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ARS VETERINARIA, 15(2):105-109, 1999.
HISTOLOGIA OVARIANA, PERFIL SÉRICO DA
PROGESTERONA E RESISTÊNCIA ELÉTRICA DO MUCO
VAGINAL EM PERÍODOS DE ANESTRO E ESTRO DE
RAPOSAS DAS RAÇAS PRATEADA (Vulpes fulva argentata)
E AZUL (Alopex lagopus)
( OVARIAN HISTOLOGY, PROGESTERONE CONCENTRATION IN
PERIPHERAL BLOOD AND MEASUREMENT OF ELECTRICAL
RESISTANCE OF THE VAGINAL MUCOUS DURING OESTRUS AND
ANOESTROUS IN THE SILVER FOX (Vulpes fulva argentata)
AND BLUE FOX (Alopex lagopus) )
M. B. DE KOIVISTO1, A. R. GÜNZEL-APEL2, W. R. RUSSIANO VICENTE3
RESUMO
Antes e durante a estação sexual foram efetuadas observações clínicas do trato genital interno e externo,
manifestações físicas e citológicas da secreção vaginal, concentração de progesterona do plasma sanguíneo periférico,
comparação dos dados histológicos dos ovários no que diz respeito à ocorrência quantitativa de folículos primários,
secundários, terciários e de Graaf como os corpos lúteos e folículos atrésicos. Utilizou-se de seis raposas azuis (Alopex
lagopus) nos meses de outubro e novembro (antes do período reprodutivo) e três raposas prateadas (Vulpes fulva argentata)
e três azuis nos meses de março e abril (durante o período de reprodução). Os sintomas clínicos e endocrinológicos dos
animais examinados antes da estação sexual provaram ser típicos para o período de anestro (falta de edema vulvar, nível de
progesterona plasmática menor que 1 ng/ml). Dos seis animais examinados durante a estação sexual, quatro (nº 7, 8, 10, 11)
foram enquadrados em diferentes períodos do proestro. A fêmea nº 9 apresentou uma concentração de progesterona
plasmática de 4.3 ng/ml assim como a sintomatologia clínica e física da secreção vaginal caracterizam um período próximo à
ovulação, indicando um pro-estro tardio, ou seja, um estro prematuro. Os resultados obtidos demonstram que o estágio
fuincional dos ovários é refletido nos achados clínicos, físicos e endocrinológicos individuais, e por conseguinte, a utilidade
desses parâmetros para o controle estral está confirmada.
PALAVRAS-CHAVE: Raposa, Estro, Anestro.
SUMMARY
Clinical symptoms of the external and internal genital tract and physical features of the vaginal secretion and the
progesterone concentration in peripheral blood plasma were recorded and compared with histological criteria of the ovaries,
O trabalho foi realizado no Instituto de Medicina da Reprodução da Escola Superior de Veterinária de Hanôver, Alemanha.
1 Depto. Clínica, Cirurgia e Reprodução Animal da Faculdade de Odontologia, UNESP, Câmpus de Araçatuba.
2 Instituto de Medicina da Reprodução da Escola Superior de Veterinária de Hanôver, Alemanha.
3 Depto. Reprodução Animal, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Câmpus de Jaboticabal.
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concerning the quantitative occurence of primary, secondary, tertiary, and Graafian follicles as well as corpora lutea and
atretic follicles before and during the breeding season. The data were collected from six blue fox vixens (Alopex lagopus) in
october and november (before the breeding season) and from there silver fox vixens (Vulpes fulva argentata) and three blue
fox vixens in march and april (during the breeding season). The clinical and endocrinological symptoms of the animals
examined before the breeding season proved to be typical for the anoestrus stage (missing oedema of the vulva, less than
1.0 ng progesterone per ml blood plasma). From the six animals examined during the breeding season, four (nº 7, 8, 10, 11)
were found to be in different stages of proestrus. In vixen nº 9 the progesterone concentration of 4.3 ng/ml blood plasma as
well as the clinical symptoms and physical features of the vaginal secretion characterized the time close to ovulation, that
means late pro-oestrus or early oestrus. The obtained results show, that the functional stage of the ovaries is reflected by
the individual clinical, physical and endocrinological findings. Thus, the suitability of these parameters for oestrus control
in the fox is confirmed.
