UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA
INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO
DA CAPACIDADE EMPREENDEDORA AOS
ACTIVOS INTANGÍVEIS NO PROCESSO DE
CRIAÇÃO DE EMPRESAS DO CONHECIMENTO
por
Pedro Jorge Martins Borges de Almeida
(Licenciado)
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Engenharia e Gestão da Tecnologia
Orientador:
Doutor Rui Miguel Loureiro Nobre Baptista
Co-orientador:
Doutor Pedro Filipe Teixeira da Conceição
Júri:
Presidente:
Doutor Manuel Frederico Tojal de Valsassina Heitor
Vogais:
Doutor Avelino Miguel da Mota Pina e Cunha
Doutor Rui Miguel Loureiro Nobre Baptista
Doutor Pedro Filipe Teixeira da Conceição
Lisboa, Março de 2003
UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA
INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO
DA CAPACIDADE EMPREENDEDORA AOS
ACTIVOS INTANGÍVEIS NO PROCESSO DE
CRIAÇÃO DE EMPRESAS DO CONHECIMENTO
por
Pedro Jorge Martins Borges de Almeida
(Licenciado)
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Engenharia e Gestão da Tecnologia
Orientador:
Doutor Rui Miguel Loureiro Nobre Baptista
Co-orientador:
Doutor Pedro Filipe Teixeira da Conceição
Júri:
Presidente:
Doutor Manuel Frederico Tojal de Valsassina Heitor
Vogais:
Doutor Avelino Miguel da Mota Pina e Cunha
Doutor Rui Miguel Loureiro Nobre Baptista
Doutor Pedro Filipe Teixeira da Conceição
Lisboa, Março de 2003
À São
À Nani e ao Diogo
À Carla e à Vera
- i-
RESUMO
As empresas do conhecimento apresentam características distintivas em relação ao
conjunto da generalidade das empresas dado que parte significativa do seu valor
corresponde a activos intangíveis.
Emergindo um standard taxonómico para os activos intangíveis, em termos da
avaliação as metodologias existentes não têm, na sua maior parte, aplicação na fase
emergente das empresas do conhecimento, o que coloca sérios entraves a uma
interacção profícua entre empreendedores e investidores ou financiadores.
Uma vez que, até ao momento da constituição da empresa, a realidade que existe é a
do empreendedor, estabelece-se uma ligação conceptual entre a capacidade
empreendedora e a geração dos activos intangíveis. Esta relação é validada através de
uma análise empírica, em que a capacidade empreendedora é medida segundo um
conjunto de indicadores já validado por investigação anterior desenvolvida pelo CPIN, 1
e os activos intangíveis são medidos indirectamente através de um indicador de
desempenho das empresas, a variação da produtividade, concluindo-se pela verificação
empírica da existência de uma relação entre a primeira e a segunda, com relevância para
as aptidões pessoais dos empreendedores.
Com base na confirmação desta relação, é possível aprofundar a investigação e
desenvolver metodologias habilitando à avaliação das empresas do conhecimento na
sua fase emergente.
Palavras chave: Empreendedor; Capacidade empreendedora; Empresa do
conhecimento; Activos intangíveis; Empresa emergente; Avaliação.
1
Centro Promotor de Inovação e Negócios
- i -
ABSTRACT
The knowledge-based firms present distinctive characteristics when compared to the
generality of the firms, once a significant part of their value corresponds to intangible
assets.
Although a standard is emerging in taxonomic terms, the existing evaluation
methodologies of the intangible assets are not, in their majority, applicable to the
emergent phase of the knowledge-based firms, which creates serious impediments to a
dynamic interaction between entrepreneurs and investors or financers.
Once until the start-up moment the existing reality is the entrepreneur, a conceptual
relationship is established between the entrepreneurial skills and the generation of
intangible assets. This is then validated by an empiric research, where the
entrepreneurial skills are measured through a series of indicators validated by previous
research developed by CPIN2 and the intangible assets are indirectly measured through
a performance indicator, the variation of the firm’s productivity, and the outcome is
that there is empiric evidence of the existence of a relationship between the first and
the second, with particular relevance for the personal skills of the entrepreneurs.
Based on this relation, the deepening of the research and the design of methodologies
leading to the evaluation of the intangible assets in emerging knowledge-based firms is
possible.
Keywords: Entrepreneur; Entrepreneurial skills; Knowledge-based firm; Intangible
assets; Emerging firm; Assessment.
2
Centro Promotor de Inovação e Negócios
- ii -
AGRADECIMENTOS
Por muito que uma dissertação de mestrado seja um trabalho eminentemente
individual, o mesmo nunca é realizado fora de um contexto pessoal e social e
dificilmente é conseguido sem um conjunto de apoios, incentivos e manifestações de
solidariedade.
São pois devidos agradecimentos a todos aqueles que, directa ou indirectamente,
consciente ou inconscientemente, próxima ou remotamente contribuíram para a
realização deste trabalho.
Uma primeira palavra vai para o Corpo Docente do mestrado de Engenharia e Gestão
da Tecnologia do IST, o qual me permitiu o grato prazer de regressar à minha escola
passados que foram mais de vinte anos da minha licenciatura em engenharia. Com
estilos diferentes, reavivaram em mim o gosto pela aprendizagem e a satisfação da
aquisição e estruturação de conhecimentos.
De todos os Docentes do Mestrado, devo salientar o Prof. Manuel Heitor, a quem
agradeço a sua crítica exigente, mas sempre construtiva.
Agradeço ainda aos meus Orientadores de mestrado, os Profs. Rui Baptista e Pedro
Conceição, os quais, mesmo que distantes nos últimos tempos, foram sempre concisos
e extremamente pragmáticos nas suas opiniões, sugestões e conselhos.
Agradeço também a todos os meus colegas de mestrado, com quem tive muita
satisfação em conviver e trabalhar, fazendo votos para que os laços de amizade
perdurem para além do tempo efémero das actividades que motivaram o nosso
encontro.
Devo ainda agradecer aos meus colegas de trabalho no CPIN, de quem sempre recebi
estímulo e úteis sugestões, com um incontornável relevo para a Sónia Palma,
Investigadora no CPIN até Maio de 2002, e cujo trabalho em muito contribuiu para
facilitar a elaboração desta dissertação.
Um reconhecimento especial deve ser dirigido ao José Rui Felizardo, que me desafiou
inicialmente para esta tarefa e nunca me regateou a sua solidariedade ao longo de vários
anos.
O agradecimento final vai naturalmente para a minha Família, que suportou muitas
horas de isolamento da minha parte e sofreu as consequências das minhas limitações
de disponibilidade sem que em algum momento tivesse deixado de me dar todo o seu
apoio e estímulo para levar esta nau a bom porto.
A todos bem haja. Espero não desmerecer a confiança que em mim depositaram.
Pedro
Lisboa, Agosto de 2002.
- iii -
ÍNDICE
Resumo ............................................................................................................. I
Abstract............................................................................................................ ii
Agradecimentos............................................................................................... iii
Índice ............................................................................................................... 1
Lista de Figuras................................................................................................. 3
Lista de Tabelas ................................................................................................ 6
Capítulo 1 - Introdução..................................................................................... 8
A - Temática e interesse da investigação....................................................... 8
B - Objectivos da investigação..................................................................... 8
C - Interesse da investigação e do seu tema.................................................. 9
D - Organização do documento ................................................................ 10
Capítulo 2 - Enquadramento Teórico .............................................................. 12
A - Activos Intangíveis.............................................................................. 12
O que são........................................................................................... 12
A importância dos activos intangíveis .................................................. 15
As Características Económicas dos Activos Intangíveis........................ 20
B - Taxonomia dos Activos Intangíveis ..................................................... 22
As propostas dos Autores ................................................................... 22
Um Standard emergente...................................................................... 28
Taxonomia e comportamento económico............................................ 30
C - Medição dos Activos Intangíveis.......................................................... 40
D - Os Activos Intangíveis e as Empresas do Conhecimento Emergentes.. 50
O que são Empresas do Conhecimento Emergentes............................ 50
A Adequação dos Modelos de Medição e Avaliação dos Activos Intangíveis no
caso das Empresas do Conhecimento Emergentes............................... 53
E - As Empresas do Conhecimento Emergentes:
O Fenómeno do
Empreendedorismo .................................................................................. 61
Os Conceitos de Empreendedorismo e de Inovação............................ 61
Factores de envolvente que fomentam o empreendedorismo............... 64
As características do empreendedor..................................................... 67
O processo de criação de uma empresa ............................................... 72
Capítulo 3 - Estado Actual da Investigação Empírica ....................................... 75
A - O Estudo Skills – 1ª. Fase................................................................... 75
Aspectos gerais ................................................................................... 75
B - O Estudo Skills – 2ª. Fase................................................................... 78
Objectivos do estudo .......................................................................... 78
Universo do estudo............................................................................. 80
Enviesamentos e obstáculos à pesquisa................................................ 81
Capacidades Instrumentais.................................................................. 81
Análise dos dados ............................................................................... 82
C - Resumo das conclusões da investigação anterior .................................. 85
Capítulo 4 - Da Capacidade Empreendedora aos Activos Intangíveis............... 87
A - A questão dos indicadores................................................................... 87
Classificação de indicadores e tipologia de activos................................ 87
- 1 -
Interdependência ................................................................................ 88
B - A capacidade empreendedora na origem dos activos intangíveis ........... 92
Capítulo 5 - Metodologia de Investigação........................................................ 96
A - Estratégia de investigação.................................................................... 96
B - Apresentação da metodologia.............................................................. 97
C - Caracterização da amostra.................................................................. 109
Características gerais.......................................................................... 109
Indicadores de desempenho das empresas que apresentaram contas... 114
D - Escolha das variáveis......................................................................... 123
Variáveis independentes.................................................................... 123
Variáveis dependentes ....................................................................... 127
E - Estabelecimento das Hipóteses de Investigação................................. 129
F - Discussão dos riscos de enviesamento da análise................................ 130
Risco associado à constituição da amostra.......................................... 130
Risco associado à natureza das respostas............................................ 131
Risco associado à exclusão de variáveis relevantes.............................. 131
Risco de endogeneidade.................................................................... 132
Aspectos associados às inferências..................................................... 132
Capítulo 6 - Apresentação dos Resultados...................................................... 134
A - Análises efectuadas............................................................................ 134
B - Apresentação dos resultados .............................................................. 134
Primeira regressão – Hipótese 1 / 8 observações ............................... 134
Segunda regressão – Hipótese 2 / 8 observações ............................... 136
Terceira regressão – Hipótese 1 / 7 observações................................ 139
Quarta regressão – Hipótese 2 / 7 observações.................................. 140
Capítulo 7 - Conclusão e Implicações ............................................................ 145
A - Conclusão......................................................................................... 145
Apresentação da principal conclusão................................................. 145
Discussão do significado da conclusão............................................... 145
Aprofundamento da conclusão.......................................................... 147
B - Implicações....................................................................................... 150
Capítulo 8 - Investigação futura..................................................................... 154
A - Em virtude das limitações da presente investigação............................ 154
B - No sentido do avanço no conhecimento............................................ 154
Anexo - Questionário aos Empreendedores................................................. A - 1
Referências ........................................................................................................ I
- 2 -
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Rácio médio “Market-to-Book” das empresas integradas no índice S&P 500
[adaptada de Lev (2000)] ......................................................................................... 15
Figura 2 – O balanço de uma Organização do Conhecimento, neste caso o balanço da
Morgan & Banks em 31 de Março de 1996 [adaptado de Sveiby (1997)]................... 19
Figura 3 – As características económicas determinantes dos Activos Intangíveis [Lev
(2000)].................................................................................................................... 22
Figura 4 – Quatro categorias do pessoal das Organizações do Conhecimento [Sveiby
(1994)].................................................................................................................... 24
Figura 5 – Taxonomia dos activos de uma empresa, segundo o HLEG Group [Eustace
(2000)].................................................................................................................... 24
Figura 6 – Abordagem dos Activos Intangíveis proposta por Kaplan & Norton (1996),
referido em Sveiby (1998)........................................................................................ 25
Figura 7 – Classificação dos Activos intangíveis [Lev (2000)]................................................ 25
Figura 8 – Taxonomia dos activos intangíveis [Sveiby (1998)]............................................... 25
Figura 9 – Taxonomia dos activos intangíveis, segundo Edvinsson e Malone (1997) [in
Edvinsson e Richtner (1999)].................................................................................. 26
Figura 10 – Taxonomia dos activos intangíveis, segundo Warschat et al (1999)..................... 26
Figura 11 – As interacções entre as diferentes categorias de Capital Intelectual, segundo
Warschat et al (1999)............................................................................................... 26
Figura 12 – Taxonomia dos Activos Intangíveis, segundo The Technology Broker
(1997)..................................................................................................................... 27
Figura 13 – Proposta de Standard para a categorização dos Activos Intangíveis .................... 29
Figura 14 – Diferenças no comportamento económico dos Activos Tangíveis e das
quarto categorias de Activos Intangíveis .................................................................. 37
Figura 15 – Posicionamento dos Activos Tangíveis e das quarto categorias de Activos
Intangíveis segundo as variáveis da Não Rivalidade e da Excludabilidade.................. 38
Figura 16 – Posicionamento dos Activos Tangíveis e das quarto categorias de Activos
Intangíveis segundo as variáveis da facilidade de Transacção e da Ausência de
Risco ...................................................................................................................... 39
Figura 17 – Posicionamento dos Activos tangíveis das quarto categorias de Activos
Intangíveis segundo a variável dos Efeitos de Rede .................................................. 39
Figura 18 – Posicionamento de 19 métodos de avaliação de activos intangíveis
[adaptado de Sveiby (2001)]..................................................................................... 47
Figura 19 – Classificação das empresas não industriais em função da sua adaptação ao
mercado [Sveiby (1994)].......................................................................................... 50
Figura 20 - Modelo conceptual sobre o empreendedorismo e o crescimento económico
[adaptado de Gonçalves (2000)]............................................................................... 61
Figura 21 – Forças motrizes do empreendedorismo [adaptado de Gonçalves (2000)]............ 63
Figura 22 – Factores sociais e da envolvente que afectam o empreendedorismo
[adaptado de Gonçalves (2000)]............................................................................... 65
Figura 23 – O processo empreendedor e os principais factores sociais e da envolvente
que o influenciam [adaptado de Gonçalves (2000)]................................................... 66
Figura 24 – Um modelo de vida de desenvolvimento empreendedor [adaptado de
Gonçalves (2000)]................................................................................................... 70
- 3 -
Figura 25 – Aprendizagem experimental [adaptado de Gonçalves (2000)]............................. 70
Figura 26 – A dinâmica de valorização dos indivíduos [adaptado de Gonçalves (2000)]......... 72
Figura 27 – Processo de criação de uma empresa [adaptado de Gonçalves (2000)]................ 73
Figura 28 - Capacidade empreendedora na óptica Skills, segundo CPIN (1999) ................... 76
Figura 29 – Relação entre os indicadores das capacidades instrumentais dos
empreendedores e os activos intangíveis das empresas emergentes........................... 92
Figura 30 – Relação entre os indicadores das capacidades pessoais dos empreendedores
e os activos intangíveis das empresas emergentes..................................................... 93
Figura 31 – Relação entre os indicadores das capacidades técnicas dos empreendedores
e os activos intangíveis das empresas emergentes..................................................... 93
Figura 32 – Relação entre os indicadores das capacidades de gestão dos
empreendedores e os activos intangíveis das empresas emergentes........................... 94
Figura 33 – Relação entre as dimensões de análise da capacidade empreendedora e os
activos intangíveis das empresas emergentes............................................................ 95
Figura 34 – Questionário electrónico – Exemplo de parcial de écran da secção de autoavaliação............................................................................................................... 105
Figura 35 – Questionário electrónico – Écran final com instrução de envio automático
das respostas para o CPIN .................................................................................... 106
Figura 36 – Processo metodológico da investigação empírica............................................. 109
Figura 37 – Distribuição geográfica dos empreendedores inquiridos................................... 110
Figura 38 – Distribuição geográfica dos empreendedores respondentes.............................. 110
Figura 39 – Distribuição das empresas dos empreendedores respondentes por áreas de
actividade económica ............................................................................................ 111
Figura 40 – Evolução do número médio de sócios activos ................................................. 111
Figura 41 – Distribuição do número de sócios activos das empresas................................... 112
Figura 42 – Distribuição da amostra segundo a detenção de propriedade intelectual –
toda a amostra....................................................................................................... 112
Figura 43 – Distribuição da amostra segundo a detenção dos vários tipos de
propriedade intelectual – toda a amostra ................................................................ 113
Figura 44 – Distribuição da amostra segundo a detenção de propriedade intelectual –
empresas que apresentaram contas ........................................................................ 113
Figura 45 – Distribuição da amostra segundo a detenção dos vários tipos de
propriedade intelectual – empresas que apresentaram contas.................................. 114
Figura 46 – Evolução do VAB e da respectiva taxa de variação.......................................... 115
Figura 47 – Comparação entre a evolução do VAB e a respectiva taxa de variação.............. 115
Figura 48 – Evolução da Produtividade e da respectiva taxa de variação............................. 116
Figura 49 – Empresa H – Evolução dos principais indicadores económico-financeiros
e das respectivas taxas de variação......................................................................... 117
Figura 50 – Comparação entre a evolução da Produtividade e a respectiva taxa de
variação................................................................................................................ 117
Figura 51 – Empresa F – Evolução dos principais indicadores económico-financeiros e
das respectivas taxas de variação............................................................................ 119
Figura 52 – Relação entre idades das empresas e os respectivos indicadores VAB e
Produtividade........................................................................................................ 120
Figura 53 – Evolução dos valores absolutos da Variação do VAB e da Variação da
Produtividade........................................................................................................ 121
Figura 54 – Evolução dos valores absolutos da Variação da Produtividade, sem a
empresa H ............................................................................................................ 121
- 4 -
Figura 55 – Comparação entre variações absolutas e taxas de variação da Produtividade..... 122
Figura 56 – Valores médios da variação da Produtividade .................................................. 123
Figura 57 – Distribuição das classificações dos indicadores da capacidade
empreendedora – respostas originais...................................................................... 124
Figura 58 – Distribuição das classificações dos indicadores da capacidade
empreendedora – após classificação das respostas.................................................. 125
Figura 59 – Distribuição geográfica dos empreendedores A a G......................................... 139
Figura 60 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 7 observações – Posicionamento
face aos valores esperados..................................................................................... 142
Figura 61 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 7 observações – Linhas
correspondentes a cada uma das variáveis independentes ....................................... 143
Figura 62 – Taxas de variação e variações médias da Produtividade, sem a empresa H........ 146
Figura 63 – Comparação entre variações absolutas e taxas de variação da
Produtividade, sem a empresa H (escalas logarítmicas; As empresas com
valores negativos não são apresentadas)................................................................. 147
Figura 64 – Relação entre as capacidades pessoais e os activos intangíveis das empresas
emergentes............................................................................................................ 148
Figura 65 – O processo de geração dos activos intangíveis nas empresas do
conhecimento....................................................................................................... 150
- 5 -
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Diferenças entre Informação e Conhecimento, segundo Miller (2000) ................. 14
Tabela 2 – Comparação de propostas taxonómicas para a classificação dos Activos
Intangíveis [Sveiby (1998)]....................................................................................... 28
Tabela 3 – Comparação entre o Standard Emergente de Sveiby (1998) e a proposta de
categorização dos Activos Intangíveis...................................................................... 29
Tabela 4 – Diferentes comportamentos económicos das várias categorias de Activos
Intangíveis (escalas de 0 a 10, correspondendo à inexistência da característica e
10 ao máximo da sua expressão. As características estão apresentadas por
forma a que a maiores valores corresponda sempre um maior potencial de
indução de valor.).................................................................................................... 30
Tabela 5 – Métodos para avaliação dos activos intangíveis [Sveiby (2001)]............................ 45
Tabela 6 – Adição dos modelos de Lev (2000) e de Warschat, Wagner e Hauss (1999) à
tabela de Sveiby (2001) dos métodos para avaliação dos activos intangíveis............... 46
Tabela 7 – Oportunidades e riscos associados à medição do capital intelectual, segundo
Warschat et al (1999)............................................................................................... 49
Tabela 8 – Simplificação classificativa para a aferição da adequabilidade dos métodos
de avaliação dos activos intangíveis às empresas do conhecimento emergentes ......... 57
Tabela 9 – Adequabilidade dos métodos de avaliação da Propriedade Intelectual em
empresas do conhecimento emergentes ................................................................... 58
Tabela 10 – Adequabilidade dos métodos de avaliação dos Activos de Mercado em
empresas do conhecimento emergentes ................................................................... 58
Tabela 11 – Adequabilidade dos métodos de avaliação dos Activos de Infrastrutura em
empresas do conhecimento emergentes ................................................................... 59
Tabela 12 – Adequabilidade dos métodos de avaliação dos Activos Humanos em
empresas do conhecimento emergentes ................................................................... 59
Tabela 13 – Estudo Skills (1ª. Fase) – Tipificação dos promotores por factores ................... 77
Tabela 14 – Estudo Skills (2ª. Fase) – Quadro de análise da variável “Capacidades
Instrumentais”........................................................................................................ 79
Tabela 15 – Estudo Skills (2ª. Fase) – Relacionamento interpessoal..................................... 83
Tabela 16 – Estudo Skills (2ª. Fase) – Conclusão sobre o Relacionamento Interpessoal ....... 84
Tabela 17 – Estudo Skills (2ª. Fase) – Liderança.................................................................. 84
Tabela 18 – Estudo Skills (2ª. Fase) – Conclusão sobre a Liderança..................................... 85
Tabela 19 – Estudo Skills – Resumo das conclusões globais............................................... 86
Tabela 20 – Correlações entre os indicadores das capacidades instrumentais......................... 88
Tabela 21 – Correlações entre os indicadores das capacidades pessoais................................. 89
Tabela 22 – Correlações entre os indicadores das capacidades técnicas................................. 89
Tabela 23 – Correlações entre os indicadores das capacidades de gestão............................... 90
Tabela 24 – Correlações mais significativas entre os indicadores da capacidade
empreendedora ....................................................................................................... 91
Tabela 25 – Dimensões da capacidade empreendedora que mais influenciam a génese
dos activos intangíveis das empresas do conhecimento (análise tentativa)................. 95
Tabela 26 – Grandes variáveis e respectivas dimensões de análise da capacidade
empreendedora ....................................................................................................... 98
Tabela 27 – Estudo Skills – Indicadores da capacidade empreendedora............................ 124
- 6 -
Tabela 28 – Atribuição de classificações às respostas ao inquérito....................................... 125
Tabela 29 –Indicadores da capacidade empreendedora que passaram no teste T................. 126
Tabela 30 – Variáveis independentes – Classificação dos empreendedores segundo as 4
grandes variáveis da capacidade empreendedora (escala de –1 a 3).......................... 127
Tabela 31 – Variáveis dependentes – Valores assumidos pelas empresas segundo os 2
indicadores de desempenho escolhidos.................................................................. 129
Tabela 32 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 8 observações – Variáveis................. 135
Tabela 33 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 8 observações – Anova.................... 135
Tabela 34 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 8 observações – Coeficientes............ 136
Tabela 35 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 8 observações – Variáveis................. 136
Tabela 36 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 8 observações – Sumário do
modelo ................................................................................................................. 137
Tabela 37 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 8 observações – Anova.................... 137
Tabela 38 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 /8 observações – Coeficientes............. 137
Tabela 39 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 7 observações – Variáveis................. 139
Tabela 40 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 7 observações – Sumário do
modelo ................................................................................................................. 140
Tabela 41 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 7 observações – Anova.................... 140
Tabela 42 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 7 observações – Coeficientes............ 140
Tabela 43 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 7 observações – Variáveis................. 141
Tabela 44 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 7 observações – Sumário do
modelo ................................................................................................................. 141
Tabela 45 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 7 observações – Anova.................... 141
Tabela 46 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 /7 observações – Coeficientes............. 142
Tabela 47 – Indicadores das aptidões pessoais ................................................................... 149
- 7 -
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
A - TEMÁTICA E INTERESSE DA INVESTIGAÇÃO
A presente dissertação aborda o tema do empreendedorismo do conhecimento, numa
dupla vertente:
• O fenómeno do empreendedorismo em si mesmo, em particular no que respeita à
capacidade empreendedora dos indivíduos criadores de empresas do conhecimento,
e
• O valor das empresas do conhecimento na sua fase emergente, associado à
identificação e à avaliação dos seus activos intangíveis.
A análise e o estabelecimento de ligações, se possível relações causais, entre o processo
individual de criação de uma empresa do conhecimento e os activos intangíveis
associados ao ente colectivo que é a empresa do conhecimento constituem o desafio
motivador deste trabalho.
A passagem da esfera individual para a esfera do colectivo e do organizacional é um
fenómeno muito complexo e pouco estudado ao nível dos trabalhos académicos. No
entanto, uma melhor compreensão deste processo pode permitir a aproximação entre a
academia e o mundo empresarial, bem como um melhor nível de acompanhamento e
apoio aos empreendedores do conhecimento, e ainda uma maior capacidade de
adequação de expectativas de promotores de empresas do conhecimento e potenciais
investidores, tudo isto para benefício do conhecimento em geral e da competitividade
das economias em particular.
B - OBJECTIVOS DA INVESTIGAÇÃO
A investigação desenvolvida tem como principal objectivo o estabelecimento de
relações do tipo causal entre a manifestação da capacidade empreendedora em
indivíduos criadores de empresas do conhecimento e a existência, ou a importância,
dos activos intangíveis nas empresas do conhecimento por aqueles criadas e geridas,
durante a sua fase emergente.
Em termos genéricos, procura avançar-se no conhecimento de quais os indicadores, ou
as dimensões, da capacidade empreendedora dos empreendedores que poderão
influenciar mais fortemente a emergência dos diversos tipos de activos intangíveis nos
primeiros tempos de existência de uma empresa do conhecimento.
O estabelecimento da plausibilidade da existência de relações causais entre a
manifestação da capacidade empreendedora e a existência, ou a importância, dos
- 8 -
activos intangíveis nas empresas do conhecimento permitirá a abordagem destas, quer
em termos de política quer nas perspectivas da prestação de serviços especializados e
de investimento, através do enfoque nas características dos seus criadores e gestores,
habilitando designadamente ao desenho de acções formativas e ao estabelecimento de
metodologias específicas de avaliação mais adequadas às características específicas da
fase emergente das empresas do conhecimento.
Existe literatura, quer de origem académica quer proveniente da actividade de
consultoria, sobre a temática da classificação e da avaliação dos activos intangíveis das
empresas, nomeadamente as que podem ser classificadas como empresas do
conhecimento. Existem igualmente diversos métodos e metodologias para efectuar
essa mesma avaliação. Existem ainda trabalhos vários versando o tema do
empreendedorismo, tendo o CPIN – Centro Promotor de Inovação e Negócios, de
que o autor da presente dissertação é director geral desde o final de 1999, vindo a
desenvolver intenso trabalho de investigação sobre o tema concreto da avaliação da
capacidade empreendedora.
O estabelecimento de relações entre estes dois aspectos do empreendedorismo do
conhecimento, bem como sobre as formas de avaliar os activos intangíveis das
empresas do conhecimento nos seus primeiros tempos de vida, não são no entanto
objecto usual da literatura, podendo mesmo afirmar-se que existe um relativo vazio de
conhecimento, pelo menos traduzido de forma explícita, sobre o processo de passagem
da esfera pessoal para a esfera colectiva e organizacional, que se opera sempre que um
indivíduo, ou um conjunto de indivíduos, decidem pôr em marcha um novo projecto
empresarial.
C - INTERESSE DA INVESTIGAÇÃO E DO SEU TEMA
A questão abordada pela presente investigação, bem como as conclusões que da
mesma resultam, são relevantes:
• Em termos académicos, designadamente porque:
o Constitui um contributo para as ciências económicas e sociais;
o Representa um avanço no domínio da gestão do conhecimento e, em particular,
da tecnologia;
o Poderá abrir o caminho para a realização de estudos futuros, tanto em termos de
análises sectoriais mais finas como de trabalhos contemplando amostras mais
alargadas, e ainda no desenho de metodologias para a avaliação de activos
intangíveis em empresas do conhecimento emergentes.3
3
Esta é alias uma das linhas de investigação mais comummente indicadas na literatura. A este respeito, veja-se por
exemplo Eustace (1999), páginas 44-45.
- 9 -
• Em termos práticos, designadamente porque:
o A crescente relevância das empresas do conhecimento nas economias e nas
políticas de desenvolvimento determina a necessidade de prestar maior atenção
aos seus aspectos específicos e às mudanças que a consideração dos activos
intangíveis induz nas estratégias empresariais, contabilísticas e de investimento;
o A volatilidade dos mercados de investimento nas empresas de grande
intensidade tecnológica, e a insegurança à mesma associada, determinam o
interesse no aprofundamento do conhecimento sobre o processo de geração e
consolidação dos activos intangíveis nas empresas do conhecimento;
o A melhor compreensão do processo de passagem da esfera individual para a
esfera colectiva e organizacional permitirá o desenho de instrumentos e
ferramentas dirigidos à supressão de lacunas detectadas ao nível da capacidade
empreendedora dos indivíduos, contribuindo assim para aumentar o seu
potencial de sucesso e a futura valorização dos activos intangíveis das empresas
por eles criadas o que, por seu turno, induzirá efeitos benéficos na
competitividade das empresas e no desempenho económico em geral;
o Os baixos níveis de competências normalmente encontrados nos
empreendedores do conhecimento nos domínios ligados aos aspectos
económico, financeiro e de gestão abre espaço para a criação e a aplicação de
ferramentas que permitam prestar assistência e intermediar processos de
financiamento e investimento em empresas do conhecimento emergentes;
o Um melhor conhecimento mútuo e um maior nível de interacção entre os
diversos agentes financeiros e os empreendedores do conhecimento facilitarão a
criação e a sustentação de redes de capital, as quais podem ser consideradas
como instrumentos de alavancagem para o potencial de sucesso do
empreendedorismo do conhecimento.
D - ORGANIZAÇÃO DO DOCUMENTO
Este documento de dissertação encontra-se estruturado da seguinte forma:
Após a presente parte introdutória, procede-se ao enquadramento teórico do tema
objecto de investigação, começando pela abordagem aos activos intangíveis:
Definição, sua importância e aspectos relacionados com as respectivas características
económicas. Ainda no tratamento do tema dos activos intangíveis, aborda-se a sua
taxonomia e a relação entre esta e o comportamento económico dos intangíveis, após
o que se entra na questão da medição dos activos intangíveis e, de seguida, nos
aspectos particulares dos mesmos no caso das empresas do conhecimento emergentes,
o que envolve uma análise do fenómeno do empreendedorismo.
- 10 -
Feita a abordagem teórica, o documento apresenta o estado actual da investigação
teórica e empírica desenvolvida pelo CPIN no domínio da caracterização da
capacidade empreendedora e sua avaliação, a qual serve de base, em conjunto com a
abordagem teórica aos activos intangíveis, para as análises subsequentes.
A parte seguinte da dissertação procura estabelecer uma ligação entre a capacidade
empreendedora dos indivíduos e os activos intangíveis das empresas do conhecimento
na sua fase emergente. Na ausência de referências versando concretamente este
aspecto do empreendedorismo e, em simultâneo, do tema dos activos intangíveis, a
análise efectuada nesta parte do trabalho assume características mais prospectivas,
reflectindo a opinião do autor, embora baseando-se quer nos conhecimentos
recolhidos para a elaboração deste documento quer os que resultam da sua própria
prática profissional.
O documento aborda em seguida o trabalho empírico desenvolvido para procurar
responder à questão subjacente ao tema desta dissertação, isto é, qual a relação entre a
capacidade empreendedora dos indivíduos e os activos intangíveis das empresas do
conhecimento emergentes por aqueles criadas, quer em termos da sua própria
existência quer do respectivo valor, utilizando-se como medida o desempenho das
referidas empresas, assumindo-se que este se encontra intimamente ligado aos activos
intangíveis na fase emergente das empresas do conhecimento.
Apresenta-se a metodologia utilizada na investigação, bem como a estratégia à mesma
subjacente, após o que se procede à caracterização da amostra utilizada para a análise
empírica.
Em seguida, apresenta-se e justifica-se a escolha das variáveis utilizadas na análise
empírica, após o que se formalizam as Hipóteses de investigação. Efectua-se depois a
discussão dos principais riscos de enviesamento associados à análise efectuada, após o
que se apresentam os resultados da mesma.
Passa-se então à discussão dos resultados obtidos e traçam-se conclusões em resultado
de todo o processo de investigação realizado, após o que se apontam possíveis
caminhos de investigação futura.
O documento termina, naturalmente, com as referências bibliográficas utilizadas na
investigação.
- 11 -
CAPÍTULO 2 - ENQUADRAMENTO TEÓRICO
A - ACTIVOS INTANGÍVEIS
O que são
O Dicionário On-line de Língua Portuguesa Porto Editora (2000) define:
• “ACTIVO” de uma empresa como “todos os valores que uma empresa possui ou
tem a receber”;
• “INTANGÍVEL” como sendo algo “que não é tangível, (...), inatingível,
inapalpável” (por contraposição, “TANGÍVEL” é definido como algo “que se
pode tanger, tocar ou apalpar, sensível, palpável”).
A partir destes sinónimos, poderemos definir “activo intangível” de uma empresa
como todo e qualquer valor que esta possui e que não se pode tocar, atingir ou apalpar.
Esta definição, embora simplista e não técnica, traduz bem as características distintivas
fundamentais que distinguem os activos intangíveis de uma empresa dos seus restantes
valores. Estes últimos podem normalmente ser divididos em activos físicos
(corpóreos) e financeiros (incorpóreos), figurando de forma explícita nos balanços das
empresas e organizações, de acordo com os Planos de Contabilidade em uso na
generalidade dos países do mundo.
Edvinsson e Arne (1999) definem “activo intangível” (ou “activo oculto”) como
“Um activo que não é visível num balanço contabilístico tradicional mas que apesar disso acrescenta
valor à empresa. O capital intelectual contém activos intangíveis”4
Lev (2000) refere que um activo representa um direito a receber benefícios futuros,
correspondendo os activos intangíveis aqueles direitos (a receber benefícios futuros)
que não têm uma expressão física (um terreno, um edifício ou um equipamento) ou
financeira (uma acção ou uma obrigação).
Sendo relativamente fácil de excluir um determinado activo da categoria dos activos
intangíveis (bastando para tal utilizar o critério acima indicado), menos fácil será
caracterizar em concreto, e de forma universalmente indiscutível, os activos intangíveis.
Exemplos podem no entanto ser dados de activos intangíveis, como sejam marcas
registadas, patentes, uma forma organizacional única ou ainda uma base de dados de
clientes.
4
Tradução livre.
- 12 -
Segundo Eustace (2000), no relatório do HLEG - European High Level Expert Group on
the Intangible Economy, 5 persistem ainda grandes áreas de ambiguidade relativamente ao
enquadramento conceptual dos activos intangíveis. Uma das razões apontadas para tal
nível de indefinição reside nas diferentes perspectivas dos diversos grupos de interesse
(por exemplo, os que tratam dos aspectos contabilísticos e os que lidam com medição
da riqueza e do bem-estar dos países).
Vários autores assimilam a expressão “activos intangíveis” a outras designações. Para
além da equivalência já referenciada de Edvinsson e Arne (1999) à expressão “activos
ocultos”, Lev (2000), por seu turno, referencia os termos “knowledge assets” (activos do
conhecimento), utilizado sobretudo por economistas, “intellectual capital” (capital
intelectual),6 ao qual recorrem as literaturas jurídica e de gestão, ou mesmo apenas
“intangibles” (intangíveis), no jargão contabilístico. Esta equivalência releva um dos
elementos essenciais dos activos intangíveis: A sua íntima ligação ao uso do intelecto,
materializado através do conhecimento.
O conceito de “conhecer” conduz a ideias como “saber”, “avaliar” e “distinguir”. 7 De
facto, em termos de gestão empresarial (e das organizações em geral), a informação,
por si só, tem um valor muito baixo, tendendo mesmo a transformar-se numa
“commodity”. 8 Já o conhecimento corresponde à essência de todos os valores intangíveis
de uma empresa, de uma organização ou mesmo de um indivíduo. David Skyrme
(1994, p. única) afirma:
“Ao contrário da informação, o conhecimento é menos tangível e depende da capacidade humana de
percepção e consciencialização. Existem vários tipos de conhecimento – ‘conhecer’ um facto é
ligeiramente diferente de ‘informação’, mas ‘conhecer’ uma habilidade, ou ‘conhecer’ que algo poderá
afectar as condições do mercado, é algo que, apesar das tentativas dos engenheiros do conhecimento
para codificar este tipo de conhecimento, possui uma importante dimensão humana”. 9
Barabba e Zaltman (1990)10 propuseram uma hierarquia que se inicia nos “dados”
(números, palavras), a mais baixa categoria, passando por “informação” (frases,
composições), “inteligência” (regras), “conhecimento” (combinação dos níveis
inferiores) e culminando na “sabedoria” (combinação de bases de conhecimento).
Como é natural, ao nível mais elevado da hierarquia correspondem uma maior escassez
e um maior valor específico.
5
O HLEG foi composto por Patrízio Bianchi, Lawrence J. Cohen, Leif Edvinsson, Reinhold Enqvist, Simon Fidler,
Baruch Lev, Kurt P. Ramin, Thomas E. Volmann e Stefano Zambon.
6
De notar que Edvinsson e Arne (1999) referem, na sua definição de “activo intangível” já referida, que “o capital
intelectual contém activos intangíveis” o que, não sendo contraditório com a equivalência feita por Lev, não deixa de não
ser exactamente a mesma coisa.
7
Dicionário On-line de Língua Portuguesa Porto Editora (2000)
8
Shapiro e Varian (1999)
9
Tradução livre.
10
Citado por Sveiby (1994)
- 13 -
Ashleigh Brilliant11 ilustra, a este propósito:
“Sei que você acredita ter compreendido o que pensa que eu disse – mas não tenho a certeza de que
o que você ouviu seja realmente o que eu quis dizer!” 12
Concordantemente, Nonaka and Takeuchi13 referem:
“ … informação é um fluxo de mensagens, enquanto que o conhecimento resulta desse mesmo fluxo
de informação, ancorado nas convicções e nos comprometimentos do seu detentor. Isto ... enfatiza o
facto de o conhecimento se encontrar relacionado de forma essencial com a acção humana”.14
Miller (2000) sintetiza a diferença entre informação e conhecimento da seguinte forma:
Informação
Conhecimento
Estática
Dinâmico
Independente dos indivíduos
Dependente dos indivíduos
Explícita
Tácito
Digital
Analógico
Facilmente duplicável
Tem de ser gerado
Facilmente difundível
Difundível essencialmente por contacto
ponto a ponto
Sem significado intrínseco
Significado tem de ser atribuído
pessoalmente
Tabela 1 – Diferenças entre Informação e Conhecimento, segundo
Miller (2000)
Sumariando, os activos intangíveis de uma empresa correspondem aos seus valores não
palpáveis que conferem direito a receber benefícios futuros e que se encontram
intimamente associados ao conhecimento, decorrente da acção humana e do uso da
inteligência à mesma inerente. O conhecimento, por sua vez, corresponde ao
significado que cada indivíduo atribui à informação de que dispõe, encontrando-se o
seu valor associado à capacidade de agir que o mesmo lhe confere. A informação, em
si mesma, não possui valor intrínseco não correspondendo, portanto, a um activo
intangível.
11
Citado por Miller (2000)
12
Tradução livre.
13
Citados por Miller (2000), sem indicação de página.
14
Tradução livre.
- 14 -
A importância dos activos intangíveis
Lev (2000, p. 14) refere:
Numa recente audição da Comissão do senado para as actividades bancária, imobiliária e
urbanística, dedicada à “Adaptação do Modelo de apresentação de informação financeira ao Século
XXI”, 15 cada um dos cinco peritos que testemunharam referiu, em primeiro lugar, as ineficiências
da informação constante dos relatórios financeiros para o crescimento dos activos intangíveis e o
tratamento inadequado destes activos pelo sistema contabilístico tradicional. Foi argumentado que
os activos intangíveis ultrapassam os tangíveis na maior parte das empresas comerciais, tanto em
valor como em contribuição para o crescimento, embora sejam rotineiramente classificados como
despesas nos relatórios financeiros e, como tal, permaneçam ausentes dos balanços das empresas.
Este tratamento assimétrico, de capitalizar (considerar como activos) os investimentos físicos e
financeiros, enquanto se consideram como despesas os intangíveis, conduz ao enviesamento dos
relatórios referentes ao desempenho e ao valor das empresas.”16
O rácio “Market-to-Book” (M/B)17 é referido frequentemente como constituindo um
bom indicador da importância crescente dos activos intangíveis no valor das empresas,
em particular a partir do início da era dos computadores pessoais.
7
6
5
4
3
2
1
19
77
19
78
19
79
19
80
19
81
19
82
19
83
19
84
19
85
19
86
19
87
19
88
19
89
19
90
19
91
19
92
19
93
19
94
19
95
19
96
19
97
19
98
19
99
20
00
0
Figura 1 - Rácio médio “Market-to-Book” das empresas integradas no
índice S&P 500 [adaptada de Lev (2000)]
15 .
A audição teve lugar em 19 de Julho de 2000. Os peritos ouvidos foram (por ordem alfabética): Robert Elliott
(KPMG), Baruch Lev (New York University), Steve Samek (Arthur Andersen), Peter Wallison (American
Enterprise Institute), e Michael Young (Willkie Farr & Gallagher).
16
Tradução livre.
17
Relação entre a capitalização bolsista de uma empresa (o valor que lhe é atribuído pelo mercado, resultante do
produto entre a cotação das respectivas acções em bolsa e o número de acções representativas da totalidade do
capital social), e o seu valor constante do respectivo balanço.
- 15 -
Sendo inegável que as empresas sempre detiveram activos intangíveis (basta atentar na
definição encontrada anteriormente), a subida desenfreada que se verifica no rácio
M/B desde o início da década de oitenta18 resulta de uma conjugação única de factores,
associados às características da chamada nova economia:1920
• A intensificação da concorrência nos mercados, induzida pelos fenómenos da
globalização dos negócios e da desregulação em sectores económicos chave (por
exemplo telecomunicações, electricidade, transportes e serviços financeiros);
• O advento das tecnologias de informação (TI), cujo expoente máximo, e mais
recente, se encontra materializado na Internet
Shapiro e Varian (1999) referem que a dependência das TI nos sistemas conduz a que
as empresas têm não só de atender aos seus concorrentes mas igualmente aos seus
colaboradores. Referem ainda os mesmos Autores que aspectos como a cooperação e
a compatibilidade passaram a ser aspectos essenciais nas decisões de gestão.
As características da envolvente (externa e interna) das organizações conduzem a que o
conhecimento tenha ganho um valor estratégico acrescido, o que se reflecte nos
valores atingidos pelo rácio M/B.21 A importância da gestão das relações (clientes,
fornecedores, colaboradores, parceiros), bem como a interdisciplinaridade e a crescente
complexidade tecnológica (mais tecnologias em cada produto e mais produtos a partir
de cada tecnologia) conferem ao conhecimento, e à sua gestão, um papel primordial na
gestão empresarial.
Shapiro e Varian (1999) defendem que a principal mudança que diferencia a nova
economia é o facto de esta ser conduzida pelas economias, ou externalidades, de rede,
enquanto que a velha economia é conduzida pelas economias de escala. As economias
de rede são caracterizadas pela existência de feedbacks positivos, os quais conduzem a
situações do tipo “os fortes ficam cada vez mais fortes” e “os fracos ficam cada vez
mais fracos”, ou seja, à emergência de monopólios.
18
As quebras bolsistas ocorridas desde meados de 2000, primeiro nas cotações das empresas comummente
designadas por TMT (Tecnológicas, Media e Telecomunicações) e depois na generalidade dos mercados,
induziram uma desvalorização do índice S&P 500, entre Março de 2000 e Junho de 2002, de cerca de 35%. Esta
quebra, embora muito significativa, não invalida o raciocínio apresentado. Na falta de dados recentes do rácio
M/B relativamente ao índice S&P500, admitindo que os activos tangíveis das empresas cotadas terão subido
(novos investimentos – depreciação) em média, neste período, entre 5% e 10%, o rácio M/B em meados de 2002
para o índice S&P500 será ainda de aproximadamente 3.5 a 3.8, ou seja, o valor de 1997/1998. Para uma análise
mais completa da evolução do índice S&P 500 consultar http://www.spglobal.com.
19
Lev (2000)
20
Amaral e Pedro (2002) confirmam a evolução indicada por Lev mostrando que, entre 1991 e 1999, o rácio médio
M/B da BVLP se multiplicou por um factor de 3. Uma actualização do rácio para meados de 2002, seguindo os
mesmos critérios, conduziria a um valor, para as empresas cotadas na bolsa portuguesa, na ordem de 2 a 2.2 vezes
o de 1991 o que, representando um desempenho inferior, ainda assim é consistente com o observado e estimado
para o índice S&P500.
21
Lev (2000), citando Hall (2000), refere que, mesmo descontando o facto de os balanços das empresas
evidenciarem os custos históricos, a substituição destes pelos custos de substituição (dos activos tangíveis
constantes dos balanços) conduziria a um valor dos activos intangíveis cerca de três vezes superior ao dos activos
físicos.
