente que não 1 2 3 4 5 6 7 Claro que sim 1 2 3 4 5 6 7 Claro que sim Considera-se um bom perdedor? Certamente que não Você gosta de iniciar um projecto, sem saber todos os problemas potenciais? Certamente que não 1 2 3 4 5 6 7 Claro que sim 2 3 4 5 6 7 Assume o risco. “Quem não arrisca não petisca” Na sua actividade, tendencialmente: Joga pelo seguro. “Mais vale um pássaro na mão que dois a fugir” 1 Costuma pensar regularmente: “É assim que as coisas são e não há nada a fazer acerca disso”? Certamente que não 1 2 3 4 5 6 7 Claro que sim Você costuma precisar de uma explicação detalhada e completa, antes de iniciar uma tarefa? Certamente que não 1 2 3 4 5 6 7 Claro que sim 1 2 3 4 5 6 7 Proactiva Considera-se uma pessoa Reactiva Considera-se uma pessoa com uma criatividade muito superior aos outros Certamente que não 1 2 3 4 5 6 7 Certamente que sim Com que frequência é que transforma as suas ideias ou de outros em novos processos ou produtos? Ocasionalmente 1 2 3 4 5 6 7 Muito frequentemente Inova quando é necessário 1 2 3 4 5 6 7 Inova sistematicamente A sua empresa: Como classifica os seus principais produtos ou serviços relativamente ao seu carácter inovador? Sem carácter inovador 1 2 3 4 - A-6 - 5 6 7 Com carácter inovador O desenvolvimento da sua empresa deveu-se ao carácter inovador que introduziu no mercado? não 1 2 3 4 5 6 7 Absolutamente 6 7 Todos os que conseguir arranjar e que sejam necessários Quantos investidores é que um negócio deve ter? Nenhum, apenas os sócios da empresa 1 2 3 4 5 Qual a sua perspectiva sobre a distribuição de dividendos Devem ser para os trabalhadores, porque foram eles que tornaram os lucros possíveis 1 2 3 4 5 6 7 Devem ser para os sócios, que foi quem arriscou o seu dinheiro Se tiver que fazer um investimento para o crescimento da empresa, e não tiver os meios necessários, considera que: Deve atrasar o investimento até ter disponibilidade para o efectuar 1 2 3 4 5 6 7 Deve abrir o capital a novos sócios para injectarem dinheiro fresco Quando se defronta com projectos que se prolongam mais do que o previsto, como reage: Se possível abandona o projecto e debruça-se sobre outros 1 2 3 4 5 6 7 Procura encontrar novos factores de motivação, por forma a que o conclua Sente-se motivado em participar em projectos que sabe que vão demorar entre 5 a 10 anos a concluir? Certamente que não. Prefiro projectos mais curtos. 1 2 3 4 5 6 7 Claro que sim, desde que sejam interessantes Quando alguma coisa lhe corre mal, procura encontrar os aspectos positivos dessa situação? Muito raramente 1 2 3 4 5 6 7 Sempre 1 2 3 4 5 6 7 Muito trabalhadora Considera-se uma pessoa: Trabalhadora quanto baste Como definiria a sua capacidade de organização: Muito reduzida – Aliás a secretária está sempre cheia de papeis 1 2 3 4 5 6 7 Muito elevada – Não gosta nada de alguma coisa fora do sítio 1 2 3 4 5 6 7 Um funcionário que obtém resultados Para si, um bom colaborador é: Um funcionário muito empenhado Como relaciona a sua formação base com a actividade da sua empresa: Não tem qualquer relação 1 2 3 4 - A-7 - 5 6 7 Completamente relacionada Domina tecnicamente todas as fases subjacentes à concepção e produção dos seus produtos ou serviços? Certamente que não 1 2 3 4 5 6 7 Certamente que sim Como classifica os seus conhecimento sobre o mercado onde actua? Conhece parcial mente 1 2 3 4 5 6 7 Conhece em profundidade, desde os clientes aos concorrentes No início de actividade, como classificaria os seus conhecimento sobre o mercado onde ia actuar? Conhecia parcialmente 1 2 3 4 5 6 7 Conhecia em profundidade, desde os clientes aos concorrentes Como classifica a sua experiência empresarial anterior à presente empresa? Nenhuma 1 2 3 4 5 6 7 6 ou mais anos 6 7 6 ou mais empresas Quantas empresas é que criou antes da presente? Nenhuma 1 2 3 4 5 Como classifica a sua experiência profissional anterior à presente empresa? Nenhuma 1 2 3 4 5 6 7 6 ou mais anos Quantos anos é que trabalhou no sector ou área técnica da presente empresa antes de a ter criado? Nenhum 1 2 3 4 5 6 7 6 ou mais anos Como classifica a sua capacidade para identificar as necessidades dos clientes e o seu grau de conhecimento do processo de compra? Reduzida. Essas funções são desempenhadas por outras pessoas ou por consultores 1 2 3 4 5 6 7 Muito elevada. Sou eu que desempenho essas funções na empresa Como classifica a sua capacidade para medir o grau de satisfação dos clientes? Reduzida. Essas funções são desempenhadas por outras pessoas ou por consultores 1 2 3 4 5 6 7 Muito elevada. Sou eu que desempenho essas funções na empresa fazendo os questionários