A FORMAÇÃO DE DITONGO EM SANTA CATARINA
Autora:
Stéphane Rodrigues Dias – [email protected]
Co-autoras:
Letícia Presotto – [email protected]
Cláudia Strey – [email protected]
Cláudia Lima Pimentel – [email protected]
Daisy Batista Pail – [email protected]
Orientadora:
Profa. Dr. Maria Tasca – [email protected]
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Faculdade de Letras
Av. Ipiranga, 6681 – prédio 8
Resumo
Esta pesquisa, que é parte de um projeto maior, estuda o fenômeno da inserção
de glide em contexto de sílaba travada por /S/ no Estado de Santa Catarina. O objetivo
geral é contribuir para a descrição do português falado na região sul do Brasil. A análise
dos dados tem como suporte a metodologia da sociolingüística variacionista
quantitativa, na linha de Labov. O trabalho está em andamento.
Descrição do Projeto
Este é um subprojeto, inserido num projeto mais amplo que vem sendo
desenvolvido pela orientadora a partir de um corpus extraído do Banco de Dados
VARSUL1 o qual tem como objeto de estudo a ditongação em silabas travadas por /S/.
Por conseguinte, o objeto de estudo apresentado no parágrafo que segue coincide com o
desse projeto maior.
A alternância entre vogal simples e ditongo (nós > nóis, vez > veiz) no contexto
de sílaba fechada por /S/ é um fenômeno que vem despertando o interesse dos lingüistas
brasileiros que atuam na área da variação fonológica, o que ensejou o aparecimento de
vários artigos e algumas dissertações nos últimos anos. Antes do advento da ciência da
linguagem, esse fenômeno era visto como um traço típico da fala não-padrão, devendo
ser evitado na fala culta. Contudo, de acordo com Câmara Jr. (1978, p. 102; 1975, p.
69), esse tipo de ditongação ocorre quando a vogal tônica final é travada por /S/,
acarretando, em alguns casos, o desaparecimento da oposição que existe entre ditongo e
vogal simples, conforme se verifica nos exemplos dados por ele: pás ~ pais ou sós ~
sóis. As pesquisas desenvolvidas até o presente mostram que o fenômeno adquire
diferentes feições, dependendo da região estudada. Há indícios de que na região
abrangida pelo três Estados do sul do Brasil, esse fenômeno não seria tão produtivo
quanto o é em outras regiões do País. No Rio de Janeiro, por exemplo, Leite, Callou e
Moraes (2003, p.237) observaram que o uso alternado entre monotongo (nós) e ditongo
1
O Banco de Dados VARSUL, que resultou de um convênio firmado entre quatro Universidades:
UFRGS, UFSC, UFPR e PUCRS, armazena dados de fala dos três Estados do Sul: Paraná, Santa Catarina
e Rio Grande do Sul.
(nóis) é uma tendência bastante forte no dialeto carioca. Já no Rio Grande do Sul, em
estudo bastante amplo sobre a ditongação resultante da coda em /S/, Tasca (2005, p.
146) mostrou que, das 10544 ocorrências de vogal seguida de /S/, a regra da ditongação
apenas foi aplicada em 413 casos, resultando um percentual de 4%. Atualmente, sob a
coordenação desta autora, além de análises de outras amostras do RS, estão sendo
analisadas amostras dos Estados de Santa Catarina e do Paraná.
No subprojeto aqui apresentado, estudamos a formação de ditongo em Santa
Catarina, tendo dois objetivos básicos: dar continuidade à pesquisa realizada no Rio
Grande do Sul e comparar o desempenho dos falantes, no aspecto em estudo, nos dois
Estados do extremo sul do Brasil. A amostra, devidamente estratificada por sexo, idade
e escolaridade, é constituída de 32 sujeitos, distribuídos em número de oito em cada
uma das 4 cidades indicadas no mapa de SC, conforme segue.
Em todas as etapas do trabalho, seguimos os parâmetros teórico-metodológicos
propostos por Labov (1972) para o estudo da regra variável. Por isso, após definir a
variável dependente, isto é, a formação de ditongo em sílaba travada por /S/,
selecionamos os fatores que, possivelmente, poderiam influenciar a ditongação.
Partindo da hipótese de que tais fatores são de natureza diversa, trabalhamos com dois
grupos de variáveis de controle, conforme projeto maior anteriormente referido : a) as
variáveis lingüísticas, que incluem a tonicidade da sílaba, a vogal que antecede a
sibilante, o estatuto morfológico do segmento em questão, a extensão da palavra, a
realização da sibilante; b) as variáveis sociais, que incluem a cidade do informante, o
sexo, a idade e a escolaridade. Estabelecidos esses recursos metodológicos, passamos ao
levantamento, à codificação e à digitação das 300 primeiras ocorrências detectadas na
entrevista gravada, o que dá em torno de 30 minutos de fala para cada informante. Ao
longo do levantamento, percebemos que, em todas as cidades, eram recorrentes os
vocábulos nos quais se aplicava a regra da ditongação, repetindo-se o fenômeno já
verificado no Rio Grande do sul. Por isso, antes de efetuarmos a análise quantitativa dos
dados pelo sistema VARBRUL, houvemos por bem identificar a freqüência da
ditongação, considerando, separadamente, o desempenho de cada item e de cada
indivíduo-informante. O trabalho está em andamento, ocorrendo, nas etapas seguintes, a
análise estatístico-probabilística e a análise lingüística.
Referências bibliográficas básicas
BISOL, Leda. O ditongo na perspectiva da fonologia atual. D.E.L.T.A. São Paulo, v.5,
n. 2, p. 185-224, 1989.
CÂMARA JR. Joaquim Mattoso. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes,
1973.
___________. História e estrutura da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Padrão, 1975.
LABOV, Villiam. Sociolinguistic Pattern. Philadelphia: University of Pennsylvania
Press, 1972.
LEITE, Yonne; CALLOU, Dinah; MORAES, João. Processos em curso no português
do Brasil. In: HORA, Dermeval e COLLISCHONN, Gisela (orgs). Teoria lingüística:
fonologia e outros temas. João Pessoa: Editora Universitária, 2003. p. 232-250.
TASCA, Maria. A inserção de glide em sílaba travada por /S/. Letras de Hoje. Porto
Alegre, v. 40, nº 3, p. 137-162, set. 2005.