- 16 -
No entanto, Shapiro e Varian argumentam que os monopólios da nova economia
tendem a ser de menor duração, assistindo-se a uma constante luta pelo domínio do
mercado e a uma rápida obsolescência das tecnologias, substituídas por novas vagas de
tecnologias superiores.
Estes dois Autores caracterizam melhor as externalidades de rede, induzidas pela
existência de feedbacks positivos, como correspondendo a economias de escala do
lado da procura, enquanto que as economias de escala clássicas da era industrial (a
velha economia) poderão ser caracterizadas como economias de escala do lado da
oferta.
Summers (2000) afirmou sobre a nova economia:
“Os produtos são avaliados cada vez mais pelo conhecimento nos mesmos incorporado e menos pelo
sua constituição material.22
Num mundo baseado na informação, a maioria dos bens que são produzidos terá características
semelhantes às dos fármacos, livros ou discos, ao envolverem avultados custos fixos e muito menores
custos marginais. E num mundo assim os efeitos de rede manifestar-se-ão muito mais. Pense-se
num aparelho de fax isolado; é um bocado de metal que pode bem ser mais útil para segurar uma
porta. Agora pense-se em 100.000 aparelhos de fax, isso representa 10 mil milhões de possíveis
ligações.” 23
Aquilo que é importante reter das diferenças entre nova e velha economia é
essencialmente a importância das dinâmicas de rede, sejam estas reais ou virtuais (como
por exemplo a rede dos utilizadores de software Microsoft). Em tudo o mais a nova
economia rege-se pelos mesmos princípios da velha. 24
E nem sequer as dinâmicas de rede são algo de verdadeiramente novo. Existem
diversos casos de redes na velha economia, como por exemplo as redes de
fornecimento de energia eléctrica, gás ou água, bem como as redes de transportes. E
as já referidas dinâmicas de rede também estão ali presentes.
O surgimento da informação como elemento com relevância económica25 conferiu às
redes uma nova importância, porquanto permitiu o aparecimento explosivo de redes já
não suportadas numa infra-estrutura física.
Hoje as redes sustentam-se essencialmente em informação e conhecimento, sendo cada
vez menos importante o suporte físico que permite a existência dos respectivos fluxos,
crescentemente mais pesados e mais rápidos. Não será talvez por acaso que assistimos
actualmente a uma convergência de interesses entre tecnologias de informação,
22
Citação de Alan Greenspan, Presidente da Federal Reserve dos EUA.
23
Tradução livre.
24
Como se verá mais adiante, as diferenças que caracterizam o comportamento económico dos activos intangíveis,
nos quais a chamada “nova economia” se sustenta, vão para além da manifestação das externalidades de rede (Lev
[2000]), embora estas se encontrem quase omnipresentemente associadas aqueles.
25
Aliás, como se viu, do conhecimento associado ao seu uso real ou potencial.
- 17 -
comunicações e produção de conteúdos: São os ingredientes necessários para
sustentar e desenvolver o conhecimento em que se concentra cada vez mais o valor da
actividade económica, e a Internet veio dar-lhes o espaço adequado para a sua
implantação e expansão.
A relevância do conhecimento e o seu crescente valor económico são pois os
elementos que conferem às redes a importância que adquiriram na nova economia.
Estas alterações conduzem obrigatoriamente à necessidade de adopção de novos
paradigmas, designadamente em termos de mercado e de modelos organizacionais.
Skyrme (1997a) sistematiza as principais razões pelas quais o valor do conhecimento
(ou seja, os activos intangíveis) se tornaram tão importantes para a economia nos
últimos anos:
“O nível de interesse tem vindo a crescer nos tempos mais recentes. [...] A nossa análise indicia três
razões26 para que o nível de interesse tenha crescido tanto nos últimos anos:
•
As iniciativas existentes são de alcance limitado – A Gestão da Qualidade
Total (TQM), a Reengenharia dos Processos de Negócio (BPR) e iniciativas similares
ajudaram as organizações a conseguir ganhos de eficiência naquilo que fazem. Mas quantas
dessas iniciativas conseguiram verdadeiramente retirar o máximo do talento de uma empresa
e ajudá-la a diferenciar-se no mercado?
•
O conhecimento pode induzir um acréscimo dos preços no mercado –
O conhecimento aplicado pode desenvolver o valor (e assim o preço) de produtos e serviços.
Exemplos são a ‘broca inteligente’, que aprende a extrair mais petróleo do furo, e a cadeia
de hotéis que conhece as preferências pessoais e lhes concedem um serviço personalizado.
•
Prevenção de erros custosos – Ao reterem conhecimento as organizações emagrecem
ou reestruturam-se, as organizações conseguem evitar erros custosos ou ‘reinventar a roda’.
•
Partilha de boas práticas – As empresas poupam milhões por ano ao extraírem
conhecimento dos melhores, aplicando-o em situações similares noutro local.
•
Inovação bem sucedida – As empresas, ao aplicarem métodos de gestão do
conhecimento, descobriram que os seus desenvolvimentos, tais como a Internet, tornam a
‘cidade global’ ainda mais pequena.
Estes e outros benefícios, tais como o serviço ao cliente melhorado, a resolução mais rápida de
problemas e uma mais célere adaptação às mutações do mercado, resultaram de um enfoque no
conhecimento da organização”. 27
Sveiby (1997) distingue a s partes “visível” e “invisível” do balanço de uma Organização
do Conhecimento, 28 referindo que a parte tangível/visível corresponde ao balanço
26
Skyrme refere, no texto, três razões mas apresenta de facto cinco. Por fidelidade de reprodução, não se corrigiu o
lapso do texto na tradução.
27
Tradução livre.
- 18 -
anual “normal” da organização, evidenciando os activos tangíveis e a forma como os
mesmos são financiados.
Activos
tangíveis
Financiamento
Visível
Disponibilidades
Dívidas de curto prazo
Créditos sobre terceiros
Dívidas de médio e longo prazo
Activos físicos
(equipamentos e espaços)
Capital social visível
Estrutura externa
Capital social (financiamento dos
Accionistas) invisível
Estrutura interna
Competências do pessoal
Obrigações
Activos
intangíveis
Financiamento
Invisível
Figura 2 – O balanço de uma Organização do Conhecimento, neste caso
o balanço da Morgan & Banks em 31 de Março de 1996 [adaptado de
Sveiby (1997)]
Sveiby refere que:
• Os activos intangíveis não são muito líquidos e, ao contrário dos activos fixos, são
ao mesmo tempo detidos e não detidos pela organização. O modelo de simulação
considera três tipos de activos intangíveis: A Estrutura externa, a Estrutura
interna e a Competência do pessoal.
• A contrapartida dos activos intangíveis do lado do financiamento é, em grande
parte, constituída por Capital social29 invisível. Uma vez que a banca não se
mostra disponível a financiar investimentos em activos intangíveis, a maior parte do
desenvolvimento do negócio é auto-financiada.
• Existem poucas máquinas para além dos empregados, o pessoal chave. Os
engenheiros investigadores, os programadores e os consultores são as “máquinas”
de uma Organização do Conhecimento. Os colaboradores constituem portanto a
Competência para resolver problemas.
28
Este Autor concentra-se essencialmente em organizações de serviços. Numa Organizações do Conhecimento
com componente industrial o balanço seria diferente, existindo mais componentes tangíveis. No entanto, a base
do raciocínio de Sveiby seria igualmente válida.
29
Ou seja, financiamento dos Accionistas.
- 19 -
• A Competência do pessoal não é evidentemente propriedade da organização, uma
vez que o pessoal é constituído por membros voluntários da mesma. No entanto,
existe um laço de lealdade entre o pessoal e a organização, criado pela ética e pela
cultura, que age como uma “cola”. A competência, portanto, também tem um
valor para a organização, mesmo não sendo por si detida no sentido comum.
• Esta obrigação não é registada nos livros mas não deixa de ser uma certa espécie de
Obrigação. Poderá ser assimilada à obrigação inerente a um contrato de aluguer.
Esta obrigação não paga é igualmente parte do financiamento invisível.
As Características Económicas dos Activos Intangíveis30
Segundo Lev (2000), os activos intangíveis apresentam características económicas
específicas, que ditam a sua diferenciação fundamental relativamente aos activos
tangíveis e contribuem para a dificuldade na sua adequada contabilização.
As características económicas distintivas dos activos intangíveis são:
• A não rivalidade, 31 ou seja, o facto de que um determinado uso de um activo
intangível não impede, ou prejudica, a concorrência de outros usos.
Lev exemplifica com o Web Site da Amazon.com, cuja utilização pelo cliente A não
impede, ou prejudica, a sua utilização em simultâneo pelo cliente B.
Lev refere que a característica de não rivalidade representa um importante indutor
de valor dos activos intangíveis, indicando que este potencial de geração de valor,
várias vezes referenciado como escalabilidade dos intangíveis, se encontra limitado
apenas pela dimensão do mercado. Comenta-se no entanto que a utilização de
muitos activos intangíveis, designadamente o apontado por Lev como exemplo,
pode estar limitada abaixo da dimensão do mercado, devido a limitações de acesso –
neste caso por exemplo de largura de banda ou de capacidade de processamento,
como ficou claramente demonstrado em ataques ocorridos em 2000 a diversos
portais Web norte-americanos – sendo certo que estas limitações poderão estar
normalmente associadas ao grau de rivalidade inerente aos activos tangíveis que
constituem plataformas tecnológicas para a utilização dos activos intangíveis, e não
a estes últimos em si mesmos...
Ao contrário, os activos tangíveis apresentam a característica da rivalidade, a qual
conduz ao impedimento da ocorrência de usos concorrentes do mesmo activo, o
que restringe significativamente a sua escalabilidade. Os benefícios crescentes que
caracterizam alguns intangíveis potenciam ainda mais a sua escalabilidade
• Os efeitos de rede são, segundo Lev, um cunho das indústrias32 de tecnologias de
informação avançadas. Apesar de as externalidades de rede existirem em várias
30
Este ponto é essencialmente baseado em Lev (2000).
31
“Nonrivalry” em inglês.
32
O termo “indústria” é aqui entendido no sentido lato.
- 20 -
indústrias envolvendo activos tangíveis significativos, aquelas tornam-se
proeminentes em sectores tecnológicos e de base científica, devido às mudanças
fundamentais na natureza das corporações – menos dependentes da integração
vertical, mas mais dependentes das redes de competências (empregados, clientes,
fornecedores...) – e às quebras dramáticas dos custos das comunicações (o que
facilita o “networking”).
Lev refere ainda que as redes são cada vez mais caracterizadas por intangíveis
relacionados com os produtos (produtos/serviços únicos, protegidos por
propriedade intelectual) no seu núcleo , e intangíveis associados às alianças na sua
periferia.
Lev salienta que os efeitos de rede, consequentemente, são
frequentemente indissociáveis dos activos intangíveis. Comenta-se a este propósito,
concordantemente, que, encontrando-se os activos intangíveis indelevelmente
associados ao conhecimento, e correspondendo este por sua vez, como se referiu
anteriormente, ao significado que cada indivíduo atribui à informação de que
dispõe, encontrando-se o seu valor associado à capacidade de agir que o mesmo lhe
confere, facilmente se compreenderá o carácter quase universal dos efeitos de rede
nos activos intangíveis.
• A excludabilidade parcial33 e o efeito de espalhamento, 34 nos quais os
intangíveis diferem dos activos físicos e financeiros, devido à dificuldade dos
detentores dos intangíveis em excluir terceiros do pleno usufruto dos seus
investimentos. Lev salienta que os não proprietários raramente podem ser
impedidos por completo da partilha dos benefícios dos intangíveis. Esta não
excludabilidade, mesmo quando parcial, conduz à ocorrência de efeitos de
espalhamento, ou seja, benefícios para os não proprietários, e incapacidade do
exercício de controle efectivo, no sentido legal do termo, sobre a maioria dos
intangíveis.
Esta incapacidade, por sua vez, induz desafios únicos e significativos para a gestão e
a elaboração de relatórios relativos aos activos intangíveis, o que conduz à
ocorrência de uma constante tensão entre o potencial de criação de valor deste tipo
de activos (escalabilidade) e a dificuldade em não defraudar expectativas quanto à
total apropriação dos respectivos benefícios.
• O risco intrínseco aos intangíveis, decorrente do facto de, geralmente, o
investimento neste tipo de activos ser intenso nas fases iniciais (de descoberta) do
processo de inovação. Lev realça que é nestas fases que o risco inerente a o sucesso
tecnológico e comercial das inovações é mais elevado. Consequentemente, o nível
de risco associado aos intangíveis é, normalmente, bastante superior ao associado à
maioria dos activos físicos ou financeiros.
33
O termo “excludabilidade” não consta do Dicionário On-line da Língua Portuguesa (2000), utilizado como
referência neste trabalho. No entanto, entendeu-se dever traduzir o termo “excludability” desta forma, uma vez
que o termo “excluir” provém, segundo a mesma referência, do termo latino “excludâre”.
34
“Spillovers” em inglês.
- 21 -
• A dificuldade de transacção dos activos intangíveis decorre designadamente da
nebulosidade dos direitos legais de propriedade, da dificuldade de previsão
contratual abrangente de todas as eventualidades e da estrutura de custos dos
intangíveis (elevados custos afundados e custos marginais negligenciáveis), o que
conduz à volatilidade dos preços.
Lev referencia que, em conformidade, não existem actualmente mercados
organizados activos para os intangíveis, embora tal possa vir a modificar-se com o
advento das trocas através da Internet (o que virá a requerer mecanismos
facilitadores específicos, tais como sistemas de avaliação e securização).
As trocas privadas de intangíveis sob a forma de licenças e alianças proliferam, na
opinião de Lev, embora não proporcionem a informação essencial para a medição e
a avaliação dos intangíveis.
Lev apresenta, de forma esquemática, o conjunto de características económicas
determinantes dos activos intangíveis, através da seguinte ilustração:
Indutores de Valor
Inibidores de Valor
Excludabilidade Parcial
• Espalhamento
• Direitos de Propriedades Difusos
• Benefícios Privados vs. Sociais
Escalabilidade
• Não Rivalidade
• Benefícios Crescentes
Risco Intrínseco
vs.
Efeitos de Rede
• Feedback positivo
• Externalidades de Rede
• Estabelecimento de Standards
• Custos Afundados
• Destruição Criativa
• Partilha do Risco
Transacção Difícil
• Problemas Contratuais
• Custos Marginais reduzidos
• Informação Assimétrica
,
Figura 3 – As características económicas determinantes dos Activos
Intangíveis [Lev (2000)]
B - TAXONOMIA DOS ACTIVOS INTANGÍVEIS
As propostas dos Autores
A crescente importância dos activos intangíveis nas empresas e na economia em geral,
que ganhou incomportável relevância desde o início da década de 1980, levou a que
consultores e académicos começassem a debruçar-se sobre o tema da sua classificação,
em particular na perspectiva da respectiva avaliação.
- 22 -
Skyrme (1997b) evidencia esta necessidade, afirmando:
“Verifica-se um criticismo crescente relativamente aos balanços por estes não terem em conta esses
factores intangíveis que determinam em grande medida o valor de uma empresa e as suas
perspectivas de crescimento. Os activos ‘não reportados’ correspondem em média a várias vezes os
tangíveis. Em Junho de 1997, o rácio M/B relativo à totalidade das empresas listadas no Dow
Jones Industrial era de 5,3, enquanto que em muitas empresas intensivas em conhecimento (por
exemplo Microsoft, companhias farmacêuticas), chegava a ultrapassar a dezena. As empresas que
estão a começar a medir estes activos intangíveis enumeram várias razões para o fazer:
•
Reflecte com mais verdade o valor real da empresa
•
As exigências são crescentes para a efectiva governância dos intangíveis, sendo já evidente a
necessidade de prestação de informação relativa aos aspectos sociais e ambientais.
•
‘O que pode ser medido pode ser gerido’ – de onde um enfoque na protecção e no crescimento
dos activos que reflectem valor
•
Sustenta um objectivo da corporação para o aumento do valor para os accionistas
•
Permite a prestação de informações mais úteis para os investidores existentes e potenciais.
Verifica-se pois um interesse crescente em relação à forma como as empresas medem os seus activos
intangíveis, incluindo os activos intelectuais. Enquanto que a classe dos contabilistas ainda discute
a forma como esses activos deveriam ser reportados, existe um conjunto de empresas pioneiras que já
desenvolveram formas apropriadas de os medir e usam-nas na sua definição de objectivos e nas
práticas de gestão”.35
Karl-Erik Sveiby terá sido um dos primeiros Autores a debruçar-se sobre este
problema,36 revelando inclusivamente como “descobriu” a “Organização do
Conhecimento”, 37 através do relato de situações em que se viu envolvido e que o
levaram a questionar as suas convicções, de tal modo que afirma:
“Portanto, quando eu cheguei fui atingido por um rude choque cultural. Nada do que tinha
aprendido na universidade, ou durante os meus seis anos como gestor na Unilever, me tinham
preparado para uma situação como esta”.38
A frase contida no excerto de Skyrme (1997b), acima, "O que pode ser medido pode ser
gerido", resume bem a necessidade que desde o primeiro momento foi sentida de
classificar e medir – para poder gerir – os activos intangíveis nas organizações e, em
particular, nas empresas.
35
Tradução livre.
36
Skyrme (1999).
37
Sveiby (1994).
38
Tradução livre.
- 23 -
No percurso do conhecimento para chegar à capacidade de determinar o valor dos
activos intangíveis das organizações, o caminho passa por conseguir uma classificação
para os mesmos, ou seja, chegar a uma taxonomia.
Um primeiro passo nesse sentido pode ser encontrado em Sveiby (1994), que apresenta
uma classificação sintética do pessoal numa Organização do Conhecimento:
Conhecimento Profissional
+
-
Os Profissionais
O Líder
O Pessoal
Administrativo e
Contabilístico
O Gestor
+
Conhecimento Organizacional
Figura 4 – Quatro categorias do pessoal das Organizações do
Conhecimento [Sveiby (1994)]
Eustace (2000) apresenta uma visão mais completa dos activos de uma empresa,
separando os activos intangíveis em dois grandes grupos:
ACTIVOS
TANGÍVEIS
Activos físicos
Imóveis
Equipamento
Existências
Outros
Activos financeiros
Disponibilidades
Créditos – clientes,
hipotecas, cartões de
crédito, etc.
Investimentos
Garantias
BENS
INTANGÍVEIS
Contratos de fornecimento
Licenças
Quotas
Franquias
COMPETÊNCIAS
INTANGÍVEIS
Competências intangíveis
Competências de inovação
Competências estruturais
Competências de mercado
Recursos humanos
Mercadorias intangíveis
Obras protegidas por
direitos de autor ou patentes
Outros direitos de
Propriedade intelectual
Marcas registadas
Design e know-how
Segredos comerciais
Figura 5 – Taxonomia dos activos de uma empresa, segundo o HLEG
Group [Eustace (2000)]
• Os “bens intangíveis”, constituídos pelo conjunto de activos intangíveis sobre os
quais a empresa detém indiscutíveis direitos de propriedade;
- 24 -
• As “competências intangíveis”, constituídas pelos activos intangíveis sobre os quais
a empresa não detém direitos proprietários indiscutíveis.
Kaplan & Norton (1996)39 sugere uma abordagem de análise dos activos intangíveis
segundo vários enfoques, conforme se evidencia na Figura 6:
Quadro de equilíbrios dos Activos Intangíveis
Abordagem Financeira
Abordagem do Cliente
Abordagem do Processo
Abordagem da Aprendizagem
Figura 6 – Abordagem dos Activos Intangíveis proposta por Kaplan &
Norton (1996), referido em Sveiby (1998)
Lev (2000) classifica os factores que, induzidos pela intensificação da competição,
determinam as mudanças corporativas fundamentais:
Competição Acrescida
Induzida por Globalização, Desregulação, Mudança Tecnológica
Mudança Corporativa Fundamental
Ênfase em Inovação, Desverticalização, Uso Intensivo das TI
Intangíveis
Relacionados com a Inovação
Intangíveis
dos Recursos Humanos
Intangíveis
Organizacionais
Figura 7 – Classificação dos Activos intangíveis
[Lev (2000)]
Sveiby (1998) apresenta igualmente a sua proposta de taxonomia dos activos
intangíveis das empresas, assentando a mesma na divisão em activos relativos à
estrutura externa, à estrutura interna e às competências dos indivíduos.
Activos da Organização
Activos tangíveis
Activos intangíveis
Relativos à
Estrutura Externa
Relativos à
Estrutura Interna
Relativos às
Competências dos Indivíduos
Figura 8 – Taxonomia dos activos intangíveis
[Sveiby (1998)]
De notar que, nesta proposta de Sveiby, a questão dos direitos proprietários não surge
em primeiro plano.
Na linha da proposta de Sveiby, mas de uma forma mais elaborada, Edvinsson e
Malone (1997) sugerem a seguinte taxonomia:
39
Referido em Sveiby (1998)
- 25 -
Activos da organização
Activos tangíveis
Capital intelectual
Capital humano
Capital estrutural
Base de mercado
Capital organizacional
Capital de processo
Capital de inovação
Figura 9 – Taxonomia dos activos intangíveis, segundo Edvinsson e
Malone (1997) [in Edvinsson e Richtner (1999)]
Warschat et al (1999) sugerem uma taxonomia não muito distante das anteriores:
Capital Intelectual
Capital Humano
- Competências
- Atitudes
- Liderança e
desenvolvimento
Capital Organizacional
-
Processos
Infrastrutura
Cultura
Gestão
Capital de Mercado
Capital de Inovação
- Rel. c/ clientes
- Rel. C/ forneced.
- Compet. De merc.
- Outras relações
- Desenvolv. de
processos
- Prod./Serviços
- Tecnologias
Figura 10 – Taxonomia dos activos intangíveis, segundo Warschat et al
(1999)
Os mesmos Autores procuram evidenciar como os vários tipos de activos intangíveis
se articulam e interagem, de uma forma dinâmica, no processo de geração de valor de
uma empresa:
Capital Organizacional
Ca
pita
l de
Ino
vaç
ão
Ca
pita
l de
M
erc
ado
Capital Humano
Ca
pita
l de
Me
rca
do
Capital Humano
Capital Organizacional
Figura 11 – As interacções entre as diferentes categorias de Capital
Intelectual, segundo Warschat et al (1999)
- 26 -
A taxonomia de activos intangíveis proposta pelo Technology Broker segue também
uma via não muito distante:
Activos Intangíveis
Activos de Infrastrutura
-
Filosofia de gestão
Cultura corporativa
Proc. de gestão
Proc. de negócio
Impacto dos
sist. de informação
- Relações externas
- Networking
- Cumprimento de
standards
Activos de Mercado
-
Marcas
Posicionamento
Base de clientes
Nome da empresa
Canais distrib.
Acordos e licenças
Contratos
Propriedade Intelectual
-
Patentes
Direitos de Autor
Direitos de design
Segredos comerc.
Activos Humanos
-
Inteligência
Conhecimento
Hab. Literárias
Capacidades
Espírito
empreendedor
- Espírito de equipa
- Sociabilidade
Figura 12 – Taxonomia dos Activos Intangíveis, segundo The
Technology Broker (1997)
Vários outros Autores têm apresentado as suas próprias sugestões de taxonomia de
activos intangíveis. No entanto, as diferentes propostas não correspondem a
divergências de fundo, ou contradições significativas, entre as várias classificações.
Bontis (2000) refere, a este propósito, que muitos modelos possuem construções
similares, diferindo mais nas designações do que nas suas essências. Como exemplo,
Bontis refere as designações “Capital Humano” (Skandia Navigator, de Edvinsson e
Malone), “Activos Humanos” (Technology Broker) e “Competência do Pessoal”
(Sveiby), as quais reflectem de facto a mesma realidade.
Bontis refere ainda que estas diferentes denominações para conceptualizações similares
podem conter aspectos positivos e negativos: Do lado positivo, demonstram uma
convergência dos quadros de análise e o enfoque em conceitos importantes, que
demonstram consistência sob as várias perspectivas. Do lado negativo, Bontis salienta
que este campo de estudo se encontra ainda numa fase embrionária, o que leva a que
nenhum Autor se disponha a abdicar da sua própria nomenclatura, a favor de uma
consolidação do conjunto. Bontis sugere que uma mudança para melhor poderá
ocorrer à medida que a necessidade de medições mais generalizadamente válidas
emerja, sendo importante que, a prazo não muito longo, se possa desenvolver uma
plataforma de definições comummente aceites e generalizadamente utilizável.
É entretanto já possível estabelecer as principais linhas-força seguidas, de uma forma
ou de outra, pela generalidade da bibliografia consultada, como se faz de seguida.
- 27 -
Um Standard emergente
Sveiby (1998) procedeu a uma comparação das taxonomias propostas por si próprio,
por Kaplan & Norton e pelo Skandia Navigator, 40 tendo construído a seguinte tabela
comparativa:
Sveiby
Kaplan & Norton
Edvinsson & Malone
Estrutura
Interna
Perspectiva dos
Processos Internos
Capital
Organizacional
Estrutura
Externa
Perspectiva
dos Clientes
Capital do
Mercado
Competências
do Pessoal
Perspectiva da
Aprendizagem
e Crescimento
Capital
Humano
Tabela 2 – Comparação de propostas taxonómicas para a classificação
dos Activos Intangíveis [Sveiby (1998)]
A partir desta comparação, e realçando o facto de terem surgido propostas com
similitudes simultaneamente em dois pontos diferentes do Globo (a proposta de
Kaplan & Norton proveio dos EUA, enquanto que a proposta de Edvinsson e Malone
é originária da Suécia), Sveiby conclui pela possível emergência de um Standard,
avançando com a proposta de categorização dos activos intangíveis em três grupos:
• Externos à organização
• Internos à organização (mas externos aos empregados individualmente)
• Individuais (Internos aos empregados individualmente)
A proposta de Sveiby não integra no entanto várias outras classificações sugeridas.
Diversos Autores propõem uma divisão em quatro categorias, e não três, como por
exemplo Warschat et al (1999) e The Technology Broker (1997). Os próprios
Edvinsson e Malone, na realidade, dividem o Capital Organizacional em capital de
Processo e capital de Inovação. O HLEG Group [Eustace (2000)], dividindo
aparentemente os Activos intangíveis em apenas dois grupos (os “bens” e as
competências), na realidade integra na categoria das competências quatro diferentes
tipos de activos intangíveis os quais se cruzam com as três categorias defendidas por
Sveiby.
Uma tentativa de consolidação das várias propostas taxonómicas apresentadas deverá
antes conduzir a uma sistematização em quatro categorias, na linha das classificações
sugeridas por Warschat et al (1999) e pelo Technology Broker (1997).
40
Esta última coincidente com a atribuída neste trabalho a Edvinsson e Malone (1997) [in Edvinsson e Richtner
(1999)], o primeiro dos quais apresentou a sua proposta taxonómica num suplemento ao relatório anual do
Skandia Group, tendo-lhe dado o nome de “Skandia Navigator”.
- 28 -
Assim, propõe-se a seguinte categorização:
Activos Intangíveis
Propriedade Intelectual
-
Patentes
Direitos de Autor
Direitos de design
Segredos
comerciais
- Desenvolvimento
de processos
- Produtos e
serviços
- Tecnologias
Activos de Mercado
Activos de Infrastrutura
-
Marcas
Posicionamento
Base de clientes
Nome da empresa
Canais de distrib.
Acordos e licenças
Contratos
Relações com a
envolvente
- Parcerias
-
Filosofia de gestão
Cultura corporativa
Proc. de gestão
Proc. de negócio
Impacto dos
sist. de informação
- Relações externas
- Networking
- Cumprimento de
standards
Activos Humanos
-
Inteligência
Liderança
Conhecimento
Capacidades
Competências
Atitudes
Espírito de
iniciativa
- Espírito de equipa
- Sociabilidade
Figura 13 – Proposta de Standard para a categorização dos Activos
Intangíveis
A proposta taxonómica de síntese que aqui se defende é, no entanto, coerente com o
Standard sugerido por Sveiby (1998). Na verdade, a grande diferença reside
precisamente no aspecto que foi já atrás destacado na característica do modelo de
Edvinsson e Malone, que subdivide o Capital Organizacional em capital de Processo e
Capital de Inovação. Esta mesma divisão é referida também por Skyrme (1997b). É
pois possível construir um quadro comparativo, como segue:
Categorização dos Activos Intangíveis
Standard Emergente de Sveiby (1998)
Proposta
Externos à organização
Activos de Mercado
Internos à organização (mas externos aos
empregados individualmente)
Propriedade Intelectual
Individuais (Internos aos empregados
individualmente)
Activos de Infrastrutura
Activos Humanos
Tabela 3 – Comparação entre o Standard Emergente de Sveiby (1998) e a
proposta de categorização dos Activos Intangíveis
A autonomização da Propriedade Intelectual [os “bens” intangíveis, segundo Eustace
(2000)] é importante face à diferente característica destes activos intangíveis
relativamente aos restantes, a qual se revela designadamente pelos diferentes graus de
apropriabilidade e excludabilidade o que, conforme se analisará mais adiante neste
trabalho, assume importância fundamental no caso das empresas emergentes.
Valerá a pena agora regressar à questão das características económicas dos activos
intangíveis, focada anteriormente, para uma análise diferenciada em função da
categorização proposta.
- 29 -
Taxonomia e comportamento económico
Tendo proposto quatro categorias fundamentais de activos intangíveis – Propriedade
Intelectual, Activos de Mercado, Activos de Infrastrutura e Activos Humanos – e
tendo-se concluído pela existência de cinco características fundamentais do seu
comportamento económico – não rivalidade/escalabilidade, efeitos de rede (indutores
de valor), excludabilidade parcial, risco intrínseco e dificuldade de transacção
(inibidores de valor) – importará fazer uma breve análise das consequências que tem,
ao nível do comportamento económico, a categorização proposta.
Para o efeito, dever-se-á antes de mais discutir em que grau as diferentes características
de comportamento económico identificadas anteriormente se manifestam em cada
uma das categorias dos activos intangíveis propostas. Seguidamente, poder-se-á
proceder a algumas análises comparativas inter categorias e entre estas e os activos
tangíveis.
A Tabela 4 apresenta uma proposta dos diferentes posicionamentos, em termos de
comportamento económico, e segundo as variáveis indicadas por Lev (2000), das
quatro categorias de Activos Intangíveis sugeridas, conforme apresentado naFigura 13:
Não Efeitos de Excluda- Ausência de Risco Facilidade de
Rivalidade rede
bilidade
Intrínseco
transacção
Tangíveis
0
2
10
8
10
Propriedade Intelectual
8
8
7
3
7
Activos de Mercado
7
6
4
5
4
Activos de Infrastrutura
8
7
3
4
2
Activos Humanos
6
9
5
4
5
Tabela 4 – Diferentes comportamentos económicos das várias categorias
de Activos Intangíveis (escalas de 0 a 10, correspondendo à inexistência
da característica e 10 ao máximo da sua expressão. As características
estão apresentadas por forma a que a maiores valores corresponda
sempre um maior potencial de indução de valor.)
A análise que se efectua de seguida recorrerá ao agrupamento dos comportamentos
económicos em:
• Rivalidade e Excludabilidade
• Risco Intrínseco e Facilidade de Transacção
• Efeitos de Rede
- 30 -
Este agrupamento resulta da natureza própria dos comportamentos tomados para
análise e das suas inter-relações. A rivalidade e a excludabilidade podem, de alguma
forma, considerar-se interligadas: Sendo possível excluir facilmente terceiros do
usufruto de um determinado activo, tem-se alguma capacidade de controle sobre o
grau de rivalidade do mesmo activo. Do mesmo modo, um activo com um elevado
risco intrínseco apresentará provavelmente maior dificuldade na sua transacção, bem
como maior volatilidade no respectivo valor. As relações inversas também se
verificarão em muitos casos.
No que respeita aos efeitos de rede, os mesmos verificam-se nos activos intangíveis
mas igualmente em alguns activos tangíveis embora, para efeitos da presente análise
tenham sido tomados os activos tangíveis “típicos”, os quais normalmente não se
encontram associados a elevados níveis de investimento inicial com características,
mais ou menos evidentes, de investimentos afundados. Por este motivo, a análise desta
variável é feita de forma isolada.
Os activos tangíveis possuem uma rivalidade e uma excludabilidade máximas. De
facto, tipicamente, por um lado, o facto de um activo tangível, seja ele financeiro ou
material, estar a ser utilizado por um utilizador, ou por um conjunto limitado de
utilizadores, impede o seu uso simultâneo por qualquer outro e, por outro, o detentor
proprietário desse activo pode excluir terceiros da sua utilização.
Em consequência da característica de rivalidade máxima, os activos tangíveis não
possuem a característica da escalabilidade, isto é, não se verifica a ocorrência de
benefícios crescentes. Um automóvel, um edifício, um equipamento fabril, um
depósito a prazo ou um título de capital de uma empresa não induzem benefícios
crescentes para o seu detentor. Os benefícios resultantes da detenção de um activo
tangível variarão com o tempo, em função das condições do mercado e do seu próprio
estado de conservação e utilização (em particular no caso dos activos físicos), mas não
crescem pelo simples facto de que a sua utilização se encontra limitada pelas suas
próprias características intrínsecas, e não apenas pela dimensão do mercado. A este
propósito, Grossman e Helpman (1994, pp. 23-44) referem:
“O conhecimento é cumulativo, com cada ideia a ser construída sobre a anterior, enquanto que as
máquinas se deterioram e têm de ser substituídas. Neste sentido, cada dólar orientado para o
conhecimento induz um progresso de produtividade na margem, enquanto que cerca de três quartos
do investimento privado em maquinaria e equipamento se destina apenas a substituir a
depreciação.”41
Os activos intangíveis apresentam, como foi realçado anteriormente, comportamentos
de não rivalidade/escalabilidade e não excludabilidade parcial. No entanto, e aliás na
linha das razões que levaram à propositura da autonomização da Propriedade
intelectual relativamente aos outros Activos de Estrutura, considera-se que a
Propriedade Intelectual, nas suas várias formas, apresenta um nível de excludabilidade
superior aos dos restantes activos intangíveis. Aliás, concordantemente, Eustace
(1999) apelida-os de “Bens” Intangíveis. A existência de um sistema, mesmo que
41
Tradução livre.
- 31 -
imperfeito, de registo de patentes, direitos de autor e outras expressões da Propriedade
Intelectual conferem aos seus detentores a possibilidade de agirem judicialmente contra
quem pretenda deles usufruir sem autorização. O facto de estes sistemas estarem, pelo
menos actualmente, ainda longe de uma eficácia semelhante à que ocorre no caso dos
activos tangíveis leva, no entanto, a não atribuir à Propriedade Intelectual uma
classificação máxima.
No entanto, a Propriedade Intelectual apresenta elevado nível de não rivalidade e de
escalabilidade. Claramente, a utilização de uma patente por um indivíduo de modo
algum impede outro de a utilizar e, por outro lado, é comum assistir-se à construção de
patentes sobre os resultados de patentes anteriores, provenientes dos mesmos
detentores ou de terceiros, como é referido na citação anterior de Grossman e
Helpman.
Todos os restantes activos intangíveis apresentam igualmente elevados níveis de não
rivalidade e de escalabilidade. Considera-se no entanto que estes níveis serão
eventualmente um pouco inferiores aos apresentados para a Propriedade Intelectual
em dois casos:
• Relativamente aos Activos de Mercado (marcas, posicionamento, bases de clientes,
canais de distribuição, contratos, relações com a envolvente, parcerias...), a
escalabilidade terá menor expressão, porquanto se torna mais difícil de construir
novos blocos de conhecimento (ou seja, mais capital intelectual) em cima do
conhecimento existente, desde logo pelo menor nível de codificação de alguns
destes activos e porque intervém, neste caso, uma relação com terceiros, cuja
efectividade e cujo potencial de crescimento (pelo efeito de escalabilidade) depende
igualmente destes e não apenas da empresa detentora dos activos.
• No caso dos Activos Humanos considera-se que a diferença poderá ser ainda um
pouco mais expressiva, uma vez que estes activos dependem, ainda mais do que os
de Mercado, de terceiros e que a característica de não rivalidade (ou seja, a não
limitação do uso do activo senão pelo limite do próprio mercado) assume uma
menor expressão. Na realidade, se os Activos Humanos (inteligência, liderança,
conhecimento, capacidades, competências, atitudes, sociabilidade...) são claramente
intangíveis, a verdade é que se expressam através de instrumentos bem tangíveis,
que são pessoas físicas.
Em termos de excludabilidade, e pelas mesmas razões, considera-se que, de todos os
Activos Intangíveis, é a Propriedade Intelectual que mais se aproxima do
comportamento dos activos tangíveis, colocando-se todos os restantes a uma distância
considerável. Aqui, sobretudo pela já referida expressão física do Capital Humano,
considera-se que esta categoria de activos intangíveis apresenta níveis médios de
excludabilidade, enquanto que os Activos de Mercado e os de Infrastrutura apresentam
claramente (estes últimos com maior expressão ainda) a característica da
excludabilidade parcial.
Lev (2000, p. 55) refere:
- 32 -
“A excludabilidade parcial (direitos de propriedade difusos) característica da maioria dos
investimentos intangíveis cria desafios de gestão únicos e consideráveis. A plena exploração do
potencial de uma máquina é uma tarefa realizável do ponto de vista da engenharia. Mas conseguir
o pleno uso do conhecimento tácito residente nos cérebros dos empregados é muito mais difícil.
Apenas quando este conhecimento é codificado (em manuais ou programas de inteligência artificial),
e sistematicamente partilhado com os outros empregados, é que o seu valor pode ser plenamente
explorado, em benefício da empresa. Contudo, desenvolver um tal sistema de codificação e partilha
de informação representa um desafio de grande dimensão.”4243
Em termos de risco intrínseco, considera-se antes de mais que não existem situações
de “risco zero” na actividade empresarial. Por esta razão não se atribui a classificação
10 aos activos tangíveis. No entanto, é bem claro que estes possuem um risco
intrínseco muito inferior ao dos activos intangíveis.
Shapiro e Varian (1999, p. 21) referem:
“A componente dominante dos custos fixos associados à produção de informação possui
características de custos afundados, ou seja, custos que não são recuperáveis em caso de suspensão da
produção. Quando se investe num novo edifício para escritórios e se decide que afinal o mesmo não é
necessário, consegue-se recuperar parte dos custos incorridos através da venda d o imóvel. Mas se um
filme que se está a produzir não chega ao seu termo, então o seu guião não terá qualquer valor
significativo de revenda. Se um CD é um fracasso, acaba numa pilha de “monos” a $4.95 ou a
$25 a meia dúzia. Os custos afundados têm normalmente de ser pagos à cabeça, antes mesmo de se
iniciar a produção.”44
Estas mesmas observações, segundo Lev (2000), são aplicáveis igualmente a muitos
outros intangíveis, tais como a I&D e o investimento em marcas ou em Capital
Humano.
Lev salienta ainda, apresentando alguns casos concretos, que estudos empíricos
permitem evidenciar a assimetria inerente ao processo de inovação: Enquanto que uns
– poucos – produtos/processos são “blockbusters”, os restantes (a grande maioria) são
completos fracassos. Aqui reside o risco inerente ao processo de criatividade e
inovação e do investimento em intangíveis ao mesmo subjacente.
De todos os activos intangíveis, considera-se que aquele que apresenta um grau de
risco intrínseco mais elevado é a Propriedade Intelectual. Muitas das patentes
registadas são resultado de investigação fundamental, a qual apresenta o risco mais
elevado de não vir a beneficiar de valorização de mercado. 45 Mesmo a outros níveis de
registo de propriedade intelectual, existem muitas situações que não chegam a ver a luz
do dia (ou que, vendo-a, não obtêm o sucesso esperado) em termos de mercado.
42
Tradução livre.
43 .
Lev comenta que um sistema de informação deste tipo – Eureka – foi desenvolvido pela Xerox para uso dos seus
25.000 técnicos, sendo no entanto um caso ainda raro.
44
Tradução livre.
45
Lev (2000).
- 33 -
Todavia, considera-se que as diferenças entre os vários activos intangíveis neste
domínio se situam numa faixa estreita. Os Activos de Mercado são colocados na
fronteira superior desta faixa de variação (ou seja, apresentam menor risco) porque
neste caso o risco se encontra mais disperso, sendo portanto, naturalmente, menos
agudo. As tendências do mercado, as relações das empresas com os seus mercados, as
bases de clientes e a envolvente em geral não se encontram sujeitas à imprevisibilidade
de forma tão evidente como os activos associados à própria empresa ou aos seus
recursos humanos.
A dificuldade de transacção é, para efeitos desta análise, considerada como referência
nula para os activos tangíveis. Tal não significa que tal facilidade seja absoluta neste
caso, mas antes que se toma a transaccionabilidade destes activos como referência de
comparação, ou como benchmark, relativamente ao qual os vários activos intangíveis
serão comparados.
Griliches (1995, p. 77) refere:
“Uma unidade de um equipamento pode ser vendida e revendida ao preço de Mercado. O resultado
dos investimentos em investigação e desenvolvimento são em larga medida impossíveis de ser vendidos
directamente... a falta de medidas directas dos “outputs” da investigação e desenvolvimento induz
um nível inescapável de inexactidão e aleatoriedade na nossa formulação.”46
Lev (2000, p. 65) afirma:
“A ausência de mercados organizados para os intangíveis tem sérias consequências..47 Por exemplo,
a medição e a avaliação dos intangíveis (patentes, marcas...) encontra-se limitada pela ausência de
referências de comparação, designadamente preços de activos em transacções semelhantes. Nas
mentes de algumas pessoas, a inexistência de tais referências desqualifica os investimentos
intangíveis para a sua consideração nas contas tanto empresariais como nacionais.”48
Teece (1998, p. 275) salienta:
“A impossibilidade de estabelecer compromissos concretos em termos da especificação detalhada do
produto final, incorporando a mais avançada tecnologia, numa actividade sujeita a desenvolvimentos
tecnológicos rápidos, é inerente à própria actividade. Esta impossibilidade de definir à partida, de
forma concreta e específica, as características finais de um produto é precisamente o aspecto que torna
impossível a existência de concursos competitivos em certas actividades.”49
Lev (2000) referencia que a estrutura de custos de muitos intangíveis relacionados com
as tecnologias de informação, as quais são caracterizadas por avultados, e muitas das
46
Tradução livre.
47
Lev comenta o seu ênfase nos mercados organizados porque, em princípio, existem mercados sempre que uma
troca comercial se efectua. Neste sentido, quando a empresa A licencia uma patente à firma B, existe um
mercado. O que distingue os intangíveis da maioria dos restantes activos é a ausência de trocas activas e
organizadas com numerosos participantes e formação transparente de preços (isto é, como sucede nas transacções
de títulos e de mercadorias).
48
Tradução livre.
49
Tradução livre.
- 34 -
vezes afundados, investimentos iniciais, e custos marginais (tendendo para o zero) de
produção, mina ainda mais a operacionalização de um sistema convencional de preços
para este tipo de produtos, referenciando seguidamente a demonstração que Shapiro e
Varian (1999, pp. 19-20) fazem deste atributo dos intangíveis ligados às tecnologias da
informação com o caso da Encyclopedia Britannica:
“Há alguns anos, uma colecção encadernada com trinta e dois volumes da Enciclopédia Britânica
custava $1,600... Em 1992 a Microsoft decidiu entrar no negócio das enciclopédias... [criando] um
CD com alguns sons e animações e um interface amigável para o utilizador e colocou-o no mercado
a $49.95... A Britânica começou a ver o seu mercado esboroar-se... O primeiro movimento da
empresa foi oferecer acesso on-line a livrarias a um preço anual de $2,000... Mas a Britânica
continuou a perder quota de mercado... Em 1996 a empresa ofereceu uma versão CD por $200...
Actualmente, a Britânica vende um CD por $89.99 que possui o mesmo conteúdo que os trinta e
dois volumes da versão impressa que, recentemente, vendia por $1,600.”50
Lev (2000) salienta ainda que a imprecisão muitas vezes existente relativamente aos
direitos de propriedade sobre os activos intangíveis contraria igualmente o
estabelecimento de mercados e de sistemas de transacção organizados. Os problemas
respeitantes à propriedade do capital Humano resultante do investimento das empresas
em formação, ou a distinção entre a propriedade da empresa sobre uma marca e a
parte da mesma que pertence ao seu fundador (por exemplo a Microsoft e Bill Gates)
dificultam a transaccionabilidade dos intangíveis.
De todos os activos intangíveis, aquele que claramente menos sofre da dificuldade de
transacção é a Propriedade Intelectual. Mais uma vez, a sua característica de activo
codificado e sujeito a regras e sistemas legais de propriedade (embora imperfeitos,
bastando verificar o número de acções judiciais relacionadas com a excludabilidade da
propriedade intelectual) fazem com que esta categoria de intangíveis se aproxime
sensivelmente, mas obviamente não de forma perfeita, do comportamento económico
dos activos tangíveis.
Os Activos Humanos surgem na posição seguinte, mas sensivelmente inferior, em
termos de facilidade de transacção. Também neste caso, por um lado, a já referida
expressão através de pessoas físicas e, por outro, a possibilidade de estabelecer
contratualmente sistemas de protecção da propriedade dos activos humanos51
permitem que se faça uma distinção, pela positiva, deste tipo de activos intangíveis face
aos Activos de Mercado e de Infrastrutura.52
50
Tradução livre.