KEY-WORDS: Fox, Oestrus, Anoestrus.
INTRODUÇÃO
A raposa fêmea é animal monoéstrico com
somente uma possibilidade de conceber ao ano (COHRS,
1936, JOHANSSON, 1941, MONDAIN-MONVAL et al.,
1977, SZUMAN, 1979, HARTUNG, 1984). A maturidade
sexual é atingida normalmente aos 10 meses de idade
(PEARSON & BASSETT, 1946, VLADIMIROV &
POMYTKO, 1976, SZUMAN, 1979, FRINDT, 1984). No
estro a ovulação independe da cópula. Não ocorrendo a
fecundação, se estabelece o fenômeno de pseudogestação
com período similar ao da prenhez (JOHANSSON, 1941).
Segundo HARTUNG (1984) na ovulação, as
raposas azuis e prateadas liberam de 20 a 25 e de 5 a 8
óvulos respectivamente. Estas espécies e também a cadela
apresentam a segunda divisão meiótica após a ovulação
(COHRS, 1936, PEARSON & ENDERS, 1943, VENGE, 1959,
CREED, 1960, HARTUNG, 1984).
A raposa prateada possui período de estro que
varia de 10 a 12 (STARKOV, 1937) e a azul de 12 a 14 dias
(VLADIMIROV & POMYTKO, 1976, MOLLER et al., 1980),
sendo que a aceitação do macho é de 2 a 4 (STARKOV,
1937, MONDAIN-MONVAL et al., 1977) e de 3 a 4 dias
(MOLLER, 1973, VLADIMIROV & POMYTKO, 1976) para
as raças prateada e azul respectivamente.
De acordo com FOUGNER (1982) as ovulações
na raposa ocorrem entre 24 e 36 horas pós-pico de hormônio
luteinizante (LH). MONDAIN-MONVAL et al. (1979) e
MOLLER et al. (1984) citaram que os andrógenos,
particularmente a androstenediona e a testosterona são
importantes na síntese de estradiol e relacionaram este
fenômeno com a luteinização pois o aumento dos níveis
séricos desses hormônios antecede o incremento da
progesterona. MOLLER et al. (1984) concluíram que os
andrógenos e o estradiol se originam dos folículos préovulatórios, já que a concentração desses hormônios
diminui muito no momento da ovulação.
BONNIN et al. (1978) relacionaram concentrações
plasmáticas de 5 ng/ml como início da implantação do
embrião no útero, porém na pseudogestação os perfís de
progesterona são similares ao da gestação segundo
MOLLER (1973), BONNIN et al. (1978).
Na raposa as mensurações da resistência elétrica
do muco vaginal revela-se valiosa no controle do estro
possibilitando a determinação exata da ovulação (MOLLER
& FOUGNER, 1980, MOLLER, 1981, MOLLER & FOUGNER,
1981).
Assim, o objetivo desta investigação é o de
estudar alguns aspectos histológicos do ovário, do perfil
hormonal da progesterona e da resistência elétrica do muco
vaginal em raposas.
MATERIAL E MÉTODOS
Animais
Utilizaram-se 12 raposas fêmeas (nove azuis Alopex lagopus e cinco prateadas - Vulpes fulva argentata)
com idades variando de um a quatro anos. Os animais
foram mantidos em uma fazenda destinada à produção de
peles preciosas, alocados em jaulas individuais cobertas.
A alimentação ocorreria uma vez por dia e bebedouros
automáticos permitiram a ingestão de água ad libitum.
Seis raposas azuis numeradas de um a seis foram
examinadas antes do período reprodutivo (outubro/
novembro), e as outras seis (três prateadas e três azuis)
numeradas de sete a 12 durante a fase reprodutiva
(dezembro/fevereiro). Após o período próprio de
observação os animais foram sacrificados.
Avaliação da Genitália Externa
Foi examinada e classificada de acordo com o grau
de edema segundo OLIVER, (1985): 0 = ausente; 1 =
mínimo; 2 = evidente; 3 = pronunciado; 4 = muito
pronunciado.
