PALAVRAS QUE SE A-TRA-VES-SAM NA HISTÓRIA INFANTIL José Batista de Barros (UNICAP) Adriana Letícia Torres da Rosa (UFPE) RESUMO: Diferentemente do que se imagina, escrever uma história para o público infantil requer muito zelo e cuidado, que vão desde a escolha do título à seleção do léxico, exigindo do autor muita sensibilidade e responsabilidade no desenrolar de todo enredo. Isso porque há uma cumplicidade entre autor e leitor para que a leitura se torne envolvente. Zilbermam (2005), em sua obra “Como e por que ler a literatura infantil brasileira”, lembra-nos de que os leitores precisam ser respeitados no que diz respeito à experiência de leitura que possuem para que suas expectativas sejam alcançadas, dentre outras coisas, precisam se reconhecer nas personagens. Seguindo essa linha de pensar, este trabalho tem por objetivo analisar o processo de criação de uma história infantil, observando os recursos discursivos usados para estabelecer o diálogo social e estético com as crianças. Para tanto, relatamos a experiência de escrita que vivenciamos como os próprios autores do livro destinado ao público da faixa etária de 4-6 anos a priori: “Entre uma história e outra: dos encontros, dois amigos”. Destacamos o recurso discursivo da intertextualidade como elemento constitutivo da produção da obra. Como o título do livro sugere, o texto em estudo nasce da percepção, bastante consciente, dos escritores de que tudo que é produzido pela linguagem ancora-se no já dito (cf. Volochinov, 2002): reinventamos, recontextualizamos os discursos. Nesse caso, a escolha do enredo tem como inspiração as fábulas de La Fontaine, porém tendo crianças como personagens de um tempo atual. Além desse diálogo com textos clássicos, e como diria Ítalo Calvino (2007:11), com textos que “chegam até nós trazendo consigo as marcas das leituras que precederam a nossa e a traz de si os traços que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram”, outro recurso discursivo recorrente nessa produção foi o resgate do um repertório de poemas de autores notoriamente reconhecidos como Cecília Meireles, Manuel Bandeira e Vinícius de Morais que também tiveram em comum alguns mergulhos no mar da infância. Dessa parceria, nasce a possibilidade do leitor ser conduzido para além do texto, uma vez ventiladas as referências aos poetas com base em notas. Reside assim uma cumplicidade dos autores como os mediadores da leitura, adultos que lerão o texto para as crianças e poderão extrapolar o universo doravante imaginado pelos autores. 7 Anais do ELL. Volume 1, Número 1. Recife: CAp UFPE, 2012.