51
Entenda-se: Não propriedade das pessoas em si mesmas!
52
Podem ser dados dois exemplos evidentes da possibilidade, aqui referida, de estabelecimento de preços de
mercado para os activos humanos (de novo, no sentido específico aqui tratado): O primeiro é o dos direitos de
passe detidos pelos Clubes desportivos sobre a transferência dos seus jogadores antes do fim dos respectivos
contratos, os quais são estabelecidos imediatamente no próprio contrato de trabalho, e o segundo é a prática, cada
vez mais frequente, do estabelecimento de compromissos de permanência, durante um período pré determinado
de tempo, dos anteriores donos de empresas de base tecnológica em operações de fusões e aquisições,
assegurando deste modo o não esvaziamento dos activos humanos da empresa imediatamente a seguir à operação
e dando tempo a que os mesmos sejam, pelo menos em parte, incorporados nos seus Activos de Infrastrutura.
- 35 -
Por razões associadas às características relacionais e de relativa externalidade associadas
aos Activos de mercado, classifica-se em seguida este tipo de activos intangíveis. Já o
caso dos Activos de Infrastrutura, neste aspecto, surgem em posição bastante
desfavorável, uma vez que é extremamente difícil estabelecer direitos de propriedade –
e como tal transaccionar, de forma transparente, o capital organizacional de uma
empresa. Relembre-se que, nesta categoria, se incluem activos como a filosofia de
gestão, a cultura corporativa ou o impacto dos sistemas de informação, tudo aspectos
extremamente difíceis de avaliar e sobretudo de transaccionar. Aliás, não será por
acaso que a classificação desta categoria de activos é igualmente a mais desfavorável
quando vista sob o ponto de vista da excludabilidade.
No domínio dos efeitos de rede, não se classifica em zero o comportamento dos
activos tangíveis porque, como se afirmou, existem situações em que estes activos
igualmente beneficiam deste tipo de efeitos. Não é, no entanto, o comportamento
típico dos tangíveis clássicos.
Os efeitos de rede associados aos intangíveis e, muito em particular, aqueles ligados à
informação são sobejamente conhecidos: Os casos das redes virtuais constituídas
pelos utilizadores de um sistema operativo Windows ou do sistema de vídeo VHS, ou
ainda do sistema de telefonia móvel GSM, são citados invariavelmente por toda a
literatura. O estabelecimento de standards e de compatibilidade é, neste contexto, um
elemento fundamental da potenciação das externalidades de rede [Shapiro e Varian
(1999)].
Lev (2000) refere que os efeitos de rede são prevalecentes nos mercados da
informática, das telecomunicações e da electrónica de consumo, afirmando ainda que,
similarmente, mas induzidos de forma “informacional”, os efeitos de rede se fazem
sentir também, por exemplo, nos mercados farmacêuticos, quando o uso de um
determinado medicamento por outros médicos influencia as percepções de cada um
(médico) sobre a respectiva eficácia, segurança e aceitação pelos doentes.53
A existência de efeitos de rede favorece o estabelecimento de alianças e colaborações.
Shapiro e Varian (1999, pp. 201-202) referem, a este propósito:
“Uma aliança constituída por um grupo de empresas com o propósito expresso de promover uma
tecnologia ou um standard específicos... uma aliança construída como uma teia em torno de um
patrocinador, um actor central que recolhe royalties dos outros [ou disponibiliza a tecnologia
gratuitamente aos membros da aliança mas não aos outros], preserva direitos proprietários sobre
componentes chave da rede e ou mantém o controle sobre a evolução da tecnologia.”54
53
Neste aspecto, a velha frase “os meus clientes são os meus melhores vendedores” assume características
semelhantes. No entanto, é preciso notar que os benefícios para cada utilizador do uso do mesmo activo tangível
por outros utilizadores é nulo ou apenas marginal: No caso de um equipamento, por exemplo, podem esperar-se
benefícios marginais induzidos por um uso generalizado do mesmo manifestados, por um lado, como sendo um
sinal da sua fiabilidade, bem como podendo levar a assistência a ser mais rápida, mais barata e mais bem equipada
mas, em contrapartida, poderá representar maior risco de congestionamento das redes de assistência ou o risco de
rotura de stocks de peças de substituição.
54
Tradução livre.
- 36 -
A Propriedade Intelectual e os Activos Humanos, face ao exposto, surgem com uma
classificação próxima da máxima no que respeita aos efeitos de rede. O
estabelecimento de alianças, consórcios, equipas e círculos informais, bem como todos
os meios associados ao uso da Internet que permitem a interacção entre seres
inteligentes potenciam esta característica. Precisamente o acréscimo do potencial
gerado pela extrema facilitação do estabelecimento de redes informais e/ou virtuais
leva a classificar os Activos Humanos num nível ainda superior ao da Propriedade
Intelectual.
Seguidamente, classificam-se os Activos de Infrastrutura, dada a facilidade de, através
de fusões e aquisições, consórcios ou outras formas de alianças e parcerias, serem
difundidos muitos dos activos contidos nesta categoria, gerando dinâmicas de feedback
positivo.
Por último, mas ainda do lado positivo e portanto muito distantes do posicionamento
dos activos físicos e financeiros, situam-se os Activos de Mercado. Mais uma vez as
características destes activos, já referenciadas anteriormente, limitam este potencial.
Por outro lado, as empresas tenderão, por razões concorrenciais, a não divulgar
facilmente várias informações vitais associadas a este tipo de activos.
Em presença destas classificações das várias categorias de activos intangíveis, e da sua
comparação com o comportamento económico dos activos tangíveis, é agora possível
traçar quadros mais abrangentes de comparação.
A Figura 14 ilustra as diferentes classificações atribuídas às quatro categorias de
Activos intangíveis, segundo as cinco variáveis comportamentais de Lev (2000).
Indução de valor
Não Rivalidade
10
Inibição de valor
5
Facilidade de transacção
Efeitos de rede
0
Ausência de Risco Intrínseco
Excludabilidade
Tangíveis
Propriedade Intelectual
Activos de Infrastrutura
Activos Humanos
Activos de Mercado
Figura 14 – Diferenças no comportamento económico dos Activos
Tangíveis e das quarto categorias de Activos Intangíveis
- 37 -
Da análise da figura resulta claro o comportamento assimétrico típico da generalidade
dos activos tangíveis. Verifica-se igualmente que o intangível com um comportamento
mais equilibrado é a Propriedade Intelectual. Com comportamentos menos simétricos
surgem os Activos de mercado e o Capital Humano e, como comportamento mais
assimétrico – e relativamente inverso ao dos tangíveis – surgem os Activos de
Infrastrutura.
A posição “confortável” da Propriedade Intelectual decorre naturalmente da
conjugação das suas características específicas, que potenciam o efeito de dois dos
indutores de valor (codificação e formalização, sistemas de registo legal, comunidades
de trabalho) e minimizam a influência dos seus inibidores (níveis relativos de
excludabilidade e transaccionabilidade), não se classificando tão favoravelmente apenas
na variável do risco inerente.
Esta conjugação de factores será provavelmente a principal razão pela qual é
precisamente sobre a Propriedade intelectual que versa a maior parte da literatura sobre
activos intangíveis. Lev (2000) refere que, uma vez que os investimentos em I&D
correspondem ao o único intangível de primeira grandeza sobre o qual as empresas
cotadas fornecem informação específica, muita da investigação empírica relativa aos
intangíveis incide naturalmente sobre a Propriedade intelectual.
De facto, a Propriedade intelectual pode ser, de algum modo, colocada “à parte” no
universo dos Activos Intangíveis, e por isso se propõe a sua autonomização
relativamente aos restantes Activos de Infrastrutura.
10
Indução de valor
Excludabilidade
Tangíveis
Propriedade Intelectual
Activos de Mercado
5
Activos de Infrastrutura
Activos Humanos
Inibição de valor
0
0
5
10
Não Rivalidade
Figura 15 – Posicionamento dos Activos Tangíveis e das quarto
categorias de Activos Intangíveis segundo as variáveis da Não Rivalidade
e da Excludabilidade
Este carácter particular pode ser realçado através da Figura 15, em que se cruzam as
dimensões da não rivalidade e da excludabilidade. A Propriedade Intelectual é, das
quatro categorias de activos intangíveis, aquela que mais se aproxima do
comportamento dos activos tangíveis os quais surgem extremamente bem
posicionados segundo a dimensão da excludabilidade e com a pior classificação
segundo a da não rivalidade. Note-se no entanto que a propriedade Intelectual surge
em oposição aos activos tangíveis no que respeita à rivalidade e são, de longe, os únicos
- 38 -
que se posicionam claramente no quadrante da indução de valor . Os restantes activos
intangíveis surgem num conjunto posicionado menos favoravelmente.
10
Indução de valor
Ausência de Risco
Tangíveis
Propriedade Intelectual
5
Activos de Mercado
Activos de Infrastrutura
Activos Humanos
Inibição de valor
0
0
5
facilidade de transacção
10
Figura 16 – Posicionamento dos Activos Tangíveis e das quarto
categorias de Activos Intangíveis segundo as variáveis da facilidade de
Transacção e da Ausência de Risco
Analogamente, mostra-se na Figura 16 uma análise semelhante, mas agora em função
das variáveis da ausência de risco e da facilidade de transacção. De novo a Propriedade
Intelectual se aproxima mais dos activos tangíveis (embora, segundo a variável da
ausência de risco, se posicione de forma contrária), surgindo de novo as restantes três
categorias agrupadas, e de novo com os Activos de Infrastrutura menos bem
colocados, em oposição aos activos tangíveis. Aqui são os activos tangíveis aqueles que
se posicionam no quadrante da indução de valor, surgindo os Activos de Infrastrutura
posicionados no quadrante da inibição de valor.
10
Indução de valor
5
Inibição de valor
0
Tangíveis
Propriedade
Intelectual
Activos de
Mercado
Activos de
Infrastrutura
Activos
Humanos
Figura 17 – Posicionamento dos Activos tangíveis das quarto categorias
de Activos Intangíveis segundo a variável dos Efeitos de Rede
Por último, a Figura 17 apresenta o posicionamento das mesmas categorias segundo a
variável dos efeitos de rede. Aqui o comportamento da propriedade intelectual afasta- 39 -
se do dos activos tangíveis. Sendo os Activos de mercado os que apresentam uma
posição menos favorável, todos os activos intangíveis se demarcam claramente do
posicionamento extremamente desfavorável dos activos tangíveis, os quais surgem
claramente posicionados do lado da inibição de valor.
Da análise efectuada resulta claro que, das quatro categorias de activos intangíveis, a
Propriedade Intelectual é aquela sobre a qual mais capacidade existe de gestão e
avaliação efectivas. As restantes categorias, talvez com destaque para os Activos de
Infrastrutura, serão porventura mais difíceis de tratar nestes domínios.
C - MEDIÇÃO DOS ACTIVOS INTANGÍVEIS
Como se referiu anteriormente, a taxonomização dos activos intangíveis não é senão
um passo no percurso para a sua avaliação, a qual tem evidente interesse económico,
face à crescente importância (para não dizer prevalência) dos activos intangíveis sobre
os tangíveis na atribuição de valor de mercado às empresas, muito em particular as de
base tecnológica.
Vários Autores têm vindo a apresentar, e a procurar sistematizar, os métodos
existentes para a medição (e a avaliação) dos activos intangíveis.
Skyrme (1997b) refere:
“A medição do capital intelectual é ainda algo de relativamente novo, existindo apenas uma mão
cheia de empresas pioneiras a utilizar este tipo de medições em larga escala. A nossa investigação
identificou um conjunto de passos que estas companhias percorrem até conseguirem obter benefícios
visíveis desta política:
•
Desenvolvimento de maiores reconhecimento e compreensão do papel do
conhecimento e da natureza do capital intelectual.
•
Criação de uma linguagem comum mais largamente difundida no próprio espaço
interno da empresa, como por exemplo a utilização de termos tais como ‘capital humano’.
•
Identificação de indicadores convenientes e apropriados.
•
Desenvolvimento de um modelo de medição que integre estes indicadores num quadro
coerente.
•
Introdução de sistemas de medida, incluindo o processos de acompanhamento de gestão
que orientam e premeiam os gestores.
•
Utilização objectiva de consultores imparciais e de auditorias para a implementação de
aspectos chave do processo de medida.
A experiência sugere que uma corrida para os detalhes da medição antes de se compreenderem
alguns aspectos fundamentais é contraprodutiva. Um dos peritos mais eminentes que entrevistámos
- 40 -
colocou esta questão de forma sucinta: «São necessários bons modelos mentais antes de se poderem
desenvolver bons modelos de gestão»”.55
Skyrme discute as características dos quadros de classificações,56 referindo em concreto
os métodos denominados “The Balanced Score-card”, desenvolvido por Kaplan e Norton,
e “Economic Value Added (EVA)”, de Stern Stewart. O primeiro método encontra-se
desenhado para chamar a atenção do gestor para os factores que ajudam à estratégia do
negócio, adicionando aos indicadores financeiros medidas para clientes, processos
internos e inovação. O segundo método relaciona-se com o retorno do capital
investido, podendo ser associado ao mesmo uma outra medida, designada por “Valor
Acrescentado de Mercado”.
Segundo Skyrme, vários autores criticam os dois métodos referidos por resultarem em
medidas estáticas, não apoiando os decisores na identificação das relações causa - efeito
subjacentes, enumerando um conjunto de outros métodos com significado:
• O “Skandia Navigator” (uma espécie de “balanced score-card) e o seu modelo
subjacente de criação de valor; 57
• O “Intangible Assets Monitor”, de Karl-Erik Sveiby, o qual divide os activos intangíveis
em estrutura externa, estrutura interna e competências dos recursos humanos;58
• O “Intellectual Capital Index”, de Intellectual Capital Services;
• A Metodologia “Inclusive Value”, de Philip M’Pherson, a qual combina hierarquias de
valor financeiras e não financeiras; e
• O “Information Health Index”, do Programa KPMG/IMPACT, o qual se concentra
essencialmente num importante requisito prévio à medição dos activos intangíveis –
boas práticas de informação de gestão: Os processos de identificação, protecção e
exploração da informação, assim como a sua governância.
Bontis (2000) apresenta igualmente um trabalho resultante da compilação e análise
crítica de diversos métodos para a avaliação dos activos intangíveis. Neste trabalho,
Bontis lista e descreve criticamente dez diferentes métodos, nos quais inclui a maior
parte (mas não todos) os identificados por Skyrme.
Num trabalho mais recente, Sveiby (2001), como resultado de uma investigação que
levou a cabo para apurar o estado-da-arte na medição dos activos intangíveis,
encontrou dezassete métodos de avaliação, os quais sistematiza nos seguintes grupos:
55
Tradução livre.
56
“Scorecards” e “Scoreboards” são os termos normalmente utilizados na literatura, originalmente em inglês, que se
traduziram aqui por “quadros de classificações”, sendo indistintamente utilizada, noutros locais do trabalho, a
expressão “quadros de equilíbrios”.
57
O “Skandia Navigator”, como foi já referido neste trabalho, suporta-se na taxonomia defendida por Leif
Edvinsson, igualmente apresentada e discutida anteriormente.
58
A taxonomia defendida por Sveiby foi também já apresentada e discutida neste trabalho.
- 41 -
• Métodos Directos de Capital Intelectual (DIC): Estimam o valor financeiro
dos activos intangíveis através da identificação dos seus vários componentes. Uma
vez identificado, cada componente pode ser directamente avaliado, seja
individualmente seja através de um coeficiente permitindo a sua agregação;
• Métodos de Capitalização do Mercado (MCM): Calculam a diferença entre a
capitalização de mercado de uma empresa e o conjunto dos valores de balanço dos
seus accionistas, assimilando esta diferença ao valor dos activos intangíveis da
empresa;59
• Métodos de Retorno dos Activos (ROA): Os resultados antes de impostos
médios de uma empresa durante um certo período de tempo são divididos pelos
activos tangíveis médios da empresa durante o mesmo período. O resultado é o
conhecido indicador ROA (Returns on Assets), o qual é então comparado com os
valores médios do sector. A diferença é multiplicada pelos activos tangíveis médios
da empresa para calcular os benefícios médios atribuíveis aos activos intangíveis.
Dividindo os ganhos acima da média pelo custo médio do capital da empresa, ou
por uma taxa de juro, pode derivar-se uma estimativa dos seus activos intangíveis;
• Métodos de Quadros de Classificações (SC): Os vários componentes dos
activos intangíveis são identificados, sendo aos mesmos associados indicadores e
índices, os quais são apresentados em quadros de classificações ou gráficos. Os
métodos SC são semelhantes aos métodos DIC, excepto no facto de não ser feita
uma estimativa do valor financeiro dos activos intangíveis. Pode ser então
produzido, ou não, um índice composto.
Sveiby, numa análise comparativa, refere que os métodos que permitem uma avaliação
financeira, como os ROA ou MCM, são particularmente úteis para operações de fusões
e aquisições e para avaliações para o mercado de capitais. Podem ainda ser utilizados
para fazer comparações entre empresas do mesmo sector e para ilustrar o valor
financeiro dos activos intangíveis, o que tende a prender a atenção dos directores
executivos. Uma outra vantagem referida por Sveiby é o facto de estas formas de
medição se sustentarem numa linguagem amigável para os contabilistas.
Em contrapartida, este tipo de métodos apresenta limitações resultantes precisamente
da estrita tradução financeira dos intangíveis, podendo ser portanto superficiais. Os
métodos ROA são muito sensíveis aos pressupostos sobre taxas de juro e os métodos
que apenas analisam aspectos organizacionais apenas são úteis ao nível das
Administrações das empresas. Alguns não têm qualquer interesse para organizações
sem fins lucrativos ou para departamentos cujo desempenho não possa ser
adequadamente traduzido de uma forma estritamente financeira, o que sucede em
particular com os métodos MCM.
59
Estes métodos podem associar-se ao rácio “Market-to-Book” (M/B) apresentado anteriormente. De facto, o valor
dos activos intangíveis (AI) será, segundo estes métodos: AI = AC * (M/B – 1), em que AC corresponde ao
Activo Contabilístico (ou seja, o valor “Book” da empresa).
- 42 -
Os métodos DIC e SC são, segundo Sveiby, os que permitem traçar um quadro mais
abrangente da saúde de uma organização, podendo ser aplicados a qualquer tipo, ou
nível, de organização. As medições são feitas mais próximo dos factos concretos e o
respectivo reporte pode portanto ser mais rápido e eficaz. Pela sua natureza, são
igualmente eficazes no caso das organizações sem fins lucrativos, bem como em
departamentos internos ou mesmo em organizações do sector público.
As desvantagens deste tipo de indicadores prendem-se com o seu carácter contextual e
com a necessidade de adaptação em concreto a cada organização, o que torna as
comparações muito difíceis. A sua aceitação pelos gestores e profissionais habituados
a expressar tudo em termos financeiros é menor, não só pela sua natureza não
financeira como pela sua ainda relativa novidade. Um outro possível problema poderá
provir da grande quantidade de dados que podem envolver, tornando o tratamento e,
sobretudo, a comunicação mais difíceis.
Sveiby afirma, resumindo:
“Nenhum método é verdadeiramente universal; Tem de se seleccionar o método em função dos
objectivos, das situações e das audiências.”60
A investigação conduzida por Sveiby conduziu ao seguinte quadro comparativo:
Nome
Principal
Proponente
Brooking
(1996)
Categoria
DIC
CitationWeighted
Patents
Bontis (1996)
DIC
Inclusive
Valuation
Methodology
(IVM)
McPherson
(1998)
DIC
The Value
Explorer™
Andriessen e
Tiessen (2000)
DIC
Technology
Broker
60
Descrição
Análise da resposta da empresa a 20
questões sobre quatro componentes
principais dos activos intangíveis.
Cálculo do factor tecnológico da empresa
com base nas patentes desenvolvidas.
Activos intangíveis medidos a partir do
impacte dos esforços de investigação num
conjunto de índices (por exemplo nº. de
patentes, relação custo/benefício das
patentes).
Usa hierarquias de indicadores ponderados
que são combinados. Foca valores relativos.
O Valor Acrescentado Combinado (CVA)
corresponde ao Valor Acrescentado
Monetário adicionado do Valor
Acrescentado Intangível.
Metodologia contabilística para calcular e
afectar o valor de 5 tipos de activos
intangíveis: Activos & dotações;
capacidades & conhecimento tácito;
Valores e normas colectivos; Tecnologia e
conhecimento explícito; Processos
primários e de gestão.
Tradução livre.
- 43 -
Intellectual
Asset Valuation
Tobin’s q
Sullivan (2000)
DIC
Stewart (1997)
Bontis (1999)
MCM
Investor
assigned market
value (IAMV™)
Standfield
(1998)
MCM
Market-to-Book
Value
Stewart (1997)
Luthy (1998)
MCM
Economic Value Stewart (1997)
Added (EVA™)
ROA
Human
Resource
Costing &
Accounting
(HRCA)
Calculated
Intangible Value
Johansson
(1996)
ROA
Stewart (1997)
Luthy (1998)
ROA
Knowledge
Lev (1999)
Capital Earnings
Value Added
Pulic (1997)
Intellectual
Coefficient
(VAIC™)
Skandia
Navigator™
Edvinsson e
Malone (1997)
ROA
ROA
SC
Metodologia para avaliar o valor da
Propriedade Intelectual.
“q” representa o rácio entre a capitalização
bolsista da empresa e o custo de substituição
dos seus activos. As variações de “q”
correspondem a uma medida da efectividade
do desempenho dos activos intangíveis da
empresa.
Assume que o Valor Real da Empresa
(CTV) é a sua capitalização bolsista,
separando o Capital tangível (TC) e
dividindo o seu Capital não Tangível em
Capital Intelectual Realizado (Realized IC),
Erosão do Capital Intelectual (IC Erosion)
e Vantagem Competitiva Sustentável (SCA).
Assim,
CTV = TC + (Realized IC + IC Erosion +
SCA).
O valor do capital intelectual é assimilado à
diferença entre a capitalização bolsista e o
valor contabilístico da empresa.
Calculado através do ajustamento do lucro
declarado pela empresa relacionado com os
seus activos intangíveis. Mudanças no
EVA dão indicações sobre a produtividade
do capital intelectual da empresa.
O capital intelectual é medido através da
divisão do cálculo da contribuição dos
activos humanos para os benefícios da
empresa pela capitalização das despesas
salariais.
Calcula o benefício atribuível aos activos
tangíveis e determina a proporção destes
nos benefícios totais, atribuindo a diferença
aos activos intangíveis.
Calculado como sendo a parte dos ganhos
não atribuível aos activos contabilísticos.
Mede o valor e a eficiência com que o
capital intelectual e o capital investido
criam valor com base na relação entre três
componentes principais: Capital investido,
capital humano e capital estrutural.
O capital intelectual é medido através da
análise de um máximo de 164 indicadores
(91 de base intelectual e 73 tradicionais),
cobrindo cinco componentes: Financeira,
clientes, processos, renovação e
desenvolvimento e humano.
- 44 -
IC-Index™
Roos, Roos,
Dragonetti e
Edvinsson
(1997)
SC
Intangible Asset
Monitor
Sveiby (1997)
SC
Balanced
Score Card
Kaplan e
Norton (1992)
SC
Consolida todos os indicadores
representativos de propriedades e
componentes intelectuais num índice
único. As variações do índice são então
relacionadas com as variações do valore de
mercado da empresa.
Os gestores da organização seleccionam os
indicadores a utilizar, a partir dos
objectivos estratégicos, para medir quatro
componentes principais dos activos
intangíveis: Crescimento, renovação,
eficiência e estabilidade.
O desempenho da empresa é medido
através de indicadores cobrindo quatro
perspectivas principais: Financeira,
clientes, processos internos e
aprendizagem. Os indicadores são
baseados nos objectivos estratégicos da
empresa.
Tabela 5 – Métodos para avaliação dos activos intangíveis [Sveiby (2001)]
Acrescentam-se ainda aos resultados da investigação conduzida por Sveiby, acima
reproduzidos, dois outros métodos não listados, o primeiro dos quais é o “Value Chain
Scoreboard”, apresentado por Baruch Lev,61 e o segundo corresponde ao método
“Magic”, apresentado por Warschat, Wagner e Hauss.6263
Estes dois métodos são seguidamente apresentados no formato seguido por Sveiby
(2001) na sua tabela, podendo passar a constituir os seus décimo oitavo e décimo nono
elementos:
61
Lev (2000).
62
Warschat et al. (1999). O projecto foi ainda apresentado, na conferência IST 1999, por Lauri Haapanen (1999).
63
Num interessante e muito recente trabalho, Amaral e Pedro (2002) listam nada menos do que 25 métodos
diferentes de medir – e avaliar – os activos intangíveis nas empresas, dividindo-os em 3 categorias de Modelos
Globais e outras tantas de Modelos Parciais. Uma vez que, no que respeita aos Modelos Globais, a listagem e a
categorização não parecem ser mais substantivas, ou mais completas, do que as propostas por Sveiby (2001), e
completadas nesta dissertação, preferiu-se optar pela classificação proposta por Sveiby (2001), completando-a no
necessário. Amaral e Pedro (2002) sugerem por sua vez um novo método, que designam por “MPM – Modelo de
Performance e Mercado”, o qual resulta da conjugação de dois outros métodos e se aplica unicamente a empresas
cotadas em bolsa.
- 45 -
Value Chain
Scoreboard™
Baruch Lev
(2000)
SC
Magic
Warschat,
Wagner e
Hauss
SC
A medição do desempenho da empresa é
feita através de indicadores respeitantes a três
componentes principais:
Descoberta/Aprendizagem (renovação
interna, conhecimento adquirido,
networking), Implementação (propriedade
intelectual, exequibilidade tecnológica,
clientes, empregados) e Comercialização
(“top line”, “bottom line” e opções de
crescimento). Integra elementos de
prospectiva.
Construção de um “road map” a partir da
identificação dos factores críticos associados
à estratégia para o capital intelectual, focando
quatro componentes essenciais: Capital
humano, capital organizacional, capital de
mercado e capital de inovação. Integra
elementos de prospectiva.
Tabela 6 – Adição dos modelos de Lev (2000) e de Warschat, Wagner e
Hauss (1999) à tabela de Sveiby (2001) dos métodos para avaliação dos
activos intangíveis
Sveiby sistematiza a análise apresentada anteriormente, de forma gráfica, através de
uma representação segundo quatro quadrantes, resultantes do cruzamento de dois
vectores de classificação:
• Existência, ou não, de avaliação financeira
• Análise apenas ao nível organizacional ou identificação de componentes
Reproduz-se, de forma adaptada, a representação gráfica de Sveiby (2001), na qual se
introduziram os dois métodos adicionais caracterizados acima:
- 46 -
Market
to Book
Value
Apenas
nível
organizacional
Tobin’s q
EVA
VAC
Calculated
Intangible
Value
Knowledge
Capital
Earnings
Tipos de
métodos
MCM
IAMV
ROA
IC
Index
Identificação
de
componentes
Citationwheighed
Patents
Skandia
Navigator
Balanced
Scorecard
Value Chain
Scoreboard
Inclusive
Valuation
Methodology
Intangible
Assets
Monitor
Magic
Technology
Broker
Sem valorização
financeira
HRCA
DIC
The
Value
Explorer
SC
Intellectual
Asset
Valuation
Com valorização
financeira
Figura 18 – Posicionamento de 19 métodos de avaliação de activos
intangíveis [adaptado de Sveiby (2001)]
Da análise da representação gráfica (adaptada) de Sveiby (2001) podem tirar-se algumas
conclusões:
• Os métodos MCM e ROA, na sua quase totalidade, apenas abordam a empresa no
seu nível organizacional;
• A maioria (na verdade, a quase totalidade) dos métodos DIC situa-se no quadrante
referente aos métodos permitindo avaliação financeira e recorrendo à identificação
de componentes;
• A totalidade dos métodos SC situa-se no quadrante [identificação de componentes x
sem avaliação financeira].
O posicionamento dos métodos MCM e ROA resulta naturalmente da sua maior
proximidade da “linguagem” contabilística normal. As diferenças e as semelhanças
entre os métodos DIC e SC surgem, por outro lado, bem evidenciadas nos seus
respectivos posicionamentos no gráfico.
Aparentemente, os métodos DIC congregariam o melhor de dois mundos. No
entanto, as evidências não demonstram que sejam preferidos relativamente aos
restantes na prática dos Gestores do Conhecimento (CKO – Chief Knowledge Officers).
A maioria dos Autores, nas suas publicações mais recentes, refere frequentemente o
“Intangible Asset Monitor”, de Karl-Erik Sveiby, e o “Skandia Navigator”, de Edvinsson
e Malone, ambos métodos do tipo SC. A proposta recente de Baruch Lev, o “Value
- 47 -
Chain Scoreboard™”, situa-se igualmente no espaço dos restantes métodos SC
(embora introduza algumas avaliações financeiras), e este aspecto é particularmente
relevante quando o mesmo Autor tinha apresentado, em 1999, ou seja, apenas um
ano antes, um método do tipo ROA. Posicionamento semelhante assume o
método “Magic”, de Warschat et al. (1999).
As razões para esta tendência poderão radicar-se nos seus aspectos mais positivos
referenciados por Sveiby (2001), que poderão resumir-se através de termos como
abrangência, universalidade e adaptabilidade.
Por outro lado, as flutuações dos mercados de capitais desde meados do ano 2000,
com as quedas abruptas e por vezes dramáticas sentidas nas empresas da economia
digital64, poderão levar os gestores a concentrar-se em indicadores que não se
encontrem tão expostos à instabilidade reinante.
A este propósito, Lev e Demers (2001) referem que, no período pós crise65 do
mercado das empresas Internet e, em particular, das empresas B2C, 66 que os
investidores adoptaram uma atitude mais céptica relativamente aos investimentos em
intangíveis e nas despesas agressivas das empresas Internet. Na falta de resultados
financeiros com significado efectivo, os investidores continuam a confiar mais em
indicadores de medição de tráfego na “Web”. 67
Não se pode no entanto afirmar que exista neste momento um tipo dominante de
método de avaliação dos activos intangíveis. Bontis (2000) refere que os esforços
desenvolvidos para criar sistemas contabilísticos e de custos para os recursos humanos
não têm conseguido abranger a totalidade dos tipos de activos intangíveis que podem
existir, assim como também não têm sido particularmente úteis como sistemas de
monitorização dos progressos diários dos negócios. Estas tentativas têm tendido para
a adopção de uma perspectiva industrial (no seu sentido estrito, de “manufactura”).
Bontis lembra ainda que as empresas de serviços representam actualmente dois terços
do emprego no mundo industrializado. Ainda mais importante é o facto de a geração
de riqueza protagonizada pelas empresas intensivas em conhecimento ultrapassar já, na
maioria das economias globalizadas, a que é conseguida pelas empresas industriais.
É de notar também que os dois métodos adicionados à tabela de Sveiby (2001), o
Value Chain Scoreboard, de Lev (2000) e o Magic, de Warschat et al. (1999), sendo do
tipo SC, possuem duas características evolutivas relativamente aos restantes modelos
do mesmo tipo:
64
Mais recentemente, a crise nos mercados bolsistas estendeu-se a todos os sectores, face ao clima económico
negativo verificado ao nível global em 2002.
65
O termo usado pelos Autores, “shakeout”, poderá ser traduzido como “abanão”. No entanto, preferiu-se a
utilização de um termo mais clássico, até porque o fenómeno reúne de facto todas as condições para ser apelidado
de crise bolsista (embora com particular relevância num sector tecnológico concreto).
66
O termo “B2C” é comummente utilizado para designar os negócios “Business-to-Consumer”, ou seja, os negócios
Internet que se dedicam à venda de produtos e/ou serviços on-line a consumidores privados.
67
“Web” é aplicado, neste contexto, como abreviatura de “World Wide Web”, a rede (teia) que ganhou rápida
expressão global com a popularização da Internet.
- 48 -
• Integram alguns elementos permitindo avaliação financeira (a par com indicadores
não financeiros, que são maioritários), indo ao encontro da possibilidade de
realização de avaliações conjugadas financeiras (tipo DIS) e não financeiras (tipo
SC);
• Integram ainda elementos de prospectiva, para além dos elementos factuais e/ou
históricos característicos de todos os restantes modelos.
Warschat et al. (1999) enumeram, de forma resumida, as oportunidades e os riscos
associados à medição do capital intelectual, conforme seguidamente se lista:
Oportunidades
Riscos
Produtividade crescente
A partilha de conhecimento carece de treino
Concorrência crescente
Ansiedade e falta de confiança dos
empregados
Utilização de potenciais de desenvolvimento Exploração do trabalho
Melhor planeamento estratégico
Demasiado
esforço
associado
ao
desenvolvimento e à implementação de um
sistema de medição
Eficácia e efectividade optimizadas
Possível falta de objectividade em termos de
escalas de medida
Melhor utilização dos recursos
Motivação para os empregados
Tabela 7 – Oportunidades e riscos associados à medição do capital
intelectual, segundo Warschat et al (1999)
Bontis (2000), face às incertezas, às fragilidades e à falta de universalidade dos métodos
existentes para a medição e a avaliação dos activos intangíveis das organizações, coloca
na agenda da investigação a necessidade da realização de estudos capazes de validar –
ou não – em mais larga escala (no tempo, no espaço e nos sectores de actividade) a
efectiva relação entre os valores obtidos nos processos de avaliação dos activos
intangíveis e o efectivo desempenho das organizações.
- 49 -
D - OS ACTIVOS INTANGÍVEIS E AS EMPRESAS DO CONHECIMENTO
EMERGENTES
O que são Empresas do Conhecimento Emergentes
"87 por cento das empresas, independentemente do respectivo sector,
acreditam que são empresas do conhecimento."68
Sveiby (1994) define “Organização do conhecimento” como um subgrupo do sector
dos serviços, graduando-o desde a empresa “clássica” de serviços, que equipara, em
termos de lógica e prática organizacionais, às empresas industriais, até à organização do
conhecimento.
Baixa
Adaptação ao mercado
Empresa de
serviços
•Grande
•Produtiva
•Hierárquica
•Mão de obra intensiva
•Baixo nível de formação
•Economias de escala
Alta
Organização do
conhecimento
•Pequena
•Criativa
•“Ad-hocrática”
•Intensiva em conhecimento
•Alto nível de formação
• Sem economias de escala na
produção
•Economias de âmbito nos
activos intangíveis
Figura 19 – Classificação das empresas não industriais em função da sua
adaptação ao mercado [Sveiby (1994)]
Poucos Autores defenderão ainda, actualmente, a dicotomia entre indústria e serviços,
apesar de ser comum ainda considerar o sector industrial, num sentido estrito, como
aquele que reúne as empresas de “manufactura”. No entanto, a abordagem de Sveiby
permite uma primeira visualização do problema, a partir da qual poderão ser feitos
avanços no sentido de uma definição mais concreta, abrangente e universal.
De acordo com a visão de Sveiby à altura, nas organizações do conhecimento o
“serviço” emerge como um processo contínuo de resolução de problemas entre os
clientes e as equipas de peritos. Estas terão, portanto, de tratar os seus clientes de uma
forma individual, sendo a organização que se adapta ao seu mercado e não o inverso.
Neste quadro, a “química” entre os clientes e as equipas da organização é um factor
importante.
68
Business Intelligence/Ernst &Young Survey, 1997, citado em
http://www.entovation.com/backgrnd/practice.htm
- 50 -
Sveiby refere que a lógica do negócio de uma organização do conhecimento depende
de como os seus gestores vêem os seus activos, as suas pessoas chave e os seus
clientes, como os atraem e como adequam as capacidades da organização para a
resolução de problemas às necessidades dos clientes.
Burton-Jones (1999) salienta que as mesmas forças tecno-económicas que determinam
a externalização, por parte das empresas, de funções e processos não essenciais, são
igualmente responsáveis por um movimento paralelo de internalização, isto é,
refinamento e concentração das funções essenciais dentro das empresas.
Este Autor apresenta um modelo para a transformação de uma empresa tradicional
numa empresa do conhecimento, o “Knowledge Growth Model”, composto por seis
estádios, o qual lhe permite classificar as empresas, num determinado momento, no
seu processo em direcção à empresa do conhecimento:
• Estádio 1 Reconhecimento do Conhecimento:
Criação da consciência da importância do conhecimento como factor de produção.
• Estádio 2 Organização do Conhecimento
Redução das camadas de gestão intermédias, acompanhada por progressiva
externalização de funções não essenciais e internalização das funções essenciais.
• Estádio 3 Networking do Conhecimento
Difusão dos processos de decisão e uso crescente de equipas multifuncionais.
Aumento da homogeneidade das capacidades do pessoal e maior enfoque em
processos associados à criatividade e à inovação.
• Estádio 4 Recompensa do Conhecimento
Realinhamento dos sistemas de incentivos e recompensas em função das
renovações estruturais e do enfoque no conhecimento.
• Estádio 5 Desenvolvimento do Conhecimento
Aumento do investimento em I&D e formação. Refinamento dos laços intrínsecos
à empresa entre os seus produtos e a sua base de conhecimento. Desenvolvimento
dos laços externos com fornecedores, clientes e outros parceiros de negócio,
designadamente nos domínios do processo produtivo, da formação e do
desenvolvimento de produto. 69
69
Este estádio aproxima-se do conceito de “Gestão da Cadeia de Valor”, cada vez mais vulgarizado em sectores
capital e tecnológico intensivos, como por exemplo os sectores automóvel e aeronáutico, mas igualmente em
expansão em outros sectores mais tradicionais (veja-se por exemplo o “Clube de Produtores” da Sonae
Distribuição).
- 51 -
• Estádio 6 Empresa do Conhecimento
A empresa é agora uma organização centrada no conhecimento. A gestão do
conhecimento e a gestão do negócio fundiram-se. As estratégias de crescimento e
de competitividade são baseadas no conhecimento.
Kogut e Zander (1996) e Grant (1996) sugerem que a noção de empresa baseada no
conhecimento é mais bem compreendida quando se perspectiva aquela como uma
comunidade social. Nas empresas do conhecimento, a partilha da identidade reduz os
custos de comunicação e minimiza as necessidades de estabelecimento de regras de
coordenação, aumentando assim a propensão para a aprendizagem. Não será por
acaso que começou a vulgarizar-se o termo “Learning Organization”, precisamente em
associação com a emergência do conceito de empresa do conhecimento70.
Staples et al. (2000) afirmam que caracterizar um dos tipos de produto da empresa
como “capital intelectual” ajuda à definição de Empresa do Conhecimento. Spender
(1996) aponta quarto características que descrevem uma empresa como exercendo uma
actividade baseada no conhecimento: Flexibilidade interpretativa (selecção estratégica
de actividades), gestão das fronteiras (onde a empresa começa e acaba, na sua relação
com a sua envolvente e os seus concorrentes), identificação das influências
institucionais (a que compromisso entre as pressões internas e externas a empresa deve
responder), e distinção entre condições sistémicas e individuais (conhecimento público
vs. conhecimento privado, quais são os fluxos de conhecimento da empresa).
Nurmi (1998) introduz o conceito de conhecimento “Know-why” (em contraponto com
o “Know-how” para definir um negócio do conhecimento, considerando que o
conhecimento “Know-why” da empresa se encontra incorporado nos seus produtos e
serviços, dando como exemplo o facto de um CD-ROM ser mais do que um simples
produto físico. Assim, Nurmi afirma que as empresas do conhecimento são menos
capital-intensivas que as empresas industriais (no sentido estrito, ou seja, da
manufactura) e mais intensivas em aprendizagem que as outras empresas de serviços.
Resumindo, a definição de “Empresa do Conhecimento” adoptada por Staples et al.
(2000, p. 5)71 pode ser aceite no quadro do presente trabalho, reproduzindo-se de
seguida:
“A nossa abordagem vai no sentido de tratar as empresas do conhecimento como organizações que
criam e adquirem, manipulam, integram ou de qualquer outra forma empregam, transferem e
difundem conhecimento como aspecto substancial das suas operações. Acreditamos que esta
abordagem enfatiza as capacidades chave de conhecimento da empresa, as quais combina para criar
o capital intelectual em que se escora a criação de valor.”72
70
É oportuno referir, neste contexto, que Augusto Mateus, em diversas intervenções públicas, tem afirmado que a
competitividade se mede pela capacidade de aprender mais depressa do que os concorrentes.
71
De onde aliás foram retiradas algumas das referências utilizadas neste ponto.
72
Tradução livre.
- 52 -
Esta definição de empresa do conhecimento ultrapassa, e abrange, a mais comum
definição de Empresa de Base Tecnológica a qual, aliás, se torna por vezes difícil de
estabelecer com exactidão, dado o facto de muitas empresas comummente aceites
como sendo de base tecnológica não passarem de meras utilizadoras (por vezes sem
quaisquer factores verdadeiramente distintivos em termos de posicionamento
competitivo) de tecnologias plenamente disponíveis no mercado.
A este propósito, a página de entrada do sítio Web do Queen’s Centre for KnowledgeBased Enterprises, do Queen’s School of Business, esclarece:
“As empresas do conhecimento (EC) são organizações que geram valor como produto directo do
conhecimento. Para estas organizações, conhecimento e informação – não apenas científicos, mas
igualmente notícias, aconselhamento, entretenimento e comunicação – tornaram-se as matérias
primas fundamentais e os seus mais importantes produtos e serviços. Muito simplesmente,
conhecimento é o que compram e vendem. É fácil encarar empresas de consultoria, agências de
publicidade, universidades e empresas de relações públicas como exemplos de EC. O que já não é
tão imediatamente óbvio é a extensão em que cada empresa tem vindo a aumentar o seu enfoque no
conhecimento como fonte emergente de valor. A definição de EC tem de ser entendida como sendo
uma questão de grau – o grau até onde a riqueza é criada como resultado directo do conhecimento
dentro de cada organização. Ou seja, todas as organizações são EC... até certo ponto.”73
Toma-se portanto a seguinte definição de “Empresas do Conhecimento”:
“Empresas do Conhecimento” são as organizações que criam ou adquirem,
manipulam, integram ou, de qualquer outro modo, empregam, transferem e
difundem conhecimento como uma parte substancial das sua actividade.
Por outro lado, consideram-se “Empresas Emergentes” aquelas que, estando
estabelecidas comercialmente (ou seja, encontrando-se legalmente constituídas, em
actividade comercial e colocando no mercado produtos e/ou serviços), se encontram
nos primeiros anos da sua actividade74 e ainda não foram objecto de uma IPO.75
A Adequação dos Modelos de Medição e Avaliação dos Activos
Intangíveis no caso das Empresas do Conhecimento Emergentes
As empresas do conhecimento emergentes possuem características específicas,
decorrentes da sua juventude. Estas características determinam condicionamentos
próprios para a prática da medição e da avaliação dos seus activos intangíveis.
Retomando a classificação feita por Karl-Erik Sveiby,76 descrita anteriormente, os
métodos de capitalização do mercado (MCM) são impraticáveis em empresas não
73
Tradução livre.
74
Para efeitos práticos do estudo empírico analisado mais adiante neste trabalho, considerar-se-ão idades entre 3 a 6
anos.
75
“Initial Public Offer”, ou seja, operação inicial de dispersão de capital em bolsa (as operações IPO envolvem
normalmente uma parte minoritária do capital da empresa).
76
Sveiby (2001).
- 53 -
cotadas em bolsa. Por outro lado, os métodos de retorno dos activos (ROA), não
sendo teoricamente impossíveis de utilizar, são-no de facto na prática. As principais
razões para tal impraticabilidade são as seguintes:
• Os métodos ROA utilizam os resultados da empresa durante um determinado
período. Este facto encerra dois problemas no caso das empresas do conhecimento
emergentes, o primeiro dos quais é o reduzido tempo de existência destas empresas,
correspondendo o segundo ao difícil relacionamento entre os resultados de uma
empresa deste tipo, nos seus primeiros anos, e os seus efectivos desempenho ou
valor.
• A comparação do ROA médio da empresa com a média do sector será virtualmente
impossível: Fazendo-se relativamente ao sector como um todo, a empresa
emergente sai sistematicamente prejudicada dada a fraca expressão dos seus
resultados na sua fase emergente; por outro lado, o ROA médio das empresas de
sectores também eles próprios emergentes ou em forte mutação, mesmo que seja
possível de determinar, carece de significado, dada a provável variância dos valores
e a diversidade de aspectos distintivos das empresas medidas nesta fase inicial da sua
existência.
Os métodos directos de capital intelectual (DIC), sendo também possíveis de aplicar
em teoria, debatem-se na prática com problemas semelhantes aos dos métodos ROA:
A estimativa do valor financeiro dos activos intangíveis (mesmo que através dos seus
componentes) carece, na maioria dos casos, de valores de referência no mercado para
poder gozar de alguma credibilidade. Lembre-se que o problema da não existência de
mercados organizados para os intangíveis é um dos problemas inerentes a todos eles,
pelo que mais o será numa fase inicial da empresa, em que o risco associado aos
mesmos é muito mais elevado.