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Dosagem de Progesterona
Utilizando-se de material descartável (seringas de
15 ml e agulhas hipodérmicas de 30x8 mm), o sangue foi
colhido através punção da veia jugular externa, num volume
de 10 ml e imediatamente transferido para tubos de vidro
heparinizados seguindo-se cuidadosa homogeinização.
Após centrifugação a 1.600 g por 5 minutos o plasma foi
colhido e estocado a -20°C até o momento de se efetuar as
análises.
As dosagens de progesterona foram feitas no
Laboratório de Dosagens Hormonais da Clínica de
Ginecologia da Escola Superior de Hanover, pelo método
de radioimunoensaio segundo LINNEWEBER (1981).
O soro antiprogesterona foi obtido pela
imunização de coelhos com hemisuccinato de 11-hidroxiprogesterona BSA, apresentando 100% de reação cruzada.
A diluição do antígeno no soro foi de 1:20.000 e como
substância radioativa traçadora utilizou-se a 1, 2, 6, 7 - (N)3
H - progesterona. A incubação foi feita com 1.000 cpm/
tubo e a sensibilidade do teste de 10 pg.
Resistência Elétrica do Muco Vaginal
A resistência elétrica do muco vaginal foi
determinada em medidor de ómio 1 introduzido
profundamente na vagina.
Avaliação Histológica do Ovário
Imediatamente após o sacrifício dos animais os
ovários foram retirados e mantidos em solução fixadora de
Bouin por 24 horas e submetidos às técnicas habituais de
histologia para inclusão em parafina seguidas de cortes
seriados de 5 μ de espessura, evitando corte de um mesmo
folículo. As secções assim obtidas foram coradas pelo
hemalúmen-eosina, e analisados à microscopia óptica de
luz.
A classificação dos estágios foliculares foi feita
segundo KRÖLLING & GRAU (1960), sendo os folículos
primários ovócitos circundados por uma camada de células
chatas. A fase de crescimento se inicia com o aumento de
volume e multiplicação das células foliculares. Estas células
se tornam poligonais e seu conjunto forma a camada
granulosa do folículo. Por meio de divisão das células
epiteliais do folículo primário forma-se o folículo secundário
que apresenta um epitélio estratificado. Os folículos
terciários consistem em várias camadas: internamente
encontra-se a camada granulosa que forma o líquido
folicular, a esta camada junta-se a camada rica em vasos da
membrana folicular. As células da granulosa são mais
numerosas em determinado ponto da parede folicular
formando um espessamento, o cumulus oophorus, onde
está localizado o ovócito. O folículo maduro ou folículo de
Graaf pode ser visto como uma vesícula transparente
fazendo saliência na superfície do ovário. Devido ao
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acúmulo de líquido, aumenta muito a cavidade folicular,
ficando o ovócito preso à parede do folículo por um
pedículo constistuído por células foliculares. Como as
células foliculares não se multiplicam proporcionalmente
ao líquido acumulado, a camada granulosa se torna muito
delgada.
No lugar do folículo maduro forma-se o corpo
amarelo, corpo lúteo. Devido ao crescimento das células
da camada granulosa forma-se o tecido do corpo lúteo que
contém luteína. O citoplasma das células granulosoluteínicas contém lipocromo, um pigmento solúvel em
lipídeos e responsável pela cor amarela do corpo lúteo.
Análise Estatística
Foi utilizado teste de Tukey com níveis de
significância de 5 e 1%.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Período que Antecedeu a Fase Reprodutiva
Todos achados levantados nas fêmeas de nº 1 a 6
indicaram anestro, justificando assim, a classificação no
grupo dos animais avaliados antes da estação de monta.
Isto foi verificado em todas seis fêmeas pelos
sintomas clínicos de estro inaparentes no genital externo,
grau de edema zero, níveis de progesterona no plasma
periférico abaixo de 1 ng/ml; fato que está de acordo com
as observações de MOLLER (1973), que relatou nas fêmeas
antes do proestro, concentrações de progesterona abaixo
de 2,0 ng/ml, como também MONDAIN-MONVAL et al.
(1977), que encontraram valores de 0,1 a 3,0 ng/ml como
representativo para o anestro.