e a respectiva análise Como classifica o seu domínio das demonstrações financeiras? Reduzido. Essas funções são desempenhadas por outras pessoas ou por consultores 1 2 3 4 5 6 7 Muito elevado. Sou eu que as elaboro No início de actividade, como classificaria o seu domínio das demonstrações financeiras? Nenhum 1 2 3 4 - A-8 - 5 6 7 Muito elevado Com que frequência é que negoceia os financiamentos necessários à sua empresa? Raramente. Essas funções são desempenhadas por outras pessoas 1 2 3 4 5 6 7 Sempre 2 3 4 5 6 7 Planear claramente os objectivos, as metas e o cronograma Quando inicia uma tarefa, costuma: Pensar no que tem a fazer no imediato, e actuar quando necessário 1 Como classifica a sua capacidade para montar um sistema de controlo de gestão na empresa? Reduzida. Essas funções são desempenhadas por outras pessoas ou por consultores 1 2 3 4 5 6 7 Muito elevada. Sou eu que desempenho essas funções na empresa Como é que classifica actualmente a motivação dos seus colaboradores? Passiva 1 2 3 4 5 6 7 Entusiástica Como é que mede actualmente o desempenho dos seus colaboradores? Apenas através da minha opinião pessoal 1 2 3 4 5 6 7 Através da análise de indicadores concretos conhecidos pelos colaboradores Como classifica a sua capacidade para contratar empregados? Reduzida. Essas funções são desempenhadas por outras pessoas ou por consultores 1 2 3 4 5 6 7 Muito elevada. Sou eu que desempenho essas funções na empresa Como é que classifica os seus conhecimentos de gestão em geral? Reduzidos 1 2 3 4 5 6 7 Muito elevados Como classifica a sua capacidade para conceber a estratégia da empresa? Reduzida. Essas funções são desempenhadas por outras pessoas ou por consultores 1 2 3 4 5 6 7 Muito elevada. Sou eu que desempenho essas funções na empresa Como classifica a sua capacidade para implementar a estratégia definida? Reduzida. Essas funções são desempenhadas por outras pessoas ou por consultores 1 2 3 4 5 6 7 Muito elevada. Sou eu que desempenho essas funções na empresa Considera que relativamente à estratégia que foi definida para a empresa: O grau de concretização é muito reduzido 1 2 3 4 5 6 7 Toda a estratégia tem sido implementada exactamente como foi definida 7 8 ou mais horas Quantas horas por dia dedica em média à sua empresa: 2 ou menos horas 1 2 3 4 5 6 Quantas horas por dia dedicou em média à sua empresa no início de actividade: 2 ou menos horas 1 2 3 4 - A-9 - 5 6 7 8 ou mais horas Dos seguintes aspectos, qual a relevância que lhes atribui, relativamente ao seu contributo para que conseguisse criar a sua empresa: Contribuíram significativamente para que criasse a empresa mais rapidamente Funcionaram como um entrave. Se tivessem existido tinha sido muito positivo Valorização pela família da iniciativa de criar uma empresa 1 2 3 4 5 6 7 Apoio do cônjuge/família relativamente ao esforço que envolve uma empresa 1 2 3 4 5 6 7 Fase de crescimento do mercado 1 2 3 4 5 6 7 Existência de nichos de mercado inexplorados 1 2 3 4 5 6 7 Nível de inovação do produto elevado 1 2 3 4 5 6 7 Elevada necessidade do produto 1 2 3 4 5 6 7 Facilidade de identificar os clientes 1 2 3 4 5 6 7 Existência de clientes interessados no produto 1 2 3 4 5 6 7 Facilidade em obter o financiamento para os capitais próprios 1 2 3 4 5 6 7 Disponibilidade de capital de familiares/amigos 1 2 3 4 5 6 7 Acesso facilitado ao crédito Bancário 1 2 3 4 5 6 7 Facilidade de financiamento por operações de capital de risco 1 2 3 4 5 6 7 Existência de incentivos que se adaptem à actividade da empresa 1 2 3 4 5 6 7 Desburocratização que facilite o início de novos negócios 1 2 3 4 5 6 7 Apoio a nível de políticas públicas na elaboração do plano de negócios 1 2 3 4 5 6 7 Apoio de agências públicas 1 2 3 4 5 6 7 - A-10 - Das seguintes motivações para a criação da empresa, qual a relevância que lhes atribuiu quando decidiu criar a sua empresa: Absolutamente nenhuma Importância decisiva Possibilidade de desenvolver um trabalho criativo 1 2 3 4 5 6 7 Poder ser inovador 1 2 3 4 5 6 7 Possibilidade de ser independente 1 2 3 4 5 6 7 Ter liberdade no desenvolvimento do seu trabalho 1 2 3 4 5 6 7 Necessidade de controlar o seu próprio destino 1 2 3 4 5 6 7 Poder acompanhar o desenvolvimento tecnológico 1 2 3 4 5 6 7 Poder continuar a aprender 1 2 3 4 5 6 7 Aproveitar uma oportunidade de mercado 1 2 3 4 5 6 7 Aproveitar o valor da ideia 1 2 3 4 5 6 7 Necessidade de realização pessoal 1 2 3 4 5 6 7 Desejo de enfrentar desafios 1 2 3 4 5 6 7 Muito obrigado pela sua resposta - A-11 - REFERÊNCIAS Amaral, P. e Pedro, J. 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