Das quatro categorias de activos intangíveis detidos por uma empresa do
conhecimento emergente, a propriedade intelectual será provavelmente a única que
poderá ser medida através dos métodos DIC. No entanto, na sua fase emergente,
muitas das empresas poderão não deter ainda activos deste tipo em dimensão
significativa, o que não quer dizer que tenham obrigatoriamente pouco valor. A
detenção de propriedade intelectual significativa poderá não fazer parte da estratégia da
empresa ou, fazendo-o, poderá ainda não existir, embora possa haver elevado potencial
da sua detenção futura, em função de processos de I&D em fase terminal do seu
percurso.
Restam portanto os métodos do tipo SC, ou seja, de quadros de classificações. Estes
métodos poderão de facto ser utilizados no caso das empresas do conhecimento
emergentes. No entanto, mesmo este tipo de métodos apresenta algumas dificuldades
de aplicação nas empresas emergentes. Recordem-se as observações feitas por Sveiby
a este respeito, destacando-se a complexidade intrínseca, a grande quantidade de dados
que podem envolver e a especificidade inerente ao exercício referente a cada empresa.
A realização de medições e avaliações com recurso aos métodos do tipo SC pode
envolver, pois, dificuldades significativas para a maioria das empresas do conhecimento
- 54 -
emergentes. Uma das vias para obviar a este problema poderá ser a selecção de uma
bateria de indicadores bastante limitada. Esta via pode ser adequada nalguns casos,
designadamente em empresas que, apesar da sua ainda pequena idade, possuam já
alguma dimensão crítica e/ou complexidade estrutural. No entanto, estas empresas
serão certamente uma pequena minoria para idades até aos seis anos e praticamente
não existirão em idades ao redor dos 3 ou 4 anos.
A selecção de indicadores, de entre um conjunto muito vasto que cada método prevê,
faz parte dos próprios métodos SC. No entanto, a necessidade de limitar o número de
indicadores para conseguir lidar com o próprio método no caso de uma empresa do
conhecimento emergente encerra alguns riscos, por poder implicar o afastamento de
aspectos relevantes do seu capital intelectual.
A maioria – se não todos – os métodos SC envolve a selecção dos indicadores a utilizar
em função da estratégia da empresa. Esta tarefa será mais facilmente realizável em
empresas mais consolidadas do que em empresas emergentes, nas quais não só a
estratégia pode mudar rapidamente, de forma por vezes dramática, como muitas vezes
nem sequer existe de uma forma explícita e formalizada. Nestes casos, podem ocorrer
escolhas aleatórias e inadequadas de indicadores, o que invalidará ou, pelo menos,
tornará desinteressante a análise a efectuar.
O facto de o método ter de ser adaptado especificamente ao caso de cada empresa
torna igualmente difícil a utilidade dos resultados da sua aplicação para terceiros à
própria empresa. Os elevados factores de risco associados às empresas emergentes
fazem com que um método de avaliação que não produza resultados facilmente
comparáveis tenha pouca utilidade para quem não conhece de perto a realidade da
empresa, como será por exemplo o caso de potenciais investidores.
Este inconveniente pode ser minorado se a empresa produzir séries temporais dos
indicadores e da avaliação, o que permitirá aquilatar a sua evolução. No entanto, esta
possibilidade nem sempre é real, não só porque, de novo, se coloca a questão do
horizonte temporal limitado, como acresce a possibilidade de, dadas as rápidas
mutações a que a empresa pode estar sujeita nesta fase inicial, o conjunto de
indicadores seleccionado inicialmente já não se adequar a dois ou mais anos de
distância.
Sem se entrar numa análise em detalhe de cada um dos 6 métodos SC identificados
anteriormente, até porque não se dispõe de dados suficientes sobre os aspectos de
pormenor dos mesmos,77 procede-se de seguida a uma abordagem dos vários activos
integrados em cada uma das quatro categorias de activos intangíveis, procurando-se
determinar até que ponto cada tipo de activo é passível de identificação e mensuração
numa empresa do conhecimento emergente.
Para a análise que se segue ter-se-á de caracterizar melhor uma empresa do
conhecimento emergente, introduzindo um conjunto de simplificações que permita
77
Estes métodos são, na sua totalidade, objecto de exploração comercial pelos seus detentores, possuindo alguns
mesmo marca registada. A disponibilização de detalhes que permitam compreender a respectiva operacionalização
não é pois possível.
- 55 -
avaliar da possibilidade/probabilidade da manifestação de cada tipo de intangível e da
intensidade com que o mesmo se manifestará numa empresa típica reunindo as
condições simplificadoras introduzidas.78
Admitir-se-á portanto que uma empresa do conhecimento, numa fase emergente:
• Apenas conta com os seus sócios fundadores (os empreendedores originais da
empresa) ou, caso possua mais colaboradores, não possui uma estrutura organizada
de forma explícita e formal;
• Ainda não possui um mercado estabilizado nem uma gama de produtos/serviços
consagrados no mercado;
• Podendo embora já efectuar vendas, o que significa que fornece produtos e/ou
vende serviços, ainda não tem completamente desenvolvido (ou seja, pronto para
entrar em fase de plena comercialização) os produtos/serviços fundamentais em
termos da sua estratégia de desenvolvimento.
Este conjunto de características simplificadoras, não se verificando em todas as
empresas do conhecimento emergentes, corresponde no entanto, e uma forma geral,
ao que de facto ocorre numa fase inicial da vida deste tipo de empresas. O longo
processo de desenvolvimento dos produtos/serviços associados ao conhecimento,
envolvendo custos (muitas vezes com a característica de custos afundados)
significativos, não permite normalmente às empresas do conhecimento apresentar,
numa fase inicial da sua vida, um posicionamento de mercado semelhante ao que,
tipicamente, ocorrerá em empresas do conhecimento com mais idade.79
A apreciação, que se segue, da possibilidade de medição e avaliação dos activos
intangíveis nas empresa do conhecimento emergentes obedece a uma simplificação
classificativa, a qual procura permitir a análise da adequabilidade dos métodos segundo
dois parâmetros:
• A Probabilidade de manifestação, ou seja, a probabilidade de a empresa deter
activos de um determinado tipo e, detendo-os, a probabilidade de os mesmos serem
identificáveis;
• O Grau de mensurabilidade, isto é, para os tipos de activos intangíveis que se
manifestam na empresa (existem e são identificáveis), a facilidade com que os
mesmos podem ser medidos, segundo as regras genéricas de medição dos métodos
SC existentes.
78
Na análise empírica que integra este trabalho as empresas consideradas obedecem obrigatoriamente à
caracterização feita anteriormente na página 53, podendo as suas características não coincidir com as
simplificações aqui propostas.
79
Excepto nos casos em que a criação da empresa surja apenas numa fase em que os produtos/serviços estratégicos
se encontrem já em condições de entrar em comercialização. Este tipo de situação não será, no entanto, o mais
frequente.
- 56 -
A classificação é feita na perspectiva da comparação entre as empresas do
conhecimento emergentes e as empresas do conhecimento já implantadas no mercado,
designadamente nos casos em que as mesmas já se encontram cotadas no mercado de
capitais ou, de alguma forma, já disponibilizam alguma informação ao público sobre o
seu funcionamento. A comparação é ainda efectuada dentro do mesmo sector (por
exemplo, a existência de patentes, e a sua importância para o negócio, não se
distribuem uniformemente por todos os sectores tecnológicos e/ou de actividade mas,
dentro de um determinado sector – como seja o da biotecnologia – é muito importante
tanto para empresas emergentes como para empresas mais consagradas).
Parâmetros
Grau
PMA
Probabilidade de manifestação
ì - Elevada
è - Média
î - Baixa
GM
Grau de mensurabilidade
ì - Elevado
è - Médio
î - Baixo
Tabela 8 – Simplificação classificativa para a aferição da adequabilidade
dos métodos de avaliação dos activos intangíveis às empresas do
conhecimento emergentes
A notação de “Elevado” corresponde à similitude de situação com uma empresa não
emergente; A notação de “Médio” corresponde a uma situação inferior à que se
verificará normalmente numa empresa estabelecida mas, ainda assim, passível de
detecção, identificação e eventual tratamento através dos métodos de medição
existentes; A notação de “Baixo” corresponde a uma provável impossibilidade, ou
grande dificuldade, de manifestação e/ou de mensuração.
Os vários tipos de activos intangíveis identificados anteriormente são classificados de
seguida segundo os dois parâmetros acima indicados:
- 57 -
Categoria: Propriedade Intelectual
Tipo
PMA
GM
Patentes
î
ì
Direitos de Autor
î
ì
Direitos de Design
î
ì
Segredos Comerciais
î
è
Desenvolvimento de Processos
è
è
Produtos e Serviços
è
è
Tecnologias
è
è
Totais
0
3
4
3
î
Médias
4
0
è
Tabela 9 – Adequabilidade dos métodos de avaliação da Propriedade
Intelectual em empresas do conhecimento emergentes
Categoria: Activos de Mercado
Tipo
PMA
GM
Marcas
î
Posicionamento
î
Base de Clientes
î
î
Nome da Empresa
î
î
Canais de Distribuição
î
î
Acordos e Licenças
î
è
Contratos
î
è
Relações com a Envolvente
î
î
Parcerias
î
î
Totais
Médias
0
0
î
9
ì
è
1
3
î
Tabela 10 – Adequabilidade dos métodos de avaliação dos Activos de
Mercado em empresas do conhecimento emergentes
- 58 -
5
Categoria: Activos de Infrastrutura
Tipo
PMA
GM
Filosofia de Gestão
î
î
Cultura Corporativa
î
î
Processos de Gestão
î
î
Processos de Negócio
î
î
Impacto dos Sistemas de
Informação
î
è
Relações Externas
è
î
Networking
è
î
Cumprimento de Standards
è
Totais
0
3
è
5
0
î
Médias
2
6
î
Tabela 11 – Adequabilidade dos métodos de avaliação dos Activos de
Infrastrutura em empresas do conhecimento emergentes
Categoria: Activos Humanos
Tipo
PMA
GM
Inteligência
ì
ì
Liderança
ì
ì
Conhecimento
ì
ì
Capacidades
ì
ì
Competências
ì
ì
Atitudes
ì
ì
Espírito de Iniciativa
ì
ì
Espírito de Equipa
ì
ì
Sociabilidade
ì
ì
Totais
Médias
9
0
ì
0
9
0
0
ì
Tabela 12 – Adequabilidade dos métodos de avaliação dos Activos
Humanos em empresas do conhecimento emergentes
Da análise acima – necessariamente simplista e redutora – ressaltam dois aspectos
essenciais:
- 59 -
• Apenas no caso dos Activos Humanos é possível identificar e medir eficazmente80
os activos intangíveis de uma empresa do conhecimento emergente;
• Das restantes três categorias de activos intangíveis (Propriedade Intelectual, Activos
de mercado e Activos de Infrastrutura), apenas os activos associados à Propriedade
Intelectual, quando se manifestam numa empresa do conhecimento emergente,
serão susceptíveis de medição e aferição através dos métodos existentes.
Estas conclusões de alguma maneira correspondem ao senso comum: Numa fase
emergente, é nas capacidades dos empreendedores (Activos Humanos) que se
concentram os principais activos de uma empresa do conhecimento, já que esta, por
um lado, não dispõe de activos tangíveis significativos e, por outro, não possui ainda
nem estrutura nem implantação no mercado capazes de se constituir como factores
determinantes do seu valor real e potencial.
No que respeita à propriedade Intelectual, quando a mesma existe e é estratégica para a
empresa, como sucede tipicamente em casos como a química, a medicina, a
farmacologia ou a biotecnologia (patentes) e no software ou na produção de conteúdos
(direitos de autor), a sua medição é possível, sendo igualmente viável – embora com
limitações – a determinação do respectivo valor. Tal acontece devido, como
anteriormente foi evidenciado, ao facto de a Propriedade Intelectual possuir um
comportamento económico específico, o qual contém diversos elementos indutores de
valor (codificação do conhecimento, sistemas legais de registo, menor dificuldade de
transacção).
Em resumo, apenas os métodos de medição e avaliação dos activos intangíveis do tipo
SC (scorecard, ou quadro de classificações) são aplicáveis, mas com grandes limitações,
no caso das empresas do conhecimento emergentes. A natureza emergente das
empresas permite medir activos associados à Propriedade Intelectual, os quais no
entanto não se manifestam de forma significativa e determinante em muitas das
empresas do conhecimento, e faz dos Activos Humanos, ou seja, da Capacidade
Empreendedora (uma vez que nela se concentram os Activos Humanos nesta fase) o
terreno de eleição para a análise de valor, actual e potencial, deste tipo de empresas.
Uma vez que os métodos SC existentes olham para os Activos Humanos na
perspectiva das grandes organizações (Karl-Erik Sveiby fala, por exemplo, em
“competências do pessoal” na sua análise do balanço invisível das empresas do
conhecimento),81 e sendo esta categoria de activos intangíveis aquela que, de uma
forma universal, mais determinante é para a determinação do valor actual e da
possibilidade de desempenho futuro, faz todo o sentido olhar para a Capacidade
Empreendedora dos promotores das empresas do conhecimento emergentes de uma
forma específica, construindo formas de análise e uma metodologia de aferição
específicas.
80
Tão eficazmente quanto em empresas do conhecimento não emergentes.
81
Sveiby (1997).
- 60 -
E - AS EMPRESAS DO CONHECIMENTO EMERGENTES: O
FENÓMENO DO EMPREENDEDORISMO 82
Os Conceitos de Empreendedorismo e de Inovação
Foi Schumpeter quem pela primeira vez, na primeira metade do século XX, referiu o
empreendedorismo como um instrumento de transformação económica83, ao criar
novos negócios, introduzindo e comercializando inovação. 84 Esta ideia foi depois
alargada por diversos autores ao crescimento económico dos países menos
desenvolvidos.
A Figura 20 procura evidenciar a relação de causa e efeito entre o crescimento
económico e o empreendedorismo, bem como as diferentes interacções que, de um
ponto de vista genérico, são necessárias à promoção do empreendedorismo.
Oportunidades para
o empreendedorismo
Enquadramento das
condições nacionais gerais
•Existência
•Percepção
•Abertura
•Governo
•Mercados financeiros
•Tecnologia e I&D
•Infra-estruturas
•Capacidade de gestão
•Mercado de trabalho
•Instituições
Dinâmicas
empresariais
(empresas e emprego)
•Nascimentos
•Expansão
•Declínio
•Mortes
Capacidade
empreendedora
Contexto social,
cultural
e político
•Capacidades
•Motivação
Enquadramento
das condições para
o empreendedorismo
•Financeiras
•Políticas públicas
•Programas governamentais
•Educação e formação
•Transferência de I&D
•Infra-estrutura comercial e legal
•Abertura do mercado interno
•Acesso a infra-estruturas físicas
•Normas sociais e culturais
Crescimento económico
(PIB e emprego)
Fonte: Zacharakis, Reynolds & Bygrave (1999)
Figura 20 - Modelo conceptual sobre o empreendedorismo e o
crescimento económico [adaptado de Gonçalves (2000)]
Nos anos 70 surgem pela primeira vez a experiência e a educação como dois factores
importantes no desenvolvimento da capacidade empreendedora, o que contribuiu para
a evolução do pensamento, no sentido de se deixar de considerar o empreendedorismo
como algo de exclusivamente inato, como tal eminentemente determinístico e estático.
82
Este Subcapítulo, no que respeita ao empreendedorismo, é essencialmente baseado em Gonçalves (2000) e em
partes de trabalhos anteriores realizados pelo CPIN – Centro Promotor de Inovação e Negócios, Instituição de
que o autor deste documento é Director Geral, bem como na investigação por este efectuada, designadamente em
termos bibliográficos.
83
Em economias industrializadas, de Mercado.
84
Schumpeter (1934).
- 61 -
Para além da economia, outras áreas de investigação contribuíram para o
desenvolvimento do empreendedorismo. Em relação à área comportamental realça-se
Max Weber, que identificou os empreendedores como indivíduos inovadores e
independentes que, enquanto líderes de negócios, exercem uma autoridade formal.85
No entanto, foi McClelland (1987) que desenvolveu a contribuição das ciências
comportamentais para o empreendedorismo, as quais identificaram as características
pessoais do empreendedor.
Os primeiros estudos sobre o empreendedor centraram-se na personalidade e no factor
cultural, enquanto determinantes do comportamento empreendedor, de onde surgiram
características como a necessidade de reconhecimento, a propensão ao risco, o autocontrolo, a tolerância, a ambiguidade e o desejo de independência.
Peter Drucker (1985a), no entanto, refuta as características intrínsecas ao
empreendedor, afirmando que o que é comum ao empreendedorismo é a procura
sistemática da inovação, sendo esta a função específica do mesmo, seja numa empresa
já existente, criando uma nova empresa ou mesmo numa instituição pública. É através
da inovação que o empreendedor cria ou recria novas formas de utilização dos
disponíveis e geralmente escassos, com vista a criar um potencial que gere riqueza.
É então reconhecida a necessidade de realizar a análise do comportamento
empreendedor, tendo em consideração a envolvente social, política, cultural,
económica, infra-estrutural ou de novas oportunidade de mercado, porque cada um
destes aspectos pode, de per si, influenciar a criação de novas empresas.
Actualmente, tem-se voltado a estudar os traços de personalidade dos
empreendedores, devidamente enquadrados num determinado contexto. Os factores
de envolvente são muito importantes mas não criam empresas. Para tal, torna-se
indispensável uma pessoa que, conjugando a oportunidade e acreditando na inovação,
tem a motivação para levar o processo até ao fim. Ao nível individual, a investigação
centra-se hoje no potencial empreendedor de um indivíduo face a uma oportunidade
de negócio.
Assim, a investigação tem-se desenvolvido para o estudo das competências e
capacidades necessárias para que uma pessoa seja um empreendedor, bem como para
os métodos de aprendizagem individuais e da organização requeridos para a mudança.
O empreendedorismo deve ser visto, assim, enquanto um processo dinâmico, que tem
inerente a concepção, percepção e realização de uma oportunidades de negócio.
Verificou-se, ao longo da última década, uma significativa expansão do conceito de
empreendedorismo, já que, numa fase inicial, o mesmo se centrou nas características
pessoais do empreendedor/empresário, incorporando posteriormente o
“empreendedorismo por conta de outrem86”, o “empreendedorismo internacional”, as
85
Segundo Filion (1997).
86
No léxico inglês “Intrapreneurship”.
- 62 -
alternativas de carreira e o ambiente para a promoção do empreendedorismo, o que
permitiu ter uma visão mais alargada e complexa do estudo deste fenómeno.
As definições de empreendedorismo variam conforme a especialização de cada
abordagem. Os economistas tendem a concordar que os empreendedores estão
associados com a inovação, permitindo o desenvolvimento. Os investigadores das
ciências comportamentais salientam como características a criatividade, persistência,
controlo e liderança. Por outro lado, os engenheiros consideram os empreendedores
como bons distribuidores e coordenadores de recursos. E, por último, os financeiros
definem os empreendedores como pessoas capazes de medir e assumir o risco.
Um conceito de empreendedorismo que permita o enquadramento das suas diversas
perspectivas pode ser encontrado na definição proposta pela Comissão Europeia
(1998):
“Um processo dinâmico a partir do qual indivíduos identificam sistematicamente oportunidades
económicas, e respondem, desenvolvendo, produzindo e vendendo bens e serviços. Este processo
requer qualidades, como a autoconfiança, capacidade para assumir riscos e sentido de envolvimento
pessoal.”
Através desta definição, depreende-se que pode haver empreendedorismo sem o acto
de criação de uma nova empresa. No entanto, no que diz respeito aos indivíduos que
criam uma empresa, não restam dúvidas de que estes são empreendedores. Refira-se
que um empreendedor, ao criar uma empresa, ao ser inovador numa actividade ou
inovador numa estratégia empresarial, tem sempre subjacente a percepção de uma
oportunidade e a vontade de fazer algo, com o objectivo de obter uma vantagem
competitiva, utilizando para tal os recursos disponíveis, tomando sempre em
consideração uma envolvente incerta, tal como se pode observar na Figura 21.
Oportunidade
Empreendedor
Ajustamentos
e lacunas
Incerteza
da
Recursos
envolvente
Fonte: Bygrave, W. (1995)
Figura 21 – Forças motrizes do empreendedorismo [adaptado de
Gonçalves (2000)]
O conceito de inovação tem igualmente evoluído ao longo dos tempos. Sem
necessidade de demasiado recuo no tempo, recordar-se-á o Livro Verde para a
- 63 -
Inovação da Comissão Europeia (1995), no qual inovação é entendida como a
“Produção, assimilação e exploração bem sucedidas de uma novidade”.
Durante bastante tempo, inovação e invento foram conceitos largamente confundidos,
o que de alguma forma contrariava a ideia de Schumpeter (1934), ligada a um processo
de inovação essencialmente incremental. Mais tarde, e face à crescente necessidade de
explicar processos competitivos e comportamentos empresariais cada vez mais
complexos, os quais dificilmente podem ser explicados por via de um processo linear
de inovação, surgiram conceitos de inovação associados ao produto, ao processo ou à
comercialização.
No entanto, todas estas evoluções continuaram a enfermar de uma visão centrada na
oferta, a qual actualmente se revela completamente desajustada dos mecanismos de
mercado que conduzem e condicionam as dinâmicas de competitividade. Impôs-se
então o modelo não linear, interactivo, de inovação87, o qual integra tanto acções (e
interacções) “demand-pull” como “technology-push”, tendo colocado em xeque noções de
inovação exclusivamente ligadas à oferta.
Pedro Conceição e Manuel Heitor apresentaram recentemente88 um conceito mais
abrangente e actualizado de inovação, que é o de “criação de valor em contexto de
mudança”. Este conceito integra o objecto da inovação – a criação de valor –
independentemente do processo e posiciona-o no actual contexto de forte mutação das
dinâmicas sociais, económicas e empresariais.
O que é importante reter é que empreendedorismo e inovação são indissociáveis.
Augusto Mateus (2000) associa o empreendedor à ideia de “saber fazer fazer”, a qual
envolve a noção de que o empreendedor tem de ser ao mesmo tempo um inovador
com iniciativa (saber fazer) e um líder (saber fazer com que outros façam).
Factores de envolvente que fomentam o empreendedorismo
A dinâmica do empreendedorismo é influenciada pelas alterações das condições na
envolvente, tais como as recessões económicas, o forte crescimento económico, as
disrupções tecnológicas, as mudanças organizacionais e as reestruturações sectoriais,
sendo também importante a existência de um ambiente propício e facilitador em
termos económicos e políticos.
Nesta linha de ideia, Drucker (1985b) identificou a inovação como o motor de
desenvolvimento do empreendedorismo, afirmando que aquela surge devido a um
conjunto de factores, nomeadamente a ocorrência de factos não esperados,
incongruências, necessidades de processos, alterações industriais e de mercado,
87
O processo interactivo de inovação, denominado “chain-linked model”, foi desenvolvido por Stephen Kline e Nathan
Rosenberg em 1986. Myers e Rosenbloom (1996) propuseram um modelo baseado no “chain-linked model”, que
denominaram de “total process model”, no qual incorporaram elementos como conhecimento tácito, plataformas
tecnológicas e comunidades de práticas.
88
Conceição e Heitor (2000).
- 64 -
alterações demográficas, alterações de percepção e desenvolvimento de novos
conhecimentos.
Existe, assim, um largo conjunto de factores na envolvente que fomentam o
empreendedorismo, como sejam o sistema de apoio social e familiar, as fontes de
financiamento, os trabalhadores, os clientes, os fornecedores, a comunidade local, as
agências públicas ou a envolvente cultural, política e económica.
Figura 22 – Factores sociais e da envolvente que afectam o
empreendedorismo [adaptado de Gonçalves (2000)]
A Figura 22, apesar de permitir visualizar a complexidade da envolvente ao
empreendedor, apresenta-se estática, já que se limita a apresentar os “stakeholders”.
Torna-se portanto útil evidenciar uma perspectiva dinâmica, mais próxima da realidade,
o que pode ser efectuado através da Figura 23.
- 65 -
Intenção
Iniciação
Desenvolvimento
Resultados
•Background do empreendedor
•Comunidade local
•Envolvente cultural, política e económica
•Apoio familiar e social
•Fontes de financiamento
•Agências públicas
• Trabalhadores
• Clientes
• Fornecedores
Ideias
Sucesso
inicial
Pré-intenção
Descontinuação ou falhanço
T e m p o
Fonte: Bloodgood, J., Sapienza, H. e Carsrud, A. (1995)
Figura 23 – O processo empreendedor e os principais factores sociais e
da envolvente que o influenciam [adaptado de Gonçalves (2000)]
Um aspecto principal nesta teia de relacionamentos que envolvem o empreendedor é a
confiança existente no sistema económico. Considerando que o processo de avaliação
da oportunidade por parte do potencial empreendedor se baseia fundamentalmente em
expectativas, o nível de confiança deste é central no desenvolvimento e maturação da
oportunidade, possibilitando uma maior fundamentação das expectativas e, assim,
permitindo a minimização do risco.
Este mesmo aspecto da confiança é realçado por Tavares (2000), o qual afirma que a
confiança é muitas vezes escolhida como um indicador de capital social. O Autor
refere: 89
“Um estudo conduzido no princípio da década de 9090 coloca Portugal em posição desfavorável num
conjunto de países, de acordo com a percepção dos seus cidadãos quanto ao nível interno de
confiança.
Apenas uma pequena percentagem superior a 20 por cento dos inquiridos em Portugal respondeu
que confia na maioria da população, enquanto nos países nórdicos este número era superior a
50%.”
Um outro elemento relevante na envolvente, encontra-se ligado com o “factor
cultural”. A envolvente social e cultural do empreendedor é muito importante, já que a
demonstração de um comportamento empreendedor por parte de um indivíduo ou de
89
Tavares (2000, pp. 128-129).
90
World Values Survey, indicando a percentagem das pessoas que responderam afirmativamente à pergunta: “Em
termos gerais, diria que se deve confiar na maioria das pessoas?”
- 66 -
um grupo de indivíduos é um fenómeno social. Os comportamentos ou competências
dos empreendedores definem-se, sem dúvida, pela referência indirecta a outro
indivíduo, grupo, sociedade ou cultura em sentido mais amplo.
O “factor cultural”, apesar de se encontrar presente nos estudos sobre o
empreendedorismo, tem sido por vezes esquecido na aplicação prática desses
trabalhos. Recorde-se que a larga maioria da investigação se tem efectuado nos EUA,
sendo aplicada em políticas económicas noutros países, sem a necessária adaptação a
este factor, o que é decisivo. De facto existem diferenças culturais que impedem a
extensão dos modelos americanos a outros países.
O peso do “factor cultural” foi identificado por McClelland (1961), segundo o qual,
seja inata ou adquirida, a capacidade empreendedora depende do contexto social.
Afirmou ainda que a capacidade para realizar iniciativas económicas depende da
sociedade e da cultura a que pertence. Recentemente, tem-se identificado uma
interdependência mais estreita entre o empreendedorismo e a envolvente social, sendo
o primeiro dependente da segunda. A actividade económica em geral, e o
empreendedorismo em particular, fazem parte de estruturas sócio-culturais, sendo o
empreendedorismo a nível local estimulado por um contexto favorável. Segundo
Poutsma (1997), este último aspecto deve-se designadamente a factores como:
• Existência de micro e pequenas empresas na comunidade, as quais criam e
dinamizam redes de cooperação informal. A cooperação é facilitada a nível local,
porque há uma partilha de valores sociais e culturais;
• Estrutura económica baseada em empresas familiares, que espontaneamente
regulam o mercado e a vida social;
• “Empreendedores comunitários” que dinamizam a identidade local e regional,
elevando o papel social do empreendedor.
Refira-se ainda um outro aspecto cultural, materializado nas atitudes relativamente ao
fracasso empresarial. É que em muitas culturas, como a portuguesa e em muito do
espaço Europeu em geral, o seu valor enquanto aprendizagem não é reconhecido,
como acontece na realidade norte americana, o que pode ser inibidor da emergência do
empreendedorismo, alterando, por um lado, a percepção do risco e, por outro lado,
enviesando o papel do empreendedor na sociedade. Este factor foi reconhecido pela
Comissão Europeia (1998), a qual afirma:
“Existe na Europa um sério estigma social em relação à falência. Nos EUA, as leis da falência
permitem ao empreendedor que falhou recomeçar rapidamente e o falhanço é visto como parte do
processo de aprendizagem. Na Europa, quem falha é visto como um incapaz, sendo extremamente
dificultado o acesso a financiamento para uma nova empresa.”
As características do empreendedor
O estudo do empreendedorismo iniciou-se com a procura das características
psicológicas distintivas do empreendedor, visando a definição do seu perfil psicológico.
- 67 -
Deste trabalho resultou um conjunto de características que podem ser normalmente
identificadas nos empreendedores, como sendo a determinação, o optimismo, a
independência, a vontade de enfrentar desafios e a vontade de correr riscos.
Alguns autores sustentam que essas características, apesar de importantes, não são
determinantes, já que podem ser alteradas ou ultrapassadas através da experiência e da
educação/formação, ou até na interacção com outras pessoas, a quem se podem vir a
associar. Aliás, o empreendedor raramente inicia uma empresa sozinho, sendo mais
comum uma equipa de empreendedores a iniciarem uma nova empresa.91 Drucker
(1985b) sustenta que existem muitos casos em que os empreendedores não possuem
essas características e, apesar disso, criaram as suas empresas e muitas delas com
sucesso.
Surge pois a necessidade de reequacionar o conceito, tendo surgido a definição de
empreendedor potencial, já que é reconhecido na literatura que nem todos os
indivíduos podem ser empreendedores. Shapero (1981) introduziu esta noção,
considerando que o potencial emerge quando um indivíduo consegue percepcionar
uma oportunidade, reconhecendo-a como pessoalmente viável. Quando um indivíduo
tem capacidade empreendedora, ou seja, tem competência, capacidade e vontade,
pode-se desenrolar a oportunidade de criação de uma nova empresa.
É no entanto difícil, do ponto de vista psicológico, separar um empreendedor de um
não empreendedor, 92 surgindo assim a necessidade de percepcionar intenções, atitudes
e motivações, como forma de identificar o empreendedor potencial. E é igualmente
indispensável que esse potencial seja avaliado à luz da oportunidade em causa.
Segundo Reitan (1997), há muitos indivíduos com intenções, competências e
capacidades, e que até vivem num ambiente propício ao empreendedorismo, mas
nunca criarão uma empresa, porque não reconhecem uma oportunidade viável face às
suas competências e capacidades.
Conclui-se, assim, que há um conjunto de competências, normalmente relacionadas
com os empreendedores, que importa desenvolver. McClelland (1987) identificou um
conjunto de competências evidenciadas pelos empreendedores e que contribuíam para
o sucesso da iniciativa empresarial, a saber:
• Proactividade (os empreendedores demonstram uma maior iniciativa e
assertividade);
• Orientação por objectivos (os empreendedores identificam uma oportunidade e
procuram alcançá-la, são orientados pela eficiência, preocupam-se com a qualidade
do trabalho, planeiam sistematicamente e monitorizam o trabalho);
• Respeito pelos outros (os empreendedores demonstram um sentimento de
obrigação perante o cumprimento de um trabalho e reconhecem a importância das
relações de trabalho, realçando ainda a importância da satisfação do cliente).
91
Gartner et al (1994).
92
Reitan (1997).
- 68 -
Mas, na realidade, não basta deter características empreendedoras, apesar de estas
serem importantes. Há um momento no qual o empreendedor decide iniciar um novo
negócio e esse é um dos aspectos fundamentais no estudo do empreendedorismo.
Torna-se assim necessário perceber o processo de decisão do empreendedor, incluindo
as motivações e os factores que o levaram a tomar essa decisão.
Os estudos realizados sobre o processo de decisão93 dizem-nos que o empreendedor
decide com base em expectativas, mais do que com base em factos reais. Este factor é
ainda mais evidente quando se trata de uma inovação, onde muitas vezes é difícil
definir o mercado e efectuar estimativas razoáveis para a evolução da empresa a criar.
É aqui que a comunidade pode ter um papel muito relevante, ao criar expectativas
positivas e incentivando o empreendedorismo, através da redução das barreiras de
entrada tangíveis (por exemplo facilitando o acesso a financiamento), ou intangíveis
(por exemplo valorizando o papel social do empreendedor ou valorizando a
importância da mudança).
Num estudo realizado na Austrália por Mazzarol et al (1998), foram identificados 6
factores de motivação para a criação de uma empresa, partindo de um conjunto mais
alargado de variáveis:
• Investimento: Necessidade de um emprego, desejo de investir poupanças, desejo
de receber lucros pelo mérito e necessidade de criar riqueza;
• Criatividade: Desejo de aproveitar talentos, de ter um emprego interessante, desejo
de criar alguma coisa / realização de um sonho;
• Autonomia: Desejo de trabalhar num local que se escolheu, desejo de ter um
horário à escolha e desejo de ser o seu próprio patrão;
• Status: Seguir o exemplo de outra pessoa, desejo de reconhecimento social e desejo
de seguir a tradição familiar;
• Oportunidade de mercado: Desejo de aproveitar uma oportunidade de mercado e a
antecipação de factores económicos positivos;
• Dinheiro: Manter o rendimento e ganhar mais dinheiro.
É necessário ter em mente que há apenas um conjunto de características mutáveis, que
dizem respeito a capacidades, competências e relacionamentos, e é sobre estas que se
pode actuar individualmente.94 Para alterar a personalidade e as motivações são
necessárias alterações profundas, nomeadamente culturais, o que obriga a uma
actuação sistémica e global, principalmente no sistema de educação, designadamente ao
nível do ensino obrigatório.
93
Krueger (1997).
94
Bird (1993).
- 69 -
Genética
Contexto familiar
Experiência adulta
História da vida
Experiência actual
Qualidades visíveis e mutáveis
• Competências
• Capacidades
• Relacionamentos
Estruturas e escolhas profundas
• Personalidade
• Motivações
Potencial
comportamento empreendedor
• Começar
• Persistir
• Vencer
Fonte: Bird, B. (1993)
Figura 24 – Um modelo de vida de desenvolvimento empreendedor
[adaptado de Gonçalves (2000)]
Nota-se a existência de um consenso generalizado (se bem que não demonstrado entre
gestores e investigadores), de que a experiência profissional passada é um indicador
mais fiável do que a educação. A opinião geral é de que “a escola da vida” prepara
melhor os indivíduos do que a escola ou a universidade. Um outro aspecto a
evidenciar é o de haver fortes indícios de que, quando iniciam as suas empresas, os
indivíduos apresentam uma elevada insatisfação no emprego ou actividade que tenham
tido anteriormente.95
O processo de aprendizagem através da experiência é contínuo e incremental,
conforme se pode ver na Figura 25. O indivíduo começa por observar e reflectir sobre
a envolvente, identificando oportunidades, que conceptualiza de forma abstracta. Caso
entenda viável, experimenta e adquire experiência, que lhe permitirá observar e reflectir
sobre novas realidades, e assim sucessivamente.
Experiência
concreta
Experimentação
activa
Observação
reflectiva
Conceptualização
abstracta
Fonte: Bird, B. (1993)
Figura 25 – Aprendizagem experimental [adaptado de Gonçalves (2000)]
95
Bird (1993.
- 70 -
Este processo de aprendizagem deve ter presente um processo de valorização do
empreendedor, sendo este um agente que interage com a sociedade. De acordo com
Felizardo (1997), a dinâmica de valorização passa por 3 estádios:
• O aprender (saber): É o primeiro estádio através do qual se transforma
informação em conhecimento. Nesta fase, é particularmente relevante o ensino
formal, desde o primário ao universitário;
• O apreender (saber fazer): É a segunda etapa de valorização, transformando
conhecimento em competências, envolvendo a aplicação dos conhecimentos em
novas situações, normalmente associado a interacções com a envolvente, de onde se
obtém feedback;
• O empreender (fazer com saber): É o terceiro estádio, que corresponde à
transformação das competências em capacidades, isto é, o fazer com saber, que
possibilita ao indivíduo fazer acontecer ou, integrando a noção de liderança, e como
definiu Mateus (2000), “saber fazer fazer”.
À medida que o indivíduo apreende, necessita de nova aprendizagem e à medida que
empreende, necessita não só da aprendizagem, mas igualmente da apreensão,
valorizando-se assim em contínuo e com reciprocidade, conforme se pode observar na
Figura 26. Evidenciam-se, assim, necessidades de formação nos 3 estádios, sendo no
primeiro associada ao “learning-by-learning”, ou seja, a esquemas tradicionais de formação
(marketing, finanças, etc...) e, no segundo e terceiro estádios, associada ao “learning-bydoing” e ao “learning-by-interacting”, ou seja, a esquemas mais avançados de formação,
designadamente a tutoria (em especial no apoio à elaboração de planos de negócio), e o
apadrinhamento e a “formação on the job”, permitindo ao indivíduo ultrapassar
constrangimentos pessoais, facilitando assim o processo do empreendedorismo. 96
96
O CPIN e o IST – Instituto Superior Técnico, desenvolveram entre 1998 e 2000 o Programa IMPACT, de
formação em Comercialização de Ciência e Tecnologia e Internacionalização, dirigido a empreendedores de base
tecnológica, em parceria com o Instituto IC2 – Innovation, Creativity & Capital da Universidade do Texas, em
Austin, e com o apoio do Ministério da Economia, através de alguns dos seus Organismos, e do PEDIP II. Este
Programa foi concebido com base no processo dinâmico de valorização dos indivíduos aqui referido. Mais
informações sobre esta iniciativa podem ser encontradas em http://in3.dem.ist.utl.pt/adv/impact/.
- 71 -
Figura 26 – A dinâmica de valorização dos indivíduos [adaptado de
Gonçalves (2000)]
Pode acrescentar-se ainda um quarto tipo de aprendizagem, relacionado com a
dinâmica de competitividade em que o empreendedor necessariamente se envolve, que
pode ser designada por “learning-by-comparing”, e que se materializa através do
benchmarking. Esta forma de aprendizagem manifestar-se-á crescentemente em estádios
posteriores à criação da empresa.97
Em relação às características socio-biológicas, considera-se que o género, religião ou
grupo étnico, quando conduzem à dificuldade na inserção no mercado de trabalho,
acabam por determinar, por vezes, uma carreira empreendedora. Paradoxalmente, as
desvantagens no mercado de trabalho podem potenciar o empreendedorismo, sendo
este uma das poucas vias para a obtenção de sucesso económico. 98
Um outro elemento que explica o comportamento empreendedor é a socialização do
indivíduo, nomeadamente a presença de empreendedores na família [Mathews e Moser
(1996)], bem como a insegurança na juventude, criando ambição, resistência à
autoridade e uma tendência para correr riscos [Kets de Vries (1977)], fomentando-se
assim o empreendedorismo.
O processo de criação de uma empresa
Na Figura 27 pode observar-se que existem 4 grandes fases no processo de criação de
uma empresa: (1) “A ideia”, ou seja, a identificação da oportunidade económica; (2)
Decisão de avançar; (3) Implementação; e (4) Crescimento.
97
Para um melhor aprofundamento do estudo sobre as dinâmicas de aprendizagem, tanto ao nível dos indivíduos
como sobretudo ao das organizações, pode ser consultado Videira (2001).
98
Dyer (1997).
- 72 -
PESSOAL
PESSOAL
SOCIOLÓGICO
PESSOAL
ORGANIZACIONAL
•Sucesso
•Controlo
•Ambiguidade
•Risco
•Valores
•Educação
•Experiência
•Risco
•Insatisfação
no emprego
•Perda de emprego
•Educação
•Idade
•Sexo
•Envolvimento
•Redes
•Equipas
•Pais
•Família
•Papel na sociedade
•Empresário
•Líder
•Gestor
•Envolvimento
•Visão
•Equipa
•Estratégia
•Estrutura
•Cultura
•Produto
Inovação:
A ideia
Decisão
de avançar
Implementação
ENVOLVENTE
ENVOLVENTE
•Oportunidade
•Papel na sociedade
•Criatividade
•Concorrência
•Recursos
•Incubação
•Legislação
•Políticas públicas
Crescimento
ENVOLVENTE
•Concorrência
•Clientes
•Fornecedores
•Investidores e Banca
•Legislação
•Recursos
•Políticas públicas
Fonte: Bygrave (1995)
Figura 27 – Processo de criação de uma empresa [adaptado de
Gonçalves (2000)]
O esquema apresentado constitui em si mesmo uma representação simplificada pelo
seu próprio Autor, já que cada uma das fases é em si um processo, verificando-se
muitas vezes interacções e retrocessos, ou seja, um empreendedor pode estar na fase da
decisão de avançar e, tendo em conta a análise que efectua, pode voltar à fase da ideia,
e assim sucessivamente. A complexidade das interacções não se encontra no reflectida
no referido esquema para não o tornar ininteligível.
A fase inicial do processo de criação de empresas – o reconhecimento da oportunidade
– é um dos aspectos do empreendedorismo mais críticos, sendo talvez um dos
processos mais complexos de estudar, porque só pode ser identificado quando já
aconteceu, sendo por vezes difícil precisar quando.
Se levarmos em conta a racionalidade limitada proposta por Simon (1976), as redes
sociais do empreendedor podem expandir as fronteiras das suas capacidades, o que o
pode levar a identificar novas ideias e ao reconhecimento de novas oportunidades,
minimizando ainda o risco. Aliás, é frequente que as redes sociais sejam mesmo
responsáveis pelo aparecimento da ideia.99
Assim que o empreendedor esteja convencido de que o negócio tem potencialidades e
existe viabilidade pessoal, surge a decisão de avançar. Nesta fase, o empreendedor
“negoceia” com as suas redes sociais e, em particular, com a família e amigos, a
mudança de estado (principalmente quando se trata da primeira vez), sendo
fundamentais para esse processo de negociação os factores exógenos (insatisfação,
99
Singh et al (1999).
- 73 -
perda de emprego, motivação, grau de envolvimento e risco), os factores intrínsecos
(educação, idade e sexo), e os factores da envolvente (concorrência, recursos
disponíveis, política governamental, legislação e incubação).
É talvez na negociação com as redes sociais que mais se faz sentir o peso cultural no
empreendedorismo. Se a cultura for favorável, o empreendedor será incentivado a
avançar mas, se não o for, rapidamente serão evidenciadas um conjunto de dificuldades
e de avisos que, num ápice, o levarão a desistir ou a atrasar o processo de criação da
nova empresa.
Após a decisão de avançar, inicia-se o processo de implementação, onde surgem novas
características pessoais necessárias ao empreendedor, tais como a liderança, a visão e a
capacidade de mobilizar recursos.
Depois de criada a empresa, é fundamental o seu crescimento, sem o qual não estará
terminado o processo. Nesta fase emerge a importância de uma nova dimensão – a
organizacional – que, em conjunto com a pessoal e a envolvente, será determinante
para a sustentabilidade do negócio.
O processo da criação da empresa, da ideia ao crescimento, é dinâmico, sendo
constituído por fases de avanço e recuo, integrando dúvidas e de alterações e, muitas
vezes, avança devido a acontecimentos pontuais e exógenos. A evolução deste
processo é influenciada por um sistema de variáveis que interagem entre si e
influenciam o resultado final [Russel (1997)].
Por outro lado, é raro a ideia original manter-se constante ao longo do tempo, sem
sofrer quaisquer alterações ao longo do processo. Esta perspectiva é sustentada, por
exemplo, por Drucker (1985a), o qual constatou que quando uma nova empresa tem
sucesso, muitas vezes tal não acontece no mercado-alvo original, nem com os produtos
ou serviços originais.
Em consequência, a maioria dos empreendedores não tem sucesso com a realização da
sua ideia original. Este facto justifica-se pela evolução dinâmica do negócio (antes e
após a criação da empresa).
- 74 -
CAPÍTULO 3 - ESTADO ACTUAL DA INVESTIGAÇÃO
EMPÍRICA100
A - O ESTUDO SKILLS – 1ª. FASE101
Aspectos gerais
O projecto Skills teve por objectivo identificar e estudar os principais factores que
caracterizam a manifestação da capacidade empreendedora por parte dos indivíduos.
Isto, no sentido de se identificarem padrões de comportamento comuns aos indivíduos
empreendedores, enquadrados na envolvente portuguesa, de modo que fosse possível
o desenvolvimento de estratégias para um apoio capaz de suprir as aptidões em falta,
nomeadamente através da formação.
Os objectivos pretendidos com o Projecto Skills foram os seguintes:
• Testar, validar e operacionalizar uma metodologia de detecção e análise de
competências e aptidões pessoais de empreendedores;
• Identificar as variáveis determinantes a considerar na detecção, análise e avaliação
de empreendedores;
• Apurar a base de conhecimento específica que deve sustentar as competências e
qualificações dos empreendedores;
• Definir os traços marcantes do perfil do empreendedor, aos níveis técnico,
psicológico e comportamental, sócio-cultural e instrumental, que caracterizam os
empreendedores dinâmicos;
• Reconhecer a importância e proporcionar uma reflexão sobre a base de
conhecimento de competências e aptidões dos empreendedores, por forma a
constituir-se como ponto de referência em organismos envolvidos na formação
profissional e criação de emprego.