Os valores da resistência elétrica do muco vaginal
verificado nas fêmeas variou de 600 a 400 ómios. Esses
valores parecem altos quando comparados com os valores
descritos por OLIVIER (1985), em média 140 ómios nos
primeiros dias do proestro. Contudo, como na literatura
consultada não se tem dados de medidas da resistência do
muco vaginal de raposas em anestro, não se pode fazer
nenhuma inferência com nossos achados. Possivelmente
esses resultados possam ser explicados com base nas
observações feitas por MONDAIN-MONVAL et al. (1977)
referentes à secreções episódicas de estradiol durante o
anestro. Este fenômeno também provoca espessamento
do epitélio vaginal na fase de repouso sexual, o qual pode
ser comparado ao da fase reprodutiva, consequentemente,
pode-se pensar, que a resistência do muco vaginal também
reage ao aumento da liberação de estradiol com uma
elevação.
A avaliação histológica dos ovários em anestro
identifca os corpos funcionais em todas as fases de
desenvolvimento. Com isso os folículos primários
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prevalecem quantitativamente significativos ao nível de
1%. Os corpos lúteos observados antes da estação de
monta possuiam os sinais de inativos. Este achado
histológico é apoiado pelas baixas concentrações de
progesterona já citadas, o que corrobora as observações
de JOHANSSON (1941), BONNIN et al. (1978), MONDAINMONVAL et al. (1980). Assim, todos os achados descritos
evidenciam, mesmo considerando a sasonalidade evidente
da raposa durante o repouso sexual prolongado,
semelhante ao que ocorre com a cadela (CONCANNON,
1984), um contínuo processo de desenvolvimento e
regressão folicular nos ovários deve ocorrer. No geral, os
folículos primários aparecem em grande número nos
preparados histológicos.
Período Reprodutivo
Em quatro raposas foram diagnosticados
diferentes estádios de proestro similarmente ao descrito
por MOLLER et al. (1984) e OLIVIER (1985).
O grau de edema vulvar 1 e 2, a resistência elétrica
do muco vaginal de 340 e 230 ómios associada a baixa
concentração plasmática de progesterona de 0,21 e 0,18
ng/ml, indicam proestro nas fêmeas 7 e 8, respectivamente.
As raposas de número 10 e 11 puderam ser
classificadas com a ajuda dos achados no genital externo
em grau 3, e a resistência elétrica do muco vaginal de 160
ómios mesmo com valor de 0,55 ng/ml da progesterona.
Esses resultados indicam fase intermediária do proestro.
Na raposa nº 9 a concentração de progesterona
de 4,3 ng/ml é compatível com o tecido luteinizado
verificado no preparado histológico sugerindo ovulação
recente. Portanto este animal foi classificado em estro
precoce. Em contrapartida, no animal nº 12 as ovulações já
tinham ocorrido há 1 ou 2 dias, uma vez que a concentração
de progesterona estava alta, 70,9 ng/ml e os valores de
resistência elétrica no muco de 120 ómios, que indicam
estro tardio segundo OLIVIER (1985), MOLLER &
FOUGNER (1980), MOLLER (1981) e FOUGNER (1982).
Similarmente a cadela, a pseudogestação não
pode ser determinada poranálise do perfil hormonal da
progesterona (CONCANNON et al., 1975, BONNIN et al.,
1978, CONCANNON, 1984, OLSEN et al., 1986, SHILLE,
1992).
O número de corpos lúteos observados nas duas
raposas prateadas foi de 8 e 9 e mostrou uma taxa
correspondente de ovulações, correspondendo às
descrições feitas por HARTUNG (1984). O grau de
luteinização foi similar tanto no ovário esquerdo como
direito. Com isso pode-se deduzir que as ovulações ocorrem
quase que sincrônicas e não, como descrito STARKOV
(1937) com intervalo de um a dois dias entre o ovário direito
e esquerdo. Estes resultados correspondem aos descritos
por JOHANSSON (1941) e FOUGNER (1982) que
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observaram a ruptura simultânea de todos folículos
maduros nos dois ovários. Ademais, verificou-se que o
número de folículos primários foi significativamente maior
que os Graaf (p≤ 0,05).
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histologia ovariana, perfil sérico da progesterona e resistência