100
O estado actual da investigação corresponde ao resultado do trabalho de investigação desenvolvido pelo CPIN –
Centro Promotor de Inovação e Negócios, entidade de que o autor é Director Geral, em duas fases (a primeira em
1998 e 1999 e a segunda entre Março de 2000 e Fevereiro de 2001), no quadro do desenvolvimento da
Metodologia Skills de avaliação da capacidade empreendedora. Este trabalho não foi desenvolvido, de forma
directa e específica, pelo autor, embora tenha naturalmente beneficiado da sua intervenção, como gestor, a partir
do último trimestre de 1999, da entidade que o promoveu e como orientador da segunda fase do trabalho de
investigação, que correspondeu à análise das competências instrumentais dos empreendedores.
101
Corresponde ao trabalho realizado pelo CPIN em 1998 e 1999, no âmbito do projecto “Estudo de Investigação
Skills ”, integrado no Programa “Pessoa”, gerido pelo IEFP – Instituto do Emprego e Formação Profissional.
- 75 -
Um importante factor crítico de sucesso num processo de criação de uma empresa
inovadora resulta da articulação entre o binómio indivíduo/ideia. De qualquer forma,
este não pode ser considerado como único critério de sucesso nesta fase inicial. Muitas
vezes uma boa ideia de negócio não se traduz na criação de uma empresa de sucesso.
É difícil, do ponto de vista psicológico, separar um empreendedor de um não
empreendedor, surgindo assim a necessidade de percepcionar comportamentos,
capacidades e motivações, como forma de identificar o empreendedor potencial. Por
outro lado, é indispensável que esse potencial seja avaliado à luz da oportunidade em
causa – é desta constatação que surge o conceito de capacidade empreendedora na
óptica do projecto Skills:
Traduz-se no conjunto de capacidades (Sociais, Técnicas, e Instrumentais), as
quais interagem entre si, e que são inatas ao indivíduo empreendedor e/ou
adquiridas pelo mesmo (através do processo de valorização do indivíduo),
tornando-o capaz de criar e desenvolver ideias que se materializam em novos
processos e produtos, isto é, em inovações. Assim, o empreendedor utiliza a sua
capacidade para identificar oportunidades de mercado e mobilizar os recursos
necessários – humanos, físicos e financeiros –, com vista à valorização comercial de
uma ideia enquanto negócio.
Figura 28 - Capacidade empreendedora na óptica Skills, segundo CPIN
(1999)
Desta forma, a manifestação da capacidade empreendedora resulta de uma constante
interligação entre os três níveis de capacidades descritos, num complexo e constante
processo de interacção sistémico, onde os inputs provenientes da envolvente são
constantemente reorganizados por mecanismos de feedback, no sentido da produção de
outputs, por parte do indivíduo, capazes de produzir influências positivas nos vários
agentes envolvidos.
- 76 -
As quatro dimensões de análise consideradas, e as respectivas variáveis, que foram
analisadas em conjunto, são:
a) Saber Fazer
Formação Base; Experiência Profissional; Conhecimento Técnico; Experiência
Empresarial; Conhecimento do Sector.
b) Imagem
Apresentação; Discurso; Comunicabilidade.
c) Características Pessoais
Maturidade; Potencial Criativo; Atitude Inovadora; Espírito de Iniciativa;
Capacidade de Afirmação Pessoal; Definição e Clareza de Objectivos;
Capacidade de Quantificação de Riscos; Capacidade para Arriscar; Capacidade
de Auto-análise; Idade; Sentido de Oportunidade.
d) Factores Motivacionais
Focalização no Assunto; Grau de Maturidade da Ideia; Disponibilidade /
Compromisso; Determinação; Energia Pessoal; Envolvimento; Motivação
para a Ideia; Grau de Apropriabilidade.
Com base nestas variáveis e consequentes notações, foi avaliado o potencial
empreendedor, na medida em que se pretendeu detectar as principais carências dos
indivíduos, no que concerne ao desenvolvimento da sua ideia de negócio.
Cruzando técnicas de análise de clusters com análise factorial de componentes
principais, foi possível tipificar os grupos de promotores, conforme se pode observar
na Tabela 13.
Mean
Grupo
Total
Promotor/Meio
1
-1,21
2
0,39
3
1,39
4
-1,36
5
-0,76
6
-0,55
Promotor/Ideia
0,35
-0,21
1,17
1,07
0,19
-0,66
0,00
Promotor/Mercado
Promotor/Conhecimento
-0,44
-0,31
0,00
0,05
-2,51
0,78
-0,08
-0,74
1,93
-0,32
0,93
2,16
0,00
0,00
Capacidade para arriscar
Outras
1,42
-0,71
-0,05
0,16
-0,49
-0,56
-0,49
1,07
-2,27
-0,45
0,86
-2,70
0,00
0,00
Tabela 13 – Estudo Skills (1ª. Fase) – Tipificação dos promotores por
factores
- 77 -
0,00
A interpretação do quadro anterior é a seguinte:
• Tipo 1 (representam cerca de 13% da amostra): Têm capacidade para arriscar e
alguma afinidade com a ideia, mas apresentam debilidades ao nível da interacção
com o meio e nas características não classificadas (idade e potencial criativo);
• Tipo 2 (representam cerca de 69% da amostra): Próximos da média em todos os
factores, destacando-se ligeiramente pela positiva a interacção com o meio e pela
negativa a afinidade com a ideia;
• Tipo 3 (representam cerca de 3% da amostra): Apresentam uma elevada interacção
com o meio e afinidade com a ideia, não apresentando, principalmente,
conhecimento do mercado, capacidade para arriscar e as características não
classificadas (idade e potencial criativo);
• Tipo 4 (representam cerca de 7% da amostra): Apresentam uma elevada afinidade
com a ideia e com as características não classificadas (idade e potencial criativo),
mas falta-lhes interacção com o meio e conhecimento, apresentando características
de idealistas;
• Tipo 5 (representam cerca de 5% da amostra): Apresentam conhecimento do
mercado mas não têm capacidade para arriscar nem uma correcta interacção com o
meio;
• Tipo 6 (representam cerca de 3% da amostra): Têm um forte conhecimento e
capacidade para arriscar mas não apresentam as características não classificadas
(idade e potencial criativo), afinidade com a ideia e interacção com o meio.
B - O ESTUDO SKILLS – 2ª. FASE102
Objectivos do estudo
Tendo em consideração os resultados da primeira fase do estudo Skills, foram
definidos 2 objectivos para o desenvolvimento da sua segunda fase, a saber:
• Identificar as Capacidades Instrumentais essenciais à capacidade empreendedora do
indivíduo que cria empresas;
• Valorizar as Capacidades Instrumentais identificadas nos potenciais
empreendedores, através dos empreendedores de sucesso já em actividade.
Com estes dois objectivos pretendeu-se seleccionar as capacidades instrumentais mais
importantes para o sucesso dos empreendedores. Deste modo, será possível partir
102
Corresponde ao trabalho realizado pelo CPIN entre Março de 2000 e Fevereiro de 2001, no âmbito de um
projecto Voluntarista do PEDIP II e da parceria estratégica estabelecida entre o CPIN e o Taguspark.
- 78 -
para a confirmação efectiva da relação existente, que se pretende evidenciar, entre as
capacidades empreendedoras e, em particular, as capacidades instrumentais (ou seja, a
capacidade de fazer fazer ou de fazer acontecer) e o efectivo desempenho das
empresas do conhecimento emergentes.
Adicionalmente, futuros trabalhos poder-se-ão focalizar nas capacidades que realmente
interessam, por forma a detectar as lacunas que potenciais empreendedores apresentam
(com base nas capacidades que já foram identificadas como essenciais ao
empreendedor), no sentido de construir mecanismos de apoio específicos para
colmatar essas carências, aumentando assim a eficácia dos apoios a prestar.
Na realidade, os resultados deste trabalho poderão ser aplicados no âmbito da
assessoria aos potenciais empreendedores do conhecimento, já que se poderão detectar
as suas lacunas, no que respeita às Capacidades Instrumentais (as Capacidades Sociais e
Técnicas já são detectadas, com base no Projecto Skills – 1ª. Fase), por forma a actuar
sobre elas, através de, por exemplo, um processo de formação.
Face ao descrito, foi desenhado um quadro de análise, no sentido de se estruturar de
uma forma exaustiva as variáveis a incorporar na técnica de análise utilizada neste
trabalho – Inquérito por questionário auto-administrado.
Tabela 14 – Estudo Skills (2ª. Fase) – Quadro de análise da variável
“Capacidades Instrumentais”
- 79 -
Universo do estudo
Conforme já referido, o estudo teve dois momentos fundamentais:
• A identificação dos indicadores de avaliação das capacidades instrumentais, que foi
efectuada com base em todos os promotores que recorreram à Incubadora de Ideias
do Taguspark entre Abril e Julho de 2000 (cujos resultados estão expressos no
quadro de análise apresentado na Tabela 14);
• A valorização dos indicadores de avaliação das capacidades instrumentais, que foi
efectuada através de um inquérito por questionário auto-administrado entregue
directamente.
Neste sentido, toda a análise desta segunda fase do estudo Skills incidiu sobre este
último ponto, já que o primeiro serviu apenas para a concepção do quadro de análise,
que enquadra toda a pesquisa. Assim, a definição e selecção do universo de estudo
(valorização dos indicadores) obedeceu aos seguintes critérios:
• Iniciativa pessoal no lançamento de um negócio com características lucrativas – este
primeiro critério requereu que a participação no estudo fosse apenas de sócios
fundadores de um negócio, tendo de responder ao Inquérito somente um deles,
caso existisse mais do que um;
• Os empreendedores inquiridos teriam de ser proprietários de uma empresa de base
tecnológica,103 uma vez que os resultados seriam para aplicar nos clientes do CPIN;
• O terceiro critério prendeu-se essencialmente com o facto de os respondentes
terem iniciado a sua actividade empresarial há pelo menos um ano, de modo a que
se pudesse averiguar o nível de sucesso do seu negócio;
• O quarto e último critério exigia que as empresas estivessem instaladas no
Taguspark, atendendo ao facto de que o Parque é um espaço privilegiado no que
respeita à concentração de empresas de base tecnológica.104
Tendo em conta estes critérios, procedeu-se à selecção dos empreendedores a inquirir,
pelo que se solicitou o apoio do Taguspark. O universo foi contabilizado num total de
62 empresas, tendo respondido ao questionário 21 empresas, o que representa 34% do
universo inquirido. Tendo em consideração a dimensão do universo, não se efectuou a
técnica de amostragem, já que era possível estudá-lo no seu todo. Refira-se que as
razões invocadas para a não resposta por parte dos inquiridos prenderam-se
essencialmente com questões de ausência do país, falta de tempo e o excesso de
questionários a que têm de responder.
103
Este aspecto representa uma redução do âmbito global da Tese objecto da presente dissertação, constituindo uma
parte apenas do universo mais geral das empresas do conhecimento, as quais foram já caracterizadas
anteriormente. Esta limitação justificou-se no quadro de actuação do CPIN, da sua parceria com o Taguspark e
do projecto Voluntarista em que a segunda fase do estudo Skills foi integrada.
104
O que, por seu turno, introduz riscos de enviesamento da análise, devido ao facto de as empresas instaladas no
Taguspark não constituírem uma amostra representativa das empresas de base tecnológica nacionais.
- 80 -
Enviesamentos e obstáculos à pesquisa
A pesquisa efectuada apresentou dois tipos diferentes de enviesamentos/obstáculos,
que obrigam a uma não extrapolação directa dos resultados, a saber:
• O primeiro decorre do próprio desenho da pesquisa, e que já era conhecido à
partida. É que a técnica indicada para um estudo desta natureza é um painel, com
um número fixo de empreendedores a entrarem de início, sendo acompanhados ao
longo do tempo, por um período mínimo de 2 anos. No entanto, uma vez que não
haviam sido efectuados trabalhos anteriores para desenhar o quadro de análise, terse-ia de despender cerca de 1 ano, tempo este que foi poupado pela presente
pesquisa – daí que se tenha considerado a mesma oportuna – sendo este trabalho
um pré-teste;
• O segundo decorre da ausência de respostas, apesar de uma taxa muito elevada de
respostas (superior a 30%). Este aspecto pode ser explicado por diversos factores,
como sejam o facto de o questionário ter sido enviado no verão (por motivos dos
timings do próprio programa Voluntarista no qual o trabalho se inseriu), a
dificuldade de acesso a estes empreendedores, porque são muito ocupados e
recebem muitos questionários, e a falta de trabalhos de investigação dentro dos
objectivos do estudo. Saliente-se ainda que os inquiridos invocaram também o
facto de que não receberam o E -mail que lhes era destinado, por problemas no seu
server, ou porque as suas empresas só possuem um único endereço de E-mail e,
sendo das mensagens recepcionadas por outras pessoas, que não os responsáveis da
empresa, as quais podem não reconhecer no assunto o relevo que, eventualmente,
os empreendedores reconheceriam.
Capacidades Instrumentais
As Capacidades Instrumentais, que já tinham sido detectadas como parte essencial da
Capacidade Empreendedora juntamente com as Capacidades Sociais e Técnicas, não
foram integradas no estudo Skills, uma vez que se demonstrou não ser possível
efectuar um estudo dinâmico.
Em boa verdade, o estudo destas Capacidades requer um período de tempo alargado,
para que as mesmas posam ser detectadas. Neste contexto, o CPIN achou por bem
aprofundar este trabalho através da valorização dessas mesmas capacidades entretanto
detectadas, procurando desta maneira colmatar a lacuna deixada na metodologia Skills,
no sentido de se poder avaliar a capacidade empreendedora no seu todo, por forma a
poder actuar mais eficazmente no apoio aos potenciais empreendedores.
Assim, foram identificadas, como Competências Instrumentais a Liderança e o
Relacionamento Interpessoal. Verificou-se ainda que se trata de dimensões
compósitas que se subdividem, a saber:
- 81 -
a) Relacionamento Interpessoal:
Capacidade de escutar e adquirir informação; Amabilidade; Necessidade de
filiação; Capacidade para lidar com as pessoas; Atitude afável para com as
pessoas; Respeito pelos outros; Comunicabilidade; Sentido de obrigação para
com os outros; Reconhecimento da importância das relações humanas.
b) Liderança:
Capacidade de negociação; Capacidade de decisão; Capacidade de persuasão;
Capacidade de gerir conflitos; Responsabilidade; Visão; Capacidade de
organizar; Capacidade de coordenar; Capacidade para incutir os seus valores na
empresa; Formador de equipas; Formador de heróis; Capacidade de dominar
as situações (locus of control); Capacidade de criar um ambiente inovativo e
criativo.
Apesar da identificação destas competências, verificou-se um problema na sua
valorização, já que a mesma deveria ser efectuada comparativamente ao sucesso
empresarial, e nomeadamente, na busca de correlações entre as competências e o
sucesso, e tal não é possível nos potenciais empreendedores já que, nestes, ainda não é
possível medir a variável dependente – o sucesso empresarial.
Este trabalho foi efectuado junto dos empreendedores que já criaram uma empresa e
que tiveram sucesso (tendo-se seleccionado, como universo, as empresas de base
tecnológica instaladas no Taguspark), por forma a que se pudesse criar um quadro de
referência mais completo, o qual permitiria, mais tarde, o posicionamento dos
empreendedores que são acompanhados na actividade corrente do CPIN.
O objectivo, a ser cumprido, passaria pela identificação de quais as variáveis que os
empreendedores de sucesso mais valorizam, ou seja, aquelas que na opinião deles mais
contribuíram para o sucesso da sua iniciativa empresarial, de entre as competências
manifestadas pelo conjunto dos empreendedores que foram acompanhados no âmbito
do acompanhamento de empreendedores que se candidataram à Incubadora de Ideias
do Taguspark, no sentido de se efectuar uma ligação entre estas e o sucesso
empresarial.
Para tal, foi efectuado um inquérito por questionário auto-administrado entregue
directamente ao universo de estudo – empresas de base tecnológica instaladas no
Taguspark –, por forma a verificar se existe uma relação entre as competências
identificadas e o sucesso empresarial.
Análise dos dados
Esta análise foi efectuada com base nos 21 indivíduos que responderam ao
questionário (empreendedores originais de empresas de base tecnológica). A análise
foi subdividida em 4 grandes áreas, a saber:
• Características gerais da empresa;
- 82 -
• Características gerais dos empreendedores;
• Relacionamento interpessoal;
• Liderança.
A breve descrição que se segue centra-se apenas nas duas últimas áreas, uma vez que
são estas as que mais interessam a esta dissertação:
a) Relacionamento interpessoal
O tratamento das respostas permitiu condensar as mesmas no seguinte quadro:
N
Capacidade de escutar e adquirir informação
Comunicabilidade
Sentido de obrigação com os outros
Capacidade para lidar com as pessoas
Respeito pelos outros
Reconhecimento da importância das relações humanas
Atitude afável com as pessoas
Amabilidade
Necessidade de filiação
Valid N (listwise)
18
18
18
18
18
18
18
18
18
18
Minimum
3,29
3,60
3,40
3,00
3,00
2,82
2,86
2,71
2,50
Maximum
4,86
4,80
4,40
4,88
4,83
4,55
4,71
4,57
4,50
Mean
4,0714
4,0556
3,8944
3,8750
3,7454
3,6465
3,5952
3,5476
3,4352
Std.
Deviation
,3928
,3807
,2999
,3613
,4147
,4028
,4906
,5462
,5427
Tabela 15 – Estudo Skills (2ª. Fase) – Relacionamento interpessoal
Os dois aspectos mais marcantes nos empreendedores são a sua capacidade de escutar
e adquirir informação e a comunicabilidade, ambos com um elevado nível de
concordância, sendo a necessidade de filiação a variável que se aproxima mais do nível
de indiferença. Apesar de, em termos médios, o nível de concordância ser sempre
positivo (ou seja superior a 3, que é o nível de indiferença), verifica-se que o desvio
padrão é superior nas variáveis com menor nível, o que se observa aliás pelas
diferenças entre o valor mínimo e o valor máximo observado. Significa isto, tomando
como exemplo a necessidade de filiação, que, como o desvio padrão é de 0.54, há
opiniões muito divergentes em relação à média (aliás a diferença entre o valor mínimo
e o máximo é de 2), o que indicia a existência de indivíduos ou grupos que se afastam
dos restantes.
Neste sentido importava estudar a existência de grupos nas respostas, o que foi
efectuado através da análise de clusters, posteriormente validada pela análise
discriminante.
Da análise estatística efectuada resultou que os aspectos mais importantes que os
empreendedores de base tecnológica devem manifestar em relação ao relacionamento
interpessoal, são os que se apresentam no esquema seguinte.
- 83 -
Tabela 16 – Estudo Skills (2ª. Fase) – Conclusão sobre o
Relacionamento Interpessoal
b) Liderança
O tratamento das respostas permitiu condensar as mesmas no seguinte quadro:
N
Capacidade de decisão
Capacidade para assumir responsabilidades
Visão
Capacidade de negociação
Capacidade para criar um ambiente criativo e inovador
Capacidade de comunicação
Capacidade de gerir conflitos
Capacidade para formar uma equipa
Capacidade de persuasão
Capacidade para dominar as situações
Capacidade de coordenar
Capacidade de organizar
Capacidade de incutir os seus valores na empresa
Capacidade para formar líderes na empresa
Valid N (listwise)
18
18
18
18
18
18
18
18
18
18
17
18
18
18
17
Minimum
4
4
4
3
4
4
4
3
3
3
3
3
2
1
Maximum
5
5
5
5
5
5
5
5
5
5
5
5
5
5
Mean
4,78
4,72
4,67
4,56
4,50
4,50
4,50
4,44
4,39
4,33
4,29
4,22
4,11
3,78
Std.
Deviation
,43
,46
,49
,62
,51
,51
,51
,62
,61
,59
,77
,65
,83
1,06
Tabela 17 – Estudo Skills (2ª. Fase) – Liderança
Um primeiro aspecto a destacar é a elevada concordância com todas as variáveis
consideradas para a liderança, o que aliás não é de estranhar. Apesar disso verificam-se
algumas diferenças, destacando-se a capacidade de decisão, a capacidade para assumir
responsabilidades, a visão e a capacidade de negociação, sendo os valores menos
significativos a capacidade para formar líderes na empresa, a capacidade de incutir os
seus valores na empresa e a capacidade de organizar.
Foi igualmente, neste caso, estudada a existência de grupos nas respostas, o que foi
efectuado através da análise de clusters, posteriormente validada pela análise
discriminante.
A análise estatística permitiu concluir que os aspectos mais importantes que os
empreendedores de base tecnológica devem manifestar em relação à liderança são os
que se apresentam no esquema seguinte.
- 84 -
Tabela 18 – Estudo Skills (2ª. Fase) – Conclusão sobre a Liderança
C - RESUMO DAS CONCLUSÕES DA INVESTIGAÇÃO ANTERIOR
O trabalho de investigação desenvolvido pelo CPIN entre 1998 e o primeiro trimestre
de 2001, não tendo atingido a totalidade dos objectivos inicialmente traçados, produziu
no entanto resultados significativos os quais, dentro da hierarquização que foi possível
efectuar, permitiram considerar apenas os indicadores mais decisivos dentro de cada
dimensão e variável, podendo ser resumidos no quadro da Tabela 19 o qual, na
realidade, constitui o ponto de partida da presente investigação.
- 85 -
Capacidade Empreendedora
Variáveis
Dimensões
Indicadores
1. Capacidade de escutar e adquirir informação
2. Comunicabilidade
3. Sentido de obrigação com os outros
Capacidades instrumentais
4. Capacidade de decisão
Liderança
5. Capacidade para identificar novas oportunidades de negócio (Visão)
6. Capacidade para assumir responsabilidades/compromissos
7. Perseverança
8. Capacidade para arriscar
9. Espírito de iniciativa
10. Potencial criativo
Capacidades pessoais
Comportamental
11. Capacidade para inovar
12. Capacidade de partilha
13. Auto-motivação
14. Capacidade para trabalhar
15. Formação base relacionada com a actividade
Conhecimento técnico 16. Domínio do processo de inovação
Capacidades técnicas
17. Conhecimento do Sector
18. Experiência Empresarial
Experiência
19. Experiência Profissional
20. Capacidade para percepcionar as motivações dos clientes
Marketing
21. Capacidade de medir o grau de satisfação dos clientes
22. Capacidade para negociar financiamentos
Finanças
23. Capacidade para montar um sistema de controlo de gestão
Capacidades de gestão
24. Capacidade para motivar os colaboradores
Recursos Humanos 25. Capacidade para avaliar colaboradores
26. Capacidade para contratar empregados
27. Capacidade para conceber a estratégia da empresa
Estratégia
28. Capacidade para implementar a estratégia definida
Relacionamento
Interpessoal
Aceleradores ou redutores da manifestação da Capacidade Empreendedora
Variáveis
Indicadores
Disponibilidade
1. Dedicação à nova empresa
2. Valorização pela família da iniciativa de criar uma empresa
Envolvente Sócio cultural 3. Há disposição pelo cônjuge/família relativamente ao esforço que envolve uma empresa
Envolvente Económica
Envolvente Política
4. Mercado em expansão
5. Existência de nichos de mercado inexplorados
6. Nível de inovação do produto elevado
7. Há uma grande necessidade do produto
8. Facilidade de identificar os clientes
9. Existência de clientes interessados no produto
10. Facilidade em obter o financiamento para os capitais próprios
11. Disponibilidade de capital de familiares/amigos
12. Acesso facilitado ao crédito Bancário
13. Facilidade de financiamento por operações de capital de risco
14. Existência de incentivos que se adaptem à actividade da empresa
15. Desburocratização que facilite o início de novos negócios
16. Apoio a nível de políticas públicas na elaboração do plano de negócios
17. Apoio de agências públicas
Principais motivações para a criação da empresa
Possibilidade de desenvolver um trabalho criativo
Poder ser inovador
Possibilidade de ser independente
Ter liberdade no desenvolvimento do seu trabalho
Necessidade de controlar o seu próprio destino
Poder acompanhar o desenvolvimento tecnológico
Poder continuar a aprender
Aproveitar uma oportunidade de mercado
Aproveitar o valor da ideia
Necessidade de realização pessoal
Desejo de enfrentar desafios
Tabela 19 – Estudo Skills – Resumo das conclusões globais
- 86 -
CAPÍTULO 4 - DA CAPACIDADE EMPREENDEDORA
AOS ACTIVOS INTANGÍVEIS
A - A QUESTÃO DOS INDICADORES
Classificação de indicadores e tipologia de activos
Na ausência de literatura relacionando a capacidade empreendedora dos criadores de
empresas do conhecimento com os activos intangíveis das mesmas, excepto no que
toca a questões e considerações de ordem geral e/ou resultantes da aplicação do senso
comum, a análise que aqui se efectua tem um carácter eminentemente tentativo,
procurando tirar ilações dos aspectos teóricos e conceptuais associados à análise dos
activos intangíveis e das conclusões do trabalho de investigação desenvolvido pelo
CPIN em relação à avaliação da capacidade empreendedora.
Importa desde logo ter bem presente que, do lado dos activos intangíveis, se chegou a
uma proposta de taxonomia, a qual agrupa os diferentes tipos de activos intangíveis em
quatro categorias: Propriedade intelectual, activos de mercado, activos de Infrastrutura
e activos humanos. Em contrapartida, do lado da avaliação da capacidade
empreendedora, dispõe-se de um conjunto de 28 indicadores, os quais se encontram
agrupados em 9 dimensões de análise e, a um nível superior, em 4 grandes variáveis:
Capacidades instrumentais, capacidades pessoais, capacidades técnicas e capacidades de
gestão.
Existe pois uma diferença fundamental entre uma série de activos, cada um com o seu
próprio valor, e um conjunto de indicadores, os quais antes de mais facilitam a
operacionalização de uma metodologia de medição da capacidade empreendedora dos
indivíduos.
Uma outra grande barreira à transposição do salto entre a capacidade empreendedora
dos indivíduos e os activos intangíveis das organizações reside precisamente em que a
primeira se concentra num indivíduo, ou num normalmente reduzido conjunto de
indivíduos (os criadores de uma empresa do conhecimento), enquanto que os
segundos respeitam às organizações criadas e geradas pelos mesmos indivíduos. E
acresce ainda que os activos intangíveis possuem comportamentos económicos
específicos, sendo de realçar a sua excludabilidade parcial e os direitos de propriedade
normalmente difusos que aos mesmos se encontram associados.
Deve por exemplo referir-se que, enquanto que os activos de infrastrutura são mais
facilmente apropriáveis pelas organizações, os activos humanos são sobretudo pertença
dos indivíduos que se encontram ligados às organizações (e que já não serão
normalmente apenas os seus fundadores) embora, como se defendeu, existam
condições para que as organizações consigam apropriar-se parcialmente dos referidos
activos.
- 87 -
Interdependência
Uma outra limitação relevante a um exercício de estabelecimento de uma ligação do
tipo causal e temporalmente sequencial entre a capacidade empreendedora dos
promotores de empresas do conhecimento e os activos intangíveis das mesmas é o
facto de existir interdependência entre os diversos elementos.
No caso da capacidade empreendedora, a interdependência entre os respectivos
indicadores é uma conclusão assumida da investigação até ao momento desenvolvida
pelo CPIN. Esta interdependência existe tanto dentro de cada grande variável e
dimensão de análise como entre estas. No entanto, o grau de interdependência não é
tão grande que seja possível estabelecer relações biunívocas entre variáveis, de modo a
reduzir o seu número.
Um teste à existência de correlações entre os diversos indicadores da capacidade
empreendedora, ao nível de cada uma das quatro grandes variáveis de análise, no caso
da amostra dos empreendedores do conhecimento utilizada na presente investigação105
produziu os seguintes resultados:
Correlations
Capacidade de escutar
e adquirir informação
Pearson Correlation
Comunicabilidade
Sig. (2-tailed)
N
Pearson Correlation
Sentido de obrigação
com os outros
Sig. (2-tailed)
N
Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
Capacida
de de
escutar e
adquirir
informaçã
o
1,000
,
N
Capacidade de decisão
Pearson Correlation
Cap. para identif. novas
oport. negócio (visão)
Sig. (2-tailed)
N
Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
Cap. para assumir
responsabil/compromis
sos
N
Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
Capacida
de de
decisão
,015
,956
Cap. para
identif.
novas
oport.
negócio
(visão)
,168
,519
Cap. para
assumir
responsa
bil/compr
omissos
-,261
,311
17
,135
,605
17
17
,045
,864
17
17
,113
,666
17
17
-,153
,557
17
1,000
,
,562*
,019
,193
,458
Comunic
abilidade
,095
,718
Sentido de
obrigação
com os
outros
-,254
,324
17
,095
,718
17
17
1,000
,
17
-,254
,324
,135
,605
17
,727**
,001
17
17
17
17
17
,015
,956
17
,045
,864
17
,562 *
,019
17
1,000
,
17
,209
,420
17
,391
,121
17
,168
,519
17
-,261
,113
,666
17
-,153
,193
,458
17
,727 **
,209
,420
17
,391
1,000
,
17
,079
,079
,763
17
1,000
,311
17
,557
17
,001
17
,121
17
,763
17
,
17
*. Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed).
**. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed).
Tabela 20 – Correlações entre os indicadores das capacidades
instrumentais
105
A amostra utilizada neste teste é a que compreende a totalidade dos empreendedores que responderam ao
questionário, independentemente de terem ou não fornecido os dados económico-financeiros das suas empresas.
A caracterização da amostra é efectuada mais adiante, na página 109 deste documento.
- 88 -
Correlations
Perseverança
Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
Capacidade para arriscar Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
Espírito de iniciativa
Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
Potencial criativo
Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
Capacidade para inovar
Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
Capacidade de partilha
Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
Auto-motivação
Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
Capacidade para
Pearson Correlation
trabalhar
Sig. (2-tailed)
N
Persever
ança
1,000
,
17
,308
,230
17
,561*
,019
17
,292
,255
17
,556*
,020
17
,528*
,029
17
,675**
,003
17
,411
,101
17
Capacida
de para
arriscar
,308
,230
17
1,000
,
17
-,208
,423
17
-,035
,893
17
,060
,820
17
,185
,478
17
,029
,913
17
,113
,665
17
Capacida Capacida
Capacida
Espírito de
Potencial
de para
de de
Auto-moti
de para
iniciativa
criativo
inovar
partilha
vação
trabalhar
,561*
,292
,556*
,528*
,675**
,411
,019
,255
,020
,029
,003
,101
17
17
17
17
17
17
-,208
-,035
,060
,185
,029
,113
,423
,893
,820
,478
,913
,665
17
17
17
17
17
17
1,000
,084
,261
,365
,895**
,205
,
,748
,311
,150
,000
,430
17
17
17
17
17
17
,084
1,000
,749**
,537*
,293
,342
,748
,
,001
,026
,253
,179
17
17
17
17
17
17
,261
,749**
1,000
,604*
,409
,413
,311
,001
,
,010
,103
,099
17
17
17
17
17
17
,365
,537*
,604*
1,000
,450
,444
,150
,026
,010
,
,070
,074
17
17
17
17
17
17
,895**
,293
,409
,450
1,000
,232
,000
,253
,103
,070
,
,369
17
17
17
17
17
17
,205
,342
,413
,444
,232
1,000
,430
,179
,099
,074
,369
,
17
17
17
17
17
17
*. Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed).
**. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed).
Tabela 21 – Correlações entre os indicadores das capacidades pessoais
Correlations
Formação
Domínio
de base
do
relaciona
processo
Conheci
da com a
de
mento do
actividade
inovação
sector
Formação de base
Pearson Correlation
1,000
,734**
,064
relacionada com a
Sig. (2-tailed)
,
,001
,806
actividade
N
17
17
17
Domínio do processo de Pearson Correlation
,734**
1,000
,038
inovação
Sig. (2-tailed)
,001
,
,883
N
17
17
17
Conhecimento do sector Pearson Correlation
,064
,038
1,000
Sig. (2-tailed)
,806
,883
,
N
17
17
17
Experiência profissional Pearson Correlation
-,149
-,186
,020
Sig. (2-tailed)
,569
,475
,938
N
17
17
17
Experiênc
ia
profission
al
-,149
,569
17
-,186
,475
17
,020
,938
17
1,000
,
17
**. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed).
Tabela 22 – Correlações entre os indicadores das capacidades técnicas
- 89 -
Correlations
Cap. para percepcionar
as mitivações dos
clientes
Cap. para medir o grau
de satisfação dos
clientes
Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
Cap. para
percepcio
nar as
mitivaçõe
s dos
clientes
1,000
,
17
,478
N
Cap. para
medir o
grau de
satisfação
dos
clientes
,478
,052
17
1,000
Capacida
de para
negociar
financiam
entos
,133
,612
17
-,089
Cap. para
montar um
sistema de
controlo de
gestão
,116
,659
17
,064
Capacidad
e para
motivar os
colaborado
res
,000
1,000
17
-,418
Capacida
de para
avaliar
colaborad
ores
,422
,092
17
-,264
Capacida
de para
contratar
emprega
dos
,399
,112
17
-,038
Capacidad
e para
conceber a
estratégia
da
empresa
,000
1,000
17
,073
,052
,
,733
,807
,095
,305
,883
,781
17
17
17
17
17
17
17
17
-,089
,733
1,000
,
,227
,380
,248
,338
,195
,454
,367
,148
,007
17
Capacidade para
negociar financiamentos
Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
,133
,612
17
17
17
17
17
17
Cap. para montar um
sistema de controlo de
gestão
Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
Pearson Correlation
Sig. (2-tailed)
N
,116
,659
17
,000
1,000
17
,422
,092
17
,399
,064
,807
17
-,418
,095
17
-,264
,305
17
-,038
,227
,380
17
,248
,338
17
,195
,454
17
,367
1,000
,
17
,216
,405
17
,128
,625
17
,098
,216
,405
17
1,000
,
17
,216
,404
17
,608**
,128
,625
17
,216
,404
17
1,000
,
17
,187
,098
,709
17
,608**
,010
17
,187
,473
17
1,000
,208
,423
17
,274
,287
17
,147
,573
17
,245
,029
,912
17
,073
,781
17
,116
,656
17
,451
,709
17
,208
,423
17
,029
,912
17
,010
17
,274
,287
17
,073
,781
17
,473
17
,147
,573
17
,116
,656
17
,
17
,245
,344
17
,451
,069
17
,344
17
1,000
,
17
,432
,083
17
,069
17
,432
,083
17
1,000
,
17
Capacidade para motivar
os colaboradores
Capacidade para avaliar
colaboradores
Capacidade para
contratar empregados
Capacidade para
conceber a estratégia da
empresa
Capacidade para
implementar a estratégia
definida
,112
17
,000
1,000
17
,507*
,038
17
,883
17
,073
,781
17
,625**
,007
17
,148
17
,689**
,002
17
,275
,285
17
17
17
17
,689**
,002
Capacida
de para
implemen
tar a
estratégia
definida
,507*
,038
17
,625**
,275
,285
*. Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed).
**. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed).
Tabela 23 – Correlações entre os indicadores das capacidades de gestão
Dos resultados apresentados anteriormente, verifica-se existirem diversas correlações
entre os vários indicadores da capacidade empreendedora, dentro de cada uma das
quatro grandes variáveis de análise.
Procedeu-se ainda a teste análogo abrangendo todos os indicadores,
independentemente do seu agrupamento, tendo-se constatado que, existindo
correlações inter grandes variáveis de análise, as mesmas não assumem relevância tão
elevada quanto as mais significativas ao nível intra grandes variáveis de análise. Tal
constatação sustenta a adequação do agrupamento dos indicadores efectuada pelo
CPIN no âmbito do estudo Skills da capacidade empreendedora.
- 90 -
As correlações mais importantes (significativas ao nível 0.01) são as seguintes:
Grande variável
de análise
Capacidades
instrumentais
Capacidades
pessoais
Capacidades
técnicas
Capacidades de
gestão
Indicador 1
Indicador 2
Sentido de obrigação com
os outros
Capacidade para inovar
Potencial criativo
Perseverança
Auto-motivação
Espírito de iniciativa
Formação de base
Domínio do processo de
relacionada com a
inovação
actividade
Capacidade para contratar Capacidade para motivar os
empregados
colaboradores
Capacidade para conceber Capacidade para negociar
a estratégia da empresa
financiamentos
Capacidade para
Capacidade para medir o
implementar a estratégia grau de satisfação dos
da empresa
clientes
Capacidade de decisão
Correlação
de Pearson
0.727
0.749
0.675
0.895
0.734
0.608
0.689
0.625
Tabela 24 – Correlações mais significativas entre os indicadores da
capacidade empreendedora
No caso dos activos intangíveis, o respectivo grau de interdependência será
eventualmente menor entre os vários activos, sendo mesmo bastante reduzido quando
analisado entre activos pertencentes a grupos taxonómicos distintos. No entanto, o
senso comum não deixará de levar à consideração da existência de interdependência
entre, por exemplo, activos como as marcas, o posicionamento e o nome da empresa,
entre a filosofia de gestão e a cultura corporativa, entre as relações externas e o
networking, entre a inteligência, o conhecimento e as competências ou entre a
liderança e as atitudes.
A existência de correlações entre os vários indicadores da capacidade empreendedora,
por um lado, e os diversos activos intangíveis, por outro, dificulta o estabelecimento de
relações específicas entre cada um dos indicadores da capacidade empreendedora e os
activos intangíveis que originam. Cada indicador da capacidade empreendedora está na
origem de vários activos intangíveis e cada activo intangível não é originado por apenas
um indicador da capacidade empreendedora em concreto.
O mais que se conseguirá estabelecer, ao tentar ligar a capacidade empreendedora dos
indivíduos com os activos intangíveis das empresas do conhecimento pelos mesmos
criadas e geridas na sua fase emergente serão relações difusas, de contornos pouco
definidos e, sobretudo, tendências gerais e relações grupais.
- 91 -
B - A CAPACIDADE EMPREENDEDORA NA ORIGEM DOS ACTIVOS
INTANGÍVEIS
Feitas as ressalvas anteriores, apresenta-se de seguida uma tentativa de estabelecimento
das principais relações entre os indicadores da capacidade empreendedora dos
empreendedores do conhecimento e os activos intangíveis das empresas do
conhecimento pelos mesmos criadas e geridas, na sua fase emergente.
Para se conseguir legibilidade, a proposta que se segue encontra-se dividida segundo as
quatro grandes variáveis de análise da capacidade empreendedora.
Activos intangíveis
Indicadores
Variáveis
Capacidade empreendedora
Vari áveis
Dimensões
1. Inteligência
2. Liderança
3. Conhecimento
4. Capacidades
Activos humanos
5. Atitudes
6. Espírito de iniciativa
7. Espírito de equipa
8. Sociabilidade
9. Patentes
10. Direitos de autor
11. Direitos de design
Propriedade intelectual
12. Segredos comerciais
13. Desenvolvimento de processos
14. Produtos e serviços
15. Tecnologias
16. Marcas
17. Posicionamento
18. Bases de clientes
19. Nome da empresa
20. Canais de distribuição
Activos de mercado
21. Acordos e licenças
22. Contratos
23. Relações com a envolvente
24. Parcerias
25. Filosofia de gestão
26. Cultura corporativa
27. Processos de gestão
28. Processos de negócio
Activos de infrastrutura
29. Impacto dos sistemas de informação
30. Relações externas
31. Networking
32. Cumprimento dos standards
Indicadores
1. Capacidade de escutar e adquirir informação
Relacionamento
Interpessoal
2. Comunicabilidade
3. Sentido de obrigaç ão com os outros
Capacidades
instrumentais
4. Capacidade de decis ã o
Lideranç a
5. Capacidade para identificar novas oportunidades
de negó cio (Visão)
6. Capacidade para assumir
responsabilidades/compromissos
Figura 29 – Relação entre os indicadores das capacidades instrumentais
dos empreendedores e os activos intangíveis das empresas emergentes
A Figura 29 sugere que as capacidades instrumentais dos indivíduos são mais
importantes para a geração de activos de mercado e de infrastrutura, sendo ainda
relevantes para a geração de activos humanos. Os indicadores dentro da dimensão
“liderança” apresentam esta diferença de relevância mais acentuadamente do que os
associados ao “relacionamento interpessoal”.
- 92 -
Capacidade empreendedora
Variáveis
Dimens ões
Activos intangíveis
Indicadores
Variáveis
1. Inteligência
2. Liderança
3. Conhecimento
4. Capacidades
Activos humanos
5. Atitudes
6. Espírito de iniciativa
7. Espírito de equipa
8. Sociabilidade
9. Patentes
10. Direitos de autor
11. Direitos de design
Propriedade intelectual
12. Segredos comerciais
13. Desenvolvimento de processos
14. Produtos e serviços
15. Tecnologias
16. Marcas
17. Posicionamento
18. Bases de clientes
19. Nome da empresa
Activos de mercado
20. Canais de distribuição
21. Acordos e licenças
22. Contratos
23. Relações com a envolvente
24. Parcerias
25. Filosofia de gestã o
26. Cultura corporativa
27. Processos de gestão
28. Processos de negó cio
Activos de infrastrutura
29. Impacto dos sistemas de informação
30. Relações externas
31. Networking
32. Cumprimento dos standards
Indicadores
7. Perseveran ça
8. Capacidade para arriscar
9. Espírito de iniciativa
10. Potencial criativo
Capacidades
pessoais
Comportamental
11. Capacidade para inovar
12. Capacidade de partilha
13. Auto -motivação
14. Capacidade para trabalhar
Figura 30 – Relação entre os indicadores das capacidades pessoais dos
empreendedores e os activos intangíveis das empresas emergentes
A Figura 30 sugere que as capacidades pessoais dos indivíduos são importantes para a
geração da generalidade dos activos intangíveis, incluindo a propriedade intelectual.
Activos intangíveis
Indicadores
Variáveis
Capacidade empreendedora
Variávei
s
Dimensões
1. Inteligência
2. Liderança
3. Conhecimento
4. Capacidades
Activos humanos
5. Atitudes
6. Espírito de iniciativa
7. Espírito de equipa
8. Sociabilidade
9. Patentes
1 0. Direitos de autor
1 1. Direitos de design
Propriedade intelectual
1 2. Segredos comerciais
1 3. Desenvolvimento de processos
1 4. Produtos e serviços
1 5. Tecnologias
1 6. Marcas
1 7. Posicionamento
1 8. Bases de clientes
1 9. Nome da empresa
Activos de mercado
2 0. Canais de distribuição
2 1. Acordos e licenças
2 2. Contratos
2 3. Relações com a envolvente
2 4. Parcerias
2 5. Filosofia de gestão
2 6. Cultura corporativa
2 7. Processos de gestão
2 8. Processos de negócio
Activos de infrastrutura
2 9. Impacto dos sistemas de informaçã o
3 0. Relações externas
3 1. Networking
3 2. Cumprimento dos standards
Indicadores
15. Formação base relacionada com a
actividade
Conhecimen
to
técnico
Capacidad
es
técnicas
16. Domínio do processo de inovação
17. Conhecimento do Sector
18. Experiência Empresarial
Experiência
19. Experiência Profissional
Figura 31 – Relação entre os indicadores das capacidades técnicas dos
empreendedores e os activos intangíveis das empresas emergentes
- 93 -
A Figura 31 sugere que as capacidades técnicas dos indivíduos são importantes para a
geração de todos activos intangíveis, com excepção dos activos humanos. Convém
relembrar que os activos humanos de uma organização são aqueles que respeitam às
características do conjunto dos seus colaboradores, nos níveis individuais e colectivo,
sendo portanto natural que as capacidades técnicas dos criadores das empresas do
conhecimento tenham uma influência relativamente reduzida na geração dos activos
humanos das empresas por eles criadas.
Capacidade empreendedora
Variávei
s
Dimens õ
es
Activos intangíveis
Indicadores
Variáveis
1. Inteligência
2. Liderança
3. Conhecimento
4. Capacidades
Activos humanos
5. Atitudes
6. Espírito de iniciativa
7. Espírito de equipa
8. Sociabilidade
9. Patentes
1 0. Direitos de autor
1 1. Direitos de design
Propriedade intelectual
1 2. Segredos comerciais
1 3. Desenvolvimento de processos
1 4. Produtos e serviços
1 5. Tecnologias
1 6. Marcas
1 7. Posicionamento
1 8. Bases de clientes
1 9. Nome da empresa
Activos de mercado
2 0. Canais de distribuição
2 1. Acordos e licenças
2 2. Contratos
2 3. Relações com a envolvente
2 4. Parcerias
2 5. Filosofia de gestão
2 6. Cultura corporativa
2 7. Processos de gestão
2 8. Processos de negócio
Activos de infrastrutura
2 9. Impacto dos sistemas de informaçã o
3 0. Relações externas
3 1. Networking
3 2. Cumprimento dos standards
Indicadores
20. Capacidade para percepcionar as motivações dos
clientes
Marketing
21. Capacidade de medir o grau de satisfação dos
clientes
22. Capacidade para negociar financiamentos
Finan ça s
23. Capacidade para montar um sistema de controlo de
gestão
Capacidad
es
de gestão
24. Capacidade para motivar os colaboradores
Recursos
Humanos
25. Capacidade para avaliar colaboradores
26. Capacidade para contratar empregados
27. Capacidade para conceber a estrat égia da empresa
Estrat égia
28. Capacidade para implementar a estrat égia definida
Figura 32 – Relação entre os indicadores das capacidades de gestão dos
empreendedores e os activos intangíveis das empresas emergentes
A Figura 32 sugere que as capacidades de gestão dos indivíduos são importantes para a
geração de todos activos intangíveis, com excepção da propriedade intelectual.
Destacam-se as fortes ligações entre a capacidade para contratar empregados e os
activos humanos das empresas (trata-se aqui de uma ligação exclusiva, isto é, este
indicador não surge ligado à génese de qualquer outro activo) e entre os indicadores
ligados às “finanças” e à “estratégia” e os activos de infrastrutura e de mercado.
A análise tentativa feita acima que, relembra-se, não se encontra sustentada em bases
de conhecimento concretas associadas à literatura consultada, poderá então ser
resumida no seguinte quadro:
- 94 -
Aptidões
Instrumentais
Aptidões
Pessoais
Aptidões
Técnicas
Relacionamento Interpessoal
Liderança
Comportamentos
Propriedade
intelectual
Conhecimento técnico
Activos de
mercado
Experiência
Marketing
Aptidões de
Gestão
Activos
humanos
Recursos Humanos
Activos de
infrastrutura
Finanças
Estratégia
Figura 33 – Relação entre as dimensões de análise da capacidade
empreendedora e os activos intangíveis das empresas emergentes
De acordo com a análise tentativa efectuada poderá assim dizer-se que, de entre as
várias dimensões de análise da capacidade empreendedora, as que mais influenciam a
geração dos activos intangíveis das empresas do conhecimento emergentes serão:
Relacionamento interpessoal
Liderança
Activos humanos
Aptidões comportamentais
Aptidões de gestão de recursos humanos
Aptidões de gestão financeira
Aptidões de gestão estratégica
Aptidões comportamentais
Propriedade intelectual Conhecimento técnico
Experiência
Activos de mercado
Todas, excepto aptidões de gestão de recursos humanos
Activos de infrastrutura Todas, excepto aptidões de gestão de recursos humanos
Tabela 25 – Dimensões da capacidade empreendedora que mais
influenciam a génese dos activos intangíveis das empresas do
conhecimento (análise tentativa)
- 95 -
CAPÍTULO 5 - METODOLOGIA DE INVES TIGAÇÃO
A - ESTRATÉGIA DE INVESTIGAÇÃO
Como ficou evidenciado anteriormente, o trabalho de investigação desenvolvido pelo
CPIN até Fevereiro de 2001 não atingiu plenamente os seus objectivos,
designadamente no que respeita a dois aspectos fundamentais:
• Hierarquização dos indicadores da capacidade empreendedora, dentro de cada
dimensão e variável de análise;
• Estabelecimento de relação entre a capacidade empreendedora, ou alguns dos seus
indicadores, e o desempenho das empresas de base tecnológica emergente.
Esta situação induziu constrangimentos no trabalho de investigação anteriormente
planeado, tendo o mesmo tido de ser adaptado, no sentido de acomodar as
insuficiências verificadas as quais, na verdade, motivaram a necessidade de um recuo
no ponto de partida do trabalho de investigação..
Tornava-se assim necessário proceder por forma a obter resultados que permitissem,
numa sequenciação lógica:
• Hierarquizar os indicadores relevantes;
• Escolher as variáveis independentes da investigação, de entre os indicadores mais
significativos;
• Testar as Hipóteses de investigação.
Por outro lado, o CPIN prosseguiu o seu trabalho de investigação no domínio do
aprofundamento do estudo da capacidade empreendedora, o qual continuou a ser
protagonizado pela investigadora que havia já assegurado a maior parte do trabalho
anterior, em particular a segunda fase do “Skills”.
Foi assim possível desenvolver a investigação de uma forma conjunta entre o autor
desta dissertação e a Investigadora que, no CPIN, foi, em particular a partir do início
de 2000 e até Maio de 2002, a responsável pela investigação do CPIN no domínio da
avaliação da capacidade empreendedora, bem como pela aplicação prática da
metodologia criada, a Metodologia “Skills”, junto dos empreendedores de base
tecnológica apoiados pelo CPIN, designadamente no quadro da sua parceria estratégica
com o Taguspark.
A Investigadora do CPIN concentrou-se no aprofundamento da metodologia “Skills”
e o autor desta dissertação concentrou-se no estudo dos activos intangíveis e na relação
- 96 -
entre a manifestação de capacidade empreendedora, o desempenho das empresas do
conhecimento emergentes e a valorização dos seus activos intangíveis.
Foi assim efectuada a seguinte repartição de tarefas:
• Investigadora do CPIN:
Nova revisão de literatura sobre o empreendedorismo e o estudo da capacidade
empreendedora; Preparação do conteúdo de novo questionário, na parte
destinada à obtenção da hierarquização dos indicadores da capacidade
empreendedora; Envio dos questionários por E-mail e respectivo seguimento;
Recolha e sistematização das respostas; Colaboração na análise e interpretação
das respostas, na parte aos indicadores da capacidade empreendedora.
• Autor da dissertação:
Pesquisa bibliográfica sobre activos intangíveis, sua classificação e respectiva
avaliação; Preparação do conteúdo de novo questionário, na parte destinada à
relação entre os indicadores da capacidade empreendedora e o desempenho das
empresas; Desenho e realização final do questionário em Ms. Excel; Detecção e
selecção da amostra (em adição à anteriormente utilizada pelo CPIN);
Estabelecimento de contacto e relação com as entidades parceiras para
interacção com os empreendedores com os quais o CPIN não tem
relacionamento directo; Contacto seleccionado com alguns empreendedores;
Tratamento dos dados; Análise e interpretação das respostas, na parte referente
à hierarquização dos indicadores da capacidade empreendedora e consequente
selecção final dos indicadores; Estabelecimento de conclusões, no que respeita à
relação entre os indicadores da capacidade empreendedora e o desempenho das
empresas.
B - APRESENTAÇÃO DA METODOLOGIA
Para o prosseguimento da investigação adoptou-se uma metodologia coerente com a
que vinha sendo seguida pelo CPIN, a qual consistiu em:
• Desenho do quadro de análise
O quadro de análise da investigação foi desenhado a partir dos resultados da
investigação anterior do CPIN, no quadro do Estudo Skills e, em particular, dos
indicadores da manifestação da capacidade empreendedora, os quais se agrupam em
9 dimensões de análise e, de forma mais agregada, em 4 grandes variáveis:
- 97 -
Aptidões
Técnicas
Conhecimento técnico
Experiência
Aptidões
Pessoais
Comportamentos
Relacionamento Interpessoal
Aptidões
Instrumentais Liderança
Marketing
Aptidões de Recursos Humanos
Gestão
Finanças
Estratégia
Tabela 26 – Grandes variáveis e respectivas dimensões de análise da
capacidade empreendedora
A análise procura estabelecer relações causais entre a capacidade empreendedora
dos indivíduos e o desempenho das empresas do conhecimento por estes criadas,
durante a sua fase emergente. As inferências a estabelecer poderão permitir avanços
no conhecimento da forma como a capacidade empreendedora se encontra na
génese dos activos intangíveis das empresas do conhecimento, uma vez que, como
ficou evidenciado na análise teórica, o mercado valoriza estes activos nas
transacções relacionadas com o investimento, e designadamente a participação no
capital, em empresas do conhecimento, apesar de os dados contabilísticos não
reflectirem adequadamente o valor dos activos intangíveis das empresas.
Assim sendo, o quadro de análise assenta na aferição da capacidade empreendedora
de um conjunto de indivíduos compondo uma amostra, assim como na medição do
desempenho das empresas do conhecimento pelos mesmos criadas e geridas, ainda
numa fase emergente,106 procurando-se, através da aplicação de técnicas de análise
estatística, estabelecer relações causais entre a primeira (capacidade empreendedora)
e o segundo (desempenho da empresa).
• Estabelecimento da técnica de pesquisa
Em coerência com a prática anterior do CPIN, designadamente na segunda fase do
estudo “Skills” e uma vez que se procurava agora, num primeiro nível de análise,
chegar às conclusões que integravam já os objectivos do referido estudo,
considerou-se como mais conveniente apostar de novo numa pesquisa quantitativa,
através de questionário auto-administrado, a remeter aos empreendedores do
conhecimento constituintes do universo do estudo.
A análise das respostas é efectuada por recurso a métodos estatísticos, tendo-se
estabelecido inicialmente como preferência de método, para o tratamento de
primeiro nível (da responsabilidade da Investigadora do CPIN), a análise de clusters,
validada por uma análise discriminante, no sentido de estabelecer grupos com
características idênticas em termos dos indicadores da capacidade empreendedora.
106
A definição de “Empresa do conhecimento emergente” é feita mais adiante neste trabalho.
- 98 -
No que respeita ao teste das hipóteses, isto é, à validação de relações entre as
classificações dos empreendedores segundo os indicadores da capacidade
empreendedora seleccionados como variáveis independentes e o efectivo
desempenho das empresas do conhecimento emergentes (da responsabilidade do
autor do presente documento), e por se tratar do teste de relações causais,
entendeu-se por conveniente recorrer às técnicas de regressão linear.
Para apoio a todo o tratamento estatístico recorrer-se-ia ao software “SPSS 9.0 for
Windows”, aliás já utilizado (embora numa versão anterior) nas duas fases já
decorridas do estudo “Skills”.
• Definição e selecção do universo do estudo
A unidade de investigação é o Empreendedor individual, criador e gestor
directo de uma empresa do conhecimento.
A consideração do empreendedor individual, e não da empresa, decorre do facto de
as variáveis independentes a utilizar no teste das hipóteses (tratamento de segundo
nível dos dados recolhidos) serem indicadores da capacidade empreendedora, logo
associados aos indivíduos. As variáveis dependentes correspondem, essas sim, a
indicadores do desempenho das empresas do conhecimento criadas e geridas pelos
indivíduos que constituem o universo do estudo.
Para esta investigação transitou, desde logo, o universo utilizado no estudo anterior
(2ª. Fase do estudo “Skills”), definido de acordo com os seguintes critérios:
o Iniciativa pessoal no lançamento de uma empresa – este primeiro critério
requereu que a participação no estudo fosse apenas de sócios fundadores de um
negócio, tendo de responder ao Inquérito somente um deles, caso existisse mais
do que um;
o Os empreendedores inquiridos teriam de ser proprietários de uma empresa de
base tecnológica,107 uma vez que os resultados seriam para aplicar aos clientes do
CPIN;
o O terceiro critério prendeu-se essencialmente com o facto de os respondentes
terem iniciado a sua actividade empresarial há pelo menos um ano;
o O quarto e último critério exigia que as empresas estivessem instaladas no
Taguspark, atendendo ao facto de que o Parque é um espaço privilegiado no que
respeita à concentração de empresas de base tecnológica.108
107
Este aspecto representa uma redução do âmbito global da Tese objecto da presente dissertação, constituindo uma
parte apenas do universo mais geral das empresas do conhecimento, as quais foram já caracterizadas
anteriormente. Esta limitação justificou-se no quadro de actuação do CPIN, da sua parceria com o Taguspark e
do projecto Voluntarista em que a segunda fase do estudo Skills foi integrada.
108
O que, por seu turno, introduziu riscos de enviesamento da análise, devido ao facto de as empresas instaladas no
Taguspark não constituírem uma amostra representativa das empresas de base tecnológica nacionais.
- 99 -
Da aplicação destes critérios ao conjunto das empresas de base tecnológica
residentes no Taguspark, bem como a algumas outras, não residentes, com as quais
o CPIN mantinha ou tinha mantido relações, resultou um universo contabilizado
num total de 62 empreendedores de base tecnológica.
Tendo em atenção o facto de que, na presente investigação, se pretendeu, por um
lado, estender a análise a outros empreendedores do conhecimento (considerandose que os empreendedores de base tecnológica são um caso particular daqueles), e
tentando-se obviar aos riscos de enviesamento decorrentes do facto de a quase
totalidade do universo transitado do estudo “Skills” corresponder a
empreendedores de empresas residentes no Taguspark, procurou-se alargar o
universo ao outros empreendedores, tendo-se para tal utilizado os seguintes
critérios:
o Empreendedores (Promotores) de Empresas do Conhecimento109 em actividade,
com um mínimo de 3 e um máximo de 10 anos de actividade (constituição entre
1991 e 1998, inclusive), não sujeitas a qualquer operação de “Trade Sale”110,
Fusão, Aquisição ou “IPO”111, e com envolvimento activo actual na gestão da
empresa (apenas um empreendedor por empresa).
o Empreendedores (Promotores) de Empresas do Conhecimento cuja actividade
tenha terminado no decurso dos primeiros 10 anos de actividade, e com
envolvimento na gestão da empresa até ao fim da mesma (apenas um
empreendedor por empresa).
A escolha de empresas com um mínimo de três e um máximo de dez anos
justificou-se pelas seguintes razões:
o Mínimo de três anos: Pretendeu-se garantir a possibilidade de estabelecer séries
temporais para os indicadores de desempenho (mínimo 3 pontos) pois, caso tal
não fosse conseguido, seria extremamente difícil avaliar o desempenho a partir
apenas de indicadores absolutos, dada a extrema variedade que os mesmos
podem tomar neste tipo de empresas, sem que tal permita retirar qualquer ilação
quanto ao seu desempenho.
o Máximo de dez anos: O enfoque do estudo em empresas emergentes, resultante
da análise teórica desenvolvida anteriormente, obriga a limitar superiormente a
idade das empresas. O limite poderia ter sido estabelecido noutro patamar (por
exemplo os cinco ou seis anos), mais consentâneo com um estrito conceito de
“Empresa Emergente”. No entanto, considerou-se o patamar dos dez anos
109
Empresa do Conhecimento: “Organização que cria ou adquire, manipula, integra ou de qualquer outra
forma emprega, transfere ou difunde conhecimento como um aspecto substancial das suas operações.”
[Staples et al (2000)]. As Empresas de Base Tecnológica são um tipo específico de Empresas do Conhecimento,
distinguível pela natureza científica ou tecnológica do conhecimento criado e/ou utilizado.
110
Operação de venda de parte significativa, mas não necessariamente maioritária, do capital social da empresa,
designadamente associada a operação de saída de investidor de risco.
111
Initial Public Offer – Operação de entrada em bolsa, com dispersão de parte do capital social, não necessariamente
maioritária.
- 100 -
como aceitável, em termos da conciliação da definição de “Empresa Emergente”
com a maior abrangência possível do universo a considerar, embora se tenha
limitado o universo às empresas onde não tenham ocorrido operações
significativas sobre o respectivo capital social, significando estas limitações que
os decisores iniciais ainda mantêm influência decisiva na gestão da empresa.
A utilização destes critérios para a definição do universo da presente investigação
representa, por um lado, um alargamento relativamente aos critérios
caracterizadores do universo trazido da anterior investigação do CPIN (abrangendo
agora outros empreendedores do conhecimento, para além dos de base
tecnológica), mas por outro lado uma restrição (ao definir um horizonte temporal
de vida das empresas do conhecimento entre três e dez anos).
Tal deveria ter conduzido à validação dos elementos constituintes do universo
transitado (62 empreendedores de base tecnológica), à luz dos novos critérios. No
entanto, esta operação não foi efectuada uma vez que, para a análise primária (a
hierarquização dos indicadores da capacidade empreendedora), a restrição referente
ao período de existência das empresas não era importante.
Trabalhou-se assim, na verdade, com dois universos:
o Um, mais alargado, para a análise de primeiro nível, do interesse directo do
CPIN e da responsabilidade da sua Investigadora;
o Outro, mais restrito, para a análise de segundo nível, de interesse directo para a
Tese de Mestrado e da responsabilidade do autor da presente dissertação.
Esta opção foi deliberada pela equipa de investigação (o autor deste documento e a
Investigadora do CPIN), uma vez que, para o primeiro nível de análise, a
possibilidade de contar com um universo mais alargado e, em consequência, com
um maior número de respostas permitiria um trabalho mais fiável ao nível do
tratamento dos dados.
No sentido de alargar o universo do estudo, quer em termos de empreendedores do
conhecimento sem ser de base tecnológica, quer em termos da localização
geográfica, foi, por um lado, adicionado um conjunto de empreendedores com os
quais o CPIN veio entretanto a ter contacto, tendo ainda sido a entidades nacionais,
com as quais o CPIN mantém relações profissionais privilegiadas, que colaborassem
na identificação e selecção de um conjunto de empreendedores do conhecimento
mais alargado.
As entidades contactadas foram:
o AIMinho – Associação Industrial do Minho / IDITE Minho / BIC Minho
(Braga)
Esta entidade (ou este grupo de entidades) identificou um Cluster associado às
Tecnologias de Informação na região de Braga.
- 101 -
o NET (BIC do Porto)
Este EC-BIC (European Community Business & Innovation Centre) exerce a
sua actividade essencialmente na Área Metropolitana do Porto e na Região
Norte e é, para além do CPIN, o EC-BIC nacional com mais competências na
área do empreendedorismo de base tecnológica. Desenvolveu iniciativas
designadamente no campo dos Spin-Off académicos e leva a efeito, anualmente,
um dos mais conseguidos concursos de ideias ao nível nacional. Ao nível das
incubadoras nacionais, é aquela com a qual o CPIN mantém maior cooperação.
o Grupunave –Universidade de Aveiro
Incubadora associada à Universidade de Aveiro, com competências no domínio
do empreendedorismo do conhecimento.
o CPINAL – BIC Algarve-Huelva
EC-BIC de que o aluno foi Director Geral entre Junho de 1995 e Agosto de
1999. Tem apoiado a criação de empresas algumas empresas do conhecimento,
nem todas necessariamente de base tecnológica.
o CEIM – BIC Madeira / Madeira Tecnopólo
Entidades associadas com competências regionais na área do empreendedorismo
e com alguns casos interessantes no domínio do empreendedorismo do
conhecimento.
Foi solicitado a estas entidades que apoiassem a selecção de empreendedores do
conhecimento, tanto de empresas emergentes existentes como de empresas
emergentes já descontinuadas (para tentar obter alguns casos de insucesso), com
base nos critérios de selecção apontados anteriormente.
As duas primeiras entidades contactadas (AIMinho / IDITE Minho / BIC Minho e
NET) identificaram conjuntos de empreendedores do conhecimento
potencialmente disponíveis para colaborar no estudo, tendo dos mesmos enviado
os contactos para o CPIN.
O universo global de estudo (ou seja, o mais abrangente, a utilizar na análise de
primeiro nível), ficou assim constituído por um total de 99 empreendedores do
conhecimento, repartidos da seguinte forma:
o Ligados ao CPIN e/ou ao Taguspark: 72 empreendedores;
o Indicados pela AIMinho / IDITE Minho / BIC Minho: 16 empreendedores;
o Indicados pela NET: 11 empreendedores.
- 102 -
O universo assim constituído apresentava desde logo duas características
limitadoras da abrangência do estudo:
o Não existem no universo casos de insucesso, o que apenas permitirá, no limite,
concluir sobre eventuais relações entre as classificações dos empreendedores
segundo os indicadores da capacidade empreendedora seleccionados e o grau de
sucesso dos seus negócios (mas não sobre o sucesso ou a sua ausência);
o São poucos os casos de empreendedores do conhecimento sem ser de base
tecnológica (Todos os ligados ao CPIN e/ou ao Taguspark o são, assim como a
totalidade dos indicados pela AIMinho / IDITE Minho / BIC Minho, existindo
apenas alguns casos que não são de base tecnológica no conjunto de
empreendedores indicado pela NET).
A discussão das fronteiras da investigação será, no entanto, tratada mais em
pormenor adiante neste trabalho.
• Desenho, elaboração e teste operacional do questionário
O desenho do questionário a enviar a todos os elementos constituintes do universo
do estudo teve em atenção a sua dupla função, isto é, por um lado permitir uma
análise primária, para obter a hierarquização dos indicadores da capacidade
empreendedora e, por outro lado, habilitar ao teste da existência de relacionamento
entre a classificação dos empreendedores segundo os indicadores mais relevantes,
seleccionados como variáveis independentes, e o desempenho económicofinanceiro das empresas do conhecimento emergentes por eles criadas e geridas.
O questionário foi assim desenhado de acordo com o seguinte guião:
o Nota introdutória;
o Caracterização geral da empresa;
o Dados económico-financeiros da empresa (exercícios de 1998, 1999 e 2000);
o Dados gerais do empreendedor;
o Questões de auto-avaliação do empreendedor.
Do mesmo modo que havia sido feito anteriormente, as questões de auto-avaliação
do empreendedor (as únicas não factuais do questionário) foram elaboradas por
forma a, quando possível, não facilitarem escolhas com base em critérios de
“certo/errado” ou “socialmente aceitável/inaceitável”.
O questionário foi inicialmente elaborado em Ms. Word, para envio por fax ou pelo
correio ou para ser eventualmente utilizado em entrevistas pessoais, tendo sido
seguidamente elaborada uma versão integralmente digital, a qual foi realizada em
Ms. Excel (e não Ms. Access, como no caso da segunda fase do estudo “Skills”, por
- 103 -
se ter verificado que nem todos os potenciais respondentes possuíam o software
necessário à sua utilização).
A versão digital, enviada por E-mail a todos os elementos do universo do estudo,
foi elaborada com o recurso a Macros para navegação, procurando apostar num
design atraente e amigável, de utilização intuitiva, permitindo o reenvio por E -mail
para o CPIN pela simples pressão num botão.
O questionário em formato de texto é apresentado em anexo à presente dissertação.
A título ilustrativo, apresentam-se alguns dos écrans da versão digital do mesmo
questionário:
- 104 -
Assinale as suas
respostas
colocando um "X"
no quadrado
correspondente à
sua opção para
cada pergunta
1 Concorda em absoluto com a resposta à esquerda
2 Concorda largamente com a resposta à esquerda
3 Concorda parcialmente com a resposta à esquerda
4 A sua opinião é indiferente em relação à resposta à esquerda ou à direita
5 Concorda parcialmente com a resposta à direita
6 Concorda largamente com a resposta à direita
7 Concorda em absoluto com a resposta à direita
1º. Grupo de respostas: Factor muito negativo.
2º. Grupo de respostas:
Nada relevante
1
2
3
4
5
6
7
Factor muito positivo
Importância decisiva
Dados do Empreendedor (2)
1º. Grupo de respostas
Dos seguintes aspectos, qual a relevância que lhes atribui, relativamente ao seu contributo para que conseguisse criar a
sua empresa:
Funcionaram como um
entrave. Se tivessem
existido tinha sido
muito positivo
Valorização pela família da iniciativa de
criar uma empresa
Apoio do cônjuge/família relativamente ao
esforço que envolve a actividade de uma
empresa
L
O mercado estava em expansão
Existência de nichos de mercado
inexplorados
L
Nível de inovação do produto elevado
L
Elevada necessidade do produto
Facilidade de identificar os clientes
Existência de clientes interessados no
produto
Facilidade em obter o financiamento para
os capitais próprios
Disponibilidade de capital de
familiares/amigos
L
L
Acesso facilitado ao crédito Bancário
Facilidade de financiamento por operações
de capital de risco
Existência de incentivos públicos que se
adaptem à actividade da empresa
Desburocratização que facilitava o início
de novos negócios
L
L
1
2
3
4
5
6
7
1
2
3
4
5
6
7
1
2
3
4
5
6
7
1
2
3
4
5
6
7
1
2
3
4
5
6
7
1
2
3
4
5
6
7
1
2
3
4
5
6
7
1
2
3
4
5
6
7
1
2
3
4
5
6
7
1
2
3
4
5
6
7
1
2
3
4
5
6
7
1
2
3
4
5
6
7
1
2
3
4
5
6
7
1
2
3
4
5
6
7
1
2
3
4
5
6
7
Contribuíram
significativamente para
que criasse a empresa
mais rapidamente
Figura 34 – Questionário electrónico – Exemplo de parcial de écran da
secção de auto-avaliação
- 105 -
J
J
J
J
J
J
J
Chegou ao fim do questionário.
Por favor verifique se respondeu a todas as questões!
Em breve receberá informação sobre os resultados agregados
deste trabalho de investigação.
Muito obrigado pela sua colaboração!
O
CPIN
assume
um
compromisso
estrito
de
confidencialidade às respostas que lhe são remetidas, não
podendo ser identificadas. No entanto, caso o estudo venha a
ser publicado, poderemos fazer menção à sua empresa, e até
mesmo ao seu nome, como forma de agradecimento pela sua
participação no estudo. Reiteramos no entanto que as suas
respostas não vão ser identificadas, sendo apenas mencionada
a sua participação, caso a tal nos autorize. A sua autorização
efectuar-se-á através da colocação de um "X" na casa
correspondente, na casa imediatamente abaixo.
Autorizo a menção da minha participação e do nome da
minha empresa, nas condições acima indicadas.
Para enviar a sua resposta automaticamente para o CPIN, por
favor clique no respectivo Logotipo:
Enviar para o CPIN
Figura 35 – Questionário electrónico – Écran final com instrução de
envio automático das respostas para o CPIN
O questionário em formato electrónico foi sujeito a testes de operacionalidade,
tanto por parte da própria equipa do CPIN como por parte de alguns elementos
externos à Organização. Das experiências efectuadas, e descontando a eventual
necessidade de tempo adicional para a recolha dos dados económico-financeiros da
empresa, o tempo típico de resposta ao questionário foi confirmado na casa dos 15
minutos.
• Operacionalização do questionário
O questionário foi enviado por E-mail, no mês de Julho de 2001, para os 99
indivíduos constituintes do universo do estudo. A mensagem continha um texto de
convite à resposta e o questionário propriamente dito, em versão Ms. Excel, para
resposta electrónica, e em versão Adobe Acrobat Reader (ficheiro .pdf), para impressão
e preenchimento manual.
Seguidamente, estabeleceu-se um processo de monitorização da recepção da
mensagem por parte dos respectivos destinatários, através de tentativas de contacto
- 106 -
telefónico. Muitas destas tentativas não lograram o contacto directo com o
destinatário, embora tenham permitido, em alguns casos, o redireccionamento da
mensagem para outros endereços de correio electrónico e mesmo, nalguns casos,
para novos destinatários dentro da mesma empresa do conhecimento, por se ter
verificado que o novo destinatário tinha de facto sido o promotor ou um dos copromotores originais da empresa.
Foram ainda efectuadas duas novas insistências por correio electrónico, uma ainda
no mês de Julho de 2001 e uma outra no início de Agosto seguinte. Nestas
insistências enviaram-se novas mensagens incentivando à resposta, tendo-se
remetido de novo os questionários, nos dois formatos já anteriormente enviados.
Durante os meses de Julho, Agosto e Setembro de 2001, e apesar de se tratar de
período de férias, tanto a Investigadora do CPIN como o autor deste documento
fizeram diversos telefonemas, procurando atrair a resposta de um número tão
grande quanto possível de empreendedores.
Já em Outubro de 2001, o autor da presente dissertação desenvolveu uma nova
insistência junto dos seus colegas do BIC Minho e da NET, no sentido de procurar
obter uma maior adesão dos empreendedores pelos mesmos indicados.
Em Novembro de 2001 o autor deste documento desenvolveu iniciativa idêntica
junto do Taguspark e de algumas das empresas no mesmo residentes, com as quais
o CPIN mantém relações mais frequentes.
• Recolha de respostas
Foi recolhido, até 13 de Novembro de 2001, um total de 17 respostas, cuja quase
totalidade foi remetida por correio electrónico, tendo sido usado o questionário
electrónico, em Ms. Excel.
• Análise e interpretação das respostas
Aquando da elaboração do questionário, foi preparada uma tabela permitindo
descodificar as respostas às questões de auto-avaliação, transpondo-as para
classificações segundo os diversos indicadores da capacidade empreendedora.
Assim, o primeiro trabalho de análise consiste na construção de uma tabela de
observações relativamente à análise primária, a qual, basicamente, resulta na
classificação de cada empreendedor segundo cada um dos indicadores da
capacidade empreendedora.
Sendo o objectivo da presente investigação testar a existência de relações causais entre
um conjunto de indicadores da capacidade empreendedora (variáveis independentes) e
o desempenho das empresas do conhecimento emergentes (variável dependente),
consideraram-se apenas os 28 indicadores da capacidade empreendedora listados
anteriormente.112 A não consideração dos ores/redutores da manifestação da
112
Ver o ponto “Resumo das conclusões da investigação anterior”, na página 85.
- 107 -
capacidade empreendedora prende-se com o facto de serem factores da envolvente e o
afastamento das motivações para a criação da empresa justifica-se por estarem, pelo
menos em parte, relacionados com factores conjunturais.
O segundo trabalho de análise consiste na construção de indicadores do
desempenho empresarial e respectiva discussão, com base nos dados económicofinanceiros recolhidos (sendo neste caso a amostra constituída apenas pelos
promotores de empresas com pelo menos 3 e no máximo 10 anos de actividade que
tenham fornecido os respectivos elementos económico-financeiros referentes aos
exercícios de 1998, 1999 e 2000).
• Tratamento de primeiro nível das respostas – Hierarquização dos indicadores da
capacidade empreendedora
Seguidamente, procede-se à análise estatística propriamente dita dos dados.
Inicialmente, esta análise foi planeada com o recurso à análise de clusters e sua
validação através de uma análise discriminante. No entanto, o facto de o número
de observações conseguido ter sido inferior ao esperado (apenas 17, contra um
número ideal entre 30 e 40) obrigou à opção por uma análise estatística mais
simples, com base apenas nas médias, medianas e desvios-padrão (ou variâncias).
• Selecção dos indicadores da capacidade empreendedora a considerar como variáveis
independentes
Da análise estatística efectuada resulta a eleição de um conjunto de indicadores da
capacidade empreendedora considerados mais relevantes pelos empreendedores do
conhecimento. Estes indicadores são organizados de acordo com as respectivas
dimensões e variáveis de análise, por forma a construir o conjunto das variáveis
independentes da investigação (análise secundária).
Nesta selecção existem cuidados a ter, por forma a garantir um adequado
compromisso entre um número não excessivo de variáveis independentes e a sua
suficiente abrangência (em termos da sua distribuição pelas várias dimensões e
variáveis de análise).
Assim, e dependendo do significado estatístico de cada um dos resultados, importa
seleccionar os que o têm em maior grau, mas evitando a concentração dos
indicadores apenas numa ou duas variáveis de análise. Sendo irrealista cobrir a
totalidade das dimensões/análises possíveis, cujo número total é de 9 (considerando
aqui apenas as relativas à capacidade empreendedora), importa garantir o máximo
possível de abrangência segundo as quatro variáveis existentes (capacidades
instrumentais, pessoais, técnicas e de gestão).
• Tratamento de segundo nível das respostas – Teste das Hipóteses
Seleccionadas as variáveis independentes, é possível proceder ao teste das hipóteses,
ao qual corresponde o segundo nível de análise da presente investigação.
- 108 -
Para o efeito recorre-se a técnicas de regressão linear, a aplicar às 8 observações que
permitem testar a relação com as variáveis dependentes (indicadores de
desempenho das empresas do conhecimento emergentes).
• Conclusões
A última etapa da metodologia tem naturalmente a ver com a retirada de conclusões
da análise efectuada e indicações para prosseguimento do estudo do tema. Aqui, e
sobretudo face ao reduzido número de observações disponível, tanto para a análise
primária (17 observações) como sobretudo para a secundária (8 observações),
importa discutir o significado das conclusões, desde logo em função da
representatividade das amostras utilizadas.
O processo metodológico pode pois ser esquematizado como segue:
Alargamento
geográfico
Formato
texto
Envio
Desenho
Análise e tratamento
das respostas
Tratamento
de 1º. nível
Tabela de observações
(análise primária)
Indicadores de desempenho
(análise secundária)
Hierarquização dos
indicadores da
capacidade
empreendedora
Selecção de
variáveis independentes
Formato
electrónico
Tratamento
de 2º. nível
Teste das
hipóteses
Conclusões,
discussão e
investigação futura
Desenho e elaboração do
Questionário
Estrutura
Questões
Alargamento
empr. Conhecim.
Recolha de respostas
37 empr.
Novas entr.
Desenho do
quadro de análise
Definição do
universo do estudo
Acompanhamento e
monitorização
62 empr.
Univ. anter.
Teste
operacional
Resultados da
Investigação anterior
Figura 36 – Processo metodológico da investigação empírica
C - CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
Características gerais
Dos 99 empreendedores do conhecimento inquiridos, responderam 17 ao
questionário, o que representa uma taxa global de resposta de 17%. Destes, apenas 8
- 109 -
(8%) apresentaram elementos contabilísticos permitindo a utilização de indicadores de
desempenho económico-financeiro.
A distribuição geográfica dos empreendedores inquiridos é a seguinte:
0%
16%
Grande Lisboa
11%
Grande Porto
Minho
Outras
73%
Figura 37 – Distribuição geográfica dos empreendedores inquiridos
A distribuição geográfica dos empreendedores respondentes é a seguinte:
Toda a amostra
Empresas que apresentaram contas
24%
38%
47%
Grande Lisboa
Grande Lisboa
Grande Porto
49%
Minho
Grande Porto
Minho
29%
13%
Figura 38 – Distribuição geográfica dos empreendedores respondentes
Verifica-se que, apesar do desequilíbrio geográfico existente no universo da
investigação, a amostra utilizada observa uma relação mais equilibrada ao nível da
distribuição geográfica, sobretudo no que respeita à totalidade da amostra. No caso do
conjunto dos empreendedores que remeteram as contas das suas empresas, a zona do
Grande Porto aparece com uma representação abaixo do que seria desejável.
As empresas dos empreendedores respondentes pertencem a domínios de actividade
essencialmente de base tecnológica, predominando largamente as CAE 72 (35%) e 74
(47%). No caso das 8 empresas que apresentaram contas, a distribuição faz-se por
apenas três códigos CAE de dois dígitos: 72 (49%), 74 (38%) e 51 (13%)
- 110 -
Distibuição por CAE de toda a amostra
92
6%
38
6%
Distibuição por CAE das empresas
que apresentaram contas
51
13%
51
6%
74
38%
72
35%
74
47%
72
49%
Figura 39 – Distribuição das empresas dos empreendedores
respondentes por áreas de actividade económica
Em termos médios, o número de sócios activos das empresas do conhecimento cujos
promotores originais foram inquiridos varia entre um e quatro.
5
4
3
2
1
0
1997
1998
Todas as empresas
1999
2000
Empresas com contas
Figura 40 – Evolução do número médio de sócios activos
A Figura 40 mostra que o número médio de sócios activos tende a crescer com a idade
das empresas. As diferenças entre as linhas correspondentes à totalidade da amostra e
à parte desta que apresentou dados contabilísticos poderão ser explicadas, por um lado,
por uma idade média superior no caso das empresas que apresentaram contas e pela
pequena dimensão da respectiva amostra.
- 111 -
Toda a amostra
Empresas que apresentaram contas
9
5
8
4
7
6
1997
5
1998
4
1999
2000
3
2
1997
3
1998
1999
2
2000
1
1
0
0
0
1-2
3-5
6 - 10
+ 10
0
1-2
3-5
6 - 10
+ 10
Figura 41 – Distribuição do número de sócios activos das empresas
No que respeita à detenção de Propriedade Intelectual (uma das categorias de activos
intangíveis considerada na análise teórica), existe um número significativo de empresas
que possuem pelo menos um tipo de activos desta natureza:
Propriedade Intelectual em geral
Sim
41%
Não
59%
Figura 42 – Distribuição da amostra segundo a detenção de propriedade
intelectual – toda a amostra
- 112 -
Propriedade Intelectual
Registo de patentes
Propriedade Intelectual
Direitos de autor
Sim
18%
Sim
18%
Não
82%
Não
82%
Propriedade Intelectual
Registo de marcas
Propriedade Intelectual
Contratos de licença
Sim
6%
Sim
6%
Não
94%
Não
94%
Figura 43 – Distribuição da amostra segundo a detenção dos vários tipos
de propriedade intelectual – toda a amostra
41% das empresas constituintes da amostra detém propriedade intelectual, sendo que o
tipo de propriedade intelectual mais comum é o registo de patentes e de direitos de
autor.
A mesma análise, aplicada agora às 8 empresas que apresentaram contas, e sobre as
quais foi efectuada a análise empírica, conduz aos seguintes resultados:
Propriedade Intelectual em geral
Não
43%
Sim
57%
Figura 44 – Distribuição da amostra segundo a detenção de propriedade
intelectual – empresas que apresentaram contas
- 113 -
Propriedade Intelectual
Direitos de autor
Propriedade Intelectual
Registo de patentes
Sim
14%
Sim
43%
Não
57%
Não
86%
Propriedade Intelectual
Contratos de licença
Propriedade Intelectual
Registo de marcas
Sim
0%
Sim
14%
Não
86%
Não
100%
Figura 45 – Distribuição da amostra segundo a detenção dos vários tipos
de propriedade intelectual – empresas que apresentaram contas
Os gráficos da Figura 44 e da Figura 45 mostram que, no caso das empresas que
apresentaram contas, é maioritário o número das que detêm pelo menos um tipo de
activo dentro da categoria da propriedade intelectual, sendo que quase todas as
empresas detendo propriedade intelectual possuem direitos de autor devidamente
registados, o que certamente resultará do facto de existir uma certa concentração em
empresas dedicadas à produção de software.
No caso das empresas que apresentaram contas, nenhuma delas possui marca
registada, sendo uma pequena minoria as que detêm patentes ou contratos de licença.
Quer no caso da totalidade da amostra quer no das empresas que apresentaram contas,
é uma larga maioria o número de empresas que, detendo algum activo dentro da
categoria da propriedade intelectual, possui apenas um tipo destes activos.
Indicadores de desempenho das empresas que apresentaram contas
As 8 empresas que apresentaram contas evidenciam evoluções bastante díspares do
VAB:
- 114 -
Evolução da taxa de variação do VAB
Evolução do VAB
500%
2,500,000
400%
2,000,000
A
A
B
1,500,000
B
300%
C
EUR
C
D
1,000,000
D
200%
E
E
F
F
500,000
G
100%
G
H
H
0%
0
1998
1999
1999/1998
2000
2000/1999
-100%
-500,000
Figura 46 – Evolução do VAB e da respectiva taxa de variação
Existe na amostra uma empresa de dimensão claramente superior às restantes (VAB
acima de 1.5 mEUR113 contra restantes entre 0 e 500 kEUR114). Algumas (poucas)
empresas apresentam evoluções negativas do VAB, com um caso de evolução
fortemente negativa de 1999 para 2000, havendo várias que reduzem a sua
performance positiva de evolução de um ano para o outro.
VAB - taxa de variação do VAB (1998 - 2000)
variação do VAB 1999/1998 2000/1999
500%
400%
300%
200%
100%
0%
1,000
10,000
100,000
1,000,000
10,000,000
-100%
VAB 1999 - 2000 (EUR)
A
B
C
D
E
F
G
H
Figura 47 – Comparação entre a evolução do VAB e a respectiva taxa de
variação
Pela Figura 47 pode verificar-se que, apesar da diversidade de situações apresentada,
parece existir uma relação, de sentido inverso, entre a dimensão da empresa e a
respectiva taxa de variação. De notar que a escala do VAB é logarítmica, permitindo
visualizar melhor os casos de menor dimensão.
113
mEUR = Milhões de Euro.
114
kEUR = Milhares de Euro.
- 115 -
O caso da empresa F merece atenção especial, porquanto se trata da situação de forte
redução do VAB no período (neste caso o ponto mais à esquerda corresponde à
observação mais recente, ou seja, a evolução é da direita para a esquerda, ao contrário
do que se observa nas restantes empresas).
De referir ainda os casos das empresas A e B as quais, partindo de VAB muito
semelhantes, apresentam evoluções contraditórias, embora ambas positivas.
No que respeita à produtividade, os gráficos respeitantes à sua evolução e à evolução
da respectiva variação, apresentados na Figura 48, apresentam uma configuração
semelhante, em termos gerais, com a verificada para o VAB.
Podem no entanto verificar-se algumas diferenças, a mais evidente das quais será
porventura o facto de existir um maior número de empresas com uma variação
negativa da produtividade, o que poderá ser um sinal de que as mesmas se encontram
em processo de “engordamento”, sendo crescente o número de trabalhadores não
directamente contribuintes para o processo produtivo.
Evolução da taxa de variação da produtividade
Evolução da Produtividade
500%
90,000
80,000
EUR/RH
400%
70,000
A
60,000
B
50,000
C
D
40,000
A
B
300%
C
D
200%
E
E
30,000
F
20,000
G
10,000
H
F
100%
H
0%
1999/1998
0
-10,000
G
1998
1999
2000
2000/1999
-100%
Figura 48 – Evolução da Produtividade e da respectiva taxa de variação
Caso interessante é, aliás, o da empresa H que, recorde-se, é a que possui uma
dimensão claramente superior às restantes. Sucede que esta empresa apresenta, em
1998, uma produtividade também claramente superior às das restantes, mas a evolução
deste indicador nos dois anos seguintes denota uma degradação muito significativa, de
tal modo que, em 2000, a sua produtividade já se posiciona ao nível do conjunto da
amostra, embora ainda no seu extremo superior.
Por ser um caso com várias dissemelhanças em relação às outras empresas,
apresentam-se de seguida mais elementos sobre a empresa H:
- 116 -
Empresa H - Evolução dos indicadores
4,000,000
100%
3,500,000
50%
3,000,000
0%
2,500,000
-50%
2,000,000
-100%
Empresa H - Evolução das taxas de variação dos indicadores
60%
40%
VAB
20%
VAB
EUR
PRODUT
PROV
RCP (%)
1,500,000
-150%
1,000,000
-200%
500,000
-250%
0
-300%
1998
1999
PRODUT
0%
1999/1998
2000/1999
RCP
PROV
-20%
-40%
2000
-60%
Figura 49 – Empresa H – Evolução dos principais indicadores
económico-financeiros e das respectivas taxas de variação
A Figura 49 apresenta a evolução do VAB, da Produtividade, dos Proveitos e da
Rentabilidade dos Capitais Próprios da empresa H entre 1998 e 2000, assim como a
evolução das respectivas taxas de variação. Enquanto que o VAB evoluiu, no período
em análise, de uma forma favorável (ou seja, cresceu tanto em valor absoluto como em
termos da taxa de crescimento), os Proveitos apenas cresceram em valor absoluto,
tendo a respectiva taxa de variação, embora positiva, decrescido significativamente. Os
dois restantes indicadores apresentam taxas de variação negativas, embora em ambos
os casos numa evolução decrescente. Temos assim que quer a Rentabilidade dos
capitais Próprios quer a Produtividade se degradaram no período em análise.
Importa ainda referenciar que a empresa H é, de toda a amostra, uma das que
apresentam maior idade, tendo sido fundada em 1993, assim como maior número de
empregados. Mesmo ao nível do número de sócios activos, esta empresa apresenta
uma evolução significativa, tendo passado de 2 em 1997, 1998 e 1999 para 14 em 2000.
Produtividade - Taxa de variação da produtividade
(1998 - 2000)
Taxa de variação da produtividade
1999/1998 - 2000/1999
500%
400%
300%
200%
100%
0%
1,000
10,000
100,000
-100%
Produtividade 1999 - 2000 (EUR/RH)
A
B
C
D
E
F
G
H
Figura 50 – Comparação entre a evolução da Produtividade e a
respectiva taxa de variação
- 117 -
Regressando à amostra das 8 empresas que apresentaram contas, e tendo presente a
Figura 50, na qual, à semelhança do que foi analisado para o VAB, se comparam as
evoluções da Produtividade e das respectivas taxas de variação, desde logo se pode
verificar que existe uma aparente relação, de sentido inverso, entre a produtividade e a
respectiva taxa de variação (de notar que a escala da produtividade é logarítmica).
Releva-se o facto de 3 empresas apresentarem taxas de variação da produtividade
negativa e de que outras 3 evidenciam uma evolução positiva das respectivas taxas de
variação, elas mesmas também positivas.
Confrontando agora os dois gráficos, o relativo ao VAB e o respeitante à
Produtividade, são de salientar os seguintes aspectos:
• Duas empresas (A e B) apresentam uma evolução coincidente do VAB e da
Produtividade, o que se justifica por terem variado apenas marginalmente o número
de efectivos durante o período. No entanto, enquanto que os valores de VAB em
1999 são quase idênticos, na ordem dos 10,000 Euro, as respectivas variações
(1999/1998) são muito díspares: A empresa A situa-se quase nos 500% enquanto
que a empresa B se posiciona abaixo dos 10%.
Os VAB das duas empresas são próximos ainda em 2000 (a empresa A na ordem
dos 13,000 Euro e a empresa B cerca de 15,000 Euro), o que significa que as
variações dos VAB de 1999 para 2000 são próximas. Na verdade, a empresa B
evidencia uma variação de produtividade um pouco maior do que a empresa A
(cerca de 290% contra aproximadamente 230%), o que quer dizer que a empresa B
evoluiu de modo muito mais favorável (aumento do VAB e da respectiva taxa de
variação) do que a empresa A (aumento do VAB mas diminuição da respectiva taxa
de variação).
• Duas outras empresas (F e H) evidenciam significativas perdas de produtividade
durante o triénio 1998-2000 (os dados das empresas que apresentam variações da
produtividade negativas devem ser lidos da direita para a esquerda). Sobre a
empresa H foram já tecidos comentários anteriormente. O caso da empresa F
corresponde a uma situação de forte degradação dos respectivos indicadores,
porquanto não é só a produtividade que desce fortemente, a mesma tendência
verifica-se igualmente na evolução do VAB. Apresentam-se em seguida os
principais indicadores económico-financeiros desta empresa:
- 118 -
Empresa F - Evolução de indicadores
140,000
100%
120,000
50%
1200%
1000%
0%
100,000
-50%
EUR
Empresa F - Evolução das taxas de variação dos indicadores
VAB
800%
VAB
PRODUT
80,000
-100%
60,000
PROV
RCP (%)
40,000
600%
-150%
400%
-200%
200%
20,000
-250%
0
-300%
PRODUT
RCP
PROV
0%
1998
1999
2000
1999/1998
2000/1999
-200%
Figura 51 – Empresa F – Evolução dos principais indicadores
económico-financeiros e das respectivas taxas de variação
Nos gráficos da Figura 51 encontra-se bem evidenciada a degradação do VAB e da
Produtividade desta empresa, em particular no ano de 2000. É, no entanto,
verdadeiramente impressionante a evolução (positiva) dos proveitos da empresa e,
sobretudo, da rentabilidade dos seus capitais próprios. Esta evolução contraditória
pode sugerir que a empresa, durante o período em análise, terá modificado
significativamente a sua estrutura de proveitos, com um muito maior peso de
proveitos não directamente associados à sua actividade produtiva.
• A empresa G apresenta uma diminuição da sua taxa de variação do VAB (embora
sempre positiva), enquanto que evidencia uma evolução de sentido contrário da sua
Produtividade. Ou seja, ambos os indicadores cresceram no período, tendo no
entanto o VAB diminuído a sua taxa de variação, enquanto que na Produtividade se
verificou uma aceleração do respectivo ritmo de variação.
• As restantes empresas (C, D e E) ostentam variações semelhantes em ambos os
indicadores, e dentro de uma gama de taxas menos impressionante do que as
indicadas anteriormente. Refira-se apenas que a empresa D apresenta taxas de
variação dos seus indicadores de desempenho negativas, embora muito próximas do
zero.
Da análise dos indicadores de desempenho que se consideram mais relevantes em
empresas ainda não maduras (o VAB e a Produtividade e as respectivas taxas de
variação), e face às grandes discrepâncias de comportamento evidenciadas, procurou-se
desde logo encontrar hipóteses de explicação para as mesmas. Nesse sentido,
relacionou-se a idade das empresas com os valores dos seus indicadores, tendo esta
comparação resultado conforme seguidamente se mostra:
- 119 -
Relação idades / dimensões
Relação idades / produtividade
10,000,000
Produtividade (EUR/RH)
100,000
VAB (EUR)
1,000,000
100,000
10,000
1,000
10,000
1,000
1
2
3
4
5
6
7
8
9
1
2
3
Idade (anos)
A
B
C
D
E
4
5
6
7
8
9
Idade (anos)
F
G
H
A
B
C
D
E
F
G
H
Figura 52 – Relação entre idades das empresas e os respectivos
indicadores VAB e Produtividade
A Figura 52 coloca em evidência a possibilidade de alguma verosimilhança de um
padrão relacional entre as idades das empresas e as respectivas dimensões, medidas
pelo VAB, o qual consiste numa tendência de aumento da dimensão com a idade. Há
no entanto que atentar que a banda de variação deste eventual padrão é extremamente
larga (as escalas do VAB e da Produtividade são logarítmicas), abrangendo uma faixa
dos 8 aos 70 kEUR aos 3 anos de idade e dos 900 kEUR aos 9mEUR aos 9 anos de
idade.
Já no caso da Produtividade será mais difícil estabelecer um padrão de relacionamento
com a idade das empresas, mesmo que tão lato como o sugerido para o caso do VAB.
De facto, apenas se poderá sugerir uma eventual tendência de aumento da
produtividade com a idade das empresas embora, como já foi evidenciado, existem
várias empresas em que tal evolução é de sentido inverso.
Face a aparentes tendências de aumento do VAB e da Produtividade com a idade, por
um lado, e de diminuição das taxas de variação destes indicadores com o aumento dos
seus valores absolutos, por outro, tentou-se reduzir o efeito distorsor destas tendências
pela eventual utilização de indicadores de desempenho mais sólidos, tendo em atenção
a análise que se pretende efectuar. Para o efeito, consideraram-se, para além das taxas
de variação, os valores absolutos das variações do VAB e da Produtividade, em séries
temporais de dois pontos.
Os dois novos indicadores são pois:
• ∆VAB1999/1998 e ∆VAB2000/1999, e
• ∆PROD1999/1998 e ∆PROD2000/1999.
A amostra apresenta o seguinte comportamento, segundo estes novos indicadores:
- 120 -
Evolução da variação do VAB
Evolução da variação da Produtividade
350,000
15,000
10,000
300,000
5,000
A
250,000
A
0
B
C
D
150,000
E
F
100,000
G
50,000
-5,000
EUR/RH
EUR
200,000
1999/1998
2000/1999
B
C
-10,000
D
-15,000
E
-20,000
F
G
-25,000
H
H
-30,000
0
1999/1998
2000/1999
-50,000
-35,000
-40,000
Figura 53 – Evolução dos valores absolutos da Variação do VAB e da
Variação da Produtividade
Os gráficos da Figura 53 colocam desde logo em evidência o já salientado
comportamento diferenciado da empresa H em ambos os indicadores. No caso da
variação da Produtividade, as restantes empresas parecem apresentar evoluções que,
sendo diferentes, são já mais comparáveis, conforme se evidencia melhor no gráfico
seguinte:
Evolução da variação da Produtividade - sem empresa H
10,000
8,000
A
6,000
EUR/RH
B
C
4,000
D
2,000
E
F
0
G
1999/1998
2000/1999
-2,000
-4,000
Figura 54 – Evolução dos valores absolutos da Variação da
Produtividade, sem a empresa H
Verifica-se pela Figura 54 que, com excepção da empresa H, toda a amostra se
movimenta numa faixa de ? PROD que vai desde cerca de -3,000 EUR/RH até 7,000
EUR/RH. No entanto, apesar de a faixa ser relativamente estreita, os
comportamentos das sete empresas consideradas são bastante diferenciados entre si,
podendo-se agrupar as empresas em dois grupos, um que apresenta variações positivas
da Produtividade e evoluções das mesmas igualmente positivas e um outro, composto
- 121 -
pelas empresas D e F, que apresenta valores negativos tanto para a variação da
Produtividade como para a sua evolução.
A Figura 55 mostra, de forma comparada, a evolução dos valores absolutos e das taxas
das variações de produtividade das empresas da amostra, para os dois pontos da série
temporal observada. Importa referir que os valores negativos (empresas D, F e H)
devem ser lidos da direita para a esquerda e que a escala dos valores absolutos é linear,
para permitir a visualização dos valores negativos.
Produtividade - Variação absoluta e taxa de variação
(1999/1998 - 2000/1999)
500%
Taxas de variação
400%
300%
200%
100%
0%
-40,000
-30,000
-20,000
-10,000
0
10,000
20,000
-100%
Valor absoluto das variações (EUR/RH)
A
B
C
D
E
F
G
H
Figura 55 – Comparação entre variações absolutas e taxas de variação da
Produtividade
Pela análise da Figura 56 pode verificar-se que os valores médios de ? PROD, para a
amostra das 8 empresas que apresentaram contas, varia desde um mínimo de -27,000
EUR/RH, para a empresa H, até um máximo de 118,000 EUR/RH para a empresa E.
Se não se considerar a empresa H o mínimo será de apenas -2,000 EUR/RH
(empresas D e F). As empresas A, B e C apresentam valores muito próximos, entre os
2,000 EUR/RH e os 3,000 EUR/RH.
- 122 -
Variações médias da Produtividade
15,000
10,000
E
5,000
B
A
G
C
EUR/RH
0
-5,000
0
2
4
D
6
F
8
10
-10,000
-15,000
-20,000
-25,000
H
-30,000
Empresas
Figura 56 – Valores médios da variação da Produtividade
D - ESCOLHA DAS VARIÁVEIS
Variáveis independentes
As variáveis independentes a utilizar na análise correspondem a indicadores da
capacidade empreendedora dos promotores de empresas de base tecnológica que
constituem a amostra daqueles que responderam ao questionário e forneceram
elementos económico-financeiros das empresas do conhecimento por si criadas e
geridas.
Conforme se referiu anteriormente, a investigação levada a cabo pelo CPIN
anteriormente à presente investigação conduziu à identificação de 28 indicadores da
capacidade empreendedora, os quais são agrupados em 9 dimensões de análise que, por
sua vez, se congregam em 4 grandes variáveis:
- 123 -
Capacidade Empreendedora
Variáveis
Dimensões
Indicadores
1. Capacidade de escutar e adquirir informação
2. Comunicabilidade
3. Sentido de obrigação com os outros
Capacidades instrumentais
4. Capacidade de decisão
Liderança
5. Capacidade para identificar novas oportunidades de negócio (Visão)
6. Capacidade para assumir responsabilidades/compromissos
7. Perseverança
8. Capacidade para arriscar
9. Espírito de iniciativa
10. Potencial criativo
Capacidades pessoais
Comportamental
11. Capacidade para inovar
12. Capacidade de partilha
13. Auto-motivação
14. Capacidade para trabalhar
15. Formação base relacionada com a actividade
Conhecimento técnico 16. Domínio do processo de inovação
Capacidades técnicas
17. Conhecimento do Sector
18. Experiência Empresarial
Experiência
19. Experiência Profissional
20. Capacidade para percepcionar as motivações dos clientes
Marketing
21. Capacidade de medir o grau de satisfação dos clientes
22. Capacidade para negociar financiamentos
Finanças
23. Capacidade para montar um sistema de controlo de gestão
Capacidades de gestão
24. Capacidade para motivar os colaboradores
Recursos Humanos 25. Capacidade para avaliar colaboradores
26. Capacidade para contratar empregados
27. Capacidade para conceber a estratégia da empresa
Estratégia
28. Capacidade para implementar a estratégia definida
Relacionamento
Interpessoal
Tabela 27 – Estudo Skills – Indicadores da capacidade empreendedora
O tratamento das respostas ao questionário permitiu apurar que a distribuição das
respostas segundo os vários indicadores segue um padrão concentrado nos valores
mais positivos. Esta situação verifica-se tanto no caso da amostra total como
considerando apenas os 8 empreendedores que apresentaram contas das suas
empresas, como se pode verificar nos gráficos da Figura 57 (de notar que o
questionário permitia respostas entre 1 e 7):
Distribuição das classificações dos indicadores - amostra total
Distribuição das classificações dos indicadores empreendedores que apresentaram contas
180
80
160
70
140
120
60
100
50
80
40
60
30
40
20
20
10
0
0
1
2
3
4
5
6
7
1
2
3
4
5
6
7
Figura 57 – Distribuição das classificações dos indicadores da capacidade
empreendedora – respostas originais
Face a esta distribuição, e sendo o valor de indiferença o 4, atribuiu-se a seguinte
classificação às diferentes respostas:
- 124 -
Resposta
original
Classificação
atribuída
Interpretação
1
-1
Discordância / factor negativo
4
0
Indiferença
5
1
Alguma concordância / factor levemente positivo
6
2
Concordância / factor positivo
7
3
Total concordância / factor fortemente positivo
2
3
Tabela 28 – Atribuição de classificações às respostas ao inquérito
O agrupamento das respostas desfavoráveis/negativas permitiu uma suavização da
curva de distribuição das respostas, conforme seguidamente se evidencia:
Distribuição das classificações dos indicadores - amostra total
Distribuição das classificações dos indicadores empreendedores que apresentaram contas
160
80
140
70
120
60
100
50
80
40
60
30
40
20
20
10
0
0
-1
0
1
2
3
-1
0
1
2
3
Figura 58 – Distribuição das classificações dos indicadores da capacidade
empreendedora – após classificação das respostas
De notar que, dos 28 indicadores listados anteriormente, o indicador nº. 18 –
“Experiência Empresarial”, não foi considerado para análise, porquanto as respectivas
respostas não permitiam a sua agregação para os tratamentos que foram efectuados.
Uma vez que era impossível utilizar os 27 indicadores individuais da capacidade
empreendedora como variáveis independentes, tornou-se necessário proceder à
construção destas, para o que se seguiu a seguinte metodologia:
• Realização de testes T às respostas dadas pelos 8 empreendedores de cujas
empresas do conhecimento de conhecem os respectivos desempenhos económicofinanceiros, por forma a afastar os indicadores cuja significância fosse igual ou
superior a 5%;
• Agrupamento dos indicadores retidos segundo cada uma das 4 grandes variáveis da
capacidade empreendedora, através da construção das respectivas médias. Este
- 125 -
agrupamento considerou-se adequado, sem necessidade da realização de uma
análise discriminante, porquanto o mesmo resulta já de uma análise de clusters,
validada por análise discriminante, realizada no âmbito do processo de investigação
associado ao estudo Skills.
Da realização dos testes T, e por afastamento das variáveis com significância igual ou
superior a 5%, resultou a seguinte selecção:
Capacidade Empreendedora
Variáveis
Dimensões
Indicadores
Relacionamento
Interpessoal
Liderança
1. Capacidade de escutar e adquirir informação
Capacidades instrumentais
3. Sentido de obrigação com os outros
6. Capacidade para assumir responsabilidades/compromissos
7. Perseverança
9. Espírito de iniciativa
10. Potencial criativo
Capacidades pessoais
Comportamental
11. Capacidade para inovar
13. Auto-motivação
14. Capacidade para trabalhar
15. Formação base relacionada com a actividade
Capacidades técnicas
Conhecimento técnico 16. Domínio do processo de inovação
17. Conhecimento do Sector
20. Capacidade para percepcionar as motivações dos clientes
Marketing
21. Capacidade de medir o grau de satisfação dos clientes
Finanças
23. Capacidade para montar um sistema de controlo de gestão
Capacidades de gestão
24. Capacidade para motivar os colaboradores
Recursos Humanos
26. Capacidade para contratar empregados
Estratégia
28. Capacidade para implementar a estratégia definida
Tabela 29 –Indicadores da capacidade empreendedora que passaram no
teste T
Fez-se então o agrupamento dos indicadores 1,3 e 6 segundo a variável “Capacidades
instrumentais”, 7, 9, 10, 11, 13 e 14 segundo a variável “Capacidades pessoais”, 15, 16 e
17 segundo a variável “Capacidades técnicas” e 20, 21, 23, 24, 26 e 28 segundo a
variável “capacidades de gestão”, sendo estas as variáveis independentes utilizadas na
análise subsequente.
Retêm-se pois para análise as seguintes Variáveis Independentes:
• [CAP_INST] – Capacidades Instrumentais
• [CAP_PESS] – Capacidades Pessoais
• [CAP_TECN] – Capacidades Técnicas
• [CAP_GEST] – Capacidades de Gestão
A classificação dos 8 empreendedores segundo estas quatro variáveis resultou da
seguinte forma:
- 126 -
CAP_INST CAP_PESS CAP_TECN CAP_GEST
Empreendedores Capacidades Capacidades Capacidades Capacidades
instrumentais
pessoais
técnicas
de gestão
A
1.67
1.33
1.00
2.17
B
1.67
0.17
0.00
1.50
C
1.33
0.83
1.67
0.83
D
1.67
1.33
2.00
2.00
E
2.67
1.67
0.33
1.17
F
1.67
0.50
1.67
0.50
G
1.67
2.00
1.67
2.17
2.33
1.50
2.33
1.83
H
Tabela 30 – Variáveis independentes – Classificação dos
empreendedores segundo as 4 grandes variáveis da capacidade
empreendedora (escala de –1 a 3)
Deve ressalvar-se, para salvaguarda do grau de validade das classificações insertas na
Tabela 30, que a efectiva avaliação da capacidade empreendedora segundo a
Metodologia Skills, desenvolvida e em aplicação pelo CPIN, não se resume à simples
realização de um inquérito, mas envolve um processo bem mais complexo, no qual o
preenchimento de um inquérito também se inclui.
Esta classificação é pois uma simples aproximação, na base do processo de autoavaliação levado a efeito pelos empreendedores do conhecimento inquiridos, através da
resposta ao questionário que lhes foi enviado.
Variáveis dependentes
A escolha de uma ou mais variáveis dependentes para medir indirectamente a geração
de Activos Intangíveis nas empresas do conhecimento emergentes (no caso de ser mais
de uma haverá uma Hipótese a validar por cada variável independente existente) teve
em conta os seguintes critérios:
• Serem indicadores do desempenho económico-financeiro das empresas do
conhecimento criadas e geridas pelos empreendedores inquiridos
Desde logo, as variáveis dependentes terão de traduzir o desempenho das empresas
do conhecimento em causa, porquanto a, ou as, Hipóteses a testar estabelecem uma
relação entre a capacidade empreendedora dos indivíduos e o desempenho das suas
empresas.
A retenção de indicadores económico-financeiros está associada a dois factos:
o Outro tipo de indicadores de desempenho implicaria a medição de aspectos que,
inevitavelmente, se encontrariam associados à avaliação de activos intangíveis das
empresas o que, como foi já evidenciado na presente dissertação, não se
- 127 -
considera possível fazer, no caso de empresas do conhecimento emergentes,
com base nos Métodos e metodologias de avaliação de activos intangíveis
existentes no mercado e/ou citados na literatura.
o Embora para os empreendedores e para outros actores a medição do
desempenho possa ser efectuada segundo outros critérios, a verdade é que para
quem investe nas empresas, sejam elas do conhecimento ou quaisquer outras, o
fim último procurado é o retorno do investimento efectuado, e este poderá ser
mais facilmente estimado a partir de indicadores económico-financeiros.
• Estarem o mais possível adaptados à natureza, à volatilidade e à variabilidade
inerente a empresas do conhecimento numa fase de grande mutação, seja pelos seus
fortes crescimento ou decrescimento, seja pela repentina alteração de modelos de
negócio e/ou objectivos estratégicos, seja pelas grandes alterações estruturais, e por
vezes da própria matriz societária/accionista, decorrentes de compras, vendas,
cisões, fusões e outras operações frequentes neste tipo de empresas e nesta fase das
suas vidas.
• Permitirem, tão eficazmente quanto possível, o afastamento de enviesamentos
eventualmente decorrentes da reduzida dimensão da amostra disponível para
análise.
Em face destes critérios, rejeitaram-se liminarmente indicadores associados a volume
de vendas, rentabilidade dos capitais próprios ou dos activos e resultados, porquanto
todos eles não traduzem de forma fiel, por um lado, e pelo menos isoladamente, o
desempenho de uma empresa e, por outro lado, não respeitam o segundo critério
enunciado anteriormente.
Do mesmo modo, um indicador associado apenas ao valor absoluto do VAB, o qual
traduziria essencialmente a dimensão da empresa, seria demasiado sensível à idade das
empresas, como ficou demonstrado antes, pelo que também não obedeceria ao
segundo critério enunciado. Aliás, a caracterização da amostra feita anteriormente
coloca em evidência igualmente a não observância do terceiro critério.
Tendo em atenção a análise feita anteriormente à amostra e aos respectivos indicadores
de desempenho, e uma vez que parece existir algum nível de correlação entre a idade
das empresas e a gama de variação da respectiva produtividade (e mais ainda no caso
do VAB), considera-se pertinente desenvolver a análise recorrendo a duas variáveis
dependentes:
• [T∆PROD] - Taxa de variação da Produtividade, correspondendo a mesma à média
das duas observações da série temporal respeitante a cada empresa:
T∆PRODi = (T∆PRODi(1999/1998) + T∆PRODi(2000/1999) )/2
em que i corresponde à identificação da empresa.
• [∆PROD] – Valor absoluto da variação da Produtividade, correspondendo o
mesmo à média das duas observações da série temporal respeitante a cada empresa:
- 128 -
∆PRODi = (∆PRODi(1999/1998) + ∆PRODi(2000/1999) )/2
em que i corresponde à identificação da empresa.
São os seguintes os valores que assumem as duas variáveis dependentes escolhidas,
para as empresas criadas e geridas pelos 8 empreendedores da amostra:
Empreendedores
T?PRODi
? PRODi
Taxa de variação da
Produtividade
Variação da Produtividade
(valores absolutos)
A
3.56
2,478
B
1.25
2,844
C
.34
2,530
D
-.09
-1,943
E
.32
8,241
F
-.33
-1,710
G
.21
4,179
H
-.40
-26,963
Tabela 31 – Variáveis dependentes – Valores assumidos pelas empresas
segundo os 2 indicadores de desempenho escolhidos
E - ESTABELECIMENTO DAS HIPÓTESES DE INVESTIGAÇÃO
Definido o objectivo da investigação, estabelecida a estratégia, caracterizada a amostra
e escolhidas as variáveis explicativas e dependentes, existem condições para expressar
as Hipóteses de Investigação, o que se faz de seguida:
• Hipótese 1 – Quanto maior é a capacidade empreendedora dos
empreendedores do conhecimento, maior é o desempenho das empresas
emergentes por aqueles criadas e geridas, em termos da taxa de variação das
respectivas produtividades.
A expressão matemática da Hipótese 1 assume a seguinte forma:
T∆PRODi = C1 + α 1CAP_INSTi + β 1CAP_PESSi + γ1CAP_TECNi +
δ 1CAP_GESTi + ε 1
• Hipótese 2 – Quanto maior é a capacidade empreendedora dos
empreendedores do conhecimento, maior é o desempenho das empresas
emergentes por aqueles criadas e geridas, em termos da variação do valor
absoluto das respectivas produtividades.
A expressão matemática da Hipótese 2 assume a seguinte forma:
- 129 -
∆PRODi =
C2 + α 2CAP_INSTi + β 2CAP_PESSi + γ2CAP_TECNi +
δ 2CAP_GESTi + ε 2
F - DISCUSSÃO DOS RISCOS DE ENVIESAMENTO DA ANÁLISE
Risco associado à constituição da amostra
A amostra utilizada na investigação corresponde ao conjunto dos empreendedores que
responderam ao questionário. Esta amostra tem duas dimensões:
• A totalidade dos respondentes, para efeitos da análise e selecção dos indicadores da
capacidade empreendedora e
• O conjunto dos respondentes que apresentaram os elementos económicofinanceiros das suas empresas, para efeitos da análise de segundo nível, ou seja, para
o teste das Hipóteses apresentadas anteriormente.
Existem vários riscos de enviesamento associados à constituição da amostra (entendida
aqui de uma forma global, referindo-se a ambas as suas dimensões):
• A amostra não contém nenhum caso de insucesso, definindo-se este como a
falência, ou a descontinuação do negócio devido à incapacidade de gerar actividade
e/ou proveitos suficientes para a sua manutenção. Esta ausência implica que
apenas se possa medir o grau de sucesso, e não a sua existência ou inexistência.
O risco de enviesamento implícito é pois devido à existência de uma regra de
selecção correlacionada com as variáveis dependentes (desempenho das empresas).
Tal poderá atenuar as estimativas dos efeitos causais, em média.
• Pela distribuição dos códigos CAE feita anteriormente, existe uma concentração em
determinados sectores de actividade, o que significa que a amostra não é
representativa do conjunto dos empreendedores do conhecimento nacionais. Aliás,
o próprio universo de onde a amostra foi retirada já sofria do mesmo tipo de
problema, embora em menor grau. Na prática, a amostra concentra-se em
empreendedores de base tecnológica, nos sectores das tecnologias de informação
(CAE 72 e 92) e ambiente (CAE 38, 51 e 74, incluindo aqui biotecnologia
especializada em ambiente).
• A selecção das observações não é aleatória. A selecção aleatória em investigações
com valores pequenos de n pode induzir enviesamentos significativos. O
questionário foi enviado para 99 empreendedores e apenas 17 respostas, ou 8
considerando as que contêm dados económico-financeiros, foram recebidas.
Algumas das respostas são incompletas, pelo que a amostra padece de falta de
consistência e de representatividade, mesmo reduzindo o âmbito da investigação
aos empreendedores de base tecnológica dos sectores em que houve respostas.
- 130 -
Risco associado à natureza das respostas
Existe o risco de as respostas a partir das quais são determinados os valores assumidos
pelas variáveis explicativas corresponderem mais à expressão de impressões, ou “wishful
thinkings”, dos empreendedores, e não à efectiva realidade das suas características. Tal
pode induzir enviesamentos devido a desvios nos valores das variáveis independentes.
Os empreendedores podem tender sistematicamente para provocar a sobrestimação,
ou a subestimação, de uma ou mais das variáveis independentes, o que poderá
provocar os seguintes efeitos na análise:
• Os efeitos de sobrestimação e subestimação poderão compensar-se mutuamente ao
nível de cada variável explicativa, e como tal não existir qualquer efeito para a
análise, mas tal cenário é altamente improvável;
• É possível que os enviesamentos causados pelas diferentes variáveis explicativas
sejam de sentidos contrários, compensando-se em termos da análise global;
• A sobrestimação em uma ou mais variáveis explicativas induzirá uma subestimação
dos respectivos efeitos e vice-versa.
Risco associado à exclusão de variáveis relevantes
Existe o risco de o processo de escolha das variáveis ter excluído variáveis importantes,
as quais podem ter influência significativa no desempenho das empresas do
conhecimento emergentes.
Desde logo, as variáveis independentes concentram-se na capacidade empreendedora
dos indivíduos, quando o Estudo Skills apresenta outros factores que igualmente
podem influenciar a efectiva capacidade de um empreendedor para criar uma empresa
de sucesso.
Lembre-se que foram afastados da análise:
• Aceleradores ou redutores da manifestação da capacidade empreendedora:
o Disponibilidade
o Envolvente sócio cultural
o Envolvente económica
• Principais motivações para a criação da empresa
Além disso, dos 28 indicadores da capacidade empreendedora constantes das
conclusões do Estudo Skills, apenas foram retidos 18 para a construção das variáveis
independentes, em virtude de um deles não apresentar uma estrutura de respostas
consentânea com o tratamento realizado e os restantes 9 terem sido afastados pela
- 131 -
realização de testes T à respectiva significância. Assim, podem ter sido deixados de
fora da análise aspectos importantes da manifestação da capacidade empreendedora.
Do lado das variáveis dependentes, a medição do desempenho das empresas do
conhecimento emergentes é efectuada através de dois indicadores associados à
Produtividade das mesmas. A discussão que levou a esta escolha foi feita
anteriormente, pelo que não se repete aqui. Teria no entanto sido interessante medir o
desempenho através de outras variáveis, mesmo que permanecendo na esfera
económico-financeira, como por exemplo indicadores associados ao quociente entre o
VAB e o valor das remunerações pagas aos Recursos Humanos (RH) das empresas, o
qual traduz o efeito multiplicador das mesmas. Este tipo de indicadores não foi
utilizado porquanto não existem os dados referentes às remunerações dos RH para
alguns dos casos da amostra.
Teria igualmente sido útil medir adicionalmente o desempenho através de uma variável
não pertencente à esfera económico-financeira. A razão para a não utilização de
qualquer variável deste tipo prende-se com a dificuldade, já discutida, da medição do
desempenho por esta via, face à constatação, feita nesta Dissertação, de que esta é
precisamente uma das motivações para a realização da presente investigação.
Risco de endogeneidade
Não se considera que exista risco de endogeneidade na presente investigação,
porquanto não parece ser razoável admitir que o desempenho das empresas do
conhecimento possa influenciar a capacidade empreendedora dos seus promotores.
Aspectos associados às inferências
• As inferências que se procuram terão de gozar de homogeneidade. Em caso de não
contraditação115 das Hipóteses, deverá existir evidência estatística de que duas
observações com o mesmo valor para as variáveis explanatórias apresentarão
valores similares para as variáveis dependentes.
• Deverá verificar-se a independência condicional, o que se admite encontrar
assegurado devido à consideração de que não existem problemas de endogeneidade,
isto é, de que não existirá interdependência entre as variáveis independentes e
dependentes.
• As Hipóteses são contraditáveis, uma vez que é possível que os efeitos previstos das
variáveis explicativas sobre as variáveis dependentes possam não ocorrer ou ser
estatisticamente significativos.
• As Hipóteses são internamente consistentes, uma vez que não se contradizem
mutuamente.
115
Utiliza-se neste contexto o termo “contraditável” como tradução do termo inglês “falsifiable”.
- 132 -
• As variáveis dependentes foram escolhidas por forma a que eventuais
enviesamentos devidos à selecção dificilmente ocorrerão e envolvendo medidas
simples e exactas.
• As variáveis escolhidas são concretas e bem definidas.
• Embora concretas, as Hipóteses expressadas são tão abrangentes quanto possível,
dentro das fronteiras da investigação.
• Existe no entanto um risco não negligenciável associado às inferências: Sendo a
unidade de observação o Empreendedor individual e encontrando-se as variáveis
dependentes associadas ao desempenho das empresas constituídas, pode acontecer
que a influência que se procura encontrar entre a Capacidade Empreendedora e o
desempenho das empresas não se concentre no indivíduo que respondeu ao
questionário. De facto, na maioria dos casos as empresas não são criadas por um
Empreendedor isolado, mas antes por uma equipa de Empreendedores. Ora pode
suceder que o Empreendedor que respondeu ao questionário não seja aquele que,
de entre os criadores da empresa, mais influenciou o respectivo desempenho. Para
obviar a este risco de enviesamento teria sido necessário obter respostas de todos os
criadores de cada empresa, e não de apenas um Empreendedor por empresa,
buscando-se para cada empresa os valores médios para as variáveis explicativas das
respectivas equipas de Empreendedores. A opção por esta via teria, no entanto,
reduzido a amostra conseguida, já de si exígua, a zero ou quase zero observações, o
que teria inviabilizado a análise.
- 133 -
CAPÍTULO 6 - APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
A - ANÁLISES EFECTUADAS
As análises efectuadas à amostra visaram a validação das hipóteses de investigação
apresentadas anteriormente:
T∆PRODi = C1 + α 1CAP_INSTi + β 1CAP_PESSi + γ1CAP_TECNi +
δ 1CAP_GESTi + ε 1
e
∆PRODi =
C2 + α 2CAP_INSTi + β 2CAP_PESSi + γ2CAP_TECNi +
δ 2CAP_GESTi + ε 2
Efectuaram-se regressões lineares com recurso ao SPSS 9.0,
B - APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Primeira regressão – Hipótese 1 / 8 observações
A primeira regressão linear visou o teste da Hipótese 1 (variável dependente: Taxa de
variação da Produtividade), para o conjunto dos 8 empreendedores que apresentaram
as contas das suas empresas.
O resultado da regressão foi o seguinte:
- 134 -
b
Variables Entered/Removed
Model
1
Variables
Entered
Capacidad
es de
gestão,
Capacidad
es
instrument
ais,
Capacidad
es
técnicas,
Capacidad
es
a
pessoais
Variables
Removed
Method
.
Enter
a. All requested variables entered.
b. Dependent Variable: Taxa de variação da Produtividade
Tabela 32 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 8 observações –
Variáveis
Model Summaryb
Model
1
Adjusted
R Square
-.051
R
R Square
.741a
.549
Std. Error
of the
Estimate
1.3304
a. Predictors: (Constant), Capacidades de gestão,
Capacidades instrumentais, Capacidades técnicas,
Capacidades pessoais
b. Dependent Variable: Taxa de variação da Produtividade
ANOVAb
Model
1
Regression
Residual
Total
Sum of
Squares
6.476
5.310
11.786
df
4
3
7
Mean
Square
1.619
1.770
F
.915
Sig.
.552a
a. Predictors: (Constant), Capacidades de gestão, Capacidades instrumentais,
Capacidades técnicas, Capacidades pessoais
b. Dependent Variable: Taxa de variação da Produtividade
Tabela 33 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 8 observações –
Anova
- 135 -
a
Coefficients
Unstandardized
Coefficients
Model
1
(Constant)
Capacidades
instrumentais
Capacidades pessoais
Capacidades técnicas
Capacidades de gestão
B
2.385
Std. Error
3.131
-1.082
1.495
6.080E-02
1.343
-.971
.943
.727
1.046
Standardi
zed
Coefficien
ts
Beta
.762
Sig.
.502
-.724
.521
.029
.045
.967
-.612
.461
-1.336
.901
.274
.434
-.364
t
a. Dependent Variable: Taxa de variação da Produtividade
Tabela 34 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 8 observações –
Coeficientes
Pela análise dos resultados constata-se que a Hipótese 1 não pode ser validada, dado o
nível da significância verificado (0.552), o qual é claramente superior a 0.05.
Segunda regressão – Hipótese 2 / 8 observações
A segunda regressão linear visou o teste da Hipótese 2 (variável dependente: Valor
absoluto da variação da Produtividade), para o conjunto dos 8 empreendedores que
apresentaram as contas das suas empresas.
O resultado da regressão foi o seguinte:
b
Variables Entered/Removed
Variables
Variables
Model
Entered
Removed
Method
1
Capacidad
es de
gestão,
Capacidad
es
instrument
ais,
. Enter
Capacidad
es
técnicas,
Capacidad
es
a
pessoais
a. All requested variables entered.
b. Dependent Variable: Variação da
Produtividade (valor absoluto)
Tabela 35 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 8 observações –
Variáveis
- 136 -
Model Summaryb
Model
1
R
.947a
Adjusted
R Square
.760
R Square
.897
Std. Error
of the
Estimate
5319.8877
a. Predictors: (Constant), Capacidades de gestão,
Capacidades instrumentais, Capacidades
técnicas, Capacidades pessoais
b. Dependent Variable: Variação da Produtividade
(valor absoluto)
Tabela 36 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 8 observações –
Sumário do modelo
ANOVAb
Model
1
Regression
Residual
Total
Sum of
Squares
7,4E+08
8,5E+07
8,3E+08
Mean
Square
1,9E+08
2,8E+07
df
4
3
7
F
6.549
Sig.
.077a
a. Predictors: (Constant), Capacidades de gestão, Capacidades instrumentais,
Capacidades técnicas, Capacidades pessoais
b. Dependent Variable: Variação da Produtividade (valor absoluto)
Tabela 37 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 8 observações –
Anova
a
Coefficients
Unstandardized
Coefficients
Model
1
(Constant)
Capacidades
instrumentais
Capacidades pessoais
Capacidades técnicas
Capacidades de gestão
B
51137.832
Std. Error
12519.150
Standardi
zed
Coefficien
ts
Beta
t
4.085
Sig.
.027
-21362,6
5977.945
-.858
-3.574
.037
16993.291
5368.280
.965
3.165
.051
-13833,0
-9596.797
2906.812
4184.042
-1.040
-.560
-4.759
-2.294
.018
.106
a. Dependent Variable: Variação da Produtividade (valor absoluto)
Tabela 38 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 /8 observações –
Coeficientes
Pela análise dos resultados constata-se que a Hipótese 2 não pode igualmente ser
validada, dado o nível da significância verificado (0.077), o qual é no entanto apenas
ligeiramente superior a 0.05.
Este facto levou à realização de uma segunda ronda de regressões lineares, utilizando
como amostra apenas as sete primeiras observações da amostra utilizada nas duas
primeiras regressões.
A decisão de realização de novas regressões com o afastamento da amostra H justificase pelo facto, amplamente demonstrado aquando da caracterização da amostra, de a
- 137 -
empresa H ser claramente diferente das 7 restantes. Resumidamente, são as seguintes
as grandes diferenças que sustentam a decisão de afastamento:
• A empresa H possui uma dimensão, medida pelo VAB médio da série temporal
considerada, de 1.7 mEUR, contra uma média de 0.1 mEUR das sete restantes,
sendo que a maior empresa destas sete ostenta um VAB médio de 0.4 mEUR.
• Em termos de Recursos Humanos, igualmente existe uma diferença substancial: A
empresa H apresenta um efectivo médio de 39 RH contra uma média das restantes
sete empresas de apenas 8 e uma média de 15 da maior empresa de entre estas sete.
• Encontrando-se as variáveis dependentes escolhidas associadas à variação da
Produtividade das empresas, a empresa H, não sendo a única a apresentar variações
negativas da Produtividade, evidencia um comportamento claramente distinto das
restantes sete, com variações negativas muito significativas, quer em termos de valor
quer em termos de taxa, ao mesmo tempo que parte, no primeiro ponto da série
temporal considerada, de um valor da Produtividade muito díspar em relação às
restantes.
Uma vez que todas estas diferenças não podem ser atribuíveis apenas à idade da
empresa (a empresa encontra-se no conjunto das mais antigas, mas não é sequer a mais
antiga) ou ao seu sector de actividade, existem bons motivos para acreditar que o
comportamento económico da empresa H, no que respeita aos indicadores associados
à sua Produtividade, poderá estar associado a factores muito menos relacionados com
a capacidade empreendedora dos seus promotores iniciais.
Na verdade, a dimensão da empresa e o número dos seus efectivos indiciam
claramente a existência de soluções organizacionais já muito afastadas daquelas em que
a capacidade empreendedora dos seus promotores originais poderia ter uma influência
predominante. Estaremos pois, possivelmente, perante um caso em que a aplicação
das metodologias existentes para a avaliação dos activos intangíveis, designadamente as
de tipo “Scorecard”, seria já possível e conduziria a resultados concretos válidos.
Acresce ainda que a empresa H sofreu, durante o período em análise, uma variação
muito substancial, para mais, do número dos seus sócios activos, o que poderá indiciar
igualmente a ocorrência de alterações estruturais muito significativas.
Entende-se pois ser razoável a realização de novas regressões para o conjunto das
restantes sete empresas, isto é, das empresas A a G. Esta alteração na amostra conduz
a nova distribuição geográfica das observações, que seguidamente se evidencia:
- 138 -
29%
Grande Lisboa
Grande Porto
57%
Minho
14%
Figura 59 – Distribuição geográfica dos empreendedores A a G
Terceira regressão – Hipótese 1 / 7 observações
A terceira regressão linear visou o teste da Hipótese 1 (variável dependente: Taxa de
variação da Produtividade), para o conjunto dos empreendedores A a G.
O resultado da regressão foi o seguinte:
Variables Entered/Removedb
Model
1
Variables
Entered
Capacidad
es de
gestão,
Capacidad
es
técnicas,
Capacidad
es
instrument
ais,
Capacidad
es
a
pessoais
Variables
Removed
Method
.
Enter
a. All requested variables entered.
b. Dependent Variable: Taxa de variação da Produtividade
Tabela 39 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 7 observações –
Variáveis
- 139 -
Model Summaryb
Model
1
R
.718a
Adjusted
R Square
-.452
R Square
.516
Std. Error
of the
Estimate
1.6031
a. Predictors: (Constant), Capacidades de gestão,
Capacidades técnicas, Capacidades instrumentais,
Capacidades pessoais
b. Dependent Variable: Taxa de variação da Produtividade
Tabela 40 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 7 observações –
Sumário do modelo
ANOVAb
Model
1
Regression
Residual
Total
Sum of
Squares
5.480
5.140
10.619
Mean
Square
1.370
2.570
df
4
2
6
F
.533
Sig.
.734a
a. Predictors: (Constant), Capacidades de gestão, Capacidades técnicas,
Capacidades instrumentais, Capacidades pessoais
b. Dependent Variable: Taxa de variação da Produtividade
Tabela 41 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 7 observações –
Anova
a
Coefficients
Unstandardized
Coefficients
Model
1
(Constant)
Capacidades
instrumentais
Capacidades pessoais
B
3.949
Std. Error
7.148
-1.792
3.292
.471
2.270
Capacidades técnicas
Capacidades de gestão
-1.319
.684
1.608
1.613
Standardi
zed
Coefficien
ts
Beta
t
.552
Sig.
.636
-.564
-.544
.641
.230
.208
.855
-.761
.345
-.820
.424
.498
.713
a. Dependent Variable: Taxa de variação da Produtividade
Tabela 42 – Regressão linear – Teste da Hipótese 1 / 7 observações –
Coeficientes
Pela análise dos resultados constata-se que a Hipótese 1 não pode de novo ser validada,
dado o nível da significância verificado (0.734), o qual é claramente superior a 0.05,
sendo mesmo superior ao verificado na regressão efectuada com 8 observações.
Quarta regressão – Hipótese 2 / 7 observações
A quarta regressão linear visou o teste da Hipótese 2 (variável dependente: Valor
absoluto da variação da Produtividade), para o conjunto dos empreendedores A a G.
O resultado da regressão foi o seguinte:
- 140 -
b
Variables Entered/Removed
Variables
Variables
Model
Entered
Removed
Method
1
Capacidad
es de
gestão,
Capacidad
es
técnicas,
Capacidad
. Enter
es
instrument
ais,
Capacidad
es
a
pessoais
a. All requested variables entered.
b. Dependent Variable: Variação da
Produtividade (valor absoluto)
Tabela 43 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 7 observações –
Variáveis
Model Summaryb
Model
1
R
.992a
R Square
.984
Adjusted
R Square
.953
Std. Error
of the
Estimate
755.2813
a. Predictors: (Constant), Capacidades de gestão,
Capacidades técnicas, Capacidades
instrumentais, Capacidades pessoais
b. Dependent Variable: Variação da Produtividade
(valor absoluto)
Tabela 44 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 7 observações –
Sumário do modelo
ANOVAb
Model
1
Regression
Residual
Total
Sum of
Squares
7,2E+07
1140900
7,3E+07
df
4
2
6
Mean
Square
1,8E+07
570449,8
F
31.602
Sig.
.031a
a. Predictors: (Constant), Capacidades de gestão, Capacidades técnicas,
Capacidades instrumentais, Capacidades pessoais
b. Dependent Variable: Variação da Produtividade (valor absoluto)
Tabela 45 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 7 observações –
Anova
- 141 -
a
Coefficients
Standardi
zed
Coefficien
ts
Unstandardized
Coefficients
Model
1
(Constant)
Capacidades
instrumentais
Capacidades pessoais
Capacidades técnicas
Capacidades de gestão
B
16477.551
Std. Error
3367.573
-5631.980
1550.979
7898.658
1069.660
-6131.926
-3856.397
757.763
759.787
Beta
t
4.893
Sig.
.039
-3.631
.068
1.470
7.384
.018
-1.348
-.741
-8.092
-5.076
.015
.037
-.675
a. Dependent Variable: Variação da Produtividade (valor absoluto)
Tabela 46 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 /7 observações –
Coeficientes
Pela análise dos resultados constata-se que a Hipótese 2 é agora sustentada pela
evidência empírica, dado o nível da significância verificado (0.031), o qual é inferior a
0.05.
Face à validação empírica da Hipótese 2, a qual sustenta que o desempenho das
empresas do conhecimento emergentes, quando medido pelo valor absoluto da
variação da respectiva Produtividade, é função da capacidade empreendedora dos
respectivos empreendedores, considera-se conveniente visualizar em maior detalhe a
relação existente, o que se faz de seguida de forma gráfica:
Variação da Produtividade (valor absoluto)
Scatterplot
Dependent Variable: Variação da Produtividade (valor absoluto)
10000
E
8000
6000
G
4000
CB
A
2000
0
F
D
-2000
-4000
-6000
-4000
-2000
0
2000
4000
6000
Regression Adjusted (Press) Predicted Value
Figura 60 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 7 observações –
Posicionamento face aos valores esperados
Pela visualização da Figura 60 pode verificar-se que as observações se colocam na
proximidade dos valores previstos, sendo as observações mais próximas dos valores
dados pela regressão os das empresas A e G e o mais afastado o da empresa E. Parece
ainda evidente que a regressão efectuada tende a subestimar os valores da variação da
Produtividade.
- 142 -
Os gráficos da Figura 61 apresentam as linhas estimativas correspondentes à relação
entre cada uma das variáveis independentes e os valores observados para a variável
dependente.
Variação da Produtividade (valor absoluto)
Variação da Produtividade (valor absoluto)
10000
10000
8000
8000
6000
6000
4000
4000
2000
2000
0
0
-2000
Observed
-4000
1,2
Linear
1,4
1,6
1,8
2,0
2,2
2,4
2,6
2,8
-2000
Capacidades instrumentais
Variação da Produtividade (valor absoluto)
8000
8000
6000
6000
4000
4000
2000
2000
0
0
-2000
-2000
Observed
Linear
,5
1,0
1,0
1,5
2,0
2,5
Variação da Produtividade (valor absoluto)
10000
0,0
Linear
,5
Capacidades pessoais
10000
-4000
-,5
Observed
-4000
0,0
1,5
2,0
2,5
Observed
-4000
0,0
Capacidades técnicas
Linear
,5
1,0
1,5
2,0
2,5
Capacidades de gestão
Figura 61 – Regressão linear – Teste da Hipótese 2 / 7 observações –
Linhas correspondentes a cada uma das variáveis independentes
Os gráficos da Figura 61 mostram a existência de uma relação bastante próxima entre
as aptidões instrumentais dos empreendedores e o desempenho das suas empresas do
conhecimento emergentes. Tal relação, embora menos consistente, e apresentando
mesmo uma perturbação, abaixo do índice 1.8 das aptidões instrumentais, sugere que a
capacidade para “fazer fazer”116, ou para “fazer acontecer”, é bastante determinante
para o sucesso das empresas na sua fase inicial de existência.
A variação da produtividade parece igualmente evidenciar uma relação positiva com as
capacidades pessoais, embora a variância seja maior do que no caso das capacidades
instrumentais.
As capacidades técnicas dos empreendedores do conhecimento parecem ter uma
influência negativa no desempenho das suas empresas durante a fase emergente, o que
não deixa de ser um resultado surpreendente.
O desempenho das empresas aparenta ainda ser relativamente indiferente às
capacidades de gestão dos empreendedores, o que também é um resultado inesperado,
116
Mateus (2000).
- 143 -
sobretudo se se atentar a que significativa percentagem do esforço formativo dirigido a
empreendedores se concentra precisamente no desenvolvimento deste tipo de
capacidades.
A relação entre as aptidões instrumentais e o desempenho das empresas do
conhecimento na sua fase emergente é consistente com Lazear (2002), que mostra que
a experiência profissional anterior é um dos mais importantes factores explicativos da
propensão para iniciar um novo negócio.
Por outro lado, a relação entre as aptidões pessoais e o desempenho das empresas do
conhecimento na sua fase emergente é ainda consistente com Lazear (2002), que
afirma que os empreendedores são “pau para toda a obra”, 117 apresentando evidência
empírica de que os estudantes com classificações mais uniformes tendem mais a
tornar-se empreendedores do que aqueles que se tornam muito especializados, os quais
tenderão mais a vir a trabalhar por conta de outrem.
O trabalho de Lazear (2002) vem assim, igualmente, dar alguma sustentação à aparente
influência negativa das competências técnicas, e à aparente indiferença relativamente às
capacidades de gestão, no desempenho das empresas do conhecimento emergentes.
117
“Jacks-of-all-trades”, no original em inglês [ Lazear (2002)].
- 144 -
CAPÍTULO 7 - CONCLUSÃO E IMPLICAÇ ÕES
A - CONCLUSÃO
Apresentação da principal conclusão
A análise empírica apresentada anteriormente sofre de grandes insuficiências, a
principal das quais se encontra associada à muito reduzida dimensão da amostra
utilizada para o efeito.
As conclusões que se procuram expressar a seguir devem portanto ser vistas no quadro
de um processo de investigação não terminado, assumindo assim características de
conclusões preliminares, cujo principal valor será o de apontar caminhos para a
investigação futura.
Feita esta ressalva inicial, apresenta-se de seguida a principal conclusão que resulta do
trabalho de investigação desenvolvido até ao momento:
A evidência empírica sustenta a existência de uma relação entre a capacidade
empreendedora dos indivíduos e o desempenho, na fase emergente, das empresas do
conhecimento por aqueles criadas, sendo este medido pela variação absoluta da
produtividade das mesmas.
Discussão do significado da conclusão
O facto de as regressões efectuadas em segundo lugar (com apenas 7 observações, por
exclusão da empresa H) terem conduzido a resultados não condizentes (embora não
obrigatoriamente contraditórios) leva-nos a olhar melhor para as diferenças entre as
duas Hipóteses apresentadas ou, o que é o mesmo, procurar verificar até que ponto as
duas variáveis dependentes escolhidas traduzem realidades diferentes e qual delas mais
se aproxima daquilo que se pretendia medir: A geração de Activos Intangíveis nas
empresas do conhecimento emergentes.
Recorda-se que as duas variáveis dependentes utilizadas são:
• [T∆PROD] - Taxa de variação da Produtividade, correspondendo a mesma à média
das duas observações da série temporal respeitante a cada empresa:
T∆PRODi = (T∆PRODi(1999/1998) + T∆PRODi(2000/1999) )/2
em que i corresponde à identificação da empresa.
• [∆PROD] – Valor absoluto da variação da Produtividade, correspondendo o
mesmo à média das duas observações da série temporal respeitante a cada empresa:
- 145 -
∆PRODi = (∆PRODi(1999/1998) + ∆PRODi(2000/1999) )/2
em que i corresponde à identificação da empresa.
A questão que importa assim discutir é: O que mede melhor o desempenho e a
geração de Activos Intangíveis nas empresas do conhecimento emergentes: A taxa de
variação da produtividade ou o valor dessa mesma variação?
Taxas médias de variação da Produtividade
- sem empresa H
Variações médias da Produtividade - sem empresa H
10,000
400%
350%
6,000
250%
EUR/RH
Taxa de variação
E
8,000
A
300%
200%
150%
B
G
4,000
B
A
2,000
C
100%
50%
C
-50% 0
D
2
0
E
0%
4
-100%
G
6 F
0
8
-2,000
2
4
6
D
8
F
-4,000
Empresas
Empresas
Figura 62 – Taxas de variação e variações médias da Produtividade, sem
a empresa H
Pela Figura 62 pode verificar-se que a amostra utilizada apresenta uma distribuição
mais uniforme segundo a variável “Variação da Produtividade” do que segundo a
variável “Taxa de Variação da Produtividade”. Para que esta variável apresentasse uma
distribuição mais uniforme seria necessário considerar a empresa A como “outlier”. No
entanto, da análise feita anteriormente às empresas cujos dados foram utilizados no
trabalho empírico, não resultam elementos que possam sustentar este tipo de
consideração.
Na verdade, será de alguma forma razoável aceitar que as taxas de variação da
produtividade tenderão a decrescer com o crescimento da produtividade. É muito
mais fácil obter uma taxa de variação de 100% quando a produtividade é, por exemplo,
de 2.000 EUR/RH do que quando esta é de 8.000 EUR/RH.
A observação cruzada das duas variáveis, em termos dos seus valores médios, é
apresentada na Figura 63. Para melhor visualização utilizaram-se escalas logarítmicas
em ambas as variáveis, o que obrigou a excluir do gráfico as situações em que surgiam
valores negativos.
Nota-se que as observações efectuadas, sendo embora em número diminuto (apenas 5)
confirmam a afirmação feita anteriormente: As empresas com maiores níveis de
produtividade média encontram-se entre aquelas em que este indicador menos cresceu
em termos percentuais. Por outro lado, as maiores taxas de crescimento observam-se
em empresas com níveis de produtividade média mais baixos (embora exista também
um caso em que ambos os valores são baixos).
- 146 -
PRODUTIVIDADE e Var. PRODUTIVIDADE - Médias
- sem empresa H
Var. Méd. Produtividade
1000%
100%
10%
1,000
10,000
Produtividade Média (EUR/RH)
Figura 63 – Comparação entre variações absolutas e taxas de variação da
Produtividade, sem a empresa H (escalas logarítmicas; As empresas com
valores negativos não são apresentadas)
Será então legítimo admitir que a medição do desempenho das empresas do
conhecimento emergentes se fará de forma mais eficaz através da observação das
respectivas variações de produtividade do que pelas taxas em que esta varia.
Sendo assim, fica então encontrada uma possível justificação para os diferentes
resultados encontrados nas duas regressões efectuadas. Será, no entanto, necessário
efectuar testes semelhantes com amostras mais vastas para sustentar de forma mais
consistente esta suposição.
Aprofundamento da conclusão
Das quatro grandes variáveis da capacidade empreendedora, que constituem as
variáveis independentes da análise empírica, não é possível confirmar a influência das
capacidades instrumentais no desempenho das empresas, em virtude de o significado
estatístico da regressão efectuada não ser, neste caso, superior a 5%.
Das restantes três variáveis independentes, Capacidades Pessoais, Capacidades
Técnicas e Capacidades de Gestão, a evidência empírica sugere que são as Capacidades
Pessoais dos empreendedores que contribuem mais decisivamente para o desempenho
das suas empresas. No caso das duas restantes variáveis a variância é muito grande,
sendo que é sugerida uma relação de sentido inverso no caso das Capacidades Técnicas
e uma quase indiferença no caso das capacidades de Gestão.
- 147 -
Activos
humanos
Aptidões
Pessoais
Comportamentos
Propriedade
intelectual
Activos de
mercado
Activos de
infrastrutura
Figura 64 – Relação entre as capacidades pessoais e os activos intangíveis
das empresas emergentes
De acordo com a análise tentativa feita anteriormente, e conforme é colocado em
evidência na Figura 64, as capacidades Pessoais contribuirão para a geração de todos os
tipos de activos intangíveis nas empresas do conhecimento. Convém notar que, no
Modelo apresentado na Figura 33, onde se procurou resumir a – Relação entre as
dimensões de análise da capacidade empreendedora e os activos intangíveis das
empresas emergentes, nenhuma outra grande variável da Capacidade Empreendedora
contribui para a geração dos quatro tipos de activos intangíveis nas empresas.
Face às análises teórica e tentativa feitas anteriormente, a constatação resultante da
análise empírica118 é pois consistente com a racionalização efectuada, uma vez que só as
capacidades Pessoais (e falamos aqui de questões sobretudo do foro comportamental)
apresentam total abrangência na influência que têm na geração dos activos intangíveis
das empresas.
Confirma-se assim a validade das expressões comummente utilizadas por muitos
investidores de risco, que afirmam que “a equipa é o mais importante”, ou que “é
preferível um mau projecto com uma boa equipa a um bom projecto com uma má
equipa”, verificando-se que este sentimento dos investidores, resultando do seu
conhecimento empírico, assenta afinal numa realidade passível de validação científica.
Importa ter-se presente que as notações dadas aos empreendedores segundo as quatro
grandes variáveis da capacidade empreendedora sofrem, elas mesmas, de duas
importantes limitações: Uma decorre do facto de não resultarem de um processo
completo de avaliação da capacidade empreendedora, mas apenas da resposta a um
inquérito de auto-avaliação; a outra resulta de não terem sido utilizados todos os
indicadores que constituem o todo que é a capacidade empreendedora.
Se a primeira limitação se encontra directamente associada à metodologia seguida nesta
investigação, sendo portanto um factor característico da mesma, a segunda merece que,
à luz dos resultados obtidos, se faça nova leitura, mais detalhados, dos principais
factores que estarão na origem dos activos intangíveis das empresas do conhecimento.
118
Não sendo no entanto demais ressalvar a sua insuficiência.
- 148 -
Relembre-se então que as aptidões pessoais são compostas pelos seguintes indicadores:
Variáveis
Capacidades pessoais
Dimensões
Comportamental
Indicadores
7. Perseverança
8. Capacidade para arriscar
9. Espírito de iniciativa
10. Potencial criativo
11. Capacidade para inovar
12. Capacidade de partilha
13. Auto-motivação
14. Capacidade para trabalhar
Tabela 47 – Indicadores das aptidões pessoais
Destes 8 indicadores, dois (capacidade para arriscar e capacidade de partilha) foram
retirados da análise em resultado da realização dos testes T à significância das respostas
recebidas, tendo portanto a classificação dos empreendedores sido efectuada apenas
com base nos seis restantes.
Recordando de novo a análise tentativa feita à génese dos activos intangíveis com base
na capacidade empreendedora, e tendo presente em particular a Figura 30, a qual
procura mostrar a relação entre os indicadores das capacidades pessoais dos
empreendedores e os activos intangíveis das empresas do conhecimento emergentes, a
subtracção dos dois indicadores das capacidades pessoais acima indicados traz como
consequência uma diminuição da influência na génese dos activos de mercado e de
infrastrutura.
Teremos pois, como principal conclusão da análise empírica efectuada, que são as
capacidades pessoais dos empreendedores aquelas que mais determinam o sucesso das
empresas do conhecimento na sua fase emergente.
Poderá complementarmente inferir-se que os activos intangíveis que sustentarão mais
fortemente o crescimento do valor das empresas do conhecimento emergente se
distribuem pelos quatro tipos taxonómicos, com algum ênfase nos activos humanos e
na propriedade intelectual.
Refira-se, a propósito desta inferência, que a mesma é confirmada por Minniti (2000),
que demonstra existir evidência empírica de que o empreendedorismo tem uma
natureza auto-sustentadora, devido a externalidades de rede não pecuniárias. Se se
atentar na análise tentativa feita anteriormente119 acerca do comportamento económico
de cada um dos tipos de activos intangíveis, verificar-se-á que são precisamente
relativamente aos activos humanos que mais se fazem sentir os efeitos de rede,
seguindo-se-lhes a propriedade intelectual. Ou seja, as externalidades de rede
associadas ao fenómeno do empreendedorismo transferem-se para as organizações, na
sua fase emergente, precisamente sobretudo através dos dois tipos de activos
intangíveis acima identificados.
119
Ver a Figura 17 da pág. 39, onde se evidenciam os comportamentos dos diferentes tipos de activos intangíveis,
segundo os Efeitos de Rede.
- 149 -
valor
Tendo por base que o valor das empresas do conhecimento se encontra associado ao
seu desempenho e admitindo que, em termos médios e globais, o mesmo valor, após a
fase emergente das empresas, se encontra regularmente distribuído pelas quatro
categorias taxonómicas dos activos intangíveis, será possível traçar um percurso
tentativo para a geração dos activos intangíveis a partir da capacidade empreendedora
dos promotores originais das empresas, como seguidamente se procura mostrar, de
forma simplificada:
Criação de
Perspectiva
sistémica
Act.
Act.infrastrutura
infrastrutura
Influência
reduzida
Eventual
influência
negativa?
Act.
Act.de
demercado
mercado
Resultados
inconclusivos
Act.
Act.infrastrutura
infrastrutura
Act.
Act.de
demercado
mercado
Act.
Act.humanos
humanos
Cap.
Cap.dedegestão
gestão
Cap.
Cap.instrumentais
instrumentais
Cap.
Cap.técnicas
técnicas
Act.
Act.humanos
humanos
Cap.
Cap.pessoais
pessoais
Prop
Prop.
. intelectual
Prop.
intelectual
Prop
Prop.
. intelectual
Prop.
intelectual
Prop
Prop.
. intelectual
Prop.
intelectual
tempo
Criação
Fase emergente
Fase pós-emergente
Figura 65 – O processo de geração dos activos intangíveis nas empresas
do conhecimento
B - IMPLICAÇÕES
A conclusão de que existe evidência empírica sustentando a existência uma relação
causal entre a capacidade empreendedora dos indivíduos e o desempenho das
empresas do conhecimento por aqueles criadas, na sua fase emergente, e de que são
sobretudo as capacidades pessoais que mais contribuem para tal, e a inferência que, em
conjugação com a análise teórica e tentativa efectuada, daqui se retira em termos da
geração dos activos intangíveis nas empresas do conhecimento sugere um conjunto de
implicações:
• É nos indivíduos que se centra a capacidade para gerar valor nas sociedades e para
renovar e regenerar os seus tecidos económicos. Tal implica uma forte aposta na
educação e na formação, não só em termos formais mas igualmente no domínio do
desenvolvimento de capacidades pessoais e sociais;
- 150 -
• A implementação de políticas científico-tecnológicas, para dar verdadeiros frutos ao
nível da criação de um tecido empresarial de base de conhecimento competitivo,
deve ser acompanhada de medidas de promoção e dinamização do espírito
empreendedor, uma vez que parece ser ao nível das capacidades pessoais, isto é, dos
aspectos comportamentais, que se encontra a principal génese da criação de valor
nas empresas do conhecimento;
• Sendo os aspectos comportamentais relevantes para a geração de valor nas
empresas do conhecimento emergentes, todas as questões de cultura da sociedade
em geral assumem importância acrescida no quadro de políticas de
desenvolvimento económico e de competitividade. A atestar tal facto está a
referência feita por Tavares (2000) sobre a questão da confiança,120 sendo clara a
relação existente entre esta e o desenvolvimento sócio-económico das nações;
• A integração da experiência profissional nos processos formativos, designadamente
nos de cariz académico, poderá constituir um elemento importante para potenciar a
emergência de uma maior propensão empreendedora, já que parece existir uma
correlação positiva neste domínio, como resulta da análise empírica efectuada e do
atestado por Lazear (2002).
• As práticas formativas dirigidas aos empreendedores e destinadas a fomentar o
empreendedorismo deverão caminhar para a diferenciação entre os vários estádios
dos projectos de criação e desenvolvimento das empresas, assentando numa
primeira fase nos aspectos comportamentais e, apenas mais tarde, em temas
instrumentais e de gestão, acompanhando as transformações, em termos da
estrutura de activos intangíveis, que se operam nas organizações à medida que estas
se vão desenvolvendo;
• O fomento do “networking” e de todo o tipo de práticas de cooperação,
contribuindo para combater aspectos culturais demasiado individualistas, poderá
contribuir para dinamizar o empreendedorismo;
• Manifestando-se o espírito empreendedor em todos os aspectos da vida social e
económica, desde os próprios indivíduos às grandes organizações, a aposta em
processos e sistemas de valorização do indivíduo e da sua capacidade de
empreender e inovar assumirá relevância para o desenvolvimento das sociedades;
• O “clustering” parece surgir associado ao fenómeno do empreendedorismo, através
da emergência de externalidades de rede, pelo que a dinamização de “clusters”
empreendedores, designadamente em torno de Parques de Ciência e Tecnologia e
de comunidades académicas, poderá contribuir para o sucesso de políticas
direccionadas para a dinamização do empreendedorismo;
• As metodologias existentes no mercado para avaliação dos activos intangíveis de
empresas do conhecimento não são, na maioria dos casos, aplicáveis a empresas e
120
“Trust”, em inglês.
- 151 -
organizações na sua fase emergente, apenas tendo aplicabilidade quando os aspectos
organizacionais e sistémicos ganham relevância. O desenho de metodologias
específicas para a avaliação das empresas nesta fase específica do seu
desenvolvimento deve assentar na base de partida das mesmas – os indivíduos – e
na forma como estes conseguem transferir para as organizações, e nestas estruturar,
as suas próprias capacidades pessoais.
As implicações acima referenciadas permitem, complementarmente, listar um conjunto
de novas implicações, mas agora na perspectiva da forma como se desenham as novas
empresas do conhecimento e dos modelos de gestão e de negócio que, à luz do que
atrás fica dito, poderão ajudar a maximizar o seu potencial de sucesso:
• A elaboração do plano de negócios de uma empresa intensiva em conhecimento
deverá, para ser mais credível, dar mais ênfase às capacidades da empresa para,
sustentada nos seus factores competitivos específicos, gerar valor num contexto de
mudança do que, como ocorre classicamente num plano de negócios de uma
empresa industrial, à antecipação “determinística” dos seus primeiros anos de
actividade. O facto de o sucesso das empresas do conhecimento emergentes poder
depender, antes de mais, das competências pessoais/comportamentais dos seus
empreendedores faz com que a forma como estes são capazes de as utilizar para
gerar, e aumentar, os activos das suas empresas seja um elemento fundamental para
avaliar o potencial de sucesso do negócio em perspectiva.
• Na sua fase conceptual, a empresa do conhecimento é constituída pelos seus
promotores individuais. Na sua fase nascente121, poderão juntar-se aos promotores
individuais alguns elementos adicionais (técnicos, gestores, administrativos ou
outros), tidos como necessários ao desenvolvimento do projecto dentro dos
parâmetros que, em termos do seu desenho, forem tidos como indispensáveis face
às necessidades detectadas. Será importante que, desde o início, se estabeleçam
modelos de gestão que incorporem os factores mais importantes para o
desenvolvimento dos activos humanos das empresas, como sejam a valorização dos
indivíduos, a cooperação e o “networking”, a transparência de processos, a coresponsabilização, a partilha de informação e a confiança. A aposta na valorização
destes factores conduzirá a que os indivíduos se envolvam mais no processo de
construção da nova empresa e transfiram para esta, mais fácil e activamente, os seus
próprios factores geradores de valor. Trata-se assim essencialmente de gerar no
processo de construção da empresa um mecanismo de “feedback” positivo capaz
de, ele mesmo, ser um elemento indutor de valor para a organização emergente.
• Estando a cooperação, o “networking” e a “clusterização” associados ao fenómeno
do empreendedorismo, os modelos de negócio das empresas do conhecimento
deverão ter estes elementos em conta e incorporá-los como elementos
valorizadores. Neste sentido, as próprias avaliação de uma empresa do
conhecimento e da sua gestão, sobretudo na sua fase emergente, deverá ter estes
aspectos presentes e, do mesmo modo, o aconselhamento a empreendedores
121
Entendendo-se aqui “fase nascente” de uma forma lata, isto é, abrangendo todo o processo de criação da empresa
e do arranque da sua actividade.
- 152 -
deverá levá-los a compreender como devem lidar com necessidades contraditórias,
como sejam a confidencialidade e o “segredo do negócio”, bem como a protecção
da propriedade intelectual, por um lado, e a partilha de informação, o
estabelecimento de redes de cooperação, o “networking” e a formação de redes de
competências, capacitando-os a fazer os necessários “trade-off” e a encontrar as
formas de “co-opetition” que melhor servirão os interesses estratégicos do negócio.
• Face aos resultados da investigação efectuada, será possível sugerir que, na sua fase
emergente, e no caso de empresas com mais de dois empreendedores, um modelo
de negócio de uma empresa do conhecimento poderá ter mais potencial de sucesso
se assentar numa estrutura matricial do que numa estrutura departamental típica.
Assim, a definição das competências e capacidades dos indivíduos promotores do
negócio, sustentada por exemplo numa avaliação séria das respectivas capacidades
empreendedoras, poderá servir de base à definição das áreas de intervenção de cada
indivíduo, na base de um processo de gestão e decisão cooperativo e incorporando
os elementos valorizadores dos activos humanos já atrás mencionados. Existem,
naturalmente, limitações à implementação deste tipo de modelos de gestão, as quais
poderão ser igualmente objecto de análise na fase de avaliação da capacidade
empreendedora e, eventualmente, de aperfeiçoamento em sede de
acompanhamento tutorial ou de processo formativo específico.
• Os modelos de negócio das empresas do conhecimento emergente deverão reflectir
os tipos de intangíveis que, conforme os sectores de actividade e os domínios
tecnológicos/do conhecimento mais relevantes em termos competitivos, mais
relevantes sejam para garantir o sucesso do negócio. Esta necessidade de
implementar modelos de negócio em função da natureza deste é uma verdade
comummente reconhecida. Aquilo que decorre da investigação agora levado a cabo
é que, estando a geração dos activos intangíveis das empresas do conhecimento
emergentes intimamente associadas à capacidade empreendedora dos seus
promotores iniciais, é possível recuar um passo para montante no processo
empreendedor, no sentido de fazer reflectir nos Planos de Negócio, e nos modelos
de negócio a implementar, as características dos empreendedores e, em particular,
aquelas que mais influenciarão a geração dos activos intangíveis críticos para a
empresa em criação.
- 153 -
CAPÍTULO 8 - INVESTIGAÇÃO FUTURA
A - EM VIRTUDE DAS LIMITAÇÕES DA PRESENTE INVESTIGAÇÃO
A investigação levada ao efeito até ao momento, e relatada nesta dissertação, sofre de
um conjunto de insuficiências, as quais foram identificadas e discutidas ao longo do
documento.
Em consequência, sugerem-se em seguida as linhas de investigação futura que poderão
colmatar os pontos fracos verificados, conduzindo a uma consolidação dos resultados
até agora obtidos, seja no sentido da sua confirmação seja no da sua contestação ou
reorientação:
• Face à principal limitação da análise empírica efectuada, que se prende com a
reduzida dimensão da amostra deverá ser efectuada a compensação desta limitação
no futuro através da obtenção de uma amostra mais significativa ou, na falta de
condições para tal, na realização do estudo de casos, tendo como base de partida as
conclusões até ao momento já retiradas.
• Uma vez que a classificação dos empreendedores, segundo os vários indicadores da
capacidade empreendedora, foi efectuada apenas com base na resposta a um
inquérito auto-administrado, tendo inclusivamente havido necessidade de eliminar
da análise alguns dos indicadores, será conveniente realizar análise empíricas com
base em efectivos e completos processos de avaliação da capacidade
empreendedora, o que pressuporá a constituição de uma base bastante alargada de
empreendedores sujeitos a tal processo e representativa em termos da criação de
empresas do conhecimento em Portugal.
B - NO SENTIDO DO AVANÇO NO CONHECIMENTO
Outras linhas de investigação podem vir a ser desenvolvidas no futuro,
preferencialmente após serem conseguidos avanços nos aspectos atrás mencionados, já
não no sentido da colmatação das falhas detectadas mas tendo agora em vista o
efectivo avanço no conhecimento no domínio da criação de valor nas empresas do
conhecimento emergentes, o que se sugere de seguida:
• Uma primeira linha de investigação futura poderá ir no sentido da especialização da
investigação e do teste das conclusões de forma mais fina, controlando variáveis
como a dimensão e a idade das empresas, o seu sector de actividade ou a sua
especialização tecnológica. Aspectos associados à estratificação dos próprios
empreendedores poderão igualmente revelar-se pertinentes. Análises explorando os
componentes da capacidade empreendedora mais relevantes para a geração dos
- 154 -
activos intangíveis críticos em determinados sectores, ou domínios do
conhecimento/tecnológicos, trarão esclarecimentos adicionais e permitirão
robustecer futuras metodologias destinadas a avaliar o potencial de negócio das
empresas do conhecimento emergentes em função da capacidade empreendedora
dos seus promotores iniciais.
• Como segunda linha de investigação, sugere-se a realização de trabalhos empíricos
conducentes ao estabelecimento, de uma forma mais sustentada (lembrando-se que
neste trabalho tal foi feito de forma tentativa), de aspectos como o diferente
comportamento económico de cada categoria de activos intangíveis, assim como as
correlações entre cada dimensão de análise da capacidade empreendedora e os
vários tipos de activos intangíveis, a qual poderá enriquecer, de forma significativa,
aspectos fundamentais do tema central tratado no presente trabalho.
• Uma terceira linha de investigação a ensaiar poderá assentar na análise dos aspectos
mais nebulosos das conclusões que foram retiradas: Se a análise empírica efectuada
confirma a relação entre o desempenho das empresas de base tecnológica
emergentes (uma vez que apenas empresas desta categoria foram analisadas) e a
capacidade empreendedora, em particular no que respeita às aptidões pessoais, ou
comportamentais, dos seus empreendedores, a eventual existência de uma relação
de sentido inverso com as suas aptidões técnicas carece de uma verificação cuidada.
Por outro lado, há que lembrar que não foi possível determinar a existência de
relação com as aptidões instrumentais e que a análise apontou para uma relativa
indiferença em relação às aptidões de gestão dos empreendedores.
• A validação da métrica utilizada para avaliar o desempenho das empresas do
conhecimento emergentes e o pressuposto, de que se partiu (embora se tenha
desenvolvido alguma discussão à volta deste aspecto), de que a mesma se adequa
como “proxy” dos respectivos activos intangíveis pode ser objecto de análise
empírica, através por exemplo da aplicação, em diferentes momentos e no decurso
de séries temporais mais longas, de metodologias de avaliação dos activos
intangíveis já testadas no mercado. Esta será uma quarta pista para investigação que,
a ser seguida, permitirá comparar desempenho económico com o valor dos activos
intangíveis em empresas do conhecimento (não necessariamente emergentes).
• Em todas as novas iniciativas de investigação a desenvolver poderá ainda vir a ser
afinado o conceito de empresa do conhecimento emergente, designadamente no
que respeita à sua idade e ainda quanto ao controle da influência de variáveis
externas que possam conduzir ao afastamento, ou à diminuição, da influência dos
promotores originais na condução dos seus negócios.
• Outro aspecto a considerar será a construção de séries temporais mais alargadas, a
qual possa permitir a realização de trabalhos que permitam análises evolutivas, e não
apenas, como agora foi feito, uma análise estática de um valor médio e duas
observações.
• Importará ainda ter presente que, se será relativamente incontroverso que o valor de
uma empresa do conhecimento se encontra essencialmente associado ao valor dos
- 155 -
seus activos intangíveis e que este, por seu turno, numa fase emergente da empresa,
se encontra ligado ao seu desempenho, a redução da avaliação dos activos
intangíveis a dimensões quantitativas e, sobretudo, meramente financeiras, deixará
de fora aspectos importantes do processo de geração e consolidação da base de
activos das empresas do conhecimento o que, em última instância, retirará solidez
aos processos de análise que venham a ser efectuados.
• Por último, o desenho e o teste no terreno de metodologias de avaliação dos activos
intangíveis de empresas do conhecimento na sua fase emergente, com base nos
conhecimentos já adquiridos e naqueles que venham a resultar das investigações
futuras sugeridas, aproximando duas linhas de análise, a da avaliação da capacidade
empreendedora e a da avaliação dos activos intangíveis de empresas já bastante
estruturadas, poderá permitir a validação prática, por um processo de “learning-bydoing”, de toda a investigação já realizada e a desenvolver no futuro.
- 156 -
ANEXO – QUESTIONÁRIO AOS EMPREENDEDORES
N OTA INTRODUTÓRIA
A maioria das questões neste questionário, solicita-lhe que assinale uma cruz (X) ou
que efectue um círculo em torno de um número ( 1 2 3 4 5 6 7 ). Relativamente a
este último tipo de questões, encontra uma afirmação do lado esquerdo e outra do lado
direito. A sua resposta significa:
•
Se assinalar 1 – Concorda em absoluto com a resposta à esquerda
•
Se assinalar 2 – Concorda largamente com a resposta à esquerda
•
Se assinalar 3 – Concorda parcialmente com a resposta à esquerda
•
Se assinalar 4 – A sua opinião é indiferente em relação à resposta à esquerda
ou à direita
•
Se assinalar 5 – Concorda parcialmente com a resposta à direita
•
Se assinalar 6 – Concorda largamente com a resposta à direita
•
Se assinalar 7 – Concorda em absoluto com a resposta à direita
Caracterização geral da empresa
Qual a forma jurídica da sua empresa?
Quotas
Unipessoal
Anónima
Em comandita
Outra
Qual a CAE da sua empresa ?
Em que área se insere a actividade da sua empresa (biotecnologia, multimédia,
produção de software, ...) ?
Qual o ano de fundação da empresa?
- A-1 -
Quantos postos de trabalho tem a sua empresa?
1997
1998
1999
2000
Nº de sócios activos
Nº de trabalhadores
A sua empresa, nos anos em causa, procedeu à protecção de propriedade intelectual
relativamente a produtos, serviços ou processos?
1997
Sim
1998
Não
Patentes
Direitos de autor
Outros (por favor especifique)
- A-2 -
Sim
1999
Não
Sim
2000
Não
Sim
Não
Dados económico-financeiros da Empresa (Em alternativa ao preenchimento deste
quadro, solicita-se o envio de cópias dos Balanços e Demonstrações de Resultados ou
das declarações de IRC Mod. 22 dos exercícios em causa)
Valores em contos
Conta
POC
Activo líquido total
Capitais próprios
Vendas
71
Prestações de serviços
72
Proveitos suplementares
73
Subsídios à exploração
74
Trabalhos para a própria empresa
75
Outros proveitos e ganhos operacionais
76
Proveitos e ganhos financeiros
78
Custo mercadorias vendidas e das matérias consumidas
61
Fornecimentos e serviços externos
62
Impostos
63
Custos com o pessoal
64
Outros custos e perdas operacionais
65
Amortizações
66
Provisões
67
Custos e perdas financeiras
68
Imposto sobre o rendimento
86
Resultados líquidos
88
- A-3 -
1997
1998
1999
B Dados do empreendedor
Idade?
anos
Sexo?
Masculino
Feminino
Estado civil ?
Solteiro (a)
Viúvo (a)
Casado (a)
Divorciado (a)
Quais as suas habilitações literárias?
Escolaridade Obrigatória
Licenciatura
Doutoramento
Ensino Secundário
Pós-graduação
Outra
Frequência Universitária
Mestrado
Quando tem que tomar decisões, normalmente prefere:
Fazê-lo sozinho
1
2
3
4
5
6
7
Procurar o aconselhamento de outros
As opiniões dos outros são muito importantes para si, já que lhe permitem adquirir
informação e conhecimento?
Normalmente não
1
2
3
4
5
6
7
Certamente que sim
Fomenta o aparecimento de novas ideias e pontos de vista, mesmo que sejam
contrários aos seus:
Normalmente não
1
2
3
4
5
6
7
Certamente que sim
5
6
7
Certamente que sim
7
Efusivo. Normalmente é o centro
das atenções
Costuma discutir os seus erros com os outros:
Normalmente não
1
2
3
4
O seu comportamento em eventos sociais costuma ser:
Discreto. Tenta passar despercebido
1
2
3
4
5
6
Você intencionalmente tenta evitar situações em que tenha que conversar com pessoas
que não conhece:
Sempre. Só converso quando há
necessidade.
1
2
3
4
5
6
7
Nunca. Eu gosto de estar sempre a
conhecer pessoas novas
Quando lhe dão a possibilidade de fazer uma apresentação para um público numeroso:
Prefere sugerir outra pessoa, porque
não gosta de fazer apresentações
1
2
3
4
- A-4 -
5
6
7
Aceita de imediato
Normalmente consegue que os outros façam as coisas tão bem como você próprio o
faria:
Certamente que não
1
2
3
4
5
6
7
Claro que sim
Mais orientado para as pessoas
1
2
3
4
5
6
7
Mais orientado para os objectivos
Considera-se:
Pensa que quando os outros têm problemas, então esses problemas também passam a
ser seus:
Certamente que não
1
2
3
4
5
6
7
Claro que sim
Quando os seus colaboradores sentem dificuldades no trabalho, pensa que:
É necessário firmeza para que se
empenham em resolver os problemas
1
2
3
4
5
6
7
É necessária ajudá-las, e o melhor é
ter uma atitude amigável
1
2
3
4
5
6
7
Absolutamente decidida
1
2
3
4
5
6
7
Tomar uma decisão, e se for errada
resolver o problema
Pensa que é uma pessoa:
Que gosta de ponderar todos os prós e
contras
Pensa que é melhor:
Reunir toda a informação necessária,
mesmo que atrase a decisão
Se fosse necessário, conseguia definir claramente o futuro do seu sector daqui a 5 anos:
Certamente que não. Há demasiada
incerteza
1
2
3
4
5
6
7
Claro que sim
Se fosse necessário, conseguia definir claramente o futuro da sua empresa daqui a 5
anos:
Certamente que não, depende de
muitos factores
1
2
3
4
5
6
7
Claro que sim. Até está formalizada
num documento de estratégia
Considera que tem a capacidade para identificar alterações no padrão de consumo do
mercado?
Certamente que não, depende de
muitos factores
1
2
3
4
5
6
7
Claro que sim.
Até ao momento, considera que a estratégia da sua empresa tem sido:
Acompanhar a concorrência nas
inovações introduzidas
1
2
3
4
5
6
7
Introduzir inovações, antecipando as
necessidades dos clientes antes dos
outros
Qual a importância que atribui ao cumprimento dos compromissos perante terceiros:
Importante, desde que não surjam
outras prioridades
1
2
3
4
5
6
7
Decisivo e à frente de tudo
Quando faz uma promessa, que afinal não pode cumprir:
“esquece-se” e espera que o outro
esqueça também
1
2
3
4
5
6
7
Enfrenta a situação, por muito
desagradável que seja
7
Um imperativo
Para si, o cumprimento de prazos perante os clientes é:
Uma referência. Se não for possível
entregar paciência
1
2
3
4
- A-5 -
5
6
Você é uma pessoa que quando decide fazer alguma coisa, vai fazer e nada nem
ninguém o pode parar?
Certamente que não
1
2
3
4
5
6
7
Claro que sim
Mesmo que as pessoas lhe digam que não é possível fazer uma determinada tarefa,
mesmo assim continua para se certificar por si próprio?
Certamente que não
1
2
3
4
5
6
7
Claro que sim
1
2
3
4
5
6
7
Claro que sim
Considera-se um bom perdedor?
Certamente que não
Você gosta de iniciar um projecto, sem saber todos os problemas potenciais?
Certamente que não
1
2
3
4
5
6
7
Claro que sim
2
3
4
5
6
7
Assume o risco. “Quem não arrisca
não petisca”
Na sua actividade, tendencialmente:
Joga pelo seguro. “Mais vale um
pássaro na mão que dois a fugir”
1
Costuma pensar regularmente: “É assim que as coisas são e não há nada a fazer acerca
disso”?
Certamente que não
1
2
3
4
5
6
7
Claro que sim
Você costuma precisar de uma explicação detalhada e completa, antes de iniciar uma
tarefa?
Certamente que não
1
2
3
4
5
6
7
Claro que sim
1
2
3
4
5
6
7
Proactiva
Considera-se uma pessoa
Reactiva
Considera-se uma pessoa com uma criatividade muito superior aos outros
Certamente que não
1
2
3
4
5
6
7
Certamente que sim
Com que frequência é que transforma as suas ideias ou de outros em novos processos
ou produtos?
Ocasionalmente
1
2
3
4
5
6
7
Muito frequentemente
Inova quando é necessário
1
2
3
4
5
6
7
Inova sistematicamente
A sua empresa:
Como classifica os seus principais produtos ou serviços relativamente ao seu carácter
inovador?
Sem carácter inovador
1
2
3
4
- A-6 -
5
6
7
Com carácter inovador
O desenvolvimento da sua empresa deveu-se ao carácter inovador que introduziu no
mercado?
não
1
2
3
4
5
6
7
Absolutamente
6
7
Todos os que conseguir arranjar e
que sejam necessários
Quantos investidores é que um negócio deve ter?
Nenhum, apenas os sócios da empresa
1
2
3
4
5
Qual a sua perspectiva sobre a distribuição de dividendos
Devem ser para os trabalhadores,
porque foram eles que tornaram os
lucros possíveis
1
2
3
4
5
6
7
Devem ser para os sócios, que foi
quem arriscou o seu dinheiro
Se tiver que fazer um investimento para o crescimento da empresa, e não tiver os
meios necessários, considera que:
Deve atrasar o investimento até ter
disponibilidade para o efectuar
1
2
3
4
5
6
7
Deve abrir o capital a novos sócios
para injectarem dinheiro fresco
Quando se defronta com projectos que se prolongam mais do que o previsto, como
reage:
Se possível abandona o projecto e
debruça-se sobre outros
1
2
3
4
5
6
7
Procura encontrar novos factores de
motivação, por forma a que o
conclua
Sente-se motivado em participar em projectos que sabe que vão demorar entre 5 a 10
anos a concluir?
Certamente que não. Prefiro projectos
mais curtos.
1
2
3
4
5
6
7
Claro que sim, desde que sejam
interessantes
Quando alguma coisa lhe corre mal, procura encontrar os aspectos positivos dessa
situação?
Muito raramente
1
2
3
4
5
6
7
Sempre
1
2
3
4
5
6
7
Muito trabalhadora
Considera-se uma pessoa:
Trabalhadora quanto baste
Como definiria a sua capacidade de organização:
Muito reduzida – Aliás a secretária está
sempre cheia de papeis
1
2
3
4
5
6
7
Muito elevada – Não gosta nada de
alguma coisa fora do sítio
1
2
3
4
5
6
7
Um funcionário que obtém
resultados
Para si, um bom colaborador é:
Um funcionário muito empenhado
Como relaciona a sua formação base com a actividade da sua empresa:
Não tem qualquer relação
1
2
3
4
- A-7 -
5
6
7
Completamente relacionada
Domina tecnicamente todas as fases subjacentes à concepção e produção dos seus
produtos ou serviços?
Certamente que não
1
2
3
4
5
6
7
Certamente que sim
Como classifica os seus conhecimento sobre o mercado onde actua?
Conhece parcial mente
1
2
3
4
5
6
7
Conhece em profundidade, desde os
clientes aos concorrentes
No início de actividade, como classificaria os seus conhecimento sobre o mercado
onde ia actuar?
Conhecia parcialmente
1
2
3
4
5
6
7
Conhecia em profundidade, desde os
clientes aos concorrentes
Como classifica a sua experiência empresarial anterior à presente empresa?
Nenhuma
1
2
3
4
5
6
7
6 ou mais anos
6
7
6 ou mais empresas
Quantas empresas é que criou antes da presente?
Nenhuma
1
2
3
4
5
Como classifica a sua experiência profissional anterior à presente empresa?
Nenhuma
1
2
3
4
5
6
7
6 ou mais anos
Quantos anos é que trabalhou no sector ou área técnica da presente empresa antes de a
ter criado?
Nenhum
1
2
3
4
5
6
7
6 ou mais anos
Como classifica a sua capacidade para identificar as necessidades dos clientes e o seu
grau de conhecimento do processo de compra?
Reduzida. Essas funções são
desempenhadas por outras pessoas ou
por consultores
1
2
3
4
5
6
7
Muito elevada. Sou eu que
desempenho essas funções na
empresa
Como classifica a sua capacidade para medir o grau de satisfação dos clientes?
Reduzida. Essas funções são
desempenhadas por outras pessoas ou
por consultores
1
2
3
4
5
6
7
Muito elevada. Sou eu que
desempenho essas funções na
empresa fazendo os questionários e a
respectiva análise
Como classifica o seu domínio das demonstrações financeiras?
Reduzido. Essas funções são
desempenhadas por outras pessoas ou
por consultores
1
2
3
4
5
6
7
Muito elevado. Sou eu que as elaboro
No início de actividade, como classificaria o seu domínio das demonstrações
financeiras?
Nenhum
1
2
3
4
- A-8 -
5
6
7
Muito elevado
Com que frequência é que negoceia os financiamentos necessários à sua empresa?
Raramente. Essas funções são
desempenhadas por outras pessoas
1
2
3
4
5
6
7
Sempre
2
3
4
5
6
7
Planear claramente os objectivos, as
metas e o cronograma
Quando inicia uma tarefa, costuma:
Pensar no que tem a fazer no imediato,
e actuar quando necessário
1
Como classifica a sua capacidade para montar um sistema de controlo de gestão na
empresa?
Reduzida. Essas funções são
desempenhadas por outras pessoas ou
por consultores
1
2
3
4
5
6
7
Muito elevada. Sou eu que
desempenho essas funções na
empresa
Como é que classifica actualmente a motivação dos seus colaboradores?
Passiva
1
2
3
4
5
6
7
Entusiástica
Como é que mede actualmente o desempenho dos seus colaboradores?
Apenas através da minha opinião
pessoal
1
2
3
4
5
6
7
Através da análise de indicadores
concretos conhecidos pelos
colaboradores
Como classifica a sua capacidade para contratar empregados?
Reduzida. Essas funções são
desempenhadas por outras pessoas ou
por consultores
1
2
3
4
5
6
7
Muito elevada. Sou eu que
desempenho essas funções na
empresa
Como é que classifica os seus conhecimentos de gestão em geral?
Reduzidos
1
2
3
4
5
6
7
Muito elevados
Como classifica a sua capacidade para conceber a estratégia da empresa?
Reduzida. Essas funções são
desempenhadas por outras pessoas ou
por consultores
1
2
3
4
5
6
7
Muito elevada. Sou eu que
desempenho essas funções na
empresa
Como classifica a sua capacidade para implementar a estratégia definida?
Reduzida. Essas funções são
desempenhadas por outras pessoas ou
por consultores
1
2
3
4
5
6
7
Muito elevada. Sou eu que
desempenho essas funções na
empresa
Considera que relativamente à estratégia que foi definida para a empresa:
O grau de concretização é muito
reduzido
1
2
3
4
5
6
7
Toda a estratégia tem sido
implementada exactamente como foi
definida
7
8 ou mais horas
Quantas horas por dia dedica em média à sua empresa:
2 ou menos horas
1
2
3
4
5
6
Quantas horas por dia dedicou em média à sua empresa no início de actividade:
2 ou menos horas
1
2
3
4
- A-9 -
5
6
7
8 ou mais horas
Dos seguintes aspectos, qual a relevância que lhes atribui, relativamente ao seu
contributo para que conseguisse criar a sua empresa:
Contribuíram
significativamente
para que criasse a
empresa mais
rapidamente
Funcionaram como
um entrave. Se
tivessem existido tinha
sido muito positivo
Valorização pela família da iniciativa de criar
uma empresa
1
2
3
4
5
6
7
Apoio do cônjuge/família relativamente ao
esforço que envolve uma empresa
1
2
3
4
5
6
7
Fase de crescimento do mercado
1
2
3
4
5
6
7
Existência de nichos de mercado
inexplorados
1
2
3
4
5
6
7
Nível de inovação do produto elevado
1
2
3
4
5
6
7
Elevada necessidade do produto
1
2
3
4
5
6
7
Facilidade de identificar os clientes
1
2
3
4
5
6
7
Existência de clientes interessados no
produto
1
2
3
4
5
6
7
Facilidade em obter o financiamento para os
capitais próprios
1
2
3
4
5
6
7
Disponibilidade de capital de
familiares/amigos
1
2
3
4
5
6
7
Acesso facilitado ao crédito Bancário
1
2
3
4
5
6
7
Facilidade de financiamento por operações
de capital de risco
1
2
3
4
5
6
7
Existência de incentivos que se adaptem à
actividade da empresa
1
2
3
4
5
6
7
Desburocratização que facilite o início de
novos negócios
1
2
3
4
5
6
7
Apoio a nível de políticas públicas na
elaboração do plano de negócios
1
2
3
4
5
6
7
Apoio de agências públicas
1
2
3
4
5
6
7
- A-10 -
Das seguintes motivações para a criação da empresa, qual a relevância que lhes atribuiu
quando decidiu criar a sua empresa:
Absolutamente
nenhuma
Importância decisiva
Possibilidade de desenvolver um trabalho
criativo
1
2
3
4
5
6
7
Poder ser inovador
1
2
3
4
5
6
7
Possibilidade de ser independente
1
2
3
4
5
6
7
Ter liberdade no desenvolvimento do seu
trabalho
1
2
3
4
5
6
7
Necessidade de controlar o seu próprio
destino
1
2
3
4
5
6
7
Poder acompanhar o desenvolvimento
tecnológico
1
2
3
4
5
6
7
Poder continuar a aprender
1
2
3
4
5
6
7
Aproveitar uma oportunidade de mercado
1
2
3
4
5
6
7
Aproveitar o valor da ideia
1
2
3
4
5
6
7
Necessidade de realização pessoal
1
2
3
4
5
6
7
Desejo de enfrentar desafios
1
2
3
4
5
6
7
Muito obrigado pela sua resposta
- A-11